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A Essência do Pensamento Econômico e Social de Thorstein Veblen

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(1)

Seu Ponto Arquimediano

Murillo Cruz1

´Thorstein Veblen was arguably the most original and penetrating economist and social

critic that the United States has produced.´ (in Rick Tilman, ´Thorstein Veblen and His

Critics 1891 – 1963´, 1992) …

“… the American economist Thorstein Veblen … [is] one of the most remarkable political

writers not only in America but in the entire world. … It seems a great pity that this great

man is not sufficiently appreciated in his own country.” (Albert Einstein, in Seckler, D.,

´Thorstein Veblen and the Institutionalists´, 1975)

(versão mista 03-08)

1Professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Brasil) – IE-UFRJ

(2)

Introdução (3)

Primeira Parte - Compreendendo a Estática do ´

esquema geral

´ de Veblen

em Culturas Pecuniárias

.

Fins Ostensivos (mecânicos); e Fins Aproximados (pecuniários)

(5)

.Culturas

Pecuniárias

(5)

.Culturas Pecuniárias e as Classes Dominantes

(6)

.A ´Contenção Consciente da Eficiência´ da economia por parte dos

Homens de Negócio

(9)

Segunda Parte - Compreendendo a Dinâmica do ´

esquema geral´

de Veblen

.Os Três Planos Teóricos de Veblen

(12)

. Considerações Adicionais sobre o Vestuário como Expressão das

Culturas Pecuniárias e a ´moderna´ Teoria das Marcas Comerciais,

Branding, etc

. (25)

.

A Pioneira Contribuição de Veblen para uma moderna Teoria das

Marcas, Brand-Names, etc

. (28)

Terceira Parte - O Esquema de Veblen na Organização da Produção

O Moderno Sistema Industrial

.

Capital nominal e Capital Efetivo

(33)

. A ´Capacidade de Rendimento´ e o Goodwill

(35)

.

Conclusões Finais

(42)

Epílogo (45)

Bibliografia e Leituras Selecionadas de Referência sobre Veblen (47)

Apêndice

Anexos

(3)

Introdução

Give me where to stand and I will move the earth” Archimedes c.250 BC

Em certa ocasião, um aluno de Veblen perguntou-lhe: "como ele poderia se

lembrar de tantas coisas, e com tamanha precisão, e Veblen respondeu que ele

possuía em sua mente uma visão geral do ser humano, na qual cada fato, além de

se encaixar perfeitamente,

passa também a fazer parte deste “esquema

geral”.

(Dorfman, 1934, p. 248)

O que o parágrafo acima informa e sugere, e que será objeto deste Ensaio, é que

Veblen possuía, em sua privilegiada mente, uma espécie de

ponto arquimediano

(teórico), e que, confessadamente, fez uso deste ´

esquema geral

´ em toda a sua

imensa e significativa obra. De acordo com registros biográficos, é possível que

este “

esquema

” tenha sido transmitido ou semeado na mente de Veblen, a partir

das constantes conversas que empreendeu, quando jovem, com seu pai (Thomas

Anderson Veblen).

Thorstein comentou com Henry Waldgrave Stuart, um de seus alunos na Universidade de Chicago, que as idéias básicas de ´A Teoria da Classe Ociosa´ vieram dos tempos de sua infância, de suas frequentes conversas com seu pai, que era um profundo pensador. (Jorgensen 1999, 10)

Este

ponto arquimediano

de Veblen, uma espécie de código genético de sua obra,

ou seja, um

princípio

presente em

todas

as células de sua obra, permitia-lhe

cobrir, com extrema coerência, um arco impressionante de situações, objetos,

processos e comportamentos.

Neste sentido, Max Lerner, entre outros, em 1948, ao comentar sobre a vida e a

obra de Veblen, percebeu a ´facilidade´ com que Veblen cobria um conjunto

imenso de fenômenos, desde os mais simples aos mais complexos; e percebeu,

igualmente, a ´estabilidade´ teórica de Veblen. Aliás, esta é uma das

características distintivas da obra de Veblen, ou seja, desde os primeiros escritos

em economia e sociologia (1892), até os últimos artigos (1925-27), a obra de

Veblen é de uma coerência e regularidade não muito comum no campo da teoria

social

… O que tanto contribuiu para a formação de uma espécie de lenda em torno de Veblen? Havia a sua imensa erudição, o seu domínio de inúmeras línguas [registros biográficos e pessoais informam que Veblen dominava c. 26 linguas – MC], os seus profundos conhecimentos das sagas islandesas (e nórdicas em geral), seus amplos conhecimentos de literatura, arqueologia, e história racial – bem como de artefatos diversos ou mensurações de crâneos; havia a sua incrível precisão e habilidade em discorrer, por um lado, sobre pequeníssimos detalhes de várias culturas, e por outro lado, sobre grandes abstrações; a facilidade com que movia-se na História, desde os tempos Neolíticos até os últimos relatórios industriais de Comitês do Congresso Americano. Veblen era, como já se disse. “o último homem a saber de tudo” …

(4)

É certo, porém, que Veblen deparou-se com uma falange de opositores ... Veblen tornou-se um pensador solitário, escrevendo em um meio profundamente hostil. Tão agudamente sentiu Veblen a necessidade de construir um aríete para derrubar os muros de sua oposição, que ele tornou-se, cada vez mais, repetitivo e ´longinquo´, e tentava, a todo momento, expor ´tudo´ de uma só vez. (Lerner, 1958 [1948], 8 e 31)

Em função de sua memória prodigiosa; da facilidade com que dominava inúmeras

línguas; da rapidez com que resolvia operações matemáticas ´de cabeça´, e do

uso sinedóquico freqüente que fazia das palavras (mesclando significados e

conotações ao mesmo tempo), Veblen possuia um evidente traço de genialidade;

reconhecido até por seus opositores. Tais características mentais especiais devem

ter sido herdadas, com muita probabilidade, de sua mãe, Kari Thorsteinsdatter

Bunde Veblen, que possuia, reconhecidamente, uma memória e uma velocidade

de raciocínio fora do comum.

Este Ensaio busca demonstrar o ´

esquema geral

´ que Veblen possuía em sua

mente, esquema este que lhe permitia cobrir um arco tão amplo de temas, fatos, e

fenômenos; ou seja, como indicou Lerner, “

a facilidade com que movia-se na

História, desde os tempos Neolíticos até os últimos relatórios industriais de

Comitês do Congresso Americano.

” E poderíamos completar: a facilidade e a

segurança com que Veblen projetava e explicava o comportamento de toda uma

civilização, a partir da ´

simples

´ análise da composição e forma de uma colher; de

um animal; de uma cor; ou de uma peça de vestuário.

Casa da Fazenda da FamíliaVeblen Bolsa de Valores de N.Yorque 1873 (hoje restaurada);Nerstrand; Minnesota

(5)

Primeira Parte

Compreendendo a Estática do ´esquema geral´ de Veblen

em Culturas Pecuniárias

A Norma do Desperdício Conspícuo e a Reputação Pecuniária

O Modelo da Colher de Prata Cinzelada a Mão

Fins Ostensivos (mecânicos); e Fins Aproximados (pecuniários)

– Apesar do

imenso e variado conjunto de temas que Veblen abordou em suas reflexões, toda

a sua obra é uma busca sistemática de explicação da cultura pecuniária e da

economia de nossa época; e baseia-se em uma particular e sofisticada utilização

da dicotomia da moderna teoria social, entre

categorias objetivas da função (

a

função manifesta (proposital), primordial, ostensiva, objetiva e mecânica das

coisas (A.1), e

categorias subjetivas da motivação

(a motivação latente, colateral,

secundária, cerimonial e aproximada das coisas (B.1).

A introdução do conceito de ´função latente´ no campo da pesquisa social, leva-nos a conclusão de que a vida social não é tão simples como parece à primeira vista ...

