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Tres Pesquisas Pioneiras. (as teses universitarias. de Alice Piffer Canabrava)

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Tres Pesquisas Pioneiras O/ em Historia Economica

(as teses universitarias de Alice Piffer Canabrava)

ZELIA MARIA CARDOSO DE MELLO FLAVIO AZEVEDO MARQUES DE SAES

NELSON HIDEIKI NOZOE

A sensi'vel expansao da atividade de pesquisa na Universidade brasileira na ulti- ma decada tornou evidente que uma redu- zida parcela do que e produzido encontra meios adequados de divulgagao (seja por meio da propria Universidade, seja por meio da industria editorial). Nao raramen- te, encontramos teses universitarias publi- cadas muitos anos apos sua conclusao a comprometer, por vezes, a propria atuali- dade do trabalho. Nao e raro tambem deparar com teses que se transformam em referencias obrigatorias aos estudos do te- ma antes mesmo de passarem da forma mimeografada para a de livro.

As tres obras a que nos referimos neste artigo-resenha sao exemplos notaveis do caminho reservado a tantos trabalhos apresentados na Universidade. Trata-se do conjunto das teses defendidas pela Prof.a Alice Piffer Canabrava em sua carreira universitaria. Os textos originais de 1944, 1946 e 1951 so recentemente — em 1981 e 1984 — foram editados em livros, sendo agora acessi'veis ao grande publico. Apesar

disso, estas teses ganharam a condigao de textos classicos de Historia Economica cu- ja consulta, obrigatoria para tantos pesqui- sadores, demandava o esforgo de localiza- gao de uma das raras copias do texto original. 0 leitor familiarizado com a His- toria Economica reconhecera, de imedia- to, os tftulos das teses da Prof.3 Alice P.

Canabrava e se lembrara das inumeras re- ferencias que delas encontrou em estudos mais recentes.

O Comercio Portugues no Rio da Prata. 1580-1640 (Sao Paulo, FFCL/USP, 1944) e a tese com que a Prof.3 Alice P. Cana-

brava obteve o seu Doutorado em Cien- cias (Historia Economica) na Faculdade de Filosofia, Ciencias e Letras da Universi- dade de Sao Paulo em 1942. Esta obra foi publicada em 1984 (Belo Horizonte, Ita- tiaia, Sao Paulo, EDUSP) com o mesmo ti'tulo.

De 1946 e A Industria de Agucar nas l/has Ingles as e Francesas do Mar das An- ti/has. 1697-1755 (Sao Paulo, 1946) com

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COM EN TAR 10

a qual foi obtido o grau de Livre-Docente junto a mesma Faculdade de Filosofia, Ciencias e Letras da Universidade de Sao Paulo. Como livro, recebeu a designapao Agucar nas Anti/has (1697-1755) (Sao

Paulo, IPE/USP, 1981).

Finalmente, em 1951 a Prof.3 Alice P.

Canabrava conquistou a catedra de Histo- ria Economica Geral e do Brasil da Facul- dade de Ciencias Economicas e Adminis- trativas da Universidade de Sao Paulo. Apresentou a tese O Desenvolvimento da Cultura do Algodao na Provfncia de Sao Paulo 1861-1875, (Sao Paulo, 1951) pu- v ^ blicada agora como O Algodao em Sao Paulo, 1861-1875 (Sao Paulo, T.A. Quei- roz, 1984).

Estes tres estudos de Historia Economi- ca, dedicados a objetos distintos, contem elementos que permitem demonstrar a unidade presente em sua elaboragao. Tal unidade esta expressa, por um lado, nos procedimentos metodologicos que presi- dem a construgao das obras. A mesma unidade reaparece, por outro lado, na preocupagao de observar aspectos do pro- cesso de desenvolvimento de areas depen- dentes. Cremos que a breve resenha do conjunto das teses da Prof.3 Alice P. Ca-

nabrava permita, em seguida, avaliar de modo mais precise a unidade que as per- meia.

O Comercio Portugues no Rio da Pra- ia. 1580-1640 tern por objeto o estudo dos processes de conquista e dominacao comercial luso-brasileira dos mercados si- tuados nos territories espanhois e vice-reino do Peru, entre 1580 e 1640. Os eventos considerados na escolha dos marcos cro- nologicos sao indicados na introdugao do trabalho. No primeiro ano, afora a unifi- cagao das coroas ibericas, verificou-se a segunda fundagao de Buenos Aires, cidade portuaria de onde se deflagrou a penetra- gao luso-brasileira, em diregao as ricas zo- nas de mineragao de metais preciosos, lo- calizadas no Alto-Peru. 1640, ano da res- tauragao de Portugal, assinalou a decaden- cia do comercio da regiao do Prata, ten-

dencia denunciada desde a instituigao da alfandega de Cordoba, em 1623.

