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ESCRITA, LUZES, NAÇÃO E IMPÉRIO NOS TEXTOS E PARATEXTOS DE ESCRITORES E TRADUTORES LUSO-BRASILEIROS NO SÉCULO XVIII

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RESUMO ABSTRACT Cláudio Luiz

DENIPOTI

denipoti@uel.br Universidade Estadual de Londrina

Londrina, PR, Brasil

ESCRITA, LUZES, NAÇÃO

E IMPÉRIO NOS TEXTOS

E PARATEXTOS DE

ESCRITORES E TRADUTORES

LUSO-BRASILEIROS NO

SÉCULO XVIII

Writing, Lights, Nation and Empire in the texts and paratexts of 18th Century Brazilian born writers and

translators.

A historiografia sobre o século XVIII português tem visto os súditos da coroa portuguesa nascidos no Brasil com crescente interesse, dada sua intensa participação em diversos aspectos da administração do Império, particularmente na investigação científica feita através de viagens naturalistas, na participação em espaços de sociabilidade científica, como a Universidade de Coimbra, a Academia das Ciências, o Colégio dos Nobres e outras, e da inclusão de Portugal na República das Letras, através da publicação de textos próprios – em literatura, ciência, filosofia e religião – ou da tradução para o português de parte da abundante produção de cunho iluminista publicada em francês e em outras línguas europeias. Este texto busca explorar as potenciais “visões de si” que este grupo heterogêneo construiu, em textos e paratextos editoriais próprios, em torno da monarquia, nação, ciência e “luzes”.

Palavras-chave: cultura escrita, império português, luso-brasileiros, paratextos.

The Historiography on 18th Century Portugal

has seen the Brazilian born subjects of the Portuguese Crown with growing interest, due to their intense participation in various levels of the administration of the Empire, particularly concerning scientific investigation through naturalist voyages within the Empire, their participation in places of scientific sociability, such as Coimbra University, the Science Academy and the Colégio dos Nobres

and their participation in the Portuguese Republic of Letters through the publication of their own texts – in Literature, Science, Philosophy and Religion – or their translation into Portuguese of many books written by authors of the Enlightenment in French and in other European languages. In this text, the aim is to explore the “views on theirselves” these men produced in their heterogeneous group, in their own texts and editorial paratexts, regarding notions like monarchy, nation, science, and the “lights”.

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m fins da década de 1790, Manoel Arruda da Câmara, botânico nascido na Paraíba e educado na Universidade de Coimbra e na de Montpellier, decidiu – possivelmente a pedido de D. Rodrigo de Souza Coutinho ou do Frei José Mariano da Conceição Velloso – enviar para publicação uma Memoria sobre a cultura dos algodoeiros, para a Officina da casa litteraria do Arco do Cego em 1799. Na dedicatória ao príncipe regente, Arruda da Câmara construiu a imagem do letrado a serviço do Império, dizendo: “me recolhi ao meu lar, ardendo nos desejos de poder ser util á minha Nação, pelos conhecimentos, que tinha adquirido em as Sciencias Naturaes”. O ápice do reconhecimento do trabalho desenvolvido foi o convite para editar a obra, construído em redes de clientelismo que emanavam o poder desde Lisboa até o sertão paraibano que o autor buscara observar:

Eu me appliquei então cuidadosamente a fazer todas as observações, de que era capaz, segundo as luzes, ainda que tenues, que eu tinha adquirido, para que meus patricios tivessem alguma cousa, que lhes fosse propria, e não mendigassem de livros estranhos, que são raros, as noções que necessitavão. Quando completava, por terem já decorrido alguns annos, as minhas observações, ouvi a imperiosa voz de V. A. R., que, do alto do Throno, que, com tanta gloria de toda a Nação, rege, fortificou o meu desalento, determinando seguisse o meu primeiro destino, e fixando-o: honra para mim tão grande, que não espero ter outra maior em minha vida, e que só a poderia ter, se eu fosse tão feliz, que satisfizesse cabalmente a tudo de quanto sou encarregado por V. A. R. Eu conhecendo a minha pequenhez, já mais presumi, que o meu Soberano me houvesse de honrar d’ huma tal maneira (CAMARA, 1799).

Para além da retórica que busca diminuir o autor face ao destinatário da dedicatória, em cujo favor aquele pretende “entrar”, participando em uma “economia do dom” (KIRSCHNER, 2009, p. 37; HESPANHA, 1998, p. 340), chamam a atenção as menções repetidas da palavra “nação”, cujos significados podem ser elusivos hoje, face aos desdobramentos dos séculos XIX e XX em torno de processos nacionalistas.

