DA EDUCAÇÃO
I ~ ~
PROGRAMA
DE
POS-GRADUAÇAO
EM
EDUCACAO
CURSO
DE
MESTRADO
EM
EDUCAÇÃO
LINIIA
DE
INVESTIGAÇÃOz
EDUCAÇÃO
E CIÊNCIA
DISSERTAÇÃO
DE
MESTRADO
ALEABETIZAÇÃO
CIENTÍFICA
NO
CONTEXTO
DAS
SÉRIES
INICIAIS
LEONIR LORENZETTI
Florianópolis-SC Fevereiro
2000
LEONIR LORENZETTI
ALFABETIZACÃO
CIENTÍFICA
No
CONTEXTO
DAS
SÉRIES
INICIAIS
Dissertação apresentada
como
exigênciaparcial
para
obtençãodo
títulode
MESTRE
EA/I
EDUCAÇÃO
na
área deEducação
e Ciência,do Curso de Mestrado
em
Educação
da
Universidade Federal de Santa Catarina.ORIENTADOR:
PROF. DR.
DEMÉTRIO
DELIZOICOV
F
lorianópolis-SCuN|vERs|DADE
FEDERAL DE
SANTA
CATARINA
CENTRO
DE
CIÊNCLAS
DA
EDUCAÇÃO
PROGRAMA
DE Pós-GRADUAÇÃO
CURSO
DE
MESTRADO
EM
EDUCAÇÃO
“ALFABETIZAÇÃO
CIENTÍFICA
NO
CONTEXTO
DAS
SÉRIES
INICIAIS”.
'Dissertação
submetida
ao
Colegiado
do
Curso de
Mestrado
em
Educação
do
Centro
de
Ciênciasda
Educação
em
cumprimento
parcial
para
aobtenção do
títulode
Mestre
em
Educação.
APROVADO
PELA
COMISSÃO
EXAMINADORA
em
25//02/2000Prof. Dr.
Demétrio
Delizoicov (OrientaUF
K
V..Profa. Dra. Alice
Pierson
-UFSCar
,.Profa. Dra. Nilcéa
Lemos
Pelandr'
-
UFSC
Prof. Dr.
Maurício
Pietrocolade
Oliveira (Suplente) -UFSC
Edel
Em
Coordenadora
PPGE
ALeÉ‹?z(Ê”?r\"Í.¿3Ê'-'âhliqgíi
Para:
Alexandra e
minha
filhagrandes incentivadores de
minha
formação.CI.1I`SO.
Aos meus
familiares pelo incentivo, apoio ecompreensão
obtida duranteo
Aos
colegas professores Rogéria, Nilton,Debora
e Jacira, pela valiosacolaboração nas traduções.
À
Universidadedo
Contestado,Campus
de Caçador, por oportunizar a realização deste curso.OBRIGADO.
À
CAPES,
pelo auxílio financeiro.RESUMO
O
presente estudo consisteem
uma
reflexão e contribuição das Ciências Naturais parao
desenvolvimento da Alfabetização Científica nas Séries Iniciais, analisando os significados e
contribuições da alfabetização científica
no
contexto escolar, para o processoensino-aprendizagem. Considerando-se que esta temática é
pouco
discutida nos meioseducacionais brasileiros,
o
trabalho apresenta as discussõesque
giramem
tomo
do tema
em
vários países, demonstrando
como
elevem
sendo discutido e contribuindo para a melhoriado
ensino de Ciências Naturais. Estes dados bibliográficos, aliados ao estudo da alfabetização,
propiciaram o desenvolvimento de
um
conceito de alfabetização para as Séries Iniciais,compreendido
como
o
processo pelo qual a linguagem das Ciências Naturais adquiresignificados, constituindo-se
num
meio
de ampliaçãoda
cultura. Enfatiza-seque
a alfabetizaçãocientífica é
uma
atividade vitalícia, sendo sistematizadano
espaço escolar,mas
transcendendosuas dimensões para os espaços educativos não formais,
permeados
pelas diferentes mídias elinguagens. Assim, é apresentada
uma
estrutura de programação,na
qual destaca-se deziniciativas didático-metodológicas
que
podem
contribuir para o desenvolvimentoda
alfabetização científica, tendo
em
vistaque
aumentar e desenvolver a alfabetização científica éuma
necessidade cultural,uma
vezque
os conteúdos das Ciências Naturaisdevem
serdesenvolvidos de
forma
a possibilitar acompreensão
dos conceitos cientificos, contribuindopara
o
entendimento, a discussão e a intervenção nestemundo
em
evolução constante.l I
This study is a reflexion and contribution
of
the Natural Sciences for the Scientific Literacydevelopment in the inicial series, analazing the meanings and contributions
of
the ScientificLiteracy in the scholastic context, for the learning process. Considering that this topic is not
well discussed in brazilian schools, the project presents the discussions around the
theme
inseveral countries, showing
how
it has been discussed and .has contributed to improve theteaching of the Natural Sciences. These bibliographic data, joined to the literacy study,
provided the development
of
a literacy concept for the inicial series, understood as the processby which
the Natural Science language obtains sense, transforrning itself in away
to amplify theculture. It is emphasized that the scientific literacy is a lifelong activity, being systematized in
the scholastic space, but transcending its dimensions for not formal educational spaces
permeated
by
all kind of midia and languages. So, it isshown
an actof
programming
structure,in
which
tem
didatic-pedagogic initiatives that can contribute for the scientific literacy development, since that increasing and developing the scientific literacy is a cultural necessity,once
the Natural Science contendsmust
be development in away
tomake
possible thecomprehension
of
the scientific contends, contributing for the perception the discussion and theSUMÁRIO
SUMÁRIO
... ..9APRESENTAÇÃO
... .. 1 1CAPÍTULO
I -O
ENSINO
DE
CIÊNCIAS
NATURAIS
NAS
SÉRIES
lNICIAIS... 161.1
As
RAZÕES
DE
ENSINAR
CIÊNCIAS
NATURAIS
... .. 1ó1.2
As
NECESSIDADES
DE
MUDANÇA
...24
1.3
SINALIZANDO
NOVAS
POSSIBILIDADES
... .. 31CAPÍTULO
11-ALEABETIZAÇÃO
CIENTÍFICA: LER,
COMPREENDER
E
EXPRESSAR
... ... ... ..372.1
AS
ORIGENS
E
A
IMPORTÂNCIA
DA
ALFABETIZAÇÃO
CIENTIFICA
... .. 3s2.2
As
FUNÇÕES
DA
ALFAEETIZAÇÃO
CIENTIFICA
... ._49
2.3
CARACTERÍSTICAS
DE
UM
INDIVÍDUO
ALFAEETIZADO
CIENTIFICAMENTE
... .. 54
CAPÍTULO
111 -ALFABETIZAÇÃO
E
ALFABETIZAÇÃO
CIENTIE1CAz
COMO
A BUSCA DE
CONHECIMENTO
... ..713.1
A
ALEABETIZACÃO
NAS
SERIES
INICIAIS;CoNCEIToS E
(PRE)
CoNCEIToS
... ..72
3.2
ALEAEETIZACÃO
CIENTÍFICA
PARA
As
SERIES
INICIAIS
... .. 333.3
TRANSCENDENDO
o ESPAÇO ESCOLAR
... ..9o
CA_I>ÍTULo
Iv
-AEEABETIZACÃO
CIENTÍFICA
E
0
ENSINO
DE
CIENCIAS
NAS
SERIES
INICIAIS
... ..99
4.1-
FUNDAMENTOS
PARA
UMA
PRÁTICA
PEDAGÓGICA
... ..99
4.2
USO
ARTICULADO:
AS
CONTRIBUIÇOES
DAS
ATIVIDADES
... .. 1124. 2.1 Literatura Infantil ... ... ... ..
