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Guia selvador guia ecológico para se encontrar na selva

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO

HABILITAÇÃO EM JORNALISMO

LUCAS GAMA

GUIA SELVADOR:

GUIA ECOLÓGICO PRA SE ENCONTRAR NA SELVA

Salvador

2016.1

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LUCAS GAMA

GUIA SELVADOR:

GUIA ECOLÓGICO PRA SE ENCONTRAR NA SELVA

Memorial do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para a obtenção de grau de bacharel em Comunicação com habilitação em Jornalismo.

Orientadora: Profª. Drª. Simone Bortoliero

Salvador

2016.1

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BANCA EXAMINADORA

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Profª. Drª. Simone Bortoliero (Orientadora)

__________________________________

Prof. Dr. Maurício Tavares

__________________________________

Profª. Drª. Maria de Fatima Ferreira

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RESUMO

Em Salvador, há um número crescente de projetos, grupos e atividades que apresentam alternativas ecológicas e sustentáveis para a vida urbana, que ainda não tem grande visibilidade na programação da cidade. O Guia Selvador, elaborado enquanto Trabalho de Conclusão de Curso, é um guia alternativo da capital baiana, que consta do mapeamento e catalogação, em uma plataforma web, dessas iniciativas ecológicas que existem na cidade. Dessa maneira, o Guia apresenta feiras de alimentos orgânicos e agroecológicos, hortas urbanas, projetos abertos ao engajamento comunitário e grupos, centros e empresas que realizam projetos sustentáveis, com a finalidade disponibilizar essas alternativas ao público e possibilitar sua participação. A plataforma oferece ainda a chance para as pessoas criarem o seu próprio roteiro, interagirem com o conteúdo e coloborarem com o projeto. Este memorial tem o objetivo de destacar as etapas no processo de desenvolvimento do Guia Selvador, assim como as ideias bases que fundamentaram o trabalho.

Palavras-chave: guia de cidade; sustentabilidade; ecologia; cidade; Salvador; jornalismo digital; slow journalism.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Mapa Interativo do Guia Salvador ... 26

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 7 2. JUSTIFICATIVA ... 10 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 14 3.1. Cidade e ecologia ... 14 3.1.1. Cidades em transição ... 14 3.1.2. O momento da transição ... 16 3.2. Comunicação ... 19 3.2.1. Jornalismo online ... 19 3.2.2. Slow journalism ... 21

4. DELIMITAÇÃO DO PROJETO: como “brotou” o Guia da Selva ... 23

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS... 33

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1. INTRODUÇÃO

"Cidade Alta, Cidade Baixa? Em que cidade você se encaixa?" (Baianasystem - Duas Cidades)

A estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU) é que em 2050, aproximadamente 70% da população mundial, projetada para alcançar 9.7 bilhões de pessoas, estará morando em cidades (WORLD'S..., 2014). No últimos 65 anos, o crescimento da população urbana aumentou de 29%, em 1950, para 47% em 1998 e atualmente chega à margem dos 55% (HARRISON; PEARCE, 2000).

Nesse cenário, a ONU alerta que, em 2050, as cidades terão um desafio ainda maior em garantir emprego e atender as necessidades da população urbana, principalmente as mais básicas, como infraestrutura, transporte, energia, educação e sistema de saúde. Em termos ambientais, as cidades, que ocupam o equivalente a 2% do espaço do planeta, encabeçam o uso de mais de 75% dos recursos naturais e por mais de 70% da emissão global de gás carbônico (UNITED...; WWF...). Segundo John Wilmoth, diretor da Divisão da População, no Departamento das Nações Unidas para Assuntos Econômicos e Sociais, "gerir áreas urbanas tem-se tornado um dos desafios mais importantes do Século XXI." (apud WORLD'S..., 2014).

Por sua vez, especialistas apontam que a solução para os desafios ambientais do planeta, serão resolvidos a partir do planejamento das cidades, para integrarem sistemas mais sustentáveis. Em todo o mundo, cidades de todos os portes estão adotando novas estratégias e tendências para enfrentar os desafios econômicos, ambientais, sociais e políticos que afetam a vida urbana. Termos como cidades sustentáveis, inteligentes, cidades em transição, são algumas das nomenclaturas que, de diferentes maneiras, apontam para um novo contexto urbano (DOBBELSTEEN; FILION; PETERS). As mudanças, por sua vez, tangem o transporte, a produção e consumo de alimentos, o destino dos resíduos e o uso da energia e partem de diferentes estruturas sociais, que inclui governo, empresas, comunidades e indivíduos DOBBELSTEEN; FILION; PETERS).

Na cidade de Salvador, pode se perceber esses tipos de mudanças: mais redes de cooperativas; o aumento do uso de meios de transporte sustentáveis, como bicicleta; o surgimento de feiras que prezam pela alimentação sem agrotóxicos ou

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transgênicos; a organização de moradores que querem arborizar seus bairros e assim por diante. Muitas práticas aparecem de maneira alternativa, a partir de projetos independentes e que surgem das necessidades comunitárias. Também, as mudanças tangem ações governamentais, como a aprovação de leis que fazem com que restaurantes sejam obrigados a dar um destino mais sustentável para o seu lixo - como reciclagem e compostagem.

Por sua vez, é importante ter iniciativas na área de jornalismo que promovam a compreensão, a discussão e até a participação em ações de mudanças do ambiente urbano. O Guia Selvador1, meu produto de conclusão de curso, é um site que permite que o público conheça iniciativas ecológicas e sustentáveis que existem em Salvador. Para o Trabalho de Conclusão de Curso, foram mapeados feiras de alimentos orgânicos e agroecológicos, hortas urbanas, projetos abertos ao engajamento comunitário e grupos, centros e empresas que tentam realizar projetos ligados à sustentabilidade na cidade.

Como trabalho de campo, visitamos os espaços, conhecemos os organizadores, procuramos saber como foi fundado e como as pessoas podem participar dos projetos - e reunimos essas informações num site. Desse modo, como um guia, o site propõe que os usuários criem um roteiro para conhecer e participar dos projetos, espaços, grupos e atividades, ao informar quem realiza, quando, onde e como acontecem as iniciativas. No caso da categoria das feira orgânicas e agroecológicas, por exemplo, quem acessar o site pode saber o dia, horário e onde acontece cada feira, os produtos comercializados, a forma de pagamento, dicas e impressões pessoais, além de um álbum de fotos, em que cada imagem é acompanhada por uma descrição. Assim, o Guia Selvador tem a finalidade de ser algo prático, que possa oferecer um serviço. Assemelha-se a uma agenda cultural - que, nesse caso, poderíamos chamar de umaagenda da cultura ambiental-, principalmente pelo seu formato e pelo caráter de prestação serviço, com características de jornalismo de serviço ou de utilidade.

O site também conta com um mapa interativo de Salvador, com todos os pontos que foram catalogados, e uma agenda, constantemente atualizada, com o calendário das atividades ecológicas na cidade. Além disso, também são divulgadas oficinas, eventos e cursos em forma de notícias.

O Guia está ancorado em uma plataforma web, para facilitar o acesso e chegar a mais pessoas. Seguindo preceitos do jornalismo online, a plataforma garantiu que o guia adotasse características digitais, como a disposição multimídia, trazendo fotos, mapas interativos, vídeos, links, além das múltiplas possibilidades de interação com o

1 O Guia Selvador pode ser acessedo pelo endereço eletrônico http://guiaselvador.wordpress.com . O site está

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público. Dessa maneira, também foi criado um perfil do Guia Selvador na rede social Instagram2, acompanhando o site de maneira independente, com publicações personalizadas, mediadas pelo caráter imagético da plataforma social, que permite que seguidores tenham um acesso mais enfático das publicações nos seus aparelhos móveis, sem que o Guia tenha um aplicativo próprio.

