• Nenhum resultado encontrado

Heroínas do dia a dia: analisando condições e perspectivas da inserção contemporânea da mulher no mercado de trabalho no Brasil

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Heroínas do dia a dia: analisando condições e perspectivas da inserção contemporânea da mulher no mercado de trabalho no Brasil"

Copied!
70
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE FEDERAL DE RIO DAS OSTRAS

DEPARTAMENTO INTERDISCIPLINAR DE RIO DAS OSTRAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

KINSTEN APARECIDA SANTOS SILVA

HEROÍNAS DO DIA A DIA: ANALISANDO CONDIÇÕES E PERSPECTIVAS DA INSERÇÃO CONTEMPORÂNEA DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO

NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a obtenção da Graduação de Bacharel em Serviço Social.

Orientador: Profº. Drº Felipe Brito

Rio das Ostras 2014

(2)

KINSTEN APARECIDA SANTOS SILVA

HEROÍNAS DO DIA A DIA: ANALISANDO CONDIÇÕES E PERSPECTIVAS DA INSERÇÃO CONTEMPORÂNEA DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO

NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a obtenção da Graduação de Bacharel em Serviço Social.

Data da aprovação: ___ / ___ / ___ BANCA EXAMINADORA

______________________________ Prof. Dr. Felipe Brito

Orientador

Universidade Federal Fluminense

________________________________ Profª. Drª. Maria Raimunda Penha Soares

Examinadora

Universidade Federal Fluminense

________________________________ Profª. Ms . Clarice da Costa Carvalho

Examinadora

(3)

Dedico este trabalho aos meus filhos Kaique e Pietro, e ao meu marido Rodrigo Luis. Meus queridos, vocês são a melhor parte de mim.

(4)

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço a Deus por abençoar minha vida e da minha família.

Kaique e Pietro, vocês foram meu combustível. Eu tenho certeza que não teria concluído esse curso se você Kaique não tivesse aparecido na minha vida. Pietro, todas as noites mal dormidas e todo o mal estar que senti, me lembravam a cada segundo que um anjinho no meu ventre estava me acompanhando e que eu precisava vencer. Meus filhos, mamãe ama vocês.

Ao meu marido Rodrigo Luis, por ser o melhor pai que eu conheço, por sempre me apoiar, e principalmente por ter me dado o melhor presente do mundo: a vida dos meus filhos Kaique e Pietro. Mais uma conquista ao seu lado amor.

Agradeço a minha mãe Maria José e ao meu pai Luis Carlos. Mãe você é a minha musa inspiradora. A pessoa mais especial, maravilhosa e esforçada que conheço. Pai, agradeço por ter me dado uma base maravilhosa, e por sempre acreditar e me incentivar. Minha formação é reflexo dessa junção.

Minha irmã Rihana, seu sorriso e sua alegria me inspiram. Simplesmente obrigada por você ser minha irmã e minha melhor amiga. Sem palavras para definir o nosso amor.

Minha madrinha e segunda mãe Anahir Luciany, que mesmo de longe nunca deixou de estar perto. Você é muito importante na minha vida.

A todas amizades construídas no decorrer da minha vida acadêmica. Agradeço especialmente a Jaqueline Brandão, que me acompanha desde os tempos de escola.

Tainá, Jade, Olivia, Emily, Mayara, Erika, Natália. Amigas queridas que acompanharam todas as dificuldades e alegrias no decorrer da graduação. Sempre juntas e que dure para sempre.

Ao professor Felipe Brito. Pela orientação, incentivo, paciência, comprometimento e zelo. Não poderia ter escolhido alguém melhor.

Agradeço as professoras Raymunda Soares e Clarice Carvalho por terem aceitado o convite para banca. Mulheres fortes como vocês me inspiram.

(5)

Não aborte. Mas se você for pobre, não saia fazendo filho por aí para que eles dependam de esmola do governo. Então previna-se, mas não seja vagabunda de levar camisinha na bolsa. Não dê no primeiro encontro. Não use roupas apertadas e não provoque desejo indiscriminado nos homens. Não dance funk. Não queira merecer um estupro. Mas, caso seja estuprada, ainda sim não aborte. Não aborte, não tenha filhos por aí, não seja vagabunda, não dê, não provoque desejo. Se possível não exista. Vá trabalhar, vagabundo. Trabalhe, mas não proteste. Não saia por aí querendo direitos. Não seja ingrato e aceite tudo de bom grado. Se você quer ganhar mais, tem que ser estudado. Se você é só estudante é vagabundo. Quem só estuda é filhinho de papai. Filhinho de papai é vagabundo. Se você só trabalha é trabalhador. Mas se não estuda não quer o melhor pra você, então é vagabundo. Não seja um vagabundo. Não seja só trabalhador. Não seja só estudante. Não seja um pobre. Não seja um filhinho de papai. Se possível não exista. Não ande de skate, não ande de bicicleta, não vista-se como gnomo. Não seja um alternativo. Aliás, nem são necessárias tantas alternativas. Abaixe o som, desocupe as ruas, penteie este cabelo, emagreça, envelheça, cale a boca. Não use tóxico, não seja viado, não dê a bunda, não use máscaras.

(6)

Não seja politicamente correto, coma a porra da banana, na Paulista não! Carnaval não! Na Pompeia não! Na Vila Madalena não! Metrô não! Ciclovia não! Faixa de Ônibus não! Exista não! Agradeço pelas surras que meu pai me deu. Quem não fez merda não foi torturado. Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher. Ele é preto de alma branca. Ele sabe se colocar no seu lugar. Quem mandou ela querer ter direitos iguais. Deu nisso. Não morreu nenhum santo. Ela bem que mereceu. Você me conhece. A mãe chora agora. Hoje em dia a gente sai é não sabe se volta. Eu pago os meus impostos. Tudo o que eu penso eu falo na cara. Não adianta dar o peixe. Sabe com quem você está falando? Então por que não tem cota pra ruivo? Então porque você tem um IPhone? Sua casa tem senha no WiFi. Ta com dó, leva pra casa. O Chico Buarque nunca trabalhou na vida. Eu sou assim e não vou mudar. Está é a minha opinião (Rafael Castilho)

(7)

RESUMO

O objetivo deste trabalho é o de analisar e expor as novas características da precarização do trabalho da mulher sob a égide das novas tendências que se delinearam com o processo de globalização, crise econômica e imposição do neoliberalismo. Para tanto, o estudo foi dividido em três capítulos. O primeiro capítulo trata da importância do movimento feminista na construção do papel social da mulher, resgata a trajetória da divisão sexual do trabalho e subalternização da mulher. O segundo capítulo aborda o contexto econômico atual - e a crise propriamente dita -, para designar as repercussões desse movimento na vida classe trabalhadora. No terceiro capítulo realiza-se uma síntese de diversas pesquisas - buscando problematizar a inserção da mulher no mercado de trabalho -, com o intuito de fornecermos mais concretude ao debate.

(8)

ABSTRACT

The objective of this study is to analyze and expose the new features of the precariousness of women's work, under the aegis of the new trends that are delineated with the process of globalization, economic crisis and imposition of neoliberalism. To this end, the study was divided into three chapters. The first chapter deals with the importance of the feminist movement in the construction of the social role of women, rescues the history of the sexual division of labor and subordination of women. The second chapter discusses the current economic climate - and the crisis itself - to describe the impact of this movement on working class life. In the third chapter is a synthesis of several studies - seeking to question the conditions of women, regarding their integration into the labor market - in order that we provide more concreteness to the discussion.

