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Biblioteca escolar infantil: um estudo das políticas federais às práticas locais em municípios do sudoeste do Paraná

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL CAMPUS CHAPECÓ

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO CURSO DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO

MARINA MOREIRA

BIBLIOTECA ESCOLAR INFANTIL:

UM ESTUDO DAS POLÍTICAS FEDERAIS ÀS PRÁTICAS LOCAIS EM

MUNICÍPIOS DO SUDOESTE DO PARANÁ

CHAPECÓ

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BIBLIOTECA ESCOLAR INFANTIL:

UM ESTUDO DAS POLÍTICAS FEDERAIS ÀS PRÁTICAS LOCAIS EM

MUNICÍPIOS DO SUDOESTE DO PARANÁ

Dissertação de mestrado, apresentada para o Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Fronteira Sul, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação.

Orientador: Prof. Dr. Oto João Petry

CHAPECÓ 2020

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Dedicatória

Dedico esta pesquisa a todas as crianças do nosso país, para que elas possam ter acesso à biblioteca tornando-se adultos leitores, que saibam realizar uma leitura crítica a sua volta. Dedico para a criança que vive dentro de cada adulto pois essa também merece ter contato com o livro. Dedico também a toda minha família, que sempre me encorajou a ser uma pessoa melhor.

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Meu primeiro grande agradecimento é a Deus, pela dádiva da vida, e por me permitir acordar todos os dias com o mesmo brilho nos olhos. Junto à Ele, agradecer ao Sabiá da Laranjeira, que durante dias encantou minhas manhãs de estudo com sua poesia em forma de canto, pois como diria Manoel de Barros “Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos”.

Este estudo foi construído com muitas batalhas e superações. Alguém, um dia me disse, que nossas escolhas também são renuncias. E para que esse meu sonho de se tornar mestre virasse realidade, precisei abdicar de muitas coisas, por esse motivo algumas pessoas foram essenciais nesse período.

Assim, devo agradecer....

À minha família, que não mediu esforços para que eu pudesse realizar esse grande sonho, sem os quais nada seria possível.

Aos meus pais e ao Natan pelo apoio incondicional, e por sempre acreditarem “no meu potencial”.

À minha irmã Larissa, que me proporcionou uma das maiores alegrias da minha vida, meu pequeno Francisco, que sempre despertou o melhor em mim.

Aos meus alunos do CMEI Toca do Coelho, que sempre me motivaram a ser uma professora melhor, bem como minhas colegas, e em especial a Naira, chefe amiga que sempre acreditou em mim.

Aos meus colegas de mestrado, por todas as conversas e trocas valiosas de ideias, sejam elas na sala, na cantina ou no restaurante.

Aos professores que ao longo de minha trajetória acadêmica acrescentaram não apenas conhecimentos, mas memórias e amizades.

Ao meu orientador Oto, por aceitar me orientar “no meio do caminho”, pela dedicação com minha pesquisa, pelas sábias palavras, e por mostrar-me o melhor percurso a percorrer.

Aos professores Marcos Gehrke, Camila Caracelli Scherma, Ilma Barleta de Andrade e Adriana Maria Andreis, membros da banca, por todas as contribuições que qualificaram e contribuíram para a construção dessa dissertação.

À UFFS, por me permitir fazer parte da sua história, bem como a FAPESC, pela concessão de bolsa sem a qual tudo seria mais difícil.

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Ao meu companheiro, parceiro, amigo e namorado Pablo, pela paciência, dedicação, leituras e sugestões durante esse tempo.

Às amigas Gislaine, Camila, Anelize e Lucélia, que sempre tiveram uma mensagem positiva mesmo em dias difíceis.

A todos que de uma forma ou de outra me ajudaram a compor essa dissertação. Obrigada!

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[...] o subdesenvolvimento começa nas escolas sem bibliotecas adequadas,

um espaço ausente que dá o caráter da vida escolar brasileira [...]. Enfim, o subdesenvolvimento nacional começa numa escola que, mesmo tendo uma biblioteca, não sabe o que fazer com ela, pois dentro do sistema de ensino que prevalece não há lugar para ela. (MILANESI, 2013).

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Este estudo se inscreve na linha de pesquisa “Políticas Educacionais” do Programa de Pós-Graduação em Educação – Mestrado Acadêmico – da Universidade Federal da Fronteira Sul – Campus Chapecó, com apoio de bolsa FAPESC. Tem como objetivo compreender de que forma as políticas educacionais brasileiras se estruturam para constituir a biblioteca na Educação Infantil em municípios do sudoeste do Paraná. Para fundamentar essa dissertação ancoramos nosso estudo em autores que têm refletido e pesquisado o tema da Biblioteca Escolar (CAMPELLO, 2002, 2003; MILANESI, 2013; GEHRKE, 2014, 2018; PATTE, 2012; DURBAN ROCA, 2012). Como questão orientadora da pesquisa temos: Como as políticas educacionais brasileiras se estruturam para constituir bibliotecas de Educação Infantil em municípios do sudoeste do Paraná? A metodologia adotada possui abordagem qualitativa, envolvendo o contato direto do pesquisador com o objeto de estudo, para tanto, a pesquisa tramitou e foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UFFS. Para o tratamento dos dados, optamos por utilizar a análise de conteúdo, sugerida por Bardin (2016). Partindo dessa abordagem, foram definidas três grandes categorias de análise, a saber: lugar, política e gestão municipal. As análises indicaram que existe amparo legal para a constituição das bibliotecas escolares em instituições de Educação Infantil, ligadas prioritariamente às áreas da educação e da cultura. Entretanto, essas ações do Governo Federal não se estruturam para garantir a efetiva presença das bibliotecas escolares nas instituições públicas. Evidenciamos, no transcurso dessa pesquisa, que o “Lugar Biblioteca Escolar Infantil” é um direito da criança, devendo ser reivindicado como garantia de uma educação de qualidade, e de democratização do acesso aos bens culturais. Evidenciando a autonomia dos entes federados, essa dissertação buscou nos nove municípios pesquisados a consolidação das políticas locais e percebeu que suas ações têm seu foco na construção dos Planos Municipais de Educação, que, mesmo contando com a presença da biblioteca em todos eles, os municípios não sustentam o fomento dela na Educação Infantil. De modo geral, os gestores apresentaram dificuldades em conceituar a biblioteca escolar, relacionando-a apenas com o acervo, ou com a presença do bibliotecário. Contudo, entendemos que para a real existência de um “Lugar Biblioteca Escolar infantil”, precisamos fundamentalmente arquiteta-lo na tétrade: sujeito, acervo, espaço, e intenção. Como medida paliativa, os Gestores Municipais desenvolvem estratégias na

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devem ser entendidas enquanto substitutas das bibliotecas escolares, mas sim, como parte da concepção de uma biblioteca escolar infantil “em movimento”, que pensada para atender as necessidades da criança, possibilita o desenvolvimento da autonomia, fomentando o pensamento emancipado.