O paradoxo de Veblen é que as pessoas compram bens dispendiosos e caros não porque são superiores ou melhores, mas porque são ´caros´ ... pois é a equação latente (alto preço = marca de elevado status social) que ele reitera em sua análise funcional, mais do que a equação manifesta (alto preço = excelência do produto) (Merton 1968, 123-124)

(6)

uma norma do desperdício conspícuo, decorrente da emulação predatória entre os

indivíduos.

Veblen realça que a motivação latente principal dos comportamentos das culturas

pecuniárias é o

ganho extra

(ou a manutenção) de reputação e do ´bom nome´

que um indivíduo obtém, por exemplo, pelo uso e a exposição conspícua de

objetos (tidos como seu) que contenham doses significativas de elementos

prestigiados na comunidade; isto é, no caso, objetos que contenham um forte

conjunto

quantitativo

de desperdício material, pois este ´desperdício´ indica e é

prova da habilidade e da capacidade do usuário em gastar ou pagar (visando

superar seus competidores).

O imediato e óbvio índice de força pecuniária é a habilidade visível para gastar, para consumir improdutivamente; e os homens muito cedo aprenderam a por em evidência suas habilidades para gastar através da demonstração e exposição de bens ´caros´ que não proporcionam qualquer retorno para seus possuidores, seja em conforto, ou em ganhos (objetivos). ...

Não é que os usuários ou os compradores destes bens ´caros ´ e fúteis desejem o desperdício. Eles desejam manifestar suas habilidades para pagar. O que é visado não é o desperdício ´de facto´, mas a aparência do desperdício. (Veblen 1998 [1894], 68 -70; Ed. S.Bowman).

Do ponto de vista econômico

stricto

sensu

, culturas pecuniárias são aquelas onde

a motivação aquisitiva e comercial (pecuniária), e a utilidade subjetiva das coisas

para finalidades individuais de emulação, prevalecem sobre o elemento produtivo

e industrial, e sobre a serventia objetiva, funcional e geral das coisas. Em outras

palavras, são culturas onde as finanças (

business

), o ´

valor

comercial´ da

entidade, e a propriedade comercial e industrial, prevalecem sobre a produção de

serventia (

industry

), sobre o ´valor funcional´, e sobre a propriedade dos itens

tangíveis e corporais. Em última instância, onde a rentabilidade comercial das

corporações, ou das companhias, (

business enterprises

) prevalecem sobre a

lucratividade industrial do empreendimento.

Culturas Pecuniárias e as Classes Dominantes - A deflexão, a deformação, e a

perversão dos fins ostensivos das coisas e da plenitude da vida, que configuram

as culturas pecuniárias, são estimuladas, disseminadas, e mantidas por uma

classe ociosa dominante (aquisitiva e mercantil), que, por basear-se na instituição

da propriedade privada, e na acumulação e exposição conspícua de riquezas

(para demonstrar capacidade pecuniária, isto é, habilidade de pagar), impõe seus

hábitos, seus valores, e seus comportamentos para todas as demais classes

sociais da comunidade.

(7)

Nas modernas comunidades civilizadas, as linhas de demarcação entre as classes sociais se tornaram vagas e transitórias, e, onde quer que isso ocorra, a norma da boa reputação imposta pela classe superior estende a sua influência coercitiva, com ligeiros entraves, por toda a estrutura social, até atingir as camadas mais baixas. O resultado é os membros de cada camada aceitarem como ideal de decência o esquema de vida em voga na camada mais alta logo acima dela, ou dirigirem as suas energias a fim de viverem segundo aquele ideal. ...

Nenhuma classe social, nem mesmo a mais abjetamente pobre, abre mão da totalidade do consumo conspícuo costumeiro. (Veblen 1957 [1899], 70)

Os ricos são diferentes de nós.” (F.Fitzgerald Scott); ... “É verdade, ... eles têm mais dinheiro.” (Ernst Hemingway) (in Diggins 1978, vii)

Assim, a classe ociosa dominante impõe, no plano visível do consumo de bens e

produtos, um padrão pecuniário de reputação e decência,

i.e.

, um padrão calcado

no que Veblen designou por ´norma do desperdício conspícuo´.

Para o homem ocioso, o consumo conspícuo de bens valiosos é um instrumento de respeitabilidade. ...

Por ser o consumo dos bens de maior excelência prova da riqueza, ele se torna honorífico; e reciprocamente, a incapacidade de consumir na devida quantidade e qualidade se torna uma marca de inferioridade e de demérito. (Veblen 1957 [1899], 64)

(8)

... Para ser reputável é necessário ser desperdiçador (perdulário). Nenhum mérito se lhe acrescentaria mediante o consumo das simples coisas necessárias à vida, ... …(Veblen 1957 [1899], 77)

Logo, se designarmos cap^ por ´valor comercial´, o

cap^ de um indivíduo = f (quantidade de bens valiosos que porta, carrega,

comanda ou possui; e não a quantidade ou a qualidade dos serviços prestados

pelos mesmos itens que porta, carrega ou possui)

E é interessante observar que esta norma pecuniária de reputação e decência

Para ser reputável é necessário ser desperdiçador (perdulário)

´), por ser um

hábito de pensamento (generalizado),

i.e.

, uma instituição, infecciona e contamina

todas as demais opiniões, pontos de vista, e instituições da comunidade; inclusive

as concepções do gosto (do feio e do belo), do simpático e do antipático, do certo

e do errado.

Veblen demonstrou em sua obra, exaustivamente, a contaminação e os efeitos da

decência pecuniária sobre as demais instituições e configurações materiais; em

especial, dedicou atenção à influência e à contaminação desta norma do

desperdício conspícuo sobre o gosto e a beleza, deixando-nos, neste aspecto,

como legado, uma teoria estética das mais criativas, e inconfundível.

... Achamos belas as coisas, assim como úteis, proporcionalmente a seu preço caro. . (Veblen 1957 [1899], 119-120)

O capítulo VI (

Pecuniary Canons of Taste

) de

The Theory of the Leisure Class

(1899) contém uma das passagens mais paradigmáticas acerca da maestria com

que Veblen explicava fenômenos sociais, econômicos, e estéticos, de grande

complexidade, através de objetos relativamente ´simples´ e desprovidos de

energia explicativa.

… As exigências da decência pecuniária [e reputação] influenciaram, ... o sentido [popular] da beleza e da utilidade dos artigos de uso ou de beleza. [Os bens] ... são vistos como prestativos ou de serventia quase na mesma proporção em que contenham grandes quantidades de desperdício e sejam mal adaptados a seus usos ostensivos ...

(9)

o sentido da beleza, ao passo que aquela feita a máquina e em vil metal, não tem outro ofício além de uma bruta eficiência ...

... A satisfação superior que deriva do uso e da contemplação de produtos caros e considerados belos é, comumente ... uma satisfação do nosso sentido do seu preço elevado que se mascara sob o nome de ´beleza´. ... O requisito do desperdício conspícuo não está em geral presente, conscientemente, em nossas regras de gosto, mas encontra-se ... presente como uma norma a constranger seletivamente ... o nosso senso do que deve ser legitimamente aprovado como belo e o que não deve. ...

É neste ponto, onde o belo e o honorífico se mesclam e se confundem, que a discriminação entre o que seja de serventia e o que seja perdulário é mais difícil em qualquer caso concreto. (Veblen 1957 [1899], 94, 95, 96)

Portanto, e conforme veremos com mais detalhes adiante,

todos

os produtos e

objetos, nas culturas pecuniárias, possuem uma configuração simbólica

semelhante à exposta no Diagrama 1 (abaixo): o conjunto de elementos de

serventia e funcionalidade (A

Æ

a) encontra-se encoberto e subordinado pelo

conjunto (significativo, dominante e

expansivo

) de elementos de desperdício

conspícuo (Bp

Æ

b); e quanto mais itens preciosos no objeto, maior reputação,

maior valor comercial, e maior

beleza

institucional.

