USO DA CITOLOGIA NA INFECÇÃO POR TRIPANOSOMATÍDEOS EM CÃES DOMICILIADOS EM BARÃO DE MELGAÇO, MATO GROSSO.
USE OF CITOLOGY IN TRYPANOSOMATID INFECTIO IN DOGS DOMICILATED IN BARÃO DE MELGAÇO, MATO GROSSO.
Esthéfanie NUNES 1; Amanda Atsumy Funakawa OTSUBO2; Valéria Régia Franco
SOUSA3; Arleana do Bom Parto Ferreira de ALMEIDA3
1 Bolsista de Iniciação Científica (VIC), Medicina Veterinária – UFMT, esthefanienunes@hotmail.com 2 Bolsista de Iniciação Científica (PIBIC/FAPEMAT), Medicina Veterinária – UFMT
3 Professor Adjunto, Faculdade de Medicina Veterinária – UFMT.
Resumo
Cães domésticos tem sido foco de inúmeros estudos, por terem contato direto com humanos e serem reservatórios de diferentes espécies de protozoários da família Trypanosomatidae, principalmente dos gêneros Leishmania e Trypanosoma. Destacam-se Leishmania chagasi (syn Leishmania infantum) e Trypanosoma cruzi. Além disso, infecção canina por T. evansi e T. caninum já foram descritas em Mato Grosso. O trabalho teve por objetivo pesquisar a presença de tripanossomatídeos em cães residentes na cidade de Barão de Melgaço, Mato Grosso, empregando a análise citológica. De um total de 208 cães pesquisados para leishmaniose visceral canina, 20% ou seja, 57 cães foram sedados e obtidos amostras de sangue, aspirado de medula óssea, aspirado de linfonodo poplíteo, fragmento de pele íntegra e ulcera cutânea quando presente. Dos 57 (100%) cães foi realizado esfregaço sanguíneo, esfregaço de medula óssea e imprinting de pele íntegra. Aspirado de linfonodo poplíteo foi realizado em 56 (98,2%) cães e de apenas seis (10,5%) cães foi realizado imprinting de úlcera cutânea. Foram observadas formas amastigotas em apenas duas (3,5%) amostras de imprinting de pele e em uma (16,6%) amostra de imprinting de úlcera cutânea. Comparando com a análise molecular, a medula óssea foi positiva em um (1,7%) cão, o sangue em sete (12,3%) e a pele em oito (14%) e nenhuma amostra de linfonodo apresentou-se positiva na PCR para a família Trypanosomatidae. Foram observados ainda merozoítos de Babesia sp e
Anaplasma platys, respectivamente, demonstrando a infecção canina por estes
agentes na região. Apesar de uma baixa positividade, pode-se confirmar a circulação de agentes tripanossomatídeos e hemoparasitos em cães na cidade de Barão de Mato Grosso.
Keywords: Trypanosoma, Leishmania, cytology, dog, Barão de Melgaço. Introdução:
O acometimento do homem e dos animais domésticos com as diferentes espécies da família Trypanosomatidae, tem relevante importância em saúde pública, sendo o cão considerado reservatório e/ou sentinela para a infecção no homem pelas espécies do gênero Leishmania e Trypanosoma (ELOY e LUCHEIS, 2009; NOWHA, 2013). Devido à variedade clínica associada à infecção por estes agentes, o diagnóstico clínico torna-se difícil, sendo a realização de exames laboratoriais importantes para firmar o diagnóstico (ALMEIDA et al., 2010). A pesquisa citológica é considerada um teste padrão ouro em especificidade, porém a sensibilidade depende de vários fatores que influenciam no diagnóstico (VASCONCELOS et al., 2016).
Mato Grosso é considerado endêmico tanto para leishmaniose visceral quanto para leishmaniose tegumentar e casos de infecção canina têm sido descrito em diversos municípios do estado, além da ocorrência de infecção canina por T. cruzi e
T. caninum terem sido descritas (BARROS et al., 2012; ALMEIDA et al., 2013).
Este trabalho teve por objetivo pesquisar a presença de tripanossomatídeos em cães residentes na cidade de Barão de Melgaço, Mato Grosso, empregando a análise citológica de variadas amostras biológicas.
Metodologia e Métodos:
Para a realização da pesquisa o projeto foi submetido à Comissão de Ética no Uso Animal (CEUA-UFMT) sob o número 23108.014783/14-9. Área de Estudo foi o município de Barão de Melgaço situado a 102 km da capital Cuiabá com população estimada em 2013 de 7.565 habitantes distribuídos numa extensão territorial de 11.174,501 km2. Localiza-se entre os paralelos 16° 11’ 40’’ sul e 55° 58’ 03’’ oeste, a uma altitude de 156m acima do nível do mar. Apresenta bioma pantanal e clima tropical.
