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Educação para relações étnico-raciais: experiências na rede federal de educação / Education for ethnic-racial relations: experiences in the federal education network

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Academic year: 2020

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.26067-26076 may. 2020. ISSN 2525-8761

Educação para relações étnico-raciais: experiências na rede federal de

educação

Education for ethnic-racial relations: experiences in the federal education

network

DOI:10.34117/bjdv6n5-167

Recebimento dos originais:20/04/2020 Aceitação para publicação:11/05/2020

Mariana da Silva de Lima

Mestra em Biotecnologia pela Universidade Federal do Ceará Instituição: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará

Endereço institucional: Rua Francisco da Rocha Martins, s/ nº. Bairro Pabussu, Caucaia, CE. cep: 61609-090

E-mail: marianalima@ifce.edu.br

RESUMO

O relato de experiência descreve experiências exitosas no desenvolvidas Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, campus Caucaia, sobre a questão racial na escola. Os principais temas abordados foram a religiosidade afro-brasileira e o combate ao racismo no cotidiano escolar da rede pública do Estado do Ceará. A educação decolonial é uma temática ainda recente no ambiente acadêmico, no entanto é um assunto extremamente necessário a ser trabalhado visto que tanto a ciência produzida quanto os saberes ensinados na maioria das escolas do país ainda são baseados em uma epistemologia eminentemente eurocêntrica, sem levar em consideração as vivências e peculiaridades da formação de nossa sociedade. Assim, educadores do IFCE campus Caucaia, em dois momentos distintos, promoveram atividades de discussão e reflexão sobre o assunto. Inicialmente uma palestra foi promovida com uma professora de história, negra e militante do movimento INEGRA do Ceará. A palestrante abordou com os alunos conceitos como racismo institucional, racismo recreativo e injúria racial. Também abordou a temática da militância e sua importância para a construção de uma sociedade mais igualitária e justa. Posteriormente uma mesa redonda foi promovida com um sociólogo e uma pedagoga, ambos praticantes da umbanda, para falar sobre religiões de matriz africana para os estudantes.Os resultados das discussões tecidas ao longo dos dois eventos mostraram a importância da inclusão freqüente de temáticas raciais no âmbito escolar, de forma que a escola possa ser um lugar de construção de diálogo e respeito às diferenças.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.26067-26076 may. 2020. ISSN 2525-8761 ABSTRACT

The experience report describes successful experiences at the Federal Institute of Education, Science and Technology of Ceará, campus Caucaia, on the racial issue at school. The main themes addressed were Afro-Brazilian religiosity and the fight against racism in the public school system of the state of Ceará. Decolonial education is still a recent topic in the academic environment, however it is an extremely necessary subject to be addressed since both the science produced and the knowledge taught in most schools in the country are still based on an eminently Eurocentric epistemology, without taking into account considering the experiences and peculiarities of the formation of our society. Thus, educators at the IFCE campus Caucaia, in two different moments, promoted activities of discussion and reflection on the subject. Initially a lecture was promoted with a history teacher, black and activist from the INEGRA movement in Ceará. The speaker discussed with students concepts such as institutional racism, recreational racism and racial injury. It also addressed the issue of militancy and its importance for the construction of a more egalitarian and just society. Subsequently, a round table was held with a sociologist and a pedagogue, both Umbanda practitioners, to talk about African-based religions for students. school, so that the school can be a place for building dialogue and respect for differences.

Keywords: Decolonial education, Ethnic-racial relations, Anti-racist education.

1 INTRODUÇÃO

As pesquisas e estudos acadêmicos acerca das questões raciais no Brasil e como essas questões influenciam nossa sociedade ainda é considerado algo relativamente recente no Brasil. Santos (1997) foi um dos pesquisadores que se destacou no estudo da questão, abordando em seus textos a forma desproporcional com a qual a população negra é tratada em nossa sociedade. O pesquisador foi um dos primeiros a denunciar o estado de subcidadania dos afrodescententes em nosso país, o que ele chamou de “cidadania mutilada”.