Arts and Crafts

(10)

Apesar do significativo crescimento industrial, tecnológico e econômico dos

Estados Unidos, entre c. 1860 e 1920, Veblen foi um dos poucos (importantes)

intelectuais, principalmente no campo da sociologia e da teoria social, a perceber

esta “

conscientious withholding of efficiency

” (sabotagem) da economia por parte

dos Homens de Negócio (

the captain of finance

), e da classe ociosa como um

todo.

Com a singular exceção de Veblen, os mais relevantes e contemporâneos intelectuais que desenvolveram a Sociologia norte americana [William Sumner, Charles Cooley, Lester Ward, Edward Ross, George Mead, et. al.].... tendiam mais a celebrar do que criticar o progresso do capitalismo americano. (Edgell 2001, 7) …

Veblen argumentava que (o capitalismo moderno) era um sisterma inerentemente desperdiçador e perdulário (na medida em que “em nenhum momento esteve livre dos desarranjos e das crises instigados e perpetrados pelos Homens de Negócio), e que buscava como fim último um aumento da propriedade, e não a serventia industrial; e que o seu era exatamente o oposto da sociedade corrente.” [Veblen 1904, Edgell 2001, 8, 9)

Para Veblen, o capitalismo era um sistema social cujo objetivo era “legalizar o confisco”; ... “tendo confiscado para seus interesses privados os recursos naturais, os ´proprietários ausentes´ tramam e conspiram para decidir ´o que o mercado suporta´ em termos de preços de venda, para seus benefícios, às custas dos produtores e dos consumidores.” ... (mas) “o domínio absoluto da empresa de negócios é necessariamente um domínio transitório, na medida em que ela é incompatível com o desenvolvimento ótimo e pleno das artes industriais sobre o qual a sobrevivência da comunidade depende, em última instância.” (Veblen 1904, 400)

“Este é um tema e um ponto que Veblen jamais perdeu de vista em toda a sua vida.” (Edgell 2001, 9).

Sobre esta “

conscientious withholding of efficiency

” da economia por parte dos

Homens de Negócio, e da classe ociosa como um todo, em 1944, R.L. Duffus, que

viveu durante um período com Veblen em Cedro Cottage – Califórnia -, registrou

uma das mais interessantes e sugestivas passagens de Veblen:

(11)

Veblen estava convencido de que grande parte dos ´negócios modernos´ era, muito simplesmente, manter ´buracos enlameados´ com a finalidade de cobrar dos demais para retirá-los dos mesmos.

Este era, sem dúvida, o tema central do seu segundo livro The Theory of Business Enterprise (1904). Os gangsteres e mafiosos de Chicago e de outras cidades, que geravam “proteção” para “vendê-la” aos demais, teriam fornecido a Veblen outra boa ilustração dos negócios modernos. (Duffus 1944, 64)

---XXX---

(12)

Segunda Parte

Compreendendo a Dinâmica do ´esquema geral´ de Veblen

O Ponto de Vista Evolucionário

Os Três Planos Teóricos de Veblen - Dissemos acima que a obra de Veblen é

uma sofisticação da dicotomia entre

categorias objetivas da função

, e

categorias

subjetivas da motivação

, porque, de fato, o ´

esquema geral

´ de Veblen é bem

mais complexo e profundo. Somente no terceiro Plano de compreensão deste

esquema

(o Plano material, concreto, ou formal), isto é, o mais direto, conforme

veremos a seguir, é que a dicotomia “Função Manifesta

versus

Motivação Latente”

encontra-se em evidência.

O sofisticado esquema teórico de Veblen constrói-se, em minha compreensão,

sobre 3 (três) Planos de complexidades.

Primeiro Plano

– Plano primordial, ´energético´, espiritual -

psicológico

. Trata-se

da complexidade de 1ª. ordem, decorrente do ´ponto de vista´ evolucionário,

espiritual e

psicológico

original;

Segundo Plano

– Plano intermediário, peri-energético. Trata-se da complexidade

de 2ª. Ordem (intermediária), que vincula o primeiro Plano (primordial), ao terceiro

(material, concreto, formal). Este segundo Plano – o do comportamento, do

pensamento, e das emoções, significa, conceitualmente, o adensamento e a

condensação (inclusive a ´

manifestação

´) das múltiplas forças do 1º. Plano

(primordial). As forças do 1º. Plano congregam-se, agora, em uma síntese de 2

vetores chaves (A e Bp) (não únicos, mas chaves para a compreensão de

qualquer quadro sócio-econômico), vetores estes que irão moldar, então, em

última instância,

todas

as expressões, objetos, e manifestações da cultura.

(13)

longo de toda a sua obra,

e.g

., ´

industry

´ versus ´

business

´; ´

the engineers and the

price system

´; ´

industrial and pecuniary employments

´; ´

the vested interest and the

common man

´; ´aspecto ostensivo (objetivo ou mecânico) das coisas, versus

aspectos cerimoniais (ostentatórios, subjetivos, ou imputados) das mesmas; etc.,

(É da maior relavância, entretanto, compreender que estas inúmeras dicotomias

constantes da obra e do ´

esquema

´ de Veblen precisam ser ´vistas´ de forma

sinedóquica, e não taxonômica).

Terceiro Plano

– Plano material-corporal, concreto, formal - dos objetos, produtos,

expressões, e manifestações concretas perceptíveis, inclusive as organizações.

Trata-se da complexidade de 3ª. ordem (maior

solidez

). Este terceiro Plano pode

ser compreendido como o patamar final de concretização da dicotomia das forças

do segundo Plano.

O Diagrama 2 abaixo representa, simbolicamente, estes 3 Planos ou Etapas

DIAGRAMA 2

Primeiro Plano – primordial, espiritual,

psicológico

Para Veblen existem, inicialmente, três condições incontornáveis, irrevogáveis

inevitáveis e primordiais, da condição e/ou natureza humana:

.(i) primeira condição irrevogável: o Homem é uma espécie ativa, dotada de

hábitos e propensões, e inteligente.

For mankind (as for other higher animals), the life of species is conditioned by the complement of instinctive proclivities and tropismatic aptitudes with which the species is typically endowed … These are the prime movers in human behaviour, as in the bahaviour of all those animals that show self-direction or discretion. (Veblen 1914, 1)

(14)

Like other animals, man is an agent that acts in response to stimuli afforded by the environment in which he lives. Like other species, he is a creature of habit and propensity. But in a higher degree than other species, man mentally digests the content of the habits under whose guidance he acts, and appreciates the trend of these habits and propensities. He is in an eminent sense an intelligent agent. (Veblen 1934 [1898], 80)

Neste ensaio, esta múltipla condição irrevogável será designada pela letra W. (ver

Diagrama 3, página 19 adiante)

.(ii) a segunda condição irrevogável é a propensão humana à eficiência bruta,

objetiva e ostensiva (

trabalho efetivo

), que Veblen irá designar por

Instinct of

Workmanship

, e que, neste ensaio, será designado por (A), ou, alternativamente,

por IW; (

instinto de trabalho eficaz

)

Por necessidade seletiva a espécie humana encontra-se dotada com uma propensão para agir com propósito. Em outras palavras, o Homem é possuidor de um senso discriminatório de finalidade, razão pela qual toda a futilidade da vida, ou de suas ações, lhe causa um desgosto. Este é um traço genérico e ubíquo da natureza humana. ...

