RUMO Á UMA
GERAÇÃO
LIVRE DO SIDA
Crianças e o SIDA
Os relatórios de balanço sobre as Crianças e o SIDA são as principais publicações da campanha, Unidos pelas Crianças,
Unidos contra o SIDA. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) lidera o desenvolvimento destas publicações,
como parte do seu compromisso para com o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o HIV/SIDA
(ONUSIDA)
, em
colaboração com os outros 10 co-patrocinadores. A ONUSIDA reúne os recursos do seu Secretariado e de 11 organizações
do sistema das Nações Unidas, na coordenação e responsabilização dos esforços no sentido de unir o mundo contra o
SIDA. A divisão do trabalho é a seguinte:
Os resultados, interpretações, citações, conclusões e opiniões expressas no presente relatório e/ou no site da www.childrenandaids.org não podem necessariamente ser atribuídas de forma individual a qualquer das organizações envolvidas na produção deste relatório. Porque ainda persiste o estigma relacionado ao HIV e, de acordo com os padrões globais dos direitos da criança, e também em concordância com a vontade explícita, o UNICEF tomou medidas para a protecção da identidade das crianças e das suas mães. O UNICEF obtém o consentimento por escrito das pessoas vivendo com o vírus antes de identificá-las nas fotos ou em outros fóruns de mídia. Salvo disposição em contrário, as pessoas representadas nesta publicação e nos materiais adicionais em versão electrónica, não devem ser consideradas como estando a viver com o HIV.
© Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), 2013
A autorização para a reprodução de qualquer parte desta publicação será concedida gratuitamente às organizações educacionais e sem fins lucrativos.
Citação sugerida: Fundo das Nações Unidas para a Infância, Rumo á uma Geração Livre do SIDA - Crianças e o SIDA: Sexto Relatório de Balanço, 2013, UNICEF, Nova Iorque, 2013.
Dados e materiais de apoio encontram-se disponíveis em: <www.childrenandaids.org>.
Para qualquer rectificação e posterior impressão, visite o site do UNICEF em <www.unicef.org/publications>.
Foto da capa: No norte do Ruanda, crianças correm em direcção á casa depois da escola. Os alunos participaram de uma discussão em grupo organizada para aumentar a consciencialização sobre questões sociais importantes, como a saúde, higiene, saneamento e o HIV. © UNICEF/RWAA2011-00631/Noorani
Agências Convocadase os Parceiros A divisão de tarefas
OMS, UNICEF, OIT, PNUD, UNESCO, FNUAP,
ACNUR, PMA e Banco Mundial Previnem a mortalidade materna e impedem a infecção pelo HIV em bebés.
OMS, OIT, PNUD, ACNUR, UNICEF, PMA. Asseguram que as pessoas vivendo com o HIV recebem o tratamento.
OMS, OIT, UNICEF, PMA. Impedem que as pessoas vivendo com o HIV morram de tuberculose.
UNODC, PNUD, UNESCO, FNUAP, UNICEF, OMS,
Banco Mundial. Protegem os utilizadores de drogas da infecção pelo HIV e asseguram o acesso aos serviços abrangentes de HIV nas prisões e em outras
configurações de reclusão.
PNUD, FNUAP, UNESCO,
OMS, Banco Mundial. Capacitam os homens que fazem sexo com homens, profissionais do sexo e transexuais na protecção do HIV e no acesso total à terapia anti-retroviral.
PNUD, FNUAP, ONU/Mulheres, ACNUR, UNICEF, UNODC, OIT, UNESCO, e a OMS.
Removem as leis, políticas, práticas punitivas, estigma e a discriminação que impedem respostas eficazes contra o SIDA.
PNUD, FNUAP, ONU/Mulheres, OIT, UNESCO,
ACNUR, UNICEF, UNODC, PMA, OMS. Atendem às necessidades das mulheres e raparigas relativamente ao HIV e impedem a violência sexual e baseada no género.
UNICEF, FNUAP, OIT, UNESCO, ACNUR, PMA, OMS. Capacitam os jovens a protegerem-se do HIV.
UNICEF, Banco Mundial, OIT, PNUD, ACNUR, PMA. Abordam sobre o HIV em situação de emergências humanitárias.
ACNUR, PMA, PNUD, FNUAP, UNICEF, UNODC, OMS. Integram a alimentação e a nutrição no âmbito da resposta ao HIV.
PMA, ACNUR, UNICEF, OMS. Asseguram a educação de alta qualidade para uma
resposta mais eficaz ao HIV.
UNESCO, OIT, FNUAP, UNICEF, OMS. Assegurar a educação de qualidade para uma resposta mais efectiva contra o HIV.
Banco Mundial, OIT, PNUD, UNESCO, FNUAP,
ACNUR, UNICEF, UNODC, OMS, PMA. Providenciam apoio estratégico, priorizam planos multissectoriais da resposta ao SIDA e os respectivos custos.
INDÍCE
Sumário executivo:
Rumo á uma geração livre do SIDA
1
Sobre este relatório
ii
Capítulo 1
A resposta ao HIV na
primeira década de vida
4
6
A primeira década: Progressos e desafios
15
Novos paradigmas, oportunidades e inovações
17
Estratégias para acelerar o progresso na primeira década de vida
Capítulo 2
A resposta ao HIV na
segunda década de vida
24
26
A segunda década: Transição e vulnerabilidade
29
Desigualdades e barreiras de acesso aos serviços
32
Estratégias para acelerar o progresso na segunda década de vida
39
Manter os ganhos obtidos na primeira década de vida
Acrónimos
83
Anexo:
Quadros estatísticos
53
53
Notas sobre os dados
54
Tabela estatística 1: Eliminação de novas infecções pelo
HIV em crianças até 2015 e manter as suas mães vivas
58
Tabela estatística 2: Prestação de cuidados e tratamento
pediátrico do HIV
66
Tabela estatística 3: Demografia e epidemiologia do
HIV entre os adolescentes
70
Tabela estatística 4: Conhecimentos, testagem de HIV
e comportamento sexual entre os adolescentes
74
Tabela estatística 5: Epidemiologia, conhecimentos,
testagem do HIV e comportamento sexual entre populações
chave afectadas e menores de 25 anos
78
Tabela estatística 6: Protecção, cuidados e apoio
ás crianças afectadas pelo HIV e o SIDA
Capítulo 3
Parcerias para uma
geração livre do SIDA
40
42
Duas décadas, muitos sectores
44
Enfrentar o HIV entre as crianças em situações de emergência:
Um caso para parcerias reforçadas
45
Rumo á uma geração sem o SIDA:
Colmatar lacunas e manter os ganhos
Referências
46
RUMO Á UMA GERAÇÃO LIVRE DO SIDA
Crianças e o SIDA: Sexto Relatório de Balanço, 2013
Fotos – Legendas e créditos
82
Crianças e o SIDA: Sexto Relatório de Balanço,
2013
SOBRE ESTE RELATÓRIO
Principais compromissos e estratégias globais
relacionadas às crianças e o SIDA
Declaração do Milénio das
Nações Unidas
2000
Objectivos do
Desenvolvimento
do Milénio
Declaração de
Compromisso sobre
o HIV/SIDA
2001
Declaração Política
sobre o HIV/SIDA
2006
O Sexto Relatório de Balanço centra-se na resposta do HIV
e o SIDA entre crianças em países de baixa e média
1. O
relatório está estruturado em torno da primeira e segundas
décadas de vida da criança, e tem os seguintes objectivos
:
•
rever o peso do HIV em crianças e adolescentes,
assim como, os progressos alcançados e
•
identificar as principais estratégias para acelerar
o acesso à prevenção, tratamento, protecção,
cuidados e apoio às crianças e adolescentes
•
resumir as oportunidades decorrentes dos avanços
científicos recentes, novas tecnologias, inovações e
práticas emergentes
•
mobilizar os esforços nacionais e internacionais
para manter as crianças livres do HIV e garantir
que, aquelas que vivem com o HIV, permaneçam
sem o SIDA.