Acerca da conjuntura das tensões raciais em nossa sociedade, é importante que haja uma diferenciação do que é a prática racista, por meio de condutas individuais, e racismo estrutural. A prática de exclusão, ou qualquer outra atitude individual que leve ao desfavorecimento, entre indivíduos, e que tenha como origem a discriminação racial, é a prática racista individual. Já o racismo estrutural é algo mais amplo, conjuntural, pois é a exclusão social de um grupo, levando esse grupo a ser submetido a uma sistemática desvantagem, algo que se torna ostensivo a nível cultural, institucional, e social como um todo (JONES, 2002). A estrutura da sociedade, principalmente por meio de políticas públicas e do funcionamento das instituições, exclui um grupo e o torna socialmente vulnerável (NASCIMENTO, 2016). Acerca do assunto, Almeida (2018, página 29) esclarece:

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.26067-26076 may. 2020. ISSN 2525-8761

“A concepção institucional significou um importante avanço teórico no que concerne ao estudo das relações raciais. Sob esta perspectiva, o racismo não se resume a comportamentos individuais, mas é resultado do funcionamento das instituições, que passam a atuar em uma dinâmica que confere, ainda que indiretamente, desvantagens e privilégios a partir da raça.”

A partir dessa reflexão acerca do racismo, é importante que se faça uma análise das instituições acadêmicas e educacionais como um todo. Nas instituições educacionais brasileiras, observa-se que a forma de fazer e legitimar o conhecimento são pouco democráticas, não representando os saberes de povos nativos ou afrodescentes. Na formação das instituições que atuam na educação de crianças e jovens de nosso país a epistemologia eurocêntrica foi e ainda é dominante em diversos aspectos. Sobre esse assunto, Benite e Silva (2018, página 192) afirmam:

“Neste contexto acadêmico, grupos não hegemônicos (negos, grupos iletrados, indígenas e subproletariados) vivem à margem do estrato escolar e social, sem voz ativa.

O currículo escolar é um cúmplice da ideologia excludente Ocidental. A escola reproduz as estruturas excludentes de poder e opressão historicamente herdadas, mantendo os grupos subalternos excluídos e silenciados.”

Assim, é necessário que estratégias possam ser postas em ação com o objetivo de corrigir essa grave falha de nosso sistema educacional, para que a forma de se fazer educação no Brasil possa respeitar a pluralidade da população.

A partir da conjuntura apresentada, acerca da carência de representatividade nos currículos escolares, é que as leis 10639/03 e 11645/08 vêm com a proposta de dar voz aos grupos historicamente subalternizados para que esses grupos possam contribuir com os currículos das instituições. A ciência deve ser plural, pois os saberes são plurais. É necessário que os currículos sejam descolonizados.

Foi pensando na necessidade de descolonizar os saberes que o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, campus Caucaia vem promovendo uma série de eventos e ações com a finalidade de inserir no cotidiano escolar temáticas que contemplem a população negra, fazendo sempre um paralelo com os saberes curriculares. A proposta dos eventos extra-classe tem objetivo de iniciar uma cultura de dialogar com essas temáticas para posteriormente serem inseridas pelos docentes em sala de aula.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.26067-26076 may. 2020. ISSN 2525-8761 O município de Caucaia faz parte da região metropolitana de Fortaleza, situado no Estado do Ceará. Nesse município há forte presença de povos indígenas e comunidades quilombolas. Segundo o último mapeamento das comunidades quilombolas do Estado do Ceará, Caucaia possui um total de nove comunidades oficialmente reconhecidas. Logo, é comum que muitos de nossos estudantes pertençam a essas comunidades, sendo, portanto, legítimo que os educadores pertencentes ao quadro do IFCE campus Caucaia pensem e dialoguem sobre novas metodologias e saberes a serem trabalhados na instituição, a fim de atender a realidade da diversidade de nosso público discente.

2 OBJETIVOS

Como objetivo geral, o trabalho teve como finalidade contribuir para a construção de uma cultura de educação antirracista no IFCE campus Caucaia.

Como objetivos específicos as intervenções buscaram:

Facilitar uma discussão acerca da questão racial no cotidiano escolar,

Contribuir para a sensibilização da comunidade escolar quanto à necessidade da inserção de conteúdos que contemplem a diversidade da população local,

Contribuir para o conhecimento acerca da diversidade religiosa, fomentando o respeito entre as diversas expressões da religiosidade.

3 METODOLOGIA

Educadores do IFCE campus Caucaia, em dois momentos distintos, promoveram atividades de discussão e reflexão sobre relações étnico-raciais, movimento negro e cultura e religiosidade afro-brasileira.

