• Nenhum resultado encontrado

Fechamento de escolas e atendimento de transporte público no Vale do Ribeira Paulista

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Fechamento de escolas e atendimento de transporte público no Vale do Ribeira Paulista"

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

Fechamento de escolas e atendimento de transporte público no Vale do Ribeira Paulista

Resumo

Baseados nas denúncias coletadas durante a série de audiências públicas, procuramos explorar os dados oficiais acerca da situação das escolas nos 25 municípios do Vale do Ribeira Paulista e das 30 escolas localizadas em áreas quilombolas, distribuídas em 6 desses municípios: Eldorado, Barra do Turvo, Itaóca, Canananéia, Iporanga e Registro. Para esse estudo, utilizamos dados do Censo Escolar, produzidos pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), durante o período de 2007 a 2015. A análise preliminar revela a tendência de redução de unidades escolares em toda a região, especialmente daquelas com dependência administrativa estadual. Nas áreas quilombolas, observou-se desde 2012 o processo de municipalização das escolas. Também observamos redução do número de alunos que utilizavam transporte público escolar.

(2)

Introdução

Ao longo de 2015, a Defensoria Pública de Registro (SP) realizou em parceria com a Equipe de Articulação e Assessoria às Comunidades Negras do Vale do Ribeira (EAACONE) um ciclo de audiências públicas sobre educação escolar diferenciada no Vale do Ribeira. Foram três audiências públicas realizadas nos municípios de Cananéia, Eldorado e Iporanga, nas quais foram colhidos quase cem depoimentos de quilombolas, indígenas, caiçaras, ribeirinhos e caboclos, entre convidados de ONGs e Universidades, além de representantes do poder público municipal e estadual.

O conjunto de depoimentos oferece um amplo painel de queixas, demandas e sugestões das populações tradicionais do Vale do Ribeira, que serve de ponto de partida deste trabalho. Dentre o total de depoimentos, 65% partiram de pessoas identificadas com a comunidade quilombola, cuja maior frequência das denúncias distribui-se em três eixos temáticos: (1) transporte escolar; (2) relação entre comunidade e gestores escolares e; (3) fechamento de escolas.

Fazia falta, entretanto, uma visão da situação desde o ponto de vista dos dados oficiais seriados. A nossa intenção com este breve exercício, portanto, tanto política quanto metodológica, é refletir sobre o modo pelo qual os dados oficiais sobre educação (em especial o indispensável acervo acumulado pelos Censos Escolares do INEP) podem e devem ser relidos de forma crítica desde a perspectiva dos agentes locais, em especial das comunidades tradicionais. Este exercício é o primeiro passo nesta direção.

Este estudo contrasta o conteúdo das falas dos sujeitos quilombolas com as estatísticas produzidas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), em especial, aquelas presentes no Censo Escolar durante o período de 2007 a 2015. Nosso objetivo é explorar os dados oficiais acerca do atendimento público de transporte escolar e da dinâmica de abertura e fechamento de escolas nas áreas quilombolas do Vale do Ribeira paulista, que perfazem seis dos 25 municípios do Vale: Eldorado, Barra do Turvo, Itaóca, Cananéia, Iporanga e Registro. Para tanto, este trabalho subdivide-se em três partes. A primeira delas busca contextualizar a situação escolar no Vale do Ribeira quanto ao nível de escolaridade da população e às taxas de atendimento escolar, com destaque para

(3)

as áreas rurais e comunidades quilombolas dos municípios selecionados. A segunda parte é dedicada à caracterização da dinâmica de abertura e fechamento de escolas nas áreas de quilombo. Por fim, procuramos quantificar o atendimento público de transporte escolar aos alunos dessas áreas.

O fechamento de escolas no Brasil não é um fenômeno novo e ocorre, principalmente, nas áreas rurais do país, desde a década de 1960 (FERREIRA; BRANDÃO, 2012). Em geral, o fechamento de escolas rurais é justificado pela redução da população em fase de escolarização, devido à migração campo-cidade. Contudo, a oferta de escolas rurais está ligada às condições de permanência de crianças e jovens nessas áreas, bem como o vínculo dessas com as terras da família ou da comunidade. Só nos últimos 25 anos, foram mais de 15 mil escolas fechadas nas áreas rurais do Brasil (COSTA et al., 2016). A regra é que nas escolas com muitas séries e poucos alunos, estes sejam redirecionados para escolas maiores, situadas nas sedes dos municípios – e este processo é denominado nucleamento.

O nucleamento responde à racionalidade econômica na administração escolar, mas dificilmente é justificado em termos pedagógicos. Além de desassistir famílias próximas às escolas rurais, o nucleamento implica na maior demanda por transporte entre escola e comunidades. Esta situação gera novos custos com o transporte, e aumenta o tempo de viagem dos estudantes até a escola, que muitas vezes ocorre em situação precária e de risco.

Dada a situação nacional de fechamento de escolas rurais, procuramos compreender essa dinâmica no Vale do Ribeira paulista, por ora, exclusivamente por meio dos dados do Censo Escolar, elaborado pelo INEP . Os dados provenientes dessa base tem a limitação de oferecer uma descrição das situações locais apenas pro meio dos números oficiais, não considerando o conhecimento direto e qualitativo dessas realidades. Por outro lado, são esses dados que informam às tomadas de decisão em diferentes níveis da administração pública.

