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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.444.537 - RS (2014/0069553-4)

RELATOR : MINISTRO ROGERIO SCHIETTI CRUZ

RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

RECORRIDO : VAGNER NUNES LEANDRO

ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO

GRANDE DO SUL

EMENTA

RECURSO ESPECIAL. TRÁFICO DE DROGAS.

MATERIALIDADE. SUBSTÂNCIAS CONSTANTES DAS LISTAS E E F1 DA PORTARIA N. 344/1998 DA ANVISA. RECURSO PROVIDO.

1. O art. 33, caput , da Lei n. 11.343/2006 apresenta-se como norma penal em branco, porque define o crime de tráfico a partir da prática de dezoito condutas relacionadas a drogas, sem, no entanto, trazer a definição desse elemento do tipo.

2. A definição do que sejam "drogas", capazes de caracterizar os delitos previstos na Lei n. 11.343/2006, advém da Portaria n. 344/1998, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde.

3. Os exames realizados por peritos do Instituto Geral de Perícias concluíram que, no material apreendido e analisado, "foi constatada a presença de canabinoides, característica da espécie vegetal Cannabis

sativa ", havendo os peritos salientado, ainda, que "a Cannabis sativa

contém canabinoides que causam dependência".

4. Irrelevante, para a comprovação da materialidade do delito (art. 33 da Lei n. 11.343/2006), o fato de o laudo pericial não haver revelado a presença de tetrahidrocanabiol (THC) – um dos componentes ativos da Cannabis sativa – na substância, porquanto constatou-se que a substância apreendida contém canabinoides, característicos da espécie vegetal Cannabis sativa , que, nos termos da conclusão do laudo pericial, causam dependência e integram a Lista E da Portaria n. 344, de 12/5/1998, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde.

5. A materialidade do crime de tráfico de drogas também está demonstrada pelo fato de haver sido apreendido em poder do recorrido material contendo cocaína, substância constante da Lista F1 da Portaria n. 344, de 12/5/1998, da Anvisa.

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6. Recurso especial provido para, reconhecida a materialidade do crime de tráfico de drogas, determinar o retorno dos autos ao Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, para que prossiga no julgamento da Apelação Criminal n. 70052225380.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Sexta Turma, por unanimidade, dar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Nefi Cordeiro, Antonio Saldanha Palheiro e Sebastião Reis Júnior votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justificadamente, a Sra. Ministra Maria Thereza de Assis Moura.

Brasília (DF), 12 de abril de 2016

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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.444.537 - RS (2014/0069553-4)

RELATOR : MINISTRO ROGERIO SCHIETTI CRUZ

RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

RECORRIDO : VAGNER NUNES LEANDRO

ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO

GRANDE DO SUL

RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO ROGERIO SCHIETTI CRUZ:

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO

GRANDE DO SUL interpõe recurso especial, com fundamento no art. 105, III,

"a", da Constituição Federal, contra acórdão proferido pelo Tribunal de

Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (Apelação n. 70052225380).

Consta dos autos que o recorrido foi condenado, em primeiro grau, como incurso no art. 33, caput e § 4º, da Lei n. 11.343/2006 (fl. 160). Inconformada com a condenação, a defesa interpôs apelação ao Tribunal de origem, havendo sido dado provimento ao recurso, para absolver o acusado, com fundamento no art. 386, II, do Código de Processo Penal (fl. 227).

O recorrente alega violação dos arts. 33, caput , da Lei n. 11.343/2006 e 386, II, do Código de Processo Penal, porquanto o material apreendido em poder do acusado se encontra expressamente previsto na Lista "E" da Portaria n. 344/1998, editada pela Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, de modo que está caracterizada a materialidade do delito.

Pondera que, no caso, foi detectada a presença de Cannabis

sativa na substância apreendida – substância que integra o referido rol da

portaria da Anvisa –, de modo que, para a comprovação da materialidade do crime, mostra-se irrelevante o fato de a substância conter ou não THC (tetraidrocanabinol).