A projeto, como um todo, tem a intenção de ser colaborativo, para que as pessoas possam inserir iniciativas ainda não mapeadas, contribuir com fotos, atualizações, pontos de vistas etc. Dessa maneira, o guia pretende cumprir o papel de uma plataforma participativa em construção, assemelhando-se com a ideia de uma cidade em construção, de forma que possa incentivar novos projetos urbanos e maior engajamento. Contudo, devido às limitações de tempo e do que sei de linguagem de programação, a plataforma ainda não permite que a colaboração seja feita de maneira autônoma pelo público, necessitando de uma mediação minha como administrador do site. Assim, disponibilizo uma área para contato, na plataforma web, para que o público envie sua colaboração, no qual eu avalio e posteriormente adiciono no site. O espaço para os comentários e a conta no Instagram, também permitem que o publico dialogue com o projeto.

Por fim, o guia permite um olhar alternativo, otimista e - por que não?- esperançoso para a nossa cidade-selva.

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Pelo aplicativo do Instagram, o perfil pode ser acessado pelo nome @guiaselvador. No navegador de internet, o acesso se dá através do endereço www.instagram.com/guiaselvador.

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2. JUSTIFICATIVA

Porque um site sobre iniciativas ecológicas em Salvador

Minha motivação inicial para elaborar o Guia Selvador foi a curiosidade de saber se Salvador abrigava projetos de agricultura urbana, como os que existem em outras cidades no mundo. Queria participar de projetos nessa linha, me juntar a pessoas com experiência nessa área, a fim de adquirir confiança pra criar, no futuro, meu próprio projeto de horta comunitária. Esta é uma área que tenho interesse em trabalhar após concluir o curso de jornalismo e, para isso, venho acumulando algumas tímidas experiências, nos últimos 3 anos

Nesse tempo, participei de diversas atividades, oficinas e cursos, entre elas, em 2015, fui aluno da disciplina Hortas Urbanas, oferecida como parte da Ação Curricular em Comunidade e em Sociedade (ACCS)3, na UFBA. Nessa disciplina, nós, alunos, realizávamos todo o processo de plantío e manutenção de uma horta, na própria universidade. No mesmo ano, participei de uma semana intensiva de oficinas e palestras sobre agricultura urbana, na Escola de verão sobre agricultura urbana de Montréal (tradução nossa), no Canadá4. Também, sou membro voluntário do Núcleo Metropolitano do Instituto de Permacultura da Bahia (IPB) desde 2015 e do APITA - Amigos pelo Itaigara, associação comunitária que arborizou o bairro do Alto do Itaigara. Atualmente, sou estagiário da Agência de Notícias em Ciência, Tecnologia e Inovação, na UFBA, agência de jornalismo científico, com intenção de divulgar as pesquisas e o conhecimento produzido na nossa universidade. Dentro da agência, priorizo pautas relacionadas ao meio-ambiente e ecologia, o que me ajuda a ampliar meus conhecimentos sobre tais assuntos.

3 As disciplinas oferecidas como Ação Curricular em Comunidade e em Sociedade (ACCS), fazem parte do

componente curricular da UFBA, diferenciando-se das demais disciplinas por serem ofertadas a alunos de diferentes áreas e cursos (criando assim grupos heterogêneos) e pelo caráter mais prático de extensão e relação com a comunidade externa à faculdade.

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A École d’été sur l’agriculture urbaine de Montréal é uma iniciativa anual, que acontece no período de férias das universidades, organizado pelo AU/LAB (Laboratório de Agricultura Urbana), membro do Instituto de Ciências do Meio Ambiente da Université du Quebec a Montréal (UQAM). Em 2015 a Escola de Verão realizou a sua sétima edição, com oficinas práticas e visitas a projetos comunitários e empreendimentos na área de agricultura urbana, em Montréal, Canadá. No total, foram mais de 250 participantes, de mais de 10 países. Para mais informações: http://ecoleagricultureurbaine.org/ .

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11 A busca por um jornalismo de transformação social e pessoal

Durante o meu percurso acadêmico, duas vertentes jornalísticas me mostraram um jornalismo mais verdadeiro e completo se comparado às experiências que obtive com um jornalismo factual, rápido e “de prazos”. A primeira é o jornalismo científico5

. A profundidade e a flexibilidade para fazer reportagens – ouvindo mais fontes, lendo e tendo acesso a mais referências-, me deram uma sensação de produtividade e utilidade. Escrever com maior imersão, me oferece, naturalmente, certo domínio sobre o assunto, o que, por sua vez, dá a impressão de que eu, como jornalista, tenho “o que dizer”. É como se, somente dessa maneira, eu consiga sentir o legítimo direito de dar voz ao conteúdo – e não só “servir” para repassar informação.

A segunda experiência positiva foi o trabalho que realizei na Revista Fraude. Lá puder fazer reportagens mais sensoriais, dando espaço para a vivência e não só para o recolhimento da informação. Um bom exemplo foi a pesquisa feita para a reportagem sobre meninos de rua, elaborado para a 12ª edição da revista Fraude.6 Passei a conviver com alguns meninos do bairro da Vitoria até o Centro Histórico para entender sua realidade e estabelecer um contato mais intimo, para, em seguida, elaborar uma reportagem que fosse além de uma simples visão “exterior” da realidade vivida por esses meninos. Essa experiência foi bastante intensa e me deu a sensação de estar compartilhando as informações de forma mais responsável como jornalista. Além disso, me fez sentir como se estivesse “me transformando”, como cidadão.

A partir dessas experiências, senti uma necessidade de explorar o jornalismo etnográfico e o slow journalism. Dessa forma, neste trabalho de conclusão de curso, a intenção por trás da construção do site é a de produzir um conteúdo mais completo e complexo, mais condizente com a realidade, com profundidade científica e “sem pular etapas”. A dedicação a um só tema, que foi sendo aprofundado a cada nova feira visitada, a cada projeto mapeado, a cada encontro com o cidadão por trás de cada iniciativa ou projeto, foi a fórmula que me permitiu (e continua permitindo) obter uma visão ampla do sujeito abordado no meu TCC. Além disso, acredito que o contato por um longo período de tempo com um único conteúdo, tenha o poder de provocar um efeito tanto no jornalista (eu, no caso), quanto no leitor.

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No semestre 2014.1, fui aluno da disciplina Jornalismo Especializado (código COM 363), ministrada pela Profª Drª Simone Terezinha Bortoliero, na Faculdade de Comunicação/UFBA. A disciplina especializou-se nas áreas de jornalismo científico, ambiental e de saúde, com foco voltado para a produção de conteúdo, para essas três vertentes.

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A revista Fraude é uma publicação anual de jornalismo cultural, inteiramente elaborada pelos bolsistas do Programa de Educação Tutorial de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Petcom/UFBA), sob orientação do professor-tutor. Na 12ª edição, lançada em Novembro, 2014, a reportagem sobre meninos de rua de Salvador não conseguiu ser concluída e, portanto, não foi publicada.

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Senti os efeitos dessa evolução ao longo do trabalho. No início, queria apenas fazer um produto que tivesse relação com os temas de ecologia, meio ambiente e agricultura, dentro de um cenário urbano. Ao longo do processo, principalmente durante a elaboração da fundamentação teórica, percebi que tinha interesse em participar e incentivar a construção de uma Salvador melhor planejada e com uma sociedade mais consciente ecologicamente.

Seguindo esta meta, o Guia me permitiu conhecer melhor a minha cidade natal e, consequentemente, perceber demandas e carências no contexto urbano e ecológico. Esse processo me levou ao encontro de pessoas e grupos com interesses semelhantes aos meus, criando uma rede de contato, com a qual contarei para continuar descobrindo novos projetos que eu me identifique e queira participar.

O desafio de criar uma ferramenta de utilidade pública

Ao catalogar as iniciativas existentes em Salvador e, apartir disso, dar espaço para se perceber o que ainda não exite e que pode ser feito, o Guia possibilita que outras pessoas, com interesses semelhantes aos meus, também possam participar da construção da cidade. Em Salvador, há muitos guias e agendas culturais, que tem um grande alcance e que conseguem mapear muitas opções turísticas e culturais que acontecem na cidade. Contudo, outras iniciativas não recebem tanto destaque, o que faz parecer que Salvador não tenha opções como, por exemplo, encontros de meditação, oficinas de jardinagem, grupos de pedaladas (de bicicleta), aulas abertas de yoga. São iniciativas, entre tantas outras, abertas para a participação de nativos e turistas. Assim, o Guia Selvador, acaba servindo como um guia alternativo da cidade, aonde propostas ecológicas são contempladas, permitindo vivenciar a cidade de uma maneira alternativa, a partir de outros roteiros e, portanto, (vi)ver uma outra Salvador.

