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CRESCIMENTO E DEFICIT COMERCIAL: UMA ABORDAGEM MUL TISSECTORIAL ()

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(1)

Estudos de Economia, val. rx, n.' 4, Jul.-Set., 1989

CRESCIMENTO E

DEFICIT

COMERCIAL: UMA ABORDAGEM

MUL TISSECTORIAL

(*)

Joao Carlos Ferreira Lopes

(* *)

1 -

lntrodu~;ao

0 objective central deste trabalho e a tentativa de quantifica<;:ao das poten-cialidades de crescimento eficiente da economia portuguesa a partir da des-cri<;:ao das dependencias intersectoriais dos processes produtivos e das rela-<;:oes comerciais com o exterior num determinado ano base- 1977.

Utilizando um modele dinamico multissectorial em que se autonomizam as variaveis relativas ao comercio internacional, obtem-se uma matriz de estru-tura a partir da qual se calcula uma trajectoria de crescimento optimal que nos fornece o factor de crescimento maximal do sistema (valor proprio domi-nants da matriz) e o peso de cada sector produtivo na estrutura de eficiencia (vector proprio associado).

Esta trajectoria esta associada a um determinado valor da taxa de cober-tura das importa<;:oes pelas exporta<;:oes, o que permite, atraves de varia<;:oes desta taxa, quantificar o trade-off existente na economia portuguesa (em 1977) entre a taxa de crescimento eficiente e o deficit comercial.

A varia<;:ao do peso de cada sector na estrutura de eficiencia

a

medida que varia a taxa de cobertura parece confirmar a ideia do «deficit virtuoso» associado ao esfor<;:o de crescimento economico - refor<;:o dos sectores for-necedores de bens de investimento nas trajectorias que, proporcionando maier crescimento, estao associadas a taxas de cobertura mais baixas.

2 -

Urn modelo dinamico multissectorial

Consideremos o seguinte modele dinamico de tipo input-output, em que se igualam os recursos da economia (produ<;:oes e importa<;:oes) aos diferen-tes tipos de utiliza<;:ao (consumes interm8dios e procura final):

X (t) =A X (t)

+

C (t)

+

I (t)

+

E (t) - M (t)

(2.1)

em que

X

(t) e o vector das produ<;:oes sectoriais;

A

e a matriz dos coeficientes tecnicos, e C (t), I (t), E (t) eM (t) sao, respectivamente, os vectores de consume final, investimento, exporta<;:oes e importa<;:oes competitivas, par tipos de bens.

(*) Neste artigo faz-se a divulgar;:ao de alguns resultados otidos pelo autor na sua disserta-r;:ao de mestrado em Economia: «Crescimento multissectorial: Uma aplicadisserta-r;:ao ao caso portugues» (1988); para uma analise mais detalhada dos assuntos aqui tratados e o conhecimento das refe-rencias bibliograficas utilizadas, pode consultar-se a referida obra.

(2)

Consideremos as seguintes hip6teses:

1)

0 investimento e determinado pelas variac;oes das produc;oes sectoriais, via coeficientes de capital produto (principia do ace-lerador num contexto multissectorial):

I (t)

=

B [X (t

+ 1)

- X (t)]

(2.2)

em que

B

e a matriz de coeficientes de capital-produto;

i1) 0 consumo final e as importac;oes competitivas sao func;ao do rendimento gerado na economia,

Y

(t), at raves de dais vectores:

c, de coeficientes de consumo, e m, de propensoes a importar bens competitivos:

c

(t)

=

c

y

(t)

M

(t) =mY (t)

(2.3)

(2.4)

iii) 0 rendimento gerado na economia obtem-se das produc;oes

sec-toriais atraves dos coeficientes de valor acrescentado (vector V1 ) :

y

(t)

=

vI

X

(t) (2.5)

iv) 0 vector de exportac;6es sectoriais obtem-se par aplicac;ao ao valor global das exportac;6es,

E

1

, de um vector de coeficientes

de estrutura,

e:

E (t) =eEl (t) (2.6)

Com estas hip6teses temos a seguinte versao do modelo com comercio internacional:

[1-A-(cl -m)v+B]X(t)-BX(t+1)-eEI (t)=O (2.7)

Para completar o modelo e necessaria introduzir a equac;ao relativa ao equilfbrio da balanc;a comercial:

(q

F

+

r

m

v) X(t)

=

p e E1

(t) (2.8)

em que

F

e a matriz de coeficientes de importac;6es nao competitivas, e

q,

r

e

p

sao, respectivamente, as vectores dos prec;os sectoriais das importac;6es nao competitivas, das importac;6es competitivas e das exportac;6es.