Requer o provimento do recurso, "a fim de ser afastada a absolvição do réu [...] quanto ao delito de tráfico de drogas, determinando-se o retorno dos autos à Corte de origem, para fins de apreciação das teses ventiladas no recurso de apelação manejado pela defesa" (fl. 276).

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Contrarrazões às fls. 282-287 e decisão de admissibilidade às fls. 289-295.

O Ministério Público Federal manifestou-se pelo provimento do recurso.

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.444.537 - RS (2014/0069553-4) EMENTA

RECURSO ESPECIAL. TRÁFICO DE DROGAS.

MATERIALIDADE. SUBSTÂNCIAS CONSTANTES DAS LISTAS E E F1 DA PORTARIA N. 344/1998 DA ANVISA. RECURSO PROVIDO.

1. O art. 33, caput , da Lei n. 11.343/2006 apresenta-se como norma penal em branco, porque define o crime de tráfico a partir da prática de dezoito condutas relacionadas a drogas, sem, no entanto, trazer a definição desse elemento do tipo.

2. A definição do que sejam "drogas", capazes de caracterizar os delitos previstos na Lei n. 11.343/2006, advém da Portaria n. 344/1998, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde.

3. Os exames realizados por peritos do Instituto Geral de Perícias concluíram que, no material apreendido e analisado, "foi constatada a presença de canabinoides, característica da espécie vegetal Cannabis

sativa ", havendo os peritos salientado, ainda, que "a Cannabis sativa

contém canabinoides que causam dependência".

4. Irrelevante, para a comprovação da materialidade do delito (art. 33 da Lei n. 11.343/2006), o fato de o laudo pericial não haver revelado a presença de tetrahidrocanabiol (THC) – um dos componentes ativos da Cannabis sativa – na substância, porquanto constatou-se que a substância apreendida contém canabinoides, característicos da espécie vegetal Cannabis sativa , que, nos termos da conclusão do laudo pericial, causam dependência e integram a Lista E da Portaria n. 344, de 12/5/1998, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde.

5. A materialidade do crime de tráfico de drogas também está demonstrada pelo fato de haver sido apreendido em poder do recorrido material contendo cocaína, substância constante da Lista F1 da Portaria n. 344, de 12/5/1998, da Anvisa.

6. Recurso especial provido para, reconhecida a materialidade do crime de tráfico de drogas, determinar o retorno dos autos ao Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, para que prossiga no julgamento da Apelação Criminal n. 70052225380.

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O SENHOR MINISTRO ROGERIO SCHIETTI CRUZ (Relator): I. Contextualização

Consta dos autos que o recorrido foi condenado, em primeiro grau, como incurso no art. 33, caput e § 4º, da Lei n. 11.343/2006. Os fatos foram assim narrados na inicial acusatória, in verbis (fl. 1):

No dia 27 de janeiro de 2012, por volta das 11h30min [...], os denunciados ALEXANDRE PONTES DA SILVA E VAGNER NUNES LEANDRO, em comunhão de esforços e conjugação de vontades, transportavam, tinham consigo e guardavam, com a finalidade de vender, expor à venda, oferecer, entregar a consumo e fornecer a terceiros, drogas, consistentes em 12 (doze) porções de cannabis sativa , popularmente conhecida como maconha, pesando, aproximadamente, 33,80g e 19 (dezenove) pedrinhas de crack, pesando aproximadamente 3,20, ambos com embalagem [...]

Inconformada com a condenação, a defesa interpôs apelação ao Tribunal de origem, havendo sido dado provimento ao recurso, para absolver o acusado, com fundamento no art. 386, II, do Código de Processo Penal.

II. Materialidade do delito de tráfico de drogas

O Tribunal de origem, ao concluir pela absolvição do recorrido em relação ao crime previsto no art. 33, caput , da Lei n. 11.343/2006 (tráfico de drogas), assim fundamentou (fls. 222-224):

No tocante ao réu WAGNER, com quem foram apreendidas doze (12) porções de maconha, pesando aproximadamente 33,80g, segundo narrado na denúncia, incumbe reconhecer a ausência de prova da materialidade do crime de tráfico.

Explico.

