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LINGUÍSTICA APLICADA, OS PCN E A ABORDAGEM COMUNICATIVA: POR UM ENSINO DE LÍNGUAS MATERNA E ESTRANGEIRA MAIS EFICAZ

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Edição 27, volume 1, artigo nº 5, Outubro/Dezembro 2013

D.O.I: 10.6020/1679-9844/2705

Página 78 de 213

LINGUÍSTICA APLICADA, OS PCN E A ABORDAGEM

COMUNICATIVA: POR UM ENSINO DE LÍNGUAS MATERNA

E ESTRANGEIRA MAIS EFICAZ

APPLIED LINGUISTICS, THE PCN (NATIONAL COURSE

PARAMETERS) AND THE COMMUNICATIVE APPROACH:

FOR A MORE EFFECTIVE TEACHING OF MOTHER AND

FOREIGN LANGUAGES

Daniela Balduino de Souza Vieira1, Edma Regina Barreto Peixoto Caiafa Balbi2, Andressa Teixeira Pedrosa3,Eliana Crispim França Luquetti4

1

Professora do Instituto Federal Fluminense e Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Cognição e Linguagem - Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Campos dos

Goytacazes, RJ, Brasil, dbalduino@iff.edu.br

2

Professora do Instituto Federal Fluminense e aluna especial do Programa de Pós-Graduação em Cognição e Linguagem - Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Campos dos

Goytacazes, RJ, Brasil, ebalbi23@hotmail.com

3

Professora da Rede Estadual de Ensino e Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Cognição e Linguagem - Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Campos dos Goytacazes,

RJ, Brasil, andressa.pedrosa@gmail.com

4

Professora Drª da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro/UENF/LEEL, Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil, elinafff@gmail.com

RESUMO: Este artigo visa ressaltar a congruência que há entre os

pressupostos da Linguística Aplicada, a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio e a Abordagem Comunicativa para o ensino de línguas materna e estrangeira, pois, ao promovermos a inter-relação destes, também promovemos sua efetiva contribuição no processo de ensino e aprendizagem. O nosso trabalho se vale de um levantamento bibliográfico e de discussões pautadas nesse recorte teórico apresentado. Para tanto, iniciamos nossa reflexão a partir da apresentação dos pressupostos da Linguística Aplicada, mas também fazemos uma incursão nos pressupostos da sociolinguística e das teorias da linguagem de Vygotsky e Bakhtin, observando suas funções articuladoras dos

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Página 79 de 213 seu caráter interdisciplinar. Em seguida, trazemos a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais, buscando estabelecer um diálogo entre essa proposta e a Linguística Aplicada. A partir desse diálogo, discorremos acerca da inter-relação estabelecida entre esses pressupostos o que nos leva ao encontro da abordagem comunicativa para o ensino de línguas, tanto para a materna como para a estrangeira, pois um processo de ensino e aprendizagem de línguas que desenvolva o estudo da linguagem humana e que considere o aluno um ser histórico e social em formação deverá apontar para um estudo de caráter reflexivo sobre o uso da língua. Consideramos que a prática pedagógica pautada nesse diálogo entre os pressupostos da Linguística Aplicada, a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais e a abordagem comunicativa para o ensino de línguas é um caminho que pode tornar o processo de ensino e aprendizagem de línguas materna e estrangeira mais eficaz.

Palavras-chave: Linguística Aplicada; Abordagem Comunicativa; PCN;

Interdisciplinaridade; Ensino de línguas.

