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O poder emancipatório do acesso à internet e a emergência de políticas públicas de inclusão digital: um caminho para o desenvolvimento da pessoa humana

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ

DANIELLI REGINA SCARANTTI

O PODER EMANCIPATÓRIO DO ACESSO À INTERNET E A EMERGÊNCIA DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO DIGITAL: UM CAMINHO PARA O

DESENVOLVIMENTO DA PESSOA HUMANA

Ijuí (RS) 2016

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DANIELLI REGINA SCARANTTI

O PODER EMANCIPATÓRIO DO ACESSO À INTERNET E A EMERGÊNCIA DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO DIGITAL: UM CAMINHO PARA O

DESENVOLVIMENTO DA PESSOA HUMANA

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Direito, com Área de Concentração em Direitos Humanos, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Direito.

Orientador: Dr. Mateus de Oliveira Fornasier

Ijuí (RS) 2016

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Catalogação na Publicação

Aline Morales dos Santos Theobald CRB10/1879

S285p Scarantti, Danielli Regina.

O poder emancipatório do acesso à internet e a emergência de políticas públicas de inclusão digital: um caminho para o desenvolvimento da pessoa humana / Danielli Regina Scarantti. – Ijuí, 2016. –

132 f. ; 29 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Direitos Humanos.

“Orientador: Mateus de Oliveira Fornasier”.

1. Novos direitos. 2. Inclusão digital. 3. Políticas públicas. I. Fornasier, Mateus de Oliveira. II. Título. III. Título: Um caminho para o desenvolvimento da pessoa humana.

CDU: 304:004

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UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Direito

Curso de Mestrado em Direitos Humanos

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação

O PODER EMANCIPATÓRIO DO ACESSO À INTERNET E A EMERGÊNCIA DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO DIGITAL: UM CAMINHO PARA O

DESENVOLVIMENTO DA PESSOA HUMANA

elaborada por

DANIELLI REGINA SCARANTTI

como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Direito

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Mateus de Oliveira Fornasier (UNIJUÍ): ___________________________________

Prof. Dr. Luciano Vaz Ferreira (FURG): __________________________________________

Prof. Dr. Luís Gustavo Gomes Flores (UNIJUÍ): ____________________________________

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Agradeço a Deus pela bênção desta conquista e por ouvir minhas preces quando eu supliquei saúde e força para concluir essa pesquisa.

Agradeço a minha família, Maria Regina, Jorlei e Jorlei Júnior, por me darem todo o suporte necessário para eu trilhar o caminho em busca da minha realização profissional.

Ao meu orientador Mateus agradeço por seus significativos ensinamentos, sua atenção e sua colaboração nesse trabalho. Lurdes Aparecida Grossmann, nenhuma palavra é capaz de descrever a minha gratidão por você que sempre me incentivou a buscar meu espaço na docência. Obrigada por tudo.

À professora Francieli Formentini, minha “fada madrinha”, pela acolhida durante toda minha permanência em Ijuí para realização do mestrado. Serei eternamente grata!

Ao PPGD da UNIJUÍ pela oportunidade de aprimorar meus estudos e, especialmente, aos professores Gilmar, Vera e Daniel e à funcionária Janete, por todo o apoio prestado nessa caminhada acadêmica.

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“[...] mesmo que você não se relacione com as redes, as redes vão relacionar-se consigo. Enquanto quiser continuar a viver em sociedade, neste tempo e neste lugar, terá que lidar com a sociedade em rede. Porque vivemos na Galáxia Internet.”

(CASTELLS, Manuel. A galáxia da internet: Reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2001, p. 325).

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RESUMO

A presente dissertação analisa a inclusão digital como uma alternativa para o aprofundamento do exercício da cidadania e da democracia no Brasil. Por meio do método fenomenológico, buscou-se pesquisar a potencialidade do acesso à internet como um meio de emancipação dos indivíduos, sendo constatado que o ingresso qualificado no ambiente digital é uma forma de transformar o cidadão em um sujeito ativo – informado, crítico e participativo – no espaço público da sociedade. Isso porque a internet se desenvolve nesse período pós-moderno de uma forma jamais vista na história da humanidade, proporcionando amplo acesso à informação e à comunicação. Tais atributos levaram ao reconhecimento do acesso à internet como um novo direito humano, pois vários outros direitos – de natureza civil, política, socioeconômica e de solidariedade – dependem do acesso à internet para a sua total efetivação. Todavia, a concretização desse novo direito inato a todos os seres humanos enfrenta problemas. Em média, metade dos domicílios brasileiros não possui conexão à internet, assim, aumentando ainda mais a exclusão social. Considerando isso, o estudo explorou ações afirmativas e políticas públicas de enfrentamento à exclusão digital, pois a principal hipótese sustentada é que a promoção qualificada da inclusão digital empodera os indivíduos, transformando-os em sujeitos ativos no exercício da cidadania e da democracia. Assim, o resultado desse processo será o desenvolvimento pessoal, intelectual e profissional da pessoa humana, e em decorrência o desenvolvimento brasileiro em todos os seus setores.

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ABSTRACT

This dissertation analyzes the digital inclusion as an alternative to the deepening of citizenship and democracy in Brazil. Through the phenomenological method, we sought to investigate the potential of the internet as a means of emancipation of individuals, found that the qualified entry in the digital environment is a way of transforming the citizen into an active subject - informed, critical and participatory - in the public space of society. This is because the Internet is developed in this postmodern period in a way never before seen in human history, providing broad access to information and communication. Such attributes led to the recognition of Internet access as a new human right, as many other rights - civil, political, socio-economic and solidarity - depend on access to the internet to its full realization. However, the realization of this new birthright of all human beings face problems. On average, half of Brazilian households do not have internet connection, thus further increasing social exclusion. Considering this, the study explored affirmative action and public policies to face the digital divide, as the main supported hypothesis is that the qualified promotion of digital inclusion empowers individuals, turning them into active subjects in the exercise of citizenship and democracy. So the result of this process is the personal, intellectual and professional development of the human person, and as a result the Brazilian development in all sectors.

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LISTA DE SIGLAS

ANATEL - Agência Nacional de Telecomunicações CDI - Comitê para Democratização da Informática

Cetic.br - Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação

CRCs - Centros de Recondicionamento de Computadores

DARPA - Agência de Pesquisas Avançadas do Departamento de Defesa Fapesp - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo FAPs - Fundações de Apoio à Pesquisa

LNCC - Laboratório Nacional de Computação Científica OAB - Ordem dos Advogados do Brasil

ONGs - Organizações não governamentais ONU - Organização das Nações Unidas PEC - Proposta de Emenda à Constituição

PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

SECOM - Secretaria de Comunicação Digital da Presidência da República TIC - Tecnologias de informação e comunicação

UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro

UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul

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LISTA DE ITENS

a) Programa Banda Larga nas Escolas ... 92

b) Programa Computadores para Inclusão... 93

c) Programa Centros de Recondicionamento de Computadores ... 93

d) Programa Cidades Digitais ... 94

e) Programa Inclusão Digital da Juventude Rural ... 95

f) Programa Oficina para Inclusão Digital e Participação Social ... 95

g) Programa Cidadão Conectado – Computador para Todos ... 95

h) Plano Nacional de Banda Larga ... 96

i) Programa Gesac ... 97

j) Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais ... 97

k) Programa Nacional de Inclusão Social e Digital ... 98

l) Programa Nacional de Tecnologia Educacional – ProInfo ... 98

m) Programa Redes Digitais da Cidadania ... 99

n) Programa Pontos de Inclusão Digital ... 100

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 12

1 O DIREITO HUMANO DE ACESSO À INTERNET... 17

1.1 A expansão da internet no Brasil: Da década de 80 à sociedade da informação ... 18

1.2 Breve histórico dos direitos humanos: Dos direitos civis ao direito de acesso à internet ... 28

1.3 O acesso à internet como direito meio para o alcance de outros direitos humanos ... 38

2 EXCLUSÃO DIGITAL NO BRASIL... 49

2.1 O problema da exclusão digital e suas consequências ... 50

2.2 A inclusão digital como um processo para a inclusão social ... 62

2.3 O direito de acesso à internet na legislação brasileira ... 74

3 POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO DIGITAL E EMANCIPAÇÃO ... 81

3.1 Alternativas para a inclusão digital e emancipação dos sujeitos ... 81

3.2 Políticas públicas contemplativas ... 91

3.3 Direitos humanos e educação: O acesso à internet aliado à escola ... 102

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 112

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho de dissertação explora o acesso à internet como um novo direito humano. A pesquisa busca compreender de que maneira o acesso ao mundo digital oportuniza o empoderamento e a emancipação dos indivíduos pós-modernos, bem como investiga a possibilidade desse novo direito poder ser usado como um meio de aprofundamento do exercício da cidadania e da democracia no século XXI, no Brasil.

Considerando que a intensa circulação de informação e comunicação nas redes de internet propicia maiores oportunidades de alcance do conhecimento, o tema da pesquisa foi delimitado à análise da importância do direito de acesso à internet se desenvolver como um mediador para a efetivação de outros direitos de natureza civil, política, socioeconômica e de solidariedade. Objetivou-se, ainda, investigar a emergência de políticas públicas de inclusão digital que fomentem a construção de um sujeito ativo – informado, crítico e participativo – na sociedade contemporânea.

Tendo em vista que desde a década de 1980 a sociedade brasileira avança em direção ao mundo digital, o problema abordado nessa dissertação concentrou-se em investigar se o direito de acesso à internet pode ser usado em benefício da promoção da cidadania e da democracia. Isso porque é possível observar que na medida em que o acesso à internet proporciona o amplo acesso à informação e à comunicação, ele, então, pode ser considerado como um direito meio importante para a concretização plena de outros direitos.

Escolheu-se traçar essa problematização para o presente estudo porque a atual sociedade vem sendo marcada pelo progresso tecnológico e a crescente expansão das tecnologias de informação e comunicação. Nesse cenário, a internet ganha destaque por sua capacidade de interlocução que ultrapassa as fronteiras territoriais dos Estados. Sendo assim, o acesso a ela se difunde, no mundo contemporâneo, como um meio potencialmente emancipatório do indivíduo que contribui para sua formação pessoal, intelectual e profissional.

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O acesso à internet é capaz de emancipar o cidadão, pois o poder de informar e comunicar pode transformar o indivíduo num ator importante na esfera civil, política e socioeconômica da sociedade. O acesso ao mundo digital proporciona o protagonismo dos cidadãos. As redes permitem que os sujeitos sejam emissores e ao mesmo tempo receptores de conteúdo e por isso garantem uma participação ativa no espaço público.

A partir do debate dessas questões, o presente trabalho promete trazer para a comunidade local uma discussão oportuna, significativa e atual sobre as possibilidades de emancipação existentes no mundo digital. O foco é esclarecer que a apropriação qualificada das informações e da comunicação garantida pelo acesso à internet é uma alternativa para transformar os indivíduos em sujeitos ativos – informados, críticos e participativos – na sociedade, fatores esses que levam ao aprofundamento do exercício da cidadania e da democracia.

E, em termos jurídicos, essa pesquisa é importante porque se propõem a discutir um novo direito humano. Embora o direito de acesso à internet tenha um amplo espaço para observações e diálogos, ele ainda é pauta de poucas investigações teóricas. Um dos grandes problemas que deve ser examinado é a lacuna existente entre a afirmação do direito humano de acesso à internet e a sua efetivação. Cabe aos operadores do direito promoverem pesquisas a fim de buscar soluções para questões como essa, de interesse coletivo. Pois, conforme será explanado ao longo desse estudo, o acesso à internet, quando qualificado, é um meio importante para se chegar próximo da plenitude do exercício da cidadania e da democracia.

Diante dessas análises que identificam o acesso à internet como um novo direito elevado à categoria de direito humano desde o ano de 2011, essa dissertação está vinculada à linha de pesquisa intitulada Direitos Humanos, Meio Ambiente e Novos Direitos, do Programa de Pós-Graduação em Direito, Mestrado em Direitos Humanos da Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ).

Para sua realização, observou-se o método de abordagem fenomenológico, o qual busca compreender, bem como interpretar o mundo social a partir dos acontecimentos humanos. Ou seja, a análise da relação entre mundo e indivíduo ocupa um lugar especial de articulação nessa pesquisa. E quanto ao método de procedimento escolhido foi utilizado o monográfico a fim de estruturar uma pesquisa delimitada e específica. Para tanto, usou-se a técnica de pesquisa bibliográfica com a

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finalidade de buscar nas fontes mediatas e imediatas de pesquisa o levantamento e a análise das informações necessárias e úteis à elaboração da dissertação.

Considerando esses apontamentos destacados, o presente trabalho foi dividido em três capítulos que discutem, respectivamente: o direito humano de acesso à internet, o problema da exclusão digital no Brasil e as políticas públicas de inclusão digital e emancipação.

O primeiro capítulo aborda o direito humano de acesso à internet. A análise inicia a partir de um resgate da trajetória histórica da internet. A pesquisa examina que, no Brasil o acesso à internet começou a tomar proporções maiores a partir da década de 1980. Naquela época, a internet era uma ferramenta, usada para informar e comunicar, apenas por um grupo seleto de pessoas. Com o passar dos anos essa ferramenta foi expandido suas funcionalidades e se tornando acessível a um público cada vez maior. Ao chegar na sociedade da informação, o acesso à internet permite a execução de múltiplas tarefas e se tornou num meio eminente para ampliar o exercício da cidadania e da democracia.

Diante dessa transformação real da sociedade, o texto discorre que o acesso à internet se tornou necessário para a execução plena de muitas atividades cotidianas, sendo que quem não possuir acesso a ela sofrerá consequências e o nível de desigualdade entre a população irá aumentar. Por isso, o estudo apresenta o acesso à internet como um novo direito humano e observa a evolução dos direitos dessa espécie.

Na sequência, destaca-se, principalmente, a característica do acesso à internet ser um direito-meio para a efetivação de outros direitos. Nesse sentido, pesquisaram-se os direitos onde o acesso à internet age com mais visibilidade como um direito mediador para facilitar o acesso ao direito fim, como a ampliação da liberdade de expressão, a aproximação dos cidadãos ao trabalho dos representantes políticos, a facilitação de novas formas de ensino e aprendizagem na educação, e a circulação de informações e a geração de conhecimento que propiciam o desenvolvimento humano, civil, político e socioeconômico.

Assim, enquanto que o primeiro capítulo cuida de analisar a importância adquirida pelo direito humano de acesso à internet na pós-modernidade e a necessidade de alcançá-lo para se ter uma vida digna, o segundo capítulo trata que, embora o acesso ao mundo digital seja o responsável por muitas vantagens decorrentes da ampliação do acesso à informação e à comunicação, esse mesmo fato

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é responsável pelo aumento da desigualdade entre os indivíduos que não possuem acesso às redes.