A complexidade do desenvolvimento dos processos em tela — em cujo curso intervieram elementos referidos a diferen- tes conjunturas — requereu da auto apu- rada habilidade no tratamento de ampla e longa serie de informagoes. Obtidos a par- tir de pesquisa direta em grande quantida- de de documentos em Imgua espanhola — impresses na Argentina e na Espanha —, os dados foram submetidos a acurado exa- me. O resultado — distribufdo em dezes- seis capftulos — e a analise do objeto sob multiplas perspectivas, de modo a permitir apreend§-lo nos contextos sdcioeconomi- co e poh'tico-cultural do pen'odo. Re- digidos com sbbria elegancia, os capftu- los apresentam-se, majoritariamente, com- postos de dois ou tres itens, estrutura que permite a autora revelar os acontecimen- tos crfticos de cada momento e, em segui- da, interpreta-los. Por sua vez, o arranjo dos capftulos em tres partes permite o acompanhamento das etapas do comercio clandestine, meio pelo qual a prata de

Potosi fluiu para o Brasil.

O primeiro capftulo trata da simplici- dade da vida economica na regiao platina, antes da segunda fundagao de Buenos Ai- res. Com o feito, inaugurava-se uma rota que percorria vasta area meridional do continente sul-americano situada entre o Atlantic© e os Andes, abrangida pelas Provfncias do Rio da Prata e de Tucuman. Distinguidos pela baixa densidade econo- mica — caracterfstico da colonizagao inci- piente —, seus territorios acolhiam poucos agrupamentos de populagao europeia, constitufdos, em sua maior parte, para dar combate ao fndio e, nesta medida, garan- tir a continuidade da busca de um novo caminho. Separados por imensos vazios de elementos brancos, os nucleos populacio- nais europeus, embora tivessem enseja- do o aparecimento de algumas atividades rurais e certas industrias dom^sticas, ca- racterizavam-se pela quase total ausen- cia de circulagao monetciria, com o te- cido de algodao, o trigo, o ferro e o ago 170 Estudos Econdmicos. Sao Paulo. 15IW.0 Esnacialhlsa-lfiT^ 1935

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COM EN TAR 10 desempenhando, por vezes, a fungao de

moeda. A eles contrapunham-se as cidades localizadas nas proximidades das zonas de extragao da prata, as quais mantinham flo- rescente ativldade urbana e alto poder aquisitivo. Dentre estas, sobressai'a Potosi, cidade que, no seculo XVM, detinha a posipao de maior concentrapao populacio- nal do hemisf^rio ocidental, primazia na qual se equilibrava com a cidade do Mexi- co. Construi'da em montanha esteril, cuja altitude superava 6.000 metros, a vida urba- na de Potosi dependia da importapao de ge- neros cultivados na circunvizinhanpa, mor- memente nos vales umidos da faixa oriental da pre-cordilheira andina. Aprovisionar seu opulento e numeroso mercado consti- tui'a o atrativo das localidades desprovidas de jazidas de metais preciosos. Nesta me- dida, a segunda fundapao de Buenos Aires — determinada pela necessidade de encur- tar a rota de comunicapao entre a zona de mineragao e a Metropole — poderia ter conferido a seus habitantes urn papel pri- vilegiado, em vista de sua excepcional si- tuagao geografica, como porta do Atlanti- co para a vasta regiao interiorana. Entre- tanto, dado o objetivo de proteger os in- teresses economicos anteriormente assen- tados no Peru, a Coroa Espanhola procu- rou atar o abastecimento do mercado da nova cidade portuaria a via tradicional do Paci'fico.

A rota oficial do comercio do vice-rei- no do Peru e o tema do segundo capi'tulo. Em face da extensao percorrida, da diver- sidade de meios de transporte e das altas taxas alfandegarias, as mercadorias que- circulavam por esta via de trafego atin- giam cifras muito elevadas, inacessi'veis aos consumidores das provmcias que nao dispunham de riquezas minerais. A seus habitantes o acesso direto ao Atlantic© poderia redundar na superapao da depen- dencia economica em relagao aos comer- ciantes monopolistas de Lima, circunstan- cias que os mantinha numa extrema ca- rencia de generos europeus.

0 terceiro capi'tulo, que completa a

parte do livro dedicada ao estudo dos antecedentes historicos do contrabando luso-brasileiro, mostra as causas do ma- logro das tentativas anteriores destinadas ao estabelecimento de um caminho direto entre a regiao da Prata e o Peru.

