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I – Petróleo e Gás na Economia na Nigéria

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Petróleo e Insurgência Armada na Nigéria

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Marco Cepik e Lucas Oliveira**

A Nigéria é um dos grandes fornecedores africanos de petróleo para os Estados Unidos

e vem ampliando suas exportações petrolíferas também para a China. Neste artigo,

analisamos a relação entre o petróleo e os conflitos armados neste país, em especial na

região do Delta do rio Níger.

Desde sua independência em 1960, a Nigéria passou por muitos conflitos armados e

períodos de instabilidade política. Desde a guerra de Biafra (1967-1970), quando quase

um milhão de nigerianos da etnia ibo foram mortos, há uma tendência da mídia e dos

analistas de política internacional em caracterizar os conflitos naquele país como sendo

motivados exclusivamente por razões étnicas. Mesmo quando a violência civil é

decorrente de padrões de amizade e inimizade constituídos por meio de outras

dicotomias (muçulmanos versus cristãos, sul versus norte, seguidores do Partido

Democrático do Povo versus outros partidos, partidários do regime versus oposição

etc.), predomina na mídia um enquadramento étnico para o conflito que já teria custado

a vida de mais de dez mil pessoas entre 1999 e 2006.

Embora constituídos por diferentes etnias (23% de hauçás, 22% de fulanis, 21% de

iorubás e 18% de ibos, entre outros), grupos lingüísticos e crenças religiosas (cristãos

protestantes e católicos, muçulmanos sunitas e xiitas, crenças animistas tradicionais), os

mais de 140 milhões de habitantes da Nigéria formam um país no qual o processo de

construção de um Estado democrático e efetivo é crucial para o futuro da África e para a

estabilidade da região do Golfo da Guiné. Este papel decisivo da Nigéria ficou

demonstrado no caso das intervenções lideradas por este país na Comunidade

Econômica dos Estados da África Ocidental (em inglês, Economic Community of West

African States (ECOWAS)) nas guerras civis da Libéria, Serra Leoa e Costa do Marfim.

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Assim, para que se considerem adequadamente os problemas de segurança internacional

decorrentes dos conflitos internos na Nigéria, é preciso levar em conta também os

problemas associados ao desenvolvimento econômico e à construção institucional dessa

república presidencialista e federativa (formada por 36 estados, além da capital federal,

Abuja). No caso do conflito armado no Delta do Níger, a questão central do contencioso

tem sido o petróleo, mais especificamente a divisão dos rendimentos advindos de sua

exploração.

O restante deste artigo divide-se em duas partes. Na primeira parte, situamos o papel do

petróleo na economia da Nigéria. Na segunda parte, analisamos as ações armadas do

Movimento pela Emancipação do Delta do Níger (em inglês, Movement for the

Emancipation of the Niger Delta (MEND)) e da Força Voluntária dos Povos do Delta

do Níger (em inglês, Niger Delta People's Volunteer Force (NDPVF)) desde 2004, no

contexto do conflito pela redistribuição dos rendimentos do petróleo e da precariedade

das instituições governamentais responsáveis pelo provimento de ordem pública e

justiça.

I – Petróleo e Gás na Economia na Nigéria

A Nigéria é hoje o maior produtor de petróleo do continente africano, posto que

alcançou após décadas de crescimento da produção, que atualmente ultrapassa a marca

dos 2,6 milhões de barris diários, dos quais mais de 65% são formados por óleo leve

com baixos teores de enxofre, além de quantidades menores de petróleo médio e

pesado.

A produção nigeriana começou em 1958, inicialmente com 5.100 barris por dia. Em

1964, o país já ultrapassava a marca dos 120.200 b/d. O crescimento da produção foi

acelerado e atingiu 1.083.100 b/d em 1970. Apesar de chegar a 2.054.300 b/d em 1973,

a produção nigeriana oscilou bastante no período 1970-1980, chegando a cair

novamente para 1,2 milhão de b/d. Ainda em 1977, foi criada a empresa estatal que

passou a controlar a produção nacional e que se tornaria a atual Nigeria National

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Durante as décadas de 1980 e 1990, a produção nigeriana variou entre 1,4 e 1,9 milhão

de barris, ultrapassando novamente os dois milhões de barris diários em 2000. Esta

variação menor ao longo de duas décadas, acompanhada de uma relativa estabilidade

nos preços internacionais do petróleo, resultou em relativa estabilidade no valor das

exportações, que atingiram um pico de pouco mais de US$ 16,5 bilhões em 1996-1997.

