1/7
Comparar textos, buscando semelhança e diferenças quanto às ideias e à forma.
Aprimorar a escrita, exercitando-a a partir da leitura e prática da escrita.
HABILIDADES E COMPETÊNCIAS
Leia o texto I para responder às questões 1 - 3.
TEXTO I
Uma Galinha Clarice Lispector
Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã.
Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio.
Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo, inchar o peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou — o tempo da cozinheira dar um grito — e em breve estava no terraço do vizinho, de onde, em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um calção de banho e resolveu seguir o itinerário da galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado onde esta, hesitante e trêmula, escolhia com urgência outro rumo. A perseguição tornou-se mais intensa. De telhado a telhado foi percorrido mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um caçador adormecido. E por mais ínfima que fosse a presa o grito de conquista havia soado.
Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada. Às vezes, na fuga, pairava ofegante num beiral de telhado e enquanto o rapaz galgava outros com dificuldade tinha tempo de se refazer por um momento. E então parecia tão livre.
Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que é que havia nas suas vísceras que fazia dela um ser? A galinha é um ser. É verdade que não se poderia contar com ela para nada. Nem ela própria contava consigo, como o galo crê na sua crista. Sua única vantagem é que havia tantas galinhas que morrendo uma surgiria no mesmo instante outra tão igual como se fora a mesma.
Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em triunfo por uma asa através das telhas e pousada no chão da cozinha com certa violência. Ainda tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos e indecisos. Foi então que aconteceu. De pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida, exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo depois, nascida que fora para a maternidade, parecia uma velha mãe habituada. Sentou-se sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando e desabotoando os olhos. Seu coração, tão pequeno num prato, solevava e abaixava as penas, enchendo
LISTA DE EXERCÍCIOS – REDAÇÃO
P1
-
3º BIMESTRE – 8º ANO – FUNDAMENTAL II
Aluno (a): ___________________________________________ Turno: ____ Turma:____ Unidade __________Data: ___/ /2016
2/7 de tepidez aquilo que nunca passaria de um ovo. Só a menina estava perto e assistiu a tudo estarrecida. Mal porém conseguiu desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se do chão e saiu aos gritos:
— Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! ela quer o nosso bem!
Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente. Esquentando seu filho, esta não era nem suave nem arisca, nem alegre, nem triste, não era nada, era uma galinha. O que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente um pensamento qualquer. Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu-se com certa brusquidão:
— Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha vida! — Eu também! jurou a menina com ardor. A mãe, cansada, deu de ombros.
Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: ―E dizer que a obriguei a correr naquele estado!‖ A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas capacidades: a de apatia e a do sobressalto.
Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga — e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado.
Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos enchia os pulmões com o ar impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não cantaria mas ficaria muito mais contente. Embora nem nesses instantes a expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando milho — era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no começo dos séculos.
Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos.
Texto extraído do livro ―Laços de Família‖, Editora Rocco — Rio de Janeiro, 1998, pág. 30.
Vocabulário:
Adorno – graça.
Afeita – acostumada, habituada. Anseio – desejo intenso.
Apatia – estado de impassibilidade, de indiferença. Arfar – respirar com dificuldade.
Beiral – beira do telhado. Brusquidão – indelicadeza.
Consternada – pesarosa, triste, abatida.
Desvencilhar-se – desprender-se, soltar-se, livrar-se. Esporadicamente – ocasionalmente.
Estarrecida – apavorada, assustada. Galgar – saltar por cima de; transpor.
Ínfima – que ou o que possui pouca importância, pouco valor. Parturiente – em trabalho de parto.
3/7 Resquício – resto, resíduo.
Sobressalto – movimento brusco. Solevar – erguer, levantar.
Tepidez – qualidade do que é tépido, morno. Vibrátil – que vibra; vibrante.
Víscera – órgão alojado no abdômen
Texto narrativo
Questão 1 – Narrar consiste em construir o conjunto de ações que constituem a história e relacionar essas ações às personagens em um tempo e um espaço.
A. Quem é o protagonista e o antagonista do conto, durante a perseguição?
B. Quando ocorrem os fatos?
Texto Narrativo
Questão 2 – Toda narrativa apresenta um narrador, aquele que conta a história.
A. Qual é o foco narrativo do texto?
B. Explique o foco narrativo do texto.
Narração e Tipos de discurso
Questão 3 – Numa narração, o discurso de uma personagem é o seu ato de falar ou de pensar.
4/7
B. Qual é o tipo de discurso predominante no texto? Retire um exemplo.
Leia o texto II para responder às questões 4 - 6.
TEXTO II
Jô Soares: “chega de controle politicamente correto”
O comediante mais bem-sucedido do Brasil defende o humor escrachado, diz que o stand-up é velho e se afirma ―escritor anarquista‖
Rafael Pereira
Jô Soares tornou-se nos últimos 22 anos o maior entrevistador da televisão brasileira. Na semana passada, ele inverteu os papéis e recebeu ÉPOCA em seu apartamento em São Paulo para uma entrevista.
ÉPOCA – O senhor escreveu um livro sobre um assassino que persegue e mata gordas no Rio de Janeiro da década de 1930. O que o senhor conta a seus leitores além de uma instigante trama policial?