Até então, eu tinha a sensação que informações sobre as diferentes iniciativas ecológicas da cidade, estavam espalhadas pela web, sem um espaço que reunisse todos os dados de uma maneira organizada. Também sentia que muitos projetos não tinham a devida visibilidade ou que não apareciam nas buscas (como se não existisse no mundo virtual). Como consequência, compreendo que essa falta de informação e confusão, enfraquece o movimento ecológico na cidade, dificulta uma noção real do que está disponível como opção ecológica e não encoraja o envolvimento das pessoas nas atividades existentes.

Pelas razões apresentadas acima, decidi elaborar esse site como produto do meu trabalho de conclusão, movido também pela vontade de fazer algo objetivo, prático e voltado para a sociedade, que as pessoas pudessem utilizar como um serviço.

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13 O desafio pessoal como concluinte do curso de jornalismo

Quando tive a ideia de fazer o site, pensei em pedir ajuda para amigos e membros da minha família, que têm experiência com desenvolvimento de websites e linguagem de programação, para me auxiliarem a fazer um site bem bacana, interativo, personalizado, semelhante à pagina Agriculture Montreal7, minha principal referência.

Contudo, conversando com um amigo, ele sugeriu que eu fizesse o site do Guia Selvador sozinho, com o conhecimento que eu tinha, com a intenção de mostrar o que eu sou capaz de fazer, em termos de jornalismo e comunicação, após 5 anos de faculdade. Dessa maneira, foi isso que tentei fazer, ao assumir a arte gráfica, a criação do site, a edição dos vídeos, a realização e curadoria das fotografias, a organização do conteúdo, além da visita aos espaços, entrevistas das fontes, etc. No final, essa experiência permitiu que eu me desafiasse na tentativa de mostrar o que aprendi durante o curso.

7 Site que compila iniciativas de agricultura urbana, na cidade de Montreal, Canadá. No tópico "Delimitação

teórica", explico porquê fui influenciado por essa página. Para acessar, o endereço eletrônico é

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3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1. Cidade e ecologia

3.1.1. Cidades em transição

Na Inglaterra, a cidade de Totnes liderou o movimento das transitions towns ou “cidades em transição”, idealizado pelo permacultor e nativo da cidade, Rob Hopkins. Pregando por mais autosuficiência e fortalecimento da economia local, a cidade tem moeda própria, que funciona como uma moeda complementar à libra, com a finalidade de garantir que parte do fluxo do dinheiro se mantenha na própria cidade. Ao mapear a economia local, Hopkins percebeu que dos 30 milhões de libras gastos no consumo de alimentos, 22 milhões voltavam para dois mercados que não tinham base local (FLINTOFF, 2013). Dessa maneira, ao incentivar que parte do dinheiro permaneça em circulação na cidade, Totnes encoraja as pessoas a consumirem do comércio local, consequentemente, deixando a cidade mais resistente à crises econômicas. Em 2014, após sete anos em circulação, a moeda local Totnes Pound tinha sido adotada, com sucesso, por 120 comerciantes da região (FLINTOFF, 2013)8.

Juntamente com a criação da sua própria moeda, Totnes abraçou outras iniciativas, como incentivar a compra de alimentos de fazendeiros locais, que, como consequência, fortaleceu o senso de um espírito comunitário. As ideias que fundamentam as transitions towns se baseiam em ações comunitárias em que grupos locais, como um aglomerado de vizinhos de um bairro, se juntam para resolver demandas ou propor alternativas para as suas comunidades. Foi o caso da criação de uma companhia de geração de energia em Brixton, outra "cidade em transição", na Inglaterra. Lá, criaram a Brixton Energy, a primeira estação de energia que pertence a uma comunidade, produzindo eletricidade através de painéis solares. Os membros (e donos) definem como objetivos da empresa comunitária, "o aumento da resiliência da comunidade ao reduzir a dependência a grandes companhias de energia, usar o lucro para educar sobre eficiência de energia, enfrentar a escassez de combustíveis e prover treinamento e emprego para pessoas locais", além de produzir a energia na própria cidade (TRANSITION..., tradução nossa).

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O número de comércios que aderiram ao Totnes Pound impressiona pela cidade abrigar menos de 10 mil habitantes.

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Projetos como esse demonstram a força que a comunidade tem ao se unir. O movimento em trasição é definido pelo idealizador Rob Hopkins, como ações em pequena escala - como gerar sua própria energia, produzir alimentos e investir no comércio local -, que têm o potencial de lidar com as crises que afetam as cidades e as pessoas, em um âmbito global (apud FLINTOFF, 2013). São soluções criativas, que conseguem envolver diferentes núcleos da sociedade, de uma maneira que, segundo Hopkins, dão esperança e não faz a cidade paralisar frente a uma crise (apud FLINTOFF, 2013). Em complemento, o movimento também está enraizado com uma preocupação ecológica - que no caso do projeto comunitário de geração de energia em Brixton, se dá pela consequência prática de não depender de fontes (externas e) não renováveis de energia.

Originalmente o movimento de transição surgiu ao tentar encontrar respostas "simples" e ao alcance das pessoas para as mudanças climáticas e para o declínio da produção global de petróleo9. Hopkins argumenta que as pessoas querem contribuir para o quadro de mudanças, nesse cenário de crise ambiental e aquecimento global, contudo, ele acredita que muitas vezes, essas pessoas imaginam que as "grandes mudanças virão de grandes pessoas" (apud FLINTOFF, 2013, tradução nossa). Para ele, o movimento de transição propõe (e prova) o contrário: "as mudanças também acontecem através de pessoas comuns, fazendo pequenas coisas, juntos." (apud FLINTOFF, 2013, tradução nossa).

Juntamente com Totnes e Brixton, mais de 1000 cidades, em mais de 40 países, adotam o movimento de transição (FLINTOFF, 2013). Contudo, o movimento de transição é apenas uma de tantas outras iniciativas que abarcam mudanças na forma de viver na cidade.

Cidades sustentáveis, por exemplo, propõe a mescla do espaço urbano com o meio ambiente, de uma maneira que busque estimular a economia e reduzir a desigualdade e pobreza (SUSTAINABLE...). Para isso, uma das ideias promovidas é o funcionamento de sistemas de agricultura "no meio" da cidade, através do incentivo de pequenas fazendas dentro do contexto urbano, em jardins comunitários, dentro de empresas, usando as coberturas e as laterais dos prédios como espaços para plantio, incluindo, até, criação de abelhas para subtrair mel (ZANDONADI, 2015).

9 Em palestra no TED, Rob Hopkins explica que já atingimos ou estamos próximos de atingir o "pico do petróleo",

que significa que teremos utilizado metade da nossa reserva de petróleo no mundo. Nesse sentido, o movimento de transição compreende que, devido a nossa dependência do petróleo na geração de energia (nos carros, na indústria, no aquecimento de casas), pelo baixo do custo do petróleo, será preciso se preparar para a

eventualidade em que o petróleo não esteja "tão" acessível. A palestra pode ser acessada através do endereço eletrônico: https://www.ted.com/talks/rob_hopkins_transition_to_a_world_without_oil?language=en.

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A cidade de Montreal, no Canadá, por exemplo, contabiliza mais de 135 hectares de iniciativas de agricultura urbana (AGRICULTURE...). Entre as iniciativas, a ONG Santropol Roulant10, produz mais de 2 toneladas por ano, de verduras, como feijão e diferentes tipos de tomates, além de mel, no terraço do prédio que ocupam, numa área de apenas 139,5 metros quadrados, em um dos bairros mais cobiçados no mercado imobiliário, no centro da cidade (LOOKING..., 2013). Para aumentar a produção, adquiriram uma fazenda no espaço periurbano da cidade, produzindo mais 14 toneladas de vegetais (LOOKING..., 2013). Além de usar parte dos alimentos no preparo das refeições, a organização entrega, semanalmente (no período de colheita), mais de 40 tipos de verduras frescas para associados que pagam um valor no início da estação (antes do período da colheita), o que permite viabilizar a produção, como uma forma de acreditar e dar crédito aos fazendeiros locais.

