B§
Título
dadisserteçlo
<<As necessidades de
seniços
biblioteconómicos em Evom>>Por: João Sebastião Cardoso Azantja Orientador: Prof.
Doúor
Eduardo EsperançaEsta dissertação não inclui as críticas e a§ sugestões feitas pelo Júri
R§
It
r
Título
da disserteção<<As necessidades de
seniços
biblioteconómicos emÉvora»
Por: João Sebastião Cardoso Ázaruja Orientador: Prof. Doutor Eduardo Esperança
\ 8
Ç\o\
Esta dissertação não
inclui
as críticas e as sugestões feitas pelo JúriTodos os
trúalhos
de investigação apresentamum
esforçoindividual e
requerem um trabalhoe
apoio, uma
actividadede
rectaguarda, sema
qual,
diria
eu,
seri4
quase,impossível rcalizá..los. Esta circunstância repetiu-se, nesta tese de dissertação, pelo que agradego a colaboração
do
SenhorDirector
daBiblioteca
Pública de Évora,Prof.
Dr. JoséAntónio Calixto,
quer pela entrevista concedida, quer pelas facilidades oferecidas,por si,
e pela sua Equipa de Trabalho, que possibilitarama
aplicaçáodo
inquérito porquestionário
aos
utilizadores,
a
quem, tarnbém,
reconheço
a
gratidão.
Torno, igualmente, este reconhecimento, extensível, a FranciscaVilas-Boas,
aluna da Escola SecundáriaGabriel
Pereira,de Évor4
que se disponibilizou para
uma
entrevista, àminha esposa e
filho,
pelas horas que lhes <<roubeil>, bem como aos ex-colegas da BPE e amigos daáreadeBAD.
<cAs necessidades de senriços biblioteconómicos em Évora»
<tAs necessidades de serviços biblioteconómicos em Évora»»,
centa -
se num estudo de caso-
as expectativas dos utilizadores daBiblioteca
Pública deÉvor4
em termos deoferta
de
novos serviços.
Os
princípios
do Iluminismo,
o
historial
das bibliotecas públicas portuguesas, desdeo
séc.XVm
até aos nossos dias e o inquérito aplicado aosutilizadores corporizam este
trúalho.
Frei Manuel do Cenáculo fundou a instituição,
em
1805,por
considerar úteis asbibliotecas,paÍa a
emancipagãodo
Homem.A
partir
da
décadade 80 do
séc.XX,
a BPE deixou de cumprir as suas missões e perdeu utilizadores.Entre
as várias conclusões referentes à oferta de novos serviços, destacamos o empréstimodomiciliário e
a importância das tecnologias da informação, premissas do Manifestoda UNESCO (1994).
Pretendemos,pois, identificar
pistas promotoras dos novos papéis e desafios que se colocam, em2005, à BPE-
ano do seu bicentenário.ABSTRACT
<<The necessities of library-economical seryices in Évora»
<<The necessities
of library-
economical servicesin
Évora»is
focusedon
a case sfudy-the expectationsof
the usersof
Biblioteca Pública de Évora, in termsof
the offerof
new services.This
work is
basedon the claims
of
Illuminism,
the
recordsof
Poúuguese public libraries, fromthe
18ft century to our days and the survey to the users.The institution was
founded
by
Frei Manuel
do
Cenáculo,in
1805,
as
he considered that the libraries were usefulin
helping mento
become independent. Since the 1980's, BPE had started tofail
its goals and lost users.Among the
several conclusions respectingthe
offer of
new
services,we point
out the lending
residence service aswell
asthe
importanceof
the
new
information
technologies, fundamental principles
of
the UNESCO Manifesto (1994). So, we intendto identi$
the
clues,which
promotethe new roles and
challenges facedby BPE in
ÍNorcn
cERAL
Inüodução
Fundamentação teórica .
Parte
I
-
O Paradigma da BibliotecaLiberal
3.1.1. Os Gabinetes de Leitura (1801-1920) 3.1.2.
A
Missão da Biblioteca Liberal3.1.3. As primeiras Bibliotecas do Liberalismo (1833)
1
3
Capitulo 1
-
No preâmbulo da Biblioteca Pública: a Europa das Luzes e a emancipaçãodo saber
útil
....
41.1. O contexto ideológico das Luzes
1.2. Os canais de difusão das Luzes e a emergência do conceito de <<Público» 6
1.3.
A
instrumentalízaçáo das Luzes em Portugal...
7Capítulo
2
-
Frei Manuel do
Cenáculo:um
<<Ilomem das Luzes>» entreo
CatolicismoIluminado e a utilidade das Bibliotecas 9
Parte
I
-
A
edificação de Bibliotecas 2.1.1. O CatolicismoIluminado
...
10
...
1l
...5
2.1.2. O projecto reformista .. ..
... t2
2.1.3.
A
Missão da Biblioteca Pública da Real Mesa Censória L42.1.4.
Liwos,
leitores e leituras na criação das Bibliotecas do Convento de Jesus e dosSeminários de Beja e de Évora
l5
Parte2- A
fundação da Biblioteca Pública de Évora 2.2.1. Oinício
de uma Missão ..2.2.2. Luzes e sombras na BPE, no pós-fundagáo
....
Capítulo 3
-
A
reafirmagão dopapel
das Bibliotecas Públicas: da Revolução Liberal àgénese da Rede Nacional das Bibliotecas de Leitura Pública
l8
t9
20 25 26 27 28 293t
3.1.4. As Bibliotecas Populares (1870)Parte
2-
Da República ao <Manifestoda
Leitura Pública» (1983)3.2.1. <<Os Palácios da Leitura» (19L0-1926)
...
....
353.2.2.4s
Bibliotecasi em tempo de ditadura(1926-1974)
"""""""
36 3439 3.2.3.As Bibliotecas nos primeiros anos da Democracia(1974-1983)
3.2.4. «O Manifesto da Leitura pública»: a antecipação da mudança
(1983)
....
39capítulo
4-
Aedificação da Rede Nacional das Bibliotecas Públicas...
4.1. O ceme damudança4.2.
Arealidade e os números que fazem a Rede4.3. As bibliotecas da RNBP e a Sociedade da Informação
Desenvolvimento da Úrvestigação
....
. ..Capítulo 5
-
Os utilizadores da BPE: as expectativas da mudança 5.1. O inquérito e a sua metodologia5.2. As entrevistas semi-directivas 5.3. As expectativas dos utilizadores . .
...
Conclusão: um bom caminho para o amanhã
Bibliografia
43M
49 607l
72 73 74 77 97 101ÍNorcs
DEeuADRos
Quadro n.o 1
-
Bibliotecas da RNBP inauguradas (1988-1999)Quadro n.o 2
-
As opções de frequência da BPE...
Quadro n.o 3
-
Estratégias de dinamização da BPEÍNotce
DEGRÁFICos
Gráfico n.o
I
-
Utilizadores da RNBP (1991-1998) Gráfico n." 2-
Caracterrzação dos inquiridosGráfico n.o 3
-
Caracteização segundo o género....
Gráfico n."4
-Caracteização
segundo a actividade Gráfico n.o 5-
Habilitações literáriasGráfico n.o 6
-
Utilizador
da BPE Gráficon!
'7-
Frequência de utilização da BPE ..Gráfico n.o 8
-
Motivos
de frequência dos utilizadores da BPE....
Gráfico n.o 9-
ExpectativasGráfico n.o 10
-
ReestruturarGráfico n.o 11
-
A
importância de reestruturar a BPE nas categorias....
