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Jornal de Estudos Espíritas - Resumo - Art. N. 010302

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Jornal de Estudos Espíritas 2, 010302 (2014) - (7pgs.) Volume 2 – 2014

A Transmissão do Pensamento é um Fenômeno Não-Local?

Alexandre Fontes da Fonseca

Campinas, SP.

e-mail:a.f.fonseca@bol.com.br

(Republicado em 15 de Fevereiro de 2014)

Artigo reproduzido da série Pesquisas Brasileiras sobre o Espiritismo - Textos selecionados do 3o e 7oEncontros Nacionais da Liga de Pesquisadores do Espiritismo(LIHPE)e editado pelo Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo

Eduardo Carvalho Monteiro(CCDPE-ECM)(2012).

RESUMO

O fenômeno de transmissão do pensamento é conhecido em Parapsicologia como telepatia: a habilidade de adquirir informação de outrem através do pensamento. Esse fenômeno, definido de forma bem mais ampla pelo Espiritismo, ocorre por intermédio do Fluido Universal que é o meio através do qual o pensamento se propaga e é transmitido. Nos últimos anos, com base em alguns experimentos, surgiram explicações para o fenômeno de transmissão do pensamento baseadas na descrição do fenômeno conhecido como ligação não-local da Teoria Quântica. Neste tra-balho, o experimento realizado pelo neurofisiologista mexicano Jacobo Grinberg-Zylberbaum e seus colaboradores, de correlação entre os cérebros de duas pessoas que meditaram juntas, considerado como uma evidência da liga-ção não-local entre seus cérebros, é analisado com base na Física e na Doutrina Espírita. Mostramos que mesmo possuindo uma explicação clássica para o fenômeno de transmissão do pensamento, o Espiritismo fornece uma interpretação científica legítima para o experimento de Grinberg-Zylberbaum.

Palavras-Chave: Transmissão do pensamento; Fluido Universal; fenômeno não-local.

I

I

NTRODUÇÃO

O processo de transmissão de pensamento é um fenô-meno psíquico ainda desconhecido da Ciência moderna. Em Parapsicologia, sob o nome de telepatia, o fenômeno é considerado como uma percepção extra-sensória (sigla ESP de extra-sensory perception) em que informação é obtida através do pensamento ou sentimento [1]. Em Es-piritismo, esse fenômeno é definido de maneira mais am-pla ao ser apresentado como a forma mais fundamental de comunicação entre os Espíritos: “Livres da matéria, a linguagem de que usam entre si é rápida como o pen-samento, porquanto são os próprios pensamentos que se comunicam sem intermediário.” (Ítem XIV da Introdu-ção do Livro dos Espíritos [2]).

André Luiz, na obra Mecanismos da Mediundiade [3], apresenta o pensamento como consequência de uma dinâ-mica semelhante ao processo de emissão e absorção de ra-diação eletromagnética pelos átomos. Em suas palavras “... a matéria mental, embora em aspectos fundamental-mente diversos, obedece a princípios idênticos àqueles que regem as associações atômicas na esfera física ...”. O que André Luiz está querendo dizer é que os átomos que com-põem o perispírito podem emitir ondas de pensamento de modo análogo à emissão de ondas eletromagnéticas pela matéria. Entretanto, é digno de nota que a frase “em-bora em aspectos fundamentalmente diversos” mostra que André Luiz não está afirmando que os pensamentos são radiações eletromagnéticas, mas apenas que obedecem a princípios similares.

Citamos André Luiz para destacar que a obra Me-canismos da Mediunidade não contém nenhuma menção ao fenômeno de não-localidade da teoria quântica,

con-sequência do conhecido paradoxo EPR (sigla formada pe-las iniciais de: Einstein, Podolsky e Rosen [4]), para pro-por explicações para os mecanismos da mediunidade ou da transmissão do pensamento.

Entretanto, encontra-se na literatura espírita (por exemplo: Refs. [5,6]) e não-espírita [7,8] propostas de ex-plicação para o fenômeno de transmissão do pensamento baseadas no fenômeno de não-localidade da teoria quân-tica. Em vista do interesse espírita no assunto, e sabendo que o Espiritismo apresenta uma explicação própria para esse fenômeno, o propósito deste trabalho é analisar se a descrição espírita para o fenômeno de transmissão do pensamento pode ser considerado não-local, e se o Es-piritismo não pode oferecer uma interpretação alterna-tiva para os experimentos de correlação entre cérebros. Em particular, o experimento de correlação entre duas mentes humanas realizadas pelo neurofisiologista Jacobo Grinberg-Zylberbaum e seus colaboradores [9], conside-rado como uma evidência para a existência da ligação não-local entre duas pessoas, será aqui interpretado de modo inédito com base no Espiritismo.