ABSTRACT: This article intends to highlight the congruence among the

Applied Linguistics premises, the National Course Parameters proposal for High School and the Communicative Approach on mother and foreign language teaching, because when we promote their interrelation, we also promote its effective contribution to the learning-teaching process. Our work is due to a bibliographic collection and discussions about the presented theoretical framework. To do so, we begin our reflection from the Applied Linguistics premises, but we also make an incursion in the Socio-linguistics premises and in Vygotsky’s and Bakhtin’s language theories, observing its articulating functions of the knowledge domains, which shows its interdisciplinary feature. Then we bring the National Course Parameters proposal, searching to establish a dialogue between this proposal and the Applied Linguistics. From this dialogue we discus about the interrelation established among these premises, which leads us to the communicative approach in teaching languages, both for the mother and for the foreign languages, because a language teaching-learning process that can develop the study of human language and that can consider the student a historical and social being still in formation, it should lead us to a reflexive study about language. We consider that a pedagogical practice guided in this dialogue among the Applied Linguistics premises, the National Course Parameters proposal and the communicative approach on teaching languages is a path that can make both mother and foreign languages teaching-learning process more effective.

Key-words: Applied Linguistics; Communicative Approach; PCN (National

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Página 80 de 213

1.

Linguística Aplicada, Um Caminho Interdisciplinar

No seu surgimento, a partir de meados do século XIX, a Linguística Aplicada (LA) passou por dificuldades em sua trajetória, entre elas a própria aceitação da LA como área de conhecimento. Somente no ano de 1990, vinte anos depois de surgir o primeiro Programa de Estudos Pós-Graduados em Linguística Aplicada na PUC de São Paulo, é criada, no Brasil, a Associação de Linguística Aplicada do Brasil (ALAB). O que observamos atualmente é que os estudos linguísticos têm ganhado força e estão ocupando um espaço cada vez mais significativo no meio acadêmico, em especial a LA.

E, no Brasil, é motivo de satisfação verificar que, neste momento, há um grupo de linguistas aplicados capazes de ser reconhecidos como tal por outros linguistas aplicados. É sinal de maturidade, é indicação de desenvolvimento da área. Outro sinal de desenvolvimento, também, é o crescimento do número de programas de pós-graduação em Linguística Aplicada (Celani, 1992, p.16)

Se, em seus estudos iniciais, a LA se voltava para a investigação do processo de ensino/aprendizagem de língua estrangeira. Hoje, seus estudos se voltam para o ensino de língua materna e para outras áreas que também têm como foco de suas investigações o objeto de estudo da LA: a Linguagem. A autora ainda coloca que basta observar os sumários das últimas reuniões da Association Internationel de

Linguistique Apliquée (AILA) para verificarmos a expansão dos tópicos

apresentados, pois encontramos: “multilinguismo, testes, planejamento linguístico, sociolinguística, psicolinguística, lexicografia, tradução, linguística contrastiva, linguística computacional, estilística, letramento, dentre outros”.

Assim, começamos a perceber, com mais clareza, os traços que irão delinear essa nova ciência. A partir desse ponto de encontro entre várias teorias e a teoria

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Página 81 de 213 Linguística, Celani (1992) começa a nos apresentar o caráter mediador da LA que, ao se debruçar sobre a Linguagem, passa a contribuir com outros campos do saber e a aprimorá-los. Ela apresenta-nos algumas metáforas que foram usadas na tentativa de se definir LA, como, por exemplo, “uma ponte com tráfego nos dois sentidos” de Pap (1972). Indicações como essa começam a direcionar mais claramente os novos caminhos dos estudos linguísticos, nos quais os estudos sobre a linguagem serão o ponto de encontro, a interseção com as outras áreas do saber.

Por fim, a autora nos leva a entender a LA como uma Área Interdisciplinar, pautada na interação entre disciplinas, na troca de ideias e na integração mútua. Celani (1992, p.21) também considera que “as imagens da encruzilhada e da ponte com duas mãos de direção, sugeridas por Pap, estão bem claras na mente dos linguistas aplicados”. Temos hoje uma LA reconhecida como uma área da ciência independente da Linguística e que já avançou em diversas linhas de pesquisa.

Mas será que esse reconhecimento científico da LA, promovido pela expansão dos estudos linguísticos nos novos e vários cursos de Pós-Graduação em LA, tem alcançado e, principalmente, provocado alguma reflexão na prática dos professores de línguas? É a nossa preocupação com o processo de ensino/aprendizagem de línguas (materna e estrangeira) que nos leva a escrever este trabalho.