113
4.2.2 Revista “Ciência
Hoje das
Crianças ... .. 11 7 4.2.3 Paródias, músicas ... _.119
4.2.4 Vídeos educativos ... .. 121 4.2.5 Teatro ... ..122
4.2.6VisitaaMuseus
... ..123
4.2. 7 Saídasa
campo
... _.125
4.2.8Aulas
práticas ... ..126
4.2.9Computador
... ..128
4.2.10 Feiras de Ciências ... ..130
4.3
CONSIDERAÇÕES
FINAIS:
LIMITES
E
POSSIBILIDADES
... .. 132APRESENTAÇÃO
Este trabalho é o resultado de
uma
reflexão e pretende contribuir para amelhoria
do
ensinode
Ciências nas Séries Iniciaisdo
Ensino Fundamental. Nestes dez anos deMagistério, transitando nos três niveis de ensino - fundamental,
médio
e superior - e atuandotambém
em
cursos de capacitação para docentes das Séries Inici-ai-s, -~além‹1le«uma experiênciade seis anos de direção de escola, muitas dúvidas e lacunas surgiram, principalmente,
no que
concerne à contribuição da educação,
em
particulardo
ensino de Ciências, para a formaçãodo
cidadãoí
Durante os cursos de capacitação docente
da
rede -municipal e estadual, percebiaque
os professores apresentavam muitas dificuldadesem
trabalharcom
to ensino de CiênciasNaturais; seja
na
concepção de ciência assumida na prática docente, seja naforma de
apresentação
do
conteúdo e do” próprio domínio de conteúdos.Por
outro lado, os professoresdemonstravam
um
interesse muito grande pelasatividades experimentais, pois acreditavam que, através delas, seriam mais -fáceis de trabalhar
os conteúdos, e as aulas seriam mais atraentes. Esta constatação
ficou
mais explícitacom
osprofessores de 3” e 4” séries.
Os
professores de 1” e 2a séries dedicavam-se, prioritariamente,ao ensino de Português e de Matemática, tendo
em
vista que, segundo eles, estas disciplinasoperações matemáticas. Esta situação
provocou-me
profundos questionamentos,impulsionando o desenvolvimento de
um
trabalhoque
contemplasseo
ensino de Ciências nasSéries Iniciais, procurando contribuir para a ampliação das discussões referentes às primeiras
séries e,
em
especial,da
contribuição das Ciências Naturais parao
processo de alfabetização.-
Durante os anos de direção de escola,
acompanhei
com
mais propriedade aforma
como
o ensino era ministrado, especialmente o ensino de Ciências Naturais. Percebigrandes variações nos objetivos, na metodologia e
na
concepção de educação de cadaprofessora. Percebi que, principalmente,
na Educação
Infantil, a prática docente apresentaum
caráter interdisciplinar, centrando suas atenções
no
interesse e na curiosidade dos alunos.Verifiquei trabalhos interessantes envolvendo o estudo
do
sapo,da
borboleta, da cobra,da
aranha,da
abelha,do
pinheiro,da
erva mate,do meio
ambiente, entre outros.As
professoras iniciavam seus estudos identificando, inicialmente,o que
osalunos sabiam sobre o assunto, reconhecendo as concepções dos alunos e verificando suas
dúvidas principais, observando o objeto de estudo, marripulando-o.
Em
seguida, realizavampesquisas
em
livros, nas quais a professora, através de ilustrações e de forma dialógica,ampliava os conhecimentos de seus educandos. Através
do
desenho e da oralidade, as criançasexpressavam o conhecimento construído nestas atividades.
Porém, quando
estes alunos freqüentam a primeira sériedo
Ensino Fundamental, o Português e aMatemática passavam
a ter o seu lugar de destaque, reduzindo as aulas de Ciências Naturais ao estudo teórico, desinteressante esem
aplicação.Por que
estamudança
tão significativa e inconcebívelno
tratamento 'didático-pedagógico?
As
aulasministradas
na Educação
Infantil, envolvendo a ciência, não contribuem para a alfabetizaçãotão almejada pelos pais e pela escola? Quais as contribuições das Ciências Naturais para o processo de alfabetização?
'
Estas questões irnpulsionaram
o
desenvolvimento deum
estudo que analisasseo ensino de Ciências Naturais nas Séries Iniciais, partindo
do
pressupostoque
a alfabetizaçãocientífica
pode
constituir-senum
meio
de ampliaçãodo
conhecimento dos educandos,devendo
ser priorizada e devidamente ensinada
no
Ensino Fundamental.~
13
a seguinte formulação:
Quais
são os significados e contribuiçõesda
alfabetização cientificano
contextodas
Séries Iniciais,para
o
processo ensino-aprendizagem?Na
presente pesquisa pretendo analisar, priorizandoo
planejamento, aorganização e a
abordagem
didático-pedagógicada programação
escolar,como
desenvolver osconteúdos de Ciências, nas Séries Iniciais
do
Ensino Fundamental, paraque
os conhecimentosconstruídos
possam
contribuir parauma
alfabetização científica. Assim, são propostas asseguintes questões:
A
escola, atravésdo
ensino de Ciências, contribui para a alfabetização científica? Quais as contribuições da alfabetização científica para a formação de indivíduoscríticos, participativos, capazes de
tomar
decisõesna
sua vidag diária?Como
abordar osconteúdos de ciências, nas Séries Iniciais, para
o
desenvolvimento e ampliação da alfabetizaçãocientífica?
Analisar os diferentes significados
que
a alfabetização e a alfabetização científicaapresentam,
propondo
iniciativas didático-metodológicas quepossam
contribuir para amelhoria
do
ensino de Ciências nas Séries Iniciais, éo que
pretendo apresentarcomo
subsídiosparara melhoria
do
ensino de Ciências. `Nesta dissertação, o enfoque metodológico será realizado através
da
pesquisaqualitativa
(LUDKE
&
ANDRÉ,
1986), utilizando a pesquisa documental e a análise deconteúdos.