Este artigo está organizado da seguinte maneira. Na seção II, as condições para a existência da ligação não-local entre partes de um sistema quântico serão apresen-tadas. Na seção III, a explicação espírita do fenômeno de transmissão do pensamento é analisada com relação às condições acima. Na seção IV, uma interpretação espí-rita para o experimento de correlação entre duas mentes humanas realizado por Jacobo Grinberg-Zylberbaum e seus colaboradores [9] será apresentada. Na seção V, as principais conclusões deste trabalho são listadas.

(2)

II

C

ONDIÇÕES PARA A LIGAÇÃO NÃO

-LOCAL

.

A idéia de não-localidade surgiu de uma proposta ex-perimental idealizada por Einstein, Podolsky e Rosen [4] para mostrar que a chamada interpretação de Copenha-gue da teoria quântica estava errada ou incompleta. Essa proposta ficou conhecida como o paradoxo EPR (EPR devido às iniciais dos autores) já que ela leva a um ques-tionamento sobre a validade da teoria quântica na des-crição da realidade física de uma partícula num estado emaranhado. Einstein, Podolsky e Rosen propuseram um experimento em que seria possível violar o princípio de Heisenberg que diz ser impossível conhecer com precisão absoluta um par de propriedades físicas canonicamente ligadas como, por exemplo, a posição e a velocidade. Ex-plicaremos o experimento EPR com um exemplo.

Considere um sistema que apresenta dois possíveis re-sultados como o spin de um elétron (que pode apresentar apenas dois valores: +1/2 ou -1/2), suponha que dois elétrons são feitos interagirem por um tempo de modo que a soma dos seus spins seja conhecida e igual a zero. Após essa interação eles se afastam mas são mantidos isolados do resto do universo para não sofrerem outras influências externas que alterem suas propriedades físi-cas. Podemos afirmar que se medirmos em um deles, digamos o que foi para a “direita”, um spin +1/2, forço-samente o outro terá spin -1/2 e vice-versa pois a soma dos valores de spin deve ser zero. Enfatizamos que isso é válido na medida em que esses dois elétrons são man-tidos isolados do resto do universo. Assim, no momento que alguém realiza uma medida do spin de um elétron, digamos o da “direita”, e obtém um valor qualquer (+ ou - 1/2), sua função de onda é dita colapsada para o estado correspondente e por causa da interação inicial que fez com que a soma dos spins seja zero, temos que concluir que a função de onda do outro elétron foi também colap-sada. O paradoxo surge pelo fato de que seria impossível pela Teoria da Relatividade, um sinal ser enviado de um elétron para colapsar a função de onda do outro elétron instantaneamente. A esse tipo de ação à distância de modo instantâneo, chamou-se de ligação não-local, por não existir nenhum tipo de meio ou variável que conecte as partes do sistema.

Originalmente [4], a teoria quântica é questionada com relação à qualidade de descrever completamente a realidade física de um sistema. Desenvolvimentos poste-riores relacionaram essa questão à proposta da existência de variáveis ocultas que complementariam, então, a te-oria quântica [10]. Estudos mais recentes, entretanto, demonstraram que a ligação não-local não viola a teoria da relatividade pois, na verdade, não é possível enviar ou receber informação através dessa ligação [11]. No exem-plo anterior do spin dos elétrons, por causa da natureza probabilística da medida do spin do primeiro elétron, esse fenômeno não serviria para enviar informação de um elé-tron ao outro.

Geralmente se diz que um sistema cujas partes

pos-suem ligação do tipo não-local formam um emaranhado quântico. Mas, nem todo sistema dito emaranhado apre-senta ligação não-local entre suas partes [12]. As condi-ções, então, que um sistema físico deve satisfazer para que suas partes sejam consideradas como possuindo uma ligação não-local são listadas a seguir:

1. Instantaneidade (cuja idéia é diferente de muito rá-pido);

2. Não depende da distância entre os objetos; 3. Não se utiliza de nenhum meio físico, como o som

se utiliza do ar para ser transmitido (não existem variáveis ocultas que fazem a ligação entre as partes do sistema);

4. Não serve, isoladamente, para enviar informação de um lugar a outro;

5. Somente se verifica em sistemas isolados do resto do mundo.

Em 1964, J. Bell [13] apresenta uma demonstração matemática para as condições necessárias para uma teo-ria quântica apresentar não-localidade, e quase duas dé-cadas depois Aspect e colaboradores [14] conseguiram apresentar a primeira evidência experimental para a li-gação não-local entre dois fótons.