O crescimento do valor das exportações nos últimos cinco anos teve grandes efeitos no

PIB nigeriano, que passou de US$ 46 bilhões em 2002 para mais US$ 72 bilhões já em

2004. No período entre 2000 e 2005, apesar de uma variação relativamente pequena na

produção de petróleo, a tendência geral foi de crescimento das exportações nigerianas,

que passaram de US$ 25,45 bilhões em 2000 para US$ 47,93 bilhões em 2005, mesmo

considerando as oscilações de 2001 e 2002, quando as exportações caíram

respectivamente para US$ 17,69 bilhões e para US$ 18,57 bilhões.

De forma semelhante ao caso angolano, na Nigéria as exportações totais mais do que

dobraram entre 2000 e 2005. Este crescimento nas exportações totais se deu

principalmente pelo aumento de mais de 130% nas exportações petrolíferas e foi

acompanhado de um crescimento de 115% do PIB no mesmo período. Se for

considerado que a produção não cresceu tanto em termos relativos (apenas 15%), o

aumento dos preços do barril de petróleo foi o principal responsável pelo crescimento

do PIB e das exportações totais nigerianas entre 2000 e 2005.

Apesar do PIB nigeriano ter mais que dobrado em menos de cinco anos, o país continua

tendo a menor renda per capita entre os países-membros da Organização dos Países

Exportadores de Petróleo (OPEP), de apenas US$ 752. Isto significa quase quatro vezes

menos que a média da OPEP, de US$ 2.649,00 per capita. Isto em um contexto em que

outros países africanos da OPEP têm uma renda per capita bem superior, como a

Argélia, que é pouco mais de quatro vezes maior (US$ 3.113), ou a Líbia, cuja renda

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De fato, sendo a Nigéria o país mais populoso do continente, há um evidente

desequilíbrio na distribuição da riqueza decorrente do petróleo, tanto em termos da

renda per capita quanto em termos regionais. Além disso, este é um ramo da atividade

econômica em que a renda geralmente é concentrada nas mãos de poucas grandes

empresas, essencialmente exportadoras, e os benefícios de sua exploração dificilmente

são percebidos pela população, mesmo que a quantidade de petróleo exportado seja

muito grande. Países que conseguem distribuir a renda do petróleo na forma de

benefícios sociais ou serviços a toda sua população são casos raros entre os países

exportadores de petróleo. Muitas vezes, a Noruega é citada como exemplo, mas talvez

seja o único país que consiga beneficiar a maior parte da sua população (de 4,5 milhões)

com os rendimentos das exportações petrolíferas.

A maior parte das exportações nigerianas tem como destino a América do Norte,

especialmente os EUA, para onde a Nigéria exportou cerca de 877 mil b/d em 2004.

Depois dos EUA, o maior mercado comprador de petróleo nigeriano é a Europa, com

505 mil b/d, seguida da Ásia, com 450 mil b/d, da América Latina, com 236.200 b/d e

outros países da África, com 211 mil b/d. Em termos percentuais, segundo a estatal

nigeriana do petróleo, metade do petróleo exportado pela Nigéria em 2005 teve como

destino a América do Norte, principalmente os Estados Unidos, outros 17,55% para

Europa e 17,54% para Ásia e Pacífico. No caso das exportações para a Europa, houve

aumento geral, mas o grupo de principais compradores europeus foi modificado, pois

em 2000 eram França (1º), Alemanha (2º) e Holanda (3º), passando a ser Espanha (1º),

França (2º), Itália (3º), Holanda (4º) e Portugal (5º) em 2005.

O grupo de compradores mais tradicionais reduziu as compras de petróleo nigeriano,

entre outros motivos, em virtude das constantes interrupções na produção na região do

Delta do Níger ao longo de 2005, resultado de ataques de grupos rebeldes às instalações

e do seqüestro de funcionários de algumas empresas petrolíferas como a Shell e a Total.

Somente em 2004, aconteceram cerca de dois mil casos de ataques aos oleodutos,

classificados como “vandalismo” pela NNPC, sendo 1.017 casos no duto de Port

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continuaram freqüentes, reduzindo a capacidade máxima de produção nigeriana em

mais de 400 mil b/d.