(9)

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico I - Estimativa da população ocupada segundo sexo - Regiões Metropolitanas e Distrito Federal - 2011 e 2012... 43 Gráfico II - Estimativa da população desempregada segundo sexo - Regiões Metropolitanas e Distrito Federal - variação de 2011 e 2012...44 Gráfico III - Variação anual da ocupação do setor privado com carteira assinada segundo sexo - regiões Metropolitanas e Distritito Federal - 2011 e 2012...46 Gráfico IV - Participação da população ocupada com 11 ou mais anos de estudo, por posição na ocupação, segundo sexo - 2011...49 Gráfico V - Participação da população ocupada com nível superior completo, por posição na ocupação, segundo o sexo - 2011...49 Gráfico VI - Proporção de pessoas ocupadas (PO) e desocupadas (PD) que frequentaram ou concluíram curso de qualificação, por sexo - 2011...50 Gráfico VII - Número médio de horas semanais habitualmente trabalhadas pela população ocupada, por grupamentos de atividade, segundo o sexo - 2011...51 GRÁFICO VIII - Distribuição percentual das famílias por tipo de sexo da pessoa de referência - 2009...53 GRÁFICO IX - Renda familiar do trabalho de chefes e cônjuges - 2009...53 GRÁFICO X - Média de anos de estudo por posição na família e sexo em arranjos familiares com filhos - 2009...54 GRÁFICO XI - Proporção de mulheres com ao menos um filho nascido vivo - 2000 a 2010...55 Gráfico XII - Proporção de mulheres com ao menos um filho por cor ou raça - 2010...56 Gráfico XIII - Mulheres chefes de família segundo localização do domicílio - 2010...56 Gráfico XIV - Mulheres chefes de família por tipo de composição familiar - 2010 ...57 Gráfico XV - Taxa de atividade entre as mulheres que se encontram trabalhando ou procurando trabalho - 2000 a 2010...58

(10)

GRÁFICO XVI - Análise do Aleitamento Materno Exclusivo nas Regiões Brasileiras para crianças menores de 6 meses - 2008...61 GRÁFICO XVII - Análise do Aleitamento Materno Exclusivo por situação de trabalho da mãe - 2008...62 GRÁFIXO XVIII - Análise de Aleitamento Materno Exclusivo por escolaridade - 2008...63

(11)

LISTA DE TABELAS

Tabela I - Estimativa da população desempregada segundo sexo - Regiões Metropolitanas e Distrito Federal - variação de 2011 e 2012...44 Tabela II - Distribuição dos ocupados por setor de atividade e sexo - Regiões Metropolitanas e Distrito Federal - 2012...45 Tabela III - Rendimento médio real dos ocupados no trabalho segundo sexo - Regiões Metropolitanas e Distrito Federal - 2011 e 2012...48

(12)

LISTA DE SIGLAS

AME - Aleitamento Materno Exclusivo CLT - Consolidações das Leis do Trabalho

DIEESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudo Sócio-econômico FMI - Fundo Monetário Internacional

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IED - Investimento Estrangeiro Direto

IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico OMS - Organização Mundial de Saúde

PIB - Produto Interno Bruto

PME - Pesquisa Mensal de Emprego

PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de domicílios PPAM - Pesquisa de Prevalência de Aleitamento Materno SUS - Sistema Único de Saúde

(13)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...14 CAPÍTULO I - A DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO NO ÂMBITO DA ACUMULAÇÃO CAPITALISTA: NAS TRAMAS DA DOMINAÇÃO E DAS RESISTÊNCIAS SOCIAIS...17 1.1 A importância do movimento feminista na construção do papel social da mulher...17 1.2 Considerações sobre a divisão sexual do trabalho e subalternização da mulher...19 CAPÍTULO II - APONTAMENTOS SOBRE REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA, CRISE ECONÔMICA E NEOLIBERALISMO...24 CAPÍTULO III - CONSIDERAÇÕES SOBRE A PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NO MERCADO DE TRABALHO NA ATUALIDADE...40 3.1 Tendências da precarização do trabalho da mulher...40 3.2 Características atuais da mulher no mercado de trabalho no Brasil...42 3.3 Notas sobre a amamentação entre as mulheres trabalhadoras formais no Brasil...59

(14)

INTRODUÇÃO

Se analisarmos a trajetória da mulher ao longo da história, podemos verificar que houve avanço em relação a sua posição na sociedade, especialmente no mercado de trabalho. Afinal, ocupava basicamente apenas o espaço privado do lar e, por meio de muita luta, ampliou a inserção no mercado de trabalho. Ainda assim, apesar dos avanços, tem-se um longo processo a ser percorrido na direção de uma sociedade mais igualitária, justa e democrática, especialmente quando analisamos, para os nossos propósitos de pesquisa, as novas formas de precarização do trabalho feminino que complementa (ou é complementada) pela permanência de algumas velhas formas.

Destacamos três fenômenos determinantes para a precarização do trabalho e o desemprego em escala mundial: o neoliberalismo, a reestruturação produtiva e a globalização. Em escala internacional, esses fenômenos fortaleceram as mais diversas formas de exploração entre pessoas, grupos e regiões, e está reafirmando antigos padrões da divisão sexual do trabalho, o que impacta diretamente na vida das mulheres trabalhadoras, trazendo desta forma, maior vulnerabilidade, perda de direitos e precariedade nas condições de vida.

A precariedade do trabalho atinge a classe trabalhadora, no geral. Contudo, as mulheres são sensivelmente mais afetadas do que os homens, e a crise vigente do capitalismo aumentou tamanha disparidade. Sendo assim, em um contexto de generalização do trabalho precarizado, é necessário o debate sobre a terceirização e divisão sexual do trabalho, buscando compreender os impactos na vida das mulheres trabalhadoras.

A vontade de escrever sobre a temática surgiu quando enfrentei o desafio de ser mãe. E quando digo desafio não estou me referindo ao corpo dolorido e noites mal dormidas. Refiro-me à precarização e falta de políticas públicas de amparo a criança e a mãe; a dificuldade de fazer um pré natal pelo SUS ou, até mesmo, pelo plano de saúde, já que não temos recursos humanos e materiais suficientes para atender a população de Rio das Ostras; refiro-me ao direito de tirar apenas 120 dias de licença maternidade - direito que obriga a

(15)

mulher a trabalhar até quase os últimos dias de gestação para ficar mais tempo com o filho após o nascimento -, enquanto o próprio ministério da saúde reconhece que o período de aleitamento exclusivo (AME) é de 180 dias; refiro-me a dificuldade de inserir seu filho numa creche pública, pois não existem vagas suficientes para atender toda a população, e você mora numa cidade como Rio das Ostras - que por conta do petróleo - inflacionou tanto tudo por aqui que para pagar uma creche você precisa de no mínimo um salário mínimo destinado ao gasto; aos milhares de obstáculos que permeiam a condução cotidiana do trabalho, tais como o não reconhecimento do atestado de acompanhamento do nosso filho. Logo, refiro-me às condições precarizadas nas quais nós mulheres, especialmente somos submetidas diariamente dentro e fora do ambiente de trabalho - possuindo menores salários, funções de baixo prestígio e maior exposição ao desemprego. Ser mulher, mãe, estudante e trabalhadora não é um "bicho de sete cabeças", o complicado mesmo é ter que passar por cima de todos os mencionados além de muitos outros.

Posso dizer que desde a descoberta que seria mãe virei uma nova mulher, pois, sem sobra de dúvidas, a maternidade me deu mais garra para concluir este curso e encarar a tripla jornada: mãe, trabalhadora e estudante.

O presente trabalho está estruturado em três capítulos. Na primeira parte do trabalho, fazemos um resgate da trajetória da divisão sexual do trabalho e subalternização da mulher e dialogamos com bibliografias que expõem a importância do movimento feminista para o processo de politização e conscientização da mulher e inserção em novos espaços. O segundo capítulo analisa os efeitos da crise econômica, reestruturação produtiva, globalização e imposição do neoliberalismo na vida classe trabalhadora (colocando, sempre que possível, o foco na condição feminina). No terceiro capítulo sintetizamos algumas pesquisas, buscando realizar uma análise sobre a configuração do mercado de trabalho e sua relação com as desigualdades estabelecidas entre os sexos. Para tanto, dividimos o capítulo em três tópicos, o primeiro aponta as principais tendências da precarização do trabalho da mulher, o segundo expõe as características atuais da mulher no mercado de trabalho no Brasil através de

(16)

pesquisas, e o terceiro elenca algumas informações e dados relevantes em relação a amamentação entre as mulheres trabalhadoras formais no Brasil.