Palavras-chave: Políticas Educacionais. Bibliotecas escolar infantil. Políticas Públicas. Sudoeste do Paraná.

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This study is part of the research line “Educational Policies” of the Graduate Program in Education - Academic Masters Degree - Federal University of Fronteira Sul - Chapecó campus, with a grant provided by FAPESC. It aims to understand how Brazilian educational policies are structured to establish the Early Childhood Education library in municipalities in the southwest of Paraná. To substantiate this thesis we grounded our study on authors who have reflected and researched the theme of the School Library (CAMPELLO, 2002, 2003; MILANESI, 2013; GEHRKE, 2014, 2018; PATTE, 2012; DURBAN ROCA, 2012). The guiding question of the research is: how the Brazilian educational policies are structured to establish Early Childhood Education libraries in cities in the southwest of Paraná? The adopted methodology has a qualitative approach, involving the direct contact of the researcher with its object, therefore, the research was processed and approved by the Ethics Committee on Research with Human Beings at UFFS. For data treatment, we opted to use content analysis, suggested by Bardin (2016). Based on this approach, three major categories of analysis were defined, namely: place, politics, and municipal management. The analyzes indicated that there is legal support for the establishment of school libraries in early childhood education institutions, linked primarily to the areas of education and culture. However, these Federal Government actions are not structured to guarantee the effective presence of school libraries in public institutions. In the course of this research, it became evident that the “Place Children's School Library” is a children's right, and should be required as a guarantee of quality education and democratization of access to cultural goods. Highlighting the autonomy of federated entities, this dissertation sought in the nine municipalities surveyed to consolidate local policies and realized that their actions are focused on the construction of Municipal Education Plans, which, even with the presence of the library in all of them, the municipalities do not encourage its promotion in Early Childhood Education. In general, the managers showed difficulties in conceptualizing the school library, relating it only to the collection, or to the presence of a librarian. However, it is recognized that for the real existence of a “Place Children's School Library”, it is fundamentally necessary to be conceptualized in the subject, collection, space, and intention tetrad. As a palliative measure, municipal managers develop strategies in an attempt to make up for the absence of this pedagogical resource. Therefore, it is known that these attempts, even causing

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designed to meet the needs of the child, enabling the development of autonomy and promoting critical thinking.

Keywords: Educational Policies. Children's school libraries. Public policy. Southwest of Paraná.

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Figura 1 – Contação de história realizada no CMEI Toca do Coelho (2017)...20

Figura 2 – Mapa dos municípios analisados – Campos da pesquisa...35

Figura 3 – Nuvem de palavras, tendo como corpus as entrevistas...41

Figura 4 – Papel educativo da biblioteca escolar segundo Campello (2003)...50

Figura 5 – Nuvem de palavras, tendo como corpus os resumos dos trabalhos...57

Figura 6 – Livro da categoria narrativas por imagens, PNBE (2014)...84

Figura 7 – Atuação de bibliotecários e professores no papel educativo da biblioteca segundo Silva e Cunha (2016)...92

Figura 8 – Tétrade de sustentação do “lugar” Biblioteca Escolar Infantil...94

Figura 9 – A biblioteca escolar em movimento...98

Figura 10 – Percentual de escolas que apresentam biblioteca/sala de leitura, por município (BRASIL, 2019)...136

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Tabela 1 – Organização dos trabalhos da revisão de estudos contemporâneos...56 Tabela 2 – Dados estatísticos do PNBE da Educação Infantil (FNDE)...126 Tabela 3 – Dados estatísticos da distribuição de livros do PNBE 2014 no estado do Paraná...129 Tabela 4 – Percentual de escolas com biblioteca dos municípios participantes da pesquisa (BRASIL, 2018)...138

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Quadro 1 – Municípios do sudoeste do Paraná por faixa de habitantes, segundo

IBGE (2019)...34

Quadro 2 – Relação dos sujeitos pesquisados e seus pseudônimos...38

Quadro 3 – Teses e dissertações encontradas na revisão de estudos contemporâneos...58

Quadro 4 – Artigos encontrados na revisão de estudos contemporâneos ...63

Quadro 5 – Modelos arquitetônicos do Proinfância...88

Quadro 6 – Ações do PNBE ao longo de sua execução (FNDE)...123

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LISTA DE GRÁFICO

Gráfico 1 – Categorias e subcategorias de análise...45 Gráfico 2 – Escopo de revisão de estudos contemporâneos...54 Gráfico 3 – Trabalhos separados por seu ano de publicação...55 Gráfico 4 – Organograma da infraestrutura das instituições de Educação Infantil do Manual de orientações técnicas (BRASIL, 2017)...89 Gráfico 5 – Biblioteca escolar na intersecção entre educação e cultura...107 Gráfico 6 – Cronologia das ações governamentais que contemplam a Biblioteca Escolar...120 Gráfico 7 – Classificação das políticas com foco na Biblioteca Escolar...121 Gráfico 8 – Dados do PNBE – Acervo x Escola – Educação Infantil...127 Gráfico 9 – Dados do PNBE – Alunos atendidos – Educação

Infantil...127

Gráfico 10 – Relação Aluno Vs. Investimento – Educação Infantil...128 Gráfico 11 – Critérios de atendimento das escolas PNBE – Educação Infantil...129 Gráfico 12 – Relação entre os alunos beneficiados com o PNBE 2014 e o número de alunos matriculados...130 Gráfico 13 – Respostas dos gestores sobre a suficiência das políticas federais...153

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ANDE Associação Nacional de Educação

ANPEd Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação BNCC Base Nacional Comum Curricular

CEDES Centro de Estudos Educação e Sociedade CMEI Centro Municipal de Educação Infantil CRB Conselho Regional de Biblioteconomia DCN Diretrizes Curriculares Nacionais EJA Educação de Jovens e Adultos FADEP Faculdade de Pato Branco