Gráficon!
12-
A
importância de novos senriços da BPE ..Gráfico n.o 13
-
A
introdução dasTIC
Gráfico n.o 14
-
úrteracção tecnologia-utilizadorGráfico n.o 15
-
Frequência de acções de formação na óptica doutilizador
. . .. . ...Gráfico n.o 16
-
Horário actual da BPE49 82 93 55 77 77 78 78 81 81 82 83 84 86 87
.89
909l
92 Gráficot."
L7-
A
influência das eshatégias paÍa ainserção da BPE na comunidade.94
INTRODUÇÃO
((...
Se a biblioteca é, como pretende Borges, um modelo do Universo, tentemos transformá-la num universo à medida do homem e, volto a recordar, à medida do homem quer tarnbémüzer
alegre, com a possibilidade de se tomar um café, com a possibilidade dedois
estudantes numa tarde se sentaremnum
maple[...]
de consumarem partedo
seuflirt,
nabibliotecq
enquantoretiram
ouvoltam
a pôr nas estantes algunsliwos
de interesse científico,isto
é, uma biblioteca onde nos apeteçair,
e que sevá
transformando gradualmente numa maquina de temposliwes,
como é o Museum of Modern Art».(ECO,
2002,p.M-a5)
Esta tese de dissertação analisa os <cAs necessidades de Serviços Biblioteconómicos em
Évor»»,
que se
centra
num
estudode
caso-
as
expectativasdos
utilizadores
da Biblioteca Pública de Évora, em termos de oferta de novos serviços. O interesse por estetema fundamonta-se, essencialmente, em dois aspectos.
A
BPE, que está comemorar, neste ano de 2005,o
seu bicentenário,foi
uma dasbiblioteca públicas pioneiras, fundadas
por
D.
FreiManuel
do Cenáculo,um
<Glomemdas
Luzes»>,eüo, crente
do
valor
emancipadordaquele
ideário
fez
abnr
váriasbibliotecas,
cujos fundos
documentaiseram
acfiializados,pelo
seu próprio
bolso. Acreditava novalor
das bibliotecas, doliwo
e daleiturq
instrumentos cruciais, paÍa avaloizaçáo, não só
dos padres das suas dioceses(Beja e Évora), como
também dosleigos,
no
sentido,
em que
<<Osliwos e
as bibliotecas
têm
um
lugar
central
nas preocupações do prelado>>(YA2,2003,
p.a83).Uma
segunda reflexão prende-se com a situagão actual daBPE,
em termos decumprimento das
suas missões-chave,de
acordocom os
Manifestos
da
UNESCO. Retospectivandoo
passado da BPE, poderemosafirmar,
que se ainstituição
assumiu um papel pioneiro, à data da fundação, em 1805, tarrbém o desempenhou, com a oferta da Leitura do Jardim de Diana e do JardimPúblico, aparttr
de 1939, e dos Servigos deLeitura
Noctum4 entre
1940
e
cerca
de
1975.A
biblioteca
foi
ao
enconto
da comunidade, a ponto de Évora, se erguer, como a cidade dointerior,
onde mais selia
com os seus 19.804 leitores, de acordo com os dados das Bibliotecas Públicas de 1946 (<<Evora a cidade da província onde mais se lê», in A Defesa, Évora, de 23 de Jun. 1948,
p.
1).A
abertura do Instituto Universitário deÉvora,
err.lgTl,posterior
Universidade, a democratizaçãodo
acessoa
todosos níveis
de ensino, principalmente,o
Básicoe
odos responsáveis da
BPE.
Começou a fechar-se sobre sipropria
não respondendo, nemàs
necessidadesdos
seus
utilizadores,
nem às
novas
realidades,
subjacentes à diversificação de suportes informacionais. Esta <cuptura» ocolre, sobretudo, apartir
dosanos 80 do séc.
XX,
por motivos de ordem vána, que não são objecto do nosso habalho.Confudo, observamos, que aquela tendência negativa está a inverter-se, na BPE,
de há poucos anos para cá" atavés de alterações levadas a cabo pelo seu novo Director e
pela
sua Equipa
de
Trabalho,
pela
melhoria
progressivados
seus serviçose
pela inserção dos seus papéis na comunidade.Em
termos
conceptuais,fizemos
umarevisão crítica
da
literatura nacional
e estrangeira, no sentido de analisarmos olluminismo,
subjacente à criação de bibliotecase
à definição
das suas funções, aslinhas
de continuidade,com
as reformulações do Liberalismo Constitucional, da República, do Regime Democrático, instalado com o 25 deAbril de
1974, e da Rede Nacional das Bibliotecas Públicas. Assumimos este longo percgrso para enconhar linhas de continuidade/ruptur4no
sector das bibliotecas, para entendermoso
pelmanente desejo de mudança.No
caÍnpo da investigação, aplicámosum
inquérito,
por
questionário,aos
utilizadores,para
sabermos,quais são
as
suas expectativas,em termos de oferta de
novos
senriços,partindo da
enumeração de hipóteses teóricase
questões empíricas, que pretendíamosprever,
atravésdas
suas respostas. Será que o novo modelo expectante da BPE deve assentar nas missões-chave das bibliotecas da RNBP? Pela análise dos resultados, concluímos, que os utilizadoresCapítulo 1
-
No
preârnbulo da Biblioteca Pública: a Europa das Luzes e a emancipação do saberútil
1.1. O contexto ideológico das Luzes
As
Luzestêm
um
significado
múltiplo,
uma
estruturafilosóficq cultural,
científica,política
(apogeudo Absolutismo) e
social, em queenfiam
osfilósofos e
a burguesia paÍaaribalta,
da cena social. O Renascimento tinha aberto os alicerces de uma culturanov4
fundamentadanarazáo e
na experiência,em
confiaposiçãocom os
dogmas da escolastica medieval.Não
era, logo, possível continuar a manter uma cultura composta de valores, emque
arazáo e a experiência comprovavam a sua discutibilidade e até por vezes ainutilidade.
Além
Pirinéus,a
dúvida metódica cartesiana representa a procura incessante da verdade, quecaracteizaa
crise da consciência europeia do séc.XVtr.
Os
estrangeirados,entre
os
quais
devemossalientar
Lús
António
Verney tiveram uma importância de relevo, no que se refere ao combate àfilosofia
escolasúca.Aliás,
o proprio
Cenáculofoi
um
fervoroso apoiante deVemey
durantea
campanha desencadeadacontra
o
<<Verdadeiromótodo
de
esfudar>>.Estes
emigrantes tinhamcontactado uma mentalidade, em que a metafisica ia sendo superada pela fisica, em que
a
moral racional
defendia
as
ideias
de
progresso,de
liberdade
e
de
reforma
dos costumes.Acreditava-se
no
progresso
pela
<<Ilustração>»,falava-se
da
tolerânciareligiosa,
num tempo em
que uma burguesiaforte,
sobo
ponto de vista
económico, começava a exigir uma posigão de maior importância nos sistemas político-social.Tornava-se, inquestionável, ultrapassar a crise da consciência europeia
do
séc.XV[,
não atavés
de dogmas, mas afiavésda
razáo;é
a
forçada
razáo, que permite identificar os erros do passado, superá-los e construir modelos diferentes e alternativos. Fundamentadono
racionalismo, Pierre Bayle, emfinais do
séc.XVtr
enuncia os elros quea
Humanidadehaüa
produzido
atéà
altura, elaborandoum
dicionário
que,iria
«iluminar»» as trevas, isto é, a escuridão do passado.
