• Nenhum resultado encontrado

Avaliação do uso do consentimento informado num hospital Universitário.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Avaliação do uso do consentimento informado num hospital Universitário."

Copied!
16
0
0

Texto

(1)

 

AVALIAÇÃO DO USO DO CONSENTIMENTO INFORMADO NUM HOSPITAL 

UNIVERSITÁRIO 

Costa MI1  1Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto    L. Prof. Abel Salazar, 2   4099‐003 Porto Portugal   Tel.: +351 22 206 22 43   e‐mail: ines.almeidacosta@gmail.com 

 

 

Resumo 

   

CONTEXTUALIZAÇÃO  O  consentimento  informado  (CI)  consiste  na  aprovação  expressa  ou  tácita  de  um  doente quanto a um determinado procedimento, e resulta de uma interação entre este e o médico. Com  este  estudo  pretende‐se  avaliar  a  perceção  de  médicos  e  doentes  relativamente  ao  CI  em  várias  enfermarias cirúrgicas do Centro Hospitalar do Porto e propor estratégias para maximizar a sua eficiência e  utilidade. 

MÉTODOS  Estudo analítico transversal com duas amostras distintas: doentes competentes hospitalizados  durante  os  meses  de  Abril  e  Maio  de  2011  em  enfermarias  cirúrgicas  do  CHP  e  os  médicos  que  aí  trabalham.  Os  doentes  foram  sujeitos  a  entrevistas  com  guião  formal  e  os  médicos  receberam  questionários, ambos originais. 

RESULTADOS Foram inquiridos 81 doentes – 49% com mais de 65 anos e 54% do sexo feminino. Dos 58%  (n=47)  que  dizem  ter  discutido  as  vantagens  do  procedimento  com  o  seu  médico,  apenas  11%  (n=5)  são  capazes  de  evocar  uma,  e  ninguém  se  recorda  de  duas.  41%  consideraram  o processo  de  consentimento  informado como bom ou muito bom, mas 53% gostavam de ter recebido mais informação. 

Dos  108  médicos  inquiridos,  19%  e  24%  treinaram  o  uso  do  CI  na  sua  formação  geral  ou  complementar,  respectivamente. Cerca de 56% considera o CI como uma ferramenta legal, tendência que se verifica mais  nos  menos  experientes,  e  43%  confirma  que  o  CI  aumenta  a  probabilidade  de  uma  decisão  esclarecida.  Aproximadamente 34% dos médicos acredita no valor do CI no reforço da relação médico‐doente. Para os  médicos, o factor que mais contribui para que o CI seja esclarecedor é a explicação de factos relevantes do  procedimento ao doente (OR(médio)=3.8; OR(bom/muito bom)=13).  

CONCLUSÕES  O  CI  não  atinge  o  seu  principal  objectivo:  a  maioria  dos  doentes  não  compreende  a  informação  que  recebe  sobre  o  procedimento  a  que  foi/vai  ser  sujeito.  Os  médicos  são  ainda  muito  resistentes  ao  aperfeiçoamento  do  CI.  Há  espaço,  oportunidade  e  estratégias  válidas  para  melhorar  a  aplicação do consentimento informado, desde que ambas as partes se envolvam e sejam envolvidas.      Palavras‐chave: consentimento informado, decisão médica partilhada.             

(2)

 

Abstract 

    BACKGROUND Informed consent is the patient’s explicit or tacit approval concerning a certain procedure,  and depends on a doctor‐patient relationship. This study aims to assess patients’ and doctors’ perceptions  about the informed consent in the surgical wards of CHP and to suggest strategies to improve it. 

METHODS  Cross‐sectional  survey  about  informed  consent  with  competent  hospitalized  patients  and  doctors  working  in  the  surgical  wards.  The  study  took  place  during  the  months  of  April  and  March  2011.  The patients were interviewed and the doctors were given a questionnaire, both original. 

RESULTS 81 patients were enrolled– 49% older than 65 years, 54% females. Amongst the 58% (n=47) that  claimed  to  discuss  advantages  of  the  procedure  with  their  doctor,  only  11%  (n=5)  was  able  to  name  one  and nobody could remember two. Although 41% considered the whole process to be either good or very  good, 53% would have wanted further information.  

Amongst the 108 doctors, 19% and 24% trained the informed consent during their formation. Around 56%  considered  informed  consent  as  a  legal  tool,  with  that  tendency  being  higher  in  the  group  of  younger  doctors.  A  total  of  43%  believes  that  informed  consent  improves  the  patients’  comprehension,  but  only  34%  thinks  that  it  reinforces  the  doctor‐patient  relationship.  To  them,  the  most  important  factor  to  the  impact  of  informed  consent  on  the  patient’s  comprehension  is  the  explanation  of  relevant  details  of  the  procedure (OR=3.8 and 13). 

CONCLUSIONS Informed consent does not reach its aim: patients do not understand received explanations  about  risks  and  alternatives  of  procedures,  and  physicians  resist  attempts  to  improve.  There’s  space,  opportunity and valid strategies to change this, providing that both doctors and patients commit with it.       Keywords: informed consent, shared decision making.                        Conflitos de interesse: A autora não foi financiada nem tem nenhum conflito de interesse.  O presente artigo encontra‐se redigido segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. 

(3)

Introdução Teórica 

 

“Every human being of adult years and sound  mind has a right to determine what shall be done  with his own body; and a surgeon who performs  an operation without his patient’s consent  commits an assault, for which he is liable in  damages”   (Juiz Benjamin Cardozo, 1914)    Resenha histórica   primeira vez que surgiu na literatura  médica  o  termo  “consentimento  informado”  (CI)  foi  em  1900,  num  estudo em doentes com febre amarela.1 

Os  construtos  que  o  fundamentam  resultaram de casos de justiça2. Em 1905, no caso  Pratt  vs.  Davis,  preconizou‐se  o  direito  à  inviolabilidade  física  e  psicológica  de  um  indivíduo  como  o  mais  primordial  direito  do  Homem3,4.  O  caso  Schloendorff  vs.  the  Society  of  New York Hospital (1914) estabeleceu o princípio  basilar  do  CI  actual.5,6,7,8  O  termo  formal  surgiu  em  1957,  sustentado  na  decisão  judicial  dos  casos  Salgo  vs.  Leland  Stanford  Jr.  e  Bolam  vs.  Friern  &  Barnet.9  Do  segundo  caso  resultou  o  “Teste de Bolam”, pelo qual a negligência médica  é  o  produto  da  discordância  “de  um  corpo  médico  responsável”  quanto  ao  modo  de  actuação do profissional em causa.1,10‐13 

Casos  jurídicos  subsequentes  impuseram  a  discussão pública sobre a provisão de informação  ao  doente.  O  caso  Sidaway  vs.  Bethlem  Royal  Hospital  (1984)  contribuiu  para  a  transição  do  paradigma  do  “médico  prudente”  para  o  do  “doente  prudente”,  pelo  qual  não  mais  bastaria  invocar  o  teste  de  Bolam.10,11  Cobbs  vs.  Grant  clarificou  os  postulados  do  CI:  os  doentes  são  genericamente leigos para questões médicas mas  têm o direito de controlar o seu corpo e decidir o  seu  tratamento.  Assim,  a  transmissão  de  informação  ao  doente  depende  essencialmente  do seu médico.1 

Conceito e elementos do CI   

O  CI  consiste  na  aprovação  expressa  ou  tácita  do  doente  quanto  a  um  determinado  procedimento  diagnóstico  ou  terapêutico,  tendo  por  base  o  princípio  da  autonomia.  Os  seus  objectivos são respeitar e promover a dignidade e  auto‐determinação  do  indivíduo,  e  protegê‐lo  contra uma eventual complicação.1,4,9,10,14‐20  

É ao doente que compete determinar qual o  seu  melhor  interesse.3,4,21,22  O  médico  deverá,  com  os  devidos  limites15,  ser  capaz  de  não  sobrepor  a  beneficência  à  autonomia.  As  exceções a esta premissa são as emergências, as  situações  em  que  a  recusa  de  tratamento  pelo  doente  é  considerada  irracional,  e  quando  o  indivíduo  decide  voluntariamente  não  querer  saber.17  Neste  último  caso,  a  autonomia  não  é  necessariamente  posta  em  causa  se  for  assegurado  que  é  uma  decisão  reflectida  e  independente.2 

 É  unânime  que  para  o  CI  ser  válido  a  informação  médica  deve  ser  adequada  à  formulação  de  um  juízo  racional,  que  o  doente  deve  ser  capaz  de  tomar  uma  decisão  e  que  a  decisão deve ser tomada sem coerção.2,4,10,23,24 

