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A cobrança dos alimentos no novo CPC - Maria Berenice Dias

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Academic year: 2021

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Não  há  nada  mais  urgente  do  que  o  direito  a  alimentos,  pelo  simples  fato  de  assegurar  a vida  e  garantir  a  sobrevivência.  Disto  ninguém  duvida.  No  entanto  o  novo  Código  de Processo  Civil  (13.105/2015),  em  vias  de  entrar  em  vigor,  parece  ter  se  olvidado  da responsabilidade  do  Estado  de  garantir,  do  modo  mais  célere  possível,  tanto  a  busca  dos alimentos como o seu adimplemento.

De forma para lá de inusitada é conferida sobrevivência à lei de Alimentos (5.478/1968), que já se encontrava em estado terminal (CPC 693 parágrafo único). Basta atentar que permite à parte  dirigir­se  diretamente  ao  juiz,  propondo  a  ação  verbalmente  e  sem  representação  de advogado.

A lei processual toma para si tão só a execução dos alimentos, revogando os artigos 16 a 18 da  lei  de  Alimentos  (CPC  1.072  V).  Dedica  um  capítulo  ao  cumprimento  de  sentença  e  de decisão  interlocutória  (CPC  528  a  533)  e  outro  para  a  execução  de  título  executivo extrajudicial (CPC 911 a 913). Dispondo o credor de um título executivo – quer judicial, quer extrajudicial – pode buscar sua execução pelo rito da prisão (CPC 528 e 911) ou da expropriação (CPC 528 § 8º e 530), bem como pode pleitear o desconto na folha de pagamento do devedor (CPC 529 e 912). A execução de alimentos mediante coação pessoal (CPC 528 § 3º e 911 parágrafo único) é a única das hipóteses de prisão por dívida admitida pela Constituição Federal que subsiste (CF 5.º LXVII). A jurisprudência acabou com a possibilidade da prisão do depositário infiel.

Pela  nova  sistemática  é  possível  buscar  a  cobrança  de  alimentos  por  meio  de  quatro procedimentos: a) de título executivo extrajudicial, mediante ação judicial visando a cobrança pelo rito da prisão (CPC 911); b) de título executivo extrajudicial, pelo rito da expropriação (CPC 913); c) cumprimento de sentença ou decisão interlocutória para a cobrança de alimentos pelo rito da prisão (CPC 928);

d)  cumprimento  de  sentença  ou  decisão  interlocutória  para  a  cobrança  dos  alimentos pelo rito da expropriação (CPC 530).

A cobrança dos alimentos no novo CPC

Maria Berenice Dias De forma para lá de inusitada é conferida sobrevivência à lei de Alimentos (5.478/68), que já se encontrava em estado terminal. sexta­feira, 13 de novembro de 2015 757 Recomendar Compartilhar 33

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A  eleição  da  modalidade  de  cobrança  depende  tanto  da  sede  em  que  os  alimentos  estão estabelecidos  (título  judicial  ou  extrajudicial)  como  do  período  que  está  sendo  cobrado  (se superior ou inferior a três meses).

Não há como restringir o uso da via executiva pelo rito da prisão aos alimentos estabelecidos em  título  executivo  extrajudicial  e  aos  fixados  em  sentença  definitiva  ou  em  decisão interlocutória irrecorrível. De todo equivocada a tentativa restringir a cobrança de alimentos sujeitos a recurso à via expropriatório (CPC 528 § 8º).