A ligação será não-local, no sentido do paradoxo EPR, se e somente se todos os ítens listados acima forem sati-feitos.

De modo a perceber como esse assunto pode causar confusões, observamos que na obra da Ref. [5], a autora faz, nas páginas 10 e 11, afirmativas de que o pensamento se desloca a velocidades supraluminais1(ou acima da ve-locidade da luz), e que a ligação não-local justifica o fato da transmissão de pensamento não depender da distância entre as mentes. Apesar do fenômeno de ligação não-local realmente não depender da distância, conforme condição número 2 acima, o fato do pensamento se deslocar a uma velocidade alta, mas finita, contradiz o item 1.

Na seção seguinte, a explicação espírita para o fenô-meno de transmissão do pensamento é analisada com re-lação aos ítens descritos acima.

III

E

XPLICAÇÃO ESPÍRITA PARA O FENÔ

-MENO DE TRANSMISSÃO DO PENSA

-MENTO

A importância do pensamento no Espiritismo pode ser percebida através das seguintes citações do Livro dos Espíritos [2]: uma no ítem XIII da Introdução: “Os Es-píritos superiores não se preocupam absolutamente com a forma. Para eles, o fundo do pensamento é tudo.”; e outra no comentário de Kardec à questão 662: “O pen-samento e a vontade representam em nós um poder de ação que alcança muito além dos limites da nossa es-fera corporal. (...)”. E, explicitamente, no ítem 40 do Cap. I de A Gênese [15], Kardec afirma que “O estudo das propriedades do perispírito, dos fluidos espirituais e

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dos atributos fisiológicos da alma abre novos horizontes à Ciência (...). Tais são, entre muitos, os fenômenos (...), da transmissão do pensamento, (...)” (grifos em negrito nossos). Por essa razão, é natural que o Espi-ritismo apresente uma descrição bastante satisfatória do mecanismo de transmissão do pensamento.

No Livro dos Espíritos, a questão número 282 vai di-reto ao ponto:

282. Como se comunicam entre si os Espíritos? Eles se vêem e se compreendem. A palavra é material: é o reflexo do Espírito. O fluido universal estabelece

entre eles constante comunicação; é o veículo da transmissão de seus pensamentos, como, para vós, o ar o é do som. É uma espécie de telégrafo universal,

que liga todos os mundos e permite que os Espíritos se correspondam de um mundo a outro. (Grifos em negrito nossos).

A questão acima deixa claro como é o mecanismo de transmissão do pensamento. Ao comparar esse meca-nismo ao de transmissão do som através do ar, os Espíri-tos deixam claro que os pensamenEspíri-tos se propagam através de um meio material que, no caso, é o fluido universal. Essa idéia está clara na explicação que Kardec apresenta no ítem 15 do Cap. XIV de A Gênese [15]: “Sendo os fluidos o veículo do pensamento, este atua sobre os

fluidos como o som sobre o ar; eles nos trazem o pensamento, como o ar nos traz o som. Pode-se

pois dizer, sem receio de errar, que há, nesses fluidos,

ondas e raios de pensamentos, que se cruzam sem

se confundirem, como há no ar ondas e raios sonoros.” (Grifos em negrito nossos).

O processo de transmissão do pensamento ocorre da seguinte maneira (ítem 14 do Cap. XIV de A Gê-nese [15]): “Para os Espíritos, o pensamento e a von-tade são o que é a mão para o homem. Pelo

pensa-mento, eles imprimem àqueles fluidos tal ou qual direção, os aglomeram, combinam ou dispersam, orga-nizam com eles conjuntos que apresentam uma aparência, uma forma, uma coloração determi-nadas; (...). É a grande oficina ou laboratório da vida

espiritual. (...) Por análogo efeito, o pensamento do Espírito cria fluidicamente os objetos que ele esteja ha-bituado a usar.” (Grifos em negrito nossos). Nessa ex-plicação, o pensamento íntimo do Espírito altera o fluido universal à sua volta imprimindo aparência, forma e co-loração. Em seguida, essa porção de fluido universal alte-rada se propaga pelo espaço através do fluido universal, como o som através do ar. O comentário do ítem 16 do Cap. XIV de A Gênese [15]: “Sendo esses fluidos o veículo do pensamento e podendo este modificar-lhes