O segundo capítulo trata do problema da exclusão digital no Brasil. Atualmente, em torno de metade da população se encontra nas margens do mundo digital. Por isso, esse capítulo inicia trazendo os problemas acarretados pelo “apartheid digital” criado. Porque a ascensão do mundo digital causou mudanças significativas nas formas de comunicação, de cultura, no trabalho, na economia, nos serviços e na participação social, e quem não se adaptar a essa nova realidade será prejudicado.

Logo, a pesquisa aborda a necessidade de inclusão digital como uma forma de inclusão social dos sujeitos. Isso porque quando falamos de inclusão digital não se trata simplesmente de alcançar um computador conectado à web para o indivíduo utilizar apenas uma rede social. Mais do que isso, trata-se de ensinar a trocar informações e a partir disso gerar conhecimento, fazendo do internauta um verdadeiro sujeito, um ator comprometido com a transformação social do espaço onde vive.

Além disso, o segundo capítulo examina que o direito precisa acompanhar essa evolução. Em 2014 houve a aprovação do Marco Civil da Internet, o qual garante que o acesso à web é imprescindível para a plenitude da prática de cidadania. Ademais, tramita no Congresso Nacional três propostas de emenda à Constituição (PECs), uma que visa elevar o acesso à internet à categoria de direito social e outras duas, de direito fundamental. O objetivo é que se possa exigir a atuação do Estado para alcançar esse direito a todos os cidadãos.

Por fim, o terceiro e último capítulo investiga alternativas de inclusão digital e emancipação dos indivíduos. Verifica-se que a internet só pode cumprir com afinco seu papel de difundir informação e conhecimento, se os Estados se comprometerem com o desenvolvimento de políticas eficientes para universalizar o meio digital. Se isto não for feito, o que teremos é o aumento das desigualdades em razão de que somente a elite conseguirá ter acesso à internet, assim, resultando em uma divisão ainda maior entre cidadãos ricos e pobres.

Nesse cenário surgem as ações afirmativas – ferramentas especiais e temporárias – usadas para fortalecer a inclusão a partir do objetivo de reduzir desigualdades de determinados grupos vulneráveis que tenham sofrido discriminação por falta de acesso a algum elemento indispensável à manutenção da dignidade da pessoa humana.

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Considerando isso, o trabalho verifica as ações afirmativas de inclusão digital e as políticas públicas executadas pelo Governo Federal que contribuem no empoderamento dos cidadãos. A partir das observações realizadas no portal eletrônico oficial do Governo brasileiro, constata-se que existem dezessete políticas públicas destinadas a reduzir a exclusão digital, sendo todas elas averiguadas pela pesquisa.

Por fim, para finalizar o último capítulo da dissertação é explorada a questão do acesso à internet nas escolas, um dos principais locais de formação do sujeito. O propósito é discorrer como que, educação e comunicação podem ser aliadas ao desenvolvimento de práticas de qualificação do cidadão no uso/apropriação dos processos comunicativos para fomentar o exercício pleno da democracia e da cidadania.

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1 O DIREITO HUMANO DE ACESSO À INTERNET

Ao longo dos anos, a sociedade vivenciou diferentes formas de comunicação entre os indivíduos. A história ensina que a comunicação não verbal, baseada principalmente em gestos, predominou durante a vivência dos nossos ancestrais. Com o decorrer do tempo, essa prática foi sendo aprimorada até chegar na comunicação oral e escrita, sendo que, atualmente, esse tipo de comunicação se expande também no mundo digital.

As sociedades primitivas evoluíram e chegamos na pós-modernidade com a consolidação da atual sociedade da informação, uma sociedade globalizada que tem como marca registrada o intenso desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação (TIC). Dentre as quais, destacamos a internet, a qual se apresenta como o objeto principal de análise deste primeiro capítulo da dissertação.

Com o advento da internet, as formas de comunicação foram ampliadas e a troca de informações foi facilitada. A web contribuiu significativamente para a comunicação transparente entre indivíduos e órgãos públicos e privados, a tal ponto que o atual período vem sendo chamado pelos estudiosos como era digital. Uma era em que o desenvolvimento tecnológico está implicando diretamente no desenvolvimento humano, civil, político, econômico e social dos países.

O acesso à internet amplia de forma expressiva o acesso à informação na sociedade contemporânea. E, observa-se que, sem informação não há participação, e sem participação não há democracia. O exercício pleno da cidadania e da democracia depende de sujeitos ativos, os quais sejam informados, críticos e participativos.

Portanto, o presente capítulo está dividido em três momentos que abordam, não simplesmente a existência, sobretudo a importância de um direito humano de acesso à internet na sociedade.

No primeiro momento é abordada a expansão do papel da internet no Brasil, desde meados da década de 80 até a formação da atual sociedade da informação,

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onde o acesso à internet passa a ser imprescindível para o desenvolvimento humano, civil, político e socioeconômico.

Na sequência, o segundo item explora a evolução histórica dos direitos humanos até o reconhecimento do acesso à internet como um novo direito dessa espécie.

Assim, ao final do primeiro capítulo, sua terceira parte analisa o acesso à internet como um direito-meio para a efetivação de outros direitos humanos, tendo em vista sua característica ímpar de circular informação e gerar conhecimento para os cidadãos.

1.1 A expansão da internet no Brasil: Da década de 80 à Sociedade da Informação

A internet passou por um longo período de expansão e transformações até se tornar o ambiente digital que conhecemos hoje. No Brasil, se considerarmos a internet como um dos principais meios de comunicação, essa nova cultura ascende no final do século XX, e desde lá não para de evoluir, ampliando cada vez mais as possibilidades de realização de atividades online. Esse evento, para Manuel Castells (2001), faz parte de uma aventura humana extraordinária, pois ele entende que a criação e o desenvolvimento do mundo digital estão entre os ápices das invenções humanas, em virtude de que excede metas institucionais, ultrapassa empecilhos burocráticos e subverte valores definidos no sistema de inauguração da nova sociedade tendencialmente virtual.

A grandeza da internet é definida pelo fato de que o acesso a ela se apresenta com um caráter único de convergência das mídias. Cicilia Maria Krohling Peruzzo (2002) destaca que esse meio concentra em si uma série de serviços, por exemplo, de televisão, rádio, cinema, música, livros, publicidade, venda de produtos... Atualmente, o ambiente digital contempla todas as funcionalidades do que foi o telégrafo, o telefone, o telex, o rádio, a televisão e o fax. Exatamente conforme descreve Henry Jenkis (2009, p. 38): “Novas tecnologias midiáticas permitiram que o mesmo conteúdo fluísse por vários canais diferentes e assumisse formas distintas no ponto de recepção.”.

Importante destacar que as mídias mais antigas não estão desaparecendo. Percebe-se sim que algumas rádios, jornais e revistas impressas têm fechado e que

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as redes de televisão têm mudado seu formato de programação (a Globo, por exemplo, já anunciou que não vai mais obter licenças de filmes para programas vespertinos, pois isso não é mais economicamente viável), por causa da internet, a qual “estabeleceu uma concorrência nunca antes vista: todos são produtores de informação e a disponibilizam quase que em tempo real para quem estiver conectado” (MÜLLER, 2015, p. 127). No entanto, isso não significa que essas mídias estão perdendo sua utilidade com o advento da internet, elas desempenham o mesmo papel de importância no que se refere à informação e comunicação.

O que muda, nesse contexto, é que o acesso à internet abre um espaço maior de participação instantânea, visto que nela o mesmo ser humano pode ser emissor e receptor de conteúdo. Conforme ressalta Henry Jenkis (2009), já é consensual que as transformações tecnológicas no processo de convergência dos meios de comunicação tendem a promover uma cultura participativa maior.