Quanto  à  adequabilidade  da  informação,  existem  três  abordagens  dominantes:  a  profissional,  a  da  relevância  (tradução  livre  do  termo “materiality”) e a subjetiva.19 A profissional  prevê  que  o  médico  providencie  a  informação  que  outros  médicos,  com  as  mesmas  competências, e num contexto e perante doentes  idênticos,  dariam.  A  da  relevância,  também  conhecida como “a do doente prudente”, tem em  conta  a  informação  que  um  indivíduo  razoável  necessita  de  saber  para  tomar  uma  decisão  esclarecida4,5,8,21,25‐27:  diagnóstico;  prognóstico  das  diferentes  abordagens  (incluindo  a  ausência  de  tratamento);  natureza  e  detalhes  relevantes  da  intervenção;  preparação  prévia,  o  que  o  doente  pode  sentir  antes  e  durante  o  procedimento;  alternativas;  riscos  e  respetivo  timing  de  avaliação,  e  benefícios.24  A  subjetiva  defende  que  o  médico  deverá  ajustar  a 

(4)

informação  ao  doente.7  Nenhuma  das  abordagens é isenta de limitações, pelo que até à  data  não  existe  uma  indicação  formal  para  a  prática  clínica  do  que  se  considera  uma  quantidade aceitável de factos, nem do que deve  ou  não  ser  referido.3,5,19  Os  riscos  de  um  procedimento  são  a  questão  mais  problemática.  É  impraticável  discutir  todas  as  desvantagens  de  um procedimento e/ou tratamento porque todos  os  actos  médicos  têm  um  potencial  inumerável  de  riscos,  e  esses  riscos  podem  condicionar  uma  grande  variedade  de  consequências.19,24,28  A  decisão  do  tribunal  do  caso  Chester  vs.  Afshar  propôs  que  a  discussão  dos  riscos  incluísse  as  consequências com frequência de 1 em 100, e as  graves,  mesmo  que  infrequentes.2,5,24,25  Consideram‐se  consequências  graves  a  morte,  perda  de  uma  parte  do  corpo  ou  da  sua  função,  paralisias, perdas de cognição, entre outros.5,29 

A  capacidade  de  consentir  inclui‐se  no  conceito legal de competência. Na Medicina tem  maior  relevância  falar‐se  em  capacidade,  que  se  divide  em  duas  faculdades:  a  compreensão  avaliativa  e  a  decisão.  A  compreensão  é  a  competência  cognitiva  que  permite  apreender  a  informação  e  entender  as  hipóteses  em  jogo,  o  contexto  e  as  suas  repercussões.2,4,30  Não  existe  nenhum método validado para determinar se um  indivíduo  entendeu  realmente  a  informação,  apesar  de  existirem  vários  estudos  publicados  nesse  sentido.31,32  A  decisão  consiste  no  processamento de uma reflexão na forma de um  assentimento  ou  de  uma  recusa.  O  médico  deverá  trabalhar  na  assumção  de  que  todo  o  adulto  competente  é  capaz  de  consentir  ou  de  recusar  até  prova  em  contrário,  não  devendo  favorecer‐se  decisões  vicárias  por  terceiros,  independentemente do seu grau relacional com o  doente.  Na  dúvida  quanto  à  capacidade  de  um  indivíduo,  o  médico  deverá  procurar  ajuda  junto  do  serviço  de  Psiquiatria  de  Ligação,  de  outros  colegas, ou do Tribunal.17,21 

A  ausência  de  coerção  significa  que  o  indivíduo  decide  sem  pressão  implícita  ou  explícita  da  equipa  médica,  de  familiares  ou  de 

agentes  externos  (companhias  de  seguros,  p.e.).  Habitualmente  não  é  considerada  coerção  uma  recomendação  feita  pelo  médico  assistente,  desde  que  este  mantenha  um  discurso  isento,4,14,19  e  o  faça  depois  de  explicados  os  factos e a pedido expresso do doente.19  

 

Contexto clínico da aplicação do CI   

A relação médico‐doente tem progredido de  um  paternalismo  hipocrático  para  um  (quase)  companheirismo  activo.  Este  novo  paradigma  denominado decisão médica partilhada (tradução  livre  de  shared  decision  making)  sustenta‐se  nos  trabalhos de  Balint e Stewart et al  na década de  cinquenta.19,23,33 

O  progresso  do  raciocínio  médico,  consubstanciado  no  conhecimento  fisiopatológico  das  doenças,  atribui  ao  médico  a  segurança  da  explicação,3  e  convida  o  doente  a  envolver‐se e informar‐se mais e melhor,34‐37 mas  também  a  aumentar  a  sua  exigência  e  expetativas  quanto  aos  serviços  de  saúde.38,39  A  decisão  médica  partilhada  prevê  que  a  transmissão  de  informação  seja  um  pressuposto  e  não  um  privilégio,  e  implica  que  o  médico  perceba  as  necessidades,  contexto  e  prioridades  do  doente  e  que,  a  partir  disso,  particularize  abordagens.27,39,40  

Um  bom  CI  não  é  sinónimo  de  decisão  médica  partilhada,  mas  é  um  elemento  estruturante  desta.30  De  facto,  a  comunicação  sensível  entre  médico  e  doente  é  o  que  mais  e  melhor  contribui  para  um  consentimento  verdadeiramente esclarecido, e este, por sua vez,  para  uma  maior  cooperação  dos  doentes.  Na  tabela  I  sumarizam‐se  as  recomendações  para  obtenção  de  um  consentimento  efetivamente  informado.            

(5)

Tabela I – Comportamentos recomendados ao médico 

envolvido no processo de consentimento informado1 

1. O  CI  deve  ser  obtido  pelo  médico  envolvido  directamente no caso 

2. A  informação  fornecida  ao  doente  deve  basear‐se na melhor evidência médica actual  3. O  médico  deverá  utilizar  uma  linguagem 

acessível  

4. A decisão de tratar e como tratar deve ter por  base  a  convicção  de  que  o  indivíduo  entendeu a informação  

5. O  médico  poderá  fazer  uso,  com  vantagem  para  o  doente,  de  formulários  padronizados  de  CI,  mas  ciente  no  entanto  que  isso  não  substitui a discussão individual(izada) 

6. O  médico  poderá  envolver  outros  profissionais  de  saúde  no  CI,  se  o  entender  benéfico para o doente 

7. O  médico  deverá  registar  no  processo  do  doente  o  produto  da  discussão  relativa  ao  procedimento, bem como todas as restrições  que o doente lhe colocar 

8. Perante restrições que o médico entenda que  obstem  a  uma  boa  prática,  poderá  sugerir  o  recurso a outro profissional de saúde  9. O médico deverá ter presente que o CI pode  ser revogado em qualquer momento  1 Traduzido e adaptado de Paterick et al5   

A  prática  cirúrgica  tem  algumas  especificidades,  razão  pela  qual  é  o  foco  deste  estudo:  é  um  evento  com  um  tempo  e  espaço  concretos, habitualmente com acesso ao interior  do corpo, com grande impacto físico e emocional  sobre o doente e no qual este assume um papel  passivo.4  Adicionalmente,  sabe‐se  que  quanto  mais  invasivo  e  maior  risco  potencial  tiver  um  procedimento, maior a necessidade de obter um  CI explícito.5,14 

 

Contexto legal do CI   

O  CI  figura  na  Convenção  dos  Direitos  do  Homem  e  da  Biomedicina,9,13,41  ratificada  por  Portugal  em  2001.  O  Código  Penal  português  aborda‐o  nos  artigos  38,  156  e  157.  O  primeiro  realça  que  “o  consentimento  pode  ser  expresso  por  qualquer  meio  que  traduza  uma  vontade  séria,  livre  e  esclarecida  do  titular  do  interesse 

juridicamente  protegido,  e  pode  ser  livremente  revogado até à execução do facto”, enquanto os  restantes  esclarecem  as  consequências  do  incumprimento  legal  (156º)  e  o  que  se  entende  por  informação  (“o  consentimento  só  é  eficaz  quando  o  paciente  tiver  sido  devidamente  esclarecido  sobre  o  diagnóstico  e  a  índole,  alcance,  envergadura  e  possíveis  consequências  da  intervenção  ou  tratamento”,  157º).  O  Código  Civil  (artigo  340º)  sublinha  que  a  falta  de  informação  torna  o  consentimento  do  doente  inválido  –  o  profissional  é  responsabilizado  por  ofensa  à  integridade  física  e  terá  de  responder  por  danos  físicos  e  morais.  Importa  ainda  destacar  que,  salvo  indicação  formal  noutro  sentido  da  instituição/organização  onde  o  profissional  trabalha,  as  situações  que  exigem  CI  escrito estão devidamente explicitadas na lei. 