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por D. Rodrigo de Souza Coutinho, em sua Memória sobre os melhoramentos dos domínios de sua Magestade na América, de 1797, na qual convocava os portugueses “nascidos nas quatro partes do mundo” a se considerarem todos portugueses (PEREIRA & RIBAS, 2013). Somavam-se aos estudantes coimbrãos militares letrados de baixa patente que, no mesmo período, participaram do esforço de descrever (e administrar) o Império. “Figuras como Tiradentes ou como Elias Alexandre [da Silva Corrêa] fazem parte desta camada emergente [...]” (PEREIRA, 2006, p. 100). Esses militares haviam sido beneficiados também pelas tentativas de profissionalizar a gestão do império e pela disseminação de obras impressas de divulgação que contribuem para a educação de pessoas fora dos segmentos tradicionalmente letrados.

A ênfase dada pela historiografia à protonacionalidade desses indivíduos nivela anacronicamente identidades de origem, que se somam à religião católica e ao pertencimento ao Império na construçāo de uma identidade idealizada de súdito. Nesse sentido ser, “brasileiro” equivale à ideia de “pátria-chica”, ou seja, indica os moradores de uma determinada região, cidade ou vila (SILVA & HESPANHA, 1992, p. 19-37). “Pátria” surge, nesta noção, como “sinônimo do local de origem, da terra de onde se é” (CRUZ & PEREIRA, 2009, p. 217). Apesar desta ênfase, é possível verificar que “uma parcela desses intelectuais esteve perfeitamente afinada com as políticas metropolitanas”, mesmo que dessa geração tenham saído muitos indivíduos que participaram ativamente do movimento de independência do Brasil (CRUZ & PEREIRA, 2006, p. 368).

Este estudo tenta ampliar a compreensão da atuação desses naturalistas, juristas, médicos e “cientistas” nascidos em terras brasileiras e complementar a historiografia que tem lidado com os escritos desses indivíduos, com o objetivo de vê-los a partir da ótica dos estudos sobre cultura escrita, buscando nos textos e paratextos editoriais (dedicatórias, prefácios, posfácios, avisos ao leitor, notas do editor, notas do tradutor etc., ver: GENETTE, 2009) dos luso-brasileiros, as representações construídas em torno de termos relacionados a pátria, nação, país, e às formas identitárias eventualmente presentes na língua escrita, bem como a compreensão dos diversos agentes da palavra impressa sobre o papel desempenhado pelas “luzes” na construção dessas representações. Cumpre explicitar que o material utilizado corresponde à produção de diversos desses indivíduos em espaços de sociabilidade científica – academias, Universidade de Coimbra – ou “projetos” de divulgação, como aquele visto na Tipografia do Arco do Cego (CAMPOS, CURTO & TUDELA, 1999 ou OLIVEIRA HARDEN, 2009), ou ainda, atuações oficiais a serviço da coroa, como as expedições de mapeamento de fauna e flora feitas por naturalistas luso-brasileiros em todo o Império.

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oficiais, como aquele feito por Frei Veloso no Arco do Cego (CAMPOS; CURTO, & TUDELA, 1999; OLIVEIRA HARDEN, 2010), ou ações individuais com apoio tácito oficial, como a publicação de censuras a obras contrárias ao interesse da coroa (TAVARES, 1999), ou as traduções de obras que condenavam, em oposição às ideias jesuítas, a crença em feitiçaria (DENIPOTI & PEREIRA, 2014), ou ainda esforços comerciais, como o do livreiro Francisco Rolland, responsável por uma boa quantidade de traduções – particularmente de obras de popularização do conhecimento médico, além de clássicos greco-romanos.

Como, então, o desenvolvimento do pensamento ilustrado, associado a ideias de império e nação, se manifesta nos escritos dos luso-brasileiros? Tomemos, inicialmente o caso de José da Silva Lisboa, economista baiano que, no século XIX, receberia o título de Visconde de Cairú. Na dedicatória de seu Principios de direito mercantil, de 1801, ele enfatizava, em sintonia com as ideias de Adam Smith, de quem foi o principal divulgador português, que a “opulencia da Nação” deriva diretamente do comércio feito com “pericia, e integridade dos Negociantes” (LISBOA, 1801). Esse livro, juntamente com os Princípios de economia política, publicado em Lisboa em 1804, “tinha como objetivo esclarecer o corpo mercantil sobre questões relacionadas ao seguro marítimo” (KIRSCHNER, 2009, p. 132-3), mas, ao mesmo tempo, avançava novas ideias sobre comércio e economia civil construídos tanto na perspectiva nacional (imperial), quanto “civilizacional” em relação à colônia americana, “que incluía a instrução da população e a transição gradual da escravidão para o trabalho livre, a economia política ocupava um espaço tão especial que, segundo o autor, poderia verdadeiramente ser denominada ‘arte da civilização’ ou ‘arte da paz’ ”(KIRSCHNER, 2009, p. 136-7).