Enfim, o fluxo intenso de informações e comunicação mantido pelas redes cibernéticas é uma inovação jamais vista na história da humanidade. Desse modo, é oportuno que seja brevemente resgatada a história dessa ferramenta, entre a década de 80 até a formação da atual sociedade da informação, período em que a internet aos poucos foi se tornando um meio de suma importância na vida dos seres humanos, a tal ponto que hoje já se torna difícil imaginar a vida contemporânea sem ela.

Em termos técnicos, rapidamente é possível definir a internet como:

[...] uma rede mundial de computadores ou terminais ligados entre si, que tem em comum um conjunto de protocolos e serviços, de uma forma que os usuários conectados possam usufruir de serviços de informação e comunicação de alcance mundial através de linhas telefônicas comuns, linhas de comunicação privadas, satélites e outros serviços de telecomunicações. (MORAIS; LIMA; FRANCO, 2012, p. 42).

Já pelo outro lado da técnica, o sociólogo espanhol Manuel Castells (2001) define a internet como sendo o tecido das nossas vidas. O referido autor explica que assim como a eletricidade foi essencial para a era industrial, a internet é fundamental para o atual período, em razão do seu poder de circular informações para todo o mundo. Assim, as redes mantidas pela internet são tão importantes para a forma organizacional da era da informação, quanto foram as tecnologias de geração e distribuição de energia para as fábricas e empresas da sociedade industrial.

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Em âmbito internacional, a internet surgiu nos Estados Unidos na década de 1960, no período da Guerra Fria, como “sistema de apoio a uma eventual reação militar em caso de ataque soviético ao território americano” (JAMIL; NEVES, 2000, p. 4), na base da Agência de Pesquisas Avançadas do Departamento de Defesa (DARPA). O objetivo era consolidar uma rede de informações militares capaz de permitir uma comunicação eficaz entre os centros de comando e de pesquisa bélica.

Então, o espaço que hoje conhecemos como internet foi o resultado do aprimoramento de um antigo sistema denominado de Arpanet, o qual, após ter dado os primeiros passos nas chefias beligerantes, passou a possibilitar a comunicação entre quatro instituições de ensino: Universidade da Califórnia, LA e Santa Bárbara; Instituto de Pesquisa Stanford e Universidade de Utah. (VIEIRA, 2003).

Isso evidencia que durante a sua história, o uso da internet teve suas finalidades alteradas. Originalmente criada para alcançar objetivos militares, a internet passou a ser usada com fins civis, destacando-se sua utilização no espaço acadêmico. Patrícia Peck Pinheiro (2010, p. 59) descreve esse processo:

[...] esse sistema passou a ser usado para fins civis, inicialmente em algumas universidades americanas, sendo utilizado pelos professores e alunos como um canal de divulgação, troca e propagação de conhecimento acadêmico-científico. Esse ambiente menos controlado possibilitou o desenvolvimento da internet nos moldes os quais a conhecemos atualmente.

Pierre Lévy (1999) também destaca essa transição referida. Ele aponta que é correto afirmar que a internet nasceu de uma decisão do exército americano, considerando que o sistema Arpanet foi originalmente desenvolvido para possibilitar que os laboratórios espalhados por diversos lugares do território americano conseguissem ter acesso aos computadores concentrados em determinados locais. Entretanto, esse esquema traçado rapidamente foi alterado. Isso porque, desde a origem do sistema Arpanet, o seu principal uso foi a comunicação entre os pesquisadores.

Após isso, a internet foi se expandindo para outras áreas, para outros países e para outros continentes, mantendo sempre como característica a ampliação das suas utilidades. No Brasil, a história registrada marca que esse processo de evolução da web teve início na década de 80. Se considerarmos a internet como agente transformadora das relações sociais e econômicas do país, Eduardo Vieira (2003) destaca o ano de 1988 como o ano-chave para a abertura da evolução digital no Brasil.

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Em território nacional, a internet teve sua origem em meados de 1988, através de uma conexão realizada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a qual estava adstrita à Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia. Para esta realização, o país recebeu o apoio do centro de pesquisa científica dos Estados Unidos – Fermilab, um dos mais importantes centros de pesquisa científica daquele país. Esta ação foi desenvolvida pelos professores Oscar Sala e Flávio Fava de Moraes, da Universidade de São Paulo (USP). Oficialmente esta conexão foi inaugurada em 1989. Também em época próxima, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), em Petrópolis, no Rio de Janeiro, conseguiram ter acesso à internet e garantiram a comunicação com universidades americanas. (VIEIRA, 2003).

Nesse período em narração, o uso da internet estava restrito aos professores, funcionários e alunos das faculdades. Então, no ano de 1992, o Governo federal criou a Rede Nacional de Pesquisa. Por meio desse ato, novos pontos de conexão foram estruturados em várias universidades, fundações de pesquisa e órgãos governamentais do Brasil. O que se percebe facilmente é que por onde o acesso à internet era instalado, as pessoas aceitavam muito bem a estrutura digital, fato que impulsionou o crescimento da referida nova tecnologia. (VIEIRA, 2003).

Outrossim, a receptividade não poderia ocorrer de forma diferente, pois “A Internet é um meio de comunicação que permite, pela primeira vez, a comunicação de muitos para muitos em tempo escolhido e a uma escala global”, relata Manuel Castells (2001, p. 92).

Eduardo Vieira (2003) destaca que, em meados de 1995, os Ministérios das Comunicações e da Ciência e Tecnologia reconheceram que os benefícios trazidos por essa ferramenta poderiam ser úteis também para os demais indivíduos que não estavam incluídos naqueles locais estruturados para o uso dos mecanismos digitais. Em decorrência disso, o uso comercial da internet foi autorizado. Desse modo, possibilitou-se o acesso a serviços prestados por meio da web para qualquer cidadão brasileiro munido de um computador conectado à grande rede.

A partir de então, os avanços tecnológicos aumentaram em grandes proporções. Logo, no ano de 1996 a internet atingiu um de seus ápices na sociedade brasileira. Ocorreram melhorias no serviço prestado e a propagação acelerada do meio virtual entre os indivíduos, deixando vários internautas satisfeitos com os materiais inovadores disponibilizados pela rede. Ocorreram mudanças inéditas nas

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relações humanas, pois a internet proporcionava a conexão em tempo real com qualquer parte do mundo conectada na web, bem como uma facilidade jamais vista na troca de informações que propiciam o entendimento e a geração de conhecimento.

Sobre essa evolução do ambiente digital, Patrícia Peck Pinheiro e Cristina Moraes Sleiman (2008) explanam que até pouco tempo atrás a internet era um simples projeto que prezava pela garantia de um espaço livre para a troca de informações. Todavia, em um período curto, a internet evolui muito e tomou uma proporção imaginável pelas gerações anteriores, as quais jamais sonhavam que pudesse existir um ambiente assim com alta capacidade de realizar múltiplas atividades.

Muito além de fornecer extrema facilidade na comunicação e troca de dados, notícias e conhecimento, a internet passou a ocupar um papel marcante e revolucionário na vida dos indivíduos. Ela se tornou forma de entretenimento, meio para prestação de serviços e ambiente para comércio variado, bem como plataforma para órgãos públicos e privados desempenharem suas necessidades – dentre tantas outras ferramentas e utilidades que ela apresenta. É como aponta Pierre Lévy (1999, p. 110): “Por meio dos computadores e das redes, as pessoas mais diversas podem entrar em contato, dar as mãos ao redor do mundo”. Chega-se a um momento movido por informações e comunicação em escala planetária, transformando os seres humanos em cidadãos do mundo1. É nesse caminho a internet vai se desenvolvendo

como um meio potencialmente emancipatório do indivíduo, contribuindo para sua formação pessoal, intelectual e profissional, na medida em que fornece suporte para o desenvolvimento humano, civil, político e socioeconômico.