No
capítulo I situoo
ensino de Ciências Naturaisno
Ensino Fundamental,destacando
que
a escola éo
espaço fundamental de sistematização, construção e ampliação de conhecimentos. Através deuma
prática pedagógica comprometida, a escola e,em
especial, oensino de Ciências contribui para a
compreensão
e leiturado
mundo
pelo educando, defonna
crítica, consciente, participativa, instrumentalizando-o a agir
no
sentido de transformar a suarealidade. Destaco
também
que
o ensino de Ciências Naturais carece demudanças
para atingiresta meta.
Na
sua grande maioria prevaleceum
ensino centradona memorização
de conceitos,no
desenvolvimento de regras de higiene,no
descompasso
entre ciência e tecnologia e a vidadas pessoas, caracterizando-seu por ser
um
ensino memorístico, a-histórico e acrítico. Destaforma,
proponho que o
ensino de Ciências Naturais seja desenvolvido deforma
a possibilitar a~ ~
intewençao neste
mundo
em
evoluçao constante.No
capítulo II realizouma
revisão bibliográfica, procurando caracterizaro que
vem
sendo discutido sobreo tema
Alfabetização Científica, sinalizando as suas contribuiçõespara a construção da cidadania.
Os
debates realizados nos Estados Unidos, ReinoUnido
eEuropa
Continental, sobre a problemáticada
alfabetização científica, referem-se principalmenteem
nível de entendimentoque
as pessoas apresentam sobre temas científicosque
estãoem
evidência, analisando-se as contribuições
da
escola neste processo.Os
resultados de pesquisasconsultadas constatam
um
nível muito baixo decompreensão
dos assuntos científicos,sinalizando
que
mudanças
devem
ocorrerna
educação formal, paraque
a populaçãocompreenda,
discuta, participegdos debates envolvendo a ciência e a tecnologia, etambém
influencie na
tomada
de decisão. Neste capítulo, assinalo as categorias de alfabetizaçãocientífica propostas por
SHEN
(1975) eBYBEE
(1995),que
balizaram as análisesque
as diferentes iniciativas didático-metodológicaspodem
contribuir parao
desenvolvimentoda
Alfabetização Científica nas Séries Iniciais
do
Ensino Fundamental.No
capítulo l]I resgato a importância da alfabetização parao
processo ensino-aprendizagem, através
do
conceito de alfabetização proposto porSOARES
(1985),ou
seja,um
processo de representação defonemas
em
grafemas e vice-versa,mas
também
um
processode
compreensão
e expressãode
significados atravésdo
código escrito. Articulando estacompreensão
de alfabetizaçãocom
a categoria letramento(SOARES,
1998), definidocomo
o
estado
ou
a condição que adquireum
grupo socialou
um
indivíduocomo
conseqüência de ter-se apropriado da escrita, para elaborar
um
conceito de alfabetização científica para as SériesIniciais. Assim, a alfabetização científica é compreendida
como
o processo pelo qual alinguagem
das Ciências' Naturaisadquire
significados, constituindo-seum
meio
para oindivíduo ampliar
o
seu universo de conhecimentos, a sua culturacomo
cidadão inserido nasociedade. Destaco
que
a escola sozinhanão
dá conta de alfabetizar cientificamente,requerendo a utilização de outras linguagens, dos espaços educativos
não
formais e dasdiferentes mídias para desenvolvê-la.
Por
outro lado, pelas peculiaridadesque
a escola15
sistematização dos conhecimentos, inclusive os adquiridos fora
do
espaço escolar,constituindo-se
num
momento
ímpar de ampliação de conhecimentos.No
capítuloIV
apresentouma
proposta de encaminhamentos didático-metodológicos para
o
desenvolvimento da alfabetização científica nas Séries Iniciais, através dediversas atividades estruturadas
que
podem
propiciarum
ganho
cognitivo.A
premissa básicaque
norteia esta proposta éque
a alfabetização científica éuma
atividade vitalícia eimprescindível para a constituição
da
cidadania, sendo desenvolvidana
escola e nos espaços0
ENSINO
DE
CIÊNCIAS
NATURAIS NAS
SÉRIES
INICIAIS
A
Alfabetização Científicano
ensino de Ciências Naturais nas Séries Iniciaisdo
Ensino Fundamental é
o
objeto desta dissertação.Defendo que
esta alfabetização, aindaque
pouco
explorada neste período da educação escolar, se constituium
meio
de ampliaçãoda
cultura, proporcionando ainda
um
novo
olhar sobre o processo de alfabetização.Neste primeiro capítulo faço algumas considerações sobre
o
ensino de CiênciasNaturais nas Séries Iniciais, destacando sua importância, principais problemas, sinalizando
algumas altemativas de mudanças. `
1.1
As
razõesde
ensinar Ciências NaturaisMuito
setem
discutido e escrito sobre a importânciado
ensino de CiênciasNaturais
em
todos os níveis de ensino, tendoem
vista¬as inúmeras inter-relaçõesque o
serhumano mantém
com
o
ambiente e vice-versa.A
importânciado
ensino de Ciências é17
inclusão de temas relacionados à Ciência e à Tecnologia nas Séries Iniciais.
Apesar
destaconvergência existente, principalmente nas propostas curriculares e nos planejamentos
escolares, a criança sai da escola
com
conhecimentos científicos insuficientes paracompreender o
mundo
que
a cerca. Diante de tais discussões,surgem
questõescomo: Qual
aimportância dos conhecimentos científicos para a vida dos educandos? Quais aspectos
devem
ser enfatizados ao se ensinar Ciências Naturais? Quais as
demandas da
sociedadeem
decorrência
do
desenvolvimento científico e tecnológico?Como
as pessoas e as escolasdeveriam agir perante o
amplo
desenvolvimentoda
ciência?São
perguntascomo
estasque
oprofessor deve fazer e
que
pretendo clarear nesta parteda
dissertação.Segundo
FRACALANZA
(1986):“...o ensino de ciências
no
primeiro grau, entre outros aspectos, devecontribuir
para
o domínio das
técnicasde
leitura e escrita; permitiro
aprendizado
dos
conceitos básicosdas
ciências naturais eda
aplicaçãodos
princípios aprendidas
a
situações práticas; possibilitara
compreensão das
relações entre
a
ciência ea
sociedade edos mecanismos
deprodução
eapropriação
dos
conhecimentos científicos e tecnológicos; garantira
transmissão e
a
sistematizaçãodos
saberes eda
cultura regional e local. ” (p.26-27).