Enquanto os governos nacionais são, em última instância,
os responsáveis primários pelos seus compromissos
inter-nacionais e domésticos, este relatório tem por objectivo
informar sobre os esforços coordenados de todos as partes
interessadas, que se empenham para alcançar o objectivo
de uma geração livre do SIDA. As partes interessadas
incluem os doadores, especialistas, agências das Nações
Unidas, parceiros de implementação, sociedade civil e as
comunidades em diversas partes do mundo.
Para o sucesso das estratégias descritas neste relatório
é essencial o envolvimento dos adultos e adolescentes
vivendo como o HIV. Responder aos desafios do HIV é uma
responsabilidade conjunta e, alcançar uma geração livre
do SIDA será igualmente um triunfo a ser partilhado.
Ao longo deste relatório, o termo “crianças” aplica-se a
todos os indivíduos com idade inferior a 18 anos, incluindo
adolescentes, conforme definido na
Convenção sobre os
Direitos da Criança
. As Nações Unidas definem os
adoles-centes como pessoas com idade entre 10–19 anos, e os
jovens como pessoas com idades compreendidas entre os
15–24 anos.
Contagem para Zero:
Estratégia 2011–2015
Expandir a Nutrição (EAN):
Um Quadro de Acção
Estratégia Global do Secretario
Geral das Nações Unidas para a
Saúde das Mulheres
Comissão Global sobre o
HIV e a Lei
SUMÁRIO EXECUTIVO
Uma geração livre do SIDA significa uma geração em que,
todas as crianças nascem livres do HIV e, permanecem
nesse estado durante as duas primeiras décadas de vida
isto é, do nascimento até a adolescência. Isso também
significa que, as crianças vivendo com o HIV ou afectadas
pelo vírus têm acesso ao tratamento, cuidados e o apoio
que necessitam para permanecerem vivas e saudáveis.
Pela primeira vez na história da epidemia do HIV a
comu-nidade global acumulou conhecimentos, experiências e as
ferramentas necessárias para alcançar uma geração livre
do SIDA.
Uma geração livre do SIDA começa na
primeira década de vida
As principais componentes da resposta ao HIV em crianças
estão bem estabelecidas – a eliminação da transmissão
vertical (PTV), o tratamento de crianças vivendo com o
HIV e a mitigação do impacto económico e social. O
desafio hoje, é o de aplicar os conhecimentos existentes
buscando novas oportunidades e inovações – enquanto
se usam os recursos disponíveis de forma mais eficiente e
eficaz possível, para garantir que, as crianças sobrevivam
e cresçam na sua primeira década de vida.
RUMO Á UMA
GERAÇÃO
LIVRE DO SIDA
As crianças devem ser as
primeiras a beneficiarem-se
dos nossos sucessos na
derrota do HIV, e as últimas
a sofrerem as consequências
dos nossos fracassos.”
Anthony Lake, Director Executivo, UNICEF
”
Declaração Política sobre o HIV e
SIDA. Intensificar os esforços para
eliminar o HIV e o SIDA
Plano Global para a Eliminação
de Novas Infecções pelo HIV entre
as Crianças até 2015 e manter as
suas Mães Vivas
Abordagem de Investimentos para
uma resposta Eficaz ao HIV/SIDA
2011
O compromisso para a
sobre-vivência da criança: Uma
Promessa Renovada
Planeamento Familiar 2020
2012
Plano Global–Ano alvo
Prazo dos ODMs
Crianças e o SIDA: Sexto Relatório de Balanço,
2013
Entre 2009 e 2012, registou-se um progresso mais
signifi-cativo comparativamente ao que foi alcançado na década
anterior. De acordo com os dados de 2012, estes mostram
um declínio de 35% de novas infecções pelo HIV entre
as crianças menores de 15 anos quando comparados a
2009
2. Em 2012, a cobertura dos medicamentos
anti-retrovirais (ARVs) para as mulheres grávidas vivendo com
o HIV alcançou os 62%, nos 22 países prioritários do
Plano Global Para a Eliminação de Novas Infecções pelo
HIV entre crianças até 2015 e manter suas mães vivas
(o
“
Plano Global
”)
3. No entanto, durante 2012, nesses
países
4, aproximadamente 230.000 crianças (180,000–
300,000) foram infectadas pelo HIV, com uma média
diária de 630 (540–760) infecções. Embora actualmente
no mundo se reduza a infecção pelo HIV entre as crianças,
mais rapidamente do que em qualquer outro momento na
história, o ritmo terá de ser acelerado ainda mais, para se
poder alcançar o objectivo Plano Global em 2015.
Assegurar a saúde das mulheres grávidas e
lactantes vivendo com o HIV é fundamental
para se alcançar uma geração livre do SIDA
Nos últimos três anos, os países começaram a avançar
para o início precoce do regime da droga tripla e a
programação simplificada para eliminar a transmissão
vertical . Esta abordagem enfatiza a saúde a longo
prazo, das mulheres grávidas e lactantes vivendo com
o HIV, assim como, a prevenção da infecção pelo
HIV em crianças. As
Directrizes Consolidadas
da
Organização Mundial de Saúde de 2013, sobre o
Uso de Medicamentos Anti-retrovirais, no Tratamento e
Prevenção da Infecção pelo HIV, recomendam o início
da terapia anti-retroviral (TARV), ou ao longo da vida ou
durante o período de risco de transmissão vertical, para
todas as mulheres grávidas e lactantes vivendo com o
HIV. Independentemente da contagem do CD4, os ARVs
devem ser providenciados ao longo da vida a todas as
crianças menores de 5 anos de idade e com o diagnóstico
de HIV
5. O passo dado, relativo à provisão do TARV a
todas as mulheres grávidas e lactantes, representa uma
mudança importante de paradigma que coloca a saúde
e o bem-estar da mulher no centro de prevenção do HIV
em crianças. Manter as mães vivas e saudáveis é um dos
factores mais importantes para a sobrevivência da criança
nos primeiros estágios de vida.