Como resultado, a agricultura urbana possibilita maior autonomia para a cidade na produção do seu alimento, cria novos empregos e novos áreas de investimentos, diminui a distância que os alimentos percorrem - tendo um impacto nos gastos e na energia usada no transporte- e ainda permite o consumo de alimentos mais frescos, com maior fiscalização de agroquímicos e controle da água, o que tem um impacto direto na saúde dos consumidores (ZANDONADI, 2015). De maneira indireta, cultivar alimentos na cidade permite que as pessoas tenham mais consciência de onde vem a comida, o que gera mais interesse sobre a importância na produção e origem dos alimentos que, de uma maneira geral, não é suficientemente valorizada. Em entrevista à revista Flare, Clémence Briand-Racine, agrônoma e "fazendeira urbana",

co-responsável pela fazenda periurbana da Santropol Roulant, explica que, de uma maneira geral, as pessoas não valorizam o trabalho de fazendeiros, por se

equivocarem que é um trabalho que exige menos conhecimento e talento (apud NATH, 2016). Para ela, fazendeiros são pessoas que precisam saber se adaptar e serem "híbridos ao entender sobre mecânica, gerenciar recursos humanos, serem donos de negócios e super-atletas." (apud NATH, 2016, tradução nossa).

3.1.2. O momento da transição

Em 1983, o físico Fritjof Capra lançou o clássico livro da ecologia, O Ponto de Mutação, em que ele problematiza sobre os atuais problemas que o mundo vem passando.

10 A Santropol Roulant é uma organização comunitária sem fins lucrativos que realiza projeto de preparação e

entrega de refeições em domicílio para pessoas que perderam a autonomia (idosos, deficientes físicos, etc), com o auxílio de voluntários.

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17 As últimas duas décadas de nosso século vêm registrando um estado de profunda crise mundial. É uma crise complexa, multidimensional, cujas facetas afetam todos os aspectos de nossa vida — a saúde e o modo de vida, a qualidade do meio ambiente e das relações sociais, da economia, tecnologia e política (CAPRA, 2006, p. 11)

Capra analisa a crise ambiental, crises ideológicas, financeiras e aponta para a visão de mundo ocidental como raiz dos problemas. Ele argumenta que a ideologia dominante do mundo ocidental é fundamentada em um pensamento reducionista, que prioriza a razão, buscando por distinguir o certo do errado. Por sua vez, esse reducionismo divide o mundo de maneira binária, entre homens e mulheres, humanos e meio ambiente, nativos e estrageiros, brancos e negros, e por aí vai. A professora e filósofa Tânia Kuhnen explica que, dessa maneira, há um encorajamento à competição, segregação e dominação, pois "de um lado do dualismo sempre tem algo que é superior – algo que tem mais valor-, e do outro lado, algo que é inferior, subordinado. Algo que é dominado.” (apud GAMA, 2016). Capra percebe como essas são características pautadas pela racionalidade, praticidade, agressividade, competição, que a filosofia oriental associa com a energia yang, tradicionalmente associado ao universo masculino (2006, p. 28).

Capra argumenta, por exemplo, que o modelo capitalista está em falência por estar baseado nesses valores, que prezam pela competição, permite a exploração e a busca por acumular riquezas, status e poder. Ao mesmo tempo, a crença que as demandas sempre podem ser supridas, pela ideia de que sempre haverá um estoque infinito (de recursos energéticos, de água, da produção da terra), não condiz (mais) com a realidade do mundo. De acordo com dados do Banco Mundial, se mantermos o nosso ritmo de uso indiscriminado de água, combustíveis fósseis, uso da terra e poluição do ar, em 2050, serão necessários 3 planetas Terra para manter o atual "estilo de vida" da humanidade (BANCO..., 2016).

Nesse sentido, Capra relaciona a exploração da natureza com a exploração da mulher, a partir da corrente de pensamento do movimento do ecofeminismo, "que percebe uma conexão entre exploração e degradação do meio ambiente e da natureza com uma lógica de dominação [patriarcal] que envolve opressão e encoraja a separação" (KUHNEN apud GAMA, 2016). Para Capra,

A exploração da natureza tem andado de mãos dadas com a das mulheres, que têm sido identificadas com a natureza ao longo dos tempos. Desde as mais remotas épocas, a natureza — e especialmente a terra — tem sido vista como uma nutriente e benévola mãe, mas também como uma fêmea selvagem e incontrolável. Em eras pré-patriarcais, seus numerosos aspectos foram identificados com as múltiplas manifestações da Deusa. Sob o patriarcado, a imagem

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18 benigna da natureza converteu-se numa imagem de passividade, ao passo que a visão da natureza como selvagem e perigosa deu origem à idéia de que ela tinha de ser dominada pelo homem. Ao mesmo tempo, as mulheres foram retratadas como passivas e subservientes ao homem. Com o surgimento da ciência newtoniana, finalmente, a natureza tornou-se um sistema mecânico que podia ser manipulado e explorado, o que coincidiu com a manipulação e a exploração das mulheres. Assim, a antiga associação de mulher e natureza interliga a história das mulheres e a do meio ambiente e é a fonte de um parentesco natural entre feminismo e ecologia que está se manifestando hoje em grau crescente. (2006, p. 30).

Em complemento, Kuhnen defende que "a nossa busca por "controlar a natureza" também pode ser compreendida como a nossa forma de lidar com o mundo desconhecido, como uma forma de não se sentir inferior ao desconhecido." (apud GAMA, 2016).

Em contrapartida com a energia yang - que , para Capra, é antagônica com a forma natural como funciona o meio ambiente11- , o ying representa a energia feminina e está associado aos sentimentos, ao inconsciente, à subjetividade, intuição e cooperação (CAPRA, 2006, p.31). Para o físico, essa energia feminina começa a assumir um papel importante nesse movimento de transição. De uma maneira muito positiva e otimista, ele argumenta que o meio ambiente começa a assumir um protagonismo e que novas ideologias e formas de pensamento que prezam por um modo de vida mais holístico, integrado às múltiplas facetas da vida, ganham mais espaço ao ritmo que o modelo antigo e conservador entra em declínio, com uma resposta a um modelo que não condiz mais com a realidade. No livro , o autor nos faz pensar que todas essas crises são necessárias para mais consciência nos indivíduos e, consequentemente, para que haja mudanças. Por conta disso, Capra, fazendo uma referência ao livro milenar chinês I Ching, conclui que a transição, ou, o ponto de mutação, para um novo paradigma, acontecerá de maneira natural:

Ao término de um período de decadência sobrevêm o ponto de mutação. A luz poderosa que fora banida ressurge. Há movimento, mas este não é gerado pela força... O movimento é natural, surge espontaneamente. Por essa razão, a transformação do antigo torna-se fácil. O velho é descartado, e o novo é introduzido. Ambas as medidas se harmonizam com o tempo, não resultando daí, portanto, nenhum dano. (I CHING apud CAPRA, 2006, p. 2).

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Na página 31 do Ponto de Mutação, o autor escreve: "o pensamento racional é linear ao passo que a consciência ecológica decorre de uma intuição de sistemas não-lineares".

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3.2. Comunicação

3.2.1. Jornalismo online

De acordo com Palácios (2003), o jornalismo online assume seis características particulares: instantaneidade, multimidialidade, interatividade, hipertextualidade, personalização de conteúdo e memória, que "refletem as potencialidades oferecidas pela Internet ao jornalismo desenvolvido para a Web" (2003, p. 3).