As pessoas esperam que os seus vizinhos desenvolvam suas vidas para algum propósito, e gostam de pensar que suas próprias vidas possuem alguma serventia. Todo indivíduo possui este senso quase estético de mérito econômico ou industrial, e desta forma o que ele identifica como futilidade econômica ou ineficiência lhe é desagradável. Em sua expressão positiva trata-se de um impulso ou de um instinto para o artesanato; e, negativamente, pode ser interpretado como a expressão de um desgosto ou repugnância por todo trabalho mal feito, e pelo desperdício. O senso comum compartilhado por quase todo ser humano de mérito e demérito no que se refere à bem sucedida provisão material da vida humana, ou ao impedimento da mesma, sanciona e aprova o ato economicamente eficiente e reprova a futilidade econômica. É desnecessário demonstrar de forma mais detalhada quão próxima é a relação entre esta norma de mérito econômico e a norma de conduta ética, por um lado, e a norma de gosto estético, por outro. … (Veblen 1934 [1898], 80, 81-82)

... the generality of instinctive dispositions prompt simply to the direct and unambiguous attainment of their specific ends, … (the agent goes as direct as may be to the end sought) …; whereas under the impulse of workmanship the agent´s interest and endevour are taken up with the contriving of ways and means to the end sought.

… The instinct of workmanship … occupies the interest with practical expedients, ways and means, devices, creative work and technological mastery of facts. … [it] brought the life of mankind from the brute to the human plane, and in all the latter grouth of culture it has never ceased to pervade the works of man. (Veblen 1937 [1914], 32, 33) (ver anexo ´Notas Técnicas acerca do Conceito de Instinct of Workmanship em Veblen´, Revista OIKOS, Ano VI, n.8, 2007)

(15)

Como outras espécies, o (Homem … age) guiado por propensões que lhe foram impostas pelo processo de seleção ao qual deve a espécie humana sua diferenciação de outras espécies. O homem é um animal social; e o processo seletivo pelo qual o homem adquiriu este aspecto espiritual de animal social foi responsável também por tornar o homem um animal substancialmente pacífico. É possível que se observem hoje na espécie humana um afastamento significativo desta ancestral tendência pacífica, mas mesmo atualmente os traços de uma tendência pacífica nos hábitos diuturnos de pensamento e sentimento são claros suficientemente ... A julgar pela sua estrutura desarmada e frágil ... é justo classificar a espécie humana juntamente com aqueles animais que devem sua sobrevivência à aptidão de evitar conflitos e embates diretos com seus competidores, ...”O Homem é a mais fraca e indefesa das criaturas vivas”, ... Sem ferramentas, o Homem é um animal completamente inofensivo, como são os outros animais ... Até que tivesse criado ferramentas – ou seja, durante a maior parte de sua história evolutiva - o homem não pôde desempenhar o papel de agente de destruição ... Por força das circunstâncias,.. a disposição humana era principalmente pacífica e recolhida... Os hábitos da vida humana eram ainda predominantemente de caráter pacífico e industrial, não hábitos conflitivos e destrutivos. ... A atividade industrial há de se ter desenvolvido bem antes de ser possível para um grupo de homens viver às custas de outro; e durante a prolongada evolução da indústria antes deste ponto, era o objetivo de eficiência industrial que consistentemente guiava os esforços dos seres humanos, por natureza seres cooperativos e sociais, tanto por imposição de suas características físicas e mentais, quanto por suas inclinações espirituais. ...

Efeito do processo seletivo e de condicionamento, o homem arcaico era necessariamente membro de um grupo, e durante este estágio inicial, quando a eficiência industrial não era ainda considerável, grupo nenhum poderia ter sobrevivido a não ser com base num senso de solidariedade forte o bastante para que atitudes individualistas (self-interest) ficassem em segundo plano. (Veblen 1934 [1898], 85-87)

Esta terceira condição incontornável, do Homem ser um animal social comunitário

´P´, mormente a característica de imitação-repetição que irá orientá-lo no

processo de integração social (ver adiante), possui conseqüências

importantíssimas para a compreensão deste 1º. Plano do esquema teórico de

Veblen, e da deformação que o

instinct of workmanship

(A) irá sofrer (bem como

de toda a cultura), a partir de uma deformação e desvio no processo de emulação:

de uma emulação funcional-ostensiva (natural) (Bf), para uma emulação invejosa,

egoística, pecuniária (Bp).

Quatro características especiais da psicologia individual, mutuamente

interferentes, atuam nesta condição incontornável de sociabilidade humana, e que

possuem influência na teoria de Veblen:

(16)

.(ii) a condição de criticar e ser criticado/censurado, tendo como referência os

hábitos implantados (as instituições) e/ou um eixo considerado de eficiência ou

normalidade de

como fazer

as coisas, existente na comunidade. Esta condição

cristaliza uma espécie de vigilância conservadora dos indivíduos sobre os hábitos

existentes; uma espécie de neofobia; (fobia pelo novo)

.(iii) a dedicação e a cooperação que o indivíduo oferece ao grupo, que Veblen,

possivelmente reproduzindo as lições de McDougall, irá designar por ´

parental

bent

´. Para Veblen, the

parental

bent

é uma força tão poderosa quanto o instinct

of workmanship.

Chief among those instinctive disposition that conduce directly to the material well-being of the race, and therefore to its biological success, is perhaps the instinctive bias here spopken of as the sense of workmanship. The only other instinctive factor of human nature that could with any likelihood dispute this primacy would be the parental bent. Indeed, the two have much in common … Doubtless this parental bent … greatly reinforces that sentimental approval of economy and efficiency for the common good and disapproval of wasteful and useless living that prevails so generally. (Veblen 1937 [1914], 25)

.(iv) a permanente atividade de imitação do ´outro´, e a correspondente

comparação natural entre os indivíduos dos padrões de eficiência e de

normalidade institucional como um todo.

Esta quarta característica acima, ou seja, a imitação de padrões, a repetição, e a

comparação habitual, sistemática, entre os indivíduos em todos os aspectos, e

principalmente, do ponto de vista econômico, a comparação

of one person with

another in point of efficiency

, é absolutamente importante para compreendermos a

complexidade e a dinâmica do esquema teórico de Veblen. Senão vejamos.

O instinct of workmanship atua ubiqua e permanentemente em todos os indivíduos

e independente do quadro institucional. No processo dinâmico de imitação, o que

é equivalente a dizer repetição (pois imitação é repetição ou reprodução dos atos

ou processos a serem imitados), a ação do instinct of workmanship (A) sobre cada

´movimento´, isto é, sobre o

instante

da imitação-repetição, gera um sentimento e

um comportamento que se designa propriamente por emulação

(B)

(sentimento

´

competitivo

´ que nos incita a igualar ou superar outrem, ou o objetivo desejado).

Esta emulação (B) – sentimento natural e inevitável, [em função da fórmula

irrevogável da atuação do instinct of workmanship sobre a imitação-repetição (IW

+ Imitação)] – poderá manifestar-se, entretanto, de duas formas:

(17)

de uma certa forma saudável e desejável, que ocorre o progresso espiritual e

material, sem distorções, da humanidade.

.(ii) Mas a emulação (B), principalmente no que tange às comparações em

eficiência das questões materiais e econômicas, i.e., ´

in point of efficiency

´,

dependendo das circunstâncias, pode derivar para uma emulação inter-subjetiva,

hostil e invejosa (Bp) ,

i.e

., uma competição hostil ininterrupta entre os indivíduos,

e não propriamente focada no objetivo ostensivo (objeto da comparação),

emulação esta que Veblen irá designar por ´emulação pecuniária´.