as propriedades, é evidente que eles devem achar-se impregnados das qualidades boas ou más dos pensamentos que os fazem vibrar, modificando-se

pela pureza ou impureza dos sentimentos.” (grifos em negrito nossos) deixa claro, portanto, que os sentimen-tos e pensamensentimen-tos íntimos do Espírito ficam registrados em porções de fluido universal que, por sua vez, carre-gam a mensagem e as qualidades da mesma para outros Espíritos.

Para analisar se a descrição acima do processo de transmissão do pensamento, segundo o Espiritismo, se-ria um fenômeno de ligação não-local da teose-ria quântica, basta verificar se as condições listadas de 1 a 5 na Seção anterior são todas satisfeitas. Se apenas uma delas não for satisfeita, o fenômeno de transmissão do pensamento não pode ser considerado não-local. A seguir, cada con-dição será analisada segundo os conceitos apresentsados pelo Espiritismo.

Condição 1 - Instantaneidade (cuja idéia é dife-rente de muito rápido): para testar essa condição, basta analisarmos se a velocidade de transmissão do pen-samento é finita ou não. A questão 89 do Livro dos Espíritos [2], trata da velocidade de deslocamento dos Espíritos: “89. Os Espíritos gastam algum tempo para percorrer o espaço? Sim, mas fazem-no com a

rapi-dez do pensamento.” (Grifos em negrito são nossos).

Ao dizer que os Espíritos gastam “SIM” algum tempo para percorrer o espaço, a resposta deles deixa claro que o deslocamento dos Espíritos não é instantâneo já que algo que ocorre instantaneamente não gasta tempo al-gum. Ao comparar a rapidez dos Espíritos com a do pensamento, deduz-se que o pensamento também não viaja de modo instantâneo pois senão a resposta seria auto-contraditória. Portanto, a condição 1 acima não se verifica.

Condição 2 - Não depende da distância entre os objetos: Esta condição é satisfeita pois o pensamento pode ser transmitido a qualquer lugar já que, segundo os Espíritos superiores, o Fluido Universal está presente em todo o Universo (ver última frase da questão 282 do Livro dos Espíritos reproduzida acima).

Condição 3 - Não se utiliza de nenhum meio físico, como o som se utiliza do ar para ser transmitido: repetindo parte da resposta dada à questão 282 do Li-vro dos Espíritos: “O fluido universal estabelece entre eles constante comunicação; é o veículo da transmissão de seus pensamentos, como, para vós, o ar o é do som.” Portanto, a condição 3 não é satisfeita no processo de transmissão do pensamento.

Condição 4 - Não serve, isoladamente, para enviar informação de um lugar a outro: como o objetivo dos fluidos é servir de veículo de transmissão da informação contida no pensamento (Kardec, ítem 23 do Cap. II de A Gênese: “Esse fluido não é o pensamento do Espírito; é, porém, o agente e o intermediário desse pensamento.”) a condição 4 acima também não é satisfeita.

Condição 5 - Somente se verifica em sistemas iso-lados do resto do mundo: por estarem todos os Espí-ritos imersos no fluido universal, emitindo e recebendo os pensamentos de outros Espíritos, de acordo com a sinto-nia de cada um, o processo de transmissão de pensamento não é um fenômeno que ocorre entre dois ou mais Espí-ritos isolados do resto do Universo. Portanto, a condição

(4)

5 não é satisfeita.

Como apenas a condição 2 é satisfeita pela explicação espírita do fenômeno de transmissão do pensamento, con-cluímos que, segundo o Espiritismo, esse fenômeno não é não-local. A simples comparação com o mecanismo de propagação do som através do ar indica que o fenômeno de transmissão do pensamento é um processo simples, análogo ao processo de transmissão de ondas da Física Clássica. Isso, que em nada diminui o mérito ou valor científico do Espiritismo, não impede que as propriedades físicas do fluido universal e suas transformações não se-jam quânticas ou discretas, conforme sugere André Luiz em Mecanismos da Mediunidade [3]. Nada impede que existam quanta de fluidos espirituais assim como existem quanta de radiação eletromagnética. O que está sendo demonstrado ser clássico é o mecanismo de transmissão do pensamento

IV

E

XPERIMENTO DE CORRELAÇÃO DE DOIS CÉREBROS DE

G

RINBERG

-Z

YLBERBAUM

Nesta seção, o experimento de correlação entre duas pessoas realizado por Grinberg-Zylberbaum e colabora-dores [9] será analisado segundo a teoria espírita para o processo de transmissão do pensamento. Analisaremos também se o experimento satisfaz as condições para uma ligação ser do tipo não-local.