Na prevenção de infecções pelo HIV em crianças, constitui
uma prioridade, impedir a infecção pelo HIV entre as
mulheres e raparigas em idade fértil e ajudar as mulheres
e raparigas que vivendo com o HIV a evitar uma gravidez
indesejada.
Mais crianças têm acesso ao TARV,
mas este progresso é de longe menor
do que o progresso em adultos
No geral, a cobertura do TARV para crianças menores de
15 anos vivendo com HIV em países de baixa e média
renda é consistentemente cerca da metade dos adultos
– 34% das crianças em 2012, comparativamente aos
64% de adultos no mesmo ano
6. As crianças menores de
15 anos idade que precisam do TARV para sobreviver,
são significativamente menos propensas a receberem se
comparado com os adultos.
Na ausência de testes de HIV e a iniciação oportuna do
TARV, um terço das crianças vivendo com o HIV morrem
antes do primeiro ano de vida e mais de metade morre
antes de completar dois anos de idade
7. É portanto,
necessário um esforço enorme para alcançar a meta
global de provisão do TARV para todas as crianças
elegíveis até 2015.
É necessário dar mais atenção, para prevenir
e tratar o HIV durante a adolescência, para
que, as crianças permaneçam livres do SIDA
na segunda década de vida
Enquanto a comunidade internacional reflecte sobre os
ganhos obtidos na primeira década de vida de uma
criança, não pode continuar a negligenciar a segunda
década crucial da infância. Até finais de 2012
8, cerca
de 2,1milhões de adolescentes (1.7–2.8 milhões), viviam
com o HIV no mundo e, aproximadamente dois terços
das novas infecções pelo HIV entre os adolescentes
com idade entre 15–19 anos ocorreram em raparigas
9.
Os adolescentes experimentam uma segunda onda de
vulnerabilidade à infecção pelo HIV que é impulsionada
por vários factores, e ao mesmo tempo, deparam-se com
inúmeras barreiras no acesso aos serviços. Tratando-se
de crianças vivendo com o HIV, à medida que crescem
mudam também, o seu tratamento, cuidados, o tipo de
apoio e as necessidades.Os adolescentes enfrentam
novos desafios para a adesão aos medicamentos porque
aumentam as responsabilidades em relação a sua própria
saúde, no acesso aos serviços e informações que
neces-sitam para levar uma vida saudável e produtiva. Em todo o
mundo, a prevalência do HIV é desproporcionalmente alta
entre as populações chaves de adolescentes – homens que
fazem sexo com homens, adolescentes que usam drogas
injectáveis, adolescentes exploradas sexualmente
10. É
necessária uma estratégia abrangente para lidar com as
diversas necessidades.
A protecção social e a protecção à criança,
a assistência e o apoio devem ajudar nos
esforços para intensificar as intervenções
de alto impacto durante as duas primeiras
décadas de vida
Criar uma geração livre do SIDA é mais do que um esforço
biomédico. É necessário abordar os factores económicos e
sociais do HIV como a pobreza, a insegurança alimentar,
uso de drogas e do álcool, marginalização social,
desigualdade de género, violência e exploração sexual,
e a falta do acesso à educação, incluindo a educação
sexual abrangente. Estes factores devem ser encarados
simultaneamente, como parte de uma abordagem
multissec-torial do HIV entre as crianças.
Os esforços para atender às necessidades das crianças que
vivem com o HIV, ou em famílias afectadas através de
inter-venções abrangentes de protecção, cuidados e de apoio
ainda não alcançaram uma ampla cobertura
11.
Requer-se portanto, mais colaboração entre os sectores.
O apoio económico e psicossocial é particularmente
importante para os cerca de 17,8 milhões de crianças
(16.1 milhões–21.6 milhões) que perderam um ou ambos
os pais devido ao SIDA
12. Estas medidas não só aliviam
as dificuldades, mas podem ajudar a reduzir o risco
de infecção pelo HIV e apoiar na adesão à medicação
a longo prazo e a continuidade dos cuidados para as
crianças e suas famílias
13.
Duas décadas, muitos sectores
Este relatório destaca os sucessos e as lacunas na resposta
ao HIV entre crianças na primeira e segunda décadas de
vida e sublinha a urgência de se alcançarem resultados
mais rapidamente e com os recursos disponíveis. Embora o
relatório enfatize os locais de alta prevalência, a
preo-cupação é similar para os locais com baixa prevalência
e o desafio principal é manter e expandir os progressos
alcançados. Para alcançar este objectivo são apresentadas
inovações e novos paradigmas juntamente com as
princi-pais estratégias para acelerar o ritmo do progresso.
Uma geração livre do SIDA só será alcançada através
de uma liderança forte por parte dos governos e com
os parceiros a alinharem o seu apoio para os objectivos
comuns. A participação incondicional da sociedade civil
e das comunidades afectadas também é necessária, não
só como parceiras de implementação, mas também nos
processos de planeamento, tomada de decisão,
sensibili-zação, promoção e fortalecimento da responsabilização e
prestação de contas.
O caminho para uma geração livre do SIDA é claro. O
mundo precisa agora de se empenhar fortemente para
manter os ganhos duramente conquistados e para enfrentar
as restantes desigualdades e lacunas na resposta ao HIV
entre as crianças.
Crianças e o SIDA: Sexto Relatório de Balanço, 2013
CAPÍTULO 1
A RESPOSTA
AO
HIV
NA
PRIMEIRA
DÉCADA
DE VIDA
A eliminação de novas infecções pelo
HIV entre as crianças é uma meta
ambiciosa, mas alcançável. Com o
apoio da Iniciativa
Toda mulher e
Toda a Criança
, uma geração livre
do SIDA pode ser nossa. Não há
melhor investimento do que a saúde
de mulheres e das crianças.”
Ban Ki-moon,
Secretário-Geral das Nações Unidas
Crianças e o SIDA: Sexto Relatório de Balanço,
2013
A PRIMEIRA DÉCADA:
PROGRESSOS E DESAFIOS
Desde a introdução do primeiro regime eficaz de TARV
para a prevenção da transmissão vertical (PTV) em 1994,
as perspectivas para as crianças nascidas de mães vivendo
com o HIV melhorou dramaticamente. Nos países de alta
renda, a transmissão vertical do HIV foi praticamente
eliminada . Hoje, com a constante expansão da cobertura
de ARVs mais eficazes e com novas abordagens na sua
provisão, existe a esperança que, a transmissão vertical do
HIV, também pode ser praticamente eliminada em países
de baixa e média renda.