(17)

CAPÍTULO I

A DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO NO ÂMBITO DA ACUMULAÇÃO CAPITALISTA: NAS TRAMAS DA DOMINAÇÃO E DAS RESISTÊNCIAS

SOCIAIS

1.1 A importância do Movimento Feminista na construção do papel social da mulher

A sociedade é histórica e dialética. Isso significa que ela sofre mutações com o decorrer do tempo. Estas se dão, nas bases materiais, culturais e institucionais. Nesse complexo de mutações, encontram-se os papéis sociais correlacionados a homens e mulheres, em tempos históricos determinados. Com isso, surgiu o conceito de gênero, estreitamente vinculado aos papéis que homens e mulheres desempenham na divisão sexual do trabalho (REZENDE E PEREIRA, 2011).

Até bem pouco tempo, o local ocupado pela mulher na sociedade era restrito a esfera do lar. Sua vida era destinada à casa, filhos e marido, e caso optasse por um caminho diferente do considerado “normal”, não era bem vista pela sociedade. A mulher era considerada invisível no espaço público, não podia opinar sobre as coisas que se passavam no meio social, afinal, desde criança foi moldada para assumir algumas características e funções que lhe foram atribuídas. Cabia a ela ser zelosa, cuidadosa, organizada, cozinheira e principalmente submissa ao homem. Tais características tidas como "naturais" da mulher, foram fundamentais para legitimar sua relação de inferioridade para com o homem. Assim, suas vontades, desejos e intenções eram sufocados, de modo que as mulheres não eram consideradas capazes de desenvolver qualquer atividade fora dos patamares estabelecidos culturalmente, vinculados à divisão sexual do trabalho.

Essa situação, porém, despertou focos de resistência em prol de mudanças na posição inferiorizada da mulher, no âmbito político, social e econômico. Este movimento de inserção das mulheres em novos espaços teve

(18)

como protagonista o movimento feminista, questionador da desigualdade de gênero e propulsor do processo de conscientização da mulher. A divisão sexual do trabalho foi objeto de estudo em vários países. No entanto, em meados dos anos 70, foi na França, sob o impulso do movimento feminista, que sugiram as bases teóricas que orientaram esse conceito. Diante das conquistas que o movimento feminista proporcionou, transformações sociais importantes foram desencadeadas, pois, além de desvelar que as construções históricas, por serem sociais e culturais, são suscetíveis a mudanças, abriram as portas para ação política de movimentos e organizações.

Nesse sentido, o movimento feminista ajudou na compreensão que a desigualdade de gênero não é fruto da incapacidade intelectual da mulher, vocação para o lar ou da sua vontade de ser submissa, mas sim resultado das relações sociais construídas ao longo da história. Logo, a desigualdade não deve ser naturalizada, mas questionada, a fim de ser superada.

Historicamente, as mulheres desempenharam um papel de cuidadoras perante sua família, ocupando um patamar restrito na sociedade, marcado pela subordinação ao marido e dedicação integral a casa e filhos. Não conformadas com a relação de submissão ao homem, começaram a modificar seu comportamento em relação aos limites impostos ao gênero feminino, buscando uma abertura que as permitissem participar da sociedade, não apenas como espectadoras passivas.

Com o início da tomada de consciência tornou-se evidente que muitas atividades desenvolvidas pelas mulheres no âmbito doméstico eram efetuadas sem nenhum pagamento, pois não eram reconhecidas como trabalho, e sim como atividades naturais da mulher. Por ser considerado obrigação da mulher cuidar da família, casa e filhos, o trabalho realizado na esfera privada do lar era invisível. Segundo Hirata e Kergoat:

(19)

Foi com a tomada de consciência de uma “opressão” específica que teve início o movimento das mulheres: torna-se então coletivamente “evidente” que uma enorme massa de trabalho é efetuada gratuitamente pelas mulheres, que esse trabalho é invisível, que é realizado não para elas mesmas, mas para outros, e sempre em nome da natureza, do amor e do dever materno (HIRATA; KERGOAT, 2007. p. 597).

Essa compreensão foi fundamental para a problematização do velho conceito de família, como entidade natural e biológica, que tinha a mulher como elemento central e indispensável para o funcionamento do lar. Uma vez que esse movimento proporcionou, na França e em outros países, uma nova abordagem sobre a divisão sexual do trabalho, repensou o trabalho para além da figura do trabalhador masculino, branco e qualificado.

1.2 Considerações sobre a divisão sexual do trabalho e subalternização da mulher

Para obtermos uma compreensão mais avançada sobre a realidade das mulheres e da organização do seu trabalho na sociedade, é necessário analisar a divisão sexual do trabalho, que expressa a divisão social do trabalho, no modo capitalista de produção, entre os gêneros feminino e masculino.

Como nos lembra Hirata e Kergoat (2007), esse conceito, construído historicamente, tem como características: a designação prioritária dos homens à esfera produtiva e das mulheres à esfera reprodutiva. Assim, consequentemente, os homens também se apropriaram das funções com maior valor social adicionado (políticos, religiosos, militares etc).

Essa forma particular da divisão social do trabalho tem dois princípios organizadores: o princípio de separação (existem trabalhos de homens e trabalhos de mulheres) e o princípio hierárquico (um trabalho de homem “vale” mais que um trabalho de mulher). Esses princípios são válidos para todas as sociedades conhecidas, no tempo e no espaço. Podem ser aplicados mediante um processo específico de legitimação, a ideologia naturalista. Esta rebaixa o gênero ao sexo biológico, reduz as práticas

(20)

sociais a “papéis sociais” sexuados que remetem ao destino natural da espécie (HIRATA; KERGOAT, 2007. p. 599)

A divisão sexual do trabalho, construída historicamente, é suscetível a mudanças. Podemos enxergar claramente tais mudanças se traçarmos as transformações ocorridas na sociedade em relação ao trabalho da mulher. De acordo com Saffioti (1976), desde as fases pré-capitalistas as mulheres já desempenhavam inúmeras atividades, nos comércios, na manufatura, campo, oficinas de tecelagem e nas atividades domésticas. É importante ressaltar que neste período a família ainda era o núcleo da produção. Assim, as mulheres e crianças também trabalhavam para contribuir com o sustento da família. Com a modernidade e o advento da industrialização, houve a incorporação forçada da mulher operária no mercado de trabalho. As exigências do capital incluíram as mulheres nos espaços da produção mercantil. No entanto, a mão-de-obra feminina era mais subalternizada do que a do homem. De acordo com Rezende e Pereira:

A inserção das mulheres no mercado de trabalho, de forma efetiva, se deu com o avanço do capitalismo industrial, sendo que, é a partir daí, que são constituídas, mais definitivamente, a divisão de valores entre o mundo da produção e o mundo doméstico. Dessa forma, ao se incluírem no mercado de trabalho, apesar de serem, ainda, de modo desigual ao homem, pois, continua existindo preconceito e discriminação, as mulheres têm mais uma forma de direito adquirida. (2011, p. 6)

Além de trabalharem durante longas jornadas nas fábricas, as mulheres possuíam o salário significativamente menor do que o dos homens, visto que não eram considerados como o único meio de sustentação da lar, mas sim como complemento da renda familiar. Tal afirmativa caiu em contradição se pensarmos que por conta da I e II Guerra Mundial, 1914-1918 e 1939-1945, as mulheres foram obrigadas a assumir o sustento da casa, com os homens indo para a guerra.

A entrada das mulheres no mundo do trabalho não se deu exclusivamente pela vontade da mulher de se inserir no mercado de trabalho,

(21)

mas sobretudo pela necessidade de sustentar sua família. Todavia, a inserção nas fábricas, devido às guerras, abriu o caminho para que as mulheres pudessem expandir e desenvolver novas condições de sociabilidade fora do espaço restrito do lar. Porém, a ocupação nos espaços de produção mercantil não fez com que a mulher se desvinculasse dos afazeres domésticos, que continuaram a ser inteiramente de sua responsabilidade. De acordo com Velloso:

Devido a guerra, a mulher ocupou o mercado de trabalho de forma mais rápida, sem abdicar das funções domésticas, e demonstrou, também em condições adversas, sua capacidade para atuar no âmbito público, realizando com eficiência e eficácia todas as tarefas que lhe fossem direcionadas. Finalizada a guerra, muitas mulheres foram dispensadas de seus trabalhos, ficando forçadas a retornar ao âmbito privado do lar. Entretanto, algumas mulheres resistiram, recusando-se à dedicação exclusiva dos antigos serviços domésticos, e aos poucos foram reingressando ao mercado de trabalho (VELLOSO, 2013. p. 21).