FAPESC Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação de Santa Catarina FHC Fernando Henrique Cardoso

FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

FUNDEF Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental IFDM Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal

IFLA International Federation of Library Associations and Institutions LDO Lei de Diretrizes Orçamentárias

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação LOA Lei Orçamentaria Anual

MEC Ministério da Educação

ONU Organização das Nações Unidas PAR Plano de Ações Articuladas

PELLL Plano Estadual do Livro Leitura e Literatura PME Plano Municipal de Educação

PNBE Programa Nacional Biblioteca da Escola PNLE Política Nacional de Leitura e Escrita

PNLD Programa Nacional do Livro e Material Didático PNLL Plano Nacional do Livro e da Leitura

PPA Plano Plurianual

RCNEI Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil SEB Secretaria de Educação Básica

SNBP Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas TCU Tribunal de Contas da União

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UNINTER Centro Universitário Internacional

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

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APRESENTAÇÃO...20

1. INTRODUÇÃO...25

1.1 PERCURSO METODOLÓGICO ... 31

1.2 DEFININDO O LÓCUS DA PESQUISA... 33

1.3 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS ... 37

1.4 TRATAMENTO DOS DADOS COLETADOS ... 40

1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ... 46

2. UM LUGAR PARA A INFÂNCIA: ENTRE ENCONTROS E ENCANTOS...48

2.1 A BIBLIOTECA ESCOLAR INFANTIL NO CONTEXTO DAS PESQUISAS: REVISÃO DE ESTUDOS CONTEMPORÂNEOS ... 52

2.2 A EDUCAÇÃO INFANTIL E O DIREITO À INFÂNCIA ... 70

2.3 A BIBLIOTECA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UM DIREITO DA CRIANÇA ... 78

2.3.1 Biblioteca Escolar em Movimento: Implicações na Educação Infantil ... 95

3. POLÍTICAS PÚBLICAS PARA BIBLIOTECA ESCOLAR NO BRASIL...103

3.1 CONTEXTUALIZANDO AS POLÍTICAS BRASILEIRAS ... 108

3.2 A BIBLIOTECA ESCOLAR INFANTIL E A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA ... 119

3.2.1 SÍNTESE DAS AÇÕES POLÍTICAS ... 122

3.2.2 As Políticas Federais e os Municípios ... 144

4. DAS POLÍTICAS FEDERAIS ÀS PRÁTICAS LOCAIS...148

4.1 CARACTERIZANDO O LOCAL PESQUISADO ... 150

4.2 BIBLIOTECA ESCOLAR E AUTONOMIA POLÍTICA NO SUDOESTE DO PARANÁ ... 153

4.3 ENTRE CAIXAS, CANTINHOS E SALAS DE LEITURA: AS BIBLIOTECAS ESCOLARES INFANTIS DO SUDOESTE DO PARANÁ... 159

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...167

REFERÊNCIAS...173

APÊNDICE A - ROTEIRO DE ENTREVISTA...185

APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO...187

APÊNDICE C - DECLARAÇÃO DE CIÊNCIA E CONCORDÂNCIA...191

ANEXO A...192

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APRESENTAÇÃO

Meu interesse por estudar as bibliotecas não é algo recente. Não sou formada em Biblioteconomia nem em Ciência da Informação, sou professora, mas por acreditar na importância desses espaços dentro das escolas, decidi investir em pesquisar sobre essa temática.

Ingressei em fevereiro de 2010 no Curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), no Campus de Chopinzinho, dando início a minha caminhada acadêmica dentro da esfera educacional. Este curso me forneceu componentes curriculares necessários para a formação de uma visão crítica e complexa dos fenômenos educativos, possibilitando-me questionar o lugar social da escola inserida no Estado capitalista. A preparação para a produção acadêmica era fomentada em todas as disciplinas, bem como a participação em eventos científicos.

Ainda no quarto ano de graduação, prestei o concurso para Auxiliar de Educação Infantil no Município de Pato Branco, onde assumi o cargo em fevereiro de 2014, com regime integral e carga horária de 40h semanais, logo após receber o título de pedagoga. Mesmo com a nomenclatura de auxiliar, estava imbuída da função das regências das turmas, visto que não havia “professores”1 no município.

Em minha experiência profissional enquanto professora de Educação Infantil, sempre enxerguei na leitura uma maneira de aguçar a criatividade das crianças através da imaginação, e mesmo com todo o empenho de fazer projetos de leitura, me deparava com um grande empecilho: não havia espaço adequado para que as crianças conseguissem mergulhar no mundo do encantamento que produz a leitura, não havia biblioteca. Os livros ficavam em caixas, em cima dos armários, dentro dos baús, nunca conseguíamos organizar um local onde os pequenos pudessem ter os livros ao alcance das suas mãozinhas.

Figura 1 – Contação de história realizada no CMEI Toca do Coelho (2017).

1 O termo se encontra entre aspas para demostrar que, mesmo sendo graduados para atuar na função de professores, e

realizando as atribuições do cargo, o concurso nomeavam-nos como auxiliares, agentes de apoio. Algo que foi corrigido no ano 2018 para todos os profissionais lotados nesse cargo, com desvios de função.

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Fonte: Arquivo Pessoal da autora, (2017).

Como é possível observar na imagem (Figura 1), estávamos, professores e alunos, no pátio descoberto do Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI), localizado no centro de Pato Branco, único local onde todas as crianças poderiam se acomodar para ouvir a contação de histórias, proporcionadas por mim (representando a personagem Emília, última da esquerda para a direita na imagem), e por meus colegas de trabalho. Esforçávamo-nos para que as crianças pudessem ter o melhor contato possível, tanto com o próprio objeto livro, quanto com a literatura infantil. Cabe ressaltar que em todas as semanas realizávamos esse momento de contação coletiva, mas, por não possuirmos um local específico para isso, nos deparávamos com muitas barreiras, principalmente a climática: em dias chuvosos era impossível reuni-los.

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Após concluir a graduação e em busca da qualificação profissional continuada, iniciei a Pós-graduação Lato Sensu em Metodologia do Ensino da Filosofia, pela AVM Educacional. Concomitantemente, realizei outra Pós-graduação Latu Sensu em Educação Infantil: práticas na sala de aula, pela Faculdade São Braz, ambas concluídas no ano de 2016. Com o intuito de alargar meus conhecimentos, cursei a Graduação de Licenciatura em História, pelo Centro Universitário Internacional (UNINTER), iniciada em 2015 e finalizada em 2018.