De modo semelhante, o paulista José Feliciano Fernandes Pinheiro (1800, s./p.) (mais tarde, Visconde de São Leopoldo) dedicou sua Historia nova, e completa da America ao príncipe regente, percebendo as colônias americanas como palco desse processo civilizatório a partir do comércio e da instrução. Para ele,

O estabelecimento das Colonias Europeas neste continente, suas vantagens, e successos offerecem a tres seculos hum quadro interessante, e bem digno da instrucção dos povos: patenteallo, e promover deste modo as luzes da Nação, he huma prova convincente da benigndade de V. A. R. Feliz eu, se estes meus debeis esforços merecerem ainda o acolhimento de V. A. R. [...]

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Em prol da nação-império, e em favor da “pátria chica”, esses e outros luso-brasileiros se empenharam em redigir ou traduzir uma ampla quantidade de textos cujas justificativas de existência giravam em torno de uma ideia (difusa) de “luzes” ou ciência, cujo aproveitamento seria sempre “útil” (KURY, 2015, p. 248). Essa visão é perpetuada em incontáveis exemplos textuais ou paratextuais, como fez Thome Joaquim Gonzaga Neves (carioca, primo de Thomaz Antonio Gonzaga) no prefácio “ao leitor” de sua tradução de O pastor fiel de Guarini (1789). Para Gonzaga Neves, traduzir “os Authores estrangeiros que não podem fallarnos, senão pelos seus escritos” era participar de forma direta naquele “commercio sagrado tão util á Republica das Letras”, concluindo que “[o] traductor se contenta com ser o primeiro da sua Nação, que emprehendeo este trabalho, que póde facilitar, e abrir caminho para outras traducções de maior perfeição”. No mesmo tom, Fernandes Pinheiro dedicou ao príncipe regente sua tradução da Cultura Americana que contem huma relação do terreno, clima, producção e agricultura das colonias britânicas no norte da America e nas Indias Ocidentais (ANÔNIMO, 1799). Na dedicatória, ele atribuiu a verdadeira riqueza do Estado às “luzes, e os conhecimentos uteis, que […] fórmão a base mais solida do seu Augusto Throno”.

A ideia mesma de “utilidade” merece aqui alguma reflexão, por sua conexão íntima com as ideias de pertencimento a uma “unidade nacional” concebida como império.

Nos estudos sobre o século XVIII em Portugal, é comum a associação do iluminismo lusitano com o “utilitarismo” inglês, como um processo que, em geral “denota um conjunto de perspectivas que, de algum modo, fazem da promoção imparcial do bem-estar o único padrão ético para a avaliação de, por exemplo, actos, códigos morais ou práticas e instituições sociais” (GALVÃO, 2013). A partir dessa ideia inicial – a utilidade como conceito linguisticamente construído, ou ainda, como uma das “estruturas linguísticas que se repetem e cuja repetição é necessária para que o conteúdo seja compreensível, ainda que uma única vez” (GALVÃO, 2013, p. 141) –, podemos tentar avançar para uma discussão que busque compreender como os diversos agentes da palavra impressa (autores, censores, tradutores e censores) utilizaram o conceito de utilidade em seus textos e paratextos, levando em conta o contexto, a função e a recepção desses mesmos textos.

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significados foram mantidos em dicionários até as primeiras décadas do século XIX (PINTO, 1832).

A dicionarização parece não ser suficiente para dar conta das aplicações linguísticas de útil e utilidade ao longo da segunda metade do século XVIII, em especial com relação aos agentes da palavra escrita sob foco aqui. Foi no contexto das produções textuais sobre livros e escritos que se percebeu ser a utilidade um dos elementos comuns a autores, censores, tradutores e leitores que amparavam suas reivindicações e prerrogativas com base em usos comuns do termo, apontando para suas múltiplas funções (e/ou formas de recepção, embora estas sejam mais difíceis de serem apreendidas nas fontes).

Um importante conjunto de agentes da palavra escrita a utilizarem o termo foram os censores, particularmente após 1768, quando o sistema de censura sofreu uma profunda modificação, passando de uma censura preventiva e pastoral contra ideias que pudessem atentar contra a fé ou as leis do reino, para uma ação própria do intelectual como legislador, em que o critério de admissão na “República das Letras” passou a ser a própria utilidade, “ou seja, sua capacidade de converter os ignorantes à verdade” (TAVARES, 2013. p. 167).

Esse significado, verificado por Rui Tavares em sua análise da atuação dos censores pombalinos, tornou o termo “utilidade” a moeda padrão de troca das permissões de impressão e circulação de livros e impressos. Podemos ilustrar isso com o exemplo do censor João Batista de São Caetano, para quem

[…] os critérios mais frequentes para aprovar um livro [eram] a utilidade e a necessidade. De acordo com ele e os outros censores, a utilidade era de fato o critério de avaliação de um livro, às vezes de modo exclusivo, às vezes associado a seu duplo ‘útil e necessário’, transformado em fórmula – uma espécie de selo aposto a cada parecer (TAVARES, 2013. p. 299).1

Além dos censores, outros agentes da palavra escrita e impressa (considerando o “circuito de comunicação” da palavra impressa, que vai do autor ao leitor, passando por editores, censores, livreiros etc. (DARNTON, 2002, p. 9-26)), compartilham o uso frequente do conceito de utilidade ao se referirem a livros e escritos. Autores, tradutores e, com menor frequência, editores, usaram recorrentemente noções de útil e