A divisão sexual do trabalho baseia-se no patriarcalismo, que é um modo de organização e estruturação da sociedade responsável por promover a desigualdade entre os gêneros feminino e masculino. A cultura patriarcal ainda está muito presente, em pleno século XXI, mesmo após as conquistas históricas do movimento feminista. A dominação masculina ainda incide sobre a vida das mulheres, sendo a inserção no mercado de trabalho uma das formas mais claras de evidenciar as desigualdade entre os gêneros.

Segundo Bruschini e Lombardi (1999), o trabalho feminino possui dois pólos. O primeiro deles concentra cerca de 40% da força de trabalho da mulher, constituindo as posições mais precárias e menos favoráveis quanto ao vínculo de trabalho, à remuneração, proteção social e condições de trabalho no geral.

São ocupações nas quais a presença das mulheres tem se dado tradicionalmente, como o trabalho doméstico, as atividades sem remuneração e as atividades de produção para consumo próprio e do grupo familiar. Inclui-se também, entre as continuidades, o elevado contingente de mulheres em alguns tradicionais nichos femininos, como a Enfermagem e o Magistério, para citar apenas alguns exemplos

(22)

Já no segundo polo são encontradas as ocupações mais valorizadas, normalmente de nível superior, onde as condições de trabalho são melhores, por possuírem um nível mais elevado de formalização e proteção. São exemplos: Medicina, Arquitetura, o Direito e Engenharia; também é o caso de das ocupações técnicas, científicas, artísticas e assemelhadas. É valido destacar que as ocupações do segundo pólo, até bem pouco tempo, eram ocupadas por profissionais do sexo masculino. Segundo a pesquisa de Bruschini e Lombardi, 16% das ocupadas integram o segundo grupo, além disso:

(...) ele se situa em terceiro lugar entre os grupos de ocupações nos quais a presença feminina é mais significativa. Precedem-lhe, por ordem de importância, aqueles nos quais a presença das mulheres já é bastante tradicional: as ocupações da prestação de serviços e da área administrativa, que absorvem, respectivamente, 29,8% e 16,8% da força de trabalho feminina (1999. p. 85)

Os dados da pesquisa de Bruschini e Lombardi (1999) também revelam que, apesar dos avanços em relação ao nível de escolaridade das mulheres, o serviço doméstico, integrante do primeiro grupo, ainda absorve 1/4 da mão de obra feminina. Em outras palavras, o capitalismo se apropria das mulheres pertencentes às camadas sociais proletarizadas, com um nível de escolaridade menor, para explorá-las com mais força e de forma mais evidente.

Apesar de todos os avanços que o trabalho doméstico obteve nos últimos anos, ainda assim as trabalhadoras domésticas trabalham com uma carga horária mais elevada, remuneração baixa e condições de trabalho mais desfavoráveis.

Além do mais, mesmo com maior autonomia do trabalho feminino e inserção em ocupações tidas como naturalmente masculinas, a mulher ainda sofre discriminação simplesmente pelo fato de ser mulher. Esta se acentua, caso perpasse por outros tipos de discriminação, como: étnico-racial e de orientação sexual diversa da predominante. Além disso, mesmo possuindo os mesmos

(23)

postos de trabalho do que os homens, as mulheres ainda continuam ganhando menos. A diferença salarial talvez seja o tipo de discriminação mais evidente, e por isso é um dos fatores mais apontados em diversas pesquisas.

De acordo com Bruschini e Lombardi:

Em nossa sociedade, os afazeres domésticos são tidos como responsabilidade da mulher, qualquer que seja sua situação social, sua posição na família e trabalhe ela ou não fora do lar. Quando esses afazeres são realizados pela dona-de-casa, no âmbito da família, eles não são considerados como trabalho e são computados pelas estatísticas como inatividade econômica. Entretanto, quando as mesmas atividades são realizadas por uma pessoa contratada para esse fim, mediante remuneração em bens ou espécie, elas passam a ser computadas como trabalho, sob o rótulo de serviço ou emprego doméstico (1999. p. 70).

Já de acordo com Freitas:

(...) nota-se, assim, que o caminho percorrido não levou a uma igualdade plena entre os sexos, pois a conciliação do trabalho doméstico com o profissional permanece sendo responsabilidade das mulheres, seja exercendo ou contratando outras mulheres para realizar o primeiro. (RESENDE E PEREIRA aput FREITAS, 2002, p. 19).

Apesar dos avanços, as recentes mudanças na sociedade contemporânea ainda não foram suficientes para que as inserções materiais e culturais desvinculassem a mulher dos afazeres domésticos e do cuidar dos filhos. Nesse sentido, o acúmulo de funções da mulher faz com que a ideia de luta pela igualdade de gênero englobe os seus diversos papeis na sociedade, ou seja, a questão de igualdade não está relacionada restritamente ao mercado de trabalho, uma vez que os afazeres domésticos ainda são considerados como de responsabilidade "natural" da mulher.

(24)

CAPÍTULO II

APONTAMENTOS SOBRE A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA, CRISE ECONÔMICA E NEOLIBERALISMO

Segundo Filgueiras (1997), em um plano mais geral, podemos destacar três fenômenos determinantes para a precarização do trabalho e o desemprego em escala mundial: o neoliberalismo, a reestruturação produtiva e a globalização. Por isso, é importante analisá-los.

A economia capitalista adquiriu grande impulso com o modelo fordista de produção, baseado na produção em massa e grande exploração da mão de obra humana. Dentre outras características, o modelo visava o controle do Estado na economia, especialmente através da social democracia e keynesianismo, como forma de garantia de rendimentos ao trabalhador. A produção em massa passou a exigir o consumo em massa, o que implicava na necessidade de aumentar os salários. Assim, uma pequena parte dos tributos adquiridos com a produção era redistribuído entre os trabalhadores.

De acordo com Filgueiras (1997), no plano político e social, a inclusão social dos trabalhadores se expressou através de um pacto entre capital e trabalho, comandado por partidos sociais-democratas de base operária, resultando na criação do famoso "Welfare State" (estado de bem-estar social). Importantes conquistas foram alcançadas, mas a partir de uma “administração tecnocrática” da luta de classes, que preservou as bases da acumulação capitalista.

Assim, durante pelo menos 25 anos os sucessivos governos sociais-democratas construíram um capitalismo "organizado", tendo por base as políticas macroeconômicas de cunho neokeynesiano, de natureza anti-cíclica, que levaram o Estado a aumentar ou diminuir seus gastos de acordo com o movimento econômico (FILGUEIRAS, 1997, p. 904).

(25)

Podemos destacar que o crescimento do movimento operário, somados a guerra fria e a “ameaça do comunismo”, possibilitou o fortalecimento da representação da classe trabalhadora através dos sindicatos. Em suma, o fordismo não significou apenas um novo modo de produção, afinal, mesmo objetivando exclusivamente a produção em massa e o lucro, sua existência implicava diretamente em uma nova organização da sociedade.

(...) o fordismo deve ser entendido, num sentido mais amplo, como um “novo modo de vida”, que extrapola os limites da fábrica, implicando na construção de um “novo homem”, adaptado às exigências e à disciplina do sistema fabril organizado na forma de grande indústria (FILGUEIRAS, 1997. p. 9004).

A chamada reestruturação produtiva, cujo marco temporal é a década de 70, diz respeito a transformações profundas no âmbito da produção e do trabalho. Nesse período, surgiu o modo de organização de produção capitalista japonês toyotista - oriundo das novas possibilidades tecnológicas do momento. Este, ao contrário do modelo rígido fordista, que produzia em massa e estocava sua produção, produzia pontualmente. Além de uma nova divisão do trabalho, vincula-se à reestruturação produtiva o ajuste neoliberal e, por consequência, um novo padrão de relação da sociedade civil e Estado.