O auto de apreensão de f. 26 descreve a apreensão de doze (12) porções de uma erva seca esverdeada com características de maconha, pesando aproximadamente 33,80g, além de cento e seis reais e setenta centavos (R$ 106,70) em dinheiro, o que poderia indicar a ocorrência de tráfico ilícito de drogas.

Ocorre que o exame realizado por peritos do Instituto-Geral de Perícias (laudo nº 6153/2012; f. 109) não foi conclusivo para a

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presença da substância THC (Tetrahidrocannabinol) no material apreendido, o que era indispensável para a configuração do tipo imputado. Veja-se o que consta do referido laudo:

(...)

O material recebido foi encaminhado à análise por meio de avaliação visual e cromatografia em camada delgada. O resultado foi POSITIVO para canabinoides.

(...)

3. A Cannabis sativa contém canabinoides que causam dependência. 4. A Cannabis sativa integra a Lista E (lista de plantas que podem originar substâncias entorpecentes e/ou psicotrópicas) da Portaria nº 344, de 12/05/1998, da SVS/MS.

(...)

Ora, a presença de canabinoides no resultado do exame não configura o crime previsto no artigo 33 da Lei nº 11.343/2006, eis que tal substância não consta da Lista F da Portaria nº 344/98 da ANVISA – de substâncias de uso proscrito no Brasil –, especificamente na Lista F2 – de substâncias psicotrópicas –, mas sim da Lista E – de plantas proscritas que podem originar substâncias entorpecentes e/ou psicotrópicas.

Nessa perspectiva, deve-se reconhecer não haver prova da existência material da infração no tocante à suposta maconha apreendida.

[...]

De modo a evitar os embargos de declaração que têm sido manejados pelo Ministério Público, acrescento uma observação que tenho feito em tais oportunidades.

Canabinoide é um termo genérico para descrever substâncias, naturais ou artificiais, que ativam os receptores canabinóides, podendo ser classficados em fitocanabinóides, endocanabinóides e canabinóides sintéticos. Os fitocanabinóides encontráveis na espécie vegetal cannabis sativa são de várias espécies, mas nem todos são psicoativos como o tetraidrocanabinol . Tanto que a portaria da ANVISA não os elenca como substâncias proibidas, referindo apenas aquele (tetraidrocanabinol).

Note-se que não foi imputada a posse de matéria prima para a produção de alguma substância psicoativa. Assim, não calha argumentar que o material apreendido foi reconhecido como originário dessa espécie vegetal. A imputação foi a de posse de maconh a, ou seja, de um produto da espécie vegetal cannabis sativa , que pode conter (ou não) canabinóides psicoativos, não

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tendo sido comprovada a presença do tetraidrocanabinol .

Nem carece dizer que eventuais erros dos peritos deveriam ser corrigidos no curso da ação penal de conhecimento.

Conforme é cediço, o art. 33, caput , da Lei n. 11.343/2006 apresenta-se como norma penal em branco, porque define o crime de tráfico a partir da prática de dezoito condutas relacionadas a drogas – importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer –, sem, no entanto, trazer a definição do elemento do tipo "drogas".

A partir daí, emerge a necessidade de se analisar o conteúdo do preceito contido no parágrafo único do art. 1º da Lei n. 11.343/2006, de que "consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União."

Em acréscimo, estabelece o art. 66 da referida lei que, "para fins do disposto no parágrafo único do art. 1º desta Lei, até que seja atualizada a terminologia da lista mencionada no preceito, denominam-se drogas substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob controle especial, da Portaria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1998." Verifica-se, assim, que, sistematicamente, por uma opção legislativa, o art. 66 ampliou o universo de incidência dos comandos proibitivos penais.

A partir daí, conclui-se que a definição do que sejam "drogas", capazes de caracterizar os delitos previstos na Lei n. 11.343/2006, advém da Portaria n. 344/1998, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde (daí a classificação doutrinária, em relação ao art. 33 da Lei n. 11.343/2006, de que se está diante de uma norma penal em branco heterogênea).