Inicialmente uma palestra foi promovida por uma professora convidada, pertencente ao quadro permanente dos docentes da Secretaria de Educação do Estado do Ceará. A docente convidada tem um histórico de engajamento na causa por uma educação decolonial, historiadora de formação, negra e militante do movimento INEGRA (Instituto Mulher Negra) do Ceará. As turmas envolvidas eram turmas do ensino médio integral do IFCE, logo, estudantes com uma faixa etária entre 15 a 18 anos. Além disso, tivemos a participação também de alguns docentes de outras disciplinas, algo considerado importante, visto que uma pedagogia antirracista deve ser abordada em todas as disciplinas do currículo escolar. A participação de outros docentes possibilita uma reflexão sobre o assunto por parte dos mesmos, se caracterizando também em um momento de aprendizado para os próprios docentes. Os

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.26067-26076 may. 2020. ISSN 2525-8761 estudantes do ensino médio do IFCE Caucaia estudam no regime de integral, participando de atividades letivas durante o turno da manhã e da tarde. No entanto, em dois dias da semana, no turno da manhã, outras atividades extra-curriculares podem ser desenvolvidas para o enriquecimento da formação dos alunos. Assim, em um dia da semana de atividade extra-curricular as turmas foram liberadas para a participação deste primeiro evento, intitulado “ Relações étnico-raciais no currículo escolar.”

Inicialmente a palestrante abordou com os alunos conceitos como racismo institucional, racismo recreativo e injúria racial. Explicou o racismo enquanto atitude individual, que o mesmo causa prejuízos para quem sofre e para as relações sociais como um todo. Conceituou também racismo institucional, mostrando que esse tipo de racismo é ainda mais amplo, e está nas instituições como escolas, universidades e outras organizações, causando uma exclusão de um grupo por questões de raça, tornando-o mais vulnerável do que outros grupos da sociedade. A seguir, a palestrante mostrou a crueldade que é o racismo recreativo, que se baseia na depreciação do indivíduo por meio de piadas e exposições de pessoas negras, algo muito comum entre os adolescentes. A professora investiu boa parte do tempo para mostrar que esse tipo de racismo, ao contrário do que muitos pensam, não é inofensivo e pode causar prejuízos psicológicos e de auto-estima nos indivíduos que sofrem com essa conduta.

Posteriormente deu-se início ao momento que a palestrante chamou de Relato de Vida, com a abordagem de suas experiências escolares até a juventude. A militante abordou na palestra experiências pessoais enquanto estudante, e como se deu em sua vida as relações com colegas de escola e de faculdade. Falou de sua adolescência de preterimento na vida escolar, de como não se reconhecia no conteúdo estudado, inclusive na disciplina de história, matéria escolar com a qual sempre se identificou mais. Porém, para a palestrante, o fato das disciplinas tratarem sempre de saberes eminentemente eurocêntricos causava um constante estranhamento e certo desconforto. À medida que a juventude chegou ela foi desenvolvendo ainda mais o senso crítico acerca do que estudava, da cultura dominante que a cercava e de como ela não se reconhecia em tudo aquilo.

A estratégia usada pela docente na palestra, ao relatar suas experiências, tinha o objetivo de desenvolver a empatia nos estudantes, para que a partir daí muitos se colocassem no lugar apresentado pela professora

Uma palestrante negra, militante, que tem consciência da real conjuntura na qual a população negra está inserida no Brasil e que, sobretudo, passou por experiências de racismo,

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.26067-26076 may. 2020. ISSN 2525-8761 é importante nesse tipo de intervenção. Isso possibilita uma atividade mais humanizada, não apenas técnica no sentido da apreensão do conhecimento. O relato de vida também objetiva o encorajamento do público para participar do último momento da palestra, que é a escuta atenta, para uma construção coletiva da intervenção.

No terceiro momento, foi feita uma explanação sobre os dados de pesquisas acerca do racismo no Brasil. Esses dados tratavam dos mais diversos assuntos como segurança pública e a relação racial no encarceramento, racismo e preterimento nas relações sociais, a exclusão da população negra na mídia nacional, racismo e mercado de trabalho. Esse momento foi importante por dois motivos. Primeiramente para que o público constatasse o nível do problema, visto que muitos afirmam ainda hoje que o racismo no Brasil não existe ou é algo que ocorre com pouca freqüência. Além disso, a importância desse momento se dá a partir do momento em que a palestrante mostra que a questão não é tratada ou enfatizada com certa parcialidade (visto que o momento anterior foi o Relato de Vida), mas que existem dados que embasam o discurso ali apresentado.

A seguir a professora abordou a temática da militância e sua importância para a construção de uma sociedade mais igualitária e justa. Ela mostrou para o público que há maneiras de organização coletiva para reivindicação de direitos, educar e conscientizar a população e trabalhar o auto-cuidado coletivo para fortalecer a população negra vítima de constantes injustiças. Além disso, foram dados vários exemplos de coletivos e movimentos pacíficos existentes que têm a finalidade de promover uma sociedade igualitária e combater todo o tipo de discriminação racial.

