Pe. Joaquim Falcão Neto

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PADRE JOAQUIM FALCÃO NETO

*24/10/1906 †10/09/1979

Recife, 01 de outubro de 1979.

Caríssimos Irmãos,

A lição da morte se nos repete com o falecimento improviso e fulmíneo do nosso

Pe. Joaquim Falcão Neto

No dia 10 de setembro último, pouco antes das 17 h., enquanto recitava o terço no corredor da enfermaria do nosso colégio, como costumava fazer todos os dias, o Pe. Falcão teve um colapso cardíaco. Foi socorrido imediatamente pela enfermeira que se achava presente, a qual lhe prestou os últimos socorres. Chamados com urgência, o Pe. Humberto Vieira Barros lhe deu a absolvição e o Pe. Antônio Carvalho, a unção dos enfermos. O médico,

2 chegado momentos após, só teve que constatar a morte.

Para o Pe. Joaquim Falcão a morte foi a passagem da oração para a contemplação.

Tinha completado 50 anos de vida religiosa, 41 de sacerdócio e, 15 dias mais tarde, iria completar 73 de idade.

Joaquim Bernardo Falcão Neto nasceu em Manaus (AM), aos 24 de setembro de 1906. Seus pais Joaquim Bernardo Falcão Filho e Olindina Barbosa Falcão deram a Joaquim e aos outros nove filhos uma educação genuinamente cristã. Eis o que dizia do Dr. Joaquim Falcão Filho uma revista do início deste século: " Juiz de Direito avulso, talentoso advogado, jurista de nota, vibrante intelectual, é possuidor de uma esplêndida cultura ...”. Na mesma revista encontramos ainda algumas respostas do Dr. Falcão a um longo questionário.

- "Minha maior felicidade: Conseguir o Céu".

- "Qual seria minha maior desventura: Perder a fé". - "O que eu desejaria ser: Um Santo".

- "Como desejaria morrer: Na graça de Deus".

Dos dez filhos, 5 homens e 5 mulheres, dois se consagraram à vida religiosa, a Ir. Inácia, beneditina, atualmente no Colégio do Carmo, Recife, e o nosso Pe. Falcão.

Quando a família se transferiu de Manaus para Goiana (PE), Joaquim entrou para o Colégio Salesiano de Recife como aluno interno e mais tarde passou a estudar no Ginásio Pernambucano.

Já tinha 21 anos e era empregado no comércio, quando tomou a decisão de ser salesiano. "Achando-me no turbilhão da vida e sentindo que Deus me chamava à vida religiosa, com o auxilio da Virgem Santíssima, aqui estou para corresponder a esta imensa graça...", assim se expressa no pedido de admissão ao Noviciado.

Após sete meses de aspirantado em Jaboatão, com um curso intensivo de latim, em 1928 foi aceito para o Noviciado. Emitiu a 1ª profissão aos 4 de fevereiro de 1929, em Jaboatão. Três anos depois se consagrou definitivamente a Deus, na Congregação Salesiana, fazendo os votos perpétuos, aos 19 de fevereiro de 1932, em Belém do Pará, onde trabalhou três anos na assistência pedagógica e no magistério. De 1934 a 1936 estudou teologia em Recife e em 1937 completou o curso teológico em S. Paulo (Lapa), sendo ordenado sacerdote, naquela cidade, por D. José Gaspar, no dia 8 de dezembro de 1937.

Belém (PA) foi o primeiro campo de suas atividades sacerdotais, como coordenador de estudo. Depois de um ano de repouso em Cajazeiras (PB), voltou a Belém, como diretor do colégio. Araxá (MG) e Vitória (ES), na Inspetoria

3 de Belo Horizonte, o receberam em tratamento de saúde, sem interromper totalmente suas atividades.

Voltando à Inspetoria do Nordeste, presta seus serviços em Paulo Afonso, Salvador e Carpina e novamente em Salvador. Em 1956 chega ao Ceará e ali, por dez anos, exerce suas atividades sacerdotais e salesianas. Por quatro anos permanece ao lado do arcebispo de Fortaleza, o nosso caro D. Antônio de Almeida Lustosa, acompanhando-o também nas visitas pastorais. De 1960 a 1966 é diretor em Baturité e em Fortaleza (Piedade) (CE). Nos dois anos seguintes o encontramos em Aracaju como confessor da casa salesiana e capelão do hospital.

Por motivo de saúde, em 1968, vai para Campinas (SP), onde passa três anos. Após ligeira estadia em Manaus e Belém, volta ao Nordeste, ficando em tratamento de sua saúde já bem abalada em Carpina e depois em Recife, onde veio a falecer.

A simples enumeração dos encargos do Pe. Joaquim Falcão Neto já nos diz que foi um homem de grande atividade, que prestou muito serviço à Congregação e à Igreja. Assumiu sempre com responsabilidade as incumbências que lhe foram confiadas. Em seus múltiplos trabalhos foi homem decidido que procurava dar conta do recado do melhor modo possível.

Era exigente consigo mesmo e com os outros. Devido ao seu caráter e à sua saúde abalada, teve que sofrer bastante e é possível que tenha sido também motivo de sofrimento para outros.