Em 2015, incluí mais uma jornada de 20h à minha semana, quando passei a compor o quadro de Auxiliares de Biblioteca na Faculdade de Pato Branco (FADEP), no período noturno. Fazer parte de uma biblioteca universitária me possibilitou muitos conhecimentos novos, bem como a organização, manutenção e conservação desses espaços, e, valendo-me das palavras de Ray Bradbury (2007, p. 186): “Ali eu vadiava perdido de amor, andando pelos corredores percorrendo as estantes, tocando os livros, tirando-os das prateleiras, virando as páginas, devolvendo-os aos seus lugares, afogando-me em todas as coisas boas que constituem a essência das bibliotecas”. Nesta fala, o autor explica como escreveu o livro Fahrenheit 451, romance distópico, que conta a história de Montag, bombeiro que, numa época atemporal, é responsável por atear fogo em todas as bibliotecas. Tive o privilégio de ter o contato com essa brilhante obra, publicada pela primeira vez na década de 1950, e maravilhada por encontrar tantas semelhanças em nossa sociedade atual.

Com o intuído de prosseguir nos estudos alinhados aos interesses dos meus trabalhos, me inscrevi como Aluna Especial no Curso de Pós-Graduação em Educação, Stricto Sensu, da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), para cursar a disciplina “Políticas educacionais de livro, leitura e biblioteca escolar: ênfase na escola do campo”, ministrada pelo Prof. Dr. Marcos Gehrke.

A realização da disciplina alargou minha visão sobre a pesquisa, possibilitando-me iniciar várias ações. No âmbito da Educação Infantil, onde atuava, comecei a me questionar sobre a importância da biblioteca escolar para as crianças pequenas, sendo que, no CMEI Toca do Coelho onde eu trabalhava, não possuíamos um espaço adequado, apenas poucos acervos distribuídos em caixas nas salas de aula, onde cada professor realizava suas atividades conforme seu planejamento de aula. Por esse motivo, comecei a escrever um projeto para a aquisição de uma “Ludobiblioteca” em nosso Centro Municipal de Educação Infantil. Este projeto foi comtemplado para a aquisição de mobília e acervos adequados para a faixa etária da Educação Infantil. Mas ainda esbarrávamos em um grande empecilho:

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a falta de espaço físico. Continuando os esforços para transformar nosso sonho de biblioteca em realidade, ganhamos um Container, onde poderíamos alocar todos os equipamentos, mas, mesmo agora, transcorridos quase dois anos do meu afastamento dessa instituição, o projeto ainda não foi findado.

Entremeio a essas experiências fui aprovada no Curso de Pós-graduação em Educação, Stricto Sensu, da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), como aluna regular, e minha pesquisa não poderia ser outra, a não ser investigar a Biblioteca Escolar Infantil, lançando um olhar minucioso para as políticas públicas abrangentes. Por esse motivo, pedi licença do meu concurso de professora, na Prefeitura de Pato Branco, e demissão da Faculdade de Pato Branco. Fui selecionada como bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação de Santa Catarina (FAPESC), algo que me possibilitou a dedicação exclusiva ao mestrado.

Com a leitura da obra visionária, antes mencionada, Fahrenheit 451, e o meu encantamento pela sapiência do escritor em descrever um futuro, que mesmo metafórico, se aproxima muito das experiências que vivemos hoje, uso ao longo dessa dissertação, fragmentos desse livro, para justamente aproximar aquilo que é do mundo ficcional da obra ao mundo real e, no fim, entendermos “Que não precisemos ser homens-livros por desatinos de governos ditatoriais, mas que sejamos pelo prazer de ler um bom livro [...]” (DEBUS, 2006, p. 125).

Escolher pesquisar essa temática, então, vem ao encontro da minha trajetória acadêmica e pessoal, visto que, vivenciei enquanto professora de Educação Infantil, as dificuldades de não possuir uma biblioteca na instituição onde atuava. Essa escolha, de pesquisar a Biblioteca Escolar na Educação Infantil, ficou ainda mais evidente para mim, quando uma das minhas alunas, de apenas quatro anos de idade, disse-me que quando ficasse adulta iria ser bibliotecária como eu. Foi aí que percebi que o meu amor por livros e bibliotecas já não era mais só meu e, que se eu consegui envolver um serzinho tão astuto e perspicaz, convencer a comunidade acadêmica seria fácil.

Entretanto, ao compartilhar minha pretensão de pesquisa com colegas e professores, no início do mestrado, esbarrei em comentários como: Mas tem coisas mais urgentes na educação!; Para que falar de bibliotecas na era digital?; ou, ainda, Bibliotecas para bebês?. Seria então um luxo de minha parte discutir essa temática em meio a tantas dificuldades enfrentadas pelas escolas brasileiras? E eu digo que não! Biblioteca escolar é

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um direito da criança, e a agenda da luta pelos direitos das crianças não tira férias, não possui feriados e nem se deixa para depois.

Toda essa caminhada de aprendizagem me possibilitou o ingresso no Mestrado em Educação, e na linha de pesquisa Políticas Educacionais. Foram essas inquietações e a urgência por respostas que deram origem a essa pesquisa, que busca possibilitar a transformação da condição em que se encontra a Biblioteca Escolar Infantil, e contribuir para a construção de um referencial sobre a temática.

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1. INTRODUÇÃO

Este livro tem poros. Tem feições. Este livro poderia passar pelo microscópio. Você encontraria vida sob a lâmina, emanando em profusão infinita. Quanto mais poros, quanto mais detalhes de vida fielmente gravados por centímetro quadrado você conseguir captar numa folha de papel, mais “literário” você será. Pelo menos, esta é a minha definição (BRADBURY, 2012, p. 108). O excerto da epígrafe refere-se ao momento em que o personagem Montag, movido pela agudizada curiosidade, tenta entender por qual motivo seu povo temia tanto os livros e, Faber, antigo professor aposentado, explica que a magia dos livros está justamente em se conectar com a obra, deixá-la falar aos ouvidos. Se olharmos bem de perto, no livro podemos enxergar vida. Fahrenheit 451, obra classificada como ficção científica, explora figurativamente conteúdos muito atuais e presentes na contemporaneidade. A história, que se passa em uma sociedade alienada pela televisão, em um governo ditatorial, onde os próprios civis se denunciam, em virtude de compreenderem que “Um livro é uma arma carregada na casa do vizinho”, e assim, buscam uma “felicidade” coletiva, onde as pessoas, não precisem ser “atormentadas” por temas como filosofia e sociologia.