Em  suma,  um  défice  ou  a  ausência  de  informação  viola  um  dever  previsto  nos  códigos  civil  e  penal,  deontológicos,  na  lei  de  bases  da  saúde,  normas  internas  e  diretivas  organizacionais.  

 

Consequências objetivas de um CI deficitário   

Não  é  raro  entre  os  profissionais  de  saúde  encarar‐se  o  CI  como  um  evento  burocrático.1,4,17,19,20,42,43  No  entanto,  se  bem  aplicado,  o  CI  é  o  corolário  de  um  paradigma  da  Medicina  que  prioriza  a  autonomia  e  o  uso  sensato dos recursos médicos.  

Um  utente  informado  tende  a  participar  mais  nas  decisões  que  lhe  dizem  respeito.  Tem  também  menor  propensão  para  realizar  procedimentos  invasivos,  já  que  se  provou  que  muitos doentes não fariam determinados exames  redudantes  se  tivessem  entendido  o  seu  propósito  e  podido  escolher.15  Assim,  o  CI  pode  ser  um  contributo  na  educação  para  o  uso  de  recursos  de  saúde,  na  medida  em  que  minora  a  excessiva  e  imponderada  prescrição  de  exames  complementares  de  diagnóstico  e  diminui  a  probabilidade  da  sua  repetição.  É,  portanto,  um 

(6)

exercício  da  Medicina  menos  oneroso  para  o  sistema de saúde. 

As  consequências  para  o  profissional  de  saúde podem ocorrer quando este intervém sem  consentimento  informado,  realiza  um  procedimento  diferente  daquele  para  o  qual  o  obteve,  ou  excede  o  seu  âmbito.2‐5,10,14,44  Em  Portugal,  a  legislação  prevê  pena  de  prisão  até  três anos ou pena de multa (Código Penal, artigo  156,  nº  1);  processo  por  danos  físicos  e  morais  (Código  Civil)  e  processos  disciplinares  (Código  Deontológico)  e  institucionais.  No  entanto,  não  existem  dados  (ou  não  estão  disponíveis)  sobre  eventuais  casos  passados.  Porém,  e  a  título  de  exemplo,  um  artigo  brasileiro  de  20109  mostra  que, de todos os médicos julgados no Brasil entre  1999 e 2004 por denúncias relacionadas com má  aplicação  do  consentimento  informado  na  Anestesiologia,  36%  foram  condenados.  Destes,  36%  receberam  advertência  por  aviso  privado,  18%  censura  por  aviso  privado,  18%  censura  pública por publicação oficial e 28% suspensão do  exercício  profissional  até  trinta  dias,  com  publicação  oficial.  A  nenhum  dos  indivíduos  foi  retirada a licença para exercer. 

 

Objetivos  

 

São  objetivos  deste  estudo  conhecer  a  preparação  académica,  tendências  no  uso  e  percepção pessoal dos médicos relativamente ao  CI,  e  a  opinião  dos  doentes  relativamente  ao  mesmo  –  quer  genericamente,  quer  quando  aplicado  à  sua  condição.  Pretende‐se  também 

propor  estratégias  para  maximizar  a  eficiência  e  utilidade do processo. 

 

Métodos 

  Design do estudo   

Estudo  analítico  transversal  aprovado  pela  Comissão  de  Ética  do  CHP,  que  decorreu  nos  meses  de  Abril  e  Maio  de  2011.  Todos  os 

participantes  consentiram  a  sua  inclusão  neste  estudo.  

As  populações‐alvo  são:  indivíduos  competentes  internados  em  enfermarias  de  especialidades  cirúrgicas  durante  o  período  considerado,  e  licenciados/mestres  em  Medicina  a  trabalhar  naquelas.  Foram  incluídas  duas  doentes com 16 e 17 anos, devido à competência  que  lhes  é  reconhecida  por  lei  para  decidir  autonomamente  na  interrupção  voluntária  da  gravidez  (Lei  nº  16/2007).  Incluíram‐se  os  médicos de Cardiologia devido à generalização de  técnicas  de  intervenção  e,  portanto,  o  provável  uso acrescido do CI.  

Os  doentes  foram  esclarecidos  quanto  à  identidade do entrevistador, objetivos e métodos  do  estudo,  ausência  de  implicações  da  sua  participação no seu tratamento e seguimento, e à  preservação da confidencialidade dos dados. Para  a  obtenção  destes  dados  foi  concebido  um  inquérito  de  auto‐administração  tipo  questionário (anexo A), tendo em todos os casos  sido  suscitada  à  investigadora  ajuda  no  preenchimento,  pelo  que  se  converteram  os  mesmos em entrevista com guião formal. O único  critério  de  exclusão  foi  o  internamento  por  intervenção urgente. 

Aos  médicos  o  estudo  foi  apresentado  durante uma reunião do serviço. A ferramenta de  avaliação utilizada foi um questionário (anexo B).    

Desenvolvimento dos inquéritos   

Os  questionários  são  originais  e  foram  desenvolvidos  pela  autora:  os  destinados  aos  doentes fundamentaram‐se na literatura;45,46 não  existem  publicações  com  a  mesma  metodologia  para  médicos.  Apresentam  quatro  secções:  têm  em  comum  uma  primeira  secção  para  caracterização  demográfica  e  um  último  espaço  para  comentários.  Uma  das  secções  intermédias  dos  questionários  dos  doentes  tem  perguntas  específicas  para  avaliar  o  seu  entendimento  da  doença  e  plano  terapêutico,  e  a  outra  questões  genéricas  e  direcionadas  de  índole  pessoal.  Os 

(7)

questionários  dos  médicos  têm  uma  secção  objetiva  sobre  a  preparação  do  profissional  para  a aplicação do CI, e outra mais subjetiva onde se  avalia  o  lugar  deste  na  prática  diária  do  profissional.  

Ambos  incluem  perguntas  do  tipo  exclusivo  (“sim/não”), em escala de Likert de cinco pontos  adaptadas, e abertas. 

 

Análise estatística   

Procedeu‐se  a  uma  análise  estatística  descritiva  para  conhecer  aspetos  gerais  das  características  demográficas,  clínicas  e  relativas  ao  CI,  através  de  tabelas  de  frequência  e  contingência.  Utilizou‐se  o  teste  χ2  ou  o  teste  exacto  de  Fisher  para  comparar  proporções  e  analisar  a  associação  entre  variáveis  categóricas.  Em  algumas  análises  optou‐se  por  agrupar  variáveis,  de  modo  a  obter  um  número  razoável  de  indivíduos  em  cada  categoria  que  permitisse  tirar  conclusões  de  uma  análise  estatística.  Este  agrupamento  teve  em  consideração  a  coerência  clínica das variáveis.  

Procedeu‐se  a  uma  análise  de  regressão  logística  multivariada  com  o  intuito  de  analisar  quais os fatores – tempo despendido pelo médico  na  aplicação  do  CI,  facilitação  de  questões  do  doente,  tempo  concedido  ao  doente  para  decidir  e  explicação  ao  doente  das  vertentes  relevantes  do  procedimento  –  que  melhor  explicariam  o  contributo  do  CI  na  decisão  informada.  O  outcome foi convertido numa variável dicotómica  de  acordo  com  Ghulam  et  al45:  bom/muito  bom/neutro (0) e mau/muito mau (1). 

Em todos os testes foi considerado um nível  de  significância  de  0,05.  A  análise  dos  dados  foi  feita no software estatístico SPSS 17.0.   

Resultados 

 

1. Doentes   

Este  estudo  envolveu  81  doentes  internados  nas enfermarias de Cirurgia 1, 2 e 3, Ginecologia, 

Obstetrícia, Ortopedia e Urologia. A caraterização  dos  doentes  em  termos  demográficos  e  hospitalares  encontra‐se  nas  tabelas  II  e  III,  respetivamente.    Tabela II – Caraterização demográfica da amostra (n=81) Caraterística % de doentes Grupo etário     16‐18     19‐24     25‐34     35‐44     45‐54     55‐64     65‐74     75‐84     >84    2,5  2,5  17,3  3,7  9,9  14,8  28,4  17,3  3,7  Sexo     Masculino     Feminino    45,7  54,3  Área de residência    Cidade do Porto     AMP*     Outra    38,3  30,9  30,8  Situação profissional     Empregado/a     Doméstico/a     Desempregado/a     Aluno/estudante     Reformado/a     23,5  7,4  11,1  2,5  55,6  *Área Metropolitana do Porto   

A  escolaridade  básica  foi  reportada  em  42%  dos  indivíduos;  6%  tinha  formação  superior,  embora  ninguém  tivesse  grau  de  mestre  ou  doutor;  e  16%  não  sabia  ler  nem  escrever  ou,  embora soubesse ler, nunca tinha estudado.  