~
As
razoes apontadas por este autor contrapõe-se ao ensino livresco,memorístico, acrítico e a-histórico ministrado na maioria das escolas. Acredito que, para
mudar
esta realidade, toma-se necessário desenvolver
um
ensino de Ciências que tenhacomo
foco,nas Séries Iniciais,
“a ação
da
criança,a
sua
participação ativa duranteo
processode
aquisição
do
conhecimento,a
partirde
desaƒiadoras atividadesde aprendizagem
”. (FRIZZO
&
MARIN,
1989, p. 14).FRACALANZA
(1986)afinna que o
ensino de Ciências, além 'dos conhecimentos, experiências e habilidades inerentes a esta matéria, deve desenvolvero
pensamento
lógico e a vivência demomentos
de investigação, convergindo para o desenvolvimento das capacidades de observação, reflexão, criação, discriminação de valores,julgamento, comunicação, convívio, cooperação, decisão e ação, encarados
como
objetivodo
processo educativo. Estas habilidades descritas são instrumentos de
suma
importância para apresentes e, é
em
nível elementarque
estas habilidadespodem
ser iniciadas, permitindo aoaluno discutir e analisar
o
conhecimentoque
está sendo construído.O
ensino de Ciências nas Séries Iniciais deverá propiciar a todos os cidadãos osconhecimentos e oportunidades de desenvolvimento de capacidades necessárias para se
orientarem nesta sociedade complexa,
compreendendo
oque
se passa à sua volta,tomando
posição e intervindo
na
sua realidade.Desta maneira, estar-se-ão possibilitando condições para
que
oeducando
exerçaa sua cidadania.
“Para o
exercício plenoda
cidadania,um
mínimo
de
formação
básicaem
ciências deve ser desenvolvido, de
modo a
fomecer
instrumentosque
possibilitemuma
melhor
compreensão
da
sociedadeem
que vivemos. ” (DELIZOICOV
&
ANGOTTI,
1990, p. 56). Assim, todos os individuosdevem
receberuma
formaçãomínima
em
ciências para a suaformação cultural, porque
o
"corpus"do
conhecimento científico das Ciências Naturais é parte constitutiva da cultura elaborada.É
desta forma que considero que éno
âmbito das SériesIniciais que a criança constrói seus conceitos e apreende de
modo
mais significativo o ambienteque
a rodeia, através da apropiação ecompreensão
dos significadosque
as Ciências Naturais apresentam.Sabe-se
que
o
acesso ao conhecimento científico se dá de diversas formas, eem
diferentes ambientes,
mas
é na escola que a formação de conceitos científicos é introduzidaexplicitamente, oportunizando ao ser
humano
acompreensão da
realidade e a superação de problemasque
são impostos diariamente. Fica claro queo
ensino de Ciênciasnão
objetivapreparar cientistas
ou
preparar parao
EnsinoMédio,
mas
para queo educando
aprenda a viverna
sociedadeem
que
está inserido.O
ensino de Ciênciascom
seus métodos, linguagem e conteúdos próprios devepromover
a formação integraldo
cidadão,como
ser pensante e atuante, ecomo
co-responsávelpelos destinos da sociedade.
A
criança, desde as Séries Iniciais, é cidadãque
se constrói atravésde inúmeros atos interativos
com
os outros ecom
omeio
em
que vive. Ela é sujeito de seusconhecimentos.
“O
propósitomais
geraldo
ensinodas
Ciências deverá ser incentivara
19
para
criarum
ambiente favorávelao
desenvolvimentodo
Homem
como
serhumano.”
(HURD
apud
CARMO,
1991, p. 146).Ainda
com
relação ao exercício da cidadania,FUMAGALLI
(1998) entendeque
se deve perceber o aluno
como
sujeito social de sua própria história,afirmando
que:“Cada
vezque
escutoque
as criançaspequenas
não
podem
aprender ciências,entendo
que
essa afirmaçãocomporta
não
somentea
incompreensãodas
características psicológicas
do
pensamento
infantil,mas
também
a
desvalorização
da
criançacomo
sujeito social. Nesse sentido, pareceque
éesquecido
que
as criançasnão
são somente 'o futuro' e sim que são 'hoje' sujeitos integrantesdo
corpo social e que, portanto, têmo
mesmo
direitoque
osadultos
de
apropriar-seda
cultura elaborada pelo conjuntoda
sociedadepara
utilizá-la
na
explicação ena
transformaçãodo
mundo
que
a
cerca.E
apropriar-se
da
'cultura elaborada é apropriar-setambém do
conhecimentocientifico,
já
que este éuma
parte constitutiva dessa cultura. ” ( p. 15).Esta autora
afirma
aindaque
não ensinar ciências nas Séries Iniciais, utilizando- sedo
argumentoque
as criançasnão
possuem
capacidades intelectuais, éuma
fonna
dediscriminá-las
como
sujeitos sociais.Defende
ainda que,embora no
discurso pedagógicoreconhece-se a importância social de abordar as ciências,
no
nível básico de educação, naprática escolar
0
conhecimento científico e tecnológico parece estar ausente, tendoem
vista aprioridade ao ensino das matérias
chamadas
instrumentais (Matemática e Linguagem). Destaforma,
o
ensino de Ciências, principalmente na primeira e segunda séries,ocupa
um
lugarresidual,
no
qual chega a ser incidental.“As crianças exigem
o
conhecimentodas
ciências naturaisporque
vivemnum
mundo
no
qual ocorreuma
enorme
quantidadeck
fenômenos
naturaispara
os-quais
a
própria criança deseja encontraruma
explicação;um
meio
no
qualtodos estamos cercados de
uma
infinidadede
produtosda
ciência eda
tecnologia que
a
própria criança usa diariamente e sobre os quais se fazinúmeras perguntas;
um
mundo
no
qual osmeios de
informação sociala
bombardeiam
com
notícias e -conhecimentos, algunsdos
quaisnão
são realmente científicos, sendoa
maioria supostamente cientificas,mas
de
qualquer
forma
contendodados
eproblemas que
amiúde
a
preocupam
ezzngzzszzzzm. ”
(VÁSQUEZ
apud
FUMAGALLI,
1998, p. 17-is).FUMAGALLI
( 1998)afirma
que deve-se valorizar a prática social presente nasfiituros cidadãos.
Argumenta que
os alunos, “enquanto integrantesdo
corpo social atual,podem
ser hojetambém
responsáveis pelo cuidadodo meio
ambiente,podem
agir hojede
forma
consciente e solidáriaem
relaçãoa
temas vinculadosao
bem-estarda
sociedadeda
qual
fazem
parte ” (p. 18). Valorizando a criançacomo
sujeito social atual, estar-se-ácontribuindo para a sua ação
como
adulto responsável e crítico na sociedade. Estes indivíduosserão responsáveis por seus “atos, tanto individuais
como
coletivos, conscientes econhecedores
dos
riscos,mas
ativos e solitáriospara
conquistaro
bem-estarda
sociedade e críticos e exigentes diante daquelesque
tomam
as decisões ”.(WEISSMANN
apud
FUMAGALLI,
1998, p. 18).Segundo
MORAIS
(1995), o ensino de Ciências nas Séries Iniciais deverá serdesenvolvido
em
função de dez princípios básicos, a seguir sintetizados:a)
O
conhecimento e o desenvolvimento intelectual da criança se constroematravés da sua capacidade de explorar
o
ambiente/realidadeque
a cerca.b)
A
filnçãodo
professor deve sero
de facilitadorda
aprendizagem, criandocondições para a
constmção do
conhecimento.c)
A
construçãodo
conhecimento se dá através de atividadesque
priorizem aobservação e a experimentação, levando a criança a descobrir resultados,
sempre
partindo desua realidade e de seus interesses.
d)
É
fundamental partir da realidade das crianças, sempre levandoem
consideração os conhecimentos já existentes para, a partir destes, construírem os
novos
conhecimentos. -
e)
A
experimentação éuma
atividade que, além de propiciar a aquisição de conhecimentos, opoitunizao
desenvolvimento das habilidades e atitudes científicas.Í)
Os
conteúdosdo
ensino de Ciênciastambém devem
partir da realidade dosalunos, fazendo-se sempre
uma
ligação entre aquiloque
se está aprendendocom
a aplicação navida diária das crianças.