Ao final, foi aberto o espaço para fala dos participantes. Aqueles que quiseram se manifestar realizaram a inscrição com a mediadora da palestra, tendo sido aberto o espaço de fala tanto para professores quanto para estudantes. Após as manifestações, perguntas dos participantes e respostas da palestrante, o primeiro dia de intervenção foi concluído. A seguir, a Tabela 1 mostra a sistematização da intervenção do primeiro dia.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.26067-26076 may. 2020. ISSN 2525-8761

Tabela 1: Planejamento sistematizado da primeira intervenção no IFCE campus Caucaia (CE).

Temas específicos

apresentados Estratégia de apresentação

Objetivos a serem alcançados no público

Conceitos gerais sobre racismo no Brasil

Por meio de figuras, slides e exemplos práticos

Fazer o público formar um arcabouço de conhecimento básico para entendimento do tema.

Relato de Vida Depoimento pessoal

Desenvolver a empatia do público sobre a temática; Encorajamento de outros estudantes.

Dados quantitativos referentes ao assunto

Uso de dados de pesquisas sobre racismo no Brasil

Desenvolver no público a percepção da gravidade do problema;

Mostrar que isso é um problema social e não uma percepção pessoal. Experiências de militância Explanar os resultados de intervenções práticas e coletivas Desenvolver no público a percepção de que há formas de mudar a situação;

Estimular o engajamento cotidiano do público.

Momento de escuta dos estudantes

Convite feito ao público em geral (professores e

estudantes)

Encorajar o público a relatar suas experiências;

Fazer o público refletir acerca de seu cotidiano.

Na semana seguinte à primeira intervenção, um segundo evento foi planejado pela direção de ensino, por meio de um dos docentes de biologia, em parceria com o serviço social do campus. O planejamento prévio foi importante para que se pudesse organizar uma boa divulgação no âmbito escolar, para servidores e alunos, e também fora da escola, para a comunidade local. O segundo evento consistiu em uma mesa redonda sobre Religiões de Matriz Africana, tendo tido ampla divulgação nos espaços reservados para este fim no campus Caucaia. O setor de comunicação social apoiou o evento com a elaboração e divulgação de cartazes sobre a mesa-redonda e chamadas nas redes sociais para os alunos participarem.

O evento teve como palestrantes uma conhecida pedagoga, que também atua ativamente como escritora e cantora de um grupo tradicional de Afoxé no Estado do Ceará, tendo a mesma já lançado livros infantis com temáticas étnico-raciais. Além disso, a referida palestrante também é praticante de umbanda. O segundo palestrante é sociólogo e umbandista. Militante contra o racismo cultura e religioso.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.26067-26076 may. 2020. ISSN 2525-8761 A pedagoga iniciou o debate apresentando de maneira muito poética as religiões de matriz africana. Sua abordagem foi riquíssima em imagens, músicas e poesia. À medida que o tempo ia avançando ela abordava divindades e suas histórias. Fez um paralelo com os santos e com as histórias da cultura cristã. Ao final, a artista cantou uma música sobre as divindades, ensinando para os estudantes e solicitando que todos ajudassem a cantar. O encerramento de sua fala aconteceu sob aplausos de todo o público participante. O segundo palestrante, o sociólogo, era um jovem recém-formado e seu foco principal foi apresentar a umbanda, relatar como iniciou suas atividades na religião e as dificuldades enfrentadas. A fala do sociólogo foi interessante pelo fato de ter se mostrado mais próxima dos alunos, já que sua fala também foi permeada de suas experiências na juventude, o que facilitou de certa forma a identificação do público com a fala do sociólogo. Ao concluir sua fala, foi aberto um espaço para perguntas do público. Muitos estudantes tiraram suas dúvidas e outros elogiaram publicamente o evento, reconhecendo como algo bastante enriquecedor.

4 RESULTADOS

A escola é um dos lugares onde os indivíduos aprendem a viver em sociedade, desenvolvem valores pessoais a partir de suas experiências com outros grupos e têm a possibilidade de aprender noções de moral e de ética de maneira coletiva (OLIVEIRA et al., 2013). Nosso objetivo com as intervenções promovidas no IFCE campus Caucaia foi de fazer com que o público tivesse a experiência de dialogar uns com os outros sobre algo tão relevante e presente em nosso cotidiano que é o preconceito racial e suas conseqüências reais na vida de todos. Além disso, levar o público a refletir sobre o assunto por meio de debates coletivos é uma das formas de propiciar a superação de preconceitos e a construção de valores a partir das relações que os próprios adolescentes têm uns com os outros, dando-lhes a liberdade de desenvolverem uma ética própria, sendo o momento formativo o impulsionador e norteador do processo.