O Plano Global Para a Eliminação de Nova Infecções pelo
HIV entre crianças até 2015 e manter as suas mães vivas
(o “
Plano Global
”), identifica 22 países prioritários onde
ocorrem cerca de 90% de todas as novas infecções pelo
HIV entre as crianças. Destes países, 21 estão na África
subsaariana, sendo o outro país a Índia
15. É um objectivo
importante do Plano Global
16a redução para menos de
5% da transmissão vertical, em crianças que estão sendo
amamentadas e para menos de 2% em crianças que não
se alimentam do leite materno. Com base em
estima-tivas de 2012 (veja a Figura 1.1)
17, isto significa ter que
alcançar anualmente, um número estimado de 1,5 milhões
(1.4–1.7 milhões) de mulheres grávidas vivendo com o
HIV. Sem qualquer tipo de intervenção, cerca de 15 a
45% das crianças nascidas de mães infectadas irá contrair
o HIV, dos quais 5–10% durante a gravidez, 10–20%
durante o trabalho de parto, e 5–20% através de
aleita-mento materno
18.
Regista-se um progresso significativo na
expansão do acesso aos anti-retrovirais
para a PTV
Foram realizados progressos encorajadores na expansão e
melhoria da qualidade dos programas. Em 2012, cerca de
900.000 mulheres grávidas vivendo com o HIV em países
de baixa e média renda, recebeu ARVs para prevenir a
transmissão vertical, o TARV ou uma profilaxia eficaz para
a sua própria saúde . Este número representa um aumento
de um terço das mulheres que recebeu a terapia em 2009.
Enquanto o mundo actualmente reduz as novas infecções
pelo HIV entre as crianças, mais rapidamente do que em
qualquer outro momento na história, o ritmo terá de ser
acelerado ainda mais, para atingir a meta de 2015, que
é a redução em 90% (ver Figura 1.2).
Apesar da cobertura global dos medicamentos
Estimativa do número de mulheres grávidas vivendo com o HIV em países de baixa e média renda entre 1990–2012
FIGURA 1.1
2,000,000 1,000,000 0 1990 1995 2000 2005 2010 2012 1,500,000 500,0001,5 milhões de mulheres grávidas vivendo com o HIV (2012)
Nota: A área em azul indica a dúvida em torno das estimativas Fonte: Estimativas do HIV e SIDA da ONUSIDA de 2012
O Plano Global Para a Eliminação de Nova Infecções pelo HIV
entre crianças até 2015 e manter as suas mães vivas
Desde o seu lançamento em 2011, o
Plano Global
apoiou a catalisação dos esforços para combater o HIV em
crianças e suas mães, através dos Objectivos do
Desenvolvimento do Milénio
4 (reduzir a mortalidade infantil),
5 (melhorar a saúde materna)
e,
6 (combater o HIV, tuberculose e a malária)
. Embora estejam incluídos todos
os países de baixa e média renda, o plano concentra-se em 22 países prioritários, que contam com quase 90%
das mulheres grávidas vivendo com o HIV no mundo, bem como, com cerca de 90% das novas infecções entre
as crianças. O Plano Global centra-se no alcance de dois objectivos globais nomeadamente:
•
Objectivo
1:
Reduzir em 90%, o número de novas infecções pelo HIV entre as crianças
•
Objectivo
2:
Reduzir em 50%, o número de mortes maternas devido ao SIDA.
Em 2011, o custo para o cumprimento dos objectivos do Plano Global para 17 dos 22 países prioritários foi
esti-mado em cerca de 1 bilhão de dólares anuais, para um período de cinco anos. Deste montante, 43% foi para a
prestação de serviços de PTV para as mulheres grávidas vivendo com o HIV e para o tratamento da sua própria
saúde, 37% foi alocado à prevenção da infecção primária do HIV, 12% para o TARV pediátrico e os restantes
8% para o planeamento familiar.
20Vários países – incluindo o Botsuana, Namíbia e a África do Sul – estão a
fazer investimentos internos substanciais, no sentido de alcançarem os objectivos do Plano Global. Os principais
doadores internacionais deste esforço incluem-se o
Fundo Global de Combate ao SIDA, Tuberculose e Malária
e o Plano de Emergência do Presidente dos Estados Unidos para o Alívio do SIDA (
PEPFAR
).
CA
IX
A
Estimativa do número de novas infecções pelo HIV em crianças (com idade entre 0–14 anos): Tendência global e projecções, 2001–2015
FIGURA 1.2
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Fonte: Análise do UNICEF das estimativas do HIV e SIDA da ONUSIDA, 2012
2013 2014 2015 600,000 500,000 400,000 300,000 200,000 100,000 0 Declínio de 26% em 8 anos (média de 18.000 anual) 2001–2009 Declínio de 35% em 3 anos (média de 47.000 anual) 2009–2012 Objectivo do Plano Global: Redução em 90% em 2015 Necessário declínio de 85% em 3 anos (média de 74.000 anual), 2012–2015
Tendência estimada
Tendência projectada
Crianças e o SIDA: Sexto Relatório de Balanço,
2013
anti-retrovirais para prevenção da transmissão vertical
em países de baixa e média renda tenha atingido os
62% em 2012, houve uma variação considerável entre
as regiões (ver Figura 1.3). Na África Oriental e Austral,
onde o peso do HIV é maior, três quartos das mulheres
grávidas tiveram acesso (66–85%). Na Europa central
e do leste e na Comunidade dos Estados Independentes
(ECL/CEI), reporta-se uma cobertura muito alta (superior a
95%), assim como, na América Latina e no Caribe (88%;
58–95%). Em todas as outras regiões estima-se que a
cobertura seja abaixo da metade
21.
Um dos objectivos principais do Plano Global é
provi-denciar os ARVs a 90% das mulheres grávidas vivendo
com o HIV no mundo, até o final de 2015. Este objectivo
está agora ao alcance pois, nos 22 países prioritários do
Plano Global, 62% das mulheres grávidas vivendo com o
HIV receberam em 2012, a profilaxia , comparativamente
aos 57% em 2011 e 49% em 2010
22. Desde 2009, a
maioria dos países mudou a política do uso de dose única
de nevirapina para regimes mais eficazes para a PTV.
Quatro dos países prioritários do Plano Global – Botsuana,
Gana, Namíbia e Zâmbia – já atingiram a meta de 90%,
estando Moçambique, África do Sul, Suazilândia e o
Zimbabwe próximos do alvo. No entanto, cinco países
– Quénia, Lesoto, Nigéria, África do Sul e Suazilândia –
experimentaram no ano passado declínios na cobertura da
PTV. Quatro dos países nomeadamente – Angola, Chade,
República Democrática do Congo e a Nigéria – tiveram
em 2012
23uma cobertura nacional de menos de 20% de
medicamentos ARVs para a PTV.
As directrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS)
de 2013, sobre o TARV recomendam o teste de HIV
universal para todas as mulheres grávidas, como parte do
pacote básico dos serviços de atendimento pré-natal em
todos os locais. Em alguns países com prevalência baixa
ou concentrada da epidemia a oferta do teste de rotina
do HIV para todas as mulheres grávidas pode ser conside-
rado proibitivo, quando comparado com o número de
casos detectados
24. No Vietname e em outros países com
epidemias concentradas, o teste de HIV está sendo
incorpo-rado numa lista padrão de testes a serem feitos durante a
gravidez
25. É fundamental que se estabeleça a referência,
Estimativa da percentagem de mulheres grávidas vivendo com o HIV que recebem anti-retrovirais mais efectivos para a PTV
nas regiões do UNICEF, em todos os países de baixa e média renda e nos 22 países prioritários do Plano Global, 2005–2012
FIGURA 1.3
100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%Nota: As linhas verticais indicam a dúvida em torno das estimativas. Os números da cobertura entre 2005–2009 não são comparáveis com os 2012, porque são baseados nas directrizes anteriores de tratamento da OMS que incluem a dose única de nevirapina.
Fonte: ONUSIDA, UNICEF e OMS, Relatório de Progresso da Resposta Global do SIDA, 2013 e ONUSIDA e as estimativas do HIV e SIDA, 2012
África Oriental
e Austral África e Médio Norte de Oriente África Central
e Ocidental Ásia Oriental e Pacífico América Latina e Caribe
Sul da Ásia ECL/CEI 22 países
prioritários do Plano Global Todos os países de baixa e média renda
2005*
2010
2011
2012
ligação e acompanhamento adequado dos serviços. Na
Índia, onde os números globais são elevados, e a
popu-lação de mulheres vivendo com o HIV está dispersa por
todo o país, recomenda-se o início e a manutenção dos
ARVs para mulheres e crianças, como parte do pacote
de cuidados pré natais nos contextos de saúde materna e
infantil
26. No Camboja também demonstrou-se que, esta
abordagem pode aumentar não só, o acesso ao tratamento
no nível de cuidados primários, mas também, pode resultar
na redução da perda de acompanhamento das mulheres e
das crianças diagnosticadas com o HIV.
O acesso ao TARV para as mulheres grávidas
com vista a equilibrar a sua própria saúde
está a aumentar, mas ainda é reduzida
comparativamente a de outros adultos
Nos países de baixa e média renda, a percentagem de
mulheres grávidas vivendo com o HIV (com níveis de
CD4 inferiores a 350 células por milímetro cúbico) e que
receberam o TARV para equilibrar a sua própria saúde, foi
de apenas 58% em 2012. As estimativas do mesmo ano
indicam que, 64% de todos os outros adultos (com níveis
de CD4 inferior a 350 células/mm3) receberam o TARV
27.
Em 2012, vários países prioritários do Plano Global –
incluindo Botsuana, Gana, Malawi, Namíbia, África do
Sul, Suazilândia e Zâmbia – informaram que, sob os
critérios da OMS de 2010, mais de 75% das mulheres
grávidas elegíveis para o TARV recebeu o tratamento,
enquanto que, em países como Quénia, Lesoto, República
Unida da Tanzânia e Zimbabwe, mais de 50% de mulheres
receberam o TARV
28. Em consonância com as directrizes
de 2013 da OMS sobre os ARVs
29, espera-se que, esta
tendência continue à medida que mais países adoptam o
uso do TARV para todas as mulheres grávidas e lactantes
que vivendo com o HIV.
Aumentar o impacto: Estão a reduzir-se as
novas infecções entre crianças
Como resultado do recente progresso na EMTCT
(Eliminação da transmissão de mãe para filho), menos
crianças estão a contrair o HIV. Nos países de baixa e
média renda, ocorreram em 2012
30cerca de 260.000
novos casos de infecção entre as crianças e entre 2005 e
2012, foram impedidas nesses países
31, mais de 850.000
infecções pelo HIV. Em 2012
32a vasta maioria das
novas infecções pelo HIV entre crianças dos 0–14 anos
ocorreu na África Oriental e Austral (130.000), na África
Ocidental e Central (98.000), seguida pelo sul da Ásia
(15.000), a Ásia Oriental e Pacífico (7.900), e por todas
as outras regiões, que registaram cada uma menos de
3.000 novas infecções.
Nos 22 países prioritários do Plano Global, registou-se
um declínio das taxas globais de transmissão vertical, de
uma estimativa de 26% em 2009 para 17% em 2012. O
número de crianças menores de 15 anos infectadas nesses
países, também registou um declínio de 36%, com uma
estimativa de 360.000 em 2009 para 230.000 em 2012.
Nesse período, sete países reduziram para a metade as
novas infecções pelo HIV entre as crianças (ver Figura
1.4)
33.
Crianças e o SIDA: Sexto Relatório de Balanço,
2013
Na maioria das regiões, tem-se registado melhorias na
redução da taxa de transmissão vertical do HIV. No
entanto, ainda há muito a ser feito. A região ECL/CEI
reporta a taxa mais favorável na redução da transmissão,
que ronda os 6%, seguida da América Latina e o Caribe
com 10%, com a África Oriental e Austral a registar uma
redução de 13%. Em todas as outras regiões os relatórios
indicam taxas de transmissão mais altas e preocupantes
e acima dos 20%, sendo o leste da Ásia e Pacífico, 22%;
África Ocidental e Central, 28%; Médio Oriente e Norte
da África, 34%; Sul da Ásia, 38%
34.
Mais crianças têm acesso ao TARV,
mas o progresso em crianças é menor,
comparado com o progresso em adultos
A ausência de testes de HIV e a iniciação oportuna do
TARV, faz com que um terço das crianças vivendo com
o HIV morram antes do seu primeiro ano de vida, e a
metade morre antes de atingir os dois anos de idade
41.
Globalmente, o ritmo da expansão do TARV para crianças
menores de 15 anos é apenas a metade comparado com
o progresso da expansão do tratamento em adultos. Em
2011–2012 foi registado um aumento do acesso das
Validação dos países que alcançaram a eliminação da transmissão vertical
Para além do âmbito do Plano Global, há países que também estão a fazer progressos para a EMTCT. Por
exemplo, Cuba e o Panamá,
35Tailândia
36e alguns países da Europa do leste, como a Arménia, Bielorrússia,
Geórgia, Cazaquistão e a República da Moldávia
37, reportam uma aproximação de 2% das taxas de
trans-missão. As iniciativas regionais estão a impulsionar o momentum – por exemplo, foi elaborado em 2011
38, o
Plano de Acção Europeu para o HIV/SIDA 2012–2015 e existem também, iniciativas para a eliminação de
infecções pediátricas pelo HIV e sífilis congénita na Ásia Oriental e Pacífico e na América Latina e Caribe
39.