Ademais, o toyotismo revolucionou as etapas da produção, a partir da introdução da tecnologia microeletrônica. A fabricação da mercadoria passou a ser baseada na produção apenas do necessário para atender a demanda , a partir de uma estrutura mais horizontalizada que explora a multifuncionalização do trabalhador. Esta técnica potencializou o controle, a precisão e qualidade da produção. Em contrapartida, por ser um modo de produção vinculado a tecnologias capital-intensivas que poupam a mão de obra, acentuou a subcontratação de trabalhadores, a terceirização e o desemprego em massa.

(26)

As principais mudanças que se deram em relação as técnicas de racionalização são os chamados just in time e o kanban. São técnicas que tem como objetivo produzir apenas o necessário em determinado momento, ou seja garantir o estoque mínimo e aceleração na circulação das mercadorias.

Um pequeno grupo de trabalhadores multifuncionais ou polivalentes opera uma ilha de máquinas automatizadas, num processo de trabalho intensificado, que diminui ainda mais a porosidade no trabalho e o desperdício. Diminui também a hierarquia no chão de fábrica, já que o grupo assume o papel de controle e chefia (BEHRING, 2013, p.35).

Nesse caminho, destaca-se também o CCQ (Círculo de Controle de Qualidade), que de acordo com Antunes (2002):

(...) Grupos de trabalhadores são instigados pelo capital a discutir seu trabalho e desempenho, com vistas a melhorar a produtividade das empresas, convertendo-se num importante instrumento para o capital apropriar-se do savoir faire intelectual e cognitivo do trabalho, que o fordismo desprezava (ANTUNES, 2002, p. 10).

Na verdade trata-se de mais uma forma do capitalismo “lapidar” o trabalhador, a fim de submetê-lo a uma rotina de trabalho ainda mais intensa, voltada para ampliação da produtividade.

Segundo Filgueiras (1997), a reestruturação produtiva pode ser vista por dois aspectos. O primeiro se expressa na reorganização e reconversão de setores industriais, caracterizados por enormes investimentos em setores de ponta (informática, química fina, novos materiais, biotecnologia, telecomunicações), e modernização dos setores dinâmicos (automobilístico, máquinas, equipamento e petroquímica). Já o segundo, é referente a um novo paradigma tecnológico e organizacional, através da introdução de novas tecnologias (automação informatizada) e mudanças de gestão e organização do trabalho.

(27)

Em relação ao primeiro e segundo aspectos, podemos destacar a automação dos processos industriais, no contexto globalizante e neoliberal, que além de se afirmar como um mecanismo importante para a construção de um parque industrial mais moderno, tem sido cada vez mais influente para o crescimento e aceleração do processo de automação nas indústrias, o que implica no aumento da concorrência intercapitalista, que não pode ser confundida com “livre-concorrência”. Nesse sentido, existem vários desafios referentes ao processo de modernização das empresas, que não são apenas tecnológicos, mas também sociais. Afinal, a crescente substituição da mão de obra humana por máquinas, é um fator que implica diretamente no crescimento do desemprego estrutural.

Segundo Antunes (2002), a crise do padrão de acumulação taylorista/fordista foi uma consequência natural e/ou expressão da crise estrutural do capital, enfrentada até os dias atuais. Dessa forma, o processo de reestruturação produtiva do capital tem em vista recuperar sua rentabilidade, e dar sequencia ao seu projeto de dominação social. O autor (2002), afirma ainda que o vigente padrão de acumulação flexível articula um conjunto de fatores de continuidade e descontinuidade. Este novo padrão produtivo, distinto do anterior, baseia-se numa produção tecnológica e organizacional avançada, que se desenvolve através de uma articulação entre o avanço tecnológico e descentralização da produção, o que implica na terceirização e desconcentração da produção. A flexibilidade supõe uma qualificação alta, forte competição para a entrada no mercado de trabalho, perda dos direitos trabalhistas, substituição da mão de obra humana por máquinas e retrocesso na luta sindical. A rigor, as novas técnicas de gestão que supostamente tendem a valorizar o trabalhador, em verdade, surgiram para re-tomar o clico reprodutivo de dominação.

Utiliza-se de novas técnicas de gestão da força de trabalho, do trabalho em equipe, das "células de produção", dos "times de trabalho", dos grupos "semi-autônomos", além de requerer, ao menos no plano discursivo, o "envolvimento participativo" dos trabalhadores, em verdade uma participação manipulatória e que preserva, na essência, as condições do trabalho alienado e estranhado (ANTUNES, 2005, p. 6).

(28)

Antunes (2002) também alega que existe um culto, no plano ideológico, pregador do individualismo exacerbado, que caminha contra algumas formas de solidariedade e atuação coletiva e social. Todavia, é necessário salientarmos, que o individualismo no chamado pós-modernismo, ao contrário do modelo fordista/taylorista, é velado. Prega-se e preza-se por um trabalho em equipe, coletivo, preocupado com questões ambientais e sociais, mas, em contrapartida, as exigências dessa nova fase apontam para o trabalho especializado, multifuncional e polivalente, características que estão elevando o grau de competição: o que sugere uma combinação da especialização e trabalho desqualificado.

Opondo-se ao contra-poder que emergia das lutas sociais, o capital iniciou um processo de reorganização das suas formas de dominação societal, não só procurando reorganizar em termos capitalistas o processo produtivo, mas procurando gestar um projeto de recuperação da hegemonia nas mais diversas esferas da sociabilidade. O fez, por exemplo, no plano ideológico, através do culto de um subjetivismo e de um ideário fragmentador que faz apologia ao individualismo exacerbado contra as formas de solidariedade e de atuação coletiva e social (ANTUNES, 2002, p.1).

Para Alves (2012), a chamada nova precariedade do trabalho, consequência do processo de reestruturação produtiva do capital e do

neoliberalismo, acarretou em mudanças significativas no trabalho e na vida da classe trabalhadora. Este cenário desencadeou novas dimensões de

precarização do trabalho, como a flexibilização da jornada de trabalho e aumento de contratos temporários. Em geral, os novos ambientes de trabalho são automatizados. Com isso, os trabalhadores devem incorporar novas habilidades para o exercício do trabalho. Também devem ser polivalentes, conforme já ressaltado, pois além de disputar as vagas de emprego com outros trabalhadores, vivem na tensão de serem substituídos por máquinas. Em outras palavras, o trabalhador tem que dar conta de ser flexível, para acompanhar as novas exigências operacionais do mercado.

(29)

Além do mais, muitas empresas passam a se referir ao trabalhador como "colaborador" (ANTUNES, 2008), promovendo um discurso ideológico que esconde a precariedade do trabalho. O que se espera do trabalhador é que ele seja flexível, proativo, multifuncional e se dedique exclusivamente à empresa. Nesse sentido, tendo em vista o discurso empresarial, o convite para fazer horas extras de trabalho se torna praticamente uma imposição.

Nesse processo de precarização, destacam-se, também, os impactos prejudiciais à saúde do trabalhador (ALVES, 2012), pensando no desgaste mental do trabalho, nas pressões sofridas no dia a dia e na insegurança no emprego. Uma outra forma de manipular o trabalhador está voltada para a existência de uma suposta “valorização da condição humana”: os chamados empowerment, isto é, “gestão participativa”, participação nos lucros, remuneração flexível, participação acionária, inversão da pirâmide, etc. Embora esses dispositivos contenham, em alguma medida, o resultado de algumas mobilizações e lutas sindicais, o fato é que, em geral, são instrumentalizados para velarem a exploração e alienação características do sistema capitalista.

Presenciamos uma metamorfose no mundo do trabalho, que é um dos componentes importantes de um processo mais amplo de globalização. Para Doher; Bastos e Behring (1998), a globalização não promove uma homogeneização do espaço econômico, pelo contrário, acentua o desenvolvimento desigual. Filgueiras (1997) destaca que para alguns autores o processo de globalização é apenas uma consequência do movimento que sempre esteve presente no capitalismo, e com isso, já havia uma forte tendência à expansão. Afirma, também, que para outros, a globalização, é um fenômeno totalmente novo, que está formando uma "sociedade global". Já o próprio autor se apóia na ideia que nesse processo podemos identificar tanto o aprofundamento das características constitutivas do capital, bem como a radicalização deste "novo processo", e acirramento de todas as suas tendências imanentes.