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Um primeiro exemplo foi o censor Frei Francisco de Santa Anna, que corroborou o sentido de conversão à verdade do termo ao escrever sobre o livro As obrigaçoens dos Amos e dos Criados de Claude Fleury, cuja tradução para o português (feita por Joze Caetano de Mesquita, professor de retórica e lógica do Colégio dos Nobres) ele censurou em 1771. Segundo o censor, o livro era utilíssimo “porque comprehendendo o seu assumpto todo o genero de pessoas, todas se podem aproveitar das prudentes e sabias instrucçoens de que está cheia” (ANTT, RMC, Cx 7, 1771, n 38). Outro censor, o Frei José Mayne, ao censurar, em 1786, a tradução dos Exercicios de Piedade para todos os dias do anno, do Padre Croiset, afirmava que a utilidade da tradução (que ele aprovou) residia na possibilidade de os leitores derivarem exemplos e imitarem “os verdadeiros Heroes da Santidade, ajustando-se por meio da Leitura com suas imitaveis acções” (ANTT, RMC, Cx 13, 1786, n. 20), continuando assim o esforço de “conversão à verdade” expresso por Tavares.

O sentido foi incorporado também pelos produtores dos textos que os censores analisavam. O tradutor anônimo do Compêndio da vida da B. Maria da Encarnação,

por exemplo,simplificou esta ideia ao associar, em sua “prefação”, a “utilidade da lição deste Compêndio” com “regras práticas, e seguras da perfeição cristã” para que os leitores tivessem, ainda que parcialmente, comportamentos virtuosos (ROMANO, 1792). O livreiro e editor (francês de nascimento, mas estabelecido em Lisboa desde 1765) Francisco Rolland confirmou essa ideia no “prólogo do editor” da tradução das

Fábulas de Esopo, que ele publicou em 1791, ao afirmar que, “estando na nossa língua, com a sua moralidade, serve este Livro de utilidade a todos aquelles que não tem maiores conhecimentos”, (ESOPO, 1791) ou seja, pode levar o conjunto dos leitores (ou ouvintes de leituras públicas) à verdade (ou talvez devêssemos deixar claro – até uma certa verdade).

Porém, os textos que utilizaram os termos útil ou utilidade ao se referir aos livros e escritos, geralmente tomavam a noção de utilidade como previamente dada, aplicando-a como uma adjetivação qualificativa sem a necessidade de uma explicação – apontando para sentidos compartilhados do termo. Esse foi o caso do padre tradutor que “dezeja[va] ser util ao publico com as suas traduções” mas, ignorando as regras da língua portugueza, deixou- as “cheya[s] de defeitos, e impropried.es q se não devem permitir na tradução da Sagrada Escritura”(ANTT, RMC, Cx 7, 1771, n. 10). O mesmo aconteceu com a censura da tradução da Vida de Justiniano, ou Hebrain, composta por Joaquim Jozé de Souza e censurada em 1773 pelo frei Francisco Xavier de Santa Anna, que achava o trabalho do autor útil, apesar de ele somente “traduzir em estillo rasteiro o que acha escripto em alguns livros bons”:

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Reafirmando este sentido prévio, o tradutor anônimo da Arte de tratar a si mesmo nas enfermidades venereas (BOURRU,1777, p. xxxvi-xxxvii)estava certo de que a publicação do “livrinho” tinha utilidade “para o bem público”, no mesmo tom que um dos leitores da Miscellanea curioza e proveitoza (ANÔNIMO, 1782), organizada e publicada em cinco volumes por Francisco Rolland a partir de 1779, registrou suas preferências em uma carta ao editor, na qual elogiava o esforço editorial que franqueava “muitas Obras, que nos servem de muita utilidade” para “desabusar, e augmentar, a nossa litteratura, e introduzir neste Reino todas aquellas Maximas, com que os Homens se illuminem, e augmentem os seus pensamentos”.

Simultaneamente, reforçando a ideia de acesso à verdade, a utilidade foi invocada como valor inerente aos livros ou às traduções. Para o censor Antonio Pereira de Figueiredo, “pelo que toca à Traducção Portugueza, que o Pe. Custodio da Silva Barboza quer imprimir: era muito para dezejar, que huã obra deste porte e desta utilidade, cahisse em mãos mais polidas do que parecem ser as deste Traductor” (ANTT, RMC, Cx 8, 1772, n. 26), ao passo que para o frei Francisco Xavier de Santa Anna, “não ha quem ignore, ou quem duvide da utilidade desta Obra” (os Discursos sobre a Historia Ecclesiastica do abade Fleury) (ANTT, RMC, Cx 8, 1772, n.56), e para o Frei José da Rocha, “esta Obra [o Diccionairo Abreviado das Antiguidades, escrito por Pedro Joze da Fonseca]he de grande utilidade, e importancia para a intelligencia da Historia Antiga, tanto sagrada quanto profana, e para a dos autores gregos e latinos” (ANTT, RMC, Cx 11, 1779, n. 16).