O cumprimento da sentença definitiva ou de acordo judicial deve ser promovido nos mesmos autos  da  ação  de  alimentos  (CPC  531  §  2º).  A  execução  dos  alimentos  provisórios  e  da sentença  sujeita  a  recurso,  se  processa  em  autos  apartados  (CPC  531§  1º).  Já  para executar  acordo  extrajudicial  é  necessário  o  uso  do  processo  executório  autônomo  (CPC 911). Havendo parcelas antigas e atuais, não conseguiu o legislador encontrar uma saída. Parece que continua a ser indispensável que o credor proponha dupla execuções, o que só onera as partes e afoga a justiça. A não ser que a cobrança seja feita em sequência. Frustrada a via da prisão, a execução segue pelo rito da expropriação (CPC 530). A lei dá preferência ao pagamento feito por terceiro: retenção diretamente de rendimentos ou da  remuneração  do  executado,  mediante  desconto  em  folha.  Tal  gera  a  obrigação  do empregador ou do ente público, para quem o alimentante trabalha, de proceder ao desconto, a partir da primeira remuneração do executado, percebida depois de protocolado o ofício do juiz, sob pena de crime de desobediência (CPC 912 § 1º), além de poder ser demandado por perdas e danos.

Ainda  que  tenha  o  demandado  bens  para  garantir  a  execução,  é  possível  o  pagamento mediante  desconto  em  folha  (CPC  529).  Não  se  trata  de  modalidade  mais  gravosa  ao devedor  (CPC  805)  e  atende,  com  vantagem,  à  necessidade  do  alimentado,  não  se justificando que aguarde a alienação de bens em hasta pública para receber o crédito.

Além  das  parcelas  mensais  pode  ser  abatido  dos  ganhos  do  alimentante,  o  débito executado, de forma parcelada, contanto que não ultrapasse 50% de seus ganhos líquidos (CPC 529 § 3º). Apesar de o salário ser impenhorável (CPC 833 IV), a restrição não existe em se tratando de dívida alimentar (CPC 833 § 2.º).

Buscado o cumprimento da sentença ou de decisão interlocutória, se o devedor não pagar e nem  justificar  o  inadimplemento,  cabe  ao  juiz,  de  ofício,  determinar  o  protesto  do procedimento  judicial  (CPC  528  §  1º).  A  falta  de  expressa  remissão  a  tal  providência,  não impede  o  protesto  quando  da  execução  de  alimentos  estabelecidos  em  título  executivo extrajudicial (CPC 911 parágrafo único).

Em  qualquer  hipótese  de  cobrança  o  credor  pode  obter  certidão  comprobatória  da  dívida alimentar  para  averbar  no  registro  de  imóveis,  no  registro  de  veículos  ou  no  registro  de outros bens sujeitos a penhora, arresto ou indisponibilidade (CPC 828). Também é possível ser a dívida inscrita nos serviços de proteção ao crédito, como SPC e SERASA.

Flagrada  conduta  procrastinatória  do  executado,  havendo  indícios  da  prática  do  crime  de abandono material, cabe ao juiz dar ciência ao Ministério Público (CPC 532).

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1. Cumprimento da sentença

Os  alimentos  fixados  judicialmente  –  quer  por  sentença,  quer  em  decisão  interlocutória estabelecendo alimentos provisórios – podem ser exigidos tanto pelo rito da prisão como da expropriação (CPC 528 a 533).

Da  forma  como  está  dito,  a  via  executória  sob  a  ameaça  de  prisão  só  seria  possível  no cumprimento  de  sentença  definitiva  ou  de  decisão  interlocutória  irrecorrível.  Pelo  jeito,  não se  poderia  dar  outra  interpretação  à  expressão  “desde  logo”  constante  no  parágrafo  8º  do artigo 528 do Código de Processo Civil. Ou seja, sentenças e decisões deferindo alimentos provisórios  sujeitas  a  recurso,  não  permitiriam  a  busca  do  adimplemento  por  esta  via.  No entanto, é de todo descabido e desarrazoado fazer esta leitura do indigitado dispositivo legal. Quer  pela  natureza  da  obrigação  que  diz  com  o  direito  à  vida,  quer  porque  a  Constituição Federal não faz esta distinção ao admitir o encarceramento do devedor de alimentos (CF 5.º LXVII).  Cabe  atentar  que  os  alimentos  são  irrepetíveis,  tanto  que  a  decisão  que  reduz  ou extingue  a  obrigação  alimentar  não  dispõe  de  efeito  retroativo.  Além  disso,  de  modo expresso, é assegurada a busca do cumprimento de alimentos provisórios (CPC 531), bem como dos fixados em sentença ainda não transitada em julgado (CPC 531 § 1º).