Nas questões que avaliavam o conhecimento  do  doente  quanto  ao  seu  internamento,  93%,  77% e 75% responderam que sabiam o motivo, o  nome  da  doença  e  o  nome  do  procedimento,  respetivamente.  Cerca  de  56%  dos  doentes  confirmaram  que  o  médico  assistente  lhes  explicou  o  procedimento,  mas  40%  e  61%  negaram ter discutido vantagens e desvantagens,  respetivamente.  De  entre  os  60%  (n=47)  que  afirmavam  ter  discutido  vantagens,  apenas  11%  (n=5)  foi  capaz  de  enunciar  uma,  e  ninguém  se  recordou  de  duas.  A  maioria  (74%)  afirmou  não  lhes ter sido apresentadas alternativas. 

(8)

Tabela III – Caraterização hospitalar da amostra (n=81) Caraterística  % de doentes Serviço de internamento     Cirurgia 1     Cirurgia 2     Cirurgia 3     Ginecologia      Obstetrícia     Ortopedia     Urologia       14,8  14,8  14,8  6,2  11,1  17,3  21,0  Tempo de internamento (dias)    <1      1‐4     5‐9     >10    14,8  43,2  24,7  17,3  Internamentos prévios   (mesmo motivo)     Nenhum     1      2      3      4      >4      58  13,6  9,9  9,9  0  8,6   

Cerca  de  74%  dos  inquiridos  negou  ter  recebido  informação  escrita  sobre  o  procedimento.  Destes,  53%  revelaram  que  gostariam  de  ter  lido  um  eventual  folheto  informativo  e  47%  de  ter  procurado  informação  noutros locais.  

À  pergunta  “teve  tempo  para  decidir”,  47%  escolheram  as  opções  verdadeiro  e  muito  verdadeiro.  A  percentagem  que  assinalou  verdadeiro  e  muito  verdadeiro  para  a  pergunta  “teve oportunidade para colocar questões” foi de  58%. 

Para  70%  dos  inquiridos,  todos  os  procedimentos cirúrgicos devem exigir um CI. No  momento  do  contacto,  79%  tinha  assinado  um  documento a consentir o procedimento. Do total  de doentes, 19% e 41% consideraram verdadeira  ou  muito  verdadeira  a  afirmação  “autorizou  o  procedimento  que  fez/vai  fazer  de  forma  informada”. 

O estudo da relação entre as variáveis idade e  nível de literacia com a explicação da técnica, das  vantagens  e  das  desvantagens  do  procedimento  encontra‐se  descrito  na  tabela  IV.  Apenas  a  associação entre grupos etários e a explicação do  procedimento  se  revelou  estatisticamente 

significativa,  notando‐se  que  os  mais  novos  responderam  afirmativamente  em  88%  dos  casos. 

 

2. Médicos   

Responderam a este questionário um total de  108  médicos  dos  serviços  de  Angiologia/Cirurgia  Vascular, Cardiologia, Ginecologia, Neurocirurgia,  Obstetrícia, Oftalmologia, Ortopedia, Unidade de  Cirurgia  extra‐digestiva  e  Urologia.  A  caracterização da amostra encontra‐se na tabela  V.     Tabela V – Caraterização da amostra (grupo médicos)  Caraterística % de médicos Grupo etário (n=108)    24‐30     31‐39     40‐49     50‐59     60‐64     >64    34,3  17,6  20,4  25  2,8  0  Sexo (n=107)    Masculino     Feminino    56,1  43,9  Faculdade (n=108)    FMUP     ICBAS     UMinho     MedUBI     FMUC     FMUL     FCML     Outras    48,1  36,1  1,9  0  6,5  0,9  4,6  1,8  Categoria profissional (n=108)     Interno geral     Interno complementar     Assistente hospitalar     Assistente graduado     Chefe de serviço     7,4  23,1  22,2  36,1  11,1   

(9)

     Mais  de  metade  dos  médicos  (55%)  ouviu 

falar  do  CI  durante  a  sua  formação  geral,  mas  apenas 19% e 24% treinaram o seu uso durante a  formação  geral  ou  complementar,  respetivamente.  Aproximadamente  33%  dos  médicos tiveram acompanhamento nas primeiras  aplicações  do  CI;  45%  aplicou‐o  autonomamente  depois de concluir o internato complementar. 

Dos 108 participantes, 46 (43%) qualificou a  importância  do  CI  para  a  decisão  esclarecida  do  doente como boa ou muito boa. A maioria (56%)  considerou  que  o  CI  é  importante  para  a  sua  protecção  legal  e  34%  dos  médicos  assinalou  como boa ou muito boa a sua importância para o  reforço da relação médico‐doente.  

As respostas relativas ao tempo investido no  CI, ao tempo que o doente dispõe para pensar, ao  espaço  deixado  para  questões  do  doente  e  à  explanação  da  informação  relevante  sobre  o  procedimento apresentam‐se na tabela VI. 

A  maioria  dos  médicos  (70%)  considerou  média  ou  má  a  adequabilidade  do  processo  aos  indivíduos com os quais contacta.  

 

Ao  estudar  a  associação  entre  categorias  profissionais  e  a  conceção  do  CI  como  uma 

ferramenta  legal,  75%  dos  internos  gerais  e  64%  dos  complementares  tendem  a  escolher  as  opções bom e muito bom, mas nenhum chefe de  serviço o faz. A associação entre a menção ao CI  durante  a  formação  médica  e  o  nível  de  importância  legal  atribuído  a  este  não  é  estatisticamente significativa (p=0,127). 

Todas  as  categorias  profissionais,  com  exceção  dos  internos  complementares,  mantêm‐ se neutras para o contributo do CI no reforço da  relação  médico‐doente  (50%,  24%,  42%,  44%  e  33%,  por  ordem  hierárquica  ascendente).  A  relação  entre  o  treino  do  CI  durante  a  formação  médica  (geral  ou  complementar)  e  o  grau  de  importância  que o  médico atribui ao impacto do  CI  na  relação  médico‐doente  não  é  estatisticamente  significativa  (p=0,486  e  0,103,  respetivamente).  

A  maioria  dos  médicos  (63%)  que  classificaram  o seu investimento  de tempo no CI  como bom ou muito bom consideraram que este  era  importante  para  a  decisão  esclarecida  do  doente.  67%  dos  médicos  consideraram  que  quando a adequabilidade do CI ao doente era   Tabela IV – Percentagem de doentes que responderam afirmativamente às questões    Médico explicou o  procedimento?    Discussão de  vantagens?  Discussão de  desvantagens?  Sexo     Masculino     Feminino  (p=0,25)  51  64    (p=0,06) 49  69    (p=0,27)  31  43    Idade     16‐34     35‐64     >64    (p=0,02)  88a  46a  53a    (p=0,55) 71  59  55    (p=0,68)  44  30  39    Literacia     Analfabetismo     Lê o básico     Nível de  compreensão médio     Nível de  compreensão bom     Nível de  compreensão muito  bom    50  48    68    100    75    50  55    57    75    100    50  31    35    50    75 

(10)

Tabela VI – Respostas dos médicos (%)

  Muito mau Mau Médio  Bom  Muito bom

Tempo despendido com a aplicação do CI  6 22 32 32  7  Facilitação de questões ou dúvidas que o doente de outro  modo não colocaria  11 22 35 26  6  Tempo concedido para a decisão do doente  13 31 32 20  4  Explanação das vertentes do procedimento que  interessem ao doente  11 27 32 23  6   

muito  má,  o  seu  contributo  para  uma  decisão  esclarecida  era  mau.  A  mesma  percentagem  assumiu  que  indivíduos  com  oportunidade  para  colocar  questões  beneficiavam  de  um  CI  mais  elucidativo  e  50%  foi  da  opinião  que  este  facto  aumentava também o contributo do CI no reforço  da  relação  médico‐doente.  64%  consideraram  que  doentes  com  mais  tempo  para  decidir  faziam‐no mais esclarecidos. 

Na relação entre o tempo despendido com o  CI  e  a  explanação  das  vantagens  e  desvantagens  pertinentes verifica‐se que 67% dos médicos que  classificaram  como  muito  mau  o  dispêndio  de  tempo  qualificaram  da  mesma  forma  a  explanação da informação.  