Não tão longe de ser uma realidade, metaforicamente falando, o referido livro nos leva a refletir sobre a importância das bibliotecas, uma vez que foi escrito para confrontar nazistas que eliminaram milhares e milhares de livros. Entre incêndios de espetáculos e apagamentos silenciosos, a biblioteca sobreviveu, e sobrevive, como um grito de alerta a todas as almas desinformadas.

As bibliotecas da vida real possuem uma trajetória histórica longeva e permeada por diversas mudanças. Por algum tempo se pensou que tanto ela quanto os livros estavam com seus dias contados na sociedade contemporânea, por se acreditar que a “era da informática” substituiria as informações que, por séculos, apenas foram encontradas nos livros. Contudo, ao analisar suas histórias percebemos que essa nova era apenas trouxe uma configuração diferenciada para eles.

O surgimento das primeiras bibliotecas não possui data, nem local específico. Sabemos apenas que, com o acúmulo dos conhecimentos carregados ao longo dos anos, a humanidade necessitava de um lugar próprio para armazenar, proteger e organizar este conhecimento. Segundo Souza (2005) a biblioteca mais antiga descoberta até o momento é datada do século 7 a.C. localizada em Nínive, onde hoje fica a cidade de Mossul, no Iraque. Neste sentido, Humberto Eco (2003), em uma palestra na Biblioteca de Alexandria, no Egito, ressalta que “As bibliotecas, ao longo dos séculos, têm sido o meio mais

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importante de conservar nosso saber coletivo. ”, pois, assim, o ser humano consegue repassar para as novas gerações tudo o que já foi construído. Milanesi (2013) também destaca que:

Havendo registros, haverá uma biblioteca, porque os homens precisam repartir o pensamento criado, disseminando-o para garantir a posse do conhecimento. Por isso, formaram e formam coleções: da argila com caracteres ao papel, passando pelo papiro e pergaminho até chegar ao texto digital, que forma, na internet, um novo tipo de acervo – o maior já colocado à disposição das pessoas. É uma outra forma de biblioteca. (MILANESI, 2013, p. 13-14).

A biblioteca, da antiguidade aos dias atuais, representa uma importante peça para a conservação e preservação do conhecimento acumulado por homens e mulheres ao longo dos anos. Sua história é tão antiga quanto a do livro, e assim como esse, sofreu diversas mudanças até obter a configuração que temos hoje. Essas transformações acompanharam a modernização e as descobertas da humanidade no decorrer dos séculos, assim, o livro – que surgiu da argila, passou pelo papiro, evoluiu para o pergaminho, modificou-se com o papel, foi encadernado, e hoje também pode ser encontrado nos meios digitais – é um exemplo de que homens e mulheres necessitam atualizar sempre o seu modo de produzir e armazenar o conhecimento.

O princípio básico que define e atribui sentido às bibliotecas, ao longo de todos os anos, continua sendo o mesmo, ou seja, armazenar, organizar e conservar o conhecimento historicamente acumulado. Contudo, assim como qualquer outro recurso essencial para a vida humana, que se perpetua no decorrer dos séculos, necessita constantemente de atualizações. Acompanhando o desenvolvimento das ciências, e das transformações das necessidades humanas, tanto o livro, quanto a biblioteca, se moldam para acompanhar as mudanças que ocorrem na humanidade.

Por isso, a biblioteca, real ou virtual, enquanto concentração de esforços de ordenamento de produção intelectual do homem, permanece como fator essencial do desenvolvimento. E nunca acabará. Muda a sua configuração física, transforma-se as operações de acesso à informação, e até tem o nome trocado, mas, na essência, permanece com a ação concreta do homem, o grande desafio e o jogo humano, para não perder o que ele próprio criou. (MILANESI, 2013, p. 14, grifos nossos).

A história é, e está sendo, escrita pelos estudos dos registros que a humanidade vai armazenando, seja com a arqueologia e os desenhos feitos nas cavernas, seja com a ciência contemporânea, suas descobertas e criações recentes que estão disponíveis em

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bases de dados virtuais. Toda a forma de registro do conhecimento obtido por homens e mulheres, que compõe a memória da humanidade, para não se esvair no esquecimento, precisa de um local destinado ao seu armazenamento. Estando disponíveis nas dezenas de computadores ligados à internet ou nas bibliotecas espalhadas pelo mundo, vemos que o conhecimento e a informação precisam ser guardados.

Por muitos séculos, ler e escrever foi uma atividade restrita a um seleto grupo de pessoas do sexo masculino, que detinham a magia de unir as letras e atribuí-las um sentido. Cada ano que analisamos em direção ao passado, percebemos que esse número de homens diminui consideravelmente, e apenas um pequeno grupo, detinha esse poder. Este fato é retratado no livro, e depois nas telas, pelo escritor Humberto Eco, em O Nome da Rosa, onde o autor conta a história das bibliotecas secretas e dos livros embebidos em cicuta para manter o “mistério” dos escritos pagãos longe dos cristãos.

Ao retornarmos ao presente, e ainda mais, quando olhamos para o futuro, percebemos que o mundo letrado é, cada vez mais, uma necessidade básica para que homens e mulheres adentrem para o convívio em sociedade e para o mundo do trabalho. Saber ler, e compreender o que foi lido, vai muito além da decodificação de signos. Essa ação interfere diretamente na vida do homem e da mulher, dando-lhes a possibilidade de alargar seus horizontes de conhecimentos, interferindo também, significativamente, no seu posicionamento crítico.

Sentindo a necessidade de adaptar-se ao tempo e ao espaço onde está inserida, a biblioteca passa a se especializar para atender aos seus usuários. Dentre os tantos perfis que ela foi adquirindo, destacamos o surgimento da biblioteca escolar, que, ao mesmo tempo em que proporciona a manutenção, conservação e armazenamento do conhecimento, adquire também o propósito de instigar a geração de conhecimento novos. No Brasil, ela chega com os colégios jesuítas, servindo aos fins da fé, e, com sua expulsão, por Marquês de Pombal, houve o retrocesso dos processos educativos, e consequentemente das bibliotecas escolares. A inação do governo nacional em fomentar esses espaços durou por muitas décadas. São identificadas apenas ações isoladas, que com o tempo acabavam perdendo a força (MORAES, 1979 apud VIANA, 2014). Esse desdenhar histórico das bibliotecas escolares acarretou consequências graves, as quais o Brasil sofre até os dias de hoje, como, por exemplo, a inexistência desses espaços dentro das escolas.