Ao comercio luso-brasileiro h'cito e de contrabando no vice-reino do Peru, entre 1602 e 1623, e votada a segunda parte do livro, composta de oito capi'tulos. Apos observar a constancia dos reclamos da ad- ministrapao buenairense contra a direpao das correntes legais de comercio e a repe- tipao dos pedidos pelo direito de trafego com o Exterior, a autora empreende mi- nucioso exame das permissoes de comer- cio. A primeira licenpa ocorreu em 1602, com validade limitada para apenas seis anos. Como outras lavradas posteriormen- te, esta surgiu fadada ao fracasso, pois ten- tava dar origem a um sistema comercial fic- ti'cio, sem base nas realidades locais. Ao ex- cluir o couro como materia de exportagao, nao considerava justamente o genero que se tornava abundante na regiao. Ao omitir o trafego de escravos, nao reconhecia um dos ramos mais lucrativos de comercio. Do mesmo modo, ao obrigar que a expor- tapao fosse feita em navios pertencentes a vecinos da cidade, ignorava o fato de que os moradores locais ainda dispunham de capitais suficientes para adquiri-los. Por fim, ao restringir a area beneficiada pela corrente de importagao as Provmcias do Rio da Prata — mediante a proibigao ex- ph'cita da extensao deste privilegio a quaisquer outras unidades do vice-reino —, acabou por ampliar a zona de influencia do porto de Buenos Aires ate as regioes mineiras do Alto-Peru, consequencia do pequeno valor dos produtos locais no mercado internacional. Em suma, por pro- moverem concessoes muito estreitas, em meio a numerosas restrigoes, muitas das quais inexequi'veis, as permissoes de co- mercio estabeleceram, na pratica, um sis- tema de fraude constante as clausulas le- gais de comercio. Ao limitarem a abran- gencia da nopao de comercio h'cito, acaba- ram por ampliar o conceit© de contraban- Estudos Econdm icos, Sao Paulo, 15(N.0 Especial):169-179, 1985 171

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COMENTARIO

do, alternatlva que se firma como via de suprimento do mercado potosino e de ex-

portapao da prata.

0 porto de Buenos Aires tornou-se, sob a vigilancia complacente das autorida- des de Tucuman, o ponto de entrada de levas crescentes de escravos, sobretudo na proponpao do agravamento da escassez de mao-de-obra nas jazidas argentfferas. Tra- zidos do Brasil ou diretamente da Africa, os negros rumavam juntamente com as ma- nufaturas importadas, para Potosi; prapa donde provinha a prata que alimentava a atividade do porto platense. Da Audiencia de Charcas, orgao marcado pela presenpa de interesses da burguesia de Lima, partiram sistematicas medidas repressoras ao comer- cio fraudolento. Consubstanciadas em uma serie de clausulas restritivas, repetidamente aditadas, destinavam-se, em ultima instancia, a defesa do monopblio da rota oficial Anti- Ihas-Pacffico, cujo volume transacionado reduzia-se a cada ano. Em face da impres- cindibilidade da colaborapao das cidades interioranas das Provmcias de Tucuman, cujos interesses economicos ligavam-se a rota comercial do Atlantico, o combate ao contrabando estava condenado ao fra- casso. Ademais, os contrabandistas com- punham uma organizapao complexa, da qual participavam funcionarios reais de pra- ticamente todas as repartipoes do vice-reino do Peru.

Constitui'da de tres capi'tulos, a terceira parte do livro trata da decadencia do co- mercio no rio da Prata. No primeiro, a autora demonstra que a fundapao da al- fandega de Cordoba revelou-se incapaz de destruir completamente o comercio do porto. As mercadorias de contrabando, em especial os escravos, continuaram a penetrar na regiao do Alto-Peru. A crise que atingiu o comercio rio-platense apos 1623 — analisado em capftulo subseqiien- te — resultou da interapao de um conjun- to de fatores. A mudanca das condipoes de navegapao no Atlantico Meridional — acarretada pela intervenpao da marinha holandesa — ocasionou o corte das linhas

de ligapao entre Buenos Aires e as regioes fornecedoras da Africa, Europa e Brasil. Concomitantemente, verificou-se um arre- fecimento no ritmo produtivo de Potosi, possivelmente em decorrencia da falta de trabalhadores, resultado do fechamento da via africana de suprimento de escravos. 0 espfrito de prevenpao contra os Portugue- ses — aparente desde a instalapao do San- to Ofi'cio em Lima — intensificou-se de- pois da restaurapao de Portugal. A partir de 1642, em cumprimento as cedulas reais emitidas no ano anterior, tiveram im'cio as represalias contra a populapao na Provm- cia do Rio da Prata.

Os efeitos da decadencia do trafego na regiao platina sao vistos no ultimo capftu- lo. Nos meados do seculo XVII, Buenos Aires, anteriormente concentrada no co- mercio marftimo de generos demandados pela zona de mineracao, apresenta novo direcionamento. Sua economia centraliza-se na explorapao de produtos regionais, prin- cipalmente o comercio de couros e mulas, atividade empreendida nos dois seculos posteriores. Nao obstante a pouca eficacia das intransigentes medidas de defesa dos interesses do comercio limenho, promovi- da pela Audiencia de Charcas, seus desdo- bramentos fizeram-se sentir durante longo perfodo. Ao suscitar o aparecimento de uma consciencia separatista em relapao a Lima, lanpou as bases da divisao concreti- zada em 1777, com a formapao do vice- reino de La Plata.