Primeiramente, no jornalismo na web, a instantaneidade está relacionada com a possibilidade de produzir e divulgar notícias de uma maneira rápida, em que o sites de notícias competem pelo "furo jornalístico". Ao mesmo tempo, essa característica permite o processo de atualização contínua, em que as reportagens são atualizadas com agilidade, permitindo o acompanhamento, pelo receptor, do desenrolar da notícia (PALACIOS, 2003, p. 4-5). No caso do Guia Selvador, enquanto, por um lado, não há uma busca pela produção de notícias de uma maneira que o Guia seja o primeiro a reportar, a instantaneidade se dá, principalmente, na divulgação de eventos e na atualização do calendário, preocupando-se por mante-los atualizados e em compartilhar "o quanto antes", com a finalidade de permitir que o leitor possa se programar para os eventos, antecipadamente. Ainda, o Guia também tem o cuidado em acompanhar atualizações dos espaços e projetos catalogados, para manter as informações (e o Guia) "em dia", com a intenção de mostrar que o que está sendo informado ali é algo definitivo. Semelhante à preocupação jornalística com a verdade, essa característica garante maior credibilidade e confiabilidade para o projeto.

Por sua vez, o meio digital permite a convergência de múltiplos formatos e linguagens , fazendo com que a narrativa possa caminhar através de imagens, textos, vídeos e áudios. Essa característica multimidiática da web, que permite conectar diferentes linguagens, abre espaço para experimentações, através da possibilidade em misturar as narrativas. Isso garante maior interação e aproximação do receptor com a mensagem, pois, como diz Alves (2006), "todos nós já somos seres multimídia há muito tempo, pois consumimos múltiplos meios de comunicação." (2006, p.6).

Através da plataforma web, o receptor interage com o conteúdo e com o emissor através de ferramentas de comentário e pelo compartilhamento do que foi publicado, pelas redes sociais e por email. Podem sugerir pautas, questionar e opinar. Alves (2006) distingue a interatividade na web com a "passividade [...] do telespectador, ouvinte ou leitor [...]" (2006, p. 3). Ainda, as plataformas permitem que o receptor participe da construção do conteúdo, ao coletar, analisar e compartilhar dados, que no jornalismo aparece na forma de notícia. Na interpretação de Radsch (2013), o citizen

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journalism ou jornalismo cidadão é o processo colaborativo em que não-jornalistas utilizam da prática do jornalismo para exercer seu papel de cidadão, movidos pela responsabilidade social e civil (apud CITIZEN...).

De uma maneira subjetiva, a interação com o conteúdo na web também se dá na possibilidade que o receptor tem em acessar e navegar por múltiplas fontes de informação (ALVES, 2006). Essa novidade, na web, se contrapõe com o jornalismo tradicional, de jornais, revistas, televisão e rádio, que garante a existência do papel (dado ao jornalista) de filtro das informações e, posteriormente, no encaminhar do leitor na narrativa, decidindo o que é mais e menos importante. Em contraposição com esse jornalismo tradicional, em que as informações pré-selecionadas pelo gatekeeper são noticiadas em um determinado horário e com uma profundidade e viés igualmente decididos, a internet entrega, ao receptor, o poder de decidir como e quando vai consumir as informações:

Na lógica que a Internet está criando, não tem sentido que eu escute algo que não escolhi. Se vou escutar um pacote de notícias, será um pacote que eu forme, de acordo com meus interesses, para ser consumido na hora que eu quiser, onde eu quiser. (ALVES, 2006, p. 5)

Em complemento, a interatividade também está presente na forma em que se dá a leitura nas plataformas web. Pela possibilidade de navegar por múltiplas fontes, o leitor constrói a sua narrativa. Além disso, a web permite a hipertextualidade, com a inserção de hiperlinks no texto e também nas outras mídias, que, ao optar por clicar, redireciona o leitor à conteúdos complementares. Dessa maneira, a leitura não acontece de maneira linear: a narrativa se dá através da potencialidade de múltiplas leituras (PALACIOS, 2003).

Vale ressaltar que o hipertexto permite relacionar os textos a diferentes artigos, incluindo textos complementares e aquilo que foi produzido anteriormente e está arquivado. Nesse quesito, a web permite que conteúdos publicados permaneçam arquivados, como em uma memória, podendo ser recuperados facilmente como referência para textos futuros e também como fontes de dados. Ao usar o que foi produzido anteriormente, como hipertexto, impede que esse conteúdo desapareça ou se torne obsoleto, estimulando, ainda, a circulação da navegação pelo site.

A partir da interatividade, colaboração, hipertextualidade e multimidialidade, o receptor tem uma nova experiência com o jornalismo e, ainda, tem o poder de construir a sua experiência. No Guia Selvador, a "construção da própria experiência" se torna ainda mais relevante pela oportunidade do leitor em criar o seu roteiro e decidir como gostaria de se relacionar com a cidade. De certa maneira, garante que o Guia Selvador exerça o papel de um guia, sinalizando os diferentes caminhos, mas permitindo que cada um escolha o seu percurso.

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21 3.2.2. Slow journalism

De acordo com o A Dictionary of Journalism, o termo slow journalism pode ser definido como “um conceito de jornalismo que promove qualidade, profundidade e precisão, no lugar de velocidade” (HARCUP, 2014, p. 281, tradução nossa). Ainda segundo com Harcup, no slow journalism, “jornalistas precisam de tempo e espaço para realizar um bom trabalho, saindo do espaço da redação, alimentando uma rede de contatos, construindo confiança, lendo documentos e, comumente, se engajando na prática da reflexão” (2014, p. 281, tradução nossa).

A idéia de um jornalismo mais lento tem origem na filosofia do movimento slow e do slow food. O slow food, que pode ser traduzido do inglês como comida lenta, iniciou em 1986, na Itália, após protestos contra a abertura de um restaurante da rede McDonnalds na praça de Espanha, em Roma, uma praça histórica e turística. Os líderes do protesto fundaram o movimento, que se expandiu e hoje é uma organização não-governamental com sede em todo o mundo.12 Em seu site oficial (www.slowfood.com), a organização define, como missão, preservar a cozinha local e tradicional, juntamente com o incentivo a pequenos produtores (SLOW...). O objetivo da organização é, ao mesmo tempo, ir contra a escala industrial, que tem uma tendência a favorecer quem produz mais, sem avaliar uma questão natural do processo da vida, manipulando os ecossistemas a produzir não necessariamente o que oferece e em quantidades maiores do que o do ciclo natural, assim como lutar contra uma hegemonização de uma globalização alimentar, para não haver a hegemonia de um gosto e cultura (MANIFESTO...). Posteriormente, o movimento slow food vai servir como pilar para o movimento em maior escala: o slow movement (BATISTA et al., 2013)

O slow movement prega uma mudança cultural pela diminuição no ritmo da vida.

[...] o movimento Slow é uma revolução cultural que busca combater a noção de que rapidez é o melhor caminho. A filosofia slow propõe, assim, que não se deve fazer tudo em baixa velocidade, e sim na velocidade certa, que corresponderia a realizar as atividades de forma satisfatória e com qualidade. É fazer tudo da melhor maneira possível, ao invés do mais rápido possível. É qualidade ao invés de quantidade. (BATISTA et al., 2013 apud HONORÉ, 2004, p. 2)

A partir desse conceito, o movimento slow influenciou outras manifestações pela lentidão dentro de diferentes contextos e áreas, surgindo assim slow cities (cidades

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Segundo dados do site oficial da organização (www.slowfood.com), o movimento conta com mais de 100 mil membros, em 150 países.

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lentas), slow living (vida lenta) e, entre outras vertentes, o slow journalism (BATISTA et al. 2013) .

Por sua vez, o termo slow journalism aparece pela primeira vez, no título e no corpo do artigo publicado em 2007, na (revista) Prospect Magazine, pela jornalista Susan Greenberg. No artigo, Greenberg, prega pela necessidade de um tipo de escrita jornalística “que se dá o tempo para descobrir as coisas, noticiar o que outros não perceberam, e comunicar tudo ao padrão mais elevado” (GREENBERG, 2007, tradução nossa).

O projeto Out of Eden Walk é um exemplo atual de slow journalism. No projeto, o jornalista e escritor Paul Salopek, premiado duas vezes com o Pullitzer13, embarcou em uma expedição, sozinho e a pé, refazendo o caminho dos processos migratórios dos nossos ancestrais, saindo do “jardim do Éden”, na Etiópia, em direção à Terra do Fogo, no limite da América do Sul. Durante o percurso, que teve o ponta pé inicial em 2013 e tem previsão para durar 7 anos, Salopek alimenta o site14 do projeto com notícias e histórias dos locais por onde está passando.