Não  se  encontraram  associações  estatisticamente significativas entre a preparação  pessoal  do  médico  e  o  treino  do  CI  na  formação  geral (p=0,469) ou na complementar (p=0,393). 

 

A análise por regressão logística multivariada  revelou  que,  para  os  médicos,  o  fator  que  mais  influencia  o  contributo  do  CI  na  decisão  informada  é  a  explicação  das  vertentes  relevantes  do  procedimento,  prevalecendo  a  perceção  de  que  melhores  explicações  sobre  o  procedimento  se  associam  a  decisões  mais  informadas  dos  doentes  (médio:  OR=3.8;  bom/muito bom: OR=13).   

Discussão 

 

1. Doentes   

Este  estudo  mostra  tendências  dos  doentes  em relação ao entendimento da informação    

 

transmitida  pelo  médico  e  à  perceção  que  retiveram do CI. 

O  questionário  não  avaliou  diretamente  a  compreensão,  mas  as  questões  sobre  a  informação  que  o  doente  reteve  sobre  o  procedimento  a  que  vai  ser  sujeito  (detalhes,  vantagens,  desvantagens)  podem  ser  utilizadas  com  esse  objetivo.  Notavelmente,  a  maior  parte  dos doentes sabe por que motivo está internado  e o nome da sua doença, mas poucos são capazes  de  explicar  o  procedimento  ou  de  referir  vantagens  e  desvantagens.  Esta  tendência  é  consonante com a literatura.47  

Os  níveis  de  desconhecimento  entre  os  doentes  pode  ser  explicado  por:  os  indivíduos  não compreendem, não se recordam, não ouvem  ou  não  querem  ouvir,  ou  a  informação  simplesmente não foi fornecida ou foi‐o de forma  inadequada.46  

Está  descrita  uma  prevalência  maior  de  desconhecimento  entre  idosos.  Sabe‐se  também  que piores pontuações em scores de avaliação da  compreensão do CI se associam a maior idade e a  menor  literacia.13,20,23,40  Em  Portugal,  estes  parâmetros  tendem  a  relacionar‐se,  com  grupos  etários  mais  velhos  a  exibirem  nível  educacional  médio  mais  baixo,  legado  que  vem  do  período  histórico  em  que  esta  geração  viveu  os  anos  de  escolaridade.48 

A  compreensão  é  afectada  pelo  analfabetismo por se aliar a uma menor literacia  médica, definida como a capacidade do indivíduo  compreender o seu estado de saúde, implicações  de  exames  complementares  de  diagnóstico  e  tratamento.40  Este  parâmetro  afecta  a  qualidade  dos  serviços  médicos,  já  que  estes  doentes  têm 

(11)

uma  postura  menos  crítica  motivada  pela  vergonha de ser revelada a sua iliteracia.23,30,49  

Os  limites  do  CI  também  afectam  o  entendimento,  no  sentido  em  que  alguns  indivíduos,  por  uma  caraterística  pessoal  ou  consequente  à  patologia,  preferirem  não  saber  nada sobre a sua condição e delegar no médico a  decisão.2,13,15,16,50  A  influência  cultural  é  outra  vertente, com o carácter paternalista do sistema  médico a evidenciar maior impacto.2,16,20,49,50 

Na  relação  entre  médico  e  doente,  a  incompatibilidade entre as expetativas de ambos  é  o  factor  que  mais  influencia  a  compreensão.15,19,22,51  Os  doentes  elegem  a  provisão  de  informação  como  a  segunda  maior  prioridade,  enquanto  os  médicos  a  consideram  em  sexto.52  A  assumção  por  parte  do  médico  de  que os doentes entendem à partida os benefícios  e  efeitos  adversos  de  um  dado  procedimento  leva  à  omissão  de  factos  que  seriam  fundamentais  para  desmistificar  conceitos  errados que a experiência e o contexto do doente  trazem  consigo.15,22  O  formato  em  que  esta  informação  é  transmitida  (exemplo  do  jargão  médico)  pode  também  contribuir  para  a  sua  ininteligibilidade,  com  compromisso  da  apreensão pelo doente. 

Ao  fim  de  24  horas,  pouco  mais  de  metade  dos  doentes  consegue  nomear  uma  complicação  major ou um risco da cirurgia a que irá submeter‐ se,13 e a informação retida tende a diminuir com  o  tempo.53‐55  A  dificuldade  de  retenção  pode  ser  afectada pela má compreensão e pela ansiedade  e  desconcentração  induzidos  pelo  contexto  hospitalar,  por  patologia  ou  estar  associada  à  senescência.  

 

Os  doentes  inquiridos  revelaram  um  nível  elevado  de  satisfação  com  o  CI.  Este  facto,  que  está  em  concordância  com  a  literatura,42,46,56  pode  traduzir  uma  satisfação  real  com  o  processo, mas a literatura é cética.  

Não  é  possível  aferir  a  verosimilhança  deste  resultado, mas este questionário permite estimar  a qualidade das respostas. Está descrito que pedir 

aos indivíduos que expliquem pelas suas palavras  o que o médico lhes disse é o melhor método de  verificar  a  compreensão23  e,  portanto,  de  saber  quão  esclarecida  é  a  decisão.  Efetivamente,  poucos doentes desta amostra foram capazes de  reproduzir  uma  vantagem/desvantagem,  e  nenhum  foi  capaz  de  se  lembrar  de  duas.  Como  tal,  uma  explicação  possível  é  que  os  doentes  percecionem a informação que obtêm do médico  como  boa  mas  esta  perceção  não  tenha  corresponda  ao  que  efetivamente  se  passa.  Acresce  a  isto  o  facto  de  poucos  doentes  terem  recebido  os  folhetos  informativos  que  o  hospital  tem  para  alguns  procedimentos.  É  possível  que  estivessem indisponíveis os mais adequados, mas  é  sintomático  do  desejo  de  um  maior  envolvimento  o  facto  da  maioria  dos  doentes  gostar de ter lido informação providenciada pelo  médico.  Mais  uma  vez,  estes  resultados  são  consonantes com a literatura.15 

 

2. Questionários aos médicos    

Estudos  de  opinião  com  profissionais  de  saúde relativamente ao CI não são comuns, razão  pela qual a interpretação dos resultados encontra  menor suporte na literatura. 

 

Uma  primeira  constatação  deste  estudo  é  o  facto  da  maioria  dos  médicos  inquiridos  não  ter  treinado a aplicação do CI em nenhum momento  da  sua  formação,  nem  sido  acompanhada  aquando dos primeiros CI. Tal está de acordo com  a  literatura,  onde  esta  lacuna  é  apontada  como  uma  das  principais  causas  de  uma  aplicação  incorrecta  ou  incompleta.1,3,4,15  A  ausência  de  formação  favorece  a  desvalorização  do  CI  e  torna‐o  dependente  exclusivamente  da  prática  e  sensatez de cada profissional. Ao não adquirir ou  aperfeiçoar  técnicas  de  transmissão  da  informação,  é  mais  provável  que  o  médico  perpetue decisões pouco esclarecidas do doente. 

 

A  maioria  dos  inquiridos  vê  no  CI  uma  boa  ferramenta  de  protecção  legal,  o  que  pode 

(12)

decorrer  de  um  desconhecimento  generalizado  ou  de  uma  interpretação  errada  da  legislação/dificuldade  em  acompanhar  e  implementar as indicações institucionais. A favor  desta  última  explicação  está  o  facto  de  menos  assistentes  graduados  e  chefes  de  serviço  terem  respondido como a maioria, o que faz sentido na  medida  em  que  estes  estão  habitualmente  mais  familiarizados com a legislação e recomendações  da  Ordem  dos  Médicos  ou  do  hospital.  Uma  leitura alternativa da menor predominância entre  estas  categorias  profissionais  poderá  ser  a  desvalorização  do  CI  entre  médicos  mais  experientes.  