21
g)
Uma
constante inter-relação entre0
ensino de Ciências e demais disciplinastoma-se vital.
Também
nas aulas de Ciências deve-se priorizar a reflexão, a comunicação orale a escrita, entre outras.
h)
O
professor precisa estar sempre predisposto a aprender juntocom
os alunos.i)
A
leiturado
mundo
também
se faz presenteno
ensino de Ciências. Atravésda
observação, da construção de conceitos e da aquisição de habilidades de pensamento, o aluno
desenvolve a capacidade de solucionar problemas.
j)
O
ensino de Ciências deve proporcionaruma
compreensão
amplado
mundo
eda
realidade, contribuindo de maneira efetiva paraque
o
aluno setome
sujeito de sua própriahistória. \
HARLEN
(1989) apresenta três argumentos para a introduçãode temas
relativos às ciências
na
escolarização elementar: ra)
As
crianças constroem idéias sobreo
mundo
que asi rodeia,independentemente de estarem estudando
ou não
ciências na escola.As
idéias por elasdesenvolvidas
não
apresentamum
enfoque científico de exploraçãodo
mundo
e,podem,
inclusive, obstaculizar a aprendizagem
em
ciências nos graus subseqüentes de suaescolarização. Assim, se os assuntos de ciência não forem ensinados às crianças, a escola estará
contribuindo para
que
elasfiquem
apenascom
seus próprios pensamentos sobre osmesmos,
dificultando a troca de pontos de vista
com
outras pessoas.b)
A
construção de conceitos e o desenvolvimentodo
conhecirnento não sãoindependentes
do
desenvolvimento de habilidades intelectuais. Portanto, é dificil ensinarum
“enfoque científico”, se
não
são fornecidas às crianças melhores oportunidades para conseguir ~tratar (processar) as infonnaçoes obtidas.
c)
Se
as crianças,na
escola, não entraremem
contatocom
a experiênciasistemática da atividade científica, irão desenvolver posturas ditadas por outras esferas sociais,
que
poderão repercutir por toda a sua vida.PRETTO
(1995), ao discutiro
ensino de Ciências nos livros didáticos, apresentamaneira de
se interpretar osfenômenos
naturais;a
ciência e' parte integranteda
cultura;a
ciência faz parte
da
históriadas
diferentesformas
de
organizaçãoda
sociedade; eo
desenvolvimento científico e tecnológico é
cada
vezmais
acentuado. ” (p. 19).As
crianças, desde cedo, precisam conhecer e interpretar osfenômenos
naturais,situando-se
no
Universoem
que estão inseridas e interpretando a Natureza.A
ciência precisa ser entendidacomo
um
elementoda
cultura, tendoem
vistaque os conhecimentos científicos e tecnológicos desenvolvem-se
em
grande escala na nossasociedade, resultante
do
trabalhodo
homem,
do
seu esforço criador e recriador, enão
deum
momento
mágico,no
qualo
homem
cria, a partirdo
nada, teorias e leis.Ao
considerar ciênciacomo
um
elementodo
universo cultural, deve-seconsiderar que ela possui
uma
história.A
produçãodo
conhecimento científico está relacionadacom
osmomentos
históricos, recebendo influências econômicas, sociais, políticas, religiosas,entre outros,
mas
também
sobre elas exerce a sua influência. nesta relação dialéticada
ciência
com a
sociedadeque
surgem
as novas teorias, baseadasem
modelos
queprocuram
explicar, interpretar e interferir nos
fenômenos
da
Natureza. ”(PRETTO,
1995, p. 19- 20).Diariamente
o
homem
convivecom
a supervalorizaçãodo
conhecimentocientífico e
com
os avanços da ciência eda
tecnologia.A
escola deve trazer para a sala de aulaestas inovações e, a partir delas, realizar
uma
análise crítica, percebendo as implicações destesnovos
conhecimentos e os seus reflexosna
sociedade como.um
todo.Os
educandosnão
serãomeros
consumidores acríticos dos produtosda
tecnologia.“Os
indivz'duospouco
refletem
sobre esses produtos e os processos envolvidos
na
sua produção
e distribuição, tornando-seindivíduos
sem
informação,sem
autonomia
de opções esem
questionamentos, subordinado-seàs regras
de
mercado,da
mídia eao
sabordos
interesses alheios. ”(SÃO PAULO,
1992, p.10).
O
ensino de Ciências deverá preparar os indivíduos para utilizar a ciência na melhoria desuas vidas e para lidar
com
um
mundo
cada vez mais tecnológico.Segundo
TERRAZZAN
&
ZAKRZEVSKI
(1996), 0 ensino de Ciências devecontribuir para
que
a criançacompreenda o
serhumano,
os outros seres vivos eo
mundo
fisicoque
a rodeia,bem como
a interação entre eles.Deve
permitir à criança formas de descobrir23
De
acordocom
os Parâmetros Curriculares Nacionais, o ensino de CiênciasNaturais deverá “mostrar
a
ciênciacomo
um
conhecimentoque
colaborapara
a
compreensão
do
mundo
e as suas transformações,para
reconhecero
homem
como
partedo
universo ecomo
indivíduo”.(BRASIL,
1997a, p. 23). Destaca ainda que:“A
apropriaçãode
seus conceitos e procedimentospode
contribuirpara
o
questionamento
do
que
se vê e ouve,para
a
ampliação das
explicações acercados
fenômenos
da
natureza,para
a
compreensão
e valorizaçãodos
modos
de
intervir
na
natureza e de utilizar seus recursos,para
a
compreensão dos
recursos tecnológicos
que
realizam essas mediações,para
a
reflexão sobrequestões éticas implícitas
nas
relações entre Ciência, Sociedade eT
ecnologia. ”(BRASIL,
1997a, p. 23-24).O
ensino de Ciênciasnão pode
ser desenvolvido deslocado da sociedade querodeia
o
indivíduo,no
qual se requer posições sobre as questões relacionadascom
asaltemativas energéticas, questões ligadas a opções urbanísticas e de
ordenamento
entre outras.Segundo
CARMO
(1991):“Para
optar e votarfundamentalmente
em
questões sociaisque
envolvemaspectos científicos,
para
participarde
forma
responsávelem
todaa
comunidade,
não
basta conhecer certos fatos e possuir certas técnicas.Há
necessidade
de compreender
o papel
da
Ciênciana
Sociedade; terconhecimento
das
questões e decomo a
Ciência intervém nelas.É
necessário,não
só ter conhecimento das implicações das soluções altemativas edo
potencial
da
Ciênciana
resoluçãodos
problemas
existentes,mas
também
dos
limites e
dos
obstáculosà
sua resolução.Há
necessidadede
contatara
váriosníveis
com
as aplicaçõesda
Ciênciaaos
problemas
reaisda
Humanidade.