Em
meadosdo
séc.XVm,
Voltaire
publicao
<iDictionnaire philosophique>», o primeiro dicionário deFilosofiq
em que se faz um levantamento dos termos filosóficos que esta disciplina comporta, seguido pela edição, em meados deste mesmo século pelo ««Dictionnaire raisonné ou des connaissances humaines»>. Os enciclopedistas admiravam as instituiçõesliberais de
Inglaterra, falavam de liberdade, da construção racional da sociedade, de um Deus sem culto, desprovido de clero o, assim, enfusiasmavam os reis, quenão
viam
qualquer
ameaçaà
estruturados
seus estados,mas
uma justificagãoconhecimentos
técnicos, metafisicos, reügiosos
e
filosóficos, que
existem,
comoproduto
darazáo: uma catapultapüra a burguesia ascender ao poder. Este levantamento assumeum
corpo de
conhecimentos úteispara
o
Homem, resultadoda
razáoe
das Luzes. Aquelas obras constituíram referentesmaticiais
dasLuzes, algo
fundamental que nos permitem compreender o séc.XVItr
e, que o poder régio absoluto aplaude.1.2. Os canais de difusão das Luzes e a emergência do conceito de <<Público»
Roger
Chartier defende, que paramelhor
perceber as consequências das Luzes, é de elementarimportância
«compreender as condições que,num
dado momentodo
séc.XVm,
desencadeiama
emergência de uma realidade concepfuale social:
«a opinião pública»(RAMOS, cit.
in
Carneiro, 2001,p.404). O sociólogo alemão Jtirgen Habermasfaz coincidir,
de certaforma
o
conceito de esfera pública burguesacom
o
de opiniãopública
e
recua
a
sua
origem
aos
sécs.XVI
e
XVII,
situando
as
suas
raizes na correspondênciatrocada,
entre
os
mercadores, caxtas,onde circulava
informação referente a preços e procura de condições de comércio em regiões distantes. Estes canais de escrita desenvolveram-so à margem do Estado, assumindo sinais de independênciaface
ao Poder autocrático, levantando, assim,uma
alavanca parao
aparecimento da imprensa periódica, em finais do séc.XVtr.
Os
jornais
tornam-se, destaform4
veículos de circulaçãopública,
que se numprimeiro
momentoreflectem
a
publicitação
das modalidadesde
gestãoe
imposição social do Estado, num segundo momento passam a assumir posições de independência, peranteo
poder,e
de defesa da privacidade em nomeda
emergenteopinião
pública, quais novos valores burgueses emergentes.O
processode
desenvolvimentode uma opinião pública,
independente do Estado, da Igreja e das forças económicas,isto
é,liwe,
que começou em finais do séc.XVm,
presumia
a
existênciade um
conjunto
de
instituições difusoras
desta novaordem. Se
a
imprensa
de opinião
foi o
motor
fundamentalparu activar
todo
esteprocesso,
outras instituições surgiram
de crucial
relevo
para
espelhar estenovo
e emergentevalor
burguês. Osliwos,
as <<coffee houses»>, na Inglaterra, os <<salons» em França, as <CIischgesellshaften»>, na Alemanha e mais tarde, gradualmente, os clubes deleifura, os arqüvos,
as galeriase
os museus. Tarnbém, as bibliotecas, neste processomatricial
de formagão de uma opinião pública, inicialmente, privadas e, posteriormente, públicas cumpriram um papel deveras importante. Alinhadas com o espírito elevado dasLuzes, que tinha no seu imaginário a igualdade, o progresso, a felicidade, as bibliotecas do séc.
XDÇ
não sódisponibihzavamliwos,
como, igualmente, constituíam espaços deencontro, acessíveis a todos os públicos, onde se discutia e se argumentava liwemente.
1.3.
A
instrumentalízaçáo das Luzes em PortugalOs diferentes espaços
políticos
da Europa instrumentalízam as Luzes,utilizam
os seus conceitos, conforme a sua realidade e os seus contextos ideológicos, em que se movem.Exemplo
paradigmáticoé
o
caso Sebastião Joséde
Canralhoe Melo,
Marquês dePombal
e do
seu
efrcaz colaboradorD. Frei
Manuel
do
Cenáculo.Mas
o
eclodir
da Revolução Francesa,em
17S9,consideradopor
Hobsbawn, comoo
ponto
de chegadadas Luzes, onde é feita a sua aplicaçáo
prâticç
quebrará a unanimidade, em seu favor eobrigará
a
alteragõesda
prática discursiva dos diversos
Estadosface
as Luzes.
Omovimento revolucionário reafirma
a
sua
inspiraçãonas Luzes,
mas
o
movimento contra-revolucionário,como
por
exemplo,
Cenáculo nega-as,devido ao facto
dosfranceses terem invadido Poúugal e
por
serem o resultado das Luzes. Assim, enquantoas Luzes se associaram apenas àrazáo, eram aceites, mas a partir do momento em que a Revolução Francesa ameaça
demúar
o poder absoluto, anuncia a construção gradual deuma
sociedadelaica
e
irrompe com
o
expansionismonapoleónico,
a
apologia
doIluminismo
assumirá contomos diferenciados, de acordocom
a
leitura feita
por
cada Estado.Os
diferentes Estados, emnome do relativismo cultural, reflectem
diferentes componentesdo
sistemafilosófico
das Luzes, que éúsorvido
em diferentes tempos e pelos diferentes espaços.O
discurso
de poder do
Marquês
de
Pombal
é o
símbolo de um
homemiluminado
do
Portugal
do
séc.
