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Testamento Vital

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Academic year: 2020

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Revista do Curso de Direito da Universidade Braz Cubas V1 N2: Junho de 2017

Testamento Vital

Living Will

Ana Beatriz Shiguedomi1 Resumo

Com a evolução do conhecimento, tanto científico, intelectual, moral e dos Direitos Individuais e Coletivos, passou-se a aceitar com maior naturalidade questões antes vistas como dogmas. Exemplos são as questões relacionadas à vida e a morte, ou o direito de decisão sobre os dois. Na década de 70 surgiram as primeiras discussões sobre bioética, conjuntamente com relação à qualidade de vida e não apenas o direito à vida. Desta vertente, no panorama jurídico surge a figura do Testamento Legal, em que o paciente pode registrar sua vontade em relação a qual tipo de tratamento deseja e como deseja ser tratado. O código civil no artigo 15 traz a base para que este documento seja confeccionado e cumprido.

Palavras - chave: Testamento Legal, Bioética, Direito a vida Abstract

With the improvement of Individual and Collective Rights and the evolution of scientific, intellectual and moral knowledge, issues previously seen as dogmas began to be accepted with more naturalness. Examples are issues related to life and death, or the right to decide about both. In the 70's the first discussions about bioethics appeared, and next to this discussion also arises the discussion regarding the quality of life and not just the right to life. From this perspective, in the juridical panorama, the figure of the Legal Testament appears, where the patient can register his or her will in relation to what type of treatment he or she wishes and how he or she wishes to be treated. The civil code in article 15 provides the basis for this document to be prepared and fulfilled.

Key-words: Legal Testament, Bioethics, Right to life Sumário

SUMÁRIO: 1. INTRODUÇÃO 2. ASPECTOS MORAIS E SOCIAIS – 3. BIOÉTICA 4. TESTAMENTO VITAL NO ORDENAMENTO JURIDICO 5. MODELO DE TESTAMENTO VITAL 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS. 7. REFERÊNCIAS

1 INTRODUÇÃO

Já se tornou evidente em vários países e recentemente no Brasil a figura do Testamento Vital, por este motivo , neste trabalho o objetivo é expor alguns dos aspectos que envolvem a confecção deste documento, aspectos de maneira geral, como social, científico, moral e religioso, e também em relação a prática de confecção do mesmo. Mesmo a Legislação não suportando especificamente esta figura, é comumente utilizada e sua utilização se tornar mais numerosa. Traz também modelo de como pode ser redigido.

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2 ASPECTOS MORAIS E SOCIAIS

A morte é encarada pelas diferentes sociedades e dentro de uma mesma sociedade de maneiras diversas. A maior influência na concepção do conceito sobre a autoridade do ser humano no direito a decidir sobre a própria vida ou a abrir mão da mesma baseia-se principalmente no conceito religioso. Este conceito, oferecido pelas diferentes vertentes de religiões moldam, muitas vezes, a opinião pública acerca do assunto e até mesmo influenciam no ordenamento jurídico. Secundariamente a falta de informação pertinente, e o tabu que ainda existe em relação ao assunto dificulta as discussões e até mesmo a aceitação na sociedade. Dentro da análise de aspectos morais e sociais, existem vários aspectos que precisam ser observados, dentre eles se o paciente tem todas as informações necessárias à decisão, se não sendo influenciado por omissão de informação médica, se não se sente pressionado em ser um peso para a família, tanto pessoal quanto financeiro, enfim uma série de quesitos a serem observados.O aspecto sagrado que todas as religiões dão à vida: independentemente de crença, a vida é considerada sagrada e qualquer violação a continuidade da mesma é considerado pecado. Neste aspecto também inclui-se o amor acima de tudo. O entendimento geral é que não preservar uma vida, em qualquer condição, seria falta de amor, condenando pela grande maioria de religiões. Ligado a estes conceitos religiosos, desenvolve-se um comportamento em massa, o de julgar , achar certo ou errado sem saber da real situação do paciente afetando até mesmo os familiares. O aspecto sagrado da vida, devendo ser mantida independentemente de qualquer condição existe basicamente em todas as linhas filosóficas religiosas, mas as 4 maiores, com maior número de seguidores, são: budismo, islamismo, judaísmo e cristianismo. O budismo atualmente conta com aproximadamente 500 milhões de seguidores e é uma das maiores religiões mundiais. Foi fundado por Siddharatha Gautama (480-400 aC), na Índia, que aos 35 anos de idade recebeu iluminação espiritual e passou a ter o título de Budda, que significa o iluminado. No budismo e vida é preciosa, porém não é divina, visto não acreditarem em um ser superior divino fora do ser humano. Existe o valor básico da vida, que diz respeito a toda vida humana ou não. O Karma e renascimento tem uma grande influência na percepção budista em relação à natureza vivente. Com esta visão, apesar do aspecto não sagrado da vida, a importância vital e o respeito a todas as formas de vida, de maneira indireta não incentiva que a decisão de mantê-la ou não venha da sociedade ou de um profissional. O termo islamismo, que traduzido literalmente significa “submissão à

