Registro: 2012.0000096864
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos do Agravo de Instrumento nº 0016741-04.2012.8.26.0000, da Comarca de Jundiaí, em que é agravante FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO sendo agravado SKF DO BRASIL LTDA.
ACORDAM, em 8ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de
São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores OSNI DE SOUZA (Presidente), PAULO DIMAS MASCARETTI E RUBENS RIHL.
São Paulo, 14 de março de 2012.
Osni de Souza RELATOR Assinatura Eletrônica
Voto nº 18.716
Agravo de Instrumento nº 0016741-04.2012.8.26.0000 Jundiaí Agravante: Fazenda do Estado de São Paulo
Agravada: SKF do Brasil Ltda.
Agravo de Instrumento. Medida Cautelar. AIIM relativo a creditamento de ICMS. Bens móveis oferecidos como caução. Pedido de expedição de certidão positiva com efeito de negativa e proibição de inscrição do nome da empresa no CADIN e órgãos de proteção do crédito. Liminar deferida. Insurgência. Descabimento. Certidão requerida prevista no artigo 206 do Código Tributário Nacional. Presença dos requisitos legais para a concessão da medida. Decisão mantida. Recurso não provido.
Cuida-se de agravo de instrumento interposto contra a decisão copiada à fl. 224, que, em ação cautelar, deferiu liminar aceitando os bens móveis oferecidos em caução, pela agravada, evitando-se sua inscrição junto ao CADIN estadual.
Sustenta a agravante, em síntese, que a agravada “pretende oferecer inúmeros bens móveis, por seu valor de compra,
para que sejam havidos como garantia de débito tributário decorrente de infração legal, cuja ação de execução fiscal ainda não foi ajuizada”, bem
como a expedição de certidão positiva com efeito de negativa e inibição de qualquer apontamento perante o CADIN estadual.
Aduz que a decisão liminar afronta o disposto nos artigos 151, inciso II, do Código Tributário Nacional, 38 da Lei das Execuções Fiscais e 8º da Lei Estadual nº 12.799/08, além da Súmula nº 112 do Superior Tribunal de Justiça. Afirma, ainda, que o valor de compra dos bens ofertados é inferior à metade do montante do débito e, portanto, não garante a dívida tributária. Alega, ainda, que somente o depósito em dinheiro e integral é que suspende a exigibilidade do crédito, conforme Súmula nº 112 do Superior Tribunal de Justiça. Assevera, outrossim, que o valor dos bens móveis não está comprovado, pois foram apresentadas notas fiscais de compra de vários anos, não havendo como precisar o valor atualizado de tais bens, da mesma forma não há comprovação de que tais bens sejam de fácil alienação. Portanto, entende que a recusa de tais bens é faculdade que cabe à Fazenda do Estado, uma vez que estão fora da ordem legal.
Com tais argumentos, pleiteia a concessão de efeito suspensivo e, ao final, o provimento do recurso.
Recurso regularmente processado com
concessão de efeito suspensivo (fl. 227) e resposta da agravada às fls. 328/338.
Houve pedido de reconsideração da decisão que concedeu o efeito suspensivo (fls. 231/239).
É o relatório.
O recurso não comporta provimento.
Anota-se, “a priori”, que a decisão agravada não suspendeu a exigibilidade do crédito tributário, cuja execução pode ser proposta pela Fazenda do Estado quando lhe for conveniente. A decisão agravada somente aceitou a caução oferecida para permitir a expedição de certidão positiva com efeitos de negativa, de forma a obstar “os problemas
decorrentes de inscrição no CADIN e órgãos de crédito”.
O crédito em si não foi suspenso, apenas foi conferida à agravada a possibilidade de oferecer caução e não ter seu nome negativado junto aos órgãos de proteção do crédito, nem seu direito de participar de licitações ou de contratar crédito bancário, por falta da certidão a que alude o artigo 206 do Código Tributário Nacional.
Diante disso, inexistem os óbices alegados pela agravante, mesmo porque não se discute, no caso, nenhuma das hipóteses previstas no artigo 151 do Código Tributário Nacional. Da mesma forma, não se obsta a propositura da ação cautelar por não haver outra ação principal a ser proposta pela agravada. A ação principal, no caso, é a execução fiscal que cabe à agravante promover, arcando ela com os ônus da demora.