Ao  encarar‐se  o  CI  como  uma  ferramenta  eminentemente  legal,  é  mais  provável  que  este  seja  usado  defensivamente.  Dessa  forma,  converte‐se  numa ferramenta de salvaguarda do  médico, sob a falsa égide da proteção dos direitos  do  doente,57  e  o  seu  propósito  fica  seriamente  comprometido.58  Parece  não  ser  claro  entre  os  médicos  que  a  existência  de  um  documento  assinado  não  é  prova  de  que  o  indivíduo  consentiu  o  procedimento,  pelo  que,  num  processo  litigioso,  não  bastará  à  defesa  do  médico.42  

A  neutralidade  da  maioria  das  categorias  profissionais  quanto  ao  contributo  do  CI  no  reforço  da  relação  médico‐doente  é  surpreendente.  Tal  pode  ser  revelador  do  facto  dos  médicos  (ainda)  o  encararem  como  um  evento  estático  e  burocrático.1,4,17,19,20,42,43  Esta  neutralidade  é  tanto  maior  quanto  maior  a  experiência  profissional,  provavelmente  por  influência  do  exercício  de  uma  Medicina  mais  autocrática.  Esta  prática  não  é,  contudo,  necessariamente  incorreta,  já  que  muitas  vezes  resulta da perceção do médico quanto ao sistema  de  valores  da  sociedade  onde  se  insere  ou  do  indivíduo que tem perante si.9,58  

 

A  maioria  considera  suficiente  o  tempo  investido no CI e advoga que quer a provisão de  informação  quer  a  probabilidade  da  decisão  ser  esclarecida  são  prejudicadas  quando  o  tempo 

investido  é  pouco.  Ora  é  sabido  que  os  médicos  têm pouco tempo para cada doente e que este é  dos principais obstáculos à generalização de boas  práticas relativamente ao CI.27 Porém, o facto dos  profissionais  considerarem  que  despendem  tempo  suficiente  pode  significar  um  sacrifício  da  qualidade  do  CI  ou  uma  adaptação,  sendo  admissível  que  tenham  desenvolvido  as  suas  próprias estratégias. Duas estratégias são delegar  noutra  pessoa  a  aplicação  do  CI  e  o  diferimento  no  tempo.  A  prática  de  delegar  preenche  requisitos  de  poupança  de  tempo  e  contribui  para  o  ensino9,  mas  é  suposto  que  o  CI  seja  obtido  por  alguém  capaz  de  efectuar  o  procedimento,  o  que  nem  sempre  é  o  caso  nos  médicos  em  formação.  Tal  pode  prejudicar  a  qualidade da informação e a resposta às questões  do doente.9 

Em  oposição  ao  descrito  anteriormente,  a  opinião  dos  médicos  quanto  ao  tempo  habitualmente concedido ao doente para decidir  não  é  consensual.  Contudo,  a  maioria  tem  tendência  a  reconhecer  que  discutir  o  CI  atempadamente  aumenta  a  qualidade  da  informação  transmitida  e  permite  uma  decisão  mais  autónoma,  o  que  também  está  de  acordo  com  a  literatura.19  A  obtenção  do  CI  próximo  da  intervenção  gera  uma  tensão  desnecessária  e  aumenta  a  probabilidade  do  indivíduo  aceitar  mesmo  que  não  concorde,  por  sentir  que  é  demasiado tarde para recuar.4,24 

 

As  opiniões  dos  médicos  divergem  também  em  relação  à  importância  do  CI  como  facilitador  de  questões  e  para  a  provisão  de  informação  relevante ao doente, achados compatíveis com a  literatura.45,54,58  A  maior  parte  das  vezes,  estas  lacunas  ocorrem  inadvertidamente,  porque  os  médicos  seleccionam  a  informação  para  não  sobrecarregar o doente com factos ou para evitar  uma esperança infundamentada. Outras vezes, os  médicos  sobrestimam  a  compreensão  dos  doentes  relativamente  às  suas  instruções/prescrições.  Mais  raramente,  surgem  como consequência da insegurança do médico. 

(13)

3. Limitações do estudo   

A  reduzida  dimensão  das  amostras  que  foi  possível  colher  constitui  a  maior  limitação  deste  estudo,  tendo  condicionado  a  sua  análise  estatística. 

Estavam  previstos  inquéritos  auto‐ administrados  aos  doentes,  mas  as  dificuldades  no  preenchimento  requereram  o  apoio  da  investigadora.  Esta  situação  não  é,  aliás,  incomum,  e  alguns  artigos  defendem  a  maior  adequabilidade  da  entrevista  formal  com  guião  em  estudos  deste  âmbito.45,46  Contudo,  o  objetivo  de  incluir  todos  os  doentes  internados  nas  enfermarias  cirúrgicas  do  CHP  durante  um  certo período de tempo revelou‐se inviável, dado  ser  um  número  muito  elevado  de  pessoas.  A  resolução  foi  seleccionar  as  enfermarias  cirúrgicas  que  têm,  atualmente,  mais  camas:  Cirurgias  Gerais  (1,  2  e  3),  Ortopedia,  Urologia,  Ginecologia  e  Obstetrícia  (exceto  Puerpério);  excluiu‐se  a  enfermaria  de  Neurocirurgia  pela  menor probabilidade de cooperação dos doentes.  Assim, a ausência de aleatoriedade na seleção da  amostra  pode  condicionar  a  generalização  dos  resultados.  

Apesar  do  maior  grau  de  interferência  do  investigador  na  população  de  doentes,  não  é  expectável  que  tal  constitua  uma  limitação,  até  porque  não  existia  nenhuma  hipótese  de  trabalho  colocada,  ou  seja,  não  foi  introduzido  nenhum  viés  do  investigador.  Em  prol  da  abordagem  em  tempo  útil  do  maior  número  possível  de  inquiridos,  a  conversão  do  questionário em entrevista formal com guião não  se acompanhou da reformulação do conteúdo da  ferramenta  por  continuar  aquele  a  verificar‐se  genericamente aplicável. Não obstante, teria sido  vantajoso  introduzir  maior  especificidade  e  mais  perguntas  abertas  e  prever  mais  casos  de  não  aplicabilidade. 

Por último, importa destacar que a aplicação  do  CI  não  foi  directamente  observada:  a  informação  recolhida  baseou‐se  na  perceção  subjetiva  e  pessoal  dos  participantes. 

Especialmente  no  caso  dos  doentes,  poderá  ter  ocorrido um viés de recordação. 

 

Conclusões 

 

Este  estudo  descreve  perceções  de  doentes  e  médicos  e  sugere  tendências  relativamente  ao  CI  em  muito  consonantes  com  a  literatura  e,  notavelmente,  com  duas  teses  de  mestrado  de  anos transatos, uma delas realizada no serviço de  Cirurgia  do  CHP59  e  outra  em  dois  hospitais  do  Porto.60  

Médicos  e  doentes  partilham  visões  paralelas  quanto  às  vantagens  e  à  importância  da  informação,  da  comunicação  e  do  entendimento  mútuo. Contudo, a compatibilização destas visões  carece  de  aperfeiçoamento.  Os  doentes  não  compreendem que o CI salvaguarda o seu direito  à  autonomia,  e  não  é  claro  quanto  das  suas  decisões reflete realmente os seus interesses. Há  possibilidade  de  consentirem  somente  por  crerem  ser  isso  que  o  médico  deles  espera  e  do  consentimento ser considerado apenas um passo  necessário  para  obtenção  de  tratamento.61,62  O  médico  falha  no  reconhecimento  da  autonomia  do  doente,  tende  a  sobrestimar  a  compreensão  deste e a desvalorizar o papel do esclarecimento  no reforço da relação existente.  

Há  espaço  para  melhoramentos.23  Embora  não  seja  possível  substituir  o  contexto  sócio‐ cultural  do  doente,  as  demais  variáveis  que  afetam  a  compreensão  podem  ser  trabalhadas.  Nenhuma  substitui  a  relação  médico‐doente,  a  única  capaz  de  influenciar  a  compreensão28,42,  mas  podem  contribuir  para  a  redução  dos  níveis  de  ansiedade  e,  consequentemente,  para  uma  melhor  apreensão  da  informação.23,45,51  A  mais  generalizada  são os formulários escritos15,51, mas  os  recursos  multimédia1,18,24,51  parecem  ter  um  efeito  sinérgico  em  indivíduos  com  menor  formação e/ou nível sócio‐cultural.42,49  

Os  formulários  padronizados  associam  a  informação escrita à assinatura do doente, o que  traz  vantagens  a  ambas  as  partes:  formalizam  a  necessidade  de  providenciar  informação 

(14)

completa  e  relevante  ao  doente  e  aumentam  a  proteção  do  médico.43  É  altamente  aconselhável  que  os  médicos  generalizem  a  sua  utilização  ou,  na  ausência  destes,  que  registem  no  processo  clínico  do  doente  o  momento  de  conversa,  a  informação  veiculada,  as  pessoas  presentes  e  outros dados relevantes.1,4,25  

O  CHP  tem  formulários  para  algumas  cirurgias/procedimentos invasivos, mas são ainda  escassos e carentes de revisão. De acordo com a  literatura,  a  informação  a  constar  destes  formulários encontra‐se na tabela VII.5,18,31,63‐65 

 

Tabela VII – Conteúdos recomendados pela literatura 

dos formulários de CI  

Procedimento  Alternativas  Recuperação

1. Descrição  técnica relevante  2. Riscos  (frequentes, e  infrequentes com  repercussões  ameaçadoras da  integridade ou de  vida)  3. Benefícios  4. Prognóstico  5. Médico  responsável  6. Cláusulas de  conservação/uso  dos tecidos  1. Vantagens e  desvantagens  face ao  procedimento  mais  recomendado  2. Prognósticos  Tempo  necessário  para retomar  hábitos  prévios   

Existem  estratégias  validadas  para  garantir  que  estes  formulários  estão  redigidos  três  níveis  abaixo da literacia média da população, condição  determinante  para  que  sejam  melhor  compreendidos.1,18  Palavras  com  um  máximo  de  três sílabas, frases curtas e com uma única ideia,  eliminação  do  jargão  médico,  um  total  de  1000/1250  palavras  e  a  inclusão  de  esquemas  ilustrados  são  algumas  delas.1,23,64,66,67  Uma  prática  com  valor  empiricamente  reconhecido,  embora  ainda  não  validada,  é  a  junção  ao  formulário de uma ferramenta de auto‐análise da  compreensão.31  O  CHP  tem  um  documento  com  estas características, o que é de enaltecer.  