Para Pennycook (1998), os estudiosos da LA estão diretamente envolvidos com linguagem e educação. E consideramos que, entre nós, professores de línguas, esse envolvimento é ainda maior, já que nossas atividades de estudos, investigações e atuação profissional estão relacionadas com a língua, portanto lidamos em nossa prática diária com linguagem e educação.

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Página 82 de 213 Na minha visão, as sociedades são desigualmente estruturadas e são dominadas por culturas e ideologias hegemônicas que limitam as possibilidades de refletirmos sobre o mundo e, consequentemente, sobre as possibilidades de mudarmos esse mundo. Também estou convencido de que a aprendizagem de línguas está intimamente ligada tanto à manutenção dessas iniquidades quanto às condições que possibilitam mudá-las. Assim é dever da Linguística Aplicada examinar a base ideológica do conhecimento que produzimos (Pennycook, 1998, p.24).

Desse modo, o autor nos direciona o olhar à LA a partir de uma abordagem crítica e que esteja mais sensível às preocupações sociais, ou seja, que ao nos debruçarmos sobre os estudos da linguagem tenhamos em conta o seu caráter interacional e o seu poder transformador na/da sociedade. A linguagem, seja ela escrita, oral, gestual ou outra, não pode ser vista como um mero meio de se transmitir mensagens. Mas, infelizmente, o que devemos ter em muitas salas de aula de línguas, ao longo de todo nosso território, é apenas a transmissão de informações. É provável que muitos de nossos professores de línguas estejam unicamente reproduzindo mensagens, textos, estruturas e palavras. Os aspectos sociais, políticos e culturais precisam estar relacionados ao processo ensino/aprendizagem de línguas, seja a materna, ou a estrangeira.

Portanto, se ensinarmos, tendo por meta a competência comunicativa, e não explorarmos como o uso da linguagem foi historicamente construído em torno das questões de poder e de dominação, ou como, nos seus usos cotidianos, a linguagem está sempre envolvida em questões de poder, estaremos, uma vez mais, desenvolvendo uma prática de ensino que tem mais a ver com acomodação do que com acesso ao poder (Pennycook, 1998, p.31).

Pennycook (1998) ainda destaca que as pesquisas em LA com ênfase exclusivamente quantitativa fazem com que a sala de aula se torne apenas um lugar para se realizar meras trocas linguísticas, e desse modo, não busca entender esse

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Página 83 de 213 espaço como um local complexo de interação social. Nesse ponto, retomamos o que foi dito anteriormente: dinâmicas sociais, sejam as políticas ou culturais, precisam compor o processo de ensino/aprendizagem de línguas de modo mais efetivo e constante. Os estudos e investigações qualitativos devem acompanhar os quantitativos. Pennycook (1998) diz, por exemplo, que a sociolinguística não pode simplesmente descrever quantitativamente (classe social, etnia, idade, sexo, região) determinada variação linguística. É preciso analisar e refletir sobre o que teria proporcionado o surgimento de tal variação e o reflexo dessa variação na sociedade. Como professores de línguas, tanto da materna quanto da estrangeira, devemos sempre considerar que atuamos com linguagem e educação. Os pressupostos da LA, em suas várias vertentes que dialogam e interagem com outros campos do saber, delineando o seu caráter articulador entre as disciplinas, deverão, efetivamente, ser nossos aliados no processo de ensino/aprendizagem de qualquer língua.

Acreditamos que as contribuições da LA nos processos de formação e prática dos professores de línguas materna e estrangeira podem se concretizar de várias maneiras. A LA, por seu caráter interdisciplinar, dialoga com outras teorias da linguagem, como, por exemplo, a Sociolinguística e as propostas de Vygostsky e Bakhtin.