XVItr,
inÍluenciado pelas
Luzes da
Europa
e
do progresso.O
espírito reformador
de
Sebastião José fundamentou-se,nos
contactos directos que observou e viveu durante as enviaturas diplomáticas, nas cortes de Londres, Vaticano e Viena de Áustria. Desponta, desta forma, um conjunto de reformas no planoeconómico,
social
e
cultural
a
que
não
escapaa
própria
lgreja
e,
que
muitos arrbicionavam parao
Portugal de setecentos.É
a emancipação daburguesi4
dos seus valores e interesses, da pequena emédia
tobreza e de uma partedo
Clero, na qual seinclui
Cenáculo,por
onde perpassaum
forte
desejo de mudança.Mutação
esta, que passavapela
promoção da burguesiae
do
comércio que se passaa
considerar, como actividade nobre, pelo afastamento da grande nobreza dos centros de decisão política edo episcopado afecto a membros da Casa Real ou às mais aristocráticas linhagens. Estes
bispos perdem as prelaturas das dioceses
mais
importantes, sobo
ponto
deüsta
dosre,lrdimentos e do prestígio, como acontecerá com Évora, com a nomeação de Cenáculo,
já
em plena Viradeira.Trata-se,
no
fundo, da tarefa sublimede
erguero
EstadoModerno
assente no Absolutismo, em rota de colisão com osprivilégios
ancesüais das elites, com atadição
oral e no
levantar
de
uma
nova
ordem:
((a consciênciada
suapropria história
[doEstado]
e a
organizaçáodos
instrumentos necessáriospaÍa que ela
sejajá
escrita, conservada, transmitida»(CHARTIER"
1 98 8, p.216).promover
o
documento
escrito, como alicerce
da
legitimação
do
poder absolutistaimplica
mudaro
ensino,abrir
escolase
apostar nasbibliotecas,
ou
seja,transfeú
paulatinamente estruturas da esfera eclesiasticapata a esferado
Estado. E, é de facto, este ponto,um
dos mais notórios do pensamento, em que Pombal se envolveucom
areforma
do
Ensino, desde a Universidade deCoimbr4
instituição
suprema de preparação dos futuros governantes, colrespondida a níveis inferiores com a criagão de escolas secundáriase
menores.Indelével,
surge das trevas,a
chamada
hu,
isto
é
a maÍcade Cenáculo a iluminar.Capítulo
2
-Frei
Manuel do
Cenáculo:um
<<Ilomem das Luzes>> entreo
Catolicismo Iluminado e a utilidade das Bibliotecas2.1.1. O Catolicismo Iluminado
Esta corrente das Luzes,
na qual
se revê uma das maÍcas de Cenáculo,constitui
uma tentativade
conciliar a religião
com
o
racionalismo,de uma forma não
dogmática. Tarrbém, uma parte do Clero de setecentos se preocupa com a formação dos religiosos, bons cidadãose
bons intelectuais. Paratal,
wgpa fazer dissipar subtilezas, disputas efalsos problemas,
apanâgSodo
ensino pré-pombalino,
em que
preponderavam os Jesuítas. Esteensino
arcaizante, proso a uma escolastica tardia e esclerosada, tinha de ser substituídopor
um
modelo que entendesse, nitidamente,o
estudo conveniente dasciências
divinas e
profanas, nomeadamenteo
avanço das ciências exactas e naturais, mediante ouso darazío,
da observagão e da experiência. Posto em causa o velho saber expresso nos regulamentos das Universidades de Évora (1559) e de Coimbra, tornava-se imperativoreformular
os estatutos desta,já
que a da cidade alentejana acabaiapor
ser encerrada, com a expulsão dos padres da Companhia de Jesus, seus professores.O autor
do
<<Verdadeiro método de estudar»»,o
arcediagoLuís António
Verney, oratoriano, apresenta-se como o exemplo paradigmático das críticas aos velhos modelos pedagógicos dos inacianos, que, tão bem conheci4 dos tempos de aluno da universidade eborense,propondo uma
nova
pedagogia,de teor
ilustrado.
Preocupa-secom
uma articulação entre a educação e o poder, que nos remete paÍa alaicízaçáo da cultura e do sistema de ensino.A
educação das crianças e dos jovens compete ao poderpolítico
e a doutrinagão cristã competirá às escolas eclesiásticas.Todo
este ideário assumiu formas mais ou menos próximas das reformas pombalinasdo
ensino, que não dispensaram oClero no
preenchimento das mesas censóriase
da universidadecoimbrã, em
que osnovos Estatutos devem
múto
ao contributo de Verney, sobretudo nas áreas canónica eteológica.
No
Iluminismo Católico
português,
que
se
inspirou
em
fontes
italianas, austríacase
espanholas, preponderaa figura
de
VernaY, àpar
de
um
rol
de
outos
religiosos,
que incluiu
D.
Frei Manuel do
Cenáculoos
padresAntónio
Pereira de Figueiredoe Teodoro de Almeida,
D.
Franciscode
Lemose
Frei
Joaquimde
Santa Clara. Contudo, convém esclarecer, quejá
em meados do séc.XVIIL
no reinado deD.
João
V,
começavaa
afirmar-se uma
lenta
aberturaaos
paradigmasdo
IluminismoCatólico, em
D.
Miguel
da
Anunciação(bispo de
Coimbraem
1,739),D. Miguel
de Távora (Arcebispo de Évoraen
1739),D.
João de MagalhãesAvelar (Bispo
do Portodo <<IVÍagnânimo>>, lia-se
um
conjunto de autores, demaior
ou menor relevo, tais comoMontesquieu (1689-1755),
Rousseau(1712-78),
Voltaire
(1694-1778),
Bielefeldt, d'Holbach, D'Argens, Raynal, Mirabeau, etc.Artu
Anselmo(1997)
analisao
livro
português da epoca deD.
JoãoV
(1706-1750), começando
por
fazer a história breve datipografia
poúuguesa, salientando todoum
conjunto de experiências acumuladas,no
séc.XVI,
sem as quais seria impensável entender, cabalmente,o
sucessolivreiro
do períodojoanino. Logo,
explicao
aumento vertiginoso da publicaçãode títulos,
neste período,que
começacom
300
por
ano e acaba com 900. Aquele autor aborda a tipografia, como <aímbolo depaz e ostentação>», o que equivale afalar de sucesso da tipografia e coÍrsequentemente do sucesso doliwo
eda emergência progressiva da importância das bibliotecas.
No
plano político,
os
iluministas católicos
defendem,em
termos
gerais, o regalismo, aceitando a supremacia do Estado sobre a Igreja, cujo mentorfoi
Pombal, eexigem uma maior autonomia, face ao Papa. No plano religioso, procuram
consfuir
um catolicismomais
austeroe
exigente, assente emprofunda
e erudita formação de que fazia parteo
racionalismocrítico próprio
das Luzese,
simultaneamente, descrente edistante das modalidades populares de devoção e das superstições. Levantavam-se, pois, vozes mais tolerantes
paÍa com
outas
religiões, que valorizavama cultura bíblica,
a história dalgreja,
aliturgia
e combatiam a cultura demaúz
barroca, teatralizada, antes dominante.O
estudoda
acção pastoral dos bispos ilustrados, das suas bibliotecas einteresses
literários,
o
grande
rigor na
admissãoe
preparaçãodos
candidatos aosacerdócio,
a
edição
de
missais
e
breviários
e
o
combate
a
certas práticas
de religiosidade popular, consideradas obscuras, são exemplos paradigmáticos dos novostempos,
que
D.
Frei
Manuel
do
Cenáculo
aplicarâ posteriormente,nos
projectos reformistas da governação das dioceses de Beja e de Évora.2.1.2. O projecto reformista
Frei
Manuel
do
Cenáculo
Villas-Boas
(1724-1814)
foi,
inegavelmenteo
mentor,colaborador e executante das reformas pombalinas nos vectores fundamentais do ensino
e
da
culturq
desde asprimeiras
letrasà
Universidade,na
condiçãode
Deputado e Presidenteda Real Mesa
Censória (1768). Instituigãoest4
que
substituindoa
velhapostura
do
(novo)
Estado
nascente, déspota esclarecidoe
regalista
de
inspiração»(DOMINGOS,
1992,p.
137)Depois
de
1772, a Real Mesa Censória desenvolveu duas actiüdades, de forma paralela,a
coordenação das reformasdo
ensino secundárioe atribuiu a si
mesmo amissão
civilizadora
de
fundar uma Biblioteca
Públicq
quetivesse
a
arrplitude
dasmaiores
da
Europa,de portas
abertas, puraa
instruçãode todos:
curiosos,os
mais eruditos e até os próprios censores.Cenáculo começava, então, a revelar o legado de uma viagem efectuada a Roma,
nos
anos
cinquentado
séc.XVm,
onde participou,
no
Capítulo
Geral da
Ordem Franciscana,na
companhiado Provincial e
de
outrosdois religiosos.
A
deslocaçãoconstituiu pretexto para
visitar
asBibliotecas
de [tâliU
Françae
Espanh4
em
que contactouas
elites eruditasda
epoca, assistiua
reuniõesliterárias,
apercebeu-se dos progressoscientíficos, literários
e
da
importância
dos
esfudos
linguísticos,
com particularidade para os orientais.No início
dos anos setent4 acumula a Presidência daReal
Mesa
Censóriacom
a
da
Junta
do
SubsídioLiterário,
entretanto
fundada, é Conselheiro da Juntada
Providência Literárta, criadacom
o
objectivo
de proceder àreforma da Universidade de Coimbra e é escolhido para preceptor do Príncipe da
Beir4
D.