Para tornar o modelo «aplicavel» e na ausencia de informac;ao sabre as pre<;os sectoriais envolvidos, consideremos a seguinte versao da rela<;ao (2.8):

(i F

+

i

m v) X(t)

=

d

i

e E I (t) (2.9)

em que

i

e um vector unitario e

d

e um escalar que pode ter duas interpretra-c;oes:

374

(3)

b) Um indicador dos termos de troca, se fizermos q

=

i,

r

=

i e p

=

di (neste caso uma descida de d representa uma deteriorar;ao dos termos de troca e um aumento de d uma melhoria desses mesmos termos).

3 - A soluc;ao do modelo - 0 crescimento eficiente

Se no modele subjacente as relar;oes (2.7) e (2.9) substituirmos em (2.7) o volume total das exportar;oes, f', pela sua expressao em X(t) retirada da relar;ao (2.9):

[(iF+ imv) I

dJ

X (t)

=

E' (t) (3.1)

obtemos o seguinte sistema de equar;oes as diferen<;:as de primeira ordem, linear e homogeneo:

X

(t

+

1)

=

G X

(t) (3.2)

em que G =I+

a-

7

(1-

A - (c-m) v - [e (iF+ imv) I

dJJ

e a matriz de estrutura do sistema.

A solw;:ao geral do sistema obtem-se a partir dos valores e vectores pro-pries da matriz

G,

mas trata-se de uma solu<;:ao sem significado economico, pais alguns dos seus elementos tem componentes negatives e ou compelxos. Ha, no entanto, uma solu<;:ao particular relevante obtida a partir da raiz dominante da matriz H

=

[I

-A - (c - m)

v-

[

e

(iF+ imv) I

dJ-

1

BJ

(neces-sariamente positiva pelo Teorema de Frobenius, desde que

H

seja uma matriz nao negativa) e do respective vector proprio associado.

Esta solu<;:ao, correspondente ao caminho de Von Neuman, da-nos a tra-ject6ria de crescimento equilibrado maximal que o sistema pede proporcionar, com as condir;oes tecnologicas do ana base.

Se for h' a raiz de Frobenius da matriz H, e g' =(1

+

11h') o factor de expansao maximal; o vector proprio associ ado a h ', X' (devidamente normali-zado), da-nos o peso de cada sector produtivo na estrutura de eficiencia; o peso das exporta<;:oes no valor bruto de produr;ao da economia ao Iongo desta traject6ria e dado por

n

12. X;; com

n

=[(iF+ imv) I

d]

X'.

I

4 - Aplicac;ao ao caso portugues

Um exercicio interessante, do ponto de vista econ6mico,

e

o calculo da taxa de crescimento e da estrutura sectorial eficiente para diferentes valores de d (o mesmo e dizer, para diferentes taxas de cobertura).

No quadro 1 sintetizam-se os resultados da aplica<;:ao a economia portu-guesa, partindo das matrizes tecnol6gicas A e B com oito sectores produtivos obtidas da matriz de produ<;:ao nacional a pre<;:os do produtor e da matriz de investimento (GEBEl) e dos vectores que caracterizam a estrutura sectorial das variaveis da procura final no ano base- 1977.

(4)

No gratico 2 esta representado o peso das exporta<;:6es no VBP total da eco-nomia para diferentes taxas de cobertura. Finalmente, nos graticos 3 a 10 representa-se o peso de cada sector produtivo na estrutura de eficiencia (raio de Von Neuman) para diferentes taxas de cobertura.

Sem a preocupa<;:ao de comentar exaustivamente os resultados obtidos, limitamo-nos a chamar a aten<;:ao para as seguintes conclus6es, que nos pare-cern as mais importantes:

01 .. 02 .. 03 .. 04.

05 .. ....

06 .. 07 .. 08 ..