Dessa forma, evidenciamos que os pressupostos da Sociolinguística nos ajudam a descrever as variantes linguísticas que ocorrem em nosso contexto linguístico, mas principalmente contribuem no processo de análise, reflexão e compreensão de tais fenômenos. Ao estudarmos e ensinarmos línguas –

Linguagem e Educação – faz-se necessário recorrermos a reflexões sobre a

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Página 84 de 213 formador. Gesse, Costa e Viviani (2009 p.10), apresentam em seu trabalho a afinidade conceitual que há entre os estudiosos Vygotsky e Bakhtin “que defendem a visão de um sujeito interativo, social e participativo na construção de conhecimento sendo a linguagem, portanto, reflexo das relações sociais”. Vygotsky (1979, apud GESSE et al, 2009, p.11), em seus estudos sobre a psicologia do desenvolvimento e a psicologia da linguagem, destaca que o sujeito deve ser interativo no processo de aquisição do conhecimento, pois este se dá a partir de relações intra e interpessoais e, nesse processo, a linguagem atua como mediadora entre o sujeito e o objeto do conhecimento. Já Bakhtin (2004, apud GESSE et al, 2009, p.11), em seus estudos sobre a linguagem como reflexo social, traz duas noções fundamentais para o estudo do discurso: polifonia e dialogia. Segundo os autores acima citados, Bakhtin considera que “todas as manifestações, vozes que, explícita ou implicitamente, dão forma ao discurso, além de refletirem as intenções do enunciador, refletem, principalmente, os sentidos e os valores que estruturam a sociedade”. Nesse ponto, retomamos Pennycook (1998) que nos fala da importância da LA crítica que considera em seus estudos a historicidade do sujeito e que tem por seu objeto de investigação a linguagem como prática social, formadora e transformadora do homem e da sociedade, pois esta fala dialoga diretamente com Gesse et al (2009).

Partindo do pressuposto de que a linguagem é um dos mais úteis instrumentos que temos como seres humanos, e que através dela transmitimos aos outros nossos conhecimentos, trocamos informações, organizamos pensamentos, discutimos ideias, ou seja, é a partir dela que nos relacionamos socialmente, então, o ensino de línguas vem ampliar nossas relações sociais e, automaticamente, a (re) construção dos sujeitos. (...) O indivíduo que tiver acesso ao conhecimento terá enriquecido sua personalidade, ampliando sua capacidade intelectual, bem como sua sociabilidade e sensibilidade. As línguas (materna, segunda, estrangeira) trabalham de forma

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Página 85 de 213 libertadora, e o seu conhecimento é um requisito para uma cidadania plena e um fator importante no desenvolvimento da reflexão crítica. Isto não apenas para os alunos em fase escolar, mas para os indivíduos de forma geral (GESSE et al p.12, 2009).

Assim, destacamos mais uma vez a importância da LA na atuação dos professores de línguas. Mas, apesar desse avanço científico em relação aos estudos linguísticos nos novos e vários cursos de Pós-Graduação em LA, a formação e também a capacitação do professor têm levado a uma reformulação da sua prática no que tange às metodologias no ensino de línguas?

2.

Análise dos PCN à Luz das Teorias da Linguagem

Observa-se uma interseção entre os pressupostos da linguística aplicada e o texto do documento nacional que orienta a educação no país.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) trouxeram paradigmas diferenciados para a condução das disciplinas escolares, com o objetivo de fomentar uma escola de ensino médio que promova a inserção dos educandos no mundo em que vivem, para isso é necessário formar alunos com uma visão ampla da realidade que os cerca e capazes de estabelecer relação entre os fatos que dialogam no nosso cotidiano.

Na educação tradicional, o aluno é visto como um sujeito-passivo, como uma “folha em branco”, a ele cabe apenas o papel de receptor de informação. Essa visão do educando foi, gradativamente, levando ao fracasso a educação. Esse insucesso pode ser reflexo da divergência entre a metodologia tradicional e a realidade da vida moderna, agravado por fatores sociais que perpassam nossa sociedade a todo momento.

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Página 86 de 213 Ao discutir o sentido do aprendizado nas línguas materna e estrangeira, os PCN apontam ser indispensável haver interatividade, diálogo e construção de significados que tenham, como ponto de partida e também de chegada, a linguagem.