(30)

(...) Pode se observar que a competição intercapitalista, tendo por arma as inovações de todos os tipos, torna-se cada vez mais feroz e de fato mundializa-se, quase que sem limites impostos pelas barreiras nacionais; que acelera-se fantasticamente o desenvolvimento das forças produtivas e cresce o volume e o valor dos meios de produção por trabalhador; que intensifica-se a concentração e a centralização de capitais, com o domínio mundial de poucas empresas gigantescas em cada ramo de produção; que a esfera financeira assume um papel preponderante no conjunto do funcionamento do sistema, com um superdimensionamento da “acumulação fictícia”, num ambiente cada vez mais instável e com crescimento da incerteza e do risco; e, por fim, que potencializa-se a possibilidade da crise e os seus efeitos destrutivos em escala planetária (FILGUEIRAS, 1997, p. 18).

Em outras palavras, o mundo tornou-se “unificado”, mas na medida das novas alterações no mundo do capital. A produção em escala mundial, a internacionalização do dinheiro, dos produtos, das informações, do crédito nos transmite a falsa ideia de homogeneização, quando na verdade se tem um complexo de mutações efetivamente excludentes e responsáveis por promover a desigualdade. Proveniente do jogo forçado da ideologia dominante, no geral as transformações tecnológicas são vistas como extremamente positivas – ideologia compatível com a vigente sociedade consumista. Se, de fato, por um lado, há avanços muito significativos, não podemos desconsiderar a dimensão contraditória do progresso tecnocientífico, e o advento de algumas tecnologias apocalípticas, como é o caso da bomba atômica. Assiste-se o desemprego crônico, aumento da pobreza, fome e desabrigo, precarização das políticas sociais e redução da qualidade de vida. É praticamente impossível enumerar todas as mazelas trazidas com a universalização do mercado que inclui o avanço das forças produtivas.

Ao longo dos anos, as profundas transformações causadas pela dinâmica do capital, após a década de 70, com a crise do paradigma fordista, foram desencadeando um crescente conflito entre as classes. Nesse contexto, instaurou-se a doutrina neoliberal, que se tornava cada vez mais forte. Este monstruoso fenômeno político e ideológico tornou-se, em duas décadas, um guia seguido por governos e partidos de quase todo o ocidente, provocando expressões culturais individualistas e privatistas no âmbito da sociedade civil.

(31)

Evidenciava-se um novo modo de se pensar e entender a vida em sociedade. No entanto, é necessário destacar que a construção desse pensamento, atualmente hegemônico, não se deu de forma imediata. Vale destacar que o liberalismo nos séculos XVIII e XIX, nasceu com o surgimento e desenvolvimento do capitalismo e da ordem burguesa, e se opôs ao chamado "Estado Absolutista". Tal doutrina assumiu:

(...) a feição de um ataque à intervenção do Estado em geral, que se expressa na sua tese principal, qual seja, a de que o indivíduo se caracteriza por ser a célula elementar de constituição da sociedade, cuja iniciativa e ação não podem ser contrariadas pelo Estado, tendo o mesmo, portanto, direito à total liberdade econômica e política (FILGUEIRAS, 1997, p. 898).

Apesar da oposição e rejeição ao Estado, considerado um entrave à liberdade do capital, não houve o fim de sua intervenção econômica e tampouco um posicionamento neutro mediante à disputa de interesses políticos e econômicos. De igual modo, o "Novo Liberalismo", também não está marcado pelo rompimento do Estado na intervenção da economia, e sim pautado no novo direcionamento dessa intervenção. Para tanto, além do não rompimento com o Estado, existem mais três elementos comuns ao liberalismo e neoliberalismo: o individualismo, político e social; o princípio de que o mercado deve ser o único regulador da economia; e a afirmação da “democracia”. (FILGUEIRAS, 1997)

O receituário neoliberal implicou profundos cortes de verbas, privatizações e a imposição de uma ideologia mercantil que influencia diretamente na forma e no direcionamento do conhecimento produzido em todas as esferas. Tal quadro é propositalmente funcional ao sistema capitalista, na medida em que dificulta e, na maior parte das vezes, aborta a possibilidade da articulação da classe trabalhadora, a fim de diminuir a possibilidade de criação e desenvolvimento de instrumentos e mecanismos que possibilitem a expansão da democratização e ampliação dos direitos sociais. São boicotadas as possibilidades de emancipar a existência humana da lógica do lucro e processar

(32)

uma constituição de leituras de mundo capazes de potencializar a transformação estrutural da sociedade.

Todo o movimento, pois, causado pelo processo de descentralização produtiva, neoliberalismo e globalização, resultam em novas formas de exploração e desigualdades, dentre elas as de gênero.

Alves (1999), salientando a fragmentação de classe (cujos principais exemplos são a proliferação da subproletarização tardia e do desemprego estrutural) indica:

(...) um novo (e precário) mundo do trabalho, [ na qual] desenvolve-se um novo salariato, que poderiamos denominar de salariato tardio. São novas (e cruciais) provocações do capital para o mundo do trabalho organizado. É a partir daí que emerge uma nova crise do sindicalismo moderno, de cariz estrutural, com múltiplos desdobramentos sócio-históricos (na verdade, é uma crise dos “intelectuais orgânicos” da classe, sindicatos e partidos socialistas, capazes de desenvolver a consciência necessária de classe) (ALVES, 1999, p. 66).

Behring (2003), incorporando alguns estudos de Mattoso (1996) quanto à síntese das mudanças contemporâneas no mundo do trabalho, traça um painel que articula a relação entre a corrosão da seguridade e insegurança no mercado de trabalho; aumento do número de contrato temporários e subcontratação; flexibilização dos salários e legislações trabalhistas; queda nos gastos sociais; queda nos gastos fiscais das empresas e diminuição da representação sindical. Segundo a autora, esses processos permanecem abalando de forma dilacerante a classe trabalhadora, promovendo, sobretudo, mudanças na forma de sua organização política. Assiste-se a queda nos índices de sindicalização, e eleva-se a dificuldade de eleva-se organizar enquanto claseleva-se (DOHER; BASTOS; BEHRING, 1998).

Para Behring (2003), as metamorfoses no mundo do trabalho, perpetradas pelo neoliberalismo, são acompanhadas pelo processo mundialização da economia e de acumulação mundial de um regime

(33)

predominantemente financeiro. Em outras palavras, estabeleceu-se uma nova relação entre o Estado, sociedade, bancos e economia. Behring (2003 apud Chesnais 1996 e 1997) aponta para o crescimento do Investimento Estrangeiro Direto (IED) nos serviços financeiros, mais pontualmente bancos e seguros. Dito isto, já que o comércio mundial e sua capacidade de investir está vinculado às empresas transnacionais, discorre sobre as estratégias dessas empresas - que tem em seu cerne lucrar, crescer e durar -, dais quais se destacam: novas formas de investimento, por meio de acordo e cooperações com outras empresas, participações minoritárias para acompanhar o processo de gestão, como ainda realizar investimentos com poucos riscos e muitos ganhos diretos e indiretos para acompanhar futuros processos de valorização.

Mota (2009) oferece elementos importantes, ao incorporar as ideias de Harvey (2004). Ressalta que a década de 80, centro do processo de restauração do capitalismo, foi marcada por um duplo movimento: a redefinição das bases da economia mundial com a reestruturação do capital e mudanças no mundo do trabalho; a ofensiva ideopolítica necessária para a construção da hegemonia do capital (MOTA 2009 apud HARVEY 2004).

Para a autora (2009) esse quadro pode ser identificado historicamente na medida em que percebe-se o apontamento para: a reestruturação dos capitais, que acontece especialmente através das fusões patrimoniais (relação entre o capital industrial e financeiro) e com a formação de oligopólios globais decorrentes de processos de concentração e centralização do capital; através das dimensões do mundo do trabalho e sua nova organização e divisão em moldes internacionais; outro aspecto é em relação a reconfiguração do aparato estatal, no que diz respeito as ideologias e práticas que constituem um novo arsenal de mecanismos ideopolíticos e novas requisições para a intervenção do Estado.

