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Discurso do Presidente do Banco Central do Brasil, Sr. Alexandre Antonio Tombini

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Discurso do Presidente do Banco Central do Brasil, Sr. Alexandre Antonio Tombini

Cerimônia de Posse do Presidente do Conselho Diretor da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Sr. Fábio Colletti Barbosa e do novo Presidente Executivo da Febraban, Sr. Murilo Portugal

São Paulo, 17 de março de 2011.

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Inicialmente, gostaria de expressar meus sinceros agradecimentos pelo convite, bem como pela oportunidade de falar nesta cerimônia de transmissão de cargo da Federação Brasileira de Bancos.

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É visível na sociedade brasileira moderna o papel relevante desempenhado pelas entidades representativas dos diversos setores econômicos e sociais.

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Página 2 de 19 A Febraban, como principal entidade representativa do setor bancário, tem papel central no fortalecimento do sistema financeiro brasileiro. Entre as suas principais atribuições, julgo importante ressaltar a de aperfeiçoar e zelar pela relação do segmento bancário com a sociedade e a de contribuir para o desenvolvimento econômico, social e sustentável do nosso País.

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Não há dúvida de que os últimos anos foram extremamente desafiadores. Em várias vertentes. E sob a gestão do Presidente Fábio Barbosa, a Febraban soube conduzir suas atribuições de forma pragmática e moderna, contribuindo de fato para o desenvolvimento do nosso País. Tenho convicção que será esse o norte que o Presidente Fábio Barbosa, à frente do Conselho Diretor, irá impor, junto com seus pares, à condução das atividades da Febraban no próximo triênio.

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Página 3 de 19 E tenho convicção também que, o prezado Murilo Portugal, agora Presidente Executivo, saberá canalizar toda a sua experiência profissional e, principalmente, executiva, tanto em importantes funções no governo federal, quanto nos principais organismos financeiros internacionais, para continuar o processo de aperfeiçoamento das atribuições da Febraban.

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Uma das missões institucionais do Banco Central do Brasil é a de assegurar um sistema financeiro sólido e eficiente.

Durante a crise financeira de 2008 nosso sistema financeiro foi duramente testado. Contudo, conseguimos superar esse momento adverso sem a necessidade de liquidar qualquer instituição financeira, nem tampouco fazer uso de recurso público. O que observamos no Brasil foi praticamente o oposto do observado em outros Países, principalmente entre as chamadas economias maduras, nas quais os respectivos

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Página 4 de 19 governos tiveram que intervir, sobretudo disponibilizando montantes significativos de recursos públicos.

Uma das principais responsáveis pelo nosso desempenho favorável durante a crise de 2008 foi a regulação prudencial seguida pelo Sistema Financeiro Nacional, nitidamente, mais rigorosa que a adotada pela maioria dos países.

Contudo, temos consciência plena de que não podemos nos acomodar, pois crises financeiras surgem de forma por vezes silenciosa. O aperfeiçoamento da regulação prudencial e da supervisão do sistema financeiro é um processo sem fim, que precisa acompanhar as inovações que são incorporadas a todo dia no âmbito do sistema financeiro. Essas inovações exigem também o aprimoramento contínuo dos controles internos e dos sistemas de gestão de riscos das próprias instituições financeiras.

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Página 5 de 19 Desde 2009 o Brasil integra o principal fórum financeiro internacional - o Comitê de Estabilidade Financeira (FSB) -, bem como o Comitê de Basiléia, instância máxima na definição dos padrões de regulação prudencial internacional. Dessa forma, agora somos protagonistas; não mais espectadores no que diz respeito à construção da infra-estrutura e das regras prudenciais que regem o sistema financeiro internacional.

Não obstante competir ao Banco Central o papel central nesses fóruns, é importante também um engajamento mais intenso da sociedade brasileira nesse processo, explorando com mais intensidade os canais de comunicação disponíveis, a exemplo, em especial, do instrumento de audiências públicas. Nesse contexto, cabe à Febraban, e às demais associações que representam segmentos financeiros, o papel central de se antecipar aos fatos, coordenar as discussões entre seus associados e apresentar seus posicionamentos, seja, quando for o caso, diretamente aos fóruns

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Página 6 de 19 internacionais, seja apresentando-os ao Banco Central.