Under the canon of conduct imposed by the instinct of workmanship, … [Man] contemplates his own conduct and that of his neighbors, and passes a judgment of complacency or of dispraise. The degree of effectiveness with which he lives up to the accepted standard of efficiency in great measure determines his contentment with himself and his situation. A wide or persistent discrepancy in this respect is a source of abounding spiritual discomfort. …

Under the guidance of this taste for good work, men are compared with one another and with the accepted ideals of efficiency, and are rated and graded by the common sense of their fellows according to a conventional scheme of merit and demerit. The imputation of efficiency necessarily proceeds on evidence of efficiency. The visible achievement of one man is, therefore, compared with that of another, and the award of esteem comes habitually to rest on an invidious comparison of persons instead of on the immediate bearing of the given line of conduct upon the approved end of action. The ground of esteem in this way shifts from a direct appreciation of the expediency of conduct to a comparison of the abilities of different agents. Instead of a valuation of serviceability, there is a gauging of capability on the ground of visible success. And what comes to be compared in an invidious comparison of this kind between agents is the force which the agent is able to put forth, rather than the serviceability of the agent's conduct. So soon, therefore, and in so far, as the esteem awarded to serviceability passes into an invidious esteem of one agent as compared with another, the end sought in action will tend to change from naive expediency to the manifestation of capacity or force. It becomes the proximate end of effort to put forth evidence of power, rather than to achieve an impersonal end for its own sake, simply as an item of human use. So that, while in its more immediate expression the norm of economic taste stands out as an impulse to workmanship or a taste for serviceability and a distaste for futility, under given circumstances of associated life it comes in some degree to take on the character of an emulative demonstration of force. (Veblen 1934 [1898], 89, 91)

A emulação sexual natural da espécie humana, como de muitas outras, pode

contribuir colateralmente para a emulação pecuniária aqui em apreço.

(18)

as is found among the peaceable gregarious animals generally; that is to say, it was primarily and chiefly sexual emulation … (Veblen 1934 [1898], 89)

Esta emulação pecuniária (competição entre os indivíduos, cuja régua da

vitória

é

a quantidade de

força

dispendida, e não a qualidade ou o valor funcional para a

plenitude da vida alcançada e/ou aumentada), deflexiona, deforma, diverte, e

perverte os fins últimos da vida; e obstaculiza, encobre, subjuga e deforma,

igualmente, o instinct of workmanship. Nestas condições, o instinct of

workmanship (que jamais deixa de atuar) manifesta-se como um

instinct of

sportsmanship

(IS) ou ´

salesmanship

´, uma espécie de bizarro do instinct of

workmanship. Veblen observa, adicionalmente, em um genial desenvolvimento do

raciocínio acima, que, como o instinct of workmanship atua permanente e

irrevogavelmente, sempre haverá de manifestar-se um simulacro de

funcionalidade e eficiência nas coisas e nos quadros culturais e econômicos

pecuniários. Mesmo nas culturas mais predadoras!.

DIAGRAM 3

(19)

persistentes elementos de desperdício e futilidades incorporam-se aos novos

objetos e processos, e assim sucessivamente. (ver Figura 7, página 27)

E o instinct of workmanship deformado, atuando sobre o próprio desperdício,

i.e.

,

dando

eficiência

(deformada – quantitativa) à própria competição, tende a elevar

mais ainda o desperdício e, paradoxalmente, a nossa própria repugnância

(consciente ou inconsciente) pelo objeto ´inovado´, numa sucessão de quadros

grotescos e de ineficiências econômicas (inclusive estéticas) que

jamais

são

interrompidos.

O instinct of workmanship pode ser igualmente

obstaculizado

ou deflexionado em

função de um fenômeno bastante curioso de auto-contaminação da nossa

constituição psicológica (quiçá fisiológica): o ´hábito´, inato à natureza humana,

força a repetição, sem variação, dos atos, processos e comportamentos

institucionalizados, pois ´fazemos melhor o que fazemos habitualmente´. E esta

eficiência que o hábito propicia atende, portanto aos requisitos (igualmente inatos)

do próprio instinct of workmanship. Assim, a repetição

não inovadora

(habitual),

i.e.

, obstaculizando o instinct of workmanship e as ´novas possibilidades´, pode

acabar sendo de alguma serventia, ao menos por algum tempo. Isto é o que

Veblen designou por ´

self-contamination of the instinct of workmanship

´. Pois …

[´faço melhor mudando, mas também faço melhor repetindo, ao menos durante

um tempo´ – MC]

Segundo Plano – intermediário; peri-energético; condensação e adensamento

das forças do primeiro plano (ver Diagrama 4). As forças deste 2º. plano

manifestam-se como comportamentos, pensamentos e emoções, e possuem

´poder organizador´ para o terceiro Plano.

As forças e as energias do primeiro Plano de organização das culturas

pecuniárias, de grandes complexidades e muitas vezes paradoxais ou

contraditórias, (mas certamente múltiplas e mutuamente interferentes), vistas

acima, adensam-se, condensam-se, e direcionam-se para um segundo e

importante plano de ordenamento social. Este segundo plano, ainda basicamente

incorpóreo, mais perceptível vis-à-vis o primeiro plano, é composto basicamente

por dois afluentes ou vetores:

(20)

Este segundo plano do esquema teórico de Veblen é uma espécie de molde

(fôrma) dicotômico incorpóreo, para

todas

as manifestações, expressões, e

objetivações da cultura pecuniária. Este molde dicotômico incorpóreo é, de fato, o

ponto arquimediano

de Veblen, pois é esta potência dicotômica, (as condensações

das forças do primeiro Plano em dois afluentes

divergentes, mas ambos presentes

e atuantes

), que irá orientar e conformar todas as expressões sociais do cotidiano

econômico e cultural.

Terceiro Plano – Plano material, corporal, formal, ou substancial; os objetos,

produtos, expressões, configurações, organizações e manifestações concretas.

Os objetos, os produtos, as expressões, as manifestações concretas das culturas

pecuniárias são, assim, organizadas, moldadas e corporificadas pelas forças e

vetores, propensões e sentimentos dos outros dois planos de impulsos e

motivações vistos anteriormente, principalmente pela dicotomia das forças e

motivações condensadas no segundo Plano (intermediário, A e Bp). E neste

sentido, pela própria natureza da

materialidade

de suas manifestações, contém as

características da estática do ´

esquema geral

´ de Veblen, vistas na 1ª. Parte deste

ensaio..

(21)

basear uma complacente comparação emuladora. Essa utilidade indireta empresta muito de seu valor às “melhores” classes de bens. A fim de apelar ao senso educado de utilidade, um artigo deve possuir uma quantidade módica dessa utilidade indireta. (Veblen 1957 [1899], 111)

Apesar de serem

moldados

sintética e essencialmente pelos dois afluentes do

segundo plano teórico de organização vistos acima, analiticamente,

todos

os

produtos e objetos das culturas pecuniárias são compostos por: 3 (três) elementos

tangíveis; e 4 (quatro) forças incorpóreas.

Os três elementos tangíveis serão aqui designados por B#, ´a´ e ´b´; e as quatro

forças incorpóreas serão designadas por ´A´, Bp; A.1 e Bp.1. (ver Diagrama 5

acima)

(22)

Exemplo n. 1: B# = um automóvel –

O Novo ´vestuário´ (mecânico) do homem

civilizado moderno

B# A#

B# = configuração material total do objeto; no caso, o automóvel em sua totalidade

material. Em geral, nas configurações dos produtos e dos objetos das culturas

pecuniárias, prodominam, claramente, os elementos emulativos, comerciais e

pecuniários; por esta razão designo-os por B#. Se o predomínio formal e

arquitetônico do objeto for funcional – como veio ocorrendo durante todo o século

XX, por razões que escapam o escopo deste artigo, o objeto manifesta-se

concretamente como A#, pois, conforme veremos adiante, apesar da

funcionalidade formal, e mesmo substancial crescente de quase todos os produtos

e objetos industriais do último século (XX), os sistemas de marcas e

branding

(em

geral) continuam mantendo as intenções e os valores emulativos pecuniários.

Para usarmos o mesmo exemplo deste item, um automóvel, o “

the new volks

beetle

” (ver Figura A# acima) manifesta-se mais como A# do que como B# , isto

é, possui uma configuração de eficiência dinâmica auto-motiva e mesmo mecânica

enorme, embora continue a ser um objeto

essencialmente

pecuniário, isto é, a sua

função primordial, manifesta (locomoção)

provavelmente

encontra-se deflexionada

e subordinada à sua motivação latente, que é servir de objeto de ostentação.

a = conjunto de elementos materiais concretos do automóvel que lhe permite

operar a sua função manifesta, ostensiva e objetiva; são os elementos de

serventia bruta material (

brute material serviceability

), ou seja a operação

funcional do automóvel para movimentar pessoas, animais ou cargas (os pneus,

os motores, as correias, etc.).