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Considerando que o objeto deste estudo é a Biblioteca Escolar Infantil, a presente pesquisa se orienta pelos seguintes questionamentos: Como as políticas educacionais brasileiras se estruturam para constituir bibliotecas de Educação Infantil em municípios do sudoeste do Paraná? Qual é o conceituo de Biblioteca Escolar Infantil e a sua relação com os direitos da criança? Quais são as políticas públicas brasileiras direcionadas às bibliotecas, especificamente em escolas de Educação Infantil? Como a gestão do sistema municipal vem se articulando com vistas a universalizar as bibliotecas escolares na Educação Infantil?

Visando ampliar a discussão sobre essa temática, nos propomos olhar para a Biblioteca Escolar Infantil com o objetivo de compreender de que forma as políticas educacionais brasileiras se estruturam para constituir a biblioteca na Educação Infantil em municípios do sudoeste do Paraná. O objetivo geral se desdobra especificamente em:

1. Conceituar a Biblioteca Escolar Infantil e a sua relação com os direitos da criança; 2. Analisar as políticas públicas brasileiras direcionadas à biblioteca escolar,

especialmente em escolas de Educação Infantil;

3. Compreender como a gestão do sistema municipal vem se articulando com vistas a universalizar as bibliotecas escolares na Educação Infantil.

Dito isso, olhamos para a história da biblioteca e a sua importância na escola e na sociedade, nos questionando sobre esses locais no Brasil hoje. Por meio de nossa pesquisa, chegamos a constatação de que “Dados no Inep mostram 55% das escolas brasileiras não têm biblioteca ou sala de leitura” (HAJE, 2018) e, neste sentido, a tessitura dessa dissertação estará ancorada em um panorama de importantes ações governamentais, que nos darão subsídio para compreender este objeto de pesquisa, aprofundar a temática e atingir um dos objetivos propostos5, a saber: analisar as políticas

públicas brasileiras direcionadas à biblioteca escolar, especialmente em escolas de Educação Infantil.

Essas ações de âmbito federal que envolvem leis, decretos e portarias, foram selecionadas a partir do levantamento teórico, da revisão de estudos contemporâneos e de pesquisas atuais nos sites oficiais do governo, pois, mesmo que nem todas as ações sejam

5 Vale lembrar que nos encontramos em um grande momento de instabilidade, muitas mudanças estão

acontecendo subitamente, e o quadro político está sofrendo fortes alterações. Por este motivo, leis, decretos, portarias estão sendo inseridas ou alteradas com frequência, e modificando o curso da história.

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especificamente direcionadas a biblioteca escolar, elas fazem menções a esses espaços e são divididas entre as dimensões de acervo, universalização ou fomento a leitura, sendo elas: Parâmetros Curriculares Nacionais, de 1997; Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), de 1997; Política Nacional do Livro, de 2003; Lei n°12.244 de 2010; Decreto n° 7.084 de 2010; Plano Nacional do Livro e Leitura, de 2011; Plano Nacional de Educação, de 2014; Plano Nacional do Livro e Material Didático, de 2017; e Plano Nacional da Leitura e Escrita, de 2018. Esses documentos oficiais serão compreendidos e analisados, com a finalidade de depreender a respeito das políticas para biblioteca escolar em nível nacional, e seus alcances nos municípios do sudoeste do Paraná, objetos dessa pesquisa. Além de reconhecer e compreender as ações do Governo Federal, o estudo segue buscando as falas dos gestores de educação em cada município, através de entrevistas semiestruturadas.

Se, por um lado, existe a urgência de se alterar o cenário da biblioteca escolar no Brasil, por outro, encontramos uma gama de políticas governamentais circunscritas, em sua grande maioria, a distribuição de acervos, ou de forma vaga e limitada, sem oferecer suporte para a sua execução.

A biblioteca escolar que, por muitas vezes, passa despercebida aos olhos da população, e não se legitima enquanto espaço formativo, deveria ser justificada pela sua importância educativa, possuindo espaço físico adequado, mobília que permita aos alunos e alunas usufruírem adequadamente de todos os recursos disponíveis e acervos pertinentes as suas idades. Além disso, a biblioteca escolar pode, e deve, fazer parte do projeto político pedagógico da escola, com ações voltadas para o dia a dia dos estudantes, estimulando a criação de hábitos, permitindo que esses alunos e alunas, tenham acesso aos conhecimentos de maneira lúdica e prazerosa. Assim, a biblioteca:

[...] deve ser entendida como o pulmão da escola, oxigenando e renovando o conhecimento que circula nas salas de aula, nos colégios invisíveis, na administração e no próprio entorno da escola, entre os pais e parentes,colegas dos alunos e a comunidade na qual está inserida. A biblioteca escolar traz o novo para dentro da escola; alimenta constantemente os seus usuários de conhecimento. (SILVA, 2009, p.12).

Neste sentido, a biblioteca escolar assume, não apenas a atribuição de guardar o conhecimento acumulado pela humanidade ao longo dos anos, mas tem a função fundamental de disseminar e gerar conhecimento novos, dentro da escola onde está inserida, e também para toda a comunidade escolar envolvida. Com tais características,

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afirma Patte (2012), em seu livro Deixem que leiam, no qual compartilha suas experiências como bibliotecária na França e de suas viagens ao redor do mundo, que a biblioteca pode modificar o contexto local, conforme ela mesma vivenciou ao criar uma biblioteca infantil no subúrbio parisiense, “um lugar cheio de vida para as crianças, como a leitura encontrava aí um espaço de escolha e liberdade, como a vida do bairro chegaria a transformar-se em virtude disso.” (PATTE, 2012, p.11).

E, é nesse contexto que reside outra das escolhas dessa pesquisa: as bibliotecas escolares infantis. No Brasil, o incipiente esforço de tornar esses espaços realidade ainda possui um longo e árduo cominho pela frente, como será constatado no decorrer dessa dissertação.

A criança, desde a Educação Infantil, é um ser dotado de direitos. Seguindo esse raciocínio, Gehrke (2018, p.142) afirma que “A biblioteca é espaço de direito da infância, da criança, dos estudantes e, mesmo dos alunos que deveriam acessar a leitura e a pesquisa nesse espaço educativo.”. O problema se agrava pela falta de universalização dos atendimentos para a Educação Infantil, ou seja, grande parcela das crianças brasileiras não possuem o acesso à essas instituições, mesmo com o número de matrículas expandindo gradualmente por intermédio das metas e estratégias do Plano Nacional de Educação.

