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[ VOTO Nº ] DECLARAÇÃO DE VOTO

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Academic year: 2021

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Ação Rescisória n. 0542472-13.2010.8.26.0000

Autor: Sindicato dos Empregados nas Centrais de Abastecimento de Alimentos do Estado de São Paulo Sidbast

Réu: Cooperativa Agrícola de Cotia Cooperativa Central [ VOTONº 25.353]

DECLARAÇÃO DE VOTO

A Sum. 343 do Egrégio Supremo Tribunal Federal deve ser aplicada para rejeitar o pedido rescisório de decisões que adotaram uma das interpretações possíveis encontradas na jurisprudência, desde que essa interpretação seja razoável, ou, em outras palavras, aceitável diante da sua fundamentação. Não inibe a rescisória o fato de que a decisão rescindenda encontra eco em outra decisão. É necessário que se possa afirmar que essa outra decisão tenha enfrentado o tema e dela se possa extrair a norma

jurídica ratio decidendi que se aplicou igualmente na decisão

rescindenda.

É possível haver mais de uma interpretação válida do ponto de vista da sua formal fundamentação para o tema em julgamento. A moderna ciência do direito processual, em nome da igualdade e da segurança jurídica, busca uniformidade e estabilidade das decisões judiciais pelos

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novos instrumentos do NCPC, mas a uniformização de entendimento só assume efeito vinculativo quando recai sobre matéria que tem repercussão social ou coletiva, ativando-se os meios processuais de jurisdição coletiva para buscar a uniformidade.

Não cabe aqui aprofundar digressão a respeito da possibilidade de entendimento diferente para a mesma matéria, próprio da filosofia do direito. Faço essa observação porque, volto ao ponto, a Súmula 343 do STF não autoriza a rescisão do julgado quando se depara na rescisória com uma decisão que adotou entendimento encontrado em outros julgados a respeito da matéria apreciada. Todavia, a orientação da Súmula em referência, teleologicamente, é no sentido de que essa interpretação adotada se possa dizer “razoável” ou “aceitável” pelos fundamentos que tem em face da Lei aplicada. Não é, destarte, qualquer decisão que se identifique com outra encontrada nos Tribunais que está imune à rescisória. O entendimento adotado pela decisão rescindenda deve encontrar sustentação em interpretação adequada e aceitável para a lei de aplicação.

No caso em discussão, o que se tem efetivamente é que a decisão rescindenda adotou interpretação divorciada da realidade em julgamento e não sustentada na jurisprudência dos Tribunais Superiores, como bem evidenciado no voto do Desembargador Cesar Ciampolini.

Cuida-se no caso de “cooperativa em liquidação” e não de falência de sociedade mercantil. Cuida-se de sociedade simples de pessoas e não de sociedade comercial. A não ser pela similaridade que envolve a liquidação de ativos para pagamento dos credores, comum em ambos os processos, as diferenças entre a falência de sociedade mercantil e a liquidação de

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cooperativas são substanciais e mais substanciais se mostram a respeito da matéria em discussão neste caso, porque expressa na Lei aplicável às cooperativas o critério a ser aplicado na incidência de juros sobre os créditos.

Sendo assim, previsto expressamente (art. 76) que os juros são contados até o pagamento, não há razão (digo agora “razoabilidade”) para limitar os juros à data da “quebra”, quando nem mesmo de quebra se pode falar no caso da cooperativa. Assiste razão ao Prof. Cândido Rangel

Dinamarco no cuidadoso parecer que elaborou ao dizer que, no caso, se

aplicou lei não aplicável e não se aplicou lei aplicável.

Essa interpretação que se deu na decisão rescindenda, com o máximo respeito aos componentes da Turma Julgadora, não era “razoável” e o voto declarado do Desembargador João Carlos Saletti, vencido na julgamento antecedente da rescisória, já apontava para esse vício.

Não importa para a rescisão no caso que ao tempo da decisão ainda não se tinha formado entendimento do Egrégio Superior Tribunal de Justiça sobre o tema, porque não se observou a aplicação da lei adequada.

Acrescento, para reforçar a convicção que tenho, o fato de que já se decidiu no âmbito dessa liquidação, como está noticiado nos autos, pela aplicação de juros até o pagamento em geral dos créditos, salvo decisão em contrário transitada em julgado, o que evidencia a desigualdade no tratamento dos credores, que é vício grave em processo concursal.

Manter a decisão impugnada na rescisória, portanto, é dar aos empregados filiados ao autor tratamento diverso, visto que a todos os

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demais credores foi assegurada a contagem de juros até o pagamento. Seria o bastante para acolher o pedido rescisório.

Lembro finalmente, para concluir o meu voto, que a Lei de falências quando impõe a limitação dos juros à data da quebra apenas cuida de uniformizar o tratamento de todos os credores perante a massa, de modo a permitir a equalização dos credores e organização do processo e dos pagamentos. Fundamentalmente, a disposição em referência da Lei de Falência só tem sentido quando todos os credores estão sujeitos ao mesmo critério, tanto que na Lei de Falências existe outra disposição para alcançar este fim, que é aquela que determina o vencimento antecipado das obrigações em decorrência da falência, daí porque a rescisão do julgado se impõe para restabelecer a igualdade de tratamento dos credores ferida na liquidação da cooperativa pela decisão rescindenda.

Cabe assinalar, ainda, que mesmo na falência os juros são devidos, desde que se verifique a existência de ativos suficientes para o pagamento. A lei não extingue o direito aos juros, mas suspende a sua incidência. Portanto, a questão dos juros nos processos de concurso de credores está submetida ao critério legal específico que deverá observar a igualdade de tratamento entre os credores. A igualdade é o valor que se deve perseguir na solução dos créditos em processos desta natureza e a procedência da rescisória é a medida necessária para, com aplicação exata da lei, assegurar tratamento igual aos credores.

A interpretação que a decisão rescindenda deu ao caso julgado está em confronto, como visto, com aquela estabelecida seguramente pelo Egrégio Superior Tribunal de Justiça, ao qual cabe, constitucionalmente,

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uniformizar a jurisprudência sobre a aplicação de lei federal. Certamente não se pode dizer controvertida a interpretação quando Tribunal Superior já consolidou o entendimento da matéria.

Pelo exposto, meu voto acompanha a divergência e julga procedente a rescisória.

CARLOS ALBERTO GARBI terceiro juiz

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