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Nos últimos dois anos participamos ativamente do processo de discussão e aperfeiçoamento da regulação prudencial internacional, que resultou no acordo de Basiléia III. Esse novo Acordo tem como objetivo corrigir as falhas identificadas na regulação prudencial internacional que contribuíram para a ocorrência da crise financeira de 2008.

Apoiamos integralmente esse novo Acordo porque, quando plenamente adotado, contribuirá para um sistema financeiro internacional mais seguro e estável. A regulação de tal sistema é fundamental não apenas para evitar que soframos as consequências de riscos excessivos incorridos por instituições de outros países. Mas é fundamental também em função do processo de expansão internacional das nossas instituições financeiras, as quais darão suporte à realização de negócios de empresas brasileiras no exterior, ampliando nosso

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Página 7 de 19 comércio internacional, prospectando mercados e promovendo e atraindo investimentos.

Como a regulação brasileira é mais rigorosa do que o padrão internacional, a adaptação das instituições financeiras brasileiras às regras de Basiléia III exigirá um esforço menor. Mesmo assim, as mudanças na definição do capital regulamentar e a adoção de novos requerimentos mínimos de liquidez e elementos macroprudenciais, representarão um aprimoramento significativo da nossa regulação prudencial. Para que a adaptação se dê com eficiência, é importante que as instituições financeiras comecem desde já a planejar e encaminhar sua adequação às novas regras.

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O processo de auto-regulamentação promovido pela Febraban e outras entidades representativas de segmentos do setor financeiro também contribui de forma significativa na construção de um arcabouço de regulação prudencial ampliado e de qualidade no Brasil.

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Página 8 de 19 Várias foram as iniciativas adotadas pela Febraban. Contudo, gostaria de enfatizar duas iniciativas recentes que visam reduzir a assimetria de informações no bojo das operações realizadas no âmbito do Sistema Financeiro Nacional – a Central de Exposição de Derivativos e a Central de Cessão de Crédito.

Não há dúvida que o Brasil é hoje referência mundial no que diz respeito ao registro de operações que cursam no Sistema Financeiro Nacional. No entanto, quando a Central de Exposição de Derivativos e a Central de Cessão de Crédito estiverem em plena operação teremos um sistema de informações ainda mais sofisticado, sem paralelo na comunidade financeira internacional. Tais centrais trarão maior segurança aos agentes de mercado, com conseqüências positivas no volume e no custo das operações que cursam em nosso sistema. Contribuirão também para um Sistema Financeiro Nacional mais eficiente e sólido.

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Página 9 de 19 Complementarmente ao nosso amplo arcabouço de regulação prudencial, possuímos também uma eficiente rede de proteção, que tem como instrumento central o Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Trata-se de um modelo privado, provido com contribuições exclusivas das próprias instituições financeiras, sem participação de qualquer tipo de recurso público, o que, diga-se de passagem, é vedado pela legislação brasileira.

Essa rede de proteção tem se mostrada eficaz, com flexibilidade suficiente para se adaptar de forma rápida às circunstâncias adversas.

O Fundo Garantidor de Crédito tem exercido um papel essencial também no processo de organização do Sistema Financeiro Nacional. Destaco, entre suas ações, baseadas no âmbito de sua missão institucional, a de conferir condições adequadas para que instituições sejam saneadas, vendidas ou liquidadas ordinariamente. E tais soluções minimizam não só os potenciais custos do próprio FGC, mas permitem, principalmente, que esse processo de reorganização se verifique de

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Página 10 de 19 forma ordenada, com soluções de mercado, preservando ativos tangíveis e intangíveis, tanto de depositantes quanto de terceiros. E principalmente, postos de trabalho. Em suma, o FGC contribui com soluções muito mais eficientes, não só para o sistema financeiro, mas também para nossa economia e nossa sociedade.