O
ensino
de
Ciências deverátambém
contribuirpara
dar
aos alunosuma
compreensão
do
papel dos
cientistas eda
natureza e projeçãode
uma
largagama
de
carreiras cientzficas e profissões ligadasà
Ciência e Tecnologia. ” (p.146).
Este autor argumenta ainda que
o
ensino de Ciências deverá garantir o própriocrescimento da ciência, garantindo a fonnação dos cientistas e técnicos aptos a dar respostas às
necessidades sociais.
Deverá
proporcionar aos indivíduosuma
melhorcompreensão
não sóda
ciência e sua natureza,
como
do
papelda
ciência na sociedade atual. Assim,o
ensino decompreender o
funcionamento de seumundo,
aomesmo
tempo
que incentiva a prosseguir seusestudos nos
campos
da
ciência.1.2
As
necessidadesde
mudança
Analisando as referências bibliográficas
que
discutemo
ensino de CiênciasNaturais, encontrei muitas críticas às metodologias utilizadas pelos professores, à formação dos
professores, à utilização
do
livro didático, entre outras.Também
localizei propostasque
apontam
caminhos e possibilidades de melhoriasno
ensino de Ciências Naturais. Assim, nestaparte da dissertação, pretendo elencar os principais problemas encontrados
no
ensino deCiências Naturais, sinalizando possíveis contribuições para
um
melhor entendimento dasciências.
O
homem
tem
como
uma
das finalidade de sua existência o desvelamentodo
mundo, da
vida,do
universo. Ele é, por sua natureza,um
etemo
descobridor, e as crianças, porsua vez,
adoram
aprender. Portanto, toma-se vitalque
os professoreslevem
em
consideração que as crianças, ainda antes de freqüentarem a escola, manifestamum
interesse muito grandepelas coisas
da
natureza, apresentando curiosidades, demonstrando interesse para descobrircomo
as coisasfimcionam
e repetindo incansavelmente suas dúvidas e os porquês.A
criançamostra curiosidade pelo ambiente
em
que
vive.Ao
estudar o ambiente, ela estará se envolvendoem
situações reaiscom
as quais está familiarizada.Por
outro lado, esta curiosidade da criançaperde-se à
medida que
avançana
escolaridade.“O
entusiasmo eo
gostopor
saber,especialmente relacionado
com
as coisasda
ciência, vai declinando.O
gosto pela ciência vaidiminuindo e freqüentemente se extingue.
Muitas
vezes aquiloque
era gosto inerenteao
jovem,
acaba
por
se transformarem
aversão. ”(CANIATO,
1997, p. 46).É
notórioo descompasso
entre o que se ensinaem
sala de aula e a realidade dosalunos,
tomando
as aulas de Ciências Naturais irrelevantes esem
significado, pois as aulas nãose baseiam nos conhecimentos já construídos pelos educandos.
“Na
maioriadas
escolas,o
25
mundo
físico edo
mundo
dos
seres vivos,não
faz relação entreo
dia-a-diada
criança ea
ciência
que
se estuda. ”(FRACALANZA,
1986, p. 8).Em
outras palavras, ao ingressarna
escola
o
aluno já interagiu de muitas formascom
omeio
fisico, construindo o seu universo deconhecimento,
o
qual édenominado
de “concepções altemativas, espontâneas,ou
de sensocomum
(PFUNDT
&
DUIT,
1994).Cabe
ao professor reconhecer estes conhecimentos jáconstruídos e, a partir deles, desenvolver a sua prática pedagógica.
Mesmo
que
iniciativas demudança
estejam ocorrendo,o
ensino de Ciênciasainda se caracteriza por
um
excesso de informações e pela ênfaseem
sua memorização.(MILAGRE,
1989;DELIZOICOV
&
ANGOTTI,
1990;PACHECO,
1996). Tradicionalmente,as ciências
têm
sido ensinadascomo
uma
coleção de fatos, descrições defenômenos
e›._š`:
enunciados de teorias para decorar. Enfatizam-se muitos conceitos, verdadeiras óias de
cultura inútil”,
que pouco
contribuirão para a vidado
aluno na sociedade. Esta dissertação partedo
pressupostoque
os alunosdevem
compreender
os significadosque
os conceitoscientíficos apresentam, aplicando-os
em
situações reais e possibilitando a construção de outrosconceitos.
A
prática pedagógica deverá oportunizar aos educandos, para alémdo
exercícioda verbalização de idéias, discutir as causas dos fenômenos, estabelecendo relações causais,
entendendo os
mecanismos
dos processosque
estão estudando e analisando,onde
ecomo
aquele conhecimento apresentado
em
sala de aula está presenteem
sua vida e, sempreque
possível, relacioná-lo
com
as implicações deste conhecimentocom
a sociedadecomo
um
todo.Desta forma, enfatiza-se a participação ativa dos sujeitos
em
contrapartida aum
ensino centrado
no
professor. Assim, os educandosnão
seriam treinados para a passividade,permanecendo
sentados e silenciosos, recebendo o conhecimentodo
professor. Acreditoem
um
ensinoque
promove
o
desenvolvimentodo
serhumano
em
todos os seus aspectos.A
prática pedagógica deve propiciar a leitura, a sistematização das idéias e a aplicação destes
conhecimentos, contribuindo para entendimento e funcionamento das coisas e
do mundo.
“A Ciência e Tecnologia
como
atividadehumana,
devem
ser caracterizadascomo
um
empreendimento
coletivo e que, portanto, temum
processode
produção
euma
historicidade.Ao
considerarmos esses dois fatores,devemos
salientarque
esse corpo de conhecimento foi produzidopor
alguém
em
inacabado.
A
não
relevância destes aspectosno
trabalhodos
conteúdos, levaráo
alunoa
interpretara
Ciênciacomo
sendoum
conhecimentoque sempre
esteve pronto e imutável,
gerado
por
um
'iluminado ',que
em
nenhuma
ocasiãointeiferia
ou
sofria interferênciada
sociedadea
qual pertencia. ”(MEC,
1994,p. 86).
Ao
limitaro
ensino de Ciências aoschamados
produtosda
ciência, osconteúdos, deixam-se de lado os processos da ciência,
ou
seja, os eventos e procedimentosque levam às descobertas científicas. “Assim,
para
muitos alunos, aprender ciências é decorarum
conjuntode
nomes, fórmulas, descrições de instrumentosou
substâncias, enunciadosde
leis.