Portanto, observa-se que o avanço tecnológico causado pela internet impulsionou uma série de mudanças e alterações na conjuntura da sociedade contemporânea porque, conforme destaca Pierre Lévy (1999), a cada minuto que passa há novos computadores sendo conectados e novas informações sendo injetadas na rede. Vive-se agora a possibilidade de comunicação instantânea em via dupla por meio de uma mídia horizontal e interativa que se desenvolve para auxiliar na emancipação do indivíduo, tendo em vista que no ambiente digital emissor e

1 Cidadão do mundo é um termo usado para definir os indivíduos que desenvolvem mais de uma identidade (em razão do intercâmbio cultural) ao se interconectarem com outros sujeitos do mundo ultrapassando as fronteiras territoriais dos Estados. Norberto Bobbio, Vera Lucia Spacil Raddatz e Victor Gentilli são alguns dos autores que usam este termo.

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receptor se hibridizam nas instâncias civis, políticas, sociais e econômicas do mundo, pois a interlocução garantida por ela ultrapassa as fronteiras territoriais dos Estados.

Ao escrever o livro Cibercultura em 1997, Pierre Lévy (1999, p. 146) afirmava que o “[...] o ciberespaço irá tornar-se o principal laço de comunicação, de transações econômicas, de aprendizagem e de diversão das sociedades humanas”. Em muitas de suas apostas, ele estava no caminho certo.

Nessa lógica, Manuel Castells (2003, p. 285) entende que a internet revolucionou a comunicação entre as pessoas, pois ela permitiu aos “grandes meios de comunicação entrar em curto-circuito”. Ou seja, devido ao seu caráter horizontal, a internet possibilita que todos os cidadãos se comuniquem em um espaço aberto e produzam discussões úteis para as diferentes esferas da sociedade.

A internet não é uma simples ferramenta: mais do que isso, ela é uma extensão das nossas vidas, pois todas as ações virtuais terão reflexos na vida real. Isso porque ela se apresenta na pós-modernidade como um meio útil e necessário para várias tarefas cotidianas, dentre elas, as relações de consumo, as transações bancárias e, principalmente, o progresso e o desenvolvimento da formação pessoal, intelectual e profissional do indivíduo. (PINHEIRO; SLEIMAN, 2008).

Portanto, esse é o pano de fundo da concepção do fenômeno global chamado de sociedade da informação. Sobre ela, Tadao Takahashi (2000, p. 3) discorre:

Assistir à televisão, falar ao telefone, movimentar a conta no terminal bancário e, pela Internet, verificar multas de trânsito, comprar discos, trocar mensagens com o outro lado do planeta, pesquisar e estudar são hoje atividades cotidianas, no mundo inteiro e no Brasil. Rapidamente nos adaptamos a essas novidades e passamos – em geral, sem uma percepção clara nem maiores questionamentos – a viver na Sociedade da Informação, uma nova era em que a informação flui a velocidades e em quantidades há apenas poucos anos inimagináveis, assumindo valores sociais e econômicos fundamentais.

Segundo o referido autor (TAKAHASHI, 2000), esse fenômeno global afeta regiões, segmentos sociais, setores econômicos, organizações e indivíduos, em razão de que ele traz novas condições de acesso à informação e às bases de conhecimento, bem como impõe alterações na capacidade de aprender e inovar. Ou seja, é o desenvolvimento de um novo modelo de sociedade baseado na expansão e no fortalecimento dos meios digitais, os quais – de acordo com Cicilia Maria Krohling Peruzzo (2002, p. 45) – “[...] vêm revolucionar todo o status quo conhecido até então, da economia às mediações [...]”.

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Essa revolução tecnológica está desenvolvendo uma estrutura indispensável para os cidadãos que vivem em sociedade. A União Internacional de Telecomunicações (2013, p. 1) afirma,

El número de personas que se incorporan a la sociedad mundial de la información no deja de aumentar y las redes de comunicaciones de alta velocidad se están convirtiendo en una infraestructura indispensable.

Laércio Torres de Góes (2010, p. 1) corrobora essas afirmações. Ele defende que desde o início da expansão da internet no mundo, ela serviu para o desenvolvimento de variadas tarefas em diversos setores da sociedade e hoje podemos atestar que ela se tornou “um instrumento de transformação social” para o mundo.

Sob esta linha de raciocínio, o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) sob o auspício da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) destaca:

Uma sociedade do conhecimento, segundo a Unesco, é aquela capaz de produzir, processar e disseminar informações de forma a aplicar esse conhecimento para o desenvolvimento humano – um processo que se intensifica com a disseminação das tecnologias de informação e comunicação (TIC). Assim, a sociedade do conhecimento está baseada no empoderamento cívico das pessoas e na garantia dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, e deve ser plural, participativa, inclusiva e solidária, transformando as pessoas em cidadãos ativos e emancipados no uso das novas tecnologias e mídias digitais. (CETIC.BR, 2014, p. 9).

Indubitavelmente, o século XXI vem sendo marcado pelo avanço tecnológico e a crescente expansão da internet para transformar as pessoas em cidadãos ativos e emancipados, cidadãos que sejam informados, críticos e participativos no exercício da democracia e da cidadania, conforme citou o parágrafo anterior. Atualmente, o acesso à internet se transformou no meio mais poderoso que o indivíduo possui para mostrar que tem vez e voz, pois o ambiente digital possibilita que ele se manifeste e se una aos demais semelhantes para ir em busca de seus direitos e para se informar sobre seus deveres. Manuel Castells (2001, p. 168) acrescenta:

Os movimentos do século XXI, acções colectivas direcionadas para a transformação dos valores e das instituições sociais, manifestam-se na e através, da Internet. O movimento operário, o sobrevivente da era industrial,

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liga-se, organiza-se e mobiliza-se com e na Internet. O mesmo se pode dizer do movimento ecologista, o movimento feminista, os diversos grupos a favor dos direitos humanos, os movimentos de identidade étnica, os movimentos religiosos, os movimentos nacionalistas e os defensores de uma interminável lista de projectos culturais e causas políticas. O ciberespaço converteu-se numa ágora electrônica global onde a diversidade do descontentamento humano explode numa cacofonia de pronúncias.

Ou seja, essa lição de Manuel Castells (2001) permite elaborar, no mínimo, duas conclusões prévias sobre a liberdade de manifestação na internet. De um lado se tem toda a grandeza do ambiente digital que dá azo à liberdade de expressão do indivíduo, que permite a ele ir em busca das informações colocadas na web para potencializar o seu papel de ator comprometido com a sociedade, de sujeito empoderado que luta pelos seus direitos e cumpre seus deveres. Mas, por outro lado, o ambiente digital muitas vezes dá lugar ao ódio.

Muitas das opiniões postadas na internet são carregadas de discriminação, intolerância e violência. A pesquisadora Raquel Recuero (2015, p. 1) refere que as redes sociais são os locais onde mais se encontram os discursos de ódio. Para ela, as pessoas são mais agressivas na internet pelos seguintes motivos:

Primeiro, porque elas não veem a audiência, que é invisível. Elas interagem com uma tela, e com uma audiência imaginada. No "calor" da emoção, acabam falando coisas para essa audiência, que, claro, não é todo mundo. Isso gera mais agressão ainda, já que as pessoas que não foram intencionalmente agredidas se ofendem, e por aí vai. Em segundo lugar, aquilo que é dito permanece, é difícil de apagar (qualquer um pode dar print screen) e tem muito mais impacto. Em terceiro, as redes são heterogêneas, com pessoas de diferentes credos, opções e ideias. Só que na vida cotidiana, a gente normalmente não procura o conflito na conversa, mas a cooperação. Há exceções, é claro, mas de modo geral a gente conversa com as pessoas sobre o que elas concordam conosco, evitamos os assuntos mais "espinhosos". Na internet, tu não consegues fazer isso. Não tens como separar as audiências. Além disso, existem os "trolls" e os "haters", que são grupos organizados para implicar, fazer barulho e criar confusão online, não apenas na seara política, mas em qualquer uma. E esses grupos conseguem se articular bem na internet, porque a rede proporciona isso.