Esse sentido também pode ser visto na dedicatória que o mineiro de Sabará José Ferreira da Silva (1860, p. 101) escreveu para sua tradução das Observações sobre a propriedade da quina do Brasil, ao pedir ao Príncipe regente que ignorasse as falhas da tradução e dedicasse sua atenção “para o util da materia, e o zello do bem publico” (COMPARETTI, 1801). O mesmo pode ser visto na já citada dedicatória dos

Princípios de direito mercantil, de José da Silva Lisboa (1801). O autor disse ao príncipe (e aos leitores) que “[a] utilidade, e a falta de hum ensaio de literatura deste genero em linguagem patria, servirá de apologia á temeridade da empreza”.

Francisco Rolland, prefaciando uma de suas edições, estende esse sentido a todo seu esforço editorial, expandindo também a noção de que a própria leitura é uma parte funcional do conceito de utilidade:

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Embora os exemplos se multipliquem em grande quantidade, um último pode dar o contraponto necessário, ao definir um livro como sendo fundamentalmente inútil para o esforço de “iluminação” envolvido nesses processos:

Senhora

Vi e examinei com a exacção possivel a tradução da Pharmacopeia Matritense, feita por Florencio José Loeiro, á que ajuntou diferentes formulas de varios Autores, com muita Confusão e pouco criterio: está cheia de muitos vicios, e erros que pedião hum incansavel trabalho para os corregir se fosse necessaria a impressão de huma tal tradução, que por sua natureza nada tem de util, e por isso me parece não ser só desnecessaria, mas prejudicial que se imprima.

Lisboa, 28 de fevereiro 1791.

Jose Vicente Borzão (ANTT. RMC, Cx 15, 1791, 11A, sem grifos no original).

Além dos sentidos de útil ou de utilidade, podemos levar em conta, também, o que os autores desses paratextos e epitextos entendiam pelo processo de ilustração propriamente dito. Os múltiplos significados dados aos processos de conhecimento que, desde o século XVII, debatiam as formas de apreensão da realidade (OUTRAM, 2006, p. 188), no caso português, apresentaram-se como um processo irredutível a definições únicas ou universalizantes (ARAÚJO, 2003, p. 15). Cumpre então, buscarmos “as mediações instauradas ao nível da cultura escrita, destacando, sempre que possível, o lugar e a função que os livros e demais produtos culturais ocuparam entre os gestos e objectos da vida social” (ARAUJO, 2003, p. 10) para tentarmos, minimamente apreender os significados que esses muitos agentes atribuíram a sua própria “ilustração”.

Estudos sobre a aproximação de autores luso-brasileiros, como Manuel Arruda da Câmara e o Frei Veloso, e a “crença na estreita relação entre texto e prática científica” (KURY, 2015, p. 249), por um lado, e o “uso intensivo da leitura associada ao trabalho científico”, por outro (KURY, 2015, p. 251), permitem aproximações sobre essas mediações. Os escritores e tradutores em foco associavam, de forma inequívoca, esses processos à atuação real. Um conjunto de exemplos pode ser tirado de traduções publicadas nos anos finais do século XVIII, em especial na Tipografia Calcográfica, Tipoplástica e Literária do Arco do Cego (CAMPOS, CURTO & TUDELA, 1999).

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nos súditos portugueses “o gosto para as sciencias, mormente aquellas, que são de tanta utilidade, como as que se empregaõ no conhecimento da natureza”, cuja consequência adicional era “que naturalmente acompanha a grande Obra de tirar do lethargo huma nação espirituosa, e como dar lhe huma nova existencia” (BERGMAN, 1799). Seu outro irmão, Antonio Carlos Ribeiro de Andrade Machado da Silva, dedicando sua tradução do Tratado do melhoramento da navegação por canaes de Roberto Fulton (1800) também a D. João, seguiu a mesma lógica, atribuindo ao regente o papel principal de “procurar o bem dos povos, cuja guarda lhes foi commettida” através de “melhoramentos, e invenções uteis, de que a incuria dos tempos tinha feito carecer Portugal”, atendendo demandas da razão de que “do bem particular resulta o geral da espécie”. O próprio frei Veloso endossou essa visão de uma ligação íntima entre conhecimento científico, atuação oficial e texto oferecido à leitura. Na dedicatória, de novo, a D. João (mas muito provavelmente devido a uma recomendação de D. Rodrigo de Souza Coutinho. Ver: DENIPOTI & PEREIRA, 2013, p. 268), da Memoria sobre a qualidade, e sobre o emprego dos adubos, ou estrumes de Massac (1801), Veloso relacionava práticas produtivas com textos “luminosos” oferecidos à leitura dos produtores por iniciativa oficial:

Elle [o tradutor] segue o seu mesmo trilho [do autor], e tem para si, que esta operação de restituir a fertilidade ás terras, que se achão exhauridas, fertilisar os campos, que são estereis, não materialmente, como até agora se fazia por falta de livros, que os dirijissem, mas sim por principios luminosos, he hum dever sagrado do Fazendeiro, he hum objecto sublime desta nobre sciencia productiva, que sustenta as Cidades, dá materia ás Artes, e sobras ao Commercio, em huma palavra, faz feliz a Nação, e estavel o Throno.