Estudo seccional foi realizado em cães do município de Barão de Melgaço. O número amostral foi calculado em 283 cães (Epi info 2.2.3, CDC, Atlanta, EUA) estimando-se a população canina do município na relação de 7:1, ou seja, um cão para cada sete habitantes, intervalo de confiança de 95% e erro aceitável de 5%, além de prevalência de 50%. As amostras foram tomadas em cada setor ou quarteirão, por visitas domiciliares, considerando o último domicilio a cada cinco
domicílios contados. Os cães amostrados foram de ambos os sexos, diferentes raças e idade igual ou superior a seis meses, após consentimento do proprietário. Para a análise citológica foram pesquisados 20% dos cães, ou seja, 57 animais.
Os 57 cães, escolhidos aleatoriamente, foram então sedados com cloridrato de quetamina (10 mg/kg) associado à acepromazina (0,2 mg/kg) por via intramuscular para coleta de amostras biológicas (sangue, medula óssea, linfonodo, pele e úlceras cutâneas, quando presente) para análise citológica, cultura parasitológica, análise molecular e sorologia. O esfregaço sanguíneo foi realizado após punção de ponta de orelha; os esfregaços de medula óssea e linfonodo após punção aspirativa do manúbrio do esterno e linfonodo poplíteo, respectivamente, e foi realizado imprinting do fragmento de pele obtido após biópsia com punch de 3 mm e úlcera cutânea.
As lâminas contendo material aspirado de sangue, linfonodos, medula óssea e imprinting de pele e úlcera cutânea foram submetidas à fixação, empregando álcool metílico P.A. durante 5 minutos e, quando completamente secas foram submetidas à coloração do tipo Romanowsky (Panótico/Giemsa). Após a coloração, as lâminas foram examinadas em microscópio ótico para pesquisa de formas tripanosomiformes (amastigotas/promastigotas), percorrendo, no mínimo cerca de 200 campos utilizando objetiva de imersão (aumento de 1000 vezes).
Resultados e Discussão:
De todos os 57 cães sedados para obtenção das amostras biológicas, foi possível coletar amostras de sangue, medula óssea e pele dos 57 (100%) cães, linfonodo de 56 (98,2%) e apenas seis (10,5%) apresentaram úlceras cutâneas. Segundo (GOMES et al. 2008) inúmeras amostras biológicas podem ser utilizadas para o diagnóstico parasitológico das diferentes espécies de tripanossomatídeos, como no presente estudo.
Para o diagnóstico das espécies de Leishmania e Trypanosoma que acometem os cães diferentes métodos diagnósticos podem ser empregados (ELOY e LUCHEIS, 2009). Nesta pesquisa, foi observado formas amastigotas em duas (3,5%) amostras de imprinting de pele e em uma (16,6%) amostra de imprinting de úlcera cutânea. Apesar de ser considerado confirmatório, com alta especificidade, a baixa sensibilidade é um ponto negativo desta técnica (GOMES et al., 2008), aspecto observado nesta pesquisa.
De acordo com (MOREIRA et al., 2007) a sensibilidade da análise citológica está diretamente associada a resposta imune do hospedeiro à infecção, e em cães clinicamente doentes ou sintomáticos tendem a aumentar a positividade, porém, tal aspecto não foi observado, pois 45 (78,9%) dos cães encontravam-se sintomáticos e a citologia foi positiva em apenas três (6,6%). As amostras biológicas mais utilizadas no diagnóstico citológico da leishmaniose visceral canina são os aspirados de medula óssea e linfonodo, apresentando maior sensibilidade quando utilizados em associação (OLIVEIRA et al., 2011), no entanto, as amostras coletadas não foram positivas.
Comparando os resultados da análise molecular dessas amostras, a medula óssea foi positiva em um (1,7%) cão, o sangue em sete (12,3%) e a pele em oito (14%) e nenhuma amostra de linfonodo apresentou-se positivo na PCR para a família Trypanosomatidae. Apesar da análise molecular ter demonstrado um número maior de amostras positivas, tal resultado não foi obtido na citologia, porém, tal discordância é esperada tendo em vista a maior sensibilidade e especificidade das técnicas moleculares em comparação a citologia, como demonstrado por (MOREIRA et al. 2007).
Não foi observado no esfregaço sanguíneo formas tripomastigotas, condizentes com T. cruzi ou T. caninum, apesar da ocorrência da infecção por esses agentes em Mato Grosso (ALMEIDA et al., 2013), dificultando o diagnóstico citológico deste agente, que até o momento foi isolado apenas de pele íntegra de cães (BARROS et al., 2012), porém, dois cães apresentaram formas amastigotas no imprinting da pele. Foram ainda observados merozoítos de Babesia sp e Anaplasma
platys em amostras, demonstrando ocorrência destes agentes na cidade de Barão
de Melgaço. Conclusão:
Apesar da análise citológica de diferentes amostras ter apresentado baixa positividade, pode-se confirmar a circulação de agentes tripanossomatídeos e outros hemoparasitos em cães na cidade de Barão de Mato Grosso.
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