Jane's Walk Santos 2018
Se essa rua, se essa rua fosse minha...
O desenho da cidade não é uma forma esvaziada de sentido, é a forma socialmente gerada em um momento histórico específico. Sendo assim, o desenho urbano é político, pois é a representação concreta da nossa ação em sociedade. Os muros, gradeamentos e cercamentos cerceiam o direito de livre circulação, especialmente do pedestre, da criança no espaço público da rua, da praça, lhe retiram a vitalidade urbana. Onde chegaremos com o discurso da vitalidade urbana?
“Se essa rua fosse minha” como ela seria?
Nesse ano, convidamos a todos a discutir a liberdade de uso do espaço público na cidade de Santos em uma caminhada coletiva no 2° Jane's Walk Santos 2018 que será realizado no dia 05 de maio de 2018 (sábado), às 9:00 horas. Vamos lá? Dia: 05/05/2018 (Sábado)
Horário: 9:00 horas manhã
Ponto de partida: Fonte do Sapo (entre Canal 5 e 6, na frente da Rua Alexandre Martins)
Cidadãos que participaram da organização
Clarissa Duarte de Souza (Coordenadora Jane´s Walk Santos) Marina Ferrari de Barros
Raquel Schwantes Graupmann José Marques Carriço
Paulo von Poser
Christiane Costa Ferreira Claudia Braga
Maria Fernanda Britto Neves LAVUCS OBSERVA-BS Andrei Krichinak Matheus Camargo Murillo Menezes Letícia Marques Luiz Felipe Lívia Costa Yan Rodrigues Ysadora Lourenço
O Percurso
1 - Fonte do Sapo - espaço de lazer apropriado pela população, em especial as crianças
O Direito à Cultura, ao Esporte e ao Lazer e o Direito à Convivência Familiar e Comunitária são direitos fundamentais definidos no Estatuto da Criança e do Adolescente. A cidade deve proporcionar áreas de lazer públicas a todas as pessoas, mas principalmente às crianças e adolescentes. É importante que estes lugares sejam também próximos a suas casas. Como está a distribuição de espaços públicos em Santos? É possível brincar nas ruas? A Praça da Fonte do Sapo tem este papel tão importante. Um lugar sem brinquedos, mas com espaço para correr, andar de bicicleta e brincar em uma escala que facilita o cuidado dos pais e estimula a imaginação das crianças.
2 - Escola Escolástica Rosa (memória do bairro e seus primeiro edifícios, importância da memória coletiva e referenciais urbanos)
Uma das primeiras escolas profissionalizantes do país, esta edificação centenária faz parte da história da cidade. Aulas de educação física da antiga escola, eram realizadas na Orla da praia, apropriando-se do espaço mais democrático da cidade. As escolas representam um importante lugar de memória coletiva, pois ficam presentes no imaginário dos diversos grupos sociais que
compartilharam o espaço em determinado momento da história, especialmente importante pelo papel que a escola desempenha na formação do ser humano. Eram concebidas também como referências urbanas, edifícios que marcavam a paisagem comunicando a importância social daquela atividade. Sendo assim, tanto a composição arquitetônica, quanto a posição no lote e na quadra eram utilizados para consolidá-las como marcos. Preservar o suporte concreto da memória coletiva é manter vivos os grupos sociais que se desagregam com o tempo, é dizer às pessoas que fizeram parte da sua história que são ainda importantes por tudo que fizeram e viveram. Você brinca ou brincou aqui? Compartilhe sua história...
3 - Rua General Rondon (esquina com fachada ativa e diversas tipologias)
As fachadas são a face pública dos edifícios, são responsáveis por promover o contato direto com a rua. O muro, o jardim, ou o passeio convidativo são decisões de projeto, que por sua vez são políticos, pois refletem nosso
comportamento em sociedade. Nesta esquina é possível observar dois momentos distintos de como a sociedade se relaciona com a rua a partir da face pública de seus edifícios. Um muro alto, ou um jardim penetrável? O que foi e é a rua? Um lugar do qual devemos nos defender ou se apropriar?
4 - Centro comercial de bairro General Rondon x Epitácio Pessoa (como é bom morar perto do mercado, costureira, papelaria, etc. Uso misto como vitalidade urbana)
A densidade urbana, característica de vários lugares dessa ilha tem o potencial para gerar diversidade de grupos sociais e principalmente de atividades, pois
produz demanda que enseja o surgimento de pequenos comércios e serviços que tornam o cotidiano na cidade mais simples e principalmente caminhável e de grande vitalidade. O surgimento de supermercados com grandes estacionamentos é reflexo de um modo de vida pautado no uso em massa do automóvel. Numa cidade como Santos, majoritariamente plana há que se pensar se não podemos de fato privilegiar o pedestre. Vagas na rua para estacionar ou calçadas largas e arborizadas para caminhar?