O Agucar nas An til has. (1697-1755) constituiu-se de minuciosa analise da pro- dupao apucareira nas ilhas do Caribe. A in- trodupao e crescimento desta produpao nas Antilhas a partir do fim do seculo XVII, alem de influir sobre a economia bra- sileira, uma vez que significou a per- da do monopolio do produto, modi- ficou o rumo do desenvolvimento da- quela regiao. Como bem coloca a autora no Prefacio em que explica a escolha do objeto, ha varias semelhanpas e diferenpas entre as duas areas nos varies aspectos da vida social, polftica e economica que pre- 172 Estudos Economicos, Sao Paulo, 15(N.0 Especial).*169-179, 1985

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COM EN TAR 10 cisam ser melhor estudados, derivadas do

fato de tais regioes terem produzido o apucar, confundindo-se, portanto, a histo- ria do produto e das regioes produtoras. Esclarecer a historia do produto ajuda, pois, a esclarecer a historia da regiao pro- dutora.

A maneira escolhida para desvendar o objeto e esmiupa-lo, disseca-lo, como faz um medico ao estudar o corpo, analisando todas as suas partes componentes. Com informes colhidos majoritariamente em fontes primarias, manuscritas e impressas, a autora ao longo dos 10 capi'tulos do livro cumpre com extreme rigor esta tare- fa. A particularizapao e circunscripao do objeto para seu perfeito estudo e feita, entretanto, tendo-se presente, desde a In- trodugao, que a ocupapao das Antilhas pela Inglaterra e a Franga efetuou-se den- tro das "malhas do sistema mercantilista" e o desenvolvimento das colonias mantem estreita relagao com o cenario europeu, segundo as normas do sistema colonial.

A primeira parte do livro — anteceden- tes historicos — mostra como o agucar chegou as Antilhas, em que pen'odo, quais as dificuldades que obstavam seu pleno desenvolvimento, e, finalmente, como isto foi superado com a presenga de elementos procedentes do Brasil — holandeses e ju- deus Portugueses apos a expulsao dos ba- tavos do Brasil, como o demonstram far- tamente as fontes consultadas.

A segunda parte trata da produgao agu- careira e, no segundo capi'tulo, o exame das condigoes geograficas das Antilhas - seu relevo, sua conformagao, clima e solo - revela suas caracten'sticas basicas, a ins- tabilidade, pois sujeita a erupgoes vulcani- cas e tremores de terra e a extrema frag- mentagao: a maior das ilhas das Grandes Antilhas tern superfi'cie comparavel aos pequenos estados brasileiros e nas Peque- nas Antilhas a area territorial e sempre inferior a 800 km2. Mostra-se que o agu- car gerado, dada a composigao do solo, bem como seu rendimento, difere do pro-

duzido no Brasil, e apresentou maiores dificuldades ao colonizador o que repre- sentou, nas palavras da autora, um marco na historia da conquista do solo. Ao mes- mo tempo, a pobreza do solo e o estado de depauperamento da terra levaram a mobilidade demografica, tendo como con- seqiiencia uma populagao estavel ou em declmio.

O capi'tulo 3, dedicado a lavoura cana- vieira, mostra como as culturas pioneiras — fumo, anil, cafe, cacau, algodao — servi- ram para sedimentar uma classe de peque- nos agricultores, uma vez que nao reque- riam recursos substanciais para sua produ- gao.

A analise do processo de plantagao de agucar, por outro lado, mostra qual a mao-de-obra requerida, dado o estado da tecnica de cultivo da cana-de-agucar. Estes elementos juntam-se para revelar como se deu a repartigao da propriedade e divisao de trabalho resultante ao final do seculo XVII; paralelamente a grande propriedade, escravista e monocultora dedicada a pro- dugao de agucar existiu a pequena pro- priedade, constitui'da por homens livres criando animais e produzindo fumo, anil ou algodao, alem de culturas de subsisten- cia.

Ainda nesta parte incluem-se os capi'tu- los referentes ao equipamento dos enge- nhos, a tecnica de prepare do agucar e a mao-de-obra. 0 estudo minucioso do en- genho e da tecnica entao existentes con- tribui para a compreensao das caracten'sti- cas antes referidas: o consideravel desper- di'cio de materia-prima faz com que a manufatura so possa se manter desde que assentada sobre consideravel base agraria e mao-de-obra escrava.

Alem disso, a expansao da lavoura em moldes extensivos, ao mesmo tempo que concorria para a divisao do trabalho antes referida, encontrava limites ditados pelo custo dos transportes, elevados em uma regiao muito pouco favoravel ao desenvol- Estudos Econdmicos, Sao Paulo, 15(N.0 Especial):169-179, 1985 173

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COM EN TAR 10

vimento das comunicapoes, como e mos- trado no capi'tulo 7.

0 ultimo capi'tulo, que trata do finan- ciamento da manufatura agucareira, revela diferengas entre colonias francesas e ingle- sas: no primeiro caso, o capital surgiu internamente, empregando-se a acumula- gao na produgao do agucar, enquanto nes- te o capital foi enviado da Inglaterra. Esta diversidade deriva nao so do tipo de de- senvolvimento das colonias, das condigoes metropolitanas, mas tambem das diferen- tes epocas em que se realizou a expansao dos estabelecimento coloniais.