Um modelo validado de aplicação do CI com  facilitação  da  compreensão  do  doente  é  o  de  cinco  etapas  de  Darthmouth‐Hitchcock  Medical  Center,  que  tem  potencial  para  se  tornar  num  exemplo de uma prática de excelência.15 

 

A  formação  dos  médicos  também  pode  ser  trabalhada.  Está  provado  que  incentivar  a  formação  contínua  e  a  investigação  na  área  não  acarreta  gastos  económicos  acrescidos,  uma  vez  que  profissionais  mais  desenvoltos  na  aplicação  do CI favorecem a poupança em serviços/técnicas  desnecessárias  e  dispendiosas.1,3,4  Apresenta‐se  no anexo C uma proposta de um módulo prático  a integrar na disciplina de Bioética Médica.    

Agradecimentos 

  Ao Dr. Paulo Maia, já que sem a sua preciosa  orientação  e  lucidez  este  trabalho  não  teria  sido  possível.  Uma  palavra  também  ao  meu  co‐tutor,  Prof. Dr. Sousa Pereira.  

À  Dra.  Denisa  Mendonça,  pelo  inestimável  contributo  na  análise  estatística  e  pela  enorme  disponibilidade e simpatia.  

À  minha  maravilhosa  família,  que  não  me  poupou  em  apoio  –  fosse  a  compor  esteticamente o trabalho, a torná‐lo mais claro e  conciso ou simplesmente a motivar‐me.  

Ao  Pedro,  pelo  auxílio  em  certas  peripécias  éticas,  pela  crítica  final  e,  enfim,  pelo  companheirismo. 

Uma  referência  ao  Dr.  Miguel  Tavares  pelas  suas muito pertinentes sugestões. 

 

Bibliografia 

 

1.  Jefford  M,  Moore  R.  Improvement  of  informed  consent  and  the  quality  of  consent  documents. Lancet Oncol 2008;9:485‐93. 

2.  del Carmen MG, Joffe S. Informed consent for  medical treatment and research: a review. Oncologist  2005;10:636‐41. 

3.  Katz  J.  Reflections  on  informed  consent:  40  years after its birth. J Am Coll Surg 1998;186:466‐74. 

(15)

4.  Jones  JW,  McCullough  LB,  Richman  BW.  Informed  consent:  it's  not  just  signing  a  form.  Thorac  Surg Clin 2005;15:451‐60, v. 

5.  Paterick TJ, Carson GV, Allen MC, Paterick TE.  Medical  informed  consent: general  considerations  for  physicians. Mayo Clin Proc 2008;83:313‐9. 

6.  Mary  E.  Schloendorff  v.  Society  of  the  New  York  Hospital.  In:  Justice  USDo,  ed.;  14  de  Abril  de  1914. 

7.  Burger  I,  Schill  K,  Goodman  S.  Disclosure  of  individual  surgeon's  performance  rates  during  informed  consent:  ethical  and  epistemological  considerations. Ann Surg 2007;245:507‐13. 

8.  Jones  JW,  McCullough  LB.  The  extent  of  informed consent. J Vasc Surg 2007;46:821‐2. 

9.  Callegari  DC  OR.  Consentimento  livre  e  esclarecido  na  anestesiologia.  Revista  Bioética  2010;18:363‐72. 

10.  Lupton  M.  Informed  consent:  can  a  patient  ever  be  fully  informed?  Curr  Opin  Obstet  Gynecol  2005;17:601‐4. 

11.  Dyer C. Failure to warn. Br Med J (Clin Res Ed)  1987;294:1089‐90. 

12.  Bolitho v. City and Hackney Health Authority. 

In: US Department of Justice, ed.; 1997. 

13.  Mayberry  MK,  Mayberry  JF.  Towards  better  informed  consent  in  endoscopy:  a  study  of  information and consent processes in gastroscopy and  flexible  sigmoidoscopy.  Eur  J  Gastroenterol  Hepatol  2001;13:1467‐76. 

14.  Bernat  JL.  Informed  consent.  Muscle  Nerve  2001;24:614‐21. 

15.  Moulton  B,  King  JS.  Aligning  ethics  with  medical  decision‐making:  the  quest  for  informed  patient choice. J Law Med Ethics 2010;38:85‐97.  16.  Blackhall  LJ,  Murphy  ST,  Frank  G,  Michel  V,  Azen  S.  Ethnicity  and  attitudes  toward  patient  autonomy. Jama 1995;274:820‐5. 

17.  Garnier  JC  CJ,  Pili‐Floury  S,  Samain  E.  Information et consentement aux soins de la personne  vulnérable en France. Annales françaises d'anesthésie  et de réanimation 2009;28:575‐8. 

18.  Windle  PE.  Understanding  informed  consent:  significant and valuable information. J Perianesth Nurs  2008;23:430‐3. 

19.  Childers  R,  Lipsett  PA,  Pawlik  TM.  Informed  consent  and  the  surgeon.  J  Am  Coll  Surg  2009;208:627‐34. 

20.  Cassileth  BR,  Zupkis  RV,  Sutton‐Smith  K,  March  V.  Information  and  participation  preferences  among cancer patients. Ann Intern Med 1980;92:832‐ 6. 

21.  General  Medical  Council:  seeking  patients'  consent ‐ the ethical considerations. In. London; 1998.  22.  Bridson J, Hammond C, Leach A, Chester MR.  Making  consent  patient  centred.  Bmj  2003;327:1159‐ 61. 

23.  Falagas  ME,  Korbila  IP,  Giannopoulou  KP,  Kondilis  BK,  Peppas  G.  Informed  consent:  how  much  and  what  do  patients  understand?  Am  J  Surg  2009;198:420‐35. 

24.  Anderson  OA,  Wearne  IM.  Informed  consent  for elective surgery‐‐what is best practice? J R Soc Med  2007;100:97‐100. 

25.  Progress of the prudent patient: consent after 

Chester v. Afshar. Anaesthesia ‐ Editorial 2;60:215‐9. 

26.  Jones  JW,  McCullough  LB.  Consent  for  residents to perform surgery. J Vasc Surg 2002;36:655‐ 6. 

27.  Stevenson FA. General practitioners' views on  shared decision making: a qualitative analysis. Patient  Educ Couns 2003;50:291‐3. 

28.  Ingelfinger  FJ.  Informed  (but  uneducated)  consent. N Engl J Med 1972;287:465‐6. 

29.  Tabela  Nacional  de  Incapacidades  por  Acidentes  de  Trabalho  e  Doenças  Profissionais.  In:  Ministério  do  Trabalho  e  da  Solidariedade  Social;  30  de Setembro de 1993. 

30.  Mayberry  MK,  Mayberry  JF.  Consent  with  understanding:  a  movement  towards  informed  decisions. Clin Med 2002;2:523‐6. 

31.  Guarino P, Lamping DL, Elbourne D, Carpenter  J,  Peduzzi  P.  A  brief  measure  of  perceived  understanding  of  informed  consent  in  a  clinical  trial  was validated. J Clin Epidemiol 2006;59:608‐14.  32.  Grisso  T,  Appelbaum  PS,  Hill‐Fotouhi  C.  The  MacCAT‐T: a clinical tool to assess patients' capacities  to  make  treatment  decisions.  Psychiatr  Serv  1997;48:1415‐9. 