Grinberg-Zylberbaum e colaboradores [9], descrevem um experimento de transferência de potenciais de eletro-encefalogramas (EEGs) entre duas pessoas isoladas so-nora e eletromagneticamente. O experimento consiste de fazer duas pessoas (daqui em diante chamadas de su-jeitos) interagirem através de meditações onde cada um tenta mentalizar e sentir o outro, em silêncio, por um período de 20 minutos. Em seguida, os dois sujeitos são levados em silêncio e sem interagir com outras pes-soas, para câmaras sonora e eletromagneticamente iso-ladas uma da outra, e distanciadas de 14.5 metros. Os sujeitos foram previamente orientados a permanecerem com a meditação e tentativa de sentirem um ou ao outro durante todo o experimento e não somente nos primeiros 20 minutos de contato. Aparelhos de medição de EEG são ligados a ambos os sujeitos para registro de potenci-ais cerebrpotenci-ais. Flashes luminosos de alta intensidade são apresentados a um dos sujeitos, chamado agora de su-jeito A, enquanto que o outro susu-jeito, chamado agora de sujeito B, não sofre nenhum estímulo externo. Após uma série de flashes emitidos a intervalos de tempo aleató-rios, os dados de EEG de cada sujeito são analisados e comparados. Os dados de EEG são obtidos da seguinte maneira. Um sistema digital registra os pulsos a cada 8 microsegundos (um microsegundo equivale à fração de uma parte em um milhão do segundo) e métodos esta-tísticos de cálculo de correlação são aplicados aos dados.

O experimento é repetido com pares de sujeitos que não fazem a meditação inicial para controle e comparação dos resultados.

O efeito dos flashes luminosos é causar picos de po-tencial, chamado de potencial evocado, no sujeito A que sofre os estímulos. O objetivo do experimento é verificar se existe algum tipo de ligação entre os sujeitos A e B, de-vido à meditação prévia, a ponto de provocar no sujeito B picos de potencial semelhantes, chamados então de po-tencial transferido, e sincronizados ao popo-tencial evocado do sujeito A.

Os resultados experimentais descritos em [9] são os seguintes. 25% dos pares de sujeitos que realizaram a meditação de 20 minutos apresentaram uma correlação positiva entre o potencial de EEG do sujeito A (que re-cebeu diretamente os estímulos luminosos) e o potencial de EEG do sujeito B, que apresentou um potencial trans-ferido. Nenhum sujeito B dos pares que não realizaram a meditação prévia produziu o potencial transferido. O experimento, portanto, demonstra que houve algum tipo de ligação e transmissão de algum tipo de informação entre os sujeitos A e B. O propósito desta seção é ana-lisar se esse experimento é uma evidência de ligação do tipo não-local e apresentar uma explicação espírita para o fenômeno.

Grinberg-Zylberbaum e colaboradores [9] afirmam que: i) a coerência de fase entre os potenciais evocado e transferido; ii) o fato das câmaras estarem isoladas sonora e eletromagneticamente; e iii) o fato de não ter havido atenuação do sinal devido à distância entre as câ-maras; são evidências de que houve uma ligação do tipo não-local entre os sujeitos A e B. Entretanto, os ítens i), ii) e iii) não são suficientes para comprovar que a trans-missão do potencial evocado no sujeito A para o potencial transferido no sujeito B decorreu de uma ligação não-local. Para que a ligação entre os cérebros dos sujeitos A e B seja rigorosamente não-local, é necessário satisfazer todas as condições de 1 a 5 da seção 2. Vejamos pelo menos algumas.

A condição 1 não pode ser verificada neste experi-mento pois não há como comprovar se houve transmis-são instantânea do potencial evocado do sujeito A para o transferido do sujeito B. Além disso, os autores afirmam no artigo da Ref. [9] que “A análise estatística mostra que o potencial transferido é obtido a partir do momento do estímulo até algo em torno de 132 microsegundos.”2 (grifos em negrito nossos). Essa afirmativa claramente demonstra que o processo de transmissão do potencial evocado para o transmitido não foi instantâneo o que de-monstra, portanto, que a ligação não foi do tipo não-local.