A ultima parte do livro trata da con- quista de mercados, com dois capi'tulos, urn referente as diferengas de pregos e outro a conquista de mercados propria- mente dita: neste, demonstra-se que ate o final do sec. XVII o comercio do agucar na Europa era de responsabilidade de Por- tugal e Espanha. A partir dai', a elevagao dos impostos sobre o agucar de outras procedencias que nao o de suas colonias faz com que o agucar do Brasil perca lugar no mercado. O capi'tulo mostra tam- bem o intense comercio clandestine que se estabeleceu dentro da Antilhas e entre estas e as colonias da Nova Inglaterra.

Como dissemos anteriormente, a autora alerta para o fato de que as diferengas e semelhangas entre a produgao do agucar no Brasil e nas Antilhas precisam ser me- Ihor estudadas. Ao encerrar a leitura e evidente que este trabalho muito contri- buiu para este objetivo, ademais de permi- tir entender a historia das duas regioes. As especificidades ficam claras, e uma delas, o absentei'smo, presente nas Antilhas e nao no Brasil, explica algo da formagao industrial nas duas regioes. Enquanto no Brasil vai-se formando uma classe de pro- prietaries que permite, ao fim do pen'odo colonial, a anteriorizagao do process© de valorizagao do capital e o aparecimen- to de homens com marcada expressao na vida publica e social, que aparecerao co- mo dirigentes de empreendimentos priva-

dos, o process© nas Antilhas e diferente: nas palavras da autora, o absentei'smo im- pediu conquistas de natureza social e poh'- tica, de interesse para a coletividade.

0 Algodao em Sao Paulo. 1861-1875 revela o process© de desenvolvimento da cultura do algodao na Provi'ncia de Sao Paulo como reflexo dos problemas de mercado gerados pelos eventos da Guerra de Secessao na America do Norte. A pes- quisa explorou, como fontes primarias, principalmente a correspondencia dos Conselhos Municipals com o Presidente da Provi'ncia e as noti'cias publicadas em jor- nais da epoca. Tal documentagao permitiu a autora reconstituir as tendencias mais gerais da expansao e da decadencia do algodao em Sao Paulo e, ao mesmo tem- po, reviver aspectos expressivos de vida e de luta quotidiana dos produtores diante do desafio representado pela nova produ- gao.

A conjuntura do mercado internacional permanece como pano de fundo para to- do o pen'odo do estudo. 0 esti'mulo ini- cial ao desenvolvimento da produgao e dado pela interrupgao das exportagoes do sul dos Estados Unidos para a Europa, em especial para a Inglaterra. A elevagao dos pregos da mercadoria por si nao era, no entanto, suficiente para promover o esta- belecimento de plantagoes de algodao.

A Primeira Parte da obra e, pois, dedi- cada ao estudo dos Fa tores do Desenvolvi- mento da Cultura A/godoeira em Sao Pau- lo. A influencia inglesa mostrou-se decisi- va nao so pelo interesse em adquirir a eventual produgao, mas principalmente pelo envio a Sao Paulo de sementes e de maquinas para beneficiamento que permi- tiram as primeiras experiencias com o al- godoeiro. 0 Govern© Central e o Provin- cial, embora manifestassem desejo de esti- mular o desenvolvimento das plantagoes, viram suas agoes limitadas pela natureza burocratica dos orgaos da administragao e pela ausencia de institutes dedicados a pesquisa e a difusao das tecnicas agn'colas. 174 Estudos Econ&micos, Sao Paulo, 15(N.0 Especial):!69-179, 1985

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COME NT A RIO Uma experiencia realizada com o patrocf-

nio do Governo da Provmcla de Sao Pau- lo—a fazenda experimental de Carlos llidro da Silva, em Itu — acabou fracas- sando, em parte pelo atraso na entrega das verbas prometidas pelo poder publico.

A Segunda Parte do livro trata da Ex- pansao da Cu/tura A/godoeira na Provm- cla de Sao Paulo. Ensaios com o cultivo do algodao puderam ser observados em quase toda a area ocupada da Provi'ncia. No entanto, por razoes naturals — como condi<?6es de solo e de clima — e tambem por razoes sociais — a resistencia dos gran- des fazendeiros de cafe diante do algodao a principal area produtora localizou-se em Sorocaba e suas vizinhangas. Predomi- nantemente, a produgao realizou-se em pequenas propriedades, com trabalho fa- miliar associado, por vezes, a alguns traba- Ihadores livres em claro contraste com a grande fazenda de cafe movida pelo trabalho escravo. Nesta segunda parte tambem sao contempladas as limitapoes ao desenvolvimento do algodao, em parti- cular o alto custo e a precariedade dos meios de transporte a epoca.