José.
Troca
correspondênciaseruditas
e
regulares
com
os
contemporâneos peninsularese
inicia
a
formação
de
vastase
sucessivas colecçõesde
liwos,
queconstituiriam,
posteriormente,os
acervos basilares dasBibliotecas
do
Convento de Jesus,de
Beja e
de
Évoraecom
a
disposiçãode
serem públicas.E
Cenáculo,já
no exercíciodo
governodo
Bispado
de
Bej4
prosseguea
filantropia bibliófila
com
agrande doação
de
espécies documentaisà
Real Biblioteca
Pública da
Corte,
actual Biblioteca Nacional, fundada a29 de Fevereiro del796,por
decreto de D. MariaI.
Frei
Manuel
do
Cenáculo conseguiu alcançare
teve
os
maiores êxitos
na angariação dos meios financeirosde
grande envergadura queexigia
o
seu imaginário reformador de <<[Iomem das Luzes>», sugerindo, nomeadamente,o
estabelecimento deum imposto
sobreas
bebidasalcoólicas que
intitulou de
«subsídio
literário»
para suportar as Escolas Menores, a abrir em todo o país.2.1.3.
A
missão da Biblioteca Pública da Real Mesa CensóriaO projecto conceptual e firncional do Franciscano da Terceira Ordem convergiu para a
criação da
Biblioteca
Pública da Real Mesa Censória, porque quase todas as grandes bibliotecas particularese
conventuais tinham desaparecidocom
o
terramotode
1755,com
especialreferência
paraa
Biblioteca Real de
D.
JoãoV.
Os
fundosiniciais
daBiblioteca da Mesa,
provenientes dasliwarias
das extintas Casasda
Companhia deJesus, eram aumentados, segundo Cenáculo,
atavés
da
compra sucessivade
outras colecções de fundos documentais, a suportarpelo
Erário Real (preciosos manuscritos e osliwos
mais raros), que se completava com a composição de um Museu de Raridades. Depreende-se,pois, que
esteplano
arnbiciosoda
Mesa
estavalonge
de
constituir, exclusivamente,um
armazémde livros,
à
esperade
revisão
ou
autorização paraimprimir.
A
emergente
Biblioteca Pública
da
Mesa
continuaria
a
crescer
com
osfomecimentos
privilegiados
da ImpressãoRégra
com as aquisições efectuadas, atravésde Nicolau Pagliarini,
seu
Director Geral, particular amigo
e
correspondente deCenáculo, e com a aquisição de
liwarias
particulares. Neste contexto de incremento daBiblioteca,
a
Mesa
preocupou-seem dotá-la com
pessoalpróprio
e
qualificado compostopor um Bibliotecario-Mor, um
Sub-bibliotecário e para a guardae
limpez4
um
Fiel e
um Moço;
estequadro de
pessoal,nunca
foi
alterado,não
obstante assolicitações
do
erudito religioso,
de modoa
acompanharo
crescimento contínuo. As preocupaçõesde
Cenáculo estenderam-seà
instalagãodefinitiva
e
condignada
ideiailuminista
da
Livraria
Pública
indispensávelao
progressoe
estabelecimento dasgrandes
luzes,
de que fala
Pagliarini, numa
missiva
endereçadaa
Pombal.
Assim, devido a esta preocupação com a imagem exterior, parece quefoi
doproprio
punho deCenáculo, que saiu uma nota
dirigida
a Reynaldo Manuel para que este desenhasse a planta da referidaliwaria.
Nela, constavamum átrio,
armazéns a ocuparcom
diversas funções, uma grande sala deleitura,
19diüsões
para acomodar gabinetes individuais, salaspara
os
liwos,
distribuídos
por
matérias
e
para
o
monetário,
apoiadas por instalações sanitárias, depósitosde material
de
limpeza
e
escritório, bem como
por divisões-
extra, para futuro crescimento.Este plano repercutiu-se, no decreto de
2
de Outubro de 1775, em queD.
JoséI
elogiou a
enoÍne
t'rqureza da Biblioteca vocacionada para se fazer pública, em beneficio geral de todosos
seus vassalos que se queiraminstruir, pelo
que thedisponibilizou
oedificio do
lado ocidental
da
Real
Praçado
Comercio.
A
biblioteca da Real
Mesa Censória terá sidoaí
alojad4
em finaisde
1784 ouprincípios de
1785, a dois anos da sua extinção,com
um
aceryode
60.000 volumes, aquela quepode identificar
como primeiraBiblioteca
Pública portuguesa,no
dizer de ManuelaB.
Domingos(1992);
a1,não
faltavam
bibliografias,
dicionários,
enciclopédias,ou sej4 os
instumentos
de trabalho mais recentes ou mais úteis aos saberes.2.1.4.
Liwos,
leitores e leituras na criação das Bibliotecas do Convento de Jesus e dos Seminários de Beja e de ÉvoraA
acção deD.
Frei Manuel do
Cenáculo,no domínio
das bibliotecas, doslivros
e daleittrr4
inscreve-se numbom
exemplo <<da mania daleitura
de que fala Roger Chartier,a
propósitoda difusão
e
vulgarizaçãoda
práúicada leitura e
dosliwos
ao longo
do séculoXVItr»
NA2,2003,p.48$.
Da sua práúrcaquotidiana, faziamparte as leituras,de
carácterreligioso,
e
os
registos extremamente cuidadosos,do
seuDiário,
onde anotava o interesse pelosliwos
e por manuscritos. Assumiu-se, como um grandeleitor,
um
grande coleccionador deliwos
eum
enérgicocriador
de bibliotecas, para as quais legava importantes e numorosas ofertas, imaginário esse, quedesempeúou um
papel crucial, na suaobr4
e inspirou a sua vida e toda a sua visão reformista da sociedade.Na
correspondência,
que
estabeleceao longo
do
seupercurso, as
referênciasa
liwos
constifuem uma nota constante, como comprovam as muitas cartas enviadas para Beja
durante
o
exercício
da mitra
pacense.Dispunha
de uma rede de
correspondentes localizados, em Portugal,no
seu vasto Império, com particular relevância paraLisbo4
Coimbr4 Evor4
Goa,Brasil,
Macaue Timor e no
mapa da
Europ4
destacaram-se Roma, Pádu4Turim,
Nápoles, Madrid,sevilh4
Paris, Londres, Bruxelas,Hai4
oxford
e
S.