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vontade de Deus”. Num documentos fundamentais ao Islamismo, divulgado em 19/09/1981, na Unesco, A a Declaração Islâmica dos Direitos Humanos, diz “ a vida humana é sagrada e inviolável e devem ser envidados todos os esforços para protegê-la. Em particular, nenhuma pessoa deve ser exposta a lesões ou à morte, a não ser sob a autoridade da lei”. Resumidamente ninguém deve tomar medidas que coloquem em risco ou abreviem a vida. O judaísmo estabelece regras para comportamentos para seus seguidores. O (halakhah), que é a tradição hebraica legal, entende que o médico é usado como meio de Deus para preservar a vida, sendo proibido alterar a decisão divina. No cristianismo existem várias denominações, como os Adventistas do Sétimo Dia, Igrejas Batistas, Mormons - Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Igrejas Ortodoxas Orientais, Igreja Episcopal, Testemunhas de Jeová, Igrejas Luteranas, Pentecostal, Reformada (Presbiteriana), Igreja Unida de Cristo, Igreja Menonita, Igreja Metodista Unida, entre outras. De uma visão geral todas consideram a vida sagrada que foi concedida pelo Criador, portanto não temos direito sobre a mesma. Em todas as religiões a morte não é vista como um evento científico, mas sim como um evento espiritual, com a participação ou não de um ser divino. Consequentemente torna-se um evento de ordem moral e social, do qual nós seres humanos não podemos decidir. O Direito à Vida é avaliado como o mais essencial de todos os direitos; é o principal dentre eles, pondera-se como um o marco inicial para o surgimento dos demais. O direito a vida precisa ser conceituado como o elemento inicial da moral médica.

3 BIOÉTICA

A função da bioética, apesar de ser nova no debate social, faz parte da ética e é necessária para se debater do aspecto ético e moral as novas tecnologias na área da saúde. As tecnologias por si só não geram conflitos ou dúvidas, mas sim a interação entre pessoas no uso dessas tecnologias.

Engel, define Bioética da seguinte forma,

“Bioética como a reflexão ética sobre os seres vivos, incluído o ser humano, tais como esses seres vivos se apresentam nas relações cotidianas do mundo vivido e nos contextos teóricos bem como práticos da ciência e da pesquisa.”

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Desta maneira, analisar de maneira a englobar todos os aspectos tanto científico, costumes, moral e social, bem como a interação entre os mesmos é definido como bioética.

4 O TESTAMENTO VITAL NO ORDENAMENTO JURIDICO

Apesar de ser um instituto novo, o ordenamento jurídico brasileiro já o aceita com grande naturalidade o Testamento Vital. Este instituto além de ser descrito no código de ética médica, tem suporte no artigo 15 do código Civil. O documento para ter validade precisa ser feito por escrito, até mesmo de próprio punho, não pode estar rasurado, e deve ter sido realizado quando a pessoa estava em plenamente lúcida. Também é aconselhável para que não se crie nenhum problema do ponto de vista jurídico que cumpra todos os requisitos dos testamentos informais que existem no nosso ordenamento., conforme o artigo 1.876 do Código Civil, onde o mesmo deve ser assinado pelo interessado e por mais 3 testemunhas , ou registrado em cartório com 2 testemunhas. A resolução do conselho federal de Medicina não cita as testemunhas, mas elas serão úteis no caso de dúvidas posteriores quando o interessado não puder se manifestar. Até mesmo pelo aspecto penal, o documento precisar ser claro e conciso para que o profissional não incorra em crime. Para q ue se realize é necessário um procurador dos cuidados de saúde ou testador Vital. Aconselha-se que seja uma pessoa de plena confiança do interessado, pois o mesmo irá responder perante a equipe médica no caso de não possibilidade pelo interessado. É importante que o procurador esteja envolvido desde a redação do testamento, podendo juntamente com o interessado discutir todos os pontos e acompanhar até o registro final. Se possível não escolher nenhum parente, para que por questões de herança venha a gerar conflitos de interesses.

5 MODELO DE TESTAMENTO VITAL

Testamento Vital de PESSOA

Caso eu seja acometida de alguma enfermidade manifestamente incurável, que me cause sofrimento intenso e incontrolável ou me torne irreversivelmente incapaz para uma vida racional e autônoma; ou seja vítima de algum acidente ou trauma com iguais consequências, mesmo estando incapaz de exprimir a minha vontade faço constar, com

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base no princípio da dignidade da pessoa humana e da autonomia da vontade que aceito, como sempre o aceitei e declarei, a terminalidade dessa vida material, e repudio qualquer intervenção extraordinária, inútil ou fútil para tentar prolongá-la artificialmente. Em face do colocado, DECIDO, depois de me ter informado sobre as consequências medicinais e jurídicas, o seguinte:

A aplicação de medidas de prolongamento da vida, em especial operações, respiração e alimentação artificiais, incluindo a sonda gástrica, bem como a manutenção da função cerebral, não devem ser realizadas se dois médicos tiverem diagnosticado, independentemente um do outro:

1) Que me encontro, inelutavelmente, no processo direto de falecimento, no qual qualquer terapia de manutenção da vida irá apenas adiar a morte ou prolongar o sofrimento sem perspectiva de cura ou sequer de melhora significativa.