JÔ SOARES – É o registro do Rio de Janeiro em 1938, Capital da República, dentro de uma ditadura, com as garras do poder sempre presentes e com um delegado absolutamente contra isso, um verdadeiro anarquista. É fundamentalmente um livro de humor, apesar de o assunto ser o mais gótico possível. O humor permite isso. É um livro politicamente incorreto. Chega desse controle politicamente correto. Meu livro é uma posição anarquista diante de qualquer poder. Com muita graça e com muito sangue.
ÉPOCA – Muito se fala sobre os limites do humor. Recentemente, o comediante Rafinha Bastos foi tirado do ar no programa CQC por ter feito piada com uma cantora grávida. Se fizer rir, todo assunto pode virar piada? JÔ SOARES – Acho que o humor não tem limite, mas grosseria tem. Se for engraçado, o humor está perdoado. Ninguém pode se censurar. Não pode existir um critério sobre o que é permitido e o que não é permitido no humor. Quem vai identificar o que é ou não humor? Só não é permitido quando não tem graça, porque deixa de ser humor. Da grosseria não se ri.
PEREIRA, Rafael. Chega de controle politicamente correto. Disponível em http://revistaepoca.globo.com/ideias/noticia/2011/10/jo-soares-chega-de-controle-politicamente-correto.html.
Acesso em 18/06/2016. (Fragmento)
Entrevista
Questão 4 – A entrevista é um gênero textual jornalístico que tem por finalidade colher opiniões de pessoas a respeito de um assunto ou de fatos em evidência no momento em que ela é realizada; pode também divulgar informações sobre a vida pessoal e profissional de uma pessoa de renome no meio artístico, cultural, científico, político ou religioso
5/7
B. Em qual veículo a entrevista foi publicada?
Entrevista
Questão 5 – Nas entrevistas escritas, pode haver um pequeno texto que as introduz. Observe a entrevista lida.
A. Qual a finalidade do texto introdutório?
B. Quais são as principais características da entrevista escrita presente no texto em estudo?
Entrevista
Questão 6 –Nas entrevistas, geralmente predomina a norma-padrão da língua, mas isso depende da situação do perfil do entrevistado. Sobre a linguagem presente na entrevista assinale a alternativa correta.
A. O texto apresenta marcas de informalidade com frequência. B. Uma variedade de acordo com a norma-padrão.
C. Apresenta marcas de oralidade.
D. Apresenta uma linguagem extremamente formal. E. Faz o uso de uma linguagem rebuscada.
Leia o texto III para responder às questões 07 e 08.
TEXTO III
Tentando se segurar numa alça lilás Marina Colasanti
Entrou no elevador.
A um canto, outra mulher segurava firme debaixo do braço uma enorme bolsa de couro lilás. -Que ousadia, uma bolsa lilás - sorriu ela
-Acabei de dizer a um homem que o amo- respondeu a outra. -Então entrei numa loja e, entre todas, escolhi essa bolsa. Eu precisava sentir nas mãos minha audácia.
Sorriu. Agarrou-se náufraga na alça
6/7 Tipo de discurso
Questão 7 – O discurso, ou fala, pode ser apresentado, basicamente, de três modos. No texto o tipo de discurso predominante é:
A. discurso indireto livre. B. discurso indireto C. discurso direto.
D. discurso direto e indireto. E. nenhum .
Texto narrativo
Questão 8 – A narração, além de ser uma das mais importantes possibilidades da linguagem oral e escrita, é também uma das práticas mais comuns de nossa vida. Levando em consideração as características do texto narrativo e a leitura do texto III, marque a alternativa correta.
A. O texto é apresentado por um narrador em segunda pessoa. B. O texto não permite saber como os fatos ocorrem.
C. O texto não é uma narrativa, pois não apresenta um tempo definido. D. O texto apresenta um fato que gira em torno de duas personagens. E. O texto narrativo só pode ser narrado na primeira pessoa.
Crônica
Questão 9 – A crônica emerge como um gênero cada vez mais presente na contemporaneidade, refletindo as estruturas sociais típicas da cultura vigente e agindo sobre diferentes leitores. Sobre o gênero crônica, assinale a alternativa incorreta.
A. Na crônica humorística o cronista buscar criar um estilo simples e de tom irônico, mas deixa de discutir os
problemas sociais ou as fraquezas do homem.
B. Pode ser considerada um o relato de um flash, de um breve momento do cotidiano de uma ou mais
personagens.
C. Quase sempre explora o humor; mas às vezes diz coisas sérias por meio de uma aparente conversa – fiada. D. Difere-se da notícia, e da reportagem porque, embora utilizando o jornal ou a revista como meio de
comunicação, não tem por finalidade principal informar o destinatário, mas refletir sobre o acontecido.
E. É um gênero híbrido que oscila entre a literatura e o jornalismo, resultado da visão pessoal, particular,
7/7 Crônica
Questão 10 – A crônica emerge como um gênero cada vez mais presente na contemporaneidade, refletindo as estruturas sociais típicas da cultura vigente e agindo sobre diferentes leitores. Sobre o gênero crônica, assinale a alternativa correta.
A. Trata-se de um texto curto, geralmente com muitas personagens, no qual o tempo e o espaço são limitados. B. O narrador é sempre o próprio autor do texto.
C. Na crônica o autor sempre está dialogando com o leitor.
D. Numa crônica os fatos podem ser narrados somente por um narrador-observador