Nesse contexto, por ser constituída de um conceito técnico-jurídico, só será considerada droga o que a lei (em sentido amplo) assim o reconhecer como tal. Assim, mesmo que determinada substância cause dependência física ou psíquica, se ela não estiver prevista no rol das substâncias legalmente proibidas, ela não será tratada como droga para fins de incidência da Lei n. 11.343/2006 (v.g., o álcool).

Ressalto, no particular, a opção do legislador pela utilização, na Lei n. 11.343/2006, do termo "drogas", em vez da expressão "substância

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entorpecente" ou que "determine dependência física ou psíquica", prevista na Lei n. 6.368/1976.

Ao tratar sobre a terminologia "drogas" e sobre o alcance do termo "substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob controle especial", Gilberto Thums e Vilmar Pacheco lecionam que:

A Nova Lei de Drogas modificou a terminologia em relação à lei anterior quanto ao objeto de incriminação. Tecnicamente é melhor, porque a antiga Lei de Tóxicos (6.368/76) utilizava a expressão 'substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica'. Estes termos criavam dificuldades em face das listas da ANVISA, pois todas as substâncias das Listas C e D não podiam ser consideradas para o efeito do antigo art. 12, porque não coincide a nomenclatura. O mesmo ocorria com as substâncias que não eram entorpecentes nem psicotrópicas, mas estavam sob controle do poder público. A nova lei emprega a expressão DROGAS, que significa substâncias ou produtos capazes de causar dependência, assim especificadas em lei ou relacionadas em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União. É pertinente observar que, temendo possíveis controvérsias jurídicas acerca do tema, o legislador tomou a cautela de dispor, ao final da lei, que 'até que seja atualizada a terminologia da lista mencionada no preceito, denominam-se drogas substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob controle especial, da Portaria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1998'. Neste contexto, continuam valendo as listas e os termos empregados pela ANVISA para a Nova Lei de Drogas, até que sejam adaptadas à nova terminologia.

Os tipos penais contêm normas em branco, porque referem-se à droga (substância entorpecente ou que cause dependência física ou psíquica) ou insumo ou produto químico utilizado na preparação de drogas. Quem estabelece a lista de substâncias é o Ministério da Saúde, através da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). A Portaria nº 344/98, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, criou o regulamento técnico sobre substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial, mas atualmente, as substâncias constam da Resolução RDC 15, de 1.3.2007, da ANVISA, que discrimina as listas de substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob controle especial da Portaria SVS n.º 344, de 12.05.1988. (Nova lei de drogas . Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2007, p.

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29-30).

A Lista E da Portaria n. 344, de 12/5/1998, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, traz o rol de plantas que podem originar substâncias entorpecentes e/ou psicotrópicas:

1. CANNABIS SATIVUM

2. CLAVICEPS PASPALI 3. DATURA SUAVEOLANS 4. ERYTROXYLUM COCA

5. LOPHOPHORA WILLIAMSII (CACTO PEYOTE)

6. PRESTONIA AMAZONICA (HAEMADICTYON

AMAZONICUM) ADENDO:

1) ficam também sob controle, todos os sais e isômeros das substâncias obtidas a partir das plantas elencadas acima.

Vê-se, portanto, que a Cannabis sativa integra a Lista E da referida portaria, que, em última análise, a define como planta que pode originar substâncias entorpecentes e/ou psicotrópicas. Essa mesma lista traz um adendo de que "ficam também sob controle todos os sais e isômeros das substâncias obtidas a partir das plantas elencadas acima".

No caso, os exames realizados por peritos do Instituto Geral de Perícias – Laudo Pericial n. 6153/2012 – concluíram que, no material apreendido e analisado, "foi constatada a presença de canabinoides,

característica da espécie vegetal Cannabis sativa ", havendo os peritos

salientado, ainda, que "A Cannabis sativa contém canabinoides que causam

dependência" (fl. 117).