Petersbrngo. Estes interlocutores eram, principalmente, agentese liweiros,
por
intermédio dos quais, Cenáculo tinha acesso as novidades literárias, aos leilões de
livros
raros e lhe faziam chegar notícias das obras recentes. Desses correspondentes, devernos salientar o
já
conhecidoNicolau
Pagliarini,já
instalado em Roma, depois da queda de Sebastião José, grande fomecedor deliwos,
AndrêsSilva
de Bruxelas, Francisco JoséMaria de
Brito
e FreiAntónio
Raimundo Pascoal.No
que se refere às
leituras,
o
erudito
religioso
enuncia
um
conjunto
de cuidados,que deviam ser
tomadoscom
as
obrasde
autores,güo
professam ouhas religiões e até mesmo extensíveis à literatura clássica. Arazáo tem de estar subordinadaà Fé, à
Filosofia
e à Teologia,jâ
qae a verdadeira razáo é a dosMistérios,
pressuposto perfeitamenteconciliável, com os
dogmas
da Igreja
Romana,
como
o
defende oIluminismo
Católico.Da
pluralidade de autores, que sintetizaa sla
epocq
poderemos enunciar as obras de Rousseau,Voltaire,
Winckelman,IJstariz,Ulloa
Beccaria, Savary, a Enciclopédia emútas
oufras.Cenáculo estabelece, também, diversas categorias
de leitores, em
que todos devem obedecerà
instruçãoprimeira de
estarem consciencializados dos seus oficios, como cidadãos e cristãos.Num
segundo momento, Cenáculoidentifica
os professorescomo
os
«<Depositáriosda Religião
e
Guardasda sua
paÍeza>>,que em
nome
da instrução,devem
ler
para além da
Bíblia,
os textos dos
Padresda Igreja e
autores hereges, estescom
a recomendaçãofinal
de serem <<filtrados»pelo
espírito cristão.A
primeira categoria de leitores entende que a pedra angular sobre aqual
deve assentar ainstrução e a leitura é
o
catecismo, e na segunda reflectem-se as preocupagões relativasà redacção de programas de leitura paÍa os leitores das bibliotecas, que fundou.
Cenáculo ocupa
o
caxgo deProvincial
da Terceira Ordem,de
1768 a Fevereiro de 1777 e ordena, queo
convento de Jesus, parcialmente, destruídopelo
terramoto de 1755, recebaum
conjuntode
obras de remodelagão. Ficarambem
expressas as suaspreocupações, não só como a biblioteca, mas igualmente, com a abertura de janelas em todo
o edificio,
de modo apossibilitaÍ
espaços luminosos, higiénicos e arejados, isto é confortáveis e propícios à formação religiosa e cultural dos noüços, pois àquele espaço estava reservada uma missão fundamental, o da sua instrução. Orecán-eleito
Provincial beneficiou a nova biblioteca comum
donativo de 4.000 cruzados,com
uma oferta de 3.000 volumes e prometeu legar, mais tarde, 4.000 volumes.A
instalação da Biblioteca do Convento de Jesus arrastou-se por 27 anos e sóviria
a ser abertaem
1806; recebeu avisita de Adrien Balbi,
em
1822,que lhe contou
32.OOOvolumes,
no
seu acervo documental, considerando-aa
terceirado
Reino, depois dabiblioteca de
Lisboae
deÉvora.
De
resto, abiblioteca
erapública,
de acordo com uma disposição do fundador:estava aberta durante três dias por semana, para os estudiosos.
Cenáculo, que é nomeado para
primeiro
Bispo deBej4
em
1770, só entraria, na Dioceseen
1777,
apósa
quedade
Pombal, onde
irá
continuar
com
a
sua
acçáorenovador4
no
domínio
da
formação
e
instruçãodos
seuspadres
e
da
formação catequéticados leigos, em que
as
missões populares representaramuma
presença constante. Determinaa
úertura
de umabibliotec4 no
Seminário Diocesano, em cujoestabelece
o
respectivohorário
-
às
segundase
quintas, de
manhã-
recomenda apresença de
um
bibliotecfuio
permanente, que seriaauxiliado pelos
seminaristas nashoras vagas, prescreve
a
elúoração
de
um
catálogodos liwos
existentes, proíbe o empréstimodomiciliario
(impensável para a epoca) e exprime preocupações relativas àpreservação dos
liwos,
nomeadamenteo
asseio.O
número devolumes
da biblioteca pacense estaria quantificado enfie os 9.000 e os 10.000 exemplares.2.2.1. O início de uma Missão
Em 1802, Cenáculo chega a
Éror4
para assumir o govemo da Arquidiocese e, passadoshês anos,
em
1805,na
esteira da criagão dasBibliotecas
da Real Mesa Censória, do Convento de Jesus e de Beja, funda a Biblioteca Pública de Évora.Ficou
instalada, na ala ocidental do PaçoArqúepiscopal,
que D.Frei
Lús
de Sousa, Bispo eleito do Porto e govemadordo
Arcebispado tinha reservado parao
Colégio dosMeninos da
Sé. Osfirndos documentais,
à
data da fundação, rondariamos
50.000 volumes, provenientes dosliwos
deixadospor D.
Frei
JoaquimXavier
Botelho
deLima,
seu antecessor namitra
eborense e dos cerca de 25.000 volumes impressos e manuscritos, queo
prelado fransciscano trouxera de Beja.A
nove anos da sua morte, em 1814, a criação da Biblioteca Pública de Évora, instituição a comemorar o seu bicentenário no presente ano de 2005, apresenta-se comoa
criaçãomais incontornável
de
Cenáculo,talvez
a
mais notória, que
glorifica
um percurso dedicado à divulgação do saber. O espólio documental da Real Mesa Censóriafoi
incorporado na Real Biblioteca Pública da Corte, a Biblioteca do Convento de Jesus passou para a Academia das Ciências de Lisboa eo
acervoliwístico
daBiblioteca
do SemináÍio de Beja transitou para Évora, com a deslocação do bispo Cenáculo, em 1802.A
criação dabiblioteca
eborense resume toda avida
de um coleccionador da epoca dasLuzes, em que consta a aquisição de
liwos,
raridades, obras de arte e peças naturais como objectivo ma:rimo de abrir bibliotecas e museus. De um espírito elevado e altruísta, a que preside sempre
o
mesmorumo
norteador, renovadamente defendido, é missão da Biblioteca Pública defender a preclara importância da utilidade da instruçãodo
clero edos
restantes diocesanos,sendo este
fim
claramente expresso,no
preâmbulo
dosEstatutos da BPE.
Mais
ainda, o prelado reformador defende que as bibliotecas são um bom investimento, só realizam a sua missão, se forem úteis e defácil
acesso ao público.As
ciênciase
as artes nunca seriam desenvolvidas seo
interessepelos
liwos
ficasse limitado ao espírito de curiosidade do coleccionador e aferrolhados, nos armários.É
amatiz
iluminista
de Cenáculo, que procura instruir o maior número possível de pessoas, atravésda leitura e da
observação das obras de arteou
da
nafi,treza. <tA criação de uma biblioteca públicaer4
portanto, o ponto mais alto de toda a actividade egosto pelas
colecções,tanto mais
que
vinha dotar
a
cidade
de Évora, com
uma instituição onde queria reunir o que considerava importante para o progressodo
saben»A
introduçãodos
Estúutos
da
BPE
constitui
um
manifestopúblico,
em
que Cenáculoreafirma
e
amplia
as disposiçõesjá
anteriormente enunciadas, aquando da criação de outras bibliotecas. Reaparece a obrigação de que a biblioteca é um dever dasua pastoral,terâ de servir o público, determinando o artigo oitavo que estará aberta aos
leitores, quaho
vezespor
semana, nas manhãsde
Terça e
Sábadoe
nas tardes de Segunda a Quinta e que todos deviaÍn ser bem recebidos, quer pelosoficiais,
quer pelos restantes empregados.2.2.2.Luzes e sombras novecentistas na Biblioteca Pública de Évora, no pós fundação
A
Invasão Francesade
1808
e a
prisãode
D.
Frei
Manuel
do
Cenaculopela
Junta Revolucionárta aÃraramtodo o
processo de andamento da obra da BPE e contribuíram paÍaa
perda devaliosos fundos
documentaise
artísticos. Terminadas, queforam
as invasões napoleónicas,o
prelado prosseguiuo
seuprojecto, pela provisão de
2l
de Setembrode
1811, em que elabora os Estatutos, e adita preocupações complementares relacionadascom
o
financiamento
da BPE
(300$000Réis
das receitasda
Mitra
e 200$000Réis da
Fabrica
da
Sé).