2) Que me encontro em coma sem perspectiva de recuperação da consciência.

3) Que a maior probabilidade é de que se dê uma lesão permanente no meu cérebro, causando invalidez total.

4) Que no meu corpo haja uma falha de funções vitais que não possa ser tratada com forte possibilidade de recuperação integral. Em outras palavras, que seja considerada irreversível.

5) Que eu me encontre paralisada do pescoço para baixo, impossibilitada de manifestar minha vontade, escrever, ou tomar alguma atitude para finalizar meu sofrimento.

Nesses casos, o tratamento e o cuidado devem se resumir aos Cuidados Paliativos direcionados de forma a aliviar dores, inquietação e medo, mesmo que através desses tratamentos e cuidados não se possa excluir o encurtamento da vida.

De forma absoluta, eu quero poder morrer com dignidade e em paz.

Admito ir para uma UTI, exclusivamente se tiver alguma chance real de sair no máximo em trinta dias .

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Recuso, terminantemente alimentação forçada ou artificial, caso não haja real possibilidade de que, em curto prazo isso me traga benefícios de cura.

Não quero ser reanimado no caso de parada respiratória ou cardíaca, caso isso se repita por mais de duas vezes e ou tenha duração prolongada o suficiente para indicar prováveis sequelas neurológicas graves

Não quero que me seja aplicada qualquer ação médica pela qual os benefícios sejam nulos ou demasiadamente pequenos e não superem os seus potenciais malefícios.

Deverá se encarregar de tomar todas as providências que julgar necessárias para atender a essas minhas vontades, bem como cuidar de todas as questões financeiras relacionadas a mim, em primeiro lugar:

Meu maridoxxxxxxxxx , ou na impossibilidade da presença dele, Meu filho xxxxxxxxxx, ou na impossibilidade da presença dele, Minha sobrinha xxxxxxxxxxxxxxxxxxx, nessa ordem,

As decisões contidas neste testamento vital foram tomadas após uma reflexão profunda e representam a minha posição fundamental ética em relação a questões de um cancelamento de tratamento. Numa situação concreta, na qual seja necessário decidir sobre um cancelamento das medidas de tratamento que estiverem sendo aplicadas em minha pessoa, solicito aos meus médicos que aceitem este testamento vital como vinculativo e procedam de acordo com a minha vontade. Outra decisão que não a que aqui foi formulada não tem para mim qualquer interesse.

Importante: se, devido a leis alternantes, esta decisão tenha que ser tomada por um tribunal, nesse caso concedo plenos poderes ao meu marido xxxxxxxxxx, para obter o consentimento do tribunal também com a ajuda de um advogado de sua escolha.Na sua falta, fica responsável pelo cumprimento dessas decisões, meu filho xxxxx, e na sua falta, minha sobrinha xxxxxxx

A redação e registro deste testamento ocorreram depois de longas e amadurecidas reflexões. Peço a familiares e a equipe de saúde envolvida que respeitem a minha vontade

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e o direito que tenho sobre meu corpo e minha vida em uma circunstância tão extrema e dolorosa; que seja respeitado o meu desejo de uma morte rápida e indolor. Assim como faço questão de eximir a todos os envolvidos (familiares e equipe de saúde) de qualquer responsabilidade sobre a minha morte nessas circunstâncias.

Local, dia de mês de ano PESSOA

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.

O Testamento Vital é um documento que expressa a vontade do paciente, quando de forma lúcida, registrou quais seriam as diretivas em relação a seus tratamentos e se iria querer ou não. É um ato jurídico unilateral, revogável, pessoal, contendo as características do testamento comum produzindo efeitos em vida. Sua validade é indiscutível, por ser um ato jurídico que não viola a legislação atualmente vigente no país. Ainda é necessário Regulação por meio do sistema jurídico, para que assim se torne viável o reconhecimento comum do documento.

7 REFERÊNCIAS

DIAS, Roberto . O direito Fundamental a morte digna: uma visão constitucional da eutanásia. Vol I. Minas Gerais: Fórum, 2012

DWORKIN, Ronald . Domínio da Vida – aborto, eutanásia e liberdades individuais Vol I. Minas Gerais: Fórum, 2012

BOMTEMPO, Thiago Vieira. Diretivas antecipadas: instrumento que assegura a vontade de morrer dignamente. Revista de Bioética e Direito, nº 26, setembro de 2012. Disponível em: http://www.ub.edu/fildt/revista/pdf/rbyd26_art-vieira.pdf>. Acesso em: 10 mai 2013. CAMATTA, 2009. Projeto de lei do Senado nº 524, ano 2009: dispõe sobre os direitos da pessoa em fase terminal de doença. Disponível em: <

http://www.medicinaintensiva.com.br/

ENGEL, Eve-Marie. O desafio das biotécnicas para a ética e a Antropologia. 2004, p.221.

Referências

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