O manuscrito de Grinberg-Zylberbaum e colaborado-res [9] é contraditório com relação à condição 4. Pri-meiro eles dizem que “Obviamente, nenhuma informação ao nível subjetivo está sendo transferida e nenhuma

vi-2No original [9]: “The statistical analysis shows that the transferred potential is obtained from the moment of stimulation to about 132 µs.”

3No original [9]: “Obviously, no information at the subjective level is being transferred and no violation of the causality principle is involved in the experiment.”

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olação do princípio de causalidade está envolvida no ex-perimento.”3 Entretanto, no parágrafo final eles dizem que “... se nós usamos um sinal de luz piscante, o poten-cial evocado frequentemente carrega uma assinatura de frequência. Na medida que esta assinatura de frequên-cia é também retida no potenfrequên-cial transferido, pode ser possível enviar uma mensagem, pelo menos, em prin-cípio, usando um código Morse.”4 Ora, se é possível enviar uma mensagem através do processo descrito por Grinberg-Zylberbaum e colaboradores, então o processo de ligação não pode ser não-local como exigido pela con-dição 4.

Um outro aspecto do fenômeno não-local que não é observado no experimento de Grinberg-Zylberbaum e co-laboradores é a falta de um teste fundamental relacionado ao fenômeno de ligação não-local. Utilizando o exemplo dado na Seção 2 do spin 1/2 de dois elétrons que intera-gem formando uma ligação não-local, a medida do spin de um deles, digamos +1/2 leva o outro a colapsar sua fun-ção de onda no estado correspondente ao valor -1/2 para que a soma dos spins seja zero. Os elétrons não vão para o mesmo estado quântico final, mas sim para àquele que depende das condições da interação inicial. No caso do experimento de Grinberg-Zylberbaum e colaboradores os cérebros dos sujeitos A e B estão manifestando potenciais semelhantes, de mesma natureza e fase, o que é diferente do que ocorre com sistemas quânticos. Como não existe uma teoria satisfatória que demonstre que esse resultado seria o esperado para as funções de onda de cada cérebro (aliás, esse ponto é muito controverso ainda na Ciência), essa é mais uma razão para não se poder concluir que o fenômeno de transferência do potencial cerebral decorreu de uma ligação do tipo não-local.

Notem que não estamos questionando o fenômeno ou o fato em si, da existência da transmissão do potencial entre dois sujeitos A e B que interagiram através de uma meditação em comum. Apenas questionamos a explica-ção baseada no fenômeno não-local da teoria quântica. A seguir, apresentamos uma nova explicação para o ex-perimento de Grinberg-Zylberbaum e colaboradores em termos da teoria espírita. Mostraremos que a explica-ção espírita é legítima e não apresenta nenhum tipo de contradição ou inconsistência interna seja com relação à Física ou qualquer outra Ciência.

Primeiramente, vamos transcrever algumas questões do Livro dos Espíritos [2]:

91. A matéria opõe obstáculo ao Espírito?

Nenhum; eles passam através de tudo. O ar, a terra, as águas e até mesmo o fogo lhes são igualmente acessíveis. 93. O Espírito, propriamente dito, nenhuma cobertura tem, ou, como pretendem alguns, está sempre envolto numa substância qualquer?

Envolve-o uma substância, vaporosa para os teus olhos, mas ainda bastante grosseira para nós; assaz vaporosa, en-tretanto, para poder elevar-se na atmosfera e transportar-se aonde queira.

Ambas as questões mostram que mesmo possuindo

um corpo de natureza semimaterial, o perispírito, nada opõe obstáculo ao Espírito. Por essa razão, uma câmara isolada sonora e eletromagneticamente, não é isolada da entrada e saída de Espíritos desencarnados. E se Espíri-tos podem entrar e sair com seus perispíriEspíri-tos de tais câ-maras, então o fluido universal e suas modificações tam-bém podem atravessá-las. Portanto, uma câmara sonora e eletromagneticamente isolada não é fluidicamente iso-lada.