Raquel Recuero (2014, p. 1) salienta que os discursos de ódio sempre estiveram presentes na sociedade, principalmente quando o assunto era racismo ou minorias. No entanto, é com o advento da era digital que esses discursos passaram a ter mais visibilidade perante a população.

A questão é que, uma vez mais visível, esse discurso de ódio pode encontrar ressonância. E uma vez que encontre, ele é legitimado por outros grupos, seja através de concordância, apoio, curtidas, compartilhamentos etc. E essa

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legitimação amplia a força desse discurso, tornando-os menos marginal. Então, aquele discurso torna-se mais aceito e seu enunciador, mais certo de que aquilo é "verdadeiro". Esse mecanismo funciona tanto para discursos que consideramos legais (por exemplo, apoio a causas e discussão de questões de gênero, etc.) quanto para discursos que consideramos intolerantes.

No que se refere às opiniões políticas, a questão das comunicações de ódio na internet também é muito presente e perceptível. Marcia Tiburi (2015, p. 28) menciona que “desaprendemos a conversar e somos incapazes de constituir um cenário ético-político diferente.”. Ela (TIBURI, 2015) expõe que, atualmente, as discussões feitas desprezam o outro, levando o ser humano a agir como se o outro não fosse ninguém e, assim, profanando diretamente o respeito que se deveria ter com a singularidade de cada um.

Marcia Tiburi (2015) destaca que a negação do outro é um problema que desencadeia a destruição da política. Não é possível permitir a alienação. É preciso urgentemente recuperar a capacidade de diálogo entre a coletividade e ir ao encontro da alteridade. Porque é por meio do diálogo que se alcança a composição da ética e a ética é um dos principais pilares para a organização de uma política de qualidade.

É por razões como esta que surge cada vez mais a necessidade do cidadão se qualificar para usar os benefícios da internet de forma correta, ética e moral. É imprescindível prestar apoio às práticas de educação para os meios – fato este que dá espaço ao que vem sendo chamado, pelos pesquisadores, de educomunicação.

Estudiosos, como Mário Kaplún (1923-1998), acreditam que o processo de emancipação do ser humano está intimamente ligado ao conjunto formado pela educação e pela comunicação. Na visão do referido autor (1998), somente é possível tratar de comunicação depois que tiver sido alcançado e abordado com firmeza o tema da educação. Para comunicar, o cidadão deve estar educado e qualificado para emitir e receber informação, pois somente este processo garante a geração de conhecimento – um dos principais objetivos traçados no acesso à internet.

A educação para os meios voltará a ser abordada no terceiro capítulo com mais ênfase. Entretanto, desde já é necessário frisar que, embora o ambiente digital contemple uma extensa gama de vantagens, ele também deixa uma lacuna aberta ao conceder liberdade total para os internautas. Lacuna esta que pode ser preenchida por processos educomunicativos para garantir um acesso qualificado à internet. A informação é útil quando nos apropriamos dela.

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Em nenhum outro período da história se teve amplo acesso à informação como se tem agora com a internet. A sociedade da informação é movida por comunicação rápida e prática, ou seja, “informação e o conhecimento sempre foram fundamentais para o desenvolvimento social e econômico da sociedade, mas atualmente ganharam uma dimensão nunca antes experimentada pela sociedade” (NEVES; FREIRE, 2007, p. 3). E isso reflete em transformações no setor público e privado, em benefício do desenvolvimento humano.

Observa-se a criação de uma nova geração, a qual cresceu dentro desse mundo de redes e já aprendeu a usá-las para aprimorar o conhecimento científico e se engajar nos mais diversos acontecimentos da coletividade, principalmente no setor da política, afirma Don Tapscott (2010, p. 79):

Quando não estão estudando ou ouvindo música, os estudantes universitários muitas vezes se engajam em causas cívicas, como eu fiz na minha época. Agora, eles estão percebendo que as redes sociais lhes dão um poder extraordinário para trabalhar fora dos limites tradicionais da política a fim de causar mudanças importantes.

Ao se apropriar da informação é possível transformá-la em conhecimento. E isto é de extrema importância para o desenvolvimento e para a emancipação do ser humano. Conforme Robin Mansell e Gaëtan Tremblay (2015, p. 10), o conhecimento é uma alternativa para a realização de objetivos socioeconômicos, bem como é uma forma para a socialização cultural, a participação política e a integração aos mercados. Os autores reforçam que o conhecimento propiciado pela internet é um meio de alcance da emancipação individual e coletiva.

As mídias, de fato, sempre desempenharam um papel muito importante nos processos de construção cultural e política da sociedade. A diferença é que as mídias sociais conferem nova perspectiva ao termo cidadania, com um público que lê, interpreta e passa adiante mensagens recebidas. As redes provocaram uma mudança na forma de se comunicar e, ao alterar a comunicação, as modificaram igualmente as relações sociais. Embora o acesso à rede ainda seja limitado [...], há de se reconhecer que a Internet (e as potencialidades que ela apresenta) se expande rapidamente e amplia o espaço das fontes de informação. Com isso, a Internet, que ao mesmo tempo é onipresente e muito pessoal, atrai novos atores para a esfera de visibilidade pública e cria um novo tipo de relação comunicacional entre Estado, instituições e cidadãos. (CASTANHO, 2014, p. 239).

Ocorre que, se por um lado esse novo processo que facilita a troca de informações enseja o aprofundamento democrático da sociedade e das relações

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sociais, por outro lado “também poderá gerar uma nova lógica de exclusão, acentuando as desigualdades e exclusões já existentes, tanto entre sociedades, como, no interior de cada uma, entre setores e regiões de maior e menor renda” (TAKAHASHI, 2000, p. 7).

No mesmo sentido, Jesús Martín-Barbero (2013) reitera que as novas tecnologias ocupam um papel especial em termos de comunicação na América Latina e inauguram um processo de transição da Revolução Industrial para a Revolução Eletrônica. Ademais, o autor (MARTÍN-BARBERO, 2013, p. 255) reforça que esta Revolução continua em processo de expansão, sendo que a pena, para aqueles que não alcançarem o progresso tecnológico, será a “morte econômica e cultural”. Portanto, é preciso que todos os indivíduos tenham o direito de participar do mundo digital.

Considerando isso, a próxima seção discutirá o acesso à internet como um direito humano, apresentando um breve histórico sobre os direitos dessa espécie.

1.2 Breve histórico dos direitos humanos: Dos direitos civis ao direito de acesso à internet

Inicialmente, nota-se que o processo de construção dos direitos humanos está alicerçado na concepção de valores que tutelam a dignidade da pessoa humana. Eles se tratam de direitos fundamentais intrínsecos a todos os seres humanos, sem nenhuma distinção, e se constituem em direitos que garantem o mínimo existencial para os sujeitos participarem da sociedade.