376

1)

As potencialidades de crescimento da economia portuguesa a medio e Iongo prazos sao bastante sensfveis

a

situa<;:ao da balan<;:a comercial, variando na razao inversa da taxa de cober-tura, como seria de esperar; assim, uma melhoria de 15 % na taxa de cobertura esta associada a uma perda de «crescimento potencial» de cerca de 1 %;

i1)

0

nfvel de crescimento potencial obtido numa aplica<;:ao do modelo sem autonomiza<;:ao das variaveis relativas ao comercio externo (cerca de 5 %) e neste caso compatfvel com uma taxa de cobertura ligei ramente inferior aos 70 %;

iii) A deteriora<;:ao dos termos de troca em 1 0

%

faz baixar as

potencialidades de crescimento econ6mico em 0,5 % para os nfveis de taxa de cobertura mais relevantes;

iv) A diminui<;:ao das propens6es a consumir sectoriais tern um efeito muito acentuado na melhoria da taxa de crescimento efi-ciente, confirmando o bern conhecido trade-off consumo pre-sente/crescimento futuro;

v) A melhoria da situa<;:ao das contas externas e acompanhada por um aumento do peso na estrutura produtiva dos seguintes sectores: agricultura, qufmica e diversas, texteis, vestuario e cal<;:ado, madeira, corti<;:a e papel e servi<;:os, diminuindo o peso dos restan-tes: energia, extractivas e metais, equipamentos (o deficit virtuoso?) e constru<;:ao civil.

OUADRO 1

Modelo com comercio externo

Vectores utilizados

iF m c' c'-m e (") VBP (77 )

(percentagem)

0,000804 0,032738 0,099755 0,067017 0,033003 0,113399

... 0,318567 0,037256 0,023169 0,014087 0,072230 0,082476

0,131651 0,050486 0,203452 0,152966 0,192236 0,174061

0,124571 0,074251 0,047286 0,026965 0,176662 0,097263

0,118214 0,016135 0,061691 0,016135 0,221770 0,083545

0,029820 0,005343 0,021603 0,005343 0,136862 0,046379

... 0,002834 0,000000 0,077251 0,077251 0,000000 0,096517

0,005767 0,017431 0,445934 0,428503 0,167736 0,306359

(5)

w

...

...

Caminho de Von Neuman para diferentes valores de d (1/taxa de cobertura)

d=0.61 d=0.625 d=0,69 d=0,77

(164 %) (160%) (145%) (130%)

01 0,111129 0,110643 0,108779 0,106913

02. ... 0,059622 0,060139 0,062112 0,064075

03. 0,201205 0,199634 0,193647 0,187717

04 .. 0,065406 0,065833 0,067449 0,069032

05 .. 0,135813 0,133713 0,12571 0,11778

06 .. 0,069526 0,06878 0,065924 0,063076

07 .. 0,023841 0,028434 0,045987 0,063454

08 0,333458 0,332824 0,330391 0,327953

E/P 0,307934 0,300231 0,27087 0,241765

g(1). -1,10% -0,84% 0,14% 1,13%

g (2) .. -2,17% -1,89% -0,82% 0,26%

g (3) .. 0% 0,27% 1,29% 2,33%

E/P - Peso das exportac;:oes no VBP total da economia.

g (1)- Taxa de crescimento eficiente na situac;:ao-base.

d=0.87 d=1,0 d=1.18

(115%) (100%) (85 %)

0,10506 0,103199 0,101295

0,066011 0,06794 0,069901

0,181887 0,176102 0,170248

0,070569 0,072077 0,073584

0,109981 0,102237 0,094395

0,060259 0,057442 0,054572

0,080705 0,097908 0,115405

0,325528 0,323094 0,320601

0,213135 0,184699 0,155896

2,13% 3,15% 4,19%

1,35% 2,46% 3,60%

3,37% 4,44% 5,53%

g (2)- Taxa de crescimento eficiente com deteriorac;:ao dos termos de troca (10 %).

d= 1,43 (70%) 0,09944 0,071804 0,164603 0,075009 0,086829 0,051774 0,132405 0,318153 0,12814 5,23% 4,73% 6,61%

g (3)-Taxa de crescimento eficiente com diminuic;:ao das propensoes a consumir (11 ,3% ).