Assim, a explicação espírita para a ligação entre os sujeitos A e B é simples. Uma ligação fluídica se forma na ocasião em que os sujeitos A e B se encontram para meditar e sentir um ao outro. Se houver afinidade fluídica entre os sujeitos A e B, tal ligação fluídica se torna possí-vel e é através do fluido universal que os ligam é possípossí-vel gerar um potencial transferido no sujeito B devido a es-tímulos no sujeito A. A teoria espírita também explica porque apenas 25% dos sujeitos que fizeram a meditação prévia por 20 minutos é que conseguiram produzir o po-tencial transferido. No caso dos outros 75% que não pro-duziram o fenômeno, não houve a devida sintonia fluídica que decorre da afinidade de sentimentos e pensamentos e do grau de evolução de ambos. Para demonstrar isso, citamos as seguintes questões do Livro dos Espíritos:

278. Os Espíritos das diferentes ordens se acham mistu-rados uns com os outros?

Sim e não. Quer dizer: eles se vêem, mas se distinguem uns dos outros. Evitam-se ou se aproximam, conforme

à simpatia ou à antipatia que reciprocamente uns inspiram aos outros, tal qual sucede entre vós.

Cons-tituem um mundo do qual o vosso é pálido reflexo. Os

da mesma categoria se reúnem por uma espécie de afinidade e formam grupos ou famílias, unidos

pelos laços da simpatia e pelos fins a que visam: os bons, pelo desejo de fazerem o bem; os maus, pelo de fazerem o mal, pela vergonha de suas faltas e pela necessidade de se acharem entre os que se lhes assemelham. (Grifos em negrito, nossos).

302. A identidade necessária à existência da simpatia per-feita apenas consiste na analogia dos pensamentos e sen-timentos, ou também na uniformidade dos conhecimentos adquiridos?

Na igualdade dos graus da elevação. (Grifos em ne-grito, nossos).

Naturalmente, no caso dos pares de sujeitos de con-trole, não houve ligação fluídica entre as pessoas que não meditaram ou se comunicaram previamente.

Portanto, o Espiritismo apresenta uma explicação para o fenômeno de transmissão de pensamentos, que é capaz de explicar, de modo simples e científico, o ex-perimento de Grinberg-Zylberbaum e colaboradores [9]. O fato da explicação espírita não ser não-local não reduz o valor científico do Espiritismo. Ao contrário, é o fato de explicar de maneira consistente o experimento de cor-relação de dois cérebros, explicando porque apenas uma percentagem dos pares de sujeitos resultaram no poten-cial transferido, que atesta o valor científico da Doutrina Espírita. O fato da explicação espírita ser clássica está perfeitamente consistente com as condições nas quais o

4No original [9]: “... if we use a flickering light signal, the evoked potential often carries a frequency signature. To the extent that this frequency signature is also retained in the transferred potential, it may be possible to send a message, at least in principle, using a Morse code.”

(6)

experimento de Grinberg-Zylberbaum e colaboradores foi executado.

V

C

ONCLUSÕES

O fenômeno de transmissão do pensamento foi aqui analisado à luz do Espiritismo e comparado com as con-dições necessárias para um fenômeno de ligação ser não-local, no sentido definido pelo chamado paradoxo EPR. Mostramos que a explicação espírita para o fenômeno de transmissão do pensamento é análoga à explicação clás-sica da transmissão de informação através de pulsos ou ondas eletromagnéticas. Portanto, a explicação espírita para este fenômeno não é não-local.

Analisamos também o experimento de Grinberg-Zylberbaum e colaboradores [9] de correlação entre os cé-rebros de duas pessoas que meditaram juntas. Enquanto os autores de [9] consideram que o resultado positivo de-corre de uma ligação do tipo não-local, além de não sa-tisfazer às condições de não-localidade apresentados na seção 2, mostramos que a Doutrina Espírita apresenta uma explicação legítima e consistente para o fenômeno, explicando também a razão para a percentagem de insu-cessos reportada em [9].

É digno de nota que nenhum outro grupo, até o mo-mento, conseguiu replicar os resultados experimentais de Grinberg-Zylberbaum e colaboradores. Na verdade, há um estudo [16] que se inspirou em [9], mas que obteve apenas uma parte do mesmo resultado. Em [16], os autores não conseguiram medir o potencial transferido mesmo entre pares de pessoas que tem relação em co-mum como casais ou amigos. Eles apenas encontraram um tipo de correlação mais sutil que, porém, ocorreu mesmo entre pares que não realizaram nenhuma medi-tação prévia. Eles sugerem mais estudos, porém não apresentam nenhuma teoria para explicar seus resulta-dos. Em um congresso de Neuroquantologia, Wacker-mann [17] apresenta críticas semelhantes ao trabalho de Grinberg-Zylberbaum e colaboradores. O fato de termos apresentado uma explicação para um experimento que está sendo ainda questionado e carece de replicação, como o de Grinberg-Zylberbaum e colaboradores, não invalida em si a análise e explicação para o fenômeno de trans-missão de pensamento. A demonstração experimental da