Percebe-se que a origem da afirmação dos direitos humanos está calcada em dimensões de lutas e ações sociais em favor da proteção da liberdade e da dignidade da pessoa humana. Trata-se do reconhecimento de que, embora existam diferenças entre os sujeitos que vivem em sociedade, algumas garantias jurídicas devem ser intrínsecas a todos os indivíduos, em virtude da condição peculiar de serem humanos. Isto é, “[...] sem ligação com particularidades determinadas de indivíduos ou grupos” (COMPARATO, 2010, p. 70).

O ponto de partida do desenvolvimento desse novo ideal, o qual entende que todas as pessoas devem possuir direitos que protejam os valores humanos fundamentais, é a modernidade. Esse período é um marco importante na trajetória histórica, pois simbolizou o início de um novo tempo, no qual os indivíduos se

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destacam pela luta ao combate da opressão e pela refutação do modelo de sociedade organicista que considerava a pessoa humana em um patamar de inferioridade e de submissão às decisões do Estado. Assim, ficam evidentes que as batalhas em favor do estabelecimento de direitos humanos se expandem por diversos países justamente com o condão de limitar a arbitrariedade das imposições do poder público às pessoas. (CORRÊA, 2002).

Tais manifestações ensejaram profundas transformações políticas no cenário mundial, dos séculos XVII e XVIII principalmente, em um ambiente de clamor pela democracia e pela paz, segundo Norberto Bobbio (1992). Nesse sentido, a principal conversão ocorrida foi o deslocamento do Estado, o qual não permaneceu sozinho no centro. Isso porque o indivíduo foi reconhecido também como detentor de espaço no centro do mundo. Ou seja, o resultado das lutas modernas evidencia a caracterização e aceitação de um novo pensamento: O poder é originário da própria nação.

Destarte, tem-se uma das maiores expressões de reconhecimento da igualdade entre os indivíduos, sendo esse um dos principais fatos que dá azo à busca pela afirmação de direitos humanos. Pois, nem sempre os indivíduos tiveram o direito de possuir garantias jurídicas. Conforme ensina Gilmar Antonio Bedin (2002), a ideia de direitos do homem é um produto da modernidade.

Outrossim, é importante destacar que eles não surgiram todos em uma única vez. Iniciaram seu processo de afirmação no período moderno, entretanto, continuaram se desenvolvendo na pós-modernidade. E a perspectiva é que mantenham sua expansão nos próximos séculos, pois o processo de afirmação dos direitos humanos se trata – na visão de Fabiana Marion Splenger, Gilmar Antonio Bedin e Doglas Cesar Lucas (2013) – de um ciclo perpétuo, no qual novos direitos podem ser incluídos constantemente. Portanto, eles são direitos históricos, logo, agregados de maneira evolutiva ao ordenamento jurídico de acordo com as necessidades sentidas pelos indivíduos. (CORRÊA, 2002).

Norberto Bobbio (1992, p. 2) corrobora com as questões salientadas até o momento, afirmando que os direitos humanos são direitos naturais, ou seja, direitos inatos a todo indivíduo devido à condição peculiar de serem humanos, que nasceram no advento da era moderna simultaneamente com a criação de uma sociedade individualista e que aos poucos foram se tornando em “um dos principais indicadores do progresso histórico”.

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Desse modo, considerando então que os direitos humanos fazem parte de um processo histórico, podemos conhecer cada um deles por meio de uma classificação acadêmica que admite estudá-los como direitos divididos em gerações. Todavia, frisa-se que essa proposta é apenas um procedimento de cunho didático, pois uma geração não exclui a outra.

Além disso, observa-se que é possível intitular as gerações também como dimensões de direitos humanos. Antonio Carlos Wolkmer (2002, p. 12-13) esclarece que a expressão geração instiga o pensamento de que se trata de “um processo substitutivo, compartimentado e estanque”, o qual não é verídico. Por isso, segundo ele, seria mais adequado usar a expressão dimensão, a qual torna mais claro que os “direitos não são substituídos ou alterados de tempo em tempo”. De qualquer sorte, as duas expressões são usadas com o intuito de explicar que os direitos humanos apenas se complementam da seguinte forma:

[...] surgiram, no século XVIII, como direitos civis, ampliaram-se, no século XIX, como direitos políticos, desenvolveram-se, no início do presente século, como direitos econômicos e sociais e consolidaram-se, no final da primeira metade do presente século, como direitos de solidariedade ou direitos do homem no âmbito internacional. (BEDIN, 2002, p. 99).

Reforça-se que existem outras classificações. Esta apresentada por Gilmar Antonio Bedin (2002) é uma divisão atual com fulcro na classificação elaborada por Thomas H. Marshall (1967), na obra intitulada Cidadania, Classe Social e Status, haja vista que se revela ser a tese mais acolhida pelos teóricos que se aplicam ao estudo desse campo.

Visto isso, passa-se a analisar a primeira dimensão de direitos. Esta dá ensejo ao surgimento do Estado moderno liberalista, o que resulta na concepção de uma sociedade com profundas divisões entre esfera pública e esfera privada no que tange a direitos solidificados no século XVIII. (SPENGLER; BEDIN; LUCAS, 2013).

Nesse período se tem a possibilidade de articular direitos negativos, os quais são impostos contra o Estado. Nesse contexto, o poder público não pode intervir nas garantias e principalmente na liberdade concedida aos cidadãos. Conforme explica John Stuart Mill (1991), a liberdade estava entre as principais garantias do indivíduo. A interferência estatal deveria ser evitada ao máximo, pois o sujeito livre teria maiores condições de firmar sua individualidade e, assim, desenvolver uma sociedade mais próspera.

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É por isso que a primeira dimensão de direitos humanos é também chamada de dimensão dos direitos civis, pois garante liberdades físicas, de expressão e de consciência, bem como concentra direitos de propriedade privada, da pessoa acusada e demais garantias que protejam os direitos dos sujeitos. (BEDIN, 2002).

Para complementá-los surge a segunda dimensão de direitos, a qual compreende o século XIX até o início do século XX. Este período é marcado pelo fomento da participação das pessoas no desenvolvimento do Estado e por tal característica também será denominado de direitos políticos. Portanto, tem-se aqui a inauguração de uma época de evidente ascensão do Estado moderno democrático.

Assim, enquanto a primeira dimensão elencou direitos absenteístas, negativos em relação à atuação e ao poder do Estado, a segunda garante direitos prestacionais, os quais estabelecem garantias para que o cidadão possa participar do poder do Estado – garantias de proteção ao exercício da cidadania no plano político dos indivíduos. Sendo o sufrágio universal, a constituição de partidos políticos, o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular alguns dos direitos desta dimensão.

Seguindo ainda nessa perspectiva de acrescentar novos direitos de acordo com as necessidades que vão surgindo na sociedade, se tem a terceira dimensão. Esta se desenvolve no século XX e contempla direitos firmados por meio do Estado, o qual tem o compromisso de garantir demandas econômicas e sociais para atender as necessidades do povo. Por essa razão, a referida época também recebe o nome de dimensão dos direitos econômicos e sociais, os quais abrangem os direitos do indivíduo trabalhador (individuais e coletivos), os do indivíduo consumidor, à seguridade social, à saúde e à habitação (BEDIN, 2002), dentre outros de caráter similar.

Dessa forma a terceira dimensão de direitos humanos prevê que o Estado tem o compromisso de atender principalmente as diligências das classes menos favorecidas nas relações de trabalho, defende Ingo Wolfgang Sarlet (2007). Além disso, cabe realçar que fazem parte desta era os:

[...] direitos de créditos, ou seja, aqueles que tornam o Estado devedor dos indivíduos, particularmente dos indivíduos trabalhadores e dos indivíduos excluídos socialmente, no que se refere à obrigação de realizar ações concretas, visando a garantir-lhes um mínimo de igualdade material e bem-estar material. (SPENGLER; BEDIN; LUCAS, 2002, p. 35).