Às  claras  que,  alimentos  provisórios,  fixados  liminar  ou  incidentalmente,  em  decisão interlocutória  sujeita  a  recurso,  podem  ser  cobrados  por  qualquer  das  modalidades executórias. Da mesma forma é cabível a execução da sentença recorrível (CPC 531 § 1.º). Como  a  apelação  não  dispõe  de  efeito  suspensivo  (CPC  1.012  II  e  LA  14)  pode  haver  a busca do pagamento antes de os alimentos se tornarem definitivos, quer pelo rito da prisão, quer pelo da expropriação. O credor somente pode optar pela cobrança sob pena de prisão (CPC 528 § 3º) quanto às prestações vencidas até três meses antes do ajuizamento da execução (CPC 528 § 7º). Mas basta o inadimplemento de um mês para o credor buscar o adimplemento, pois a fome não pode esperar.

Mesmo  com  relação  às  prestações  recentes,  independente  do  período  do  débito,  o  credor pode  preferir  o  rito  expropriatório  (CPC  831  e  ss).  E  este  é  o  único  jeito  de  buscar  a cobrança se: não foi aceita a justificativa apresentada o devedor (CPC 528 § 3º) ou se ele já cumpriu a pena de prisão e não pagou (CPC 530).

A execução dos alimentos provisórios e dos estabelecidos em sentença sujeita a recurso se processam  em  autos  apartados  (CPC  531  §  1º).  A  cobrança  dos  alimentos  fixados  em sentença definitiva deve ser buscada nos mesmos autos (CPC 531 § 2º).

Para  o  cumprimento  da  sentença  sob  pena  de  prisão,  o  executado  deve  ser  intimado pessoalmente  para,  no  prazo  de  três  dias:  pagar,  provar  que  já  pagou  ou  justificar  a impossibilidade absoluta de efetuar o pagamento (CPC 528).

Mantendo­se omisso, o juiz determina, de ofício, o protesto do pronunciamento judicial (CPC 528 § 1º) e decretada a prisão do devedor pelo prazo de um a três meses (CPC 528 § 3º). A  prisão  civil  só  pode  ser  decretada  diante  do  inadimplemento  de  crédito  estritamente alimentar. Assim, se o devedor deposita a importância devida a este título, mas não paga os honorários ou as despesas processuais, não é possível decretar ou manter a prisão. Pago o

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principal e não feito o pagamento das verbas sucumbenciais, prossegue a execução para a cobrança do encargo moratório pelo rito da expropriação.

2. Execução de título extrajudicial

Não distingue a lei a origem do título que dá ensejo à cobrança da obrigação alimentar – se judicial ou extrajudicial – para que seja usada a via expropriatória ou a executória de coação pessoal.  Não  só  sentenças,  também  títulos  executivos  extrajudiciais,  permitem  ameaçar  o devedor com a prisão (CPC 911).

São  títulos  executivos  extrajudiciais:  a  escritura  pública,  o  documento  particular  assinado pelo  devedor  e  duas  testemunhas,  e  a  transação  referendada  pelo  Ministério  Público, Defensoria  Pública,  pelos  advogados  das  partes  ou  pelo  mediador  ou  conciliador credenciado pelo tribunal (CPC 784 II a IV).

Prevista em tais documentos obrigação alimentar, para que seja buscada a execução, quer pelo rito da prisão, quer pelo da expropriação, não é necessária homologação judicial, mas o credor precisa promover uma ação judicial.