Foi um religioso empenhado e um sacerdote fiel aos seus compromissos. Tendo tomado a decisão de entrar na vida salesiana e sacerdotal depois dos 20 anos, manteve durante toda a sua existência um equilíbrio e uma convicção sem abalo ou crise.

Era um homem que gostava de trabalhar e tinha o dom de se interessar por tudo o que podia tornar suas atividades mais eficientes. Passou grande parte da vida lidando com a juventude no campo da educação. Em tempo útil obteve os títulos de professor, de diretor e de motorista, para melhor desempenho de seus trabalhos. Precisando os nossos colégios de gabinetes de ciências naturais, física e química, na qualidade de professor dessas matérias ele se preocupou em organizarbem esses meios de aprendizagem. Em suas conversas nos últimos anos quando já vivia de recordações, lembrava essas suas atividades especiais.

Sabia lidar com os alunos e exigir deles a disciplina necessária para a ordem e o aproveitamento.

4 vocacional. Preparou e enviou candidatos ao seminário e ao nosso aspirantado. Lembrava com satisfação ter orientado para o seminário o atual arcebispo auxiliar de Manaus, D. Milton Corrêa Pereira.

Quando ajudava Dom Lustosa nas visitas pastorais angariava meios para auxiliar as vocações e visitando os aspirantes salesianos deixava normalmente alguma lembrança útil e agradável.

Em sua atividade sacerdotal foi confessor assíduo e pregador responsável. Entre suas coisas conservava 12 cadernos com pregações dos domingos, que cuidou de atualizar nos últimos anos, depois da reforma litúrgica.

Sua piedade profunda feita de amor à Eucaristia, à SSma. Virgem Auxiliadora e a Dom Bosco apareceu em toda a sua vida, mas parti-cularmente nos anos de inatividade forçada. Todos os dias celebrava com fervor a Santa Missa que procurava variar aproveitando as missas votivas. Tinha um horário marcado e era pontual para favorecer a participação dos outros doentes. Também para a meditação, a leitura espiritual e o terço tinha uma hora marcada, observando-a escrupulosamente. Depois das 16.30 do dia 10/09 passado estava prestando sua homenagem diária a Nossa Senhora, quando a morte o surprendeu.

Nos últimos 10 anos a impossibilidade de se ocupar em trabalhos normais causava-lhe uma preocupação constante, que o deixava nervoso e o fazia sofrer muito. Para ocupar o tempo livre trabalhava na organização de coleções de selos, que recolhia entre as pessoas amigas. Isso era também uma maneira de não se sentir inútil, entregando ao Inspetor qualquer provento monetário que lhe advinha da venda dessas coleções.

Tendo passado com ele três anos no ambiente da enfermaria posso afirmar que todos os dias Pe. Falcão rezava duas dezenas do terço para pedir a cura de minha grave doença. Quando recuperei a saúde, Pe. Falcão atribuiu a uma graça alcançada por intercessão do Bem-aventurado Pe. Rua que ele tinha invocado constatemente nessa intenção.

Entre as qualidades positivas que possuía o Pe. Falcão devemos mensionar o seu tino administrativo. Alguém brincando disse que ele tinha vocação de comerciante. Soube fazer frutificar esse seu talento em beneficio das casas em que trabalhou. Ele mesmo, quando relembrava suas atividades, colocava em evidência essa habilidade administrativa.

Até os últimos dias se interessou do esporte e em particular do futebol. Era um passatempo que o ajudava a encher as horas do dia. Uma pessoa que lidou com ele durante os últimos anos de doença e teve que

5 suporta-lo nos momentos de nervosismo e de tensão, dizia: "Ele não é um santo". Citamos essa frase para constatar que na personalidade do Pe. Falcão havia também aspectos negativos, como acontece em todos nós, que não tiram, porem, o valor das boas qualidades

Encontramos numa lembrança dos 25 anos de ordenação sacerdotal do Pe. Falcão esta frase: " Consomem-se meus dias ao vosso lado e por vós...". Pe. Joaquim Falcão Neto tanto na atividade intensa quanto nos anos sofridos de sua inatividade permaneceu com Deus através de sua piedade simples e constante e por isso para ele vale o que está escrito no início da acenada lembrança de suas bodas de prata: " Em ti, Senhor, coloquei minha esperança, jamais ficarei desiludido".

Costuma-se pedir, na conclusão da carta mortuária, a generosidade dos sufrágios. Pe. Falcão teve logo muitos sufrágios na missa de corpo presente e na de sétimo dia, ambas concelebradas por muitos padres. Além das missas prescritas pelos regulamentos, que serão celebradas, vamos lembrar com verdadeira caridade fraterna nosso irmão que nos procedeu na eternidade. Para que este apelo não fique só no papel, vamos, neste momento, colocar a intenção de rezar todos os dias por nossos irmãos falecidos, e em particular, pelos que pertencem à nossa Inspetoria (Ciere, 8. 8).

Concluímos pedindo a Deus que os operários que tombam sejam substituídos por outros, para que o trabalho do Reino possa ter con-tinuidade e os planos da salvação se realizem.

Com estima

Pe. Tiago Gallo

Secretário Inspetorial

Dados para o Necrológico:

Pe. Joaquim Bernardo Falcão Neto

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com 72 anos de idade, 50 de profissão e 41 de sacerdócio.