É para um processo educativo moderno que nos encaminha o texto dos PCN. O texto atribui à linguagem um caráter de “herança social” que, depois de adquirida pelo indivíduo será inerente a ele acompanhando-o em sua aquisição de conhecimentos, em seus pensamentos, suas interações e suas ações. Para os PCN (2000, p.5) a linguagem é tida como “a roda inventada, que movimenta o homem e é movimentada pelo homem”.

Sendo a linguagem responsável pela movimentação do homem, compete a ela viabilizar ao aluno uma participação ativa no mundo social. Para tal, deve-se tomar como base que “a principal razão de qualquer ato de linguagem é a produção de sentido” (PCN, 2000, p. 5) e que a manutenção do educando como sujeito-passivo emperra a formação de uma consciência da realidade e, consequentemente, do exercício da cidadania.

O texto do documento nacional de regulamentação do ensino apresenta os diferentes cruzamentos das linguagens verbal e não verbal e seu caráter interacional. O domínio das diferentes formas de linguagem e de seus usos nas relações humanas interfere positiva ou negativamente no papel social de seus falantes.

Nas interações sociais, é importante compartilhar sentidos e, para tal, faz-se necessário que o falante domine a linguagem de modo a trabalhá-la produzindo um texto adequado ao seu interlocutor e este, por sua vez, deve decodificá-lo efetivando assim a comunicação entre eles.

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Página 87 de 213 Nas práticas sociais, o espaço de produção de sentidos é simultâneo. Nesse as linguagens se estruturam, normas (códigos) são partilhadas e negociadas. Como diz Bakhtin, a arena de luta daqueles que procuram conservar ou transgredir os sentidos acumulados são as trocas linguísticas, relações de força entre interlocutores.

(...)

O caráter dialógico das linguagens impõe uma visão muito além do ato comunicativo superficial e imediato. Os significados embutidos em cada particularidade devem ser recuperados pelo estudo histórico, social e cultural dos símbolos que permeiam o cotidiano (PCN, 2000, p. 6).

A obtenção da cidadania plena está diretamente relacionada a uma reflexão sobre as linguagens. Conhecer as linguagens e entender seus usos consolida uma participação ativa na vida social. Uma apropriada utilização da linguagem, que seja adequada aos seus interlocutores, que remeta à necessidade de compreensão das funções da linguagem, possibilita ao aluno uma percepção da intencionalidade comunicativa presente nos textos. No processo comunicativo, a produção de um texto é sempre voltada a um interlocutor, passa pela escolha do vocabulário, da entonação com que é dito e pelo conhecimento de mundo de cada um dos atores da interlocução. São fatores relevantes na interlocução: o locutor, o interlocutor, a situação comunicativa em que o texto é produzido, o suporte. Cabe à escola orientar o educando para a observação desses elementos a fim de possibilitar ao aluno uma formação libertadora. A escola deve preparar seus alunos para que possam desempenhar um papel de sujeito-ativo no grupo social em que está inserido.

O conhecimento sobre a linguagem a ser socializado na escola, deve ser visto sob o prisma da mobilidade da própria linguagem, evitando-se os apriorismos. O espírito crítico não admite verdades sem uma investigação do processo de sua construção e representatividade.

(...)

Destaca-se que a linguagem, na escola, passa a ser objeto de reflexão e análise, permitindo ao aluno a superação e/ou a transformação dos significados veiculados. (PCN, 2000, p. 7)

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Página 88 de 213 Ainda segundo os PCN, o debate entre professor e aluno na construção do conhecimento permitiria ao aluno a formulação de um ponto de vista sobre o tema em discussão o que abriria espaço para as escolhas individuais que dariam a ele autonomia para edificar e consolidar seus saberes. O aluno perderia assim o papel de receptor do saber do professor e, pela observação dos discursos do outro e seu, passaria a entender o compartilhamento de sentido indispensável a uma eficiente comunicação.