.

d= 1,82 (55%) 0,097556 0,073707 0,158957 0,076433 0,079262 0,048976 0,149405 0,315704 0,100285 6,28% 5,89% 7,72%

d=2.5 d=4.0 d->oo

(40%) (25 %) (0%)

0,095671 0,09377 0,090581

0,075604 0,077502 0,08065

0,153367 0,147806 0,138644

0,077815 0,07917 0,081359

0,071764 0,064301 0,051997

0,046175 0,043367 0,038692

0,166369 0,183338 0,211499

0,313235 0,310747 0,306578

0,07272 0,045271 0

7,35% 8,44% 10,29%

7,06% 8,26% 10,29%

(6)

12 5

10

8

;f.

:i 6

0

U)

w

a:

0

4

w

0

~

~ 2

0

-2

-3

-0 02

35

[}---[] Sit. base

30

25

-;12.

0.. 20 m

> >-' a: 0 0.. 15 X w

10

5

0

0 0.2

378

04

0.4

GRAFICO 1

Modelo com comercio externo

trade-off crescimenlo/def/c/1 comerclal

06 08

TAXA DE COBERTURA (EXP./IMP.)

GRAFICO 2

Modelo com comercio externo

Exporta~oes

0.6 0.8 1.2

TAXA DE COBERTURA (EXP./IMP.)

1 2

X - - -X Dim. prof. cons.

0 · · · 0 Del. I. I. 1 0 ""'

0 - - 0 Sil. base

1 4 1 6

1.4 1.6

1 7

(7)

GRAFICO 3

Modelo com comercio externo

Sector 1 - Agricullura

11.5

[}--{] Sit. base

11

--'

<( 10.5

1-0

1-

,_

:::>

i!:: 10

:::>

0 0

z

~ 9.5

9

8.5

0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.2 1.4 1.6 1.8

TAXA DE COBERTURA (EXP.!IMP.)

GRAFICO 4

Modelo com comercio externo

Sector 2 - Energ. extract. metais

8.50

[}---{] Sit. base

8.00

....J 7.50

~

0

1-,_

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i!:: 7.00

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0 0

z

~ 6.50

6.00

5.50

0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.2 1.4 1.6 1.8

(8)

21

[J---{1 Sil. base

20

19

_.J

<(

I-18

0

I-

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1!: 17 :::>

0 0

z 16

;J?.

15

14

13

0 0.2 0.4

8.50

8.00

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I-0 I- 7.50

>--:::>

1!:

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0 0 7.00 z

;J?.

6.50

6.00

0 0.2 0.4

380

GRAFICO 5

Modelo com comercio externo

Sector 3 - Qui mica e diversas

0.6 0.8

TAAA DE COBERTURA (EXP./IMP.)

GRAFICO 6

Modelo com comercio externo

Sector 4 - Equlpamentos

0.6 0.8

TAXA DE COBERTURA (EXP./IMP.)

1.2 1.4 1.6 1.8

[}---{] Sil. base

(9)

GRAFICO 7

Modelo com comercio externo

Sector 5 - Texteis vest. cal.

14.--.---...---::---,

Q---{1 Sit. base

12

_J

<(

I-0

I-,_ 10

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e:

:::> 0 0

z ~ 8

6

0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.2

1.4

1.6 1.8 TAXA DE COBERTURA (EXP./IMP.)

GRAFICO 8

Modelo com comercio externo

Sector 6 - Madeira cort. mobil.

7.50

[]---{] Sit. base

7.00

6.50

_J

<(

I- 6.00 0

1-

,_

:::>

e:

5.50 :::> 0

0

5.00 z

"-4.50

4.00

0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.2 1.4 1.6 1.8 TAXA DE COBERTURA (EXP./IMP.)

(10)

GRAFICO 9

Modelo com comercio externo

Sector 7 - ConstruQao

22-r---~---,

D---{1 Sit. base

20

__J

15

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f-0

f-

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0 10 0

z

~

0

0.2

0.4 0.6 0.8 1.2 1.4 1.6 1.8

TAXA DE COBERTURA (EXP./IMP.)

GRAFICO 10

Modelo com comercio externo

Sector 8 - ServiQOS

34.0

~Sit. base 33.5

33.0

__J

<(

f- 32.5

0

f-

>-:::>

32.0

:::

:::>

0

0 31.5 z

~

31.0

30.5

30.0

0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.2 1.4 1.6 1.8

TAXA DE COBERTURA (EXP.IIMP.)

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