Em reconhecimento desta tendência, a OMS estabeleceu critérios e processos de validação dos relatórios
desses países sobre a eliminação de novas infecções pelo HIV entre as crianças. Os países submetem os
relatórios à OMS, e o processo da sua validação é apoiada por entidades regionais e nacionais criadas para
o efeito. Foram estabelecidos critérios e processos para validar os relatórios sobre a eliminação do HIV e da
sífilis congénita
40.
CA
IX
A
Progresso dos países na redução de novas infecções pelo HIV entre crianças dos
0–14 anos nos 21 países africanos prioritários no Plano Global, 2009–2012
FIGURA 1.4
DECLÍNIO RÁPIDO (50% OU MAIS)
DECLÍNIO MODERADO (30–49%)
DECLÍNIO LENTO (MENOS DE 30%)
Gana (76%)
República Unida da Tanzânia (49%)
Camarões (29%)
Namíbia (58%)
África do Sul (46%)
Costa do Marfim (27%)
Zimbabwe (55%)
Moçambique (45%)
Lesoto (17%)
Malawi (52%)
Uganda (45%)
República Democrática do Congo (15%)
Botsuana (52%)
Quénia (44%)
Nigéria (10%)
Zâmbia (50%)
Suazilândia (38%)
Chade (9%)
Etiópia (50%)
Burundi (31%)
Angola (9% increase)
Fonte: Actualização do UNICEF para uma tabela publicada no Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/SIDA, Relatório Global: Relatório da ONUSIDA sobre a epidemia global do SIDA, 2013, ONUSIDA, Genebra, 2013, p.9.
crianças ao TARV de 14% comparado com os 20% para
os adultos no mesmo período
42. Em países de baixa e
média renda a cobertura global do TARV para as crianças
menores de 15 anos tem sido consistentemente a metade
da cobertura em adultos – 34% contra 64% para adultos
em 2012 (veja a Figura 1.5)
43.
A região da ECL/CEI apresenta a maior cobertura de
TARV para crianças menores de 15 anos: 85% (80–89%),
seguida da América Latina e o Caribe com 67%
(50–83%). A região da Ásia Oriental e Pacífico reportou
a taxa de cobertura de 53% (41–72%), enquanto o Sul da
Ásia registou uma cobertura de 39% (30–49%). A África
Oriental e Austral, que é a região com maior necessidade,
reportou uma cobertura de 40% (35–46%). As
cober-turas mais baixas foram registadas nas regiões da África
Ocidental e Central, com 15% (13–18%), e do Médio
Oriente e África do Norte, com 7% (4–10%)
44.
A cobertura do TARV para crianças menores de 15 anos
nos 22 países prioritários do plano global aumentou de
29% (500.000 crianças) em 2011 para 34% (560.000
crianças) em 2012, mas o ritmo da expansão nesses
países de baixa e média renda é inferior a dos adultos
45.
Quatro dos países prioritários do plano global tiveram
uma cobertura do TARV superior a 50% em crianças
elegíveis nomeadamente o Botsuana (> 95%), Namíbia
(88%), África do Sul (63%) e a Suazilândia (54%), tendo
a cobertura duplicado nos últimos três anos em outros
nove países
46. Outros países prioritários têm uma
cober-tura muito baixa e, em média, apenas uma em cada três
crianças elegíveis tem acesso à terapia anti-retroviral (veja
a Figura 1.6). É necessário portanto, um enorme esforço
para atingir a meta global de provisão do TARV para todas
as crianças elegíveis até 2015.
Providenciar o TARV pediátrico apresenta uma série de
desafios únicos e complexos. Entre os desafios está a
limitada disponibilidade de combinações de dose fixa,
o paladar pouco agradável das formulações pediátricas
actualmente recomendadas para as crianças, e a
neces-sidade de utilizar testes virológicos para determinar a
infecção pelo HIV em crianças com idade inferior a 18
meses. No entanto, espera-se que, as novas drogas,
como a “polvilha” granular e as novas tecnologias para
a realização de testes virológicos nos locais onde são
providenciados os cuidados, ajudem a superar os desafios
e, facilitem uma melhor absorção e aderência.
O diagnóstico oportuno do HIV em
mulheres grávidas e crianças é fundamental,
mas a cobertura do teste varia muito e as
ligações com o tratamento e os cuidados
ainda são inadequadas
Uma parte significativa das mulheres grávidas e crianças
vivendo com o HIV permanecem sem diagnóstico ou, se
diagnosticadas, não são devidamente integradas nos
cuidados de saúde necessários.
Estima-se que em 2012, 40% das mulheres grávidas em
países de baixa e média renda fizeram os testes e
rece-beram aconselhamento sobre o HIV, o que constitui um
aumento de 26%, comparado com o ano de 2009
47. No
entanto, a cobertura varia consideravelmente entre os
países e regiões.
Quatro dos 22 países prioritários do Plano Global
(Botsuana, Moçambique, África do Sul e Zâmbia)
ultrapas-saram em 2012, os 95% da cobertura na testagem de
mulheres grávidas. Foi registada uma cobertura inferior a
25% em três países nomeadamente o Chade, República
Democrática do Congo e Nigéria
48.
Percentagem de adultos (com mais de 15 anos) e crianças
(0–14 anos) vivendo com HIV que receberam em 2012 a terapia
anti-retroviral em países de baixa e média renda
Fonte: Programa Conjunto da Nações Unidas sobre o HIV/SIDA, Relatório Global: Relatório da ONUSIDA sobre a Epidemia Global do SIDA, 2013. ONUSIDA Genebra, 2013,pp. A87, A84
Adultos (com + de 15 anos)
64%
Crianças (dos 0–14 anos)34%
FIGURA 1.5
Crianças e o SIDA: Sexto Relatório de Balanço,
2013
O diagnóstico infantil precoce
continua baixo
A OMS recomenda que, os bebés expostos ao HIV devem
ser testados nas primeiras 4 a 6 semanas de vida, com
recurso ao teste virológico
49. O TARV deve iniciar-se assim
que, a criança for diagnosticada com o HIV,
indepen-dentemente do seu quadro clínico e imunológico. Alguns
países estão a considerar fazer o teste antes, ou seja,
no momento do nascimento, especialmente em crianças
nascidas de mães que não receberam os cuidados de PTV.
Apesar de se registar o aumento do diagnóstico
infantil precoce (EID) em muitos países, as taxas
gerais de testagem em crianças permanecem baixas.