explicação espírita está contida na própria Doutrina Es-pírita e amplamente observada através da mediunidade. Acreditamos que novos experimentos poderiam ser reali-zados de modo a evidenciar esse fenômeno, aproveitando o paradigma espírita para melhor esclarecê-lo.

R

EFERÊNCIAS

[1] http://en.wikipedia.org/wiki/Telepathy acessado em 26 de Fevereiro de 2011.

[2] A. Kardec, O Livro dos Espíritos, Editora FEB, 76aEdição (1995).

[3] A. Luiz, Psicografia de F. C. Xavier, Mecanismos da Mediu-nidade, Editora FEB, 11aEdição (1990).

[4] A. Einstein, B. Podolsky and N. Rosen, “Can Quantum-Mechanical Description of Physical Reality Be Considered Complete?”, Physical Review 47, 777 (1935).

[5] M. Nobre, A Alma da Matéria, FE Editora Jornalística Ltda. (2003).

[6] M. C. A. Lima, Afinal, quem somos?, Editora AGE LTDA., 2aEdição (2007).

[7] A. Goswami, Física da Alma, Editora Aleph, 2areimpressão, São Paulo (2005).

[8] P. N. T. P. Martins, Tese de Doutorado: A Mecânica Quân-tica e o Pensamento de Amit Goswami, Universidade de Nova Lisboa (2009).

[9] J. Grinberg?Zylberbaum, M. Delaflor, L. Attie and A. Goswami, “The Einstein-Podolsky-Rosen Paradox in the Brain: The Transferred Potential”, Physics Essays 7, 422 (1994).

[10] http://en.wikipedia.org/wiki/EPR_Paradox aces-sado em 03 de Março de 2011.

[11] D. J. Griffitsh, Introduction to Quantum Mechanics, Printice Hall (1994).

[12] http://en.wikipedia.org/wiki/Nonlocality aces-sado em 03 de Março de 2011.

[13] J. S. Bell, “On the Einstein Podolsky Rosen Paradox” Physics

1, p. 195 (1964).

[14] A. Aspect, J. Dalibard e G. Roger, “Experimental test of Bell’s inequalities using time-varying analysers”, Physical Re-view Letters 49, p. 1804 (1982).

[15] A. Kardec, A Gênese, Editora FEB, 36aEdição (1995). [16] J. Wackermann, C. Seiter, H. Keibel and H. Walach,

“Cor-relations between brain electrical activities of two spatially separated human subjects”, Neuroscience Letters 336, p. 60 (2003).

[17] J. Wackermann, “Correlations between electrical signatures of separated brain states: few facts, some ideas, and lots of doubts”, NeuroQuantology Vol. 3, Suppl. 1, p. S19 (2003).

Title and Abstract in English

Is the telepathy a non-local phenomenon?

Abstract Telepathy is known as the ability to aquire information from other people through the thought, i. e., without using

any material communication tool or sensory channels. This phenomenon is well known and explained by Spiritism through the definition of the universal fluid (UF). Being spread out along the Universe, the UF is a medium through which the thoughts propagate and are transmited from one to another mind. Recently, it has been proposed that the phenomenon of telepathy is a non-local phenomenon, in the sense given by the Quantum Physics. In this work, based on the conditions necessary for the existence of a non-local connection, or entanglement as it is defined in Quantum Physics, we showed that the transmission of

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thoughts could not be a non-local phenomenon. We analyse a known experiment performed by Jacobo Grinberg-Zylberbaum and collaborators, based on a neurologic correlation between two persons, which is considered to be a proof of a non-local connection between two persons. Based on the conditions necessary for a connection to be non-local, we show that the experiment does not offer evidence that the observed connection between the two persons is, in fact, non-local. We also discuss the spiritist explanation for the transmition of thought phenomenon showing that it is clearly local and classic in the sense that the thought is transmitted by signal that propagates through the universal fluid. We concluded that the Spiritism can offer a much more plausible and scientific explanation for the Grinberg-Zylberbaum experiment.

Referências

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