Quando o rito for o da coerção pessoal, para cobrança de até três prestações, o réu é citado para  pagar  em  três  dias,  justificar  a  impossibilidade  de  fazê­lo  ou  provar  que  já  pagou.  A citação deve ser pessoal, por meio de oficial de justiça. Tal a lei não diz, mas a conclusão é lógica.  Se  no  cumprimento  da  sentença  a  intimação  é  pessoal  (CPC  528),  nada  justifica postura diferenciada em se tratando de dívida assumida extrajudicialmente.

Buscada a execução pelo rito da expropriação, a citação pode ser pelo correio (CPC 246 I). O devedor tem o prazo de três dias para pagar a dívida e a metade dos honorários (CPC 827 §  1º).  Pode  opor  embargos  à  execução,  independentemente  de  penhora  (CPC  914),  no prazo de 15 dias (CPC 915). Rejeitados os embargos, os honorários são elevados até 20% (CPC 827 § 2º). 3. Rito da coação pessoal O uso da forma mais eficaz para garantir o pagamento dos alimentos – a ameaça de prisão – é acessível tanto para a cobrança de alimentos fixados judicialmente (CPC 528 § 3º) como em título executivo extrajudicial (CPC 911). Esta via é restrita à cobrança das três últimas prestações vencidas antes do ajuizamento da execução e mais as que se vencerem no curso do processo (CPC 528 § 7º e 911 parágrafo único). Não há necessidade que estejam vencidas três prestações para o credor buscar a cobrança. O inadimplemento de uma única parcela já autoriza o uso da via executória. Também podem ser cobradas parcelas alternadas. Como os alimentos se destinam a garantir a sobrevivência do credor, o vencimento é antecipado. A dívida precisa ser paga de pronto, e qualquer atraso autoriza sua cobrança.

Promovida  a  execução  referente  a  um  número  superior  de  parcelas,  cabe  ao  juiz  limitar  a demanda, sinalizando ao credor para que faça uso da via expropriatória quanto às parcelas pretéritas.  Quando  em  vez,  é  relativizado  o  número  das  parcelas  vencidas,  admitindo­se  a

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execução de quantidade maior de prestações. Basta a alegação de que a demora decorreu de manobra procrastinatória do devedor.

Diz  a  lei  que,  se  o  exequente  optar  pela  cobrança  “desde  logo”  (CPC  528  §  8º),  somente pode  fazê­lo  pelo  rito  da  expropriação  (CPC  523),  não  sendo  admissível  a  prisão  do executado.  Ou  seja,  alimentos  não  definitivos,  estabelecidos  em  sentença  ou  em  decisão interlocutória ainda sujeitas a recurso, não poderiam sujeitar o devedor à prisão. No entanto, não  há  como  excluir  desta  modalidade  executória,  alimentos  provisórios,  como expressamente previsto (CPC 531).

O executado deve citado pessoalmente para, no prazo de três dias: pagar, provar que pagou ou justificar a impossibilidade de fazê­lo (CPC 528). O prazo é contado da data da juntada do mandado de citação (CPC 241 II). Caso a citação ocorra por precatória, o prazo tem início quando informado o juiz deprecante de seu cumprimento (CPC 232).

Nada  impede  que  a  citação  ocorra  por  hora  certa  (CPC  252),  até  porque  costuma  o executado  esquivar­se  do  oficial  de  justiça.  Ainda  que  pouco  eficaz,  nada  obsta  que  a citação seja levada a efeito por edital (CPC 256).

4. Rito da expropriação

Para a cobrança de alimentos vencidos há mais de três meses, somente é possível o uso da via  expropriatória,  independentemente  de  ser  título  executivo  judicial  (CPC  528)  ou extrajudicial (CPC 911).

Tratando­se  de  título  executivo  extrajudicial,  a  cobrança  depende  da  propositura  de execução judicial (CPC 913), por quantia certa (CPC 824 e ss).

Na inicial deve o credor indicar os bens a serem penhorados (CPC 829 § 2.º).