Por fim, considerando todos os elementos abordados até então, dedicaremos-nos a uma exposição breve da dinâmica de crise estrutural do capitalismo que, segundo Carvalho (2002, p.19) adquire força de "lei social".

(34)

Embora as leis que regem a economia, a sociedade e a história não sejam leis naturais - nem, como as leis da própria Natureza, absolutas -, mas leis sociais, da mesma forma não precisamos registrar numa série estatística todas as crises cíclicas vividas pelo capitalismo para concluirmos que elas vêm à tona não por mera probabilidade, mas por força de uma lei social (CARVALHO, 2002, p. 19).

Para o autor (2002), como ocorre com toda a totalidade, o modo de produção capitalista é regulado por leis básicas, das quais a lei da crise. Essa lei pode ser assim representada pelo fato da força da expansão persistente da elevação da composição orgânica do capital (determinada pelo valor dos meios de produção e força de trabalho), que é o aumento do "trabalho morto" em detrimento do "trabalho vivo". Para aumentar seus custos o capitalista introduz novas tecnologias - processo esse que conduz tendencialmente a superprodução, o desemprego, e por consequência, a queda da taxa geral (média) de lucro da economia. Tal queda, em determinado momento, é minimizada pela ação de contratendências disparadas no contexto do próprio processo de produção do capital. Todavia, quando a eficiência dessas contratendências se esgota, a taxa de lucro cai, gerando a crise de superprodução e, dessa forma, a crise completa o seu ciclo.

Atingida tal situação, a massa de mais-trabalho, agora na forma de capital-dinheiro, que não pode ser reconvertida em capital produtivo (o único que cria e reproduz valor e a valorização do valor), migra para a especulação – que vai dar na crise financeira. Nesse estágio, os dois momentos da crise se ligam, determinam-se mutuamente, formando uma crise mais geral. A crise completa o seu ciclo, até que surja de novo uma recuperação, um boom, o qual, pela ação dos mesmos mecanismos e processos, vai dar lugar a uma crise posterior (CARVALHO, 2002, p.20).

Já que Carvalho (2002) defende a existência de leis sociais e afirma que as crises do capitalismo são cíclicas, é primordial delimitamos qual crise vive-se hoje. Sobretudo o autor destaca que depois da crivive-se dos anos 70 (1974/75), a crise deixou de ser meramente cíclica e tornou-se uma crise sistêmica, universal e estrutural, o que não significa que a estrutura da lei formulada por Marx tenha se

(35)

esgotado, mas sim que as contradições da própria crise nas últimas quatro décadas a diferenciaram das anteriores.

O movimento econômico que vem do final dos anos 60 até os dias atuais ganhou mais profundidade. Ora, se combinarmos a queda persistente das taxas de produtividade do trabalho por cerca de quarenta anos seguidos, com a desaceleração da produtividade e queda da taxa de lucro, onde vão sendo esgotadas todos os tipos de contra-tendências, (tais como o rebaixamento dos custos dos elementos do capital constante e dos salários; socorros políticos; doações e transferências de recursos e elementos de infra-estrutura, flexibilização das relações de trabalho etc.) perceberemos que a movimentação da atual crise não foi como as das outras crises cíclicas, pois se deu como uma única e monumental crise de superprodução, solidificando-se também, como uma gigantesca crise financeira, até constituir-se numa única, prolongada e universal crise estrutural (CARVALHO, 2002).

Durante as últimas décadas até os dias atuais, presencia-se uma série de transformações desencadeadas pela chamada crise estrutural do capital. Carvalho (2002) incorpora o estudo de Mandel - que se deu através do livro A Crise do Capital - para diferenciar o novo cenário de crise assistido das crises cíclicas parciais que se deram até os anos 70.

Em seu livro A Crise do Capital, Mandel aponta, desde que se formou o mercado mundial, em 1825, até os anos 70 do século XX, 20 crises, sendo 19 delas crises cíclicas parciais (atingindo um ou apenas alguns países de uma só vez) e uma, a de 1974/75, uma crise sistêmica, uma crise sincronizada à escala mundial. As 19 crises cíclicas mencionadas por Mandel são as dos anos de 1825, 1836, 1847, 1857, 1866, 1873, 1882, 1891, 1900, 1907, 1913, 1921, 1929, 1937, 1949, 1953, 1958, 1961 e 1970. A crise sincronizada à escala mundial, ou seja, aquela que atingiu praticamente o mundo todo, é a que tem início nos anos que vão de 1974 a 1975 – que na verdade perdura até hoje, a qual, na análise de Mészáros, é vista como uma crise estrutural (CARVALHO, 2002, p. 21).

Carvalho (2002) observa que no estudo de Mandel os espaçamentos entre os anos de detonação de cada crise e o ano de detonação da crise seguinte

(36)

foram, respectivamente, de 11, 11, 10, 9, 7, 9, 9, 9, 7, 6, 8, 8, 12, 4, 5, 3, 9 e 4 anos. Há no seu raciocínio - descontando-se as exceções da crise de 1937-1949 (12 anos) e de quatro crises com espaçamentos de 9 anos - a ideia de que quanto mais se aproxima dos tempos atuais, a tendência geral é de que as crises apresentem intervalos de menor duração entre si (culminando com intervalos de 5, 4 e 3 anos), e se tornem universais.

Para Carvalho (2002), quando se analisa a situação de 1974/1975 até os dias atuais, perceberemos a existência de uma única e longa crise de superprodução - que se fundiu também, com uma longa e profunda crise financeira - diferente das crises cíclicas anteriores, que eram consideradas fenômenos normais ao sistema, já que sempre retornavam ao seu ponto inicial de equilíbrio para então retomar o seu ciclo.

(...) notaremos claramente que o intervalo da crise de 1974/ 75 até uma outra não foi concluído simplesmente porque o conjunto da produção capitalista mundial não foi capaz de retomar a elevação da taxa média de lucro e nem de absorver a grande margem de capacidade ociosa. Fica então evidente que, no bojo de uma mesma e prolongada crise estrutural da economia capitalista em seu conjunto, houve apenas as baixas recessivas internas de 1974/75, 1976/1982, 1984/1986, 1988/1990 e de 1997 até hoje, com mini-intervalos de 1, 2, 2 e 7 anos, acompanhadas de minipicos também de apenas 1, 2, 2 e 7 anos de duração. Novamente, com exceção do pico de 1990/97, os demais booms parciais foram aproximadamente de 1 e 2 anos (CARVALHO, 2002, p.21).

Para Carvalho (2002), além do que se analisou em relação aos picos internos de curtíssimos prazos entre as crises, outros aspectos demonstram claramente que seguimos numa grande crise de superprodução, que já dura mais de 30 anos. Para aprofundar sua análise, o autor extraiu do livro do economista argentino Jorge Beinstein alguns dados - que têm como fonte instituições como o FMI, o Banco Mundial, a OCDE, a Business Week e o US Bureau of Labor Statiscs - que comprovam e expõe um outro aspecto fundamental da chamada crise de superprodução.

(37)

Os dados analisados pelo autor (2002) além de revelar a queda da taxa de crescimento do PIB mundial - entre 1970 e 1999, num espaço de tempo de cerca de 30 anos, também revelam a queda das taxas de crescimento do PIB real do G7 entre os anos de 1961 e 2000, comprovando que os sete maiores países do mundo encontram-se inseridos na mesma crise com cerca de 40 anos de duração; a queda da taxa de crescimento do produto das últimas quatro décadas dos EUA (Estados Unidos da América) e do Japão; e uma outra tendência definitiva para a configuração de uma longa crise de superprodução, que é a queda persistente das taxas de produtividade do trabalho por cerca de 40 anos seguidos.

Agora, se combinarmos as revelações chegaremos à ineludível constatação de que, de fato, o mundo experimenta uma crise capitalista de longa duração, muito distinta das crises cíclicas anteriores. Movimentos de que da do produto-valor, combinados com aumento da capacidade ociosa da economia e com desaceleração sistemática da produtividade, só podem dar um só resultado: queda da taxa de lucro (CARVALHO, 2002, p. 23).

Com base nas argumentações de Carvalho (2002), e pela conjunção dos aspectos, fica explícito que a inicial crise de superprodução - que se tornou uma crise financeira e estrutural -, agora está ampliada numa escala global.