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Ressalta dizer que todas as gerações de direitos humanos estão estritamente ligadas entre si e uma se soma a outra com o objetivo de fortalecimento, nunca de substituição. Nesta perspectiva, “Os direitos civis e políticos são importantes, mas sua conquista deve representar o impulso para a concretização dos direitos socioeconômicos, assim como dos novos direitos.” (COLPANI, 2004, p. 199).

Visto isso, os novos direitos mais recentes estão atualmente situados na quarta dimensão de direitos ou então chamada também de dimensão dos direitos de solidariedade. Essa era vem progredindo há aproximadamente 68 anos, e cuida de normatizar os direitos sobre o Estado em escala internacional, sob uma perspectiva que aponta o declínio dos limites territoriais e no conceito de soberania, segundo Fabiana Marion Spengler, Gilmar Antonio Bedin e Doglas Cesar Lucas (2013). Os referidos autores afirmam também que esses direitos apresentam relevância global com urgência de expansão para todos os espaços do mundo no século XXI.

Nesse período contemporâneo a soberania ultrapassa fronteiras, pois os direitos agora firmados sobre o Estado permitem:

[...] que os estados particulares, por um lado, caminhem, aos poucos, para ações articuladas e orientadas formando, assim, os grandes blocos econômicos, sociais e políticos e, por outro, emancipem, também aos poucos, de suas tutelas os indivíduos singulares, bem como os grupos sociais, conferindo-lhes direitos e capacidade processual em nível internacional. (BEDIN, 2002, p. 73).

Esse é o reflexo da globalização. Pessoas e pensamentos conectados por meio da tecnologia, desencadeando a aceleração do “processo de produção e informação do planeta, reduzindo a distância entre os espaços geográficos, fundindo o local e o global”. (ZEIFERT, 2004, p. 31). E, assim, permitindo a articulação de planos, programas e ações em escala internacional.

Por isso que, de acordo com Gilmar Antonio Bedin (2002), os principais direitos dessa dimensão são: ao desenvolvimento, ao meio ambiente sadio, à paz e à autodeterminação dos povos. Darcísio Corrêa (2010) complementa afirmando que além destes direitos, também é necessário destacar a comunicação como um dos direitos atualmente caracterizados como condição para a sobrevivência planetária, dada a sua importância em tempos de globalização.

Têmis Limberger (2007, p. 200) corrobora com esse posicionamento, pois acredita que as novas tecnologias estão mudando muitas coisas, inclusive elas estão

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influenciando na alteração de alguns dos elementos do Estado moderno, tendo em vista que "a Internet muda o clássico conceito de território, e a noção de soberania também sofre transformações”. Isso porque a web tem o poder de conectar todas as nações e os projetos agora desenvolvidos possuem plena capacidade de serem colocados em prática em escala internacional.

Nesse contexto é que surgem outros novos direitos e se revela a necessidade de existir um direito humano de acesso à internet – conforme será detalhado na sequência.

Primeiramente, acerca disso, é fundamental enfatizar que os direitos humanos são uma construção social e, por tal característica, não estanque. Eles são um produto social que acompanha o desenvolvimento individual e coletivo dos sujeitos que vivem em sociedade. Portanto, surgem de acordo com as necessidades sentidas pelos indivíduos em diferentes espaços de tempo e lugar, pois novos direitos podem ser acrescentados à ordem de proteção jurídica a qualquer momento.

Não é preciso muita imaginação para prever que o desenvolvimento da técnica, a transformação das condições econômicas e sociais, a ampliação dos conhecimentos e a intensificação dos meios de comunicação poderão produzir tais mudanças na organização da vida humana e das relações sociais que se criem ocasiões favoráveis para o nascimento de novos carecimentos e, portanto, para novas demandas de liberdade e de poderes. (BOBBIO, 1992, p. 33).

Hannah Arendt (1989) vai ao encontro dessa abordagem sobre o conjunto de transições referido e explica que os direitos humanos fazem parte de uma invenção humana, a qual está em permanente processo de construção e reconstrução. Da mesma forma Norberto Bobbio (1992) salienta que por serem resultado da civilização humana, os direitos humanos são mutáveis e passíveis de transformação e alargamento.

Por essas razões, ao longo do processo de estruturação dos direitos humanos, diversos documentos foram desenvolvidos e tiveram significativa importância para a sociedade mundial. Dentre os principais temos, em 1776, a Declaração da Virgínia; em 1789, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão; em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos; e em 1993, a Declaração e o Plano de Ação de Viena (BEDIN, 2002), bem como a Declaração de Estocolmo, de 1972.

Nesse contexto, a Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948 ocupa uma posição essencial no cenário internacional. Após o final da Segunda Guerra

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Mundial que assolou a humanidade, o referido documento desponta e apresenta a universalidade como sua maior característica, inaugurando, assim, uma nova fase de garantia jurídica para todos.

Flávia Piovesan (2006) destaca que, assim como a universalidade, a indivisibilidade e a interdependência também são traços expressivos da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Ou seja, ainda que os Estados possuam diferenças de natureza histórica, cultural ou religiosa, é dever deles alavancar os direitos humanos em nível de igualdade a todos os indivíduos, pois “a condição de pessoa é o requisito único para a titularidade de direitos”. (PIOVESAN, 2006, p. 38). Sendo que, quando não respeitados, podem esses direitos ser exigidos no plano político ou jurídico, conforme preza a característica da exigibilidade/justiciabilidade.

Enfim, ao longo dessa trajetória, os direitos humanos vêm ocupando cada vez mais espaço no centro das discussões das relações internacionais. Para Antônio Augusto Cançado Trindade (1999), principalmente após a ascensão do século XX e seu transcurso para o século XXI é que os direitos humanos conquistaram uma posição central de relevância nos programas mundiais regidos pelo compromisso com a proteção da dignidade e demais valores humanos fundamentais.

Então, considerando essa importância adquirida por eles e a já apresentada possibilidade de acrescentar novos direitos no plano jurídico, a Organização das Nações Unidas (ONU), no ano de 2011, apresenta nova interpretação ao artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos2 e ao mesmo artigo do Pacto

Internacional dos Direitos Civis e Políticos3. Fica decido que, em razão desse artigo,

se tem assegurada a liberdade de opinião e expressão, bem como a liberdade plena de ter opiniões e procurar, receber e transmitir informações e ideias por qualquer meio de comunicação, incluindo-se aqui a internet.

2 Art. 19, Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948: Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, este direito implica a liberdade de manter as suas próprias opiniões sem interferência e de procurar, receber e difundir informações e ideias por qualquer meio de expressão independentemente das fronteiras.

3 Art.19, Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos: 1. Ninguém poderá ser molestado por suas opiniões. 2. Toda pessoa terá direito à liberdade de expressão; esse direito incluirá a liberdade de procurar, receber e difundir informações e idéias de qualquer natureza, independentemente de considerações de fronteiras, verbalmente ou por escrito, em forma impressa ou artística, ou por qualquer outro meio de sua escolha. 3. O exercício do direito previsto no parágrafo 2 do presente artigo implicará deveres e responsabilidades especiais. Conseqüentemente, poderá estar sujeito a certas restrições, que devem, entretanto, ser expressamente previstas em lei e que se façam necessárias para: a) assegurar o respeito dos direitos e da reputação das demais pessoas; b) proteger a segurança nacional, a ordem, a saúde ou a moral públicas.

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