33.  de Haes H. Dilemmas in patient centeredness  and  shared  decision  making:  a  case  for  vulnerability.  Patient Educ Couns 2006;62:291‐8. 

34.  Berg  S.  The  well  informed  patient:  a  new  breed of health care consumer ‐ the advantages (and  pitfalls)  of  seeking  health  informatio.  Asthma  magazine 2005;Julho/Agosto:28‐30. 

35.  McMullan  M.  Patients  using  the  Internet  to  obtain  health  information:  how  this  affects  the  patient‐health  professional  relationship.  Patient  Educ  Couns 2006;63:24‐8. 

36.  Wald  HS,  Dube  CE,  Anthony  DC.  Untangling  the  Web‐‐the  impact  of  Internet  use  on  health  care  and  the  physician‐patient  relationship.  Patient  Educ  Couns 2007;68:218‐24. 

37.  Health  and  the  internet  for  all.  Medical  informatics 2006;75:1‐3. 

38.  Davis RE, Dolan G, Thomas S, et al. Exploring  doctor  and  patient  views  about  risk  communication  and  shared  decision‐making  in  the  consultation.  Health Expect 2003;6:198‐207. 

39.  Makoul G, Clayman ML. An integrative model  of  shared  decision  making  in  medical  encounters.  Patient Educ Couns 2006;60:301‐12. 

(16)

40.  Cayton  H.  The  flat‐pack  patient?  Creating  health together. Patient Educ Couns 2006;62:288‐90.  41.  Pereira  AS,  Oliveira  G,  Pereira  A.  Consentimento  Informado  ‐  Relatório  final.  In:  Entidade Reguladora da Saúde; Maio de 2009. 

42.  Bollschweiler  E,  Apitzsch  J,  Obliers  R,  et  al.  Improving informed consent of surgical patients using  a multimedia‐based program? Results of a prospective  randomized  multicenter  study  of  patients  before  cholecystectomy. Ann Surg 2008;248:205‐11. 

43.  Ross  N.  Improving  surgical  consent.  Lancet  2004;364:812‐3. 

44.  Salgo v. Leland Stanford etc. Bd. Trustees. In: 

US Department of Justice; 22 Outubro de 1957.  45.  Ghulam  AT  KM,  Bachman  LM,  Haller  U,  Kessler  TM.  Patients'  satisfaction  with  the  preoperative  informed  consent  procedure:  a  multicenter questionnaire survey in Switzerland. Mayo  Clin Proc 2006;81:307‐12. 

46.  Brezis  M,  Israel  S,  Weinstein‐Birenshtock  A,  Pogoda  P,  Sharon  A,  Tauber  R.  Quality  of  informed  consent for invasive procedures. Int J Qual Health Care  2008;20:352‐7. 

47.  Byrne  DJ  NA,  Cuschieri  A.  How  informed  is  signed consent? Br Med J (Clin Res Ed) 1988;296:839‐ 40. 

48.  Gomes MD, ÁP, Sebastião J, Firmino da Costa  A.  Novas  análises  dos  níveis  de  literacia  em  Portugal:  comparações  diacrónicas  e  internacionais.  In:  IV  Congresso  português  de  Sociologia.  Universidade  de  Coimbra; 2000. 

49.  McKneally MF, Ignagni E, Martin DK, D'Cruz J.  The  leap  to  trust:  perspective  of  cholecystectomy  patients  on  informed  decision  making  and  consent.  J  Am Coll Surg 2004;199:51‐7. 

50.  Akabayashi  A,  Slingsby  BT.  Informed  consent  revisited: Japan and the U.S. Am J Bioeth 2006;6:9‐14.  51.  Eggers  C,  Obliers  R,  Koerfer  A,  et  al.  A  multimedia  tool  for  the  informed  consent  of  patients  prior  to  gastric  banding.  Obesity  (Silver  Spring)  2007;15:2866‐73. 

52.  Laine C, Davidoff F, Lewis CE, et al. Important  elements of outpatient care: a comparison of patients'  and  physicians'  opinions.  Ann  Intern  Med  1996;125:640‐5. 

53.  Cassileth  BR,  Zupkis  RV,  Sutton‐Smith  K,  March  V.  Informed  consent  ‐‐  why  are  its  goals  imperfectly realized? N Engl J Med 1980;302:896‐900.  54.  Lavelle‐Jones C, Byrne DJ, Rice P, Cuschieri A.  Factors  affecting  quality  of  informed  consent.  Bmj  1993;306:885‐90. 

55.  Gattellari  M,  Butow  PN,  Tattersall  MH,  Dunn  SM,  MacLeod  CA.  Misunderstanding  in  cancer  patients:  why  shoot  the  messenger?  Ann  Oncol  1999;10:39‐46. 

56.  Joffe  S,  Cook  EF,  Cleary  PD,  Clark  JW,  Weeks  JC.  Quality  of  informed  consent:  a  new  measure  of 

understanding among research subjects. J Natl Cancer  Inst 2001;93:139‐47. 

57.  Heywood R, Macaskill A, Williams K. Informed  consent  in  hospital  practice:  health  professionals'  perspectives  and  legal  reflections.  Med  Law  Rev  2010;18:152‐84. 

58.  Berg  JW  AP,  Lidz  CW,  Parker  LS.  Informed  consent:  legal  theory  and  clinical  practice.  second  edition ed. NYC: Oxford University Press; 2001.  59.  Góis L, Silva AC. Qualidade do Consentimento  Informado no Serviço de Cirurgia do Centro Hospitalar  do  Porto  –  Hospital  de  Santo  António.  Porto:  ICBAS  ‐  Universidade do Porto; 2010. 

60.  AM  L.  Consentimento  informado.  Porto:  ICBAS ‐ Universidade do Porto; 2005. 

61.  Cassell EJ. Consent or obedience? Power and  authority in medicine. N Engl J Med 2005;352:328‐30.  62.  Markel  H.  "I  swear  by  Apollo"‐‐on  taking  the  Hippocratic oath. N Engl J Med 2004;350:2026‐9.  63.  Padberg  RM,  Flach  J.  National  efforts  to  improve  the  informed  consent  process.  Semin  Oncol  Nurs 1999;15:138‐44. 

64.  Sharp  SM.  Consent  documents  for  oncology  trials:  does  anybody  read  these  things?  Am  J  Clin  Oncol 2004;27:570‐5. 

65.  Comissões  de  Ética  para  a  Saúde  da  Região  Norte.  Documento‐guia  sobre  Consentimento  Informado.  In:  Seminário  sobre  o  Consentimento  Informado e o papel das Comissões de Ética para o seu  correcto uso: ARS Norte; 2009. 

66.  Light  IJ.  The  consent  form:  a  time  for  reassessment. J Pediatr 1998;132:567‐8. 

67.  Turner  P,  Williams  C.  Informed  consent:  patients listen and read, but what information do they  retain? N Z Med J 2002;115:U218. 

Imagem

Tabela III – Caraterização hospitalar da amostra (n=81) Caraterística  % de doentes Serviço de internamento     Cirurgia 1     Cirurgia 2     Cirurgia 3     Ginecologia      Obstetrícia     Ortopedia     Urologia       14,8 14,8 14,8 6,2 11,1 17,3 21,0  Te
Tabela VI – Respostas dos médicos (%)
Tabela VII – Conteúdos recomendados pela literatura  dos formulários de CI  

Referências

Documentos relacionados

 Para os agentes físicos: ruído, calor, radiações ionizantes, condições hiperbáricas, não ionizantes, vibração, frio, e umidade, sendo os mesmos avaliados

É importantíssimo que seja contratada empresa especializada em Medicina do Trabalho para atualização do laudo, já que a RFB receberá os arquivos do eSocial e

Equipamentos de emergência imediatamente acessíveis, com instruções de utilização. Assegurar-se que os lava- olhos e os chuveiros de segurança estejam próximos ao local de

Tal será possível através do fornecimento de evidências de que a relação entre educação inclusiva e inclusão social é pertinente para a qualidade dos recursos de

Com o objetivo de compreender como se efetivou a participação das educadoras - Maria Zuíla e Silva Moraes; Minerva Diaz de Sá Barreto - na criação dos diversos

O enfermeiro, como integrante da equipe multidisciplinar em saúde, possui respaldo ético legal e técnico cientifico para atuar junto ao paciente portador de feridas, da avaliação

lhante; linhas vasculares bem v1S1veis, cheias de conteúdo amarelo-pardo, em geral retas; pa- rênquima axial moderadamente abundante, pa- ratraqueal em faixas; raios

Seja o operador linear tal que. Considere o operador identidade tal que. Pela definição de multiplicação por escalar em transformações lineares,. Pela definição de adição