Estas dotaçõesanuais
custeavama
despesas de conservação,de
adiantamentodo
edificio
e o
pagaÍnentodos
funcionários,
cujoscritérios de
nomeaçãoeram
estabelecidos,de
acordo
com
o
perfil
designadopor
Cenáculo.
Em
1813,começou
a
organtzaçãodo
museu, sob
a
responsabilidade do Bacharel Francisco da Paula Yelez eFrei
José Constâncio LopesdaCrnz,
queinicia
aelaboração do catálogo da
liwaria. A
morte do eruditoArcebispo, em26
de Janeiro de 1814,acaretou
consigoum
interregnode
seis mesesna
instalaçãodo
Museu
e
daLiwaria,
decorrenteda
conjuntura religiosa
da
Arquidiocese
e
que nos
remeter4 posteriormente, para desenhar empleno
séc.XIX,
dois
períodos distintos, quanto aocrescimento e implantação do novo espaço cultural eborense.
Com efeito, podemos estabelecer um primeiro período, situado entre a morte do ilustrado Arcebispo (1814) em que a Igreja de Évora nomeou bibliotecários, suportando os inerentes encargos financeiros e
um
segundo que seinicia
com
a sua transferênciapaÍaaalçadado
EstadoLiberal
(1834): produto das Luzes.Logo,
no início
do primeiro
período,o
Juiz
JoséAntónio
de Leão, que tinha redigidoo
inventáriodo
espólio de Cenáculo, comunica ao Governo daRegênciq
em22
de
Fevereirode
1814,que
a
biblioteca
e
o
museu se encontravaÍn,num
estado caótico. O mesmo JuizabordU
undq
as indecisões deD.
Frei Joaquim de Santa Clara(1816-1818), sucessor de Cenáculo
e
as deAntónio
José deOliveira, Bispo
eVigário
Capitular
do
Arcebispado
de Evora,
relativamenteà
continuidade
da BPE, sob
adependência
da Igreja
Metopolitana
de Évora.É
que Cenáculotinha
registado, nos Estatutos da BPE, um conjunto de obrigações para os seus sucessores: doar a biblioteca àIgreja,
que a presidiria, mantero
seu
carárcte.rpúblico e
assegurÍlro
pagamento dosseus funcionários. Estas
inceÍezas foram
ulüapassadaspelo
bom
sensodo Juiz,
JoséAntónio
de
Leão, que conseguiua
isenção dosinventário
dabiblioteca e do
mu§eu,junto
da Regência, assumindo oVigário
Capitularo
dever de elaborar o novo catálogo da biblioteca.A
D.
Frei
Joaquim
de
SantaClara
sucedeuo
Arcebispo
e
CardealD.
Frei Patrício da Silva (1820-1825), gue, numa provisão de 3 de Janeirode
1821, reforma oquadro
dos
empregadosda
Biblioteca e
saldadívidas
antigasaos
empregados, pois paroce que a dotação de 500$000 Réis, estipuladapor
Cenáculo, nunca chegoua
fazer efeito algum. Durante a suaprelafurq
os fundos documentaisforam
aumentados com olegado do Bacharel da Sé
António
Baptista Facamelo, que constou de 5.000 volumes, com algumas ofertasdo
Governo, de particulares e com a compra dos manuscritos do CónegoDr.
José Joaquim Poças.A
nomeaçãodo
seu sucessorD. Frei
Fortunatode S.
Boavenfura (1832-34), adeptodo
absolutismo miguelista einimigo
da emancipaçãodo
saber pelosliwos,
fez mergulhar a Instituição numa crise temporária. Não respeitou as disposigões estatutáriasda Biblioteca Pública:
ordenou
o
seu
encerramento,despediu
o
bibüotecário
e
ocontínuo
e
exigiu
a
devolução
das
chaves...
Os
funcionários
não
acatatarrt o despedimento, peÍmaneceraÍn no exercício gratuito das suas funções. Insatisfeito com zuireacções dos frrncionários, o Arcebispo mudou-se para Estremoz
e
fez conduzir, na sua bagagem pessoal, alguns caixotes deliwos
que, entretanto, desapareceram. EsteconÍlito
foi
ultapassado com avitória
do Liberalismo, que exilouD.
Miguel
eo
seu Arcebispo adepto, normalizando-se a situação dabibliotecq
de imediato, com a nomeação interina do bibliotecário, Padre CiprianoAntónio
PereiraAlho,
por D.Maria
II,
ainda dentro de 1834.Mone tês
meses depois da sua designagão, sucedendo-
lhe
o Cónego Franciscode Paula Yelez
Campos,em
Maio de
1838,com
quom
seencelra
a
administração religiosa da Biblioteca Pública de Évora.Em 25 de
Dezembro
de
1838,
o
Dr.
JoaquimHeliodoro da
Cunha Rivara,professor
do
Liceu
de Évorq
é
nomeadopara
assumir
o
caÍgo de
bibliotecário, iniciando desta forma,um
segundociclo,
em que doravante o Estado passará a assumiras suas responsabilidades orgânicas e financeiras. Começa, assim, uma
nova
ordem de crescimentoque
recuporaa
<diria»>de
bibliotecas,
liwos
e
leitores,
que tão
bemidentificou
a
mdrcade
Cenáculo. Cu::haRivara
ordenoue inventariou
a
colecção de manuscritos da BPE, que forampúlicados
com otítulo
<<Catálogo dos manuscritos da Biblioteca Pública de Évora»», pela lnprensa Nacional, em 1850. Acrescentou o ediffciocom
o
levantamentoda
chamada «SalaNov»>, em
L844,fez
engrossaxos
fundos documentais com mais 5.000 títulos, provenientes das livrarias dos conventos extintos.Cumpriu
esteprimeiro
bibliotecário
civil
a
imposiçãolegal de redigu
o
<<PrimeiroRelatório da Biblioteca»», enviado ao Govemo
e
datado de29
de
Setembrode
1845,documento este que
retrat4
exemplarmente,o
seu programabiblioteconómico,
«UmaLiwaria
assim falha, como esta de obras modernas deixa de ser frequentada, e fica um Estabelecimentoinútil»
(ESPANCA,
1980,p.109),
passandopela definição
de
um orçamentoprivativo, pela
edificação
de
mais uma sala
e
pela
admissão
de
um escriturário (o pessoal resumia-se a elepróprio
e a um continuo!) e pela venda ou ffocados
liwos
repetidos.
Antes da partida
de
Cunha
Rivara paÍa
a
Ínaia,
onde
iria
desempenhar o lugar de Secretário do Governo, ainda teve labor para catalogar mais de 8.000 volumes da «Sala Novo> e enquanto deputado às Cortes, conseguiu do Governo umaprestagão anual de 150$000 réis.
Depois
da
saída de JoaquimHeliodoro
Cuúa
Rivara, JoãoRafael
de Lemos, administradordo
concelho,reitor do Liceu
e
comissáriodos
estudos,foi
nomeadobibliotecário interino
sendo, mais tarde, coadjuvadopor
Jerónimo de Sales Lobo, que substituiriao
velho
contínuo José de Castro. Falecido quefoi
o bibliotecário
interino,em Íinais
deJulho de
1863,foi nomeadoo Dr.