0 estudo das Condi goes do desenvolvi- mento da Cultura Algodoeira constitui o objeto da terceira parte. A pesquisa em fontes primaries permitiu revelar as difi- culdade encontradas, de im'cio, para a aquisipao de sementes do algodao herba- ceo nao conhecido ate entao no Brasil. A estes problemas somava-se o desconheci- mento das tecnicas de cultivo da planta. Desse modo, os primeiros anos sao mera- mente experimentais; os fracassos se suce- dem conduzindo muitos ate ao abandono das plantapoes. Mas a persistencia de ou- tros tantos plantadores garantiu a supera- pao dos obices enfrentados nas tentativas iniciais. Questoes como a epoca do plan- tio, profundidade e espapamento das co- vas para as sementes, tratamento e limpe- za do terreno tiveram de ser resolvidos lentamente, pela observapao dos resulta- dos alcanpados e pela correpao dos erros verificados. Foi, portanto, no dia-a-dia dos

produtores que se definiu o conjunto de normas tecnicas que prevaleceram no cul- tivo do algodao em Sao Paulo. Nao deve- mos estranhar, em consequencia, que os metodos predominantes fossem os tradi- cionais com o uso de foice e enxada e a pratica de queimadas.

Tambem as condipoes de beneficiamen- to e enfardamento do algodao sao estuda- das nesta terceira parte. Os processes utili- zados no Brasil para o descaropamento do algodao davam rendimento muito reduzi- do. Neste particular, a solupao foi encon- trada na importapao de maquinas descaro- cadoras que incorporavam as inovapoes re- centes. No entanto, eram comuns queixas dos importadores quanto a falta de cuida- do no beneficiamento com a correspon- dente redupao no prepo pago pela fibra do algodao.

A decadencia da cultura do algodao e tratada na quarta e ultima parte do livro. 0 declmio do prepo internacional da fi- bra, por forpa da retomada das exporta- poes norte-americanas, ja se faz verificar em 1867. Esta queda do prepo foi parcial- mente amortecida pela desvalorizapao da moeda nacional durante a Guerra do Para- guai de modo a prolongar por alguns anos a prosperidade algodoeira em Sao Paulo. Ao longo da decada de setenta, a produ- pao paulista declina pela impossibilidade de competir com a norte-americana.

Ha notaveis esforpos no sentido de re- sistir a decadenca da cultura. Comercian- tes de Sorocaba realizam adiantamentos aos pequenos produtores, procurando manter as plantapoes. O mesmo grupo de comerciantes constitui a Estrada de Ferro Sorocabana que, ao reduzir o custo de transporte, poderia ampliar a margem de resistencia nesta fase de declmio dos pre- pos. Mesmo assim, a produpao algodoeira de Sorocaba nao consegue sobreviver por

longo tempo.

Outra tentativa registrada nesta fase de decadencia se expressa pela instalapao de 175 Estudos Econdmicos, Sao Paulo, 15(N,0 Especial):169-179, 1985

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COMENTARIO

fabricas de tecidos na Provi'ncia. Situadas proximas aos centros produtores da fibra, as fabricas podiam aproveitar a existencia da materia-prima ja na fase de pregos ca- dentes. No penodo que se encerra em 1875, seis estabelecimentos fabris de teci- dos de grande parte foram instalados na Provi'ncia, alguns dos quais tem sua exis- tencia prolongada ate o nosso seculo.

Este capi'tulo da Historia Economica do Brasil — o da cultura do algodao na Provi'ncia de Sao Paulo — encerra elemen- tos presentes em tantas outras atividades agn'colas em nosso Pai's: mercadoria volta- da a exportagao, uso de formas tecnicas tradicionais com baixa produtividade, be- neficiamento precario a prejudicar a possibi- lidade de comercializagao da mercadoria quando a concorrencia de outras napoes se

fortalece. A experiencia do algodao, no entanto, traz a tona talvez pela primeira vez dois novos elementos: o predommio da pequena propriedade sem emprego do trabalho escravo e o surgimento de uma proposta de solugao a crise da agroexpor- tagao por meio da industria a antecipar processo caracten'stico de nosso seculo.

Cremos que ja foram dadas ao leitor indicagoes breves, mas suficientes para si- tuar a natureza das teses universitarias da Prof.a Alice P Canabrava. Julgamos opor- tuno, no entanto, colocar algumas obser- vagoes adicionais.

Em primeiro lugar, lembrarquea Historia Economica — area de concentragao dos tres estudos — era a epoca urn campo ainda pouco explorado. Poden'amos relacionar os livros sobre a Historia Economica do Bra- sil publicados ate 1950, as obras classicas de Roberto Simonsen e de Caio Prado Jr. Dentro da Universidade brasileira, no en- tanto, cremos que a obra da Prof.3 Cana-

brava inaugura uma nova fase de pesquisa em Historia Economica, definida, princi- palmente, por procedimentos metodologi- cos rigorosos. Seria justo lembrar que, a mesma epoca, em Minas Gerais, o Prof. Francisco Iglesias tambem iniciava suas

pesquisas sobre a Historia Economica do Brasil. E compreensi'vel, pois, que a partir de 1950, aproximadamente, a pesquisa da Historia Economica do Brasil na Universi- dade fosse associada imediatamente aos nomes de Alice Canabrava e de Francisco Iglesias, dois historiadores que se vincula- ram as Faculdades de Economia da Uni- versidade de Sao Paulo e de Minas Gerais. Convem notar, ainda, que a Historia Eco- nomica, como ai' definida, mesmo que fi- zesse uso de dados quantitativos, nao po- deria ser identificada com uma Historia Quantitativa. Em particular, o economico

jamais se esgota no quantitative em si.