Praticamente todas as grandes companhias petrolíferas do mundo possuem áreas de

produção ou exploração na Nigéria, principalmente a Chevron-Texaco, a Exxon-Mobil,

Shell, Total-Fina-Elf, Eni-Agip, British Petroleum, Britsh Gas, Statoil, Sinopec, CNPC

e Petrobras. Também há uma grande quantidade de pequenas e médias empresas,

geralmente classificadas como independentes, atuando no país, tais como a SunOil,

Tenneco, ConocoPhillips, Deminex, Nexen etc. Porém, mesmo com esta variedade de

empresas com concessões de exploração, a estatal NNPC é responsável pela maior parte

da produção petrolífera do país (60%). A produção da NNPC é seguida pela Shell,

Chevron-Texaco, Exxon-Mobil e Total. A empresa estatal nigeriana também é

responsável pelas concessões de blocos de exploração e produção petrolífera em

parceria com as grandes multinacionais, seja na forma de Joint Operating Agreements

(JOAs) ou de Production Sharing Contracts (PSCs). No caso das empresas classificadas

como independentes, a NNPC costuma fechar contratos de risco para exploração e

produção.

A Nigéria é também o único país subsaariano que tem uma grande quantidade de

pequenas e médias empresas petrolíferas nacionais privadas, também classificadas como

companhias independentes. Entre estas, destacam-se a EER, Equity Energy Resources,

Conoil, Zenon Petroleum, Petroman, Afren PLC, Addax Petroleum, Amni International

e a Equator Petroleum Ltd. Na maior parte das vezes, estas empresas nigerianas

exploram e produzem petróleo em parceria com multinacionais. Algumas destas

empresas também possuem investimentos e operações de exploração e produção de

petróleo em outros países africanos, principalmente do Golfo da Guiné. A Afren e a

Equator Petroleum possuem áreas de exploração entre Nigéria e São Tomé e Príncipe,

sendo que a primeira também possui blocos no Congo e no Gabão.

Outra empresa importante na Nigéria é a semi-estatal Nigeria Liquefed Natural Gas

Company (NLNG), responsável pela liquefação de gás exportado atualmente. A estatal

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total de 5,1 trilhões de metros cúbicos, pouco mais de um terço das reservas africanas.

Apesar disso, só recentemente o país começou a exportar este recurso, começando com

um total de 740 milhões de m3 em 1999 e atingindo 12 bilhões de m3 em 2005. Este

volume é significativamente menor que o exportado pela Argélia no mesmo ano, um

total de 64,26 bilhões de m3, mas foi quase o dobro das exportações líbias, de 5,4

bilhões de m3.

No contexto mundial, as exportações africanas de gás natural atingiram 89,69 bilhões de

m3 de gás natural em 2005, quase 40 bilhões a mais que as exportações do Oriente

Médio, que foram de 50,43 bilhões de m3. O peso relativo na produção mundial (%) é

significativo se a produção africana for considerada em bloco, mas é quase

insignificante se for considerada só a África subsaariana, pois a maior sub-região

produtora é o Norte da África. Enquanto a Nigéria exporta 12 bilhões de metros

cúbicos, o norte da África exporta os outros 77.696 bilhões, sendo 64,2 bilhões

exportados pela Argélia, 8 bilhões pelo Egito e 5,4 bilhões de metros cúbicos pela Líbia.

Do total de gás exportado pela Nigéria, 2,4 bilhões de metros cúbicos são exportados na

forma de Gás Natural Liquefeito (GNL) utilizando dezoito navios-tanque específicos

para este tipo de transporte. Nesta modalidade de transporte de gás (GNL), a exportação

nigeriana sozinha representa quase um terço das exportações da OPEP (7,51 bilhões de

m3) e pouco mais de 10% do total mundial, que foi de 22,87 bilhões de m3 de GNL em

2005.

Apesar do crescimento das reservas nigerianas de petróleo, de 29 para 36 bilhões de

barris em 2005, a produção total nigeriana já acumulava 24,4 bilhões de barris

produzidos desde 1958. Isso significa que, se não for mantido um ritmo intenso de

descobertas de novas reservas, dentro de doze ou no máximo quinze anos a Nigéria terá

consumido metade de suas reservas conhecidas atualmente, o que normalmente coincide

com o pico de produção petrolífera. Como é raro um país aumentar a produção depois

de alcançado o pico de produção relativo ao volume de reservas conhecidas, geralmente

este momento marca o início da depleção produtiva. No entanto, se o ritmo de novas

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depleção será tranqüilamente mantida pelas novas descobertas, permitindo inclusive

atingir as projeções mais otimistas de mais de 4,5 milhões de barris diários em 2020.