AugustoFilipe
Simões para exercer o cargo,por
Decreto de23
de Outubrode
1863. Estebibliotecário
alargouo
horário da Instituição, que pÍLssou a estar aberta das 10 horas da manhã às3
da tarde, ou seja um acréscimode
duaspara cinco
horasdiárias, que teve, como
reflexo,
o
aumento de leitores por mês, cujo número mensal vatiava enüe cem e cento e cinquenta, em termos médios.A
pedido do novobibliotecario
foi
mais
:utrravez aumentadoo
edificio
com aconstrução
da
<<SalaNovíssima»
ou
<<FilipeSimões»
e
sofreu
uma
série
de remodelações, que lheimprimiram
a distribuigão arquitectónica actual.No
rés-do-chão, construiu-se a escadariaprincipal, o
gabinete Cunha Rivara para leitura de Cimélios, o gabineteBotelho
deLima
para Hemerotecae
depósito de publicagões periódicas; no primeiro andar, AugustoFilipe
Simões restaurou a «Sala Novo>, recatalogou e alrumou pessoalmenteos
12.0000volumes
impressose
determinoua
colocaçãode
redes deaxame para proteger Írs estantes, da «Sala de Leitura»;
fez
expor, na <<Sala Novar» toda a colecção de arte de Cenáculo, à excepção daarqueologiq
que semostou,
no
rés-do-chão, até à criação do Museu de Évora, em 1915.Quanto às prestações orçamentais,
por
ano,que foram
fixadas,no
tempo
de CunhaRivar4
para o período correspondente enhe 1855e
1863, só em dois anos forarn recebidas,pelo
queteve Augusto
Filipe
Simõeso êxito
de alcançardo
Governo um aumentode
150$000para
250$000réis.
Neste mesmorelatório,
enviadopelo
novo bibliotecário, aoMinistério
do Reino, em3l
de Dezembro de 1864, que vimos citando, reaparecemas
mesmas preocupaçõesdo
seu
antecessore
outas:
a
falta de
üvros modernos, as questões referentes à conservação dosliwos,
as encadernações, ausênciade um bom
catálogo(por
ordem
alfabéticade
autorese por
assuntos)e a falta
de classificação, a intemrpção da catalogação dos manuscritos iniciadapor
Cunha Rivara, a necessidade de ampliar a Biblioteca e o quadro de pessoal. Terminava o relatório comas recomendagões de que a BPE deveria adquirir
mobiliário
adequado e libertar do seusfundos
documentaisos
liwos
pertencentes aos conventosextintos que
se tomassem desnecessários, por meio de venda ou troca.Os
problemas identificados
pelo
Dr.
Augusto
Filipe
Simões
acabampor
coincidir com
as recomendações endereçadas ao Governo, queà
escala e contexto daépoca
resumem necessidadese
preocupaçõesesfuturais
perduráveis
até ao
nossotempo. Com
evidência, nesterelatório,
o
Bibliotecário revela,
aind4
uma
convicgãoprofunda de que
a
Instituigão
seriamuito
mais
frequentadapelos
leitores, caso lhes oferecesse mais comodidade e sossego, aumentasse o número detítulos
de publicações periódicas,numa
épocaem que
o
livro,
em
suaopinião,
vai
sendo substituído pelojomal.
Com a morte
prematurado
Dr.
AugustoFilipe
Simões,em
1887, poderemosdizer
que se encerrao
segundociclo
daüda
daBPE,
continuando a incorporação demais
obras pertencentes àslivrarias
dos conventos femininos, enfretanto extintos. Dos bibliotecários que se seguiram, ao longo de freze anos, não évisível
um fio
condutorque
reassumao
desassossegobiblioteconómico
do Dr.
Augusto
Filipe
Simões. Inquestionavelmente,foi
sob a direcgão destebibliotecário
edo
seu antecessor CunhaRivar4
que
se consolidaram as marcasdo
extensoprojecto reformista de
Cenáculo.Uma
mania daleitua
<dluminada» quevai
de encontroà
aquisição doslivros,
que seidentificam com
os
gostos
dos
leitores,tal
como,
bem
refere,
Filipe
Simões, que discordada
criaçãode uma Biblioteca
no
Liceu, da
cidade.Tudo em
nome de umaopinião
própri4
independente dado
Estado, em nomee
deuma
gestão mais racional dos dinheirospúblicos,
pois
à Biblioteca Pública
acorremmuitos
estudantese aí
as<<obras modernas»> são aproveitadas
por
todos os públicos.Tudo,
aindq
em nome da emancipagão deum
saberútil.
Capítulo 3
-
A
reafirmagão do papel das Bibliotecas Públicas: da RevoluçãoLiberal
àgénese da Rede Nacional das Bibliotecas da Leitura Pública.
.LPt
Q.
À.
i.'
a.84,' 4aIo;,,*;r
h,:.
'vV'
'i)".i.
'.,'l'if
{
3.1.1. Os Gabinetes de
Leitura
(1801-1920)A
viragem observadqno
séc.XVIII,
de uma leitura intensiva, em queo
mesmotífulo
era
lido e
relido
várias
vezes,por noÍmq
oralmente,para
uma leitura
intensiva, aumentoua
apetênciade
consumosculturais,
com
particular
relevo para
o
liwo
impresso. Ora,na segunda metade do séc.
XD(,
se por um lado, o número de bibliotecas públicas era irrelevante e com fundos bibliográficos, essencialmente eruditos, por outrolado,
começavama
emergir
oufros interesses. Estenovo público-alvo,
formado pela pequenae
média burguesia promovidaspelo
consuladopombalino,
e
até mesmo por algumas camadaspopulares,
ambicionavanovos
espaçosde
sociabilidade
cultural, coincidentescom
o
seu ideário,num
contexto em queo
objectoliwo
tinha um preço elevado e pouco acessível.Neste quadro geral,
os
Gabinetesde
Leitura
surgiram
como
resposta às mudançasde
práticasleiturais
e
ao
aumentodo
número
de
leitores. Ampliaram
ouniverso
do
acessoaos
liwos
e
envolvendo-osnuma plwalidade
muito
diversa, funcionavam, como uma espécie delojas
de leitura, de empréstimo deliwos
a preços módicos, facilitando o acesso a todos aqueles que não os podiam adquirir.O
primeiro
gabinete
de leitura
portuguêsabriu,
em
1801,
em
Lisboa,
poriniciativa do
liweiro
francês, Maussé.A
génese destes gabinetes deleitura
remonta àsegunda metade
do
séc.
XVITTT,mas
de
acordocom
investigaçõesmais
recentes, podemos antecipar os seus primórdios ao séc.XVtr
e aum
círculorestrito
deliweiros,
que
alugavarr
gazelas e libelos. Ainda,na
capital, funcionaram os Gabinetes de Leitura de Pierre Bonnardel, que não sendo o mais antigo, teve um longo período de existência, entre 1815 e 1848, o de Mademoiselle Ferin (1839) e o daLivraria Catolic4
este aberto, nos finais da década de sessenta do séc. XDCFora de Lisboa,
foram
criados Gabinetes deLeitura
emLoulé
(1835), em Angra do Heroísmo (1837), Alcobaça (1875), na cidade da Horta (1880) e em Coimbra (1885) e outros, que não prosseguindofins
lucrativos, se integravam em associações com fins educativos, culturais e recreativos, mediante o pagamento de uma quotizaçáo estipulada nos seus estafutos. Neste conjunto, destacamoso
casodo
Círculo Eborense, em Évora(1848)
e
depois
destadat4
jâ
na
segunda metadedo
séc.XIX,
os
GovemosCivis
aprovaram estatutos