O estudo da linguagem deve levar o educando a compreender que a relação existente entre as linguagens é um meio de preservação de grupos sociais minoritários cuja linguagem se opõe a dos grupos de maior prestígio social. O respeito às variantes possibilita uma visão mais ampla dos fenômenos linguísticos (fonológicos, sintáticos ou semânticos) evidenciando que as diversas manifestações podem coexistir sem que seja preciso anular nenhuma delas, tal consciência promove uma melhor interação entre diferentes grupos sociais.

Orientar o aluno para o uso adequado da linguagem, de modo que saiba construir textos que atendam a diferentes situações comunicativas. Deve-se também fazê-lo entender a importância dessas variações para a construção da identidade de um povo. Essa identidade deve valorizar todas as variedades linguísticas e não estar vinculada somente a uma variante artificial, que somente é utilizada por uma pequena parcela da comunidade falante em algumas situações mais monitoradas.

A língua precisa ser vista em consonância com o ser em sociedade, espaço em que o aluno utiliza a linguagem para construir e, até mesmo, desconstruir paradigmas apresentados pela sociedade, essa construção de significados dá a ele a possibilidade de atuar como agente nos grupos sociais em que está inserido. O ensino das línguas materna e estrangeira deve contribuir para a formação do

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Página 89 de 213 educando, preparando-o para sua inserção no mundo do trabalho, possibilitando-lhe alcançar progressão nesse meio e também permitindo-lhe a continuidade de estudo. Para a escola, segundo o texto dos PCN, o estudo de línguas deve se pautar na linguagem verbal, por ser ela característica da construção humana e histórica de um sistema linguístico e comunicativo em determinados contextos. É, portanto, a linguagem verbal o instrumento prioritário de trabalho do professor. Atentemos para o uso do adjetivo prioritário, pois limitar o estudo de línguas à análise de textos em linguagem verbal é negar todas as outras formas de comunicação humana que fazem parte do cotidiano dos alunos. Logo, priorizar não pode significar excluir.

Conforme exposto ao longo do nosso trabalho, as orientações dos PCN para o ensino das línguas materna e estrangeira no Ensino Médio dialogam com os pressupostos da LA, encaminhando o processo de ensino/aprendizagem dessas línguas para o estudo da linguagem humana, com sua historicidade e função social, contribuindo para a formação integral do aluno, possibilitando, assim, não só a sua participação ativa na sociedade, como também a sua atuação no mercado de trabalho, o que o levaria ao exercício de uma cidadania plena.

3.

A Abordagem Comunicativa no Ensino de Línguas

Um processo de ensino/aprendizagem de línguas, seja materna ou estrangeira, que desenvolva o estudo da linguagem humana e que considere o aluno um ser histórico e social em formação deverá apontar para um estudo de caráter reflexivo sobre o uso da língua(gem) na vida e na sociedade. Aristóteles já falava da função comunicacional da linguagem, mostrando “a importância de se ir além da função descritiva da linguagem, em que esta procura representar a realidade, considerando

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Página 90 de 213 a função da linguagem na comunicação e mostrando que de certa forma ambas se articulam” (MARCONDES, 2009, p.22).

Segundo os PCN (2000, p. 16), “o estudo da língua materna na escola aponta para uma reflexão sobre o uso da língua na vida e na sociedade”. Desse modo, ao tratarmos do processo de ensino/aprendizagem de línguas, devemos pautá-lo na compreensão, na análise, na avaliação da linguagem e em uma reflexão ela e, por conseguinte, sobre o uso da língua. É preciso que o aluno conheça a estrutura das línguas materna e estrangeira, mas também é preciso que ele analise e compreenda a linguagem, reflita sobre o seu uso e (re)avalie suas necessidades de aprendizagem. Quando fazemos parte do processo, tornamo-nos mais comprometidos e responsáveis por ele.

Almeida Filho (2002), em seu livro Dimensões Comunicativas no ensino de

línguas, fala-nos do ensino comunicativo de línguas. No processo de

ensino/aprendizagem em que haja uma abordagem comunicativa, encontraremos um trabalho fomentado pela interação, aplicabilidade, uso, reflexão, significação, construção e “desconstrução”.