Portanto, irrelevante, para a comprovação da materialidade do delito, o fato de o laudo pericial não haver revelado a presença de tetrahidrocanabiol (THC) – um dos componentes ativos da Cannabis sativa – na substância, porquanto constatou-se que a substância apreendida contém

canabinoides, característicos da espécie vegetal Cannabis sativa , que, nos termos da conclusão do laudo pericial (fl. 117), causam dependência e integram a Lista E da Portaria n. 344, de 12/5/1998, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde. Vale dizer, o laudo pericial

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sativa , a qual encontra-se expressamente prevista na Lista E da Portaria da

Anvisa.

Essa também tem sido a compreensão adotada pelo Supremo Tribunal Federal acerca da matéria:

HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL. CRIME DE POSSE DE DROGA EM RECINTO CASTRENSE. ATIPICIDADE DA CONDUTA: NÃO INDICAÇÃO DO PRINCÍPIO ATIVO TETRA-HIDRO-CANABINOL (THC) NO LAUDO TOXICOLÓGICO. AFIRMAÇÃO DA NATUREZA

ENTORPECENTE DA SUBSTÂNCIA APREENDIDA.

NECESSIDADE DE REEXAME DE FATOS E PROVAS IMPRÓPRIO NA VIA ELEITA. ORDEM DENEGADA.

1. O reexame dos elementos de convicção considerados pelas instâncias ordinárias na avaliação do laudo toxicológico utilizado para, em conjunto com as demais provas, firmar a materialidade delitiva demandaria o revolvimento do conjunto probatório, inviável em habeas corpus.

2. A jurisprudência deste Supremo Tribunal acentua que a

ausência de indicação, no laudo toxicológico, de um dos princípios ativos do entorpecente vulgarmente conhecido como “maconha” não impede a caracterização da materialidade delitiva, máxime como no caso dos autos em que

o Paciente confessa a prática da infração penal e a instância antecedente afirma que a prova pericial é conclusiva no sentido de que o material examinado consiste em psicotrópico causador de dependência física e/ou psíquica.

3. Ordem denegada.

(HC n. 122.247/DF, Rel. Ministra Cármen Lúcia, 2ª T., DJe 2/6/2014).

Ainda, menciono o HC n. 116.312/RS, de relatoria do Ministro

Dias Toffoli (DJe 3/10/2013), em que também se concluiu pela presença de

materialidade do crime – naquele caso, posse de substância entorpecente em lugar sujeito à Administração Militar (art. 290 do CPM) – a partir de laudo pericial que constatou a presença de canabinoide no material apreendido. Confira-se a ementa redigida para o julgado:

Habeas corpus. Posse de substância entorpecente em lugar sujeito à Administração Militar (CPM, art. 290). Ínfima porção

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de entorpecente apreendida. Materialidade. Reconhecimento. Violação do princípio da proporcionalidade. Não ocorrência. Nulidade decorrente da realização do interrogatório do acusado nos moldes do art. 302 do CPPM. Matéria não submetida à apreciação do Superior Tribunal Militar. Inadmissibilidade. Supressão de Instância. Conhecimento parcial do Writ. Ordem, nessa extensão, denegada.

1. A tese da impetrante de que “a perícia realizada na

substância vegetal apreendida não constatou a presença de nenhuma das substâncias de uso proscrito no Brasil” perde relevo quando se leva em conta o quanto noticiado no acórdão proferido pelo Superior Tribunal Militar em sede de embargos: “de acordo com o Laudo nº 23895-41/2010 do Instituto-Geral de Perícias, da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio Grande do Sul, o material enviado para análise foi submetido ao exame botânico macroscópico e ao teste químico com o sal ‘Fast Blue B’, e o resultado foi positivo para canabinóides. Segundo a conclusão do referido laudo, a ‘cannabis sativa’ contém canabinóides que causam dependência’ (fl. 70)” .

[...]

4. Habeas corpus do qual se conhece parcialmente e ao qual, nessa medida, se denega a ordem.

Assim, ao referir que "a presença de canabinoides no resultado do exame não configura o crime previsto no artigo 33 da Lei nº 11.343/2006, eis que tal substância não consta da Lei F da Portaria nº 344/98 da ANVISA" (fl. 223), entendo que a Corte estadual apegou-se à denominação própria da legislação revogada (Lei n. 6.368/1976), porquanto, conforme já salientado – por meio da doutrina de Gilberto Thums e de Vilmar Pacheco –, houve a alteração do objeto material de incriminação, que deixou de ser "substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica" (termo utilizado pela Lei n. 6.368/1976) e passou a ser "drogas" (nomenclatura empregada pela atual legislação).