(23)

A.1 = função manifesta do automóvel, isto é, o transporte. (o serviço, impessoal, a

ser prestado);

Bp.1 = motivação latente do automóvel, isto é, ostentar status e/ou demonstrar

habilidade ou capacidade de pagar (a utilidade, privada, a ser usufruída);

A = group-regarding-sentiments, ou (

e.g.

), o instinct of workmanship; (instintos e

forças) provenientes dos planos espirituais, motivacionais e psicológicos que

buscaram, objetivamente, ao longo da História e da evolução, facilitar a

movimentação e o transporte dos Homens ou cargas (ou a adaptação ao meio; ou

o ´sucesso biológico´); São estas forças instintivas que organizam os

elementos

A.1 e ´a´ do objeto; (nos planos mais ´concretos´)

Bp = self-regarding-sentiments, ou (

e.g.

) a propensão à emulação predatória

(dominante em culturas pecuniárias); São estas energias (deformadas de uma

vital motivação de perpetuação, valorização e

self esteem

do indivíduo) que

organizam os

elementos

B.1 e ´b´ dos objetos.

Em resumo, podemos compactar as forças e os elementos acima, e afirmar que

todos os objetos, em culturas pecuniárias, possuem:

.(i) uma família de forças, propensões, instintos e elementos econômicos e

industriais; elementos de serventia e eficiência brutas, funcionais para a plenitude

da vida do indivíduo e do grupo; serviços a serem prestados; possuem uma ´

utility

in the first instance

´.

[ A ----> (A.1 e a) ]

.(ii) uma família de energias, proclividades, inclinações e elementos comerciais, de

utilidade circunscrita para o processo de emulação pecuniária, obtenção, elevação

ou manutenção de reputação, status e apreciação individual; ´

indirect or

secondary use

´; uma ´

secondary utility

´, que é precisamente a demonstração da

capacidade de pagar. (ability to pay).

(24)

Exemplo n. 2: B# = Um Vestido de Baile

B#

B# = o vestido em si (na sua totalidade);

a = elementos materiais concretos do vestido que fornecem funcionalidade, para a

sua função manifesta (proteção e/ou conforto no vestir-se);

b = elementos materiais concretos do vestido que visam demonstrar ´força

pecuniária´, isto é, capacidade de pagar;

A.1 = função manifesta do vestido de baile (o serviço a ser prestado; certamente

bem reduzido) (ver ´a´ acima);

Bp.1 = motivação latente do vestido de baile (utilidade a ser usufruída; certamente

a quase totalidade do ´

apparel

´) (ver ´b´ acima);

(25)

Bp = conjunto de energias históricas (e de estoque de desperdícios e/ou

futilidades atenciosamente elaborados e apreciados, que moldaram a confecção e

a tecelagem para utilidade no processo emulativo e de elevação da reputação do

usuário; hoje diríamos ... ´

the Fashion Industry

´;

In human apparel the element of dress is readily distinguishable from that of clothing. The two functions - of dress and of clothing the person - are to a great extent subserved by the same material goods, although the extent to which the same material serves both purposes will appear very much slighter on second thought than it does at first glance. (Veblen 1998 [1894], 65 Ed. S.Bowman)

Considerações Adicionais sobre o Vestuário como Expressão das Culturas

Pecuniárias e a ´moderna´ Teoria das Marcas Comerciais, Branding, etc.

Assim como muitos outros antropólogos, psicólogos, e teóricos sociais da época,

Veblen estudou minuciosamente o vestuário, e a indumentária como um todo. Por

exemplo, o capítulo VII (

Dress as an Expression of the Pecuniary Culture

) de seu

mais famoso livro (

The Theory of the Leisure Class

- 1899), reproduz, e amplia, as

reflexões de seu importante artigo de 1894 (

The Economic Theory of Woman´s

Dress

).

Porém, não foi curiosidade aleatória de Veblen a escolha do vestuário como objeto

de atenção para a teoria econômica. O vestuário, como ele mesmo indica, sendo

uma ´linguagem não verbal´, coloca em evidência,

prima facie

, as simbólicas ou

reais condições pecuniárias do indivíduo.

... Outros modos de por em evidência a nossa situação pecuniária servem a seus fins com eficácia, e há muitos em voga, sempre e por toda a parte; mas o dispêndio com o vestuário leva vantagem sobre a maioria, pois o nosso traje está sempre em evidência e proporciona logo à primeira vista uma indicação da nossa situação pecuniária a todos quantos nos observam. (Veblen 1957 [1899],118-119; Ed. S.Bowman)

(26)

Tanto nos objetos como um todo, como no vestuário em particular, ´

We find things

beautiful, as well as serviceable, somewhat in proportion as they are costly

´; ou,

visto de outro ângulo, ´

in order to be reputable it must be wasteful

´.

(27)

Além do processo cíclico das sucessões de estilos e modas, é interessante notar

que, durante a vigência, aceitação, e disseminação de um certo ´estilo´ (que é a

própria

moda

), o processo competitivo entre os indivíduos para a ostentação

crescente dos caracteres que definem e compõem o estilo, leva a moda a

manifestar-se cada vez mais como uma coleção de extravagâncias e barrocos; e o

estilo, então, dado o grotesco explícito de suas manifestações,

degenera e

começa a desaparecer.

Um dos princípios da moda parece ser o de que, uma vez aceito o exagero, ele se torna cada vez maior. (Laver, 1969-1982, 179)

Para um motivo criador, capaz de servir como motivo de invenção e inovação no campo da moda, pode-se afirmar, de modo geral, que cada inovação sucessiva no setor da moda constitui um esforço para alcançar alguma forma de exibição mais aceitável ao nosso sentido de forma, cor ou eficiência – mais aceitável do que aquela que ela desloca.; ... mas como cada inovação está sujeita à ação seletiva da norma do desperdício conspícuo, o âmbito no qual essa inovação se pode efetuar é algo restrito. A inovação não só tem de ser mais bela, ou, talvez, menos freqüentemente chocante do que a inovação substituída (i.e., anterior), mas precisa igualmente ficar à altura do padrão perdulário e de dispêndio aceitável.

Pareceria à primeira vista que o resultado de semelhante luta implacável para atingir o belo em questão de vestuário deveria ser uma aproximação gradual da perfeição artística. ... ou a forma humana.

O padrão de respeitabilidade pecuniária requer uma demonstração de dispêndio supérfluo; mas todo desperdício repugna ao gosto inato. Já se indicou aqui a lei psicológica de que todos os homens ... e mulheres, detestam a futilidade, seja no esforço ou nos gastos ... Mas o princípio de desperdício conspícuo requer gastos evidentemente fúteis; e o dispêndio perdulário conspícuo resultante no vestuário é, portanto, intrinsecamente feio. Daí que, em todas as inovações de vestuário, cada detalhe acrescentado ou alterado se esforce por evitar uma imediata condenação, mediante a exibição de algum propósito ostensivo, ao mesmo tempo que a exigência do desperdício conspícuo impede que a finalidade dessas inovações se torne outra coisa que não um certo pretexto transparente.