Concebemos hoje comunicação (sempre de forma incompleta e conscientemente provisória) mais como uma forma de interação social propositada onde se dão demonstrações de apresentação pessoal combinadas ou não com casos de (re) construção de conhecimento e troca de informações. A aprendizagem de uma nova língua (L) desse ângulo precisaria se dar numa matriz comunicativa de interação social (ALMEIDA FILHO, 2002, p.8).

Quando falamos da aprendizagem de uma nova língua, não devemos reconhecer somente o processo de ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras. A linguagem é interativa e dialógica, a língua é viva e dinâmica; é possível, portanto, que nossa língua materna nos pareça uma nova língua em determinados contextos e modos de expressão. Sendo assim, por que não trazer a abordagem comunicativa

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Página 91 de 213 para o processo de ensino/aprendizagem de língua materna? Não estamos afirmando que seja uma tarefa fácil, pois “comunicar-se é atividade que apresenta alto grau de imprevisibilidade e criatividade (nos sentidos gerativo e imaginativo) tanto na forma quanto nos sentidos construídos no discurso” (ALMEIDA FILHO, 2002, p. 9).

Desenvolver uma competência comunicativa requer o envolvimento de várias outras competências e conhecimentos. Isso torna o processo de ensino/aprendizagem de línguas interdisciplinar e interdependente, o que exige dos professores um maior envolvimento e dedicação. Nesse processo, o professor estará constantemente planejando, interagindo com os alunos, refletindo, avaliando e (re)avaliando. Para Almeida Filho,

ser comunicativo significa preocupar-se mais com o próprio aluno enquanto sujeito e agente no processo de formação (...) Isso implica menor ênfase no ensinar e mais força para aquilo que abre ao aluno a possibilidade de se reconhecer nas práticas do que faz sentido para a sua vida do que faz diferença para o seu futuro como pessoa (ALMEIDA FILHO, 2002, p.42).

Para facilitar a compreensão do processo pautado em uma abordagem comunicativa, tomaremos como exemplo o organograma apresentado pelo autor acima citado

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Página 92 de 213

competência comunicativa

(ALMEIDA FILHO, 2002p. 9)

Almeida Filho propõe a seguinte questão: O que é ser comunicativo? E aela responde apresentando as duas definições a seguir:

O ensino comunicativo de LE é aquele que organiza as experiências de aprender em termos de atividades/tarefas de real interesse e/ou necessidade do aluno para que ele se capacite a usar a L-alvo para realizar ações de verdade na interação com outros falantes-usuários dessa língua;

ou

O ensino comunicativo é aquele que não toma as formas da língua descritas nas gramáticas como o modelo suficiente para organizar as experiências de aprender outra L mas sim aquele que toma unidades de ação feitas com linguagem como organizatórias das amostras autênticas de língua-alvo que se vão oferecer ao aluno-aprendiz (ALMEIDA FILHO, 2002, p.47-48).

A partir de uma abordagem comunicativa, temos um novo caminhar no processo de ensino/aprendizagem de línguas materna e estrangeira, que não significa simplesmente embasar o trabalho no desenvolvimento exclusivo da língua oral. A competência comunicativa precisa ser ampliada a fim de promover

âmbito pragmático âmbito gramatical graus de acesso competência estratégica competência meta competência linguística competência sócio- cultural habili- dades Conhecimentos e mecanismos de sobre- vivência na interação conhecimentos metalinguísticos e metacognitivos conhecimentos linguísticos (código) conhecimentos sócio- culturais e estéticos desempenho adequação viabilidade possibilidade

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Página 93 de 213 significação e sentido para esse processo, seja através da língua oral ou escrita, da gramática, do uso, das situações interativas, permitindo ao aluno compreender as relações que vão sendo estabelecidas.

4. Considerações Finais

Já não se pode pensar em língua, seja a materna ou a estrangeira, como um fenômeno imutável, constante, como as gramáticas normativas geralmente apresentam. É preciso redirecionar os paradigmas que ainda insistem em dominar o ensino de línguas em nosso país. A língua é um fenômeno social e, como tal, sofre alteração direta de quem a utiliza.