Estima-se que, em 2012, apenas 39% das crianças
em países de baixa e média renda tiveram acesso
ao teste de HIV recomendados, isto é, nos primeiros
dois meses após o nacimento. (Ver Figura 1.7)
50.
De todas as regiões, a ECL/CEI foi a que apresentou
maior cobertura do EID com 72% (embora a faixa de
dúvida em torno das estimativas seja ampla: de 49%
para mais de 95%), seguida pela África Oriental e
Austral com 51% (45–57%), a América Latina e o
Caribe com 42% (27–57%) e a Ásia Oriental e o
Pacífico com 30% (20–45%). Estima-se que, na África
Ocidental e Central, o EID seja de 9% (8–11%). No
Sul da Ásia a cobertura é de apenas 2% (1–3%)
51.
Entre os 22 países prioritários do plano global, apenas
dois providenciaram em 2012 o EID em mais de 80%
das crianças necessitadas nomeadamente a África do
Sul (85%) e a Suazilândia (81%). A seguir a estes países
encontram-se a Namíbia (74%), Lesoto (69%)
52e a Zâmbia
(61%). A cobertura do EID é inferior a 10% em cinco dos
países prioritários: Angola, Chade, República Democrática
do Congo, Malawi e Nigéria
53. Nos países de baixa e
média renda a grande maioria das crianças
diagnosti-cadas com o HIV em 2012, não iniciaram o TARV em
tempo oportuno. Apenas 34% das crianças menores de
15 anos diagnosticadas com HIV receberam o tratamento.
Como resultado estima-se que, nesse ano tenham morrido
210.000 (190,000–250,000) crianças como resultado de
doenças relacionadas com o SIDA
54.
Os modelos actuais de prestação de serviços dependem
muito da provisão do tratamento do HIV pediátrico em
clínicas especializadas em HIV pediátrico ou em clínicas
de HIV para adultos. Deve-se considerar o revezamento e
Percentagem da cobertura do TARV entre os adultos elegíveis
(+ de 15 anos), crianças (0–14 anos) e de todas as idades nos
22 países prioritários do Plano global de 2012
FIGURA 1.6
Nota: Alguns números não somam devido ao arredondamento. A estimativa da cobertura é baseada no número não arredondado e da estimativa de crianças que recebem e elegíveis para o TARV. Fonte: ONUSIDA, UNICEF e OMS, Relatório de Progresso da Resposta Global contra o SIDA, 2013.
Adultos (+ de 15 anos) Crianças (0–14 anos) Todas as idades
Botsuana Namíbia Suazilândia Zâmbia Zimbabwe África do Sul Quénia Malawi Uganda República Unida da Tanzânia Etiópia Burundi Gana Lesoto Índia Costa do Marfim Camarões Moçambique Angola Chade República Democrática do Congo Nigéria Total de Países Prioritários
>95
<95
91
88
87
54
86
38
85
45
81
63
81
38
76
36
70
33
68
26
68
24
67
21
62
25
59
25
56
40
55
16
49
15
48
15
48
27
43
29
38
9
36
12
67
34
100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%O diagnóstico presuntivo no Lesoto
Em locais onde o diagnóstico infantil precoce é fraco, as doenças graves podem progredir rapidamente em
crianças vivendo com o HIV. O diagnóstico presuntivo permite que, os profissionais de saúde ofereçam
imedia-tamente o TARV às crianças que apresentem sinais de doenças relacionadas com o HIV. Em algumas áreas no
Lesoto, por exemplo, com um terreno de difícil acesso, a obtenção dos resultados dos testes de HIV leva muito
tempo, com a agravante de, não ser fácil manter as reservas dos kits de teste. A entrega dos resultados dos testes
de HIV das crianças, pode levar entre 6 a 12 semanas, retardando assim, o início do tratamento e
consequen-temente o início tardio do tratamento para salvar a vida das crianças que necessitam. O diagnóstico presuntivo
elimina esse constrangimento por depender de uma avaliação imediata, ao invés da dependência dos resultados
dos testes de laboratório, como base para o início do TARV.
Em 2010, a Fundação Elizabeth Glaser para o SIDA Pediátrico (
EGPAF
) apoiou o Ministério da Saúde do Lesoto
no treinamento em diagnóstico presuntivo de enfermeiras dos serviços de saúde materno infantil em três hospitais.
Entre Janeiro de 2010 a Dezembro de 2011, as enfermeiras especialmente treinadas nesta área diagnosticaram
48 crianças com doenças severas devido ao HIV e iniciaram prontamente o TARV. Destas 48 crianças, 43
fizeram o teste de HIV, das quais 42 obtiveram resultado positivo e apenas uma obteve o resultado negativo.
A EGPAF pretende treinar mais profissionais de saúde nos critérios da OMS sobre o diagnóstico presuntivo. Foi
feita uma recomendação para a expansão desta iniciativa no Lesoto, enquanto se intensificam os esforços para
melhorar os sistemas de rotina para a EID.
IN
IC
IA
TI
VA
S
Percentagem estimada de crianças nascidas de mulheres que vivendo com o HIV, que fizeram o teste virológico aos 2 meses de idade, por região
do UNICEF. Todos os países de baixa e média renda e os 22 países prioritários do Plano Global, 2010–2012
FIGURA 1.7
100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%Nota: As linhas verticais indicam a dúvida em torno das estimativas.
Fonte: ONUSIDA, UNICEF, OMS, Relatório de Progresso da Resposta contra a SIDA, 2013 e estimativas de HIV e SIDA da ONUSIDA, 2012.
África Oriental
e Austral África e Médio Norte de Oriente África Central
e Ocidental Ásia Oriental e Pacífico América Latina e Caribe
Sul da Ásia ECL/CEI 22 países
prioritários do Plano Global Todos os países de baixa e média renda
2010
2011
2012
Crianças e o SIDA: Sexto Relatório de Balanço,
2013
a partilha de tarefas com outros profissionais de saúde ao
invés de se depender apenas dos médicos – para facilitar
o atendimento em níveis descentralizados, inclusive através
de serviços baseados na comunidade, deve ser priorizada
a melhoria do acesso
55.
É necessária uma atenção especial para
assegurar que, as mulheres tenham acesso
aos anti-retrovirais e se mantenham nos
cuidados de saúde durante o período de
amamentação
A amamentação é fundamental para a sobrevivência e
o crescimento da criança. A OMS recomenda que, as
mães vivendo com o HIV e que tomam os anti-retrovirais
amamentem exclusivamente os seus bebés durante os
primeiros seis meses de vida. Depois deste período, podem
proceder à introdução de alimentos complementares em
simultâneo com a amamentação até que, a criança atinja
os 12 meses de idade. A amamentação deve então parar
apenas quando estiver garantida uma dieta segura e
nutricionalmente adequada, sem o leite materno. Os filhos
de mães que estão sob o tratamento anti-retroviral devem
receber a profilaxia infantil com uma dose diária
nevi-rapina durante 6 a 12 semanas. Existem alternativas para
as mulheres vivendo com HIV e que não amamentam
56.