Até mesmo em seus vôos mais livres, raramente a moda se furta à simulação de alguma utilidade ostensiva. A utilidade ostensiva dos pormenores elegantes do vestuário é, entretanto um fingimento tão transparente e sua futilidade substancial em breve nos chama tão cruamente a atenção, que logo ele se nos afigura intolerável e, em conseqüência, buscamos refúgio em um novo estilo. Mas o novo estilo tem igualmente de se conformar com a exigência do desperdício e da futilidade bem conceituados. Essa, porém, se torna em breve tão odiosa como a do seu antecessor; e o único remédio que a lei do desperdício nos permite é procurar alívio em uma nova criação igualmente fútil e igualmente insustentável. Daí a feiúra essencial e a incessante mudança da moda em questões de vestuário. (Veblen 1957 [1899}, 122-124)

(28)

A Pioneira Contribuição de Veblen para uma Moderna Teoria das Marcas,

Brand-Names, etc. – Além de uma criativa e mesmo genial teoria da mudança

tecnológica e dos produtos, Veblen forneceu as bases para uma complexa teoria

das modernas marcas de comércio, indústria, e demais signos distintivos cobertos

pela propriedade industrial. A propósito, embora não seja objeto explícito deste

artigo, é importante ressaltar que o papel da propriedade industrial (principalmente

das marcas e patentes) na teoria de Veblen é essencial; e, curiosamente, a

expressão ´

propriedade

industrial

´, sintetiza as duas forças divergentes de seu

´esquema´

teórico. Ou, como visto acima,

[Veblen] argued that [modern capitalism] was inherently wasteful and his ideal was the exact opposite of the current society in which “the ulterior end sought is an increase of ownership, not industrial serviceability. (Edgell 2001, 8)

(29)

A reputação (ou

good.will

) que o desperdício material (quantitativo) oferecia ao

usuário, pela exposição conspícua da sua capacidade de comandar importantes

quantidades de ´recursos econômicos´ materiais, logo dispendiosos, (isto é, seu

capital [cabedal] tangível) concentrar-se-á, doravante, em um ´pequeno´ e sutil,

quase incorpóreo, índice de força pecuniária: a marca de comércio ou

brand

name

. Entretanto, este pequeníssimo índice de força comercial pode significar um

imenso capital intangível, tanto para o indivíduo, como para as empresas

comerciais, desde que concentre um estoque e uma potência pecuniária

significativos.

O importante para Veblen sempre foi explicar que o indivíduo, em culturas

pecuniárias, necessita demonstrar, prioritariamente, força ou habilidade de pagar

(e, adicionalmente, indicar que suas atividades associam-se ao processo

´aquisitivo – pecuniário – comercial´, e não ao processo ´produtivo ou econômico´

stricto sensu

). Se esta indicação provém do ócio conspícuo, do consumo

conspícuo de bens, da exposição de dispêndio conspícuo de elementos materiais

que porta ou carrega consigo, ou de um índice ou marca absolutamente sutil de

indicação daquela habilidade (desde que acompanhada de inerente prestígio

pecuniário), a

função

latente deste comportamento ou exposição estaria operando

em plenitude,

i.e

., a elevação de status e a comercialização do bom nome, sem a

necessidade de excessos grotescos evidentes.

Veblen sempre deixou claro que os indivíduos buscam não o desperdício em si,

mas o índice que este desperdício opera na sociedade.

It is not that the wearers or the buyers of these wasteful goods desire the waste. They desire to make manifest their ability to pay. (Veblen 1998 [1894], 70)

E é exatamente isto o que as modernas marcas de comércio e indústria ´fazem´:

indicam – não prioritariamente a funcionalidade do objeto ou processo, que é

secundário, e nem mesmo a ´origem´ dos mesmos – mas sim a capacidade

pecuniária do portador. É o prestígio e o

good.will

colados na ´Marca´ ´cara´

(dispendiosa) que é buscado pelo usuário-consumidor,

i.e.

, o que o consumidor

busca é transferir o

good.will

da marca/produto para si, e desfrutar, por

contaminação e infecção, deste

good.will

, ostentando-o para os demais indivíduos

do grupo.

(30)

Nos últimos cem anos, tem havido uma tendência perceptível, ... de abandonar os métodos de dispêndio e o uso de símbolos de ociosidade que seriam desagradáveis – símbolos que, em seu tempo, teriam servido para algum fim, mas cuja continuação nas classes mais altas da sociedade atual seria um trabalho supérfluo; ...

(31)

Assim, e como veremos com mais detalhes adiante, uma parte dos investimentos

prioritários

das empresas modernas ocorre em marketing, propaganda, ou

qualquer outro artifício de exposição conspícua da imagem da empresa (até os

mais sórditos,

e.g.

as campanhas de marketing da ´Red Bull´), i.e. nestas “

fábricas

organizadas de convencimento

” (

organized fabrication of popular convictions

). O

objetivo sistemático da estratégia empresarial moderna, portanto, como veremos

no próximo item, é a elevação do

goodwill

como um todo (um dos itens mais

importantes, senão o mais importante, de seu capital intangível), mais do que

qualquer esforço de investimento na inovação tecnológica funcional.

!

(32)

Terceira Parte

O Esquema de Veblen na Organização da Produção

O Moderno Sistema Industrial

(O Capitalismo Corporativo Financeiro)

...´mantendo ´buracos enlameados´ com a finalidade de cobrar dos demais para retirá-los dos mesmos.`

Veblen foi o primeiro economista a fornecer uma teoria consistente sobre o

funcionamento do moderno capitalismo financeiro (o

moderno sistema industrial

,

como designou). Seu segundo livro,

The Theory of Business Enterprise

(TBE), de

1904, é um dos livros mais importantes de economia do século XX, e, juntamente

com os dois artigos

On the Nature of Capital (I e II)

, 1908, e seu último livro

Absentee Ownership. The Case of América

, de 1923, formam o conjunto essencial

de reflexão de Veblen sobre o funcionamento das modernas corporações e o

papel hegemônico destas nos destinos da civilização contemporânea.

O objetivo deste item, entretanto, não é apresentar a imensa riqueza dos detalhes

e conclusões contidos em TBE, mas unicamente demonstrar que toda a teoria de

Veblen acerca das modernas empresas (

business enterprises

) segue,

fielmente

,

seu ´

esquema geral

´ dicotômico.

As grandes empresas produtivas modernas (as corporações, ou

limited liability

companies

) possuem uma estrutura dicotômica em todos os seus principais

aspectos. O aspecto industrial e produtivo ostensivo das mesmas encontra-se

subordinado aos interesses comerciais e pecuniários dos Homens de Negócio

Ausentes – os grandes e médios acionistas, que compõem, com outros

estamentos ociosos da sociedade, uma

kept class

divertida, cuja atividade

precípua é a acumulação de propriedades e não a produção de itens de serventia.

Ou seja, os elementos funcionais e ostensivos das

key enterprises

modernas

encontram-se subordinados (

overlaid

) aos elementos comerciais e às forças

pecuniárias. Isto faz com que uma corporação moderna seja, essencialmente,

uma

business enterprise

ou

going concern

, isto é, uma instituição onde os

interesses financeiros são preponderantes.

(33)

Capital nominal e Capital Efetivo - O capital de uma moderna corporação é um

fundo de valores monetários, e compõe-se de 2 partes: (1) o capital nominal, ou

patrimonial (cap), de interesse

provisório

para os objetivos últimos da corporação;

e (2) o capital efetivo, ou

business capital

(cap^), que é o valor total que as ações

da corporação atinge nas Bolsas de Valores ou nos mercados de capitais; também

designado por ´

market cap

´.

.(1) O valor do capital patrimonial ou nominal de uma corporação (cap) é um valor

relativamente fácil de identificação e possui relativa estabilidade, pois vincula-se,

majoritariamente, ao cabedal tangível das mesmas, e,

de jure

são os valores

lançados nos balanços contábeis (patrimoniais). Porém, certos itens intangíveis

podem ser contabilizados (conferidos ao balanço) por serem itens proprietários

exclusivos, (isto é, exeqüíveis e penhoráveis).

.(2) Por outro lado, o valor comercial das corporações (cap^),

business capital

, é

um valor essencialmente instável, volátil, especulativo, fortemente vinculado aos

ativos intangíveis das mesmas, principalmente ao

goodwill

, como veremos

adiante.

O capital de uma determinada corporação é ..., de jure uma magnitude estabelecida no passado por uma escritura de organização da companhia, ou pela emissão de títulos da companhia nos termos de sua escritura ...