As publicações do Out of Eden Walk são feitas “no ritmo da caminhada”: a cada milha (160 kilometros) faz-se um relato/ resumo extenso, com histórias de quem Salopek conheceu naquele trecho e entrevistas com as pessoas que estão mais próximas. Neste pit-stop, Salopek aproveita também para compartilhar as fotografias daquela “milhagem”. Dessa maneira, o jornalista tem mais tempo para caminhar com maior liberdade e poder amadurecer, absorver e refletir sobre o que acontece ao seu redor. Ao mesmo tempo, durante a caminhada, ele atualiza os leitores com mensagens no Twitter. As mensagens são curtas (principalmente por conta do limite de 160 caracteres do aplicativo), mas permitem um acompanhamento e, pode-se dizer, um rastreamento do andarilho.

Como experiência slow e de jornalismo lento, o projeto demonstra que uma forma plausível e, talvez, mais completa de se compreender o processo migratório dos nossos antepassados, é refazendo o caminho da mesma maneira, impondo o mesmo ritmo, vivendo desafios semelhantes. Assim, o que Salopek reproduz no site, é apenas um modo para se observar o processo. Ao mesmo tempo, o projeto também pode ser visto como uma forma sutil de mostrar que o resultado final desse e de qualquer trabalho, é, no fundo, um retalho das experiências vividas. Além dessa mensagem e da coragem e dedicação de Salopek, esse projeto me inspira ao conduzir o jornalismo em um ritmo mais humano, como uma profissão que se torna uma extensão da vida.

13

Em 1998, Paul Salopek recebeu o renomado prêmio Pullitzer na categoria Reportagem Explicativa. Já em 2001, Salopek recebe o prêmio pela segunda vez, desta vez na categoria Reportagem Internacional.

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Apartir de 2016, o site passou a ser administrado pela National Geographic e pode ser acessado através do endereço: http://nationalgeographic.org/projects/out-of-eden-walk/.

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4.

DELIMITAÇÃO DO PROJETO: c

omo “brotou” o Guia da Selva

“Meu vizinho jogou uma semente no seu quintal. De repente brotou, um tremendo matagal.” (Bezerra da Silva - A Semente)

Produção de conteúdo

Para o Trabalho de Conclusão de Curso, foi realizado o levantamento de 30 espaços e iniciativas ecológicas em Salvador, que serão catalogados no Guia Selvador. Esses projetos e grupos, foram definidos a partir de uma escolha de quatro "eixos" ou categorias. Assim, neste primeiro momento, me aprofundei na busca por:

1. Feiras orgânicas e agroecológicas; 2. Hortas urbanas;

3. Projetos de participação comunitária;

4. Grupos: associações, institutos, ONGs, centros, casas, redes e empresas ecológicas.

Ao catalogar esses 30 projetos de diferentes características, é possível ter um panorama inicial das alternativas verdes que já existem na cidade. Em complemento, como não são projetos com ampla divulgação, principalmente na mídia tradicional, se torna ainda mais importante fazer esse mapeamento.

A decisão por procurar alternativas que se encaixassem nessas categorias também foi feita pelo caráter prático que essas iniciativas oferecem ao público. São feiras orgânicas e agroecológicas em que se podem comprar alimentos direto do produtor e, dessa maneira, conhecer quem planta e a origem do produto; hortas urbanas, com características comunitárias, abertas à participação e à troca de conhecimento (e semente!); projetos comunitários, ligados ao meio ambiente, que necessitam de voluntários para realizar suas ações; e grupos, desde associações de bairro à pequenas empresas, que realizam trabalhos com o meio ambiente e que, por sua vez, realizam encontros e oficinas de conscientização e prática ambiental.

No Guia Selvador, cada projeto foi catalogado em páginas que oferecem descrições contando a história, a dinâmica de trabalho, dicas, observações, além de informações básicas, como horário de funcionamento, localização e como o público pode entrar em contato e participar. Todas as páginas possuem imagens e, em alguns casos, vídeos, links, audio e mapas interativos, para deixar a leitura mais dinâmica.

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O conteúdo produzido para o Guia foi resultado do movimento de conhecer (de perto) e participar dos projetos, pesquisas na internet e entrevistas por telefone. Nesse processo, lento e antropológico, foi necessário se aprofundar sobre as ideias, filosofias e contextos que embasam os projetos, consultando os responsáveis, juntamente com fontes externas, para que o conteúdo produzido fosse mais completo. Também foi necessário retomar as visitas, como no caso das feiras, para atualizar o conteúdo, tirar uma foto que faltou e, principalmente, manter a relação e a amizade construída com os produtores. Dessa maneira, ao catalogar de um modo mais aprofundado e em um ritmo mais "humano", propicia o público a ter mais interesse em conhecer e ir ao encontro das iniciativas.

Esse processo de conhecer os espaços, os projetos e os realizadores, para poder relatar com mais profundidade e realidade, também induz a um jornalismo mais sensorial, que parte do ponto de vista do jornalista. No Guia, as impressões e dicas que acompanham as descrições do que está sendo mapeado, são como relatos em um diário. Por sua vez, isso retira a seriedade e o engessamento do projeto, como um todo, e faz com que o leitor possa se envolver com as impressões, com a história e com o contexto de cada lugar. Ao meu ver, isso é muito positivo, pois permite uma identificação por parte do leitor com o jornalista e com o conteúdo, ao ponto, da relação do público com site, eu espero, não se limitar ao movimento de saber o horário e o local de uma feira, por exemplo.

Por sua vez, esse aprofundamento me dá propriedade para falar a respeito dos espaços, das atividades, assim como dos ideais por detrás das propostas. Tenho propriedade para falar da importância, por exemplo, da alimentação orgânica e agroecológica, do comércio local e do consumo direto dos produtores - mesmo não sendo dessa área. Fora do Guia Selvador, sou como um guia a mostrar e a contar a história de um museu, vestindo a camisa dos espaços e projetos catalogados. Da mesma maneira, continuo sendo "o guia" ao levar comigo as impressões positivas de cada lugar. No boca a boca, posso indicar um curso que está para acontecer, um projeto para visitar, feiras para conhecer.

Independente do Trabalho de Conclusão de Curso, pretendo continuar pesquisando outros pontos das categorias já existentes e alimentar o site, tanto com os novos pontos, quanto com notícias e divulgação de eventos. Além disso, acredito que essas categorias podem, posteriormente, serem ampliadas para incluir novas possibilidades, como por exemplo:

● restaurantes naturais, orgânicos, vegetarianos, veganos, comunitários; mercados e lojas que prezam por valores de sustentabilidade;

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● possibilidades alternativas de transporte, como oficinas comunitárias de conserto de bicicleta;

● espaços e atividades ligados à espiritualidade e atividades corporais, como meditação e ioga.

Para isso, será preciso definir com mais clareza cada categoria, para não perder o foco do guia.

Relato fotográfico

A maioria das fotos que acompanham os locais mapeados no guia foram feitas por mim. As fotos foram tiradas em uma câmera compacta, com limitações em relação à fotometragem, zoom e ângulo de abertura da lente. Contudo, as fotos foram feitas com a intenção de capturar pequenos detalhes, espaços abertos, movimentos, aproveitar ângulos e formas, com a finalidade de mostrar, a partir de diferentes perspectivas e sob vários olhares, de maneira artística e também jornalística, o contexto dos locais e coisas fotografadas, assim como meu sentimento.

As fotos passaram por uma seleção antes de serem adicionadas ao site: nem todas foram adicionadas e as escolhidas foram as que melhor traduziam os espaços e atividades. Depois, as fotografias foram publicadas em álbuns, sendo que cada álbum corresponde a um dos lugares visitados- semelhante a um portfólio. Nos álbuns, as fotos foram organizadas para simular uma galeria de fotos, com as imagens selecionadas na forma de um mosaico, com fotos ganhando mais destaque do que outras. Ao clicar em uma foto, abre-se um painel, com a foto ampliada, acompanhada por uma legenda. Para cada foto, uma legenda personalizada. São descrições, dicas ou sentimentos a partir das experiências vividas no momento do flash. Desse modo, ao personalizar cada legenda, a intenção é oferecer uma leitura guiada para a imagem.