Esta observagao se torna clara quando tentamos reconstituir a metodologia pre- sente nas tres obras aqui resenhadas. Po- demos identificar, neste piano, a influen- cia dos historiadores franceses ligados a revista Annales. Fernand Braudel, em nota publicada na revista a respeito de O Co- mercio Portugues no Rio da Prata 1580-1640, afirmava: "No tocante a estas regioes deserdadas, no comego de sua ru- de vida 'colonial' uma jovem historiado- ra brasileira, Alice Piffer Canabrava, for- mada e orientada, posso assegurar, pela leitura e conhecimento de nossos ANNA- LES, acaba de escrever urn livro, seu pri- meiro livro. Com satisfagao, posso dizer que se trata de um livro de grande impor- tancia" [ANNALES,^ (2): 547, 1948).

Para explicitar alguns aspectos metodo- logicos fundamentals para a escola dos Annales, tambem presentes na obra de Prof.3 Canabrava, faremos o confronto

com duas outras correntes: a "historia po- sitivista" corrente dominante ate meados de nosso seculo e contra a qual se posicio- nam os historiadores franceses da revista Annales, e a tendencia recente que a falta de melhor nome chamaremos de "historia do economistas" — dentro da Historia Economica de realizar um trabalho essen- cialmente quantitative e fundado na teoria economica dominante.

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COM EN TAR 10 Sinteticamente, a historia "positivista"

poderia ser caracterizada como uma histo- ria puramente "fatual" evenemen- tielle. Este carater brota da propria con- ceppao do processo historico para essa corrente de historiadores: o fato historico (passado) e unico, particular, nao se repe- te. Nao e h'cito, pois, ao historiador re- construir a historia buscando nela elemen- tos de regularidade - procedimento carac- tenstico das disciplinas cienti'ficas. Ao his- toriador so seria possivel "restituir ao pas- sado a incerteza do future": ou seja, re- construindo o passado, o historiador po- deria saber porque, entre varias alternati- vas possi'veis, uma — tao incerta quanto as demais — foi percorrida pela Historia. Es- ta Historia e, em conseqiiencia, a Historia Poh'tica fatual, construi'da pelos homens celebres — e por suas decisoes individuais, por isso mesmo "incertas" — e expressa principalmente pelos eventos diplomaticos e militares.

Com a escola dos Annales — que busca explicitamente a aproximagao da Historia com as Ciencias Sociais — ha claro deslo- camento do objeto de estudo da Historia e, em conseqiiencia, de seus metodos. En- quanto Ciencia Social, a Historia deve buscar no passado regularidades presentes, nao nas apoes individuais dos grandes per- sonagens, mas nas apoes de milhares de homens comuns. 0 fato historico que im- porta para a escola dos Annales sao os chamados fatos de massa: os grandes movimentos de populapao, de mercado- rias, da produpao etc.

Vejamos, entao, algumas implicapoes desta postura geral e que podem ser iden- tificadas nas obras da Prof.3 Alice P. Ca-

nabrava. Urn primeiro aspecto diz respeito a escolha e ao tratamento das fontes. As tres pesquisas tern por base amplo levanta- mento de fontes primarias. Nao apenas as "fontes oficiais" privilegiadas pela histo- ria positivista, mas todo tipo de fonte primaria que possa fornecer informacoes relevantes. Evidentemente, procedimento anterior e o tratamento cn'tico dos docu-

mentos para avaliar a veracidade de suas informapoes. 0 leitor de qualquer das obras da Prof.3 Canabrava teve, certamen-

te, sua atenpao atrai'da pelo peso do uso de fontes primarias na reconstituipao his- torica: generalizapoes infundadas jamais sao permitidas; quando as fontes indica- vam varias alternativas possi'veis, cumpre avalia-las lanpando mao de outros docu- mentos e, se ao final uma conclusao defi- nitive e impossi'vel, cabe deixar a ques- tao em sespense.

Outro elemento marcante no piano me- todologico e a considerapao minuciosa dos fatores geograficos pertinentes a cada si- tuapao historica estudada. Nao se trata apenas de desenhar o quadro geografico em que se passam os eventos economicos, objeto da pesquisa. Trata-se, isto sim, de reconhecer a permanencia dos elementos geograficos, especialmente no sentido de que as condipoes naturais possam repre- sentar obstaculos importantes, por vezes insuperaveis, as atividades humanas, dado o maior ou menor grau de controle que o homem alcanpou em relapao a natureza. Estes dois cuidados — com as fontes e com a Geografia — nem sempre tern sido observados na historia dos economistas. E comum, mesmo que nao seja geral, a ela- borapao de series quantitativas com base em fontes heterogeneas e cujas informa- p5es sao claramente conflitivas. Por vezes, estas series servem para conclusoes funda- mentais ou para a estimapao de modelos com os quais se pretende testar uma hipo- tese formulada. Muitas vezes, a pesquisa mais cuidadosa em fontes primarias e o tratamento cn'tico das diversas fontes uti- lizadas poderia superar dificuldades dessa ordem. Os fatores geograficos tambem nao tern sido contemplados por grande parte dos economistas dedicadbs a Histo- ria Economica, a exigir, por vezes, elabo- boradas explicapoes economicas para even- tos condicionados, em grande medida, por condipoes naturais.