A literatura e a pesquisa sobre biblioteca escolar no Brasil não é muito vasta, e essa lacuna aumenta ainda mais quando se trata de bibliotecas escolares para as escolas de Educação Infantil. Segundo Milanesi (2013, p. 59) “[...] existem mais bibliotecas escolares do que infantis.”, pois, ainda segundo o autor, esse é o público mais complexo das bibliotecas, sendo o lugar que mais precisa de auxílio e atenção.

A escolha das escolas de Educação Infantil como lócus da pesquisa deu-se por entender essas instituições como a primeira etapa da educação básica, e de caráter público, que cumpre o importante papel, não apenas assistencialista, mas de cunho pedagógico e educativo.

Por ser caracterizada historicamente como um ambiente de silêncio e inércia, a biblioteca por muito tempo excluiu de seus assentos os menininhos e as menininhas que possuem no movimento (tanto físico quanto imaginativo) uma das suas particularidades principais. De fato, é fundamental que a biblioteca proporcione vivências únicas para as crianças que utilizam dos seus serviços e, para que isso aconteça, esse ambiente não se granjeia marcado pelo castigo ou pela imposição do adulto. Ao contrário, o adulto, através de atividades dirigidas, constrói junto com o pequeno aquele espaço e, então, “A criança

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conhece assim a vontade de conhecer. O adulto, a felicidade de transmitir.” (PATTE, 2012, p. 319).

A Biblioteca Escolar Infantil, como qualquer outra biblioteca, possui suas características próprias para que possa atender de maneira adequada o seu público. Essas características vão ao encontro daquelas da própria instituição. Um local que por muito tempo foi marcado como “depósito de crianças”, hoje possui referências e diretrizes para que a criança se desenvolva de maneira integral, de forma autônoma e crítica. Nesse sentido,

A proposta pedagógica das instituições de Educação Infantil deve ter como objetivo garantir à criança acesso a processos de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens, assim como o direito à proteção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à convivência e à interação com outras crianças. (DCN, 2010, p. 18).

Assim, a biblioteca, incorporada à proposta pedagógica, estrutura-se como um espaço onde toda a comunidade escolar pode discutir e refletir sobre o conhecimento e a informação, sempre tendo em vista um projeto voltado para a sua utilização, pois aquilo que começa na infância tende a se perpetuar por toda a vida. E, a biblioteca, enquanto armazenadora do conhecimento historicamente acumulado, e facilitadora da geração de novos, precisa proporcionar a democratização do acesso aos bens culturais e garantir que mais e mais parcelas da população tenham acesso a esses bens inestimáveis.

Tendo demarcado o campo teórico da pesquisa, justifico-a pela relevância e contribuição social que as bibliotecas podem proporcionar aos seus alunos e alunas enquanto recurso pedagógico que auxilia o professor nos processos de ensino e aprendizagem dentro das escolas e, muito mais do que isso, dentro das instituições de Educação Infantil, que devem possibilitar à criança vivências únicas de aproximação com o livro no intuito de formar adultos leitores. Por esse motivo, a pesquisa se insere no contexto acadêmico em caráter necessário e importante, para que possa proporcionar, de alguma maneira, a transformação que a Biblioteca Escolar Infantil necessita.

1.1 PERCURSO METODOLÓGICO

Uma pesquisa de caráter científico requer a necessidade de definir escolhas. Escolhas essas que consequentemente demandam justificativas plausíveis. Com tais

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pretensões, este subitem apresenta o conjunto de procedimentos adotados para a realização dessa pesquisa: “Trata-se de um conjunto de procedimentos

lógicos e de técnicas operacionais que permitem o acesso às relações causais constantes entre os fenômenos” (SEVERINO, 2007, p.102)

Um dos aspectos importantes do desenho metodológico adotado está no modo como procedemos para reunir as informações e a sua respectiva análise. A pesquisa inscreve-se na abordagem qualitativa, com a coleta dos dados feita pela realização de entrevista semiestruturada7 e a análise de conteúdo empregada para proceder com a análise dos

dados.

A pesquisa qualitativa “[...] envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes.” (BOGDAN; BIKLEN, 1982 apud LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p.13), ela se envolve inteiramente com a amostra selecionada, interessando-se realmente pelas pessoas em seus processos político, social e histórico. Flick (2009, p. 47) também diz que, “estamos em busca de casos fundamentais em função da experiência, do conhecimento, da prática, etc., que queremos estudar”.

Por meio desta pesquisa, buscamos compreender a realidade para além da interface apresentada a priori. E, por meio da abordagem qualitativa, buscamos compreender as entrelinhas enviesadas em documentos que integram as políticas de constituição das bibliotecas escolares infantis e sua materialização em nove municípios do sudoeste do Paraná, através das falas de cada gestor da educação. Para tanto, a pesquisa estará dividida em três momentos: primeiramente realizamos o cerco epistemológico ao objeto do estudo com o levantamento bibliográfico dos temas investigados, através da leitura de especialistas na área, documentos oficiais pertinentes e revisão dos estudos contemporâneos sobre o que já foi produzido em relação a bibliotecas escolares infantis; o segundo momento foi composto pela coleta de dados em campo realizada por meio das entrevistas semiestruturadas e compreensão dos documentos; e por fim, o terceiro momento foi composto pelo tratamento dos dados coletados seguindo as etapas de análise de conteúdo, proposta por Bardin (2016).

7 Vale lembrar que, por se tratar de uma pesquisa com seres humanos, esta pesquisa passou pela Plataforma

Brasil, tendo sido aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UFFS, por meio do parecer n° 3.520.125 (Anexo B).

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Nos próximos subitens, faremos uma descrição do percurso metodológico adotado nesta pesquisa, discutindo separadamente a escolha do lócus da pesquisa, bem como a definição da amostra selecionada, e os procedimentos de coleta e análise dos dados.