(34)

Este capital efetivo (

business capital

) cap^ é função de 3 variáveis:

(1) (ea^) = a rentabilidade (

lucro

) total projetada do empreendimento (do

going

concern

), isto é, a

earning capacity of the going concern

; e que significa, de fato, a

capacidade putativa (

suposed, reputed

) da corporação de gerar lucros como um

todo. Esta ea^ encontra-se apenas indiretamente relacionada à lucratividade

industrial e operacional da empresa, podendo mesmo variar inversamente à

lucratividade operacional, como

e.g.

no caso, de alguns anos atrás, da empresa

Amazon.com, que manteve sucessivos ´prejuízos´ operacionais, mas ´excelente´

rentabilidade pecuniária e valor financeiro ou comercial;

O valor de qualquer bloco de capital gira em torno de sua rentabilidade; ... e não de seu custo original ou de sua eficiência mecânica. É só de maneira mais remota, e por intermédio da capacidade de rendimento, que estes últimos fatores mencionados afetam de maneira sensível o valor do capital. Esta capacidade de rendimento do capital depende, por sua vez, não tanto da eficiência mecânica dos itens adquiridos e vendidos no mercado do capital, como da “tensão” do mercado por mercadorias. ... a questão da capacidade de rendimento do capital se relaciona primacialmente com sua eficácia para fins de ´vendibilidade´, e só secundariamente com sua eficácia no tocante aos seus préstimos materiais. Porém a rentabilidade que, por esse meio, fornece base para a cotação do capital negociável (ou para a capitalização em Bolsa dos títulos negociados) não é constituída pela sua rentabilidade passada ou atual, mas, antes, pela sua suposta e futura rentabilidade; de maneira que as oscilações do capital na Bolsa – a variável capitalização dos títulos em Bolsa – gira em torno de futuros acontecimentos imaginados.

Todo capital lançado no mercado é por esse meio sujeito a intermináveis processos de valorização e revalorização – isto é, de capitalização e recapitalização – baseados em sua presumível capacidade de rendimento, por onde ele assume mais ou menos um caráter de intangibilidade. Porém os mais indefiníveis e intangíveis itens desse capital negociável são, ... os itens constituídos pelo “goodwill” capitalizado, já que estes representam ativos intangíveis desde o princípio até o fim. É sobre esse fator, o “goodwill” do capital, que incide de maneira mais imediata, a variação da presumível capacidade de rendimento, e este elemento apresenta as mais amplas e livres oscilações do mercado. As variações, no ativo capitalizado, do “goodwill” negociável são relativamente grandes e inconstantes, como o demonstram as oscilações das cotações das ações ordinárias. (Veblen 1958 [1904], 76)

(2) (i) = a taxa de juros básica mínima da economia; e

(3) (j) = um elemento especulativo fortemente presente. Assim,

cap^ = f [ ea^, (i), (j) ]

e calcula-se cap^ como:

(35)

Por exemplo: se a taxa de juros mínima da economia for 0,05, e a rentabilidade

projetada de uma corporação ea^ for $ 100.00, o valor pecuniário desta empresa

cap^, isto é, o capital efetivo (

business capital

) da corporação, naquele ´instante´,

no mercado, alcança, ficticiamente, o valor de $ 2.000,00 = [100,00/0,05].

Simplificadamente, isto equivale a dizer que o valor total das ações desta

corporação ´alcança´, neste instante, o montante de $ 2.000,00 (pois 100,00 é a

´renda´ obtida (ou os ´juros´ obtidos) pela aplicação de um capital (fictício) à taxa

de 0,05.

Qualquer variação (real ou imaginária, ou manipulada) em ea^, em (i), ou nos

ânimos dos jogadores, modifica, instantaneamente, o valor do capital efetivo da

empresa cap^. Por exemplo, se ea^ agora projeta uma rentabilidade de $ 200,00,

à mesma taxa de juros (i) de 0,05, o capital comercial da corporação cap^ eleva-se

(i.e., dobra) para $ 4.000,00 = [200,00/0,05]; sem que tenha havido qualquer

alteração, a princípio, nas operações industriais ostensivas da empresa.

Ainda, se ea^ = $ 100,00, mas a taxa de juros (i) cai para 0,025, o valor pecuniário

da empresa cap^ alcança os mesmos $ 4.000,00

A conclusão importante dos exemplos numéricos acima (os de maior simplicidade

possível, e com algumas lacunas) é que as corporações modernas são avaliadas

unicamente como unidades pecuniárias (aliás, assim como os ´indivíduos´), e

quaisquer variações na taxa de juros (i), ou nas expectativas de rentabilidade ea^

(expectativas estas que incluem manipulações, contra-informações, e outros

expedientes táticos profissionais dos

captain of finance

e demais

players

),

modificam os

valores

pecuniários e/ou comerciais das corporações, sem qualquer

indicação de variação, por exemplo, na serventia ou na eficiência industrial das

mesmas; e, complementarmente, sem qualquer variação no capital (nominal)

patrimonial (cap). Aliás, ´todas as coisas´ em culturas pecuniárias, são, então,

apreciadas por suas perdas e/ou ganhos numéricos (quantitativos), e não

avaliadas objetivamente pela serventia (bruta, impessoal) à vida ou ao bem estar

econômico.

A Capacidade de Rendimentos e o goodwill - O lucro projetado ea^

das

corporações, por sua vez, é função, basicamente, das assimetrias empresariais

obtidas ou comandadas, isto é, em essência, o

goodwill

lato sensu

da empresa

(GW). Em outras palavras, ea^ é função do ´grau de monopólio´ que a corporação

possui e/ou exerce sobre o mercado, representado por propriedades e/ou posses

de vantagens competitivas ou posições privilegiadas; sendo que os ´direitos

exclusivos´ (totais ou parciais) ao mercado (a propriedade industrial e/ou

comercial) são poderosas vantagens competitivas (

e.g.

, concessões públicas,

marcas, patentes,

copyrights

, etc.). Simbolicamente:

(36)

Em última instância:

ea^ = g (

goodwill

), ou

ea^ = g (GW)

Nessa capitalização da rentabilidade, o núcleo da capitalização não consiste no custo da instalação, porém no ´goodwill´ do estabelecimento ... Goodwill é um termo bastante extensivo e, ultimamente, adquiriu significado mais amplo do que outrora ... Vários itens ... são geralmente incluídos sob o título de ´goodwill´; porém todos os itens nele inclusos têm em comum o caráter de ´ativos imateriais´, ´cabedais intangíveis´, ... o que significa ... que esses ativos não tem serventia para a comunidade, mas apenas para os seus proprietários; goodwill ... inclui coisas tais como relações comerciais estabelecidas pelo exercício dos negócios, reputação de honestidade, concessões e privilégios, marcas registradas, qualidades, direitos patenteados, ´copyrights´, uso exclusivo de processos especializados protegidos por lei ou segredos, controle exclusivo de fontes particulares de determinados materiais. Todos esses itens concedem vantagens relativas aos seus proprietários ... (e não para a comunidade como um todo) ...

É nas corporações industriais que se manifesta mais claramente essa capitalização do goodwill ... A corporação ... é a forma típica, característica de organização comercial para a administração da indústria nos tempos modernos ... Muitas dessas corporações saíram de sociedades e firmas já existentes anteriormente, ... nesses casos de conversão de uma sociedade ... em corporação, ... a nova corporação incorpora em si todo o acervo do goodwill, sob uma forma ... ou outra, pertencentes anteriormente à sociedade que ela substitui. Contrariamente, quando uma florescente sociedade ... já conseguiu estabelecer firmemente o seu crédito e seu goodwill, compreendendo alguns ou todos os itens acima enumerados, sua sorte (ou destino) é tornar-se uma corporação, seja pela simples conversão na forma de corporação ou pela coligação com outras firmas para formarem uma corporação de maiores dimensões. …

Referências

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