Como
resultado,o que
poderia seruma
experiência intelectual estimulantepassa
a
serum
processo dolorosoque
chega
atéa
causar aversão. ”(KRASILCHJK,
1987, p. 52).Esta
abordagem
a-histórica, presente nos livros didáticos ena
prática de sala deaula,
não
propicia queo
aluno identifiqueque
todoo
conhecimento possuiuma
história,que
está intimamente ligada à evolução das diversas formas de organização social.
É
forteo
argumento
segundoo
qualo
ensino de Ciências deva ser desenvolvido levando-seem
consideração
o
seu processo de criação eo
contexto socialno
qual foi desenvolvido,possibilitando aos alunos a
compreensão
deque
os conhecimentos científicos e tecnológicos são produtosdo
trabalhodo
homem
e todostêm
direito de se defrontarcom
a realidade científica,compreendendo 0
seumeio
e intervindoem
sua dinâmica. _O
ensino, demodo
geral, carece deum
trabalho integrado envolvendo váriasdisciplinas.
Os
conteúdos são ministrados deforma
estanque e isolada,tomando
as aulassem
segmentos e significados.
Não
existeuma
coordenação interna na disciplina, na qual os alunosidentificam
uma
seqüência lógica de raciocínio.Também
não
ocorreuma
coordenação externa, entre as várias disciplinasdo
cun^ículo, analisando-se as relações e aspectoscomuns
entre osvários conceitos estudados nas diversas áreas.
A
pobrezado
ensino experimental, tanto qualitativacomo
quantitativamente,tem
contribuído paraum
ensino deficienteem
ciências.É
reconhecida a importância dasatividades práticas, seja
em
laboratório próprioou
em
sala' de aula,como
um
espaço que envolve a participação ativa dos alunos, permitindo que os educandoscompreendam
o
27
incertezas.
As
atividades práticas permitemque
os educandos utilizem equipamentos e outrosinstrumentos, traduzindo as teorias
em
práticas. Sabe-seda
relativa importância doslaboratórios,
mas
é preciso reconhecerque
a ausência de laboratóriosminimamente
organizados, sua insuficiência
ou
inadequação de seu uso, constitui-seem
entraves para amelhoria
do
ensino de Ciências.Os
professores, muitas vezes, utilizam a falta de laboratório para justificar anão
realização de atividades práticas.
No
ensino de Ciências Naturais nas Séries Iniciais, a sala de aula e o meioz ambiente são espaçosque
podem
serocupados
para estas atividades.O
local e os materiais são fatores depouca
relevância,mas
o
enfoque e aforma
como
serão apresentadasas atividades práticas contribuem para
o
desenvolvimento ímpar de aprendizagem significativa.Verifica-se, por outro lado,
que
quando
as escolas estão equipadascom
materiais eequipamentos, os laboratórios
permanecem
freqüentemente fechados, porqueo
professor está, demodo
geral, despreparado para utilizá-los.A
formacomo
os conteúdos são apresentadosem
salade
aula contribui paraum
ensino deficiente
em
ciência.Na
maioria das vezes, os conceitos dos conteúdos são apenasapresentados, seguindo-se
uma
série de exercíciosem
que o
aluno copia literalmente osconceitos apresentados
no
texto. Utilizam-se jogos, exercícios de completar, palavras cruzadasque induzem
amemorização
mecânica das respostas.Desta forma, os exercícios
parecem
ter somente a função de ocupar as crianças,pois
não exigem
raciocínio.Ao
alunonão
é propiciada a oportunidade de extrapolar e projetaraquele conhecimento para outras situações, questionando e entendendo
como
aqueleconhecimento está presente
no
seu cotidiano.A
formação deficiente dos professores constitui-seem
um
outro fatorpreponderante
do
quadroque
vivenciao
ensino de Ciências. Pode-se dizerque
estanão
éuma
realidade exclusiva
do
professorde
Ciências,mas
resultadodo
descasoque
o
magistériocomo
um
todotem
enfrentado nos últimos anos, lutando por melhores condições salariais e detrabalho.
Os
cursos de formaçao de professores deveriam preocupar-seem
preparar melhor osà realidade
em
que
atuam. Sabe-seque
to professor temiina o curso de Magistério, e atéo
Ensino Superior,sem
a formaçãoadequada
para ensinar ciências.Em
igual situação encontra-se o professor de primeira a quarta série,que não
tem
sido preparado para ensinar ciências. Sente-se inseguro para trabalhar,com
muitas dúvidas,reduzindo
o
seu conteúdo àmemorização
de regras de higiene, cuidadoscom
o corpo emeio
ambiente, entre outros.
Segundo
FRACALANZA
(1986), há necessidade de melhor preparodos professores, tanto
no
conteúdo, quanto na metodologia ena
didática decomo
aplicar os conteúdos de ciências nas quatro séries.Esta formação deficiente dos professores faz
com
que
estesdesempenhem
papelsecundário
na
sala de aula,quando não
se permite a discussão dos seus planejamentos deensino, sendo
meros
executores de planejamentos previamente elaborados pelas Secretarias deEducação
que, muitas vezes, nãofomentam
as discussões eo comprometimento do
educadorcom
asmudanças
e transformaçõesque
a escola e a sociedade necessitam, nas quaiso
professor
tem
um
papel essencial a desempenhar.A
prática pedagógica é influenciada diretamente pela formação deficiente dosprofessores,
tomando
as aulas de Ciências teóricas baseadas nos livros textos que estãodescontextualizados
da
realidade dos alunos.As
experiências,quando
realizadas,não
desenvolvem
o
raciocínio lógico enão
contribuem para a construção de outros conhecimentos.Almeja-se a formação de
um
bom
professor de Ciências,com
“conhecimentode
ciências,conhecimentos científicos
dos
conteúdos desenvolvidospara
que
possa
conduziro
processode
aprendizagem
da
criança e levá-laà
busca,ao
questionamento eà
investigação(FRIZZO
&
MARIN,
1989, p. 16).Sabe-se
que
na prática o ensino de Ciênciasnão
trabalha a aprendizagemcomo
“experiência da vida”.
O
professor não se preocupaem
oportunizarmomento
de investigaçãopara que a criança possa descobrir o
mundo
que
a cerca, osfenômenos
fisicos, os seres vivos ea si próprio.