Admite a doutrina a possibilidade de oferecer caução mediante ação cautelar. Conforme leciona Leandro Paulsen:
“Provocação da penhora para a obtenção dos
efeitos do art. 206 do CTN. Ação Cautelar de Caução. Admissibilidade. O contribuinte devedor pode tomar a iniciativa de oferecer bens à penhora antes mesmo do ajuizamento da Execução Fiscal que, certamente, será contra ele intentada. A via processual será uma ação cautelar em que o contribuinte ofereça a garantia e sejam seguidos o rito e as formalidades da penhora, nos termos dos arts. 9º a 15 da LEF. Efetivamente, tem-se admitido o oferecimento de bens em garantia, como antecipação da penhora própria da execução fiscal. Embora a caução não implique suspensão da exigibilidade do crédito tributário, faz as vezes da penhora, colocando o devedor em situação de regularidade fiscal para fins de obtenção de certidão positiva de débitos com efeitos de negativa, nos termos do art. 206 do CTN. A
caução é oferecida através de ação cautelar, com a peculiaridade de que a ação principal é a própria execução fiscal a ser ajuizada pelo Fisco. Não há, pois, perda da eficácia da medida no caso de não haver ajuizamento da ação principal em trinta dias. Cabe ao credor tal ajuizamento e a mora corre contra os seus interesses. Não há, no caso, suspensão da exigibilidade do crédito, podendo e devendo o Fisco promover a execução fiscal, quando, então, a caução será convertida em penhora. Mas o oferecimento da caução implica reconhecimento do débito pelo contribuinte, implicando a interrupção da prescrição (art. 174, parágrafo único, inciso IV, do CTN), embora não o impeça de questionar judicialmente o crédito tributário, seja mediante ação anulatória ou do oferecimento oportuno de embargos à execução. De qualquer modo, o prazo para ajuizamento da execução, interrompido pela formalização da caução, recomeça por inteiro seu curso, sendo que, não ajuizada a execução em cinco anos, restará prescrito o crédito tributário. Nesta hipótese restará a ação cautelar sem qualquer utilidade, pois garantidora de crédito tributário já extinto e que não mais
poderá ser cobrado, de modo que deve ser levantado o gravame” (Direito
Tributário Constituição e Código Tributário à luz da doutrina e da jurisprudência, 13.ed., 2011, Ed. Livraria do Advogado, Esmafe).
Há, igualmente, precedentes nesta Corte admitindo a possibilidade da ação cautelar para o oferecimento de garantia com vistas à obtenção da certidão mencionada pelo artigo 206 do Código Tributário Nacional:
“Agravo de Instrumento. Ação Cautelar. ICMS.
Pedido voltado à obtenção de medida liminar, mediante caução real, para fins de expedição de certidão positiva com efeitos de negativa e a não inclusão do nome da devedora no CADIN. Demora no ajuizamento da
execução que não pode impedir a expedição da certidão (artigo 206 do
CTN). Decisão agravada mantida” (AI nº 0578562-20.2010.8.26.0000, rel. Des.
Paulo Galizia, j. em 17.1.2011. No mesmo sentido: AI nº 0545474-88.2010.8.26.0000, rel. Des. Luciana Bresciane, j. em 23.2.2011).
Ademais, ao contrário do que alega a agravante, estão presentes os pressupostos da medida cautelar. A plausibilidade do direito (“fumus boni juris”), consistente no próprio dispositivo legal, artigo 206
do Código Tributário Nacional, que permite à agravada a obtenção da certidão positiva com efeito de negativa. O fundado receio de lesão grave e de difícil reparação (“periculum in mora”), reflete o fato de não poder sofrer prejuízos com a demora no ajuizamento da execução fiscal, sendo neste tempo impedida de exercer seus direitos tais como obtenção de crédito, contratação com o Poder Público, etc.
Some-se a isso a idoneidade da caução, constituída por meio de bens móveis em valores suficientes para garantir o débito fiscal, que é menor do que o valor mencionado pela agravante, pois os documentos trazidos pela agravada demonstram que parte da autuação foi cancelada administrativamente, havendo um valor remanescente do débito, de aproximadamente R$ 10.800.000,00, que necessita estar assegurado para a geração dos efeitos do artigo 206 do Código Tributário Nacional.
Ante o exposto, nega-se provimento ao recurso.
OSNI DE SOUZA Relator