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De forma complementar, destaca-se também a regulamentação das atividades bancárias e financeiras, que visam a promover um sistema financeiro eficiente, competitivo e inclusivo.

Essa regulamentação contribuiu para que o mercado de crédito voltasse a crescer nos últimos anos, passando de um quarto do PIB em 2003 para quase metade em 2010. O crédito imobiliário voltou a ser concedido pelas instituições financeiras, permitindo que as famílias passassem a realizar o sonho de adquirir a casa própria. E, o que é mais importante, tal crescimento se verificou em base sólida e duradoura.

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Página 11 de 19 O Banco Central monitora de perto a expansão das operações bancárias, e sempre que identifica potenciais riscos ao crescimento sustentável atua de forma a mitigá-los.

Foi nesse sentido que foi adotada a regulamentação das tarifas bancárias em 2007.

O cenário que se desenhava à época era preocupante; de certa forma, até mesmo hostil.

Nesse sentido, considero a Resolução 3.518, de 2007, um marco da regulamentação bancária brasileira. Não só porque reduziu drasticamente os questionamentos da sociedade em relação às tarifas bancárias e, consequentemente, os riscos de imagem, operacional e legal das instituições financeiras. Mas, sobretudo, por ter sido uma solução que focou no aperfeiçoamento da transparência e da comparabilidade das tarifas bancárias, sem impor danos à liberdade e à eficiência dos agentes.

A regulamentação das tarifas de cartão de crédito que entram em vigor a partir de primeiro de junho de

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Página 12 de 19 2011 segue a mesma lógica. E seguramente contribuirá para que esse importante instrumento continue crescendo e ajudando na expansão do Sistema Financeiro Nacional.

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Finalmente, além da estabilidade financeira, o Banco Central tem a missão também de assegurar a estabilidade do poder de compra da nossa moeda. Essa missão primordial está sendo cumprida com determinação e perseverança, observando um quadro internacional com nível de incerteza acima do usual. Há uma fragilidade da recuperação global e uma assimetria de crescimento entre países avançados e emergentes. Bem como choques de oferta de commodities que afetam preços internacionais e domésticos. Enquanto as economias maduras ainda convivem com as conseqüências da crise financeira internacional de 2008 e enfrentam dificuldades para calibrar a intensidade e a duração das suas políticas de

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Página 13 de 19 expansão e estabilização, muitos países emergentes já se defrontam com pressões inflacionárias.

Existem fatos conhecidos desde 2010 e fatos novos que aumentam essa incerteza em 2011.

Fato conhecido - desde agosto de 2010, o mundo vem observando uma trajetória ascendente dos preços internacionais das commodities agrícolas, que no período, cresceram mais de 55%. Esse comportamento tem sido motivo de preocupação dos bancos centrais ao redor do mundo e objeto de grande discussão nos fóruns multilaterais. As economias emergentes, notadamente, são as mais afetadas, uma vez que os alimentos têm peso mais elevado nas suas cestas de consumo.

Fato novo - o preço internacional do petróleo chegou a subir 24% desde os primeiros movimentos sociais e políticos nos países Norte da África e do Oriente Médio. E a atual precificação desses movimentos pode ainda estar sujeita a mais surpresas caso grandes produtores não consigam nivelar a oferta global, dada as conseqüências que isto poderia ter

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Página 14 de 19 sobre os níveis de inflação e o crescimento econômico mundial.

Fato novo também - as consequências do trágico terremoto ocorrido no Japão traz mais incertezas sobre a recuperação da economia global e a evolução dos preços de commodities. Haverá, certamente, um esforço de reconstrução no médio prazo, talvez com mudança da matriz energética local e global. Mas no curto prazo poderá haver uma interrupção momentânea das cadeias de produção e também repatriação de ativos japoneses para ajudar o financiamento da recuperação. E tal fato trará incertezas sobre a demanda por bens e serviços importados, evolução das taxas de câmbio e sobre o comportamento de consumo e poupança das famílias diante dessa tragédia.