A partir dos princípios do fotojornalismo, as fotos, assim como as descrições, revelam meu olhar sob o que está sendo vivenciado. É uma forma de passar o que eu senti e de retratar a realidade construída e enquadrada pelo momento em que fiz o clique. É importante dizer que, em todas as fotos, coloquei a autoria da imagem, no final da descrição. Nas minhas, meu nome acompanha a foto; nas que originam de outras fontes, faço referência à pessoa ou informo o local da reprodução.

O Mapa da Selva

O Guia Selvador conta com um mapa personalizado de Salvador, com todos os pontos catalogados. O mapa usa a plataforma de mapas da Google e foi elaborado pela ferramenta Google My Maps, que permite personalizar e incorporar mapas, em sites. O mapa, denominado de "O Mapa da Selva: mapa com os pontos verdes em Salvador", é subdividido em camadas que correspondem às diferentes categorias de

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iniciativas ecológica catalogadas no site. No mapa, todos os pontos de uma camada seguem as cores definidas para as categorias mapeadas no Guia. Assim, os pontos verdes são referentes às Hortas Urbanas, enquanto os pontos amarelos indicam as Feiras Orgânicas e Agroecológicas. Desse modo, o mapa dá um panorama visual das diferentes possibilidades na cidade. Ainda, é possível escolher qual camada manter visível e qual camada apagar, permitindo, ao leitor, dar mais destaque ao que lhe interessar. Ao clicar em um ponto mapeado, o público terá uma pequena descrição da iniciativa, com informações básicas, como o dia e horário de funcionamento, o endereço exato, uma foto e o link para a página, no Guia Selvador, em que o conteúdo está ancorado.

Figura 1 - Printscreen do Mapa da Selva | Do lado esquerdo, as camadas (ou categorias). Do lado direito, o mapa com seus diferentes pontos ecológicos

O mapa foi construído a partir de referências do site Agriculture Montreal15, que desenvolve um trabalho de mapeamento de projetos de agricultura urbana, na cidade de Montreal, no Canadá. No Agriculture Montreal, contudo, o mapeamento se restringe à agricultura urbana, que, por sua vez, é subdivida em diferentes categorias de iniciativas de agricultura na cidade: tem jardins comunitários, jardins em empresas, hortas em terraços, locais de colheita de frutas, entre outras experiências. Foram deles que surgiu a ideia de colocar os pontos em um mapa, subdividir as categorias em cores e fazer aparecer uma descrição dos pontos, ao clicar em cima.

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27 Notícias e divulgação de eventos

O Guia tem uma seção destinada a divulgação de eventos ecológicos que irão acontecer em Salvador e possíveis notícias que possam interessar aos leitores. Pretendo divulgar oficinas, cursos, eventos e encontros, como um espaço que media essas notícias. A partir da troca de contato feita com os espaços e projetos ecológicos, o Guia tem a intenção de colher essas informações diretamente dos organizadores dos eventos e de outras pessoas que associem o Guia a esses eventos. A intenção é que o nosso projeto conquiste a confiança do público para que as notícias sejam compartilhadas, nos dois sentidos, atingindo, consequentemente, mais pessoas.

Para tanto, é fundamental, manter o a seção de notícias e eventos sempre atualizadas. Para isso, foi criado uma agenda/calendário na plataforma do Google Calendar, em que com todos os novos eventos são adicionados. Além das novidades, o calendário também conta com a programação fixa das semanas, como as feiras, permitindo que o público possa se programar. Isso fica ainda mais fácil, pois o Google Calendar permite que os usuários transfiram os dados da agenda do Guia, para as suas agendas pessoais da Google. Assim, são notificados de novos eventos adicionados, assim como dos que selecionam como favoritos. Vale dizer que a agenda categoriza os eventos seguindo a paleta de cores usadas para distinguir as categorias. O instagram do Guia também está sendo utilizado para divulgar as notícias e outras informações do site. A conta no instagram foi criada com o intuito de aproximar os leitores e seguidores do projeto, ao mante-los atualizados, nos seus aparelhos móveis, com informações do Guia, sem a necessidade de criar um aplicativo.

Fala, Broto!

Em todas as publicações do site, no final da página, os leitores têm um espaço reservado para comentários. Por sua vez, nesse espaço, os comentários são públicos e ficam disponíveis para todos, permitindo que haja uma troca de informação e interação com o Guia e entre o público. A conta no instagram, por sua vez, também tem como propósito, fomentar a discussão e a interação por todas as partes envolvidas - público e projeto.

Além disso, as pessoas podem entrar em contato com o administrador do Guia através da seção denominada "fala,broto!", na qual podem apontar erros específicos, fazer críticas e compartilhar opiniões, que serão redirecionadas para o e-mail do Guia. Nessa seção, os leitores também podem assumir um papel colaborativo, ao indicar novos espaços e projetos para serem mapeados. Futuramente, será elaborado um formulário, em que os responsáveis por projetos e espaços ecológicos - com

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características que permitam que sejam enquadrados no Guia Selvador- possam preencher com os dados do seu projeto, para serem catalogados com mais facilidade e precisão. Dessa maneira, o formulário permitirá um envolvimento mais direto do público.

Wordpress

O site do Guia Selvador foi criado no Wordpress.com, que oferece serviço de provedor de hospedagem. O Wordpress oferece hospedagem gratuita de sites na internet, juntamente com uma plataforma que permite montar o site por completo, de maneira fácil e prática, sem a necessidade de ter conhecimento sobre linguagem de programação. A criação do site, a sua personalização e a publicação de conteúdo é feita online, sem a necessidade de instalar programas. Essa possibilidade de fazer tudo online, juntamente com o fato do wordpress ser compatível com os dispositivos móveis (tanto para leitura do site, quanto para publicação), permite que o conteúdo produzido possa ser publicado de maneira instantânea, de qualquer lugar, em qualquer lugar.

Como optei por uma versão gratuita do Wordpress, o meu domínio personalizado (guiaselvador) é acompanhado do subdomínio "wordpress.com" como "sufixo", ficando www.guiaselvador.wordpress.com. Ainda, por não pagar pelo GuiaSelvador, o Wordpress também permite que apareçam anúncios (aleatórios) no site, sendo que esses anúncios aparecem de maneira espontânea, podendo não aparecer para alguns leitores ou em algumas publicações. Apesar disso, optei pela versão gratuita, para ver a repercussão e aprovação do Guia, antes de fazer outros investimentos. Se projeto e o site forem aceitos, recebendo bastante acesso e colaboração, posso considerar investir mais, financeiramente. Nesse momento, queria mostrar o que eu era capaz de fazer como estudante (e com os limites do meu bolso estudantil), com as opções que estão ao meu alcance e com capacidade de inovar e ser criativo a partir do que está disponível.

É importante dizer que, além do Wordpress, existem outras plataformas que oferecem o serviço de hospedagem na web, como, por exemplo o wix. A escolha do Wordpress foi feita por já ter experiências prévias com a plataforma, principalmente em outros trabalhos na faculdade.

Como tema para o layout do meu site, optei pelo Tweenty Fourteen, gratuito, classificado pelo Wordpress como magazine (ou revista em português), pelo formato que prioriza as publicações, como notícias, com bastante apelo visual, que facilita a navegação (dando poder para o leitor escolher o que prefere ver) ao dar destaque para vídeos e imagens, assim como outras mídias ancoradas no site. Esse destaque se dá pela barra na lateral direita, personalizável - que eu optei por deixar visível somente na

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página principal -, que oferece botões para escutar áudios, ver imagens, assistir um vídeo, ver o calendário de eventos futuros e ler citações. Da mesma maneira, no topo da página inicial, é possível dar mais visibilidade para algumas publicações previamente selecionadas, com imagens em destaque e uma chamada para o conteúdo, em que o leitor pode clicar em uma seta e que, a cada clique, uma nova publicação aparece, como em um quadro rotatório, com as matérias principais.