Na verdade, entendo que até seria dispensável que o laudo pericial houvesse mencionado, em sua conclusão, que a substância Cannabis

sativa causa dependência, na medida em que o parágrafo único do art. 1º da Lei

n. 11.343/2006 estabelece que são consideradas drogas as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, "assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União", de modo que seria suficiente que o laudo pericial apenas identificasse a substância, para, posteriormente, constatar se ela está ou não incluída no rol

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especificado em lei ou pelo Poder Executivo.

Para deixar isento de dúvidas que a apreensão da referida planta caracteriza o crime de tráfico de drogas (art. 33 da Lei n. 11.343/2006), menciono que a própria Portaria n. 344/1998 determina, em seu art. 95, que plantas, substâncias e/ou medicamentos de uso proscrito no Brasil (Lista E e Lista F) serão incinerados. Confira-se:

Art. 95 Quando houver apreensão policial, de plantas,

substâncias e/ou medicamentos, de uso proscrito no Brasil -

Lista - "E" (plantas que podem originar substâncias entorpecentes e/ou psicotrópicas) e lista "F" (substâncias proscritas), a guarda dos mesmos será de responsabilidade da Autoridade Policial competente, que solicitará a incineração à Autoridade Judiciária.

Ou seja, se a própria portaria integradora dos tipos penais relacionados na Lei n. 11.343/2006 determinou, expressamente, que as plantas integrantes da Lista E serão incineradas, seria ilógico instituir sua apreensão e incineração, se proscritas não fossem.

Dessa forma, verificado que a substância apreendida em poder do recorrido – canabinoides, característicos da espécie vegetal Cannabis sativa – encontra-se listada no rol de plantas que podem originar substâncias entorpecentes e/ou psicotrópicas (Lista E da Portaria n. 344/1998 da Anvisa), entendo devidamente configurada a materialidade do crime previsto no art. 33,

caput , da Lei n. 11.343/2006.

Apenas como reforço de argumento, registro que também foi apreendido em poder do recorrido material contendo cocaína – conforme conclusão do Laudo Pericial n. 6195/2012 –, substância constante da Lista F1 da Portaria n. 344, de 12/5/1998, da Anvisa, o que reforça a comprovação da materialidade do delito de tráfico de drogas.

III. Dispositivo

À vista do exposto, dou provimento ao recurso especial para, reconhecida a materialidade do crime de tráfico de drogas, determinar o retorno dos autos ao Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, para que prossiga no julgamento da Apelação Criminal n. 70052225380.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO SEXTA TURMA

Número Registro: 2014/0069553-4 REsp 1.444.537 / RS

MATÉRIA CRIMINAL Números Origem: 001/2.12.0006945-3 00121200069453 02244064320138217000 04690940920138217000 121200069453 21200069453 2244064320138217000 4690940920138217000 5291374320128217000 70052225380 70054997796 70057444671 PAUTA: 12/04/2016 JULGADO: 12/04/2016 Relator

Exmo. Sr. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ Presidente da Sessão

Exmo. Sr. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ Subprocurador-Geral da República

Exmo. Sr. Dr. MÁRIO FERREIRA LEITE Secretário

Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA

AUTUAÇÃO

RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

RECORRIDO : VAGNER NUNES LEANDRO

ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

CORRÉU : ALEXANDRE PONTES DA SILVA

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes Previstos na Legislação Extravagante - Crimes de Tráfico Ilícito e Uso Indevido de Drogas - Tráfico de Drogas e Condutas Afins

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A Sexta Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Os Srs. Ministros Nefi Cordeiro, Antonio Saldanha Palheiro e Sebastião Reis Júnior votaram com o Sr. Ministro Relator.

Referências

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