Recentemente, o ministro do petróleo nigeriano afirmou que até 2008 a Nigéria estaria

produzindo quatro milhões de barris diários, com a meta de alcançar 4,5 milhões de b/d

em 2010. Segundo as autoridades nigerianas, esta produção seria sustentável por pelo

menos uma década e permitiria ao país aumentar significativamente suas exportações

para mercados em rápida expansão como o chinês. Em troca, o governo chinês tem

investido mais de quatro bilhões de dólares por ano em obras de infra-estrutura e

iniciativas de exploração conjunta de petróleo. Mais de 90% das exportações nigerianas

são representadas pelo petróleo e o restante é formado majoritariamente por riquezas

minerais como estanho e minério de ferro, além do gás natural. Dada a centralidade do

petróleo na economia nigeriana, é notável que as análises sobre os conflitos naquele país

tendam a minimizar este fator em favor da chave interpretativa dos “conflitos étnicos”

ou da linha de fratura do “choque de civilizações”.

II – O Conflito no Delta do Níger

Eleito presidente em 1999 e reeleito em 2003, o general Olusegun Obasanjo governou a

Nigéria até a última semana de maio de 2007, quando transferiu pela primeira vez na

história do país o governo para outro presidente eleito. Após fracassar a tentativa de

emenda constitucional que permitiria a Obasanjo concorrer a um terceiro mandato de

quatro anos, o então presidente passou a apoiar o governador do estado nortista de

Katsina, Umaru Musa Yar’Adua, contra outros pré-candidatos do próprio Partido

Democrático do Povo (PDP) e, já nas eleições, contra os dois principais candidatos dos

partidos de oposição. Como nas duas eleições anteriores que consolidaram as vitórias de

Obasanjo, o presidente Yar’Adua foi eleito em pleito criticado pela oposição e por

observadores internacionais por suas irregularidades, mas obteve em abril 70% dos

votos (24,6 milhões de votos).

Mesmo sem entrar em maiores detalhes sobre os processos políticos, sociais e

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que, ao mesmo tempo em que o PIB do país mais do que dobrou entre 1999-2006, a

dívida externa do país foi praticamente eliminada e a instalação de uma comissão

federal para combater crimes econômicos e financeiros (EFCC) sinalizou alguma

melhora na legitimidade das agências de governo, houve também ao longo do período

significativa elevação do custo de vida, aumento do desemprego, abundância de

escândalos de corrupção, degradação dos serviços de água e eletricidade, aumento das

tensões religiosas no norte do país (onde a maioria dos estados aplica a lei muçulmana Šarī‘ah) e conflitos armados na região sul do país onde se concentra a produção do petróleo.

Ao suceder Obasanjo, um militar cristão da etnia iorubá originário do sul, o presidente

Yar’Adua, um professor de química muçulmano da etnia fulani originário de uma

família aristocrática do norte, terá como principal desafio lidar com o agravamento do

conflito armado na região do Delta do Níger.

Os ataques armados contra as instalações da indústria do petróleo agravaram-se a partir

de 2004, quando os grupos rebeldes Movimento pela Emancipação do Delta do Níger

(MEND) e Força Voluntária dos Povos do Delta do Níger (NDPVF) passaram a

politizar um confronto que até então era caracterizado pelas autoridades de Abuja como

atos criminais e vandalismo. Estes grupos, geralmente formados predominantemente

por etnias do Sul da Nigéria como os ijos (sudeste) e ogoni (sudoeste), têm apoio

popular local e vêm conseguindo manter um longo enfrentamento com as forças

governamentais, sempre ameaçando ampliar a escala do conflito.

Os dois grupos seqüestraram mais de 180 trabalhadores estrangeiros das empresas de

petróleo nos últimos dezoito meses, tanto nas próprias instalações das indústrias quanto

no centro de Port Harcourt, capital do estado de Rivers. Além dos seqüestros e

enfrentamentos armados com as forças do governo, os grupos insurgentes têm sido

capazes de explodir oleodutos, interromper a produção e desviar petróleo para

contrabando, afetando em níveis diversos 25% da produção nigeriana em 2006. O

governo nigeriano declarou perdas de mais de quatro bilhões de dólares em 2006, sendo

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forte alta dos preços internacionais. Além disso, as ações dos bandos armados e grupos

insurgentes começaram a afetar a vida de toda a população nigeriana, pois a falta de

gasolina que assolou o país recentemente esteve diretamente ligada aos ataques contra

as refinarias das cidades de Warri, no delta, e Kaduna, no centro-norte do país.