O Tweenty Fourteen foi escolhido por ser um dos temas mais adaptáveis para se assemelhar com a ideia de um guia. Primeiramente, por conta da possibilidade de dar destaque para as postagens e pela facilidade de visualizar as notícias, como dito anteriormente. Além disso, é possível incorporar vídeos, áudios, tabelas, imagens, mapas, calendários, customizar artes, o que faz o site simular um portfólio (que, de um clique, abrem várias opções) e que fazem com que a leitura não se restrinja à linguagem textual. Da mesma maneira, ao possibilitar que o texto e a mídia incorporada, nas publicações, sejam transformados em hiperlinks, direcionando o público para outras páginas, dentro ou fora do site, o leitor pode decidir como quer navegar e o que quer ler. A controle sobre a forma como se dá a leitura, assim como a navegação, não está na mão do gatekeeper. O receptor tem a decisão de construir a sua narrativa.

As cores das fontes e do plano de fundo, disponibilizadas para a versão gratuita do Tweenty Fourteen, também pesaram na decisão por este template. O destaque ao verde (simbolizando a selva e a intenção ecológica do site) com um fundo preto, mesclou bem com a proposta visual do projeto.

Por fim, o tema permite a conexão do site com aplicativos de rede social, como no caso da conta do Guia Selvador no instagram. Da mesma maneira, também permite que os leitores acessem, compartilhem e comentem o site a partir das suas contas sociais. Essas possibilidades foram decisivas na escolha do tema.

A linguagem da selva

O nome Guia Selvador foi escolhido, para o site, com a intenção de unir dois termos que fossem fáceis de memorizar e de compreender a proposta do projeto. Também, o nome foi pensado com o desejo de fazer algo engraçado, na tentativa de sensibilizar o leitor. Assim, Salvador se tornou Selvador. Dessa maneira, com o nome Guia Selvador, busca-se passar a mensagem de que o site é um guia - como um guia de viagem, um manual, mas que também pode remeter à ideia de uma pessoa que conhece a cidade, como um guia turístico, ou, também, à uma pessoa que conhece "o caminho", como um guru - da cidade Salvador, mas uma Salvador que tem uma relação com selva, que, por sua vez, pode ser compreendido como:

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1. buscar a selva na cidade, no contexto ecológico de descobrir atrações "verdes" de Salvador;

2. servir como um guia mostrando "o caminho para se encontrar" (e encontrar alternativas para uma vida mais ecológica) na "selva de pedra", que é Salvador; É um jogo de palavras, que tanto se refere ao roteiro ecológico dentro dessa "selva de pedra", quanto o movimento em encontrar a "selva de verdade" em Salvador. Em complemento, a palavra selva, remete à natureza, como um sinônimo à floresta, uma floresta virgem, que ainda não foi desbravada pelo homem, resultando em difícil acesso e possíveis perigos escondidos. No dicionário online Michaelis, selva é definido como "Vasta floresta virgem com vegetação cerrada e árvores de grande porte; Grande quantidade de coisas, especialmente emaranhadas; Local onde se luta duramente pela sobrevivência" (SELVA..., 2015).

A palavra selva serve de metáfora para "selva de pedra" ou "selva de concreto", que assimila a cidade a um lugar caótico/ conturbado. Um espaço selvagem, agreste, sem regras, controle ou ordem, só que "no concreto", de pedra. A metáfora é original do inglês concrete jungle, que a ferramenta de dicionário do Google define como "uma cidade moderna ou espaço urbano, visto como um lugar desagradável ou desafiador para viver" (CONCRETE..., tradução nossa)16. Na música "Concrete Jungle", o cantor Bob Marley faz referência à vida na cidade-selva:

"[...] Agora, onde está o amor para ser encontrado, alguém poderia me dizer? / Por que a vida, a doce vida, deve estar em algum lugar para ser encontrada, sim / Ao invés de uma selva de concreto onde viver é a coisa mais difícil / Selva de concreto, ó homem (ou ó céus), você tem que fazer o seu melhor // Não há correntes nos meus pés, mas eu não estou livre, eu sei que estou sujeito a ficar aqui, neste cativeiro [...]"

(MARLEY, 1973, tradução nossa)17.

Ainda na música, Bob Marley faz uma alusão à concrete jungle como um lugar que as pessoas estão perdidas, confusas e que precisam "se encontrar":

"[...] Selva de concreto, oh, por que você não me deixar ser (ou me deixa em paz) / Eu digo, a vida, a doce vida, deve estar em algum lugar

16

A definição original pela ferramenta de dicionário da Google para Concre Jungle é "a modern city or urban area, especially when perceived as an unpleasant or challenging place to live"

17

Na versão original, em inglês, Bob Marley canta: "[...]Now where is this love to be found, won't someone tell

me?/ 'Cause life, sweet life, must be somewhere to be found, yeah / Instead of a concrete jungle where the livin' is hardes / Concrete jungle, oh man, you've got to do your best, yeah / No chains around my feet, but I'm not free /I know I am bound here in captivity [...]".

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31

para ser encontrada, sim / Ao invés de uma selva de concreto, ilusão, confusão / Selva de concreto [...]" (MARLEY, 1973, tradução nossa)18.

O trocadilho "Selvador", com o nome da cidade, não é original ou criação minha. Em 2014 deparei com uma arte em forma de graffiti, em uma parede na rua Professora Almerinda Dultra, no bairro do Rio Vermelho, assinado por @Selvador7119. A assinatura, com o "@" na frente, faz uma referência às contas no instagram (que começam com o @) e serve como um link para acessar a página do usuário e grafiteiro. As artes publicadas na conta do instagram, revelam críticas à cidade, como, por exemplo, um stencil replicando a estátua de Castro Alves, na Praça da Sé, apontando e atirando com uma arma, no lugar da mão que declama poema. Quanto ao nome adotado, "Selvador", pode ser interpretado, como fiz anteriormente, com a crítica à selva de pedra, enquanto "71" pode remeter tanto ao código de discagem telefônica para a cidade de Salvador - o DDD 071 que precede os número-, quanto à gíria popular "171," para chamar uma pessoa de mentirosa ou má caráter, o que, por sua vez, tem origem no Código Penal Brasileiro, no artigo número 171, referente a casos de estelionato e à fraude. Dessa maneira, o nome adotado pelo artista, remeta e brinca com o nome da capital baiana, mas não faz uma ligação direta com o contexto ecológico da cidade. Ao tentar elaborar um nome que encaixasse com a proposta do meu produto, lembrei da assinatura do grafiteiro. Na minha compreensão, reapropriei a ideia, com o intuito de dar outro sentido e sem a intenção de plágio, pois é um outro contexto.

18

Esse trecho da música na versão original é: "[...] Concrete jungle, oh, why won't you let me be now? / I said life, sweet life, must be somewhere to be found, yeah / Instead of a concrete jungle, illusion, confusion/ Concrete jungle, yeah [...]".

19

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32 Figura 2 Foto publicada no instagram @Selvador71, do graffiti "Castro Alves Matador", feito na Rua Almerinda Dultra, no Rio Vermelho

Ainda em relação ao nome do projeto, dei ao guia o título " O Guia da Selva: guia ecológico para se encontrar em Selvador". A ideia é que Guia Selvador seja o nome e endereço, encurtado, com a intenção de levar o leitor a lembrar e a acessar o site e as contas nas redes sociais, enquanto o título pretende fazer uma sensibilização ainda maior com o leitor ao acessar o produto, enfatizando a brincadeira com a "selva" em "Selvador". A intenção é reforçar a identidade do site.

Da mesma maneira, outros nomes, palavras e frases foram usadas no projeto com a intenção de reforçar a identidade do produto, como "o que é que a feira tem" (referenciando a música cantada por Carmen Miranda, "O que é que a Baiana tem?") e "fala, broto!". São palavras que brincam com a ideia de ecologia, ditados e músicas populares, trazendo para o cotidiano urbano uma mescla de humor com a cultura da terra.

Referências

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