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Essa tônica não era novidade no universo das letras portuguesas. Podemos ver isso quase quatro décadas antes, na obra do oratoriano Antonio Pereira de Figueiredo, provavelmente o mais ferrenho defensor do pombalismo, tanto em sua atuação como censor (TAVARES, 2014, 262-277) quanto em seu esforço como escritor e tradutor (sua principal obra sendo uma tradução da Bíblia, elaborada ao longo da década de 1770). Na “Prefaçaõ do traductor” à Carta do clero de Liege, que ele traduziu e publicou em 1769 (ANÔNIMO, 1769), ele relacionou a ação da Coroa (através de Sebastião José de Carvalho) com o avanço das “luzes”: “[…] Ora, o nosso Portugal, que debaixo do illuminado Governo de Sua Magestade que Deos guarde, e debaixo da sabia conducta do seo grande Ministro e Secretario de Estado, o […] Conde de Oeiras, tem em dezoito annos ressarcido com ventagem todo o atrazamento, que padecera em mais de dois seculos”. Outro membro (menor) da estrutura de poder pombalina, José Dias Pereira, professor no colégio dos nobres, fez operação semelhante de aproximação do pensamento ilustrado com diretrizes políticas ao traduzir obras que visavam acabar com a crença na feitiçaria. Ele buscava, assim, “dirigir a atuação da Inquisição para crimes políticos e comportamentais dos sacerdotes”, o que também permite pensar suas traduções como encomendas oficiais (DENIPOTI & PEREIRA, 2014). Na “prefação” da Traducção da defeza de Cecilia Faragó, o tradutor afirmava pretender “desabusar” os portugueses de crenças “grosseiras e supersticiosas”, pois “[a]s grandes luzes que actualmente illustram a Patria affortunada, não consentem que só os Catholicos da França, e da Italia, leiam na língua materna as verdades do primeiro, e terceiro capitulo desta Obra. Deve chegar a todos esta verdade, fundada nas santas Escrituras” (RAFFAELLI, 1775).

De modo semelhante, o padre João Evangelista de Lemos, ao traduzir os

Pensamentos theologicos de Nicolao Jamin (1784), escrevendo a partir do campo dos antifilósofos, opostos, não às luzes em si, mas às conclusões da “filosofia libertina” (McMAHON, 2001), complementou a obra francesa com seu próprio ataque, no “prólogo do tradutor”, à “mal entendida filosofia” que derramava “o veneno da liberdade, da incredulidade, e de quantos vicios póde escogitar a diabolica presumpção da singularidade, junta com a corrupção do coração” (JAMIN, 1784, p. v.). Contra isso, ele buscou valorizar “a sã, e sólida Filosofia” que se esparramou no seu século por toda a Europa, responsável por dissipar “as trévas, e as argucias de huma subtil, escabrosa, e inconcludente, qual era a antiga”. A participação real, neste caso, se manifesta no exemplo de conversão ao catolicismo que o livro provocou no “Príncipe Guilherme, Conde Palatino do Rhin, que andava allucinado, e embebido com os erros de Luthero”. Sem aludir à coroa portuguesa, o tradutor deixou subentendido – enfaticamente, uma vez que inclui a dedicatória original ao príncipe Guilherme em sua tradução – que o papel da coroa era o de defender as luzes católicas (McMAHON, 2001, p.40), conforme ele (e o autor francês) as apresentavam.

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O tradutor anônimo da obra de Bourru (1777) sobre doenças venéreas prefaciou o texto afirmando a correção e qualidade de sua tradução, com a ressalva de que “porém se com tudo lhe faltarem alguns accidentes, minha boa intenção me servirá de desculpa, e a humanidade pública nunca deixará de ser servida”. Similarmente, o abade Joaquim Franco de Araujo Freire Barbosa referiu-se, no paratexto “O traductor Portuguez aos que lerem”, da tradução dos Idyllios e poesias pastoris, de Salomão Gessner (1784), ao esforço que o trabalho do tradutor demandava – particularmente na tradução de poesias, ainda que o empenho tivesse sua recompensa no fato de oferecer material novo à leitura, mesmo com uma tradução ruim: “Em fim, o meu Leitor quando não ache outro merecimento na minha Traducção, nunca me póde culpar de lhe não ter dado hum dos mais béllos Poetas, que tem até agora tocado a flauta pastoril. Estimarei agradar-lhe, pois nisso cuidei o que pude”. Noutra esfera do universo editorial, o coronel Miguel Tiberio Pedegache Brandão Ivo dedicou sua tradução de