Ao despachar a inicial o juiz fixa, de plano, honorários advocatícios de 10% (CPC 827). O executado é citado pelo correio (CPC 246 I) para, em três dias, efetuar o pagamento da dívida  (CPC  827),  fluindo  o  prazo  da  data  da  juntada  aos  autos  do  aviso  de  recebimento (CPC 231 I).

Procedendo  ao  pagamento  nesse  prazo,  a  verba  honorária  é  reduzida  pela  metade  (CPC 827 § 1º). Não efetuado o pagamento, o oficial de justiça procede à penhora e à avaliação dos  bens.  A  preferência  é  sempre  penhorar  dinheiro  (CPC  835).  O  credor  pode, mensalmente, levantar o valor do encargo (CPC 913).

Quando  se  trata  de  cumprimento  da  sentença,  o  executado  é  intimado  para  pagar  em  15 dias, sob pena de incidir multa de 10% e honorários advocatícios em igual percentual (CPC 523 § 1º), além de se sujeitar à penhora (CPC 831).

A  intimação  é  feita  na  pessoa  do  advogado  constituído,  por  meio  de  publicação  no  diário oficial (CPC 513 § 2º). Quando o devedor for representado pela Defensoria Pública ou não tiver representante nos autos, deve ser intimado por carta com aviso de recebimento (CPC 513 § 2º II) ou por edital, se for revel (CPC 513 § 2º IV).

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A mora se constitui ante a inércia do devedor que, depois de intimado, deixa fluir o período de 15 dias sem proceder ao pagamento (CPC 523). Diante da omissão, o valor do débito é acrescido  de  multa  de  10%  e  de  honorários  de  10%  (CPC  523  §  1º).  O  marco  inicial  de incidência da multa é a intimação do devedor.

Caso  a  execução  seja  levada  a  efeito  após  um  ano  do  trânsito  em  julgado  da  sentença,  a intimação ao devedor é feita, por meio de carta com aviso de recebimento (CPC 513 § 4º). A carta  deve  ser  encaminhada  ao  endereço  constante  dos  autos.  Considera­se  realizada  a intimação se o devedor tiver mudado de residência sem prévia comunicação ao juízo (CPC 513 § 3º).

Mantendo­se  inerte  o  devedor,  deve  ser  expedido  mandado  de  penhora  e  avaliação, seguindo­se os atos de expropriação (CPC 523 § 3º e 831). Não há necessidade de o credor pedir, e nem de o juiz determinar tais atos, pois devem ser realizados “desde logo”.

O  devedor  pode  apresentar  impugnação,  independente  da  penhora,  alegando  os  temas apontados no rol legal (CPC 525 § 1º).

Penhorado  dinheiro,  mesmo  que  a  impugnação  disponha  de  efeito  suspensivo  é  possível mensalmente  o  levantamento  do  valor  da  prestação  (CPC  528  §  8º).  Como  se  trata  de crédito alimentar, descabe a imposição de caução (CPC 521 I).

É, possível a penhora de vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; das quantias recebidas por liberalidade de terceiro,  ainda  que  destinadas  ao  sustento  do  devedor  e  sua  família;  dos  ganhos  de trabalhador  autônomo  e  dos  honorários  de  profissional  liberal  (CPC  833  IV).  Também possível  a  penhora,  até  o  limite  de  40  salários  mínimos,  do  dinheiro  depositado  em caderneta  de  poupança  (CPC  833  X).  A  expressão  legal  é  exemplificativa,  havendo  a possibilidade  de  penhora  de  numerário  aplicado  em  outras  modalidades  de  investimento. Sobre esses valores é possível o levantamento mensal do quantum da prestação alimentar (CPC 528 § 8º e 913). Bem como a determinação judicial de constituição de garantia real ou fidejussória (LD 21).