É, em uma palavra, a totalidade da economia mundial que sofre, por todos esses anos, o caráter de uma única crise de superprodução: queda da produção, do nível de capacidade instalada mobilizada e da taxa de lucro, em cujo vórtice vão sendo esgotados todos os tipos de contra-tendências – dos mais clássicos (como o rebaixamento dos custos dos elementos do capital constante e dos salários) aos mais recentes (como os inusitados socorros políticos dos Estados às referidas economias com ondas sucessivas de incentivos e subsídios, doações e transferências, a vários títulos, de recursos e elementos de infra-estrutura a grupos capitalistas, a famigerada “flexibilização das relações de trabalho”, etc.) (CARVALHO, 2002, p. 24).

De outro ângulo, é essencial delimitarmos a crise à qual estamos nos referindo. Trata-se de uma crise universal, sistêmica e estrutural de ordem capitalista contemporânea que se deu particularmente através do novo cenário

(38)

constituído a partir da década de 1970, mudando a estrutura das crises advindas dos períodos anteriores. Afinal, conforme apontado ao longo do capítulo, a década de 70 é marcada por um período de exaustão da produção capitalista mundial e transição do modelo fordista/keynesiano para o novo modo de produção toyotista - período no qual o capital começou a dar sinais de esgotamento, especialmente através da queda da taxa de lucro, crise financeira e crise do Welfare State.

Decorre que na nova era do capital mundializado as relações de trabalho se tornaram mais precarizadas, na medida que a introdução de novas tecnologias tem gerado uma considerável redução da mão de obra empregada. Sendo a consequência mais perversa desse movimento um evento que não é novidade - o fato dos trabalhadores viverem sob domínio do capital.

Apesar do que foi apresentado ao longo do capítulo, é fundamental acrescentamos que a crise afetou de forma substancial a classe trabalhadora e o que foi perdido desde sua eclosão jamais foi alcançado. A fase mais gloriosa da classe trabalhadora (se é que existiu) que foi o momento de sua expansão e aquisição de direitos e ganhos sociais - ainda que em troca tenha sido anulada a possibilidade de qualquer ação política que se colocasse como negação da dominação de classe - foi deteriorada com a eclosão da crise e consequentemente com a introdução de estratégias referentes à globalização, ao neoliberalismo e às necessidades de acumulação e reorganização do capital.

Eis que agora com a elevação da composição orgânica do capital e o processo de financeirização da economia assiste-se a sofisticação das velhas formas de exploração, com novas maneiras de cooptar a classe trabalhadora, na medida que a introdução de novas tecnologias potencializam a extração da mais valia. Com o recrudescimento das ações de cunho neoliberal tem-se o desmonte dos direitos trabalhistas (em especial, através da terceirização), a flexibilização do mercado de trabalho e das leis trabalhistas, o enfraquecimento dos sindicatos, aumento da informalidade, prolongamento da jornada de trabalho, arrocho salarial e desemprego estrutural.

(39)

Nesse modo de produção, a pobreza é a condição necessária para a riqueza, afinal a única coisa que importa para o capital perpetuar é a sua acumulação. E, assim, intensifica-se a exploração da classe trabalhadora e assisti-se o aumento de todas as mazelas inerentes a este sistema.

(40)

CAPITULO III

CONSIDERAÇÕES SOBRE A PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NO MERCADO DE TRABALHO NA ATUALIDADE

3.1 Tendências da precarização do trabalho da mulher

Conforme já debatemos, a crise econômica elevou de forma substancial o índice de desemprego em diversos países.

Com a incorporação de tecnologias microeletrônicas e robóticas e o aumento do setor de serviços, decorrentes da reestruturação produtiva do capital, ocorreu a proliferação de novos postos de trabalho marcados pela precarização, como o telemarketing e os call centers, junto a manutenção de outros postos tradicionais, como o têxtil, caracterizado por concentração de trabalho, especialmente feminino.

Hirata (2011), ao tratar sobre o processo de enraizamento dessas novas condições de trabalho, identifica o surgimento dos chamados call centers, setor que se expandiu nos anos 2000 e até hoje está bem predominante, como um trabalho limitado no tempo, de transição, por vezes temporário, o que contribui para o abuso na intensificação do trabalho, baixos salários, e forte exploração da mão de obra, especialmente de mulheres e jovens.

Freitas (2010) acrescenta mais alguns elementos referente aos call centers:

O teleatendimento é um setor caracterizado pelo trabalho part-time, escalas irregulares de trabalho, altos índices de esgotamento físico e mental e baixa remuneração. Nestes serviços, a força de trabalho feminina é majoritária, justificando-se, no setor empresarial, pelo fato de que as construções sociais acerca do papel da mulher na sociedade atendem às demandas de qualificação deste setor (FREITAS, 2010 p.01)

(41)

Segundo a autora (2010), o teleatendimento é um exemplo nítido de uma profissão que se configurou como "tipicamente feminina", no qual as habilidades adquiridas socialmente pelas mulheres - dentro do âmbito doméstico - são consideradas compatíveis com as exigências do mercado. Destaca também que os mecanismos utilizados neste tipo de trabalho, como o controle das pausas, a supervisão, as metas impostas, e o impedimento de se deslocar e de se comunicar com os outros colegas resultam em uma síntese de consequências negativas para com a saúde física e mental do trabalhador.

Outro exemplo trazido por Hirata (2011) é o do care, que está estreitamente vinculado ao processo de migração internacional das mulheres que trabalham no cuidado de idosos, crianças, doentes e deficientes. Para a autora (2011), as migrações internacionais femininas é um dos fatores que agravam o movimento de precarização do trabalho das mulheres, já que, ao realizar esse tipo de trabalho, normalmente não possuem contratos que garantam todos os tipos direitos.

Num contexto de crise, analisando a realidade dos anos 90, destaca-se o crescimento do emprego feminino simultâneo ao crescimento do emprego precário e vulnerável. Além de enumerar e exemplificar algumas das novas tendências do processo de precarização do trabalho, conforme mostrado, apresentamos uma interessante análise sobre algumas controvérsias da globalização em relação a qualidade e quantidade dos empregos femininos no Brasil, França e Japão. Hirata (2011), oferece importantes elementos para pensarmos de forma comparativa as diferenças do trabalho entre homens e mulheres, no qual enfatizamos desde já que as mulheres são mais atingidas do que os homens no que tange a precarização. Quanto a isso, consideraremos as informações abaixo:

(...) desde os anos noventa, há uma participação crescente das mulheres no mercado de trabalho nos três países considerados [Brasil, França e Japão], tanto no setor formal quanto nas atividades informais, bem como um novo incremento dos empregos no setor dos serviços. Assiste-se, também, a bipolarização dos empregos femininos, o que resulta, em parte, dos processos em ação na esfera educativa e que

Referências

Documentos relacionados

São eles, Alexandrino Garcia (futuro empreendedor do Grupo Algar – nome dado em sua homenagem) com sete anos, Palmira com cinco anos, Georgina com três e José Maria com três meses.

Fig. Jurassic-Cretaceous geological evolution for the West Gondwana and its relationship with zeolite-cemented sandstone. A) During the Jurassic, quiescence periods without

Dessa maneira, é possível perceber que, apesar de esses poetas não terem se engajado tanto quanto outros na difusão das propostas modernistas, não eram passadistas. A

Após extração do óleo da polpa, foram avaliados alguns dos principais parâmetros de qualidade utilizados para o azeite de oliva: índice de acidez e de peróxidos, além

Figura 47 - Tipografias utilizadas no aplicativo Fonte: Acervo da autora (2015). Contudo, o logotipo é formado basicamente por elementos estéticos resgatados da identidade

▪ Um estudo da UNESCO, publicado em 2005, mostra que Austrália, Inglaterra e Japão, onde as armas são proibidas, estão entre os países do mundo onde MENOS se mata com arma de

A avaliação da atual matriz produtiva do território Sul Sergipano com o uso de indicadores dará elementos para a construção de um estilo de produção familiar de base ecológica,

b) Execução dos serviços em período a ser combinado com equipe técnica. c) Orientação para alocação do equipamento no local de instalação. d) Serviço de ligação das