Os PCN apresentam a linguagem como produto social, feito por e para a interação social de uma comunidade de falantes. A linguagem é um fenômeno complexo, no qual destacamos sua função comunicacional: falamos algo com determinado objetivo. A língua, e aqui destacamos a interação verbal, é dinâmica; os sentidos são (re)construídos na interação comunicativa. E, ao trazermos a abordagem comunicativa para nossa prática pedagógica, vamos ao encontro às propostas dos PCN e, assim, proporcionaremos que este processo seja mais significativo para o aluno.

Sabemos que a LA é uma ciência que muito discute a questão da linguagem, suas particularidades e sua indissociável relação com os seus usuários. Os pressupostos da LA direcionam o ensino de línguas, tanto a materna quanto a estrangeira, para as diferentes formas de uso da linguagem.

Observamos que os pressupostos da LA, a proposta dos PCN e a abordagem comunicativa para o ensino de línguas são caminhos congruentes e que

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Página 94 de 213 podem tornar o processo de ensino/aprendizagem de línguas materna e estrangeira mais eficaz. Dessa maneira, daremos um passo na direção de alinhar as novas tendências da LA, com o movimento de mudanças iniciado pelos PCN e com a abordagem comunicativa no processo de ensino/aprendizagem, contribuindo para a tão esperada transformação do ensino de línguas.

5. Referências Bibliográficas

ALMEIDA FILHO, J. C. P de. Dimensões comunicativas no ensino de línguas. 3 ed. Campinas: Pontes, 2002.

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Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Parte II: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Disponível em: http:<//portal.mec.gov.br>. Acesso em: 14 de mai. de 2013.

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Página 95 de 213 PENNYCOOK. A. A Linguística Aplicada dos anos 90: em defesa de uma abordagem crítica. In: SGNORINI, I. e CAVALCANTI, M. C. (orgs.). Lingüística

Aplicada e Transdiciplinaridade. Campinas: Mercado das Letras, 1992.

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Aplicada ao Ensino de Português, Porto Alegre, Mercado Aberto.

Sobre os autores:

Daniela Balduino de Souza Vieira - Possui graduação em Letras -

Português/Espanhol pelo Centro Universitário Fluminense (1999). Atualmente é prof. do ensino básico, téc tecnológico do Instituto Federal Fluminense. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Línguas Estrangeiras Modernas, Linguística e Linguística Aplicada.

Edma Regina Barreto Peixoto Caiafa Balbi - Possui graduação em Letras - Português/Inglês pela Faculdade de Filosofia de Campos (1984). Especialização em Literatura Brasileira do Modernismo pela Faculdade de Filosofia de Campos (1989). Especialização em Língua Portuguesa pela Faculdade de Filosofia de Campos (1991). Possui experiência como professora de Ensino Médio nas redes pública e privada. Atualmente é professor bolsista do Instituto Federal Fluminense ligado a rede e-Tec e professor de Língua portuguesa e Literatura do quadro permanente do mesmo Instituto. Áreas de interesse: Linguística Aplicada ao ensino de línguas, Linguística Funcional, Sociolinguística, Políticas Linguísticas, Análise do Discurso e Educação.

Andressa Teixeira Pedrosa - Possui graduação em Licenciatura em Letras pelo

Centro Universitário São José de Itaperuma (2007). Tem experiência na área de Letras.

Eliana Crispim França Luquetti - Possui graduação em Licenciatura Plena em

Português/Latim pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997), graduação em Bacharel em Português/Latim pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997), mestrado em Linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2002) e doutorado em Linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2008). Atualmente é professora associada da Universidade Estadual do Norte Fluminense

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Página 96 de 213 Darcy Ribeiro. Tem experiência na área de Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: tecnologia, linguagem, cognição, variação, fonoaudiologia, família, língua, gramática, linguística, educação e ensino.

Referências

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