Materiais e método

Para contextualizar a situação escolar do Vale do Ribeira, recorremos ao Censo Demográfico de 2010, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

(4)

A escolha desta fonte de dados deve-se ao fato de que ela capta as informações de escolaridade de toda a população, e não apenas daqueles na condição de estudantes. Para identificar quais escolas abriram e fecharam, bem como para conhecer o número de alunos atendidos por transporte público nos quilombos, nós utilizamos as bases do Censo Escolar (INEP) dos anos 2007 a 2015. A opção pelo período 2007 a 2015 deve-se à qualidade das informações para os municípios e variáveis de interesse, visto que no período anterior (1995 a 2006) havia diversas lacunas e elevadas taxas de não resposta (missings). As tabulações foram obtidas por meio de frequências e cruzamentos simples.

Resultados e Discussão

Recorrendo aos dados do Censo Escolar, observamos que o total de escolas em toda a região no Vale do Ribeira diminuiu 10% entre os anos de 2007 e 2015: de 686 para 621 unidades escolares. Esta redução deveu-se exclusivamente à extinção das escolas rurais. Ao longo do período, a oferta de escolas em área urbana foi ampliada em quase 10%: de 362 para 395; já o número de escolas rurais caiu de 324 para 226, ou seja, 30% menos:

Dentre as escolas rurais, identificamos também a abertura e fechamento de escolas em áreas de quilombo. Houve pouca variação no período observado, de 23 escolas em 2007 para 22 em 2015. Contudo, houve uma pequena flutuação ao longo dos anos: em 2012 havia 20 escolas, em 2013, 23 e em 2014, 24. Apesar disso, as escolas quilombolas deixaram se de 7% e passaram a representar 10% das escolas rurais em 2015. Portanto, se em termos nacionais é possível inferir que houve um crescimento do número absoluto de escolas quilombolas apenas devido ao processo de reclassificação das escolas rurais (ARRUTI, 2017), isso não se aplica à situação do Vale do Ribeira. Primeiro porque o número de escolas quilombolas não cresce, mas diminuiu em números absolutos. Segundo porque as escolas rurais não estão sendo reclassificadas como quilombolas, mas de fato extintas. Finalmente, isso acontece porque a classificação dessas escolas como quilombolas é relativamente antiga no Vale do Ribeira em comparação com o resto do país, refletindo uma política aparentemente consolidada de reconhecimento dessas comunidades e de suas escolas.

(5)

Quanto ao transporte, o indicador do volume de alunos que utilizam o transporte escola reflete a quantidade de alunos que precisam sair de suas próprias comunidades para frequentar a escola. O Gráfico 1 indica o total de alunos em escolas quilombolas e quantos utilizavam o transporte público:

Fonte: INEP, Censo Escolar da Educação Básica, 2007-2015.

Notamos que houve uma redução do número de alunos atendidos em áreas quilombolas, bem como a diminuição daqueles que declararam utilizar transporte público escolar no ano do censo. Entre os anos de 2008 e 2013, praticamente metade dos alunos de escolas quilombolas dependiam de transporte público (exceto do ano de 2012). Nos demais anos, a dependência do transporte chegou à média de 1/3 dos alunos.

Referências Bibliográficas

ARRUTI, J. M. Conceitos, normas e números: uma introdução à educação escolar quilombola. Revista Contemporânea de Educação, v. 12, n. 23, 2017. pp 107-142. COSTA, J. P. R.; ETGES, V. E.; VERGUTZ, C. L. B. A educação do campo e o fechamento das escolas do campo. In: VI Seminário Nacional de Pesquisa em Educação, 2016, Santa Cruz do Sul. Anais... Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2016. FERREIRA, F. J. ; BRANDÃO, E. C. Educação e políticas de fechamento de escolas do campo. In.: VIII Seminário do Trabalho: Trabalho, Educação e Políticas Sociais no Século XXI. Marília-SP: UNESP, 2012.

986 1007 1035 989 982 976 936 911 823 248 428 424 477 405 329 473 389 235 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Gráfico 1 - Vale do Ribeira (SP): Evolução do número de alunos e usuários de transporte público escolar

Total de alunos em escolas quilombolas

Referências

Documentos relacionados

O Design Thinking Canvas para jogos veio mostrar que é possível pensar em competitividade na concepção de artefatos, sem abrir mão da simplicidade, da

Para tanto alguns objetivos específicos foram traçados, sendo eles: 1 padronizar um protocolo de preparação de biblioteca reduzida ddRADSeq para espécies do gênero Cereus; 2 obter

The purpose of this work was: (1) to model fluid flow in a tubular continuous processing system by application of the RTD Danckwerts analysis, (2) to assess

O Pregoeiro da Prefeitura Municipal de Coronel Ezequiel/RN, no uso das suas atribuições legais, torna público a quem interessar, que estará realizando licitação tipo

1 - Específicos: conforme orientação da Vigilância Epidemiológica (isolamento viral ou sorologia).. 2 - Inespecífico: Hemograma com contagem de plaquetas (auxiliar

Conforme a classificação de risco, diante de um caso suspeito de febre de Chikungunya, o hemograma deve ser solicitado à critério médico para as formas brandas da doença e

- Sugestiva de estar relacionada à infecção congênita por STORCH: caso notificado como microcefalia E que apresente diagnóstico laboratorial específico e conclusivo para

-Não utilizar AINH (Anti-inflamatório não hormonal) ou Aspirina (acido acetilsalicílico) na fase aguda, pelo risco de complicações associados às formas graves de