Embora os dados sobre a cobertura de ARV durante o
período de amamentação sejam limitados a nível mundial
estima-se que, em 2012, quase a metade das mães nos 21
países prioritários do Plano Global em África não
rece-beram ARVs durante o período de amamentação. Estima-se
que, cerca da metade de todas as novas infecções
ocorridas em crianças na África subsaariana resultaram
da falta de provisão de ARVs
57. É necessária uma atenção
especial em todos os países para garantir o acesso e a
manutenção do TARV para as mães durante o período de
amamentação.
A prevenção primária e o planeamento
familiar necessários para as mulheres
vivendo com o HIV continuam inadequados
A provisão de ARVs tem sido substancial para as mulheres
e mães vivendo com o HIV tanto para prevenir a
trans-missão vertical (identificado no Plano Global como vertente
3 da PTV) como, para o tratamento das mães e crianças
que vivendo com o HIV com o propósito de melhorar a
própria saúde (vertente 4). Entretanto, o progresso na
prevenção primária entre as mulheres e raparigas em
idade fértil (vertente 1) não foi imponente, como também
não foi na redução da necessidade não atendida de
planeamento familiar (vertente 2). Nos países prioritários
do Plano Global em África, o número de mulheres que se
infectaram decresceu 10% entre 2009 e 2012. O Gana
reportou o maior declínio, com 44% nesse período, tendo
a África do Sul reportado um declínio de 21%
58. Esta
tendência evidencia a necessidade de inovação no
acom-panhamento das mulheres grávidas que testam negativo
em HIV na sua primeira consulta pré-natal e evidencia
também, a importância de uma prevenção primária mais
ampla (fora do cuidados pré-natais), para as mulheres e
raparigas de modo a permitir alcançar o objectivo de uma
geração livre do SIDA.
A necessidade não atendida dos serviços de planeamento
familiar entre as mulheres vivendo com o HIV, continua a
minar os esforços para eliminar novas infecções entre as
CA
IX
A
850
mil novas infecções pelo
HIV entre crianças (0–14 anos), foram
prevenidas entre 2005 e 2012, em
países de baixa e média renda.
O progresso na redução de novas infecções pelo HIV entre as crianças tem sido mais rápido do que
nunca. Mas para se atingir a meta de 2015, tem que se acelerar ainda mais o ritmo do progresso.
39%
é o número estimado de crianças
(0–14 anos) que tiveram acesso ao teste de HIV
dentro do recomendado, ou seja, nos primeiros
2 meses após o nascimento, nos países de
baixa e média renda e apenas em 2012.
crianças
59. Para as mulheres em países de baixa e média
renda, a necessidade não atendida do planeamento
familiar diminuiu ligeiramente, passando de 15% em
1990, para apenas 12% em 2010
60. A ONUSIDA reporta
que, na África Ocidental e Oriental, a necessidade não
atendida de serviços de planeamento familiar para mais
de 20% das mulheres não se alterou entre 1990 e 2010
61.
Isto significa que, mais de uma em cada cinco mulheres
que se encontram em relacionamentos estáveis e que
expressam a vontade de atrasar uma gravidez ou parar de
ter filhos não usa nenhum anticonceptivo.
O compromisso renovado e os recursos para o
planea-mento familiar por parte da comunidade global,
nomeadamente através da
Iniciativa de Planeamento
Familiar 2020
são bem-vindos
62. O planeamento familiar
para as mulheres vivendo com o HIV deve ser voluntário e
não coercivo. Os rumores de esterilização forçada e outras
tentativas de coerção para evitar que, as mulheres que
vivendo com o HIV tenham filhos ressaltam a importância
de uma abordagem baseada nos direitos humanos,
inclu-sive para os serviços de planeamento familiar
63.
NOVOS PARADIGMAS,
OPORTUNIDADES E INOVAÇÕES
As directrizes da OMS de 2013
64sobre os ARVs
oferecem oportunidades importantes para simplificar
e intensificar as intervenções para as crianças e as
suas mães. Estas directrizes incluem recomendações
em seis áreas que são as seguintes:
•
Oferecer o TARV para todas as mulheres grávidas
e lactantes vivendo com o HIV, independentemente
da contagem de CD4,
para proteger a sua própria
saúde, proteger os seus bebés e a saúde dos
parceiros sexuais do HIV. Esta abordagem enfatiza
a importância de as mulheres grávidas e lactantes
vivendo com o HIV, iniciarem o tratamento o mais
rapidamente possível. A abordagem também reduz
o risco de transmissão do HIV durante o período
de amamentação, desde que, as mães continuem
a tomar os anti-retrovirais. Simplificar o TARV para
mulheres grávidas e lactantes, através de uma
combinação padronizada de um comprimido diário
da dose fixa de três ARVs, deve também facilitar uma
maior descentralização e a inte-gração dos serviços
de HIV ao nível de cuidados primários, incluindo nos
serviços de saúde materna e infantil.
•
Harmonizar os regimes de medicamentos ARVs para
as mulheres grávidas e lactantes, adultos e
adoles-centes vivendo com o HIV:
As directrizes anteriores
da OMS recomendavam regimes diferentes de ARVs
para os adultos, PTV e tratamento. As directrizes da
OMS de 2013 sobre os ARVs recomendam como
terapia de primeira linha, o mesmo para todos os
adultos e adolescentes ou seja, uma dose fixa, de um
único comprimido da terapia tripla de drogas. Esta
abordagem irá simplificar a provisão do TARV, tanto
para o tratamento como para a prevenção, e vai
permitir que, as mulheres grávidas vivendo com o HIV
continuem o mesmo regime aquando do tratamento
para melhorar a sua própria saúde. A experiência do
Malawi sugere que, o regime simplificado é mais fácil
de ser aceite e melhora a aderência para além de
alinhar com os serviços de PTV, promo-vendo o acesso
desses serviços nas instalações
260,000
novas
infecções pelo HIV entre crianças
(0–14 anos), ocorreram em países
de baixa e média renda em 2012.
Apenas
34%
das
crianças (0–14 anos)
recebeu o TARV necessário
para salvar a vida contra os
64%
entre os adultos.
Sem o tratamento,
um terço
das crianças que vivendo com o HIV morrerá
antes do seu primeiro ano de vida e a metade morrerá antes do segundo ano.
Em 2012,
62%
das mulheres
grávidas vivendo com o HIV nos 22 países
prioritários do plano global recebeu ARVs
para prevenir a transmissão vertical.
Crianças e o SIDA: Sexto Relatório de Balanço,
2013