Ao
realizar a leitura dinâmica da vida edo mundo,
a criança estará expressandocaracterísticas básicas de sua aprendizagem, que é
o
seu envolvimento atravésda
observação,29
A
resistência àsmudanças tem
constituídoum
outro fatorque
dificulta aimplantação de novas altemativas
no
ensino de Ciências, tendoem
vista que todamudança
geradesconforto, necessita de maior
tempo
de estudo, e colocao
professorem
conflito.Por
outrolado, a postura tradicional toma-se mais
cômoda
parao
professorque
verbaliza seusconhecimentos, muitos deles adquiridos
quando
de sua formação, carecendo de atualização.Assim, os professores utilizam
uma
didática reprodutivista e desatualizada,que
pouco
contribuipara a melhoria
do
ensino.Além
da formaçãodo
professor,o
livro didático é consideradoum
dosprincipais instrumentos
do
processo de ensino-aprendizagem. ParaFRACALANZA
(1986), “olivro didático,
que
muitoeficazmente
padronizou propostas curricularesde
ciências,acabou
por
subjugar0
ensinode
ciências, tornando-se seu orientador exclusivo, e transformou-sede
auxiliar didático
em
ditadorde
planejamento ” (p. 18). Este fato é observado claramente,quando
se analisam os planejamentos de ensinodos
professores, constatandoque
elesrepresentam
uma
cópia fiel dos conteúdos apresentadosno
livro didático adotado pela escola,orientando as atividade diárias de sala de aula.
O
livro didático,que
deveria servircomo
elemento estimulador, desenvolvendoa capacidade dos alunos, passa a ser
um
elemento limitador e unifonnizadorda
aprendizagem.PRETTO
(1995), ao analisar os livros didáticos de Ciências de 1” a 4a série, percebeuuma
semelhança impressionante
no
conteúdo,na
ordem
ena
forma
de apresentação destesconteúdos, verificando
que
os livros apresentam pequenas diferenças entre si.“Partindo
do
princípiode que
0
livro escolarde
I”a
4
“ série,além de
contribuir
com a
formação
intelectual e culturaldos
alunos, é utilizadocomo
sendo
um
dos,ou
talvez0
único instrumentode
atualização dos professores(que
0
utilizamnas
preparaçõesde
suas aulas),0
livro tem0 grande poder de
completar
a
formação
inicial de profissionaisque
possuem
apenas
0
curso de2° grau,
quando 0
possuem. Conseqüentemente,a
qualidade dos livros afetadiretamente
a
qualidade de atualizaçãodo
professor, refletindo imediatamentena
qualidade de ensino. ” (MEC,
1994, p. 81)."KRASILCHIK
(1987) critica longamente os livros didáticos, aoafirmar que
sãoTransmitem preconceitos contra minorias sociais e étnicas.
Apresentam
valorescontrovertidos sobre relações entre
a
Ciência ea
Sociedade e entre pesquisadores ea
comunidade
” (p. 49).Afirma
aindaque
nos livros exagera-seno
uso de cores nas ilustrações,figuras caricaturescas
que
supostamenteagradam
aos alunos, além de exercíciosdo
tipoquebra-cabeças
que
são primários na suademanda
intelectual.Para
ALVES
(1987), os livros didáticos na sua maioria ignoram aquiloque
oaluno já sabe.
“Os
conceitos queemitem
são deuma
notável tautologia;não
só repetemaquilo
que
o
aluno conhece,como
se fosse novidade,como
repetem 'adnauseam'
osmesmos
conceitos, os
mesmo
desenhos, asmesmas
explicações.” (p. 15).Argumenta
ainda que osprofessores
devem
reverter' esta prática, partindodo
conhecimentoque
o
aluno já possui, para“fazer valer dentro
da
escolaa
realidadedo
aluno ea
apreensãoque
elejá
traz destarealidade, e
para
que
se tenha 'a prática socialcomo
ponto
de partida eponto
dechegada
do
processo
pedagógico
(p. 15).Na
escolhado
livro didático os professores deveriam considerar se as atividadespropostas
no
livro apenas reforçam os conteúdos apresentadosou
são importantes para aprópria formação de conceitos científicos pelos alunos.
Além
disso, deverá “verificar se asatividades levam
em
contaa
'vivência eo
nível cognitivode
seus alunos.Deverá
também
perceber
o
grau de
dificuldadesde cada
uma
das propostasde
atividades sugeridas,bem
como
a
viabilidade desua
realizaçãonas
condições escolares.(FRACALANZA,
1986, p.33).
Na
década de noventao
Ministério daEducação
edo
Desporto realizouum
estudo dos livros didáticos mais utilizados pelos professores de todo
o
Brasil. Este estudoobjetivou a análise da qualidade dos conteúdos programáticos e os aspectos pedagógico-
metodológicos dos livros utilizados nas Séries Iniciais
do
Ensino Fundamental. Resultaramdestas análises duas publicações
que
muitotêm
contribuído para a melhoria da qualidade deensino
no
Brasil, balizando as escolhas dos livros didáticos.De
acordocom
os critérios deavaliação dos livros didáticos de 1” a 4” série
do
MEC
(1994):“Os
textosdevem
mostrar conteúdosà
compreensão dos
mesmos
pela faixaetária
a
que
se destina,mostrando
clarezade
idéias e concepções, e31
de
um
conceito.Além
disso estes textosnão devem
apresentar errosconceituais,
bem como
induçãoa
preconceitos,com
risco de mitificarou
mistiƒicar
a
Ciência.Logicamente
devem
ser atualizados enão
apresentarinformações contraditórias, seja
em
relaçãoa
outros textosou
gravurasáfotos. ”(p. 84-85).
MOYSÉS
&
AQUINO
(1987) realizaramum
estudo verificando o entendimentoque
os alunos apresentavamem
relação ao livro texto, constandoque
os alunos preferem oslivros
que
favorecem mais àcompreensão
que à memorização. Gostariamtambém
que os livrosapresentassem mais exemplos, e que os conteúdos apresentados estivessem aliados ao seu
cotidiano.
“Como
este cotidianonão
sedá
mediante quadros sinóticos,resumos
e textostruncados,
sugerem que
as explicações sejam maiores emais
claras. ” (p. 13).Sabe-se
que o
livro didático é o principal instrumento norteadorda
práticapedagógica, apresentando muitas deficiências
como
foram apontadas anteriormente.Não
setrata de negá-lo, abolindo-o
ou modificando-o
deum
só golpe.É
precisocompreender que
eleé apenas
um
acessório, útil ao ensino,mas
deverá ser utilizadocom
competência,em
que
o elemento fundamental é a relação professor-alunoque
se estabelece e sobreo
qual a aprendizagem se desenvolve.1.3 Sinalizando
novas
possibilidadesAtualmente existe
um
consenso dentrodo
Ensino Fundamentalem
relação àimportância das Ciências Naturais nas Séries Iniciais, considerando-se ser este o primeiro
encontro, fonnal, da criança
com
o conhecimento científico.Em
diferentes situações anterioresà escolaridade, a criança defrontou-se
com
conhecimentos relativos à ciência,mas
é na escolaque
estes conhecimentos terão a oportunidade de serem sistematizados, ampliados econtextualizados.
Por
outro lado, sabe-seque
esta não é a realidadedo
ensino de Ciênciasem
todas as escolas. Muitas escolas, fieqüentemente, apresentam a disciplina de Ciências Naturais
o 1 0 1
\ \