A primeira intervenção foi muito positiva para os alunos, sendo o resultado desse primeiro momento mensurado de maneira qualitativa por meio do momento de escuta livre do público. Os estudantes, e alguns professores, reconheceram como a fala da professora ampliou a percepção de que algumas atitudes individuais, antes consideradas inofensivas, poderiam se mostrar bastantes nocivas para pessoas vítimas de certos comportamentos como piadas, comentários e juízos de valor. Também foi comentado como a visão de alguns estudantes

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.26067-26076 may. 2020. ISSN 2525-8761 sobre a participação de afro-descentes na mídia ganhou um novo sentido depois da fala da palestrante.

Na segunda intervenção os estudantes também se expressaram de maneira satisfatória, sendo também os resultados mensurados de maneira qualitativa, por meio do feedback do público. A pedagoga foi muito reverenciada por sua fala e pela maneira lúdica com a qual apresentou as religiões de matriz africana, suas divindades e seus ritos. De acordo com os estudantes, foi uma forma muito prazerosa de aprender sobre a cultura negra e como ela está tão presente no cotidiano da sociedade brasileira. Após a palestra, muitos estudantes foram conversar pessoalmente com o sociólogo, pois a identificação do público adolescente com a fala do palestrante foi bastante significativa, o que também contribuiu para o resultado positivo do evento.

Os resultados das discussões tecidas ao longo dos dois eventos mostraram a importância da inclusão freqüente de temáticas raciais no âmbito escolar, de forma que a escola possa ser um lugar de construção de diálogo e respeito às diferenças.

Após ambos os eventos, diálogos com o corpo docente também mostraram que muitos foram positivamente influenciados pelas duas intervenções.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O enfrentamento dos problemas sociais e a decisão de como enfrentar esses problemas é algo a ser trabalhado conjuntamente no âmbito escolar. Ao mesmo tempo em que a escola tem o objetivo de ensinar o conhecimento científico, cabe a escola também propiciar momentos para que os estudantes entendam como colocar o conhecimento científico a serviço da sociedade.

Como observado por meio da reação do público, nossos objetivos de contribuir para que a temática das questões raciais fosse discutida na escola foi contemplado, além de também sensibilizar não só estudantes, mas também servidores em geral quanto ao tema trabalhado. Os educadores que participaram das atividades tiveram a oportunidade de ver metodologias de abordagem do assunto com o público adolescente, além de perceber a importância do tema enquanto parte do conteúdo a ser trabalhado, ainda que de maneira transversal, ao longo do semestre. Uma educação ativa e que emancipa os estudantes precisa ser pensada de maneira coletiva por todo o corpo docente, e ambos os eventos contribuíram para o início dessa percepção em todos os servidores que participaram.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.26067-26076 may. 2020. ISSN 2525-8761 Por fim, é sempre importante refletir que não se respeita o que não se conhece. Assim, para que alcancemos uma sociedade onde o respeito à diversidade religiosa é uma realidade, é necessário que as diversas expressões da religiosidade brasileira, sua história e valorização, possam ser abordadas em momentos formativos na escola. A segunda intervenção alcançou o objetivo de apresentar de maneira positiva religiões de matriz africana, contribuindo para desenvolvimento do respeito de diferentes crenças.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, S. L. O que é racismo estrutural? 1ª.Ed. Belo Horizonte/MG: Letramento. 2018. p. 29.

BENITE, A. C.; SILVA, J. P. Educação e Descolonização: Tessituras sobre a reinvenção do poder no Currículo de Química. In: KOMINEK, A. M. V.; VANALI, A. C. Roteiros temáticos da diáspora: caminhos para o enfrentamento ao racismo no Brasil. 1ª. Ed. Porto Alegre, RS: Editora Fi. 2018.

JONES, C. P. Confronting institutionalized racism. Phylon, Atlanta. v. 50, n. 1, p. 7-22, 2002. NASCIMENTO, A.. O genocídio do Negro brasileiro: processos de um racismo mascarado. 1ª Ed. São Paulo: Perspectivas. 2016.

OLIVEIRA, T.; VIANA, A.P.S.; BOVETO, L.; SARACHE, M.V. Escola, conhecimento e formação de pessoas: considerações históricas. Políticas Educativas. Porto Alegre, v. 6, n.2, p. 145-160, 2013.

SANTOS, M.. As cidadanias mutiladas. In: LERNDER, JÚLIO. O preconceito. 1ª. Ed. São Paulo, 1997.

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Tabela 1: Planejamento sistematizado da primeira intervenção no IFCE campus Caucaia (CE)

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