A arte da guerra, de Frederico II (1792), a dom João, “sendo justo, que huma Obra, que contem os principios, e maximas da Sciencia dos Heroes, Seja dedicada a hum Principe”, ao mesmo tempo que reitera o esforço necessário para a tradução:

Traduzir huma obra poetica em verso, segundo as leis, e uso da lingua, em que se vérte, manietado servilmente ás palavras do original, he trabalho invencivel, e teria a mesma perspectiva a traducção, que tem huma tapeçaria vista pelas costas: sacudir totalmente este jugo, fora ser traidor, pois seria substituir as próprias idéas aos pensamentos do Author, que se pertende traduzir. Na minha versão, fugi de hum e de outro despenho, ligando-me quanto pude ao original, e unicamente soltando os grilhões, que me opprimião, quando me via impossibilitado a dar na lingua portuguesa ao texto a vida, que o animava; porém nesta mesma liberdade procurei conservar exactamente todo o espirito do Author, os seus pensamentos, as suas mesmas idéas, substituindo ao colorido da lingua original aquelle que o Author lhe daria, se escrevesse em a nossa.

Não se julgue, porém, que na exposição dos obstaculos que encontrei, eu pertendia inculcar pobre, dura, rasteira, ou imperfeita a nossa lingua: longe, longe de mim este pensamento! Conheço, e facilmente provaria com mil, e mil exemplos, se necessario fosse, que a lingua Portugueza tem abundantisssima cópia de termos, que pela feliz mistura dos elementos formão, ou para me explicar melhor, se tornão animados quadros, que se matizão, e ramificão, segundo a natureza das sensações e das idéas, de que elles são, não o instrumento, sim a mais viva imagem […]

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e direciona esta utilidade ao amor da verdade, e ao interesse e bem público dos seus compatriotas “principalmente do Clero menos instruido”.

Alguns anos mais tarde, fazendo coro aos tradutores portugueses citados acima, o carioca Antonio de Araujo de Azevedo, mais tarde conde da Barca, na “Advertência” de sua tradução da Elegia de Thomas Gray (1799), buscava “servir nossa Nação” pelo trabalho realizado, ressaltando que “Só o traductor, só o homem versado na própria lingoa, e nas estranhas, conhece toda a dificuldade de traduzir, […] Mas as boas traducções dos classicos das outras Naçoens são de grande utilidade para o adiantamento e perfeição das lingoas”.

Para além disso, e como confirmação adicional da relação entre ciência, luzes e texto, há a retórica de sublimação, peculiar às relações clientelistas do Ancién Regime (MAZLISH, 2000). Foi assim que, por exemplo, o já mencionado Martin Francisco Ribeiro de Andrade Machado se justificou em sua dedicatória do Manual do mineralogico (BERGMAN, 1799): “Se acontecer não corresponderem minhas fracas luzes, e incapacidade ás vistas de V. ALTEZA REAL, a novidade do assumpto será bastante excusa da má execução, e sofrerei contente a censura, ficando ella compensada com feliz destino de ser esta Obra protegida por V. ALTEZA REAL […]”. Da mesma forma, Manoel Ferreira de Araujo Guimarães (jornalista e militar baiano que, treze anos mais tarde, fundou o jornal OPatriota), na dedicatória ao príncipe regente de sua tradução do Curso elementar e completo de mathematicas-puras

(LA CAILLE, 1800), afirmou sobre seu texto, que “[...] Elle só dá o mais authentico testemunho de que hum fraco Traductor naõ lhe fez perder sua belleza, e que ainda lhe fica a elegancia, a concisaõ, e a clareza, que a caracterizaõ, e que sempre lhe seguráraõ o voto de toda a França, e da Europa inteira”, mesmo que, para completar a tarefa, tenha sido necessário “furtar algumas horas ao descanço para fazer esta traducção” devido às obrigações de aluno da Real Academia da Marinha, somadas a “pensões não mediocres, e capazes de fazer acurvar os hombros mais robustos” que ocupavam o tempo disponível do tradutor.

Há, finalmente, a ênfase na autonomia e adequação da língua portuguesa para quaisquer “obras de gênio”, sempre presente nos discursos de si que os tradutores luso-brasileiros fazem nos paratextos. O dicionarista carioca Antonio de Moraes e Silva afirmou ter posto todo o cuidado “em que a sua fraze fosse pura, castiça, e livre de antigualhas inintelligiveis, tanto ao menos, como os torpes Gallicismos, que hoje a feyão muitas traducções”, visando atingir os leitores contemporâneos e os futuros “se lá chegar esta versão” da Historia de Portugal composta em inglez por uma sociedade de litteratos que ele traduziu (ANÔNIMO, 1788). Nogueira da Gama, na “prefação” da tradução do Ensaio sobre a theoria das torrentes e rios (ANÔNIMO, 1800), por sua vez, lamentava a “pobreza, em que ainda se achava a Lingua Portugueza, relativamente aos termos próprios das differentes obras Hydraulicas, por falta da publicação de Escritos Hydraulicos”, e ofereceu sua própria solução para o problema:

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objectos, ou a sua construcção, ainda que não tivesse alguma analogia com o nome Francez, adoptando porém aquelles já entre nós geralmente conhecidos. […]

Não me lisonjeo de que a minha escolha seja acertada; de boa vontade ter-me-hia subtrahido a esta tarefa, se me fosse licito deixar de obedecer. E como o meu maior desejo seja a utilidade publica, para evitar todos os embaraços, a que possa ter dado causa, e para por o Leitor em melhor estado de decidir e emendar, ajunto huma Tabella dos princiaes nomes, que adoptei, com os seus correspondentes francezes […]

Vimos, nos muitos exemplos da retórica encomiástica e adulatória, o quanto os agentes da palavra escrita compartilharam sentidos comuns dos termos “luzes” (ou ilustração), seja na definição de útil/utilidade, seja nas aplicações de políticas oficiais ou oficiosas emanando a partir de um poder central, seja ainda na manutenção de relações de submissão clientelista. Nesses vários sentidos, vimos os autores/tradutores utilizando as expressões conceituais como definidoras de discursos e práticas em torno do mundo da palavra impressa.

Ser útil era condição quase indispensável para que o esforço de escrita, tradução e, eventualmente, impressão de uma obra acontecesse. Embora restritos ao universo das pessoas envolvidas, de algum modo, com o mundo do livro, esses usos permitem que pensemos em utilidade como um conceito socialmente compartilhado no contexto em foco (BENTIVOGLIO, 2010). A utilidade, aplicada ao conceito de nação/império tornava a execução (ou tradução) da obra em foco um ato relevante, semelhante a atos heroicos no campo de batalha, atribuindo honra ao autor e àqueles a quem ele deve fidelidade e obediência (RAMINELLI, 2008).

Dessa mesma forma, a inserção na República das Letras portuguesa estava permeada por relações clientelistas, em que autores e tradutores ofereciam os frutos de seus “árduos labores” a figuras de poder, enfatizando sua participação em um grande esforço pelas “luzes” que tinha como objetivo final engrandecer a monarquia – a “nação” imperial – ao mesmo tempo em que se inseria em uma economia de dádiva, com a expectativa de recompensa sempre presente tácita ou explicitamente (RAMINELLI, 2008, p. 21; DENIPOTI & PEREIRA, 2014).

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império. A participação desses “brasileiros”, ainda que tenha fornecido uma visão com laivos coloniais à interpretação que eles faziam do império (PEREIRA, 2006; PEREIRA & CRUZ, 2014), não parece ter criado nenhuma espécie de construção identitária regional, ou uma identidade “brasileira” – no sentido que o termo assume no século XX – avant la lettre. Pelo contrário, os paratextos dos tradutores parecem reforçar a noção de uma “nação” que é todo o império, com eventuais indicações do sentido de “pátria-chica” permeando seus discursos (SILVA & HESPANHA, 1992, p. 19-37).

Há que se levar em conta, também, o caráter específico do tipo de fontes utilizadas – textos e paratextos publicados com as devidas licenças, feitos por iniciativa de autores e tradutores desejosos de se incluir na república das letras e em redes clientelares ou por ordem expressa de pessoas de poder no centro dessas redes. Não se pode ou deve esperar que tais documentos manifestem oposição à ideia de império, como expressa nas políticas oficiais e em suas justificativas literárias ou retóricas. O trabalho com outra documentação – cartas, diários, ou as escritas de si desses luso-brasileiros reformulando ex post facto seu pertencimento às estruturas sociais do Antigo Regime lusitano, por exemplo – pode alterar as conclusões acima.

Referências

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Notas

1 “[…] l’utilité est même le critère d’évaluation d’un livre, parfois exclusif, d’autres fois associé à son double ; « utile et nécessaire » devient formule, une sorte de sceau apposé à chaque rapport.”

Cláudio Luiz DENIPOTI. Bacharel e licenciado em História (1990), mestre em História (1994) e doutor em História (1998) pela Universidade Federal do Paraná. Realizou estudos de pós-doutorado junto à Cátedra Jaime Cortesão, da Universidade de São Paulo (2009-2010) e estágio Sênior junto à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (2015). Foi editor da Revista de História Regional entre 2004 e 2008 e conselheiro da Revista Brasileira de História entre 2003 e 2007. Foi bolsista produtividade da Fundação Araucária entre 2014 e 2017. Tem experiência na área de História, com ênfase em Teoria e Filosofia da História, atuando principalmente nos seguintes temas: história da leitura, teoria da história e história da cultura. Atualmente é professor associado da Universidade Estadual de Londrina. É professor do corpo permanente do Mestrado em História, Cultura e Identidades, da UEPG e do Mestrado em História Social, da UEL.

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