Ou seja, diante desses novos desdobramentos, devemos continuar a observar atentamente o quadro internacional, inclusive o seu efeito sobre o ciclo global de crescimento e sobre preços dos ajustes nas políticas de importantes economias.

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A incerteza e a reconhecida complexidade do quadro atual da economia global não justificam uma passividade ou uma postura puramente reativa. Elas demandam um esforço analítico redobrado, talvez mais sofisticado do que o usual, que integre a dimensão global e doméstica nos seus aspectos reais e financeiros.

Sabemos que a dinâmica inflacionária brasileira tem sido impactada por esses fatores. Porém, não são os únicos que explicam a inflação corrente. Destaca-se também, por um lado, uma concentração atípica de choques nos preços administrados e nos preços de alimentos in-natura. Esses últimos apresentam sazonalidade entre o fim e o início de cada ano. Mas no início de 2011 seus efeitos foram mais intensos e concentrados no mês de janeiro.

Por outro lado, observamos também uma pressão de preços no setor de serviços. Trata-se de um efeito que não é exclusivo do momento atual. Mas que vem persistindo já há algum tempo,

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Página 16 de 19 consequência, em parte, de uma mudança estrutural da nossa economia e, em particular, das condições de renda e emprego do nosso mercado de trabalho, cujos efeitos tenderão a ser mais duradouros.

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Ou seja, existem ainda elementos subjacentes que apontam para um descompasso entre as taxas de crescimento da oferta e da demanda. Contudo, há sinais de que esse descompasso tende a recuar com a desaceleração da atividade, fruto das decisões dos agentes econômicos, depois da forte recuperação pós-crise, como também do conjunto de medidas já tomadas em 2010 e 2011, no âmbito fiscal, monetário e macroprudencial.

Nesse contexto, cabe aos instrumentos convencionais de política monetária continuar a garantir o controle e a diminuição das pressões inflacionárias. Foi diante desse cenário que o Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil aumentou a taxa básica de juros da economia em meio ponto percentual na sua última reunião, dando

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Página 17 de 19 sequência ao processo de ajuste monetário com objetivo de convergência da inflação para o centro da meta, qual seja, 4,5% ao ano.

Os efeitos desse cenário externo e doméstico e das suas medidas fiscais, monetárias e macroprudenciais estão incorporados na trajetória de inflação para 2011. Neste ano, sabemos que inicialmente a inflação acumulada em 12 meses tenderá a permanecer em patamares mais elevados dada a inércia trazida de 2010 e dada a sazonalidade projetada das taxas de inflação no trimestre junho/agosto de 2011. Entretanto, no final de 2011, configura-se uma tendência declinante para a inflação, deslocando-se na direção da trajetória de metas.

************************ Senhoras e Senhores.

O Brasil encontra-se em um momento de grandes oportunidades.

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Página 18 de 19 Temos hoje uma credibilidade estabelecida e uma participação ativa nos fóruns de elaboração dos novos parâmetros da arquitetura macroeconômica e financeira da economia mundial como o G20, o FSB e as grandes instituições internacionais.

Temos fundamentos macroeconômicos sólidos, fruto do nosso tripé de política econômica e um arcabouço financeiro e regulatório robusto, que permitiu-nos atravessar com sucesso a mais séria crise internacional desde 1929. Nosso modelo de desenvolvimento mostra grandes virtudes pela sua preocupação com o crescimento econômico, financeiro, integração social, equilíbrio ambiental e sustentabilidade institucional, sem que isso minimize os nossos grandes desafios em matéria de investimento nas dimensões física e humana.

Vemos grandes oportunidades na provável nova configuração da economia global em termos de comércio, investimentos diretos e internacionalização de nossas empresas, inclusive

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Página 19 de 19 do setor financeiro, apesar dos fatores de incerteza que já foram mencionados.

A contribuição do Banco Central, nesse contexto, permanece de fornecer aos agentes econômicos e à sociedade um quadro presente e prospectivo de estabilidade de preços e financeira, usando para isso o conjunto amplo de instrumentos monetário e regulatório, com tempestividade, determinação, perseverança e discernimento.

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