5 - Praça do INSS – espaço privado de uso público, bancos, árvores, os gatos...
Praça, passagem, espaço aberto, livre, que resiste em meio à verticalização urbana cheia de condomínios clube. Esse espaço é uma resistência do desenho
urbano, de resiliência que em diversos momentos da história foi questionado se deveria ser fechado, murado, seus bancos retirados – pois servem de abrigo à moradores de rua. Sua permanecia na cidade contribui positivamente para o bairro, melhora a acessibilidade das pessoas, permite uma ligação da rua oficial, que acabamos de passar, com o Conjunto Habitacional. Essa rua elucida nossa temática “Se essa rua fosse minha, como ela seria...” Teria brinquedos, usos, espaços de descanso e convívio? E ainda se essa rua fosse privada será que ela existiria?
6 - Passarela (passagem aérea sob espaço público)
Você sabia que aqui, havia um dos grandes espaços livres da cidade? Os campos de várzea que a população usava para jogar futebol. Torneios locais eram presenciados toda semana. Uma grande quadra livre que era usada pela população, incluindo um centro comunitário para os moradores do BNH.
Se esta rua fosse minha, eu não a utilizaria. A passagem aérea entre o edifício de uso restrito e um shopping center, longe de figurar como uma passagem necessária, como aquelas que ligam dois prédios de um mesmo hospital, expõe de forma aguda a aversão à rua. Por que é tão ruim atravessar a rua, ao ar livre? Que rua é essa? Tem vitalidade? Você se sente convidado a usar essa passarela? Sua forma é convidativa?
7 - Rua Guaiaó - a rua sem seus olhos
A rua da passarela é bastante inóspita. Não há aberturas para acesso, vitrines ou janelas. Como dizia Janes Jacobs, nossa mentora nessa caminhada, a vitalidade urbana está diretamente ligada aos olhos da rua, suas janelas que garantem segurança ao caminhar.
Apenas muros em ambos os lados da via. Caminhar nesta rua se torna bastante inseguro e pouco confortável, pois também não há arborização urbana que ofereça sombreamento. A transformação da escala dos edifícios tem grande
responsabilidade sobre a ambiência urbana criada com a substituição de diversas casas e comércios por um único grande edifício, com poucas entradas e nenhuma janela. É possível incentivar outra configuração de cidade?
8 - Passagem do BNH
Como teria sido projetar o maior conjunto habitacional da zona leste de Santos? Teriam sido projetados muros ou uma passagem arborizada, um pequeno parque linear que pudesse propiciar ao pedestre a travessia de uma quadra tão grande? Atualmente com controle de acesso, a área do conjunto se soma às quadras de grandes dimensões do Shopping e do INSS, as quais sem passagem, tornam a vida do pedestre na vizinhança bastante insegura e pouco aprazível. E se fosse possível atravessar pelo conjunto?
9 - Área de lazer para as crianças Dentro do BNH
A necessidade de áreas livres públicas para o lazer é reconhecida por lei federal. Quando dividimos pela primeira vez a terra em lotes para a construção, uma parte tem que ter destinação obrigatória para o lazer. A forma, o tamanho e principalmente o entorno destas áreas de lazer acabarão definindo o sucesso ou não da apropriação do espaço pelas pessoas. A observação da implantação do BNH enseja a reflexão a propósito da relação que se desejava estabelecer com a cidade. De certa maneira, a concentração de praças no interior do conjunto, sem acesso à totalidade da população traz a mesma situação dos condomínios "clube". E se essas praças fossem abertas ao público? E se estivessem localizadas na interface com a rua? Isto não significa, por outro lado que as praças não tenham sido apropriadas pelos moradores, especialmente crianças pequenas que precisam ser atentamente observadas enquanto brincam. Mas será que a implantação não poderia ser mais generosa com a cidade?
10 - Praça do BNH ou do Sesc (se já estiver reaberta) para o encerramento e ato coletivo “Se essa rua fosse minha...”
Se essa praça, se essa praça fosse minha... Como ela seria?
Ato coletivo inspirado na música de cantiga de rosa: Se essa rua fosse minha...
Se essa rua, se essa rua fosse minha Eu mandava construir o meu playground Com parquinhos de gangorras e balanços e levar os meus filhos para brincar
Nessa praça só tem carro e fumaça Todo verde deu lugar à construção Perto dela mora muita, muita gente que respira toda essa poluição
Se eu gritei para chamar sua atenção É porque tu roubaste o meu lazer Se eu tomei, se tomei o seu espaço É porque eu não tenho mais também...