Em resposta à deterioração da situação no último ano, o presidente Obasanjo havia

estabelecido uma força tarefa militar conjunta (em inglês, Joint Task Force (JTF)) e

iniciado uma campanha de contra-insurgência na região (Operation Restore Hope).

Entretanto, as tropas da própria JTF sofreram pesadas baixas nos últimos meses, na

medida em que o MEND e o NDPVF foram se transformando, de bandos de jovens

déclassée indisciplinados e mal-armados, em forças relativamente bem armadas,

disciplinadas e capazes de sustentar combates.

Inicialmente, o governo de Abuja também contou com vários acordos de vendas de

armas, assistência e treinamento militar com os Estados Unidos, culminando com um

acordo de patrulhamento das águas da região do Delta do Níger. Além disso, o governo

Bush classificou alguns dos grupos insurgentes do Delta do Níger como terroristas

internacionais, em um sinal de apoio ao quinto maior fornecedor de petróleo dos

Estados Unidos.

Há, no entanto, uma percepção mais clara da parte do novo governo liderado por Umaru

Yar’Adua de que o problema dificilmente será resolvido sem que se enfrente o

problema das conseqüências distributivas da atual legislação a respeito das rendas do

petróleo. Na Nigéria, o governo central e as províncias do centro-norte, que produzem

pouco petróleo, mas compõem os grupos politicamente dominantes, ficam com 87% da

renda petrolífera, enquanto as províncias do sul, produtoras de petróleo, ficam com

13%. Mesmo este percentual precisa de um esclarecimento adicional, pois a partir de

1999 as províncias do sul passaram a receber 13% da renda da exploração petrolífera

onshore no país, mas nenhuma porcentagem da exploração marítima (offshore).

As etnias minoritárias que habitam as zonas produtoras do sul, como os ogoni, ijos e

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movimentos de contestação armada que, por sua vez, utilizam o argumento étnico para

mobilizar a luta pela renda petrolífera e por reivindicações de maior autonomia,

combate à corrupção e melhorias na qualidade de vida. Na maioria dos estados do sul,

com altas densidades populacionais e níveis elevados de pobreza e miséria, muitos dos

chefes de grupos insurgentes transitam em uma nebulosa fronteira entre a luta política

armada e o mero banditismo econômico. Ainda assim, tratar a questão exclusivamente

como “caso de polícia” ou operação de contra-terrorismo pode até atender a uma

audiência internacional fortemente influenciada pelos ataques contra as empresas

petrolíferas estrangeiras, mas dificilmente resolveria o fundamento constitucional do

conflito que coloca na pauta, na verdade, os termos de um pacto federativo

extremamente complexo no caso nigeriano.

Mesmo as empresas petrolíferas receberam com certo alívio a proposta do MEND de

um cessar fogo de um mês, feita logo depois da posse de Yar’Adua, e do anúncio da

libertação de seis empregados da Chevron seqüestrados recentemente. Neste período, o

novo governo comprometeu-se a formular um plano de paz. Entretanto, as próprias

empresas estrangeiras de petróleo que produzem 43% do petróleo cru da Nigéria são

vistas pelas populações locais como parcialmente responsáveis pela situação existente.

No caso da Shell, por exemplo, que vinha perdendo 10% da sua produção diária em

função de ataques e sabotagem, os líderes do MEND acusam a companhia de explorar e

poluir a região sem oferecer contrapartidas reais à população local. Na Nigéria, a Shell

produz 15% de toda sua produção mundial e faz propaganda de ter investido US$ 60

milhões em infra-estrutura e desenvolvimento do país. Porém, deste total, US$ 33

milhões teriam sido gastos somente na construção de estradas para escoar sua própria

produção petrolífera.

Não resta dúvida de que o conflito étnico existe na Nigéria, mas o país é

simultaneamente mais complexo do que suas 250 etnias e grupos lingüísticos e mais

simples do que o recurso interpretativo a esta condição adscrita. No caso do Delta do

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maneira mais eqüitativa as rendas do petróleo, entre os estados, mas também entre os

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