Podem  ser  penhorados  os  frutos  e  rendimentos  dos  bens  inalienáveis  (CPC  834),  e  de parcela  dos  rendimentos  ou  rendas  do  executado,  de  forma  parcelada,  contanto  que  não ultrapasse 50% de seus ganhos líquidos (CPC 529 § 3º).

Para  assegurar  a  constrição  de  dinheiro  em  depósito  ou  aplicação  financeira,  cabe  a penhora on line (CPC 854): é realizada pelo próprio juiz, por meio eletrônico, junto ao Banco Central – Bacen, dos valores existentes em contas e aplicações financeiras, até o valor do débito. A penhora on line deve ser levada a efeito antes mesmo da citação do devedor, para evitar  que  ele,  mediante  alguma  “pedalada”,  faça  desaparecer  o  numerário  que  dispõe. Impositivo  que  se  crie  um  sistema  para  que  a  penhora  de  cotas  sociais,  de  imóveis  e  de veículos também ocorra de forma eletrônica.

No  prazo  de  15  dias  da  juntada  aos  autos  do  mandado  de  citação,  o  executado  pode oferecer  embargos  à  execução  (CPC  915),  independentemente  de  penhora,  depósito  ou caução  (CPC  914).  Os  embargos  não  dispõem  de  efeito  suspensivo  (CPC  919).  No  prazo dos  embargos,  o  executado,  procedendo  ao  depósito  de  30%  do  valor  da  execução,  mais custas e honorários, pode requerer o parcelamento do saldo, em até seis parcelas mensais,

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devendo  o  valor  ser  devidamente  corrigido  e  acrescido  de  juros  de  um  por  cento  ao  mês (CPC  916).  A  opção  pelo  parcelamento  importa  em  renúncia  ao  direito  de  opor  embargos (CPC 916 § 6º).

Por  falta  de  previsão,  a  tendência  é  não  admitir  o  pagamento  parcelado  na  execução  de alimentos pelo rito da prisão.

O  deferimento  do  pedido  de  parcelamento  depende  da  concordância  do  credor  (CC  314). Não  é  um  direito  do  devedor.  O  parcelamento  não  autoriza  a  redução  da  verba  honorária (CPC 827). O não pagamento, além de acarretar o vencimento das parcelas subsequentes, leva ao prosseguimento da execução e à imposição de multa de 10% sobre o valor não pago (CPC 916 § 5º II).

Rejeitados os embargos, o recurso não dispõe de efeito suspensivo (CPC 1.012 III).

O bem penhorado é alienado em hasta pública, vertendo o produto da venda para o credor. A  alienação  pode  ser  levada  a  efeito  por  iniciativa  particular  do  credor  (CPC  880).  Sendo penhorado bem indivisível, a quota parte do coproprietário ou do cônjuge alheio à execução recai  sobre  o  produto  da  alienação  do  bem  (CPC  843).  Não  só  o  credor,  também  o  seu cônjuge, companheiro, ascendentes ou descendentes podem adjudicar o bem penhorado por preço não inferior ao da avaliação (CPC 876 § 6.º).

Inadimplida a obrigação alimentar, o terceiro que pagar o débito resta sub­rogado no crédito, bem como na modalidade executória que lhe é inerente. Assim, deixando o alimentante de arcar com a pensão, realiza o pagamento por outra pessoa, fica ela autorizada a proceder à cobrança  nos  mesmos  autos,  ainda  que  não  possa  ser  utilizado  o  rito  executório  da  prisão (CPC 778 IV).

A obrigação só se extingue quando o devedor pagar as parcelas vencidas e todas as que se venceram durante o processo e mais honorários, multa e custas (CPC 323).

A  lei  mudou,  e  até  avançou  em  alguns  pontos,  mas  a  cobrança  da  verba  alimentar  vai continuar sendo um calvário!

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*Maria Berenice Dias é desembargadora aposentada do TJ/RS e vice­ presidente  nacional  do  IBDFAM  ­  Instituto  Brasileiro  de  Direito  de Família

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