A ruptura metodologica da escola dos Estudos Econdmicos, Sao Paulo, 15(N.0 Especial) :169-179, 1985 177

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COM EN TAR 10

Annales com a historia positivista revela outros elementos tambem presentes na obra da autora. A absoluta objetividade dos fatos revelados pela historia positivista cede lugar a hipoteses a serem investiga- das, hipoteses essas que expressam afinal as influencias e as preocupapoes que o historiador absorve de sua propria epoca. Nesse sentido, a historia seria agora subje- tiva, ou seja, cada epoca sera capaz de reconstruir a Historia de acordo com a visao af dominante. Uma consequencia da nova perspectiva e o abandono do "fio cronologico" — o encadeamento dos fatos no tempo — caracten'stico da historia po- sitivista. 0 relate historico, agora, deve ser presidido pela logica da investigapao das hipoteses formuladas. As obras em foco sao exemplos m'tidos desta orientapao. Embora jamais se perca a dimensao histo- rica dos eventos estudados — ou seja, de eventos situados no tempo e no espaco — o tempo nunca e invocado como elemen- to explicative: um fato nao explica outro que o sucede no tempo por sua condipao de antecedencia. Por isso mesmo, a expo- sipao nao pode respeitar a sequencia cro- nologica dos fatos. Estes devem ser articu- lados logicamente tendo em vista a discus- sao das hipoteses que orientam a pesquisa. Do mesmo modo, acreditamos que os temas das obras e o tratamento dado ao objetos de estudo refletem preocupapoes caracten'sticas do anos quarenta deste se- culo. Sabemos que nestes anos vem a tona a questao do subdesenvolvimento que, no caso brasileiro, se associava as profundas transformapoes subsequentes a crise cafe- eira de 1929. Crise da agroexportapao, crescimento industrial, efeitos da Segunda Grande Guerra sobre a economia brasileira implicavam intensas mudanpas no proprio quotidian© das pessoas. Impunha-se, em ultima analise, a reflexao sobre o que mais tarde se denominou de situapoes de de- pendencia. Inegavelmente, as tres teses da Prof.a Alice P. Canabrava estudam casos concretes de dependencia sob perspectiva que permite revelar a complexidade de tais situapoes. A determinapao externa

nao e suficiente para dar conta das carac- ten'sticas especi'ficas do desenvolvimento de cada uma das areas estudadas. A pes- quisa cuidadosa permite revelar como, nas areas dependentes, podemos encontrar formas de adaptapao as restripoes externas ou mesmo de criapao de novos elementos que escapam a qualquer generalizapao so- bre situapoes de dependencia. O comercio legal no Rio da Prata foi suplantado pelo contrabando, este sim adaptado as necessi- dades e as oportunidades oferecidas na regiao: nas Antilhas, uma classe de senho- res absentei'stas nao se afirma polftica e socialmente, ao passo que no Brasil, em condipoes economicas semelhantes, a clas- se de senhores de engenho garante, apos a Independencia, sua participapao no pro- cess© poh'tico: a decadencia do comercio externo do algodao nao determina o fim de toda a atividade mas permite germinar, mesmo que de forma precaria, a atividade industrial nas proprias areas decadentes. Estes sao tres exemplos, que poderiam ser multiplicados, no sentido de mostrar que os caminhos do desenvolvimento em areas dependentes estao sujeitos a especificida- des que so a pesquisa empmca de cada situapao permite revelar. Mais ainda, so por meio da multiplicapao de estudos de caso poden'amos avanpar rumo a proposi- poes mais gerais a respeito do desenvolvi- mento em tal situapao.

Nao e necessario dizer que a produpao historiografica da Prof.3 Alice P. Canabra-

va foi, apos a conclusao destas tres teses, acrescentada por varios artigos, comunica- coes, conferencias que reafirmam aquela unidade que procuramos evidenciar ao longo deste artigo-resenha. Mais ainda: pa- ra cada obra, uma pesquisa profunda, ri- gorosa, definitiva a assegurar a sua perma- nencia como textos de referencia obriga- torios aos que desejam conhecer a temati- ca.

O Comercio Portugues no Rio da Prata. 1580-1640, O Acucar nas An til has. 1697-1755 e O Algodao em Sao Paulo. 1861 -1875 sao textos que nao enve- 178 Estudos Econdm icos, Sao Paulo, 15(N.0 Especial):!69-179, 1985

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COMENTARIO Ihecem. Trinta ou quarenta anos apos sua de seus fundamentos, e a atualidade, pela elaboragao mantem o vigor, pela solidez relevancia dos temas tratados.

Estudos Econom icos, Sao Paulo, 15(N.0 Especial):169-179, 1985

Referências

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