1.2 DEFININDO O LÓCUS DA PESQUISA

O estado do Paraná é composto por dez mesorregiões geográficas, entre elas o Sudoeste Paranaense, que agrupa trinta e sete municípios divididos por três microrregiões. Para a pesquisa de campo, nosso olhar se voltou para o sudoeste do Paraná, na microrregião de Pato Branco, contendo os munícipios de Pato Branco, Chopinzinho, Coronel Vivida, Mariópolis, Itapejara d’Oeste, Bom Sucesso do Sul, São João, Sulina, Saudade do Iguaçu e Vitorino. Cumpre destacar que, dos dez municípios que fazem parte dessa microrregião, apenas um município optou por não participar da pesquisa porque, segundo justificativa do gestor, seu município não possui biblioteca escolar nas escolas de Educação Infantil, portanto, a pesquisa não seria autorizada. Cabe ressaltar que a existência ou não de biblioteca não era pré-requisito para a pesquisa, pois o objetivo é entender como as políticas federais se estruturam dentro dos municípios. A escolha por esse recorte geográfico se dá pela proximidade da pesquisadora com o local pesquisado, facilitando assim a realização do estudo, sendo este também, Pato Branco, seu local de atuação profissional enquanto professora de Educação Infantil8.

A população estimada para essa região, conforme dados do IBGE (2019), é de 163.429 habitantes, sendo caracterizada em grande medida por atividades da agroindústria. Localizada como eixo central da microrregião, Pato Branco possui a 19ª posição no Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) em todo o território nacional e o 4° lugar no estado do Paraná (FIRJAN, 2018). O índice tem como base principal de análise as áreas da Saúde, Educação e Emprego e Renda.

Sabemos que, compreender um fenômeno como um todo, principalmente ao se tratar de políticas do Governo Federal, empreenderia uma massa gigantesca de dados, dificultando e prolongando a análise. Por esse motivo, definimos uma amostra que nos permite levantar dados específicos dessa microrregião, sendo essa a representação do

8 Concursada desde o ano de 2014, a pesquisadora faz parte da rede municipal de educação de Pato Branco,

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universo estatístico da pesquisa. A escolha dessa amostra se justifica pois ela abarca uma variedade de municípios que se diferem por seu contingente populacional: “ Isso significa que se tenta integrar apenas alguns casos, mas que são os mais distintos, para expor a gama da variação e a diferenciação no campo” (FLICK, 2009, p. 46), conforme destamos no Quadro 1 abaixo:

Quadro 1 – Municípios do sudoeste do Paraná por faixa de habitantes, segundo IBGE (2019)

FAIXA DE HABITANTE MUNICÍPIOS

0 – 20.000

Ampére Barracão

Bela Vista da Caroba Boa Esperança do Iguaçu Bom Jesus do Sul

Bom Sucesso do Sul

Capanema

Chopinzinho

Clevelândia

Coronel Domingos Soares Cruzeiro do Iguaçu Enéas Marques Flor da Serra do Sul Honório Serpa Itapejara d'Oeste Manfrinópolis Mangueirinha Mariópolis Marmeleiro

Nova Esperança do Sudoeste Nova Prata do Iguaçu

Pérola d'Oeste Pinhal de São Bento Planalto Pranchita Realeza Renascença Salgado Filho Salto do Lontra

Santa Izabel do Oeste

São João

São Jorge d'Oeste

Saudade do Iguaçu Sulina

Verê

Vitorino

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Dois Vizinhos

Santo Antônio do Sudoeste

Mais de 50.000

Francisco Beltrão Palmas

Pato Branco Fonte: Elaborado pela autora, (2019).

Nota: Municípios com base nos dados do IBGE, (2019).

Os municípios selecionados para a pesquisa apresentam características distintas, o que nos permite compreender a Biblioteca Escolar Infantil pelos mais diferenciados olhares e perspectivas. Mesmo a amostra sendo um recorte do espaço geográfico, ela representa a maioria dos municípios brasileiros em seu contingente populacional, pois, segundo dados do IBGE (2018), dos 5.570 municípios brasileiros, 5.170 possuem menos do que 80.000 habitantes, sendo esse o caso da amostra selecionada. Assim,

[...] a amostra garante eficiência na pesquisa ao fornecer uma base lógica para o estudo de apenas partes de uma população sem que se percam as informações – seja essa população de objetos, animais, seres humanos, acontecimentos, ações, situações, grupos ou organizações. [...] Na prática, contudo, presume-se em geral que a amostra representa a população a partir de um determinado número de critérios, então ela representará também a população naqueles critérios nos quais alguém esteja interessado. (BAUER; GASKELL, 2013, p. 40-41).

Delinear a amostra, localizando-a geograficamente, é fundamental para a compreensão do todo da pesquisa, uma vez que, o Brasil possui proporções continentais, e que, mesmo sendo uma República Federativa, formada pela União dos entes, cada região brasileira apresenta suas peculiaridades. Para melhor compreender o universo da pesquisa, apresentamos o mapa do Paraná (Figura 2), destacando a microrregião de Pato Branco, contendo os municípios selecionados para compor o trabalho de campo do estudo.

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Fonte: Elaborada por João Henrique Zoehler Lemos, (2020). Nota: A pedido da autora.

Tendo em vista os objetivos deste estudo, foi definido que as entrevistas seriam realizadas com os gestores municipais de educação de cada município, totalizando, portanto, nove participantes. A escolha dos gestores se deu por entender que esses agentes públicos apresentam em suas atribuições a organização, a manutenção e o desenvolvimento da educação dentro de cada município, aparelhando suas especificidades com as políticas públicas definidas pela União e pelo estado. Nas palavras de Bordignon e Gracindo (2013, [s.p]), existe uma ligação muito forte entre a gestão e as políticas, pois “na medida em que a gestão transforma metas e objetivos educacionais em ações, dando concretude às direções traçadas pelas políticas.”. É através do olhar do gestor de educação e da sua equipe, que os horizontes educacionais são definidos, priorizando este ou aquele assunto, ou seja, através da sua subjetividade as questões das políticas educacionais são gestadas.

Destacamos também que o presente estudo se dá no âmbito do Grupo de Pesquisa em Gestão e Inovação Educacional do CNPq (GPEGIE), onde a pesquisadora é membra e o professor orientador é um dos líderes, e do Programa de Pós-Graduação em Educação

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da UFFS. Para tanto, esse estudo compõe um quadro de pesquisas, que, embora possuam objetos de estudo diferentes, se complementam investigando os tensionamentos existentes nas políticas educacionais.

1.3 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS

O instrumento utilizado para a coleta de dados no campo é a entrevista semiestruturada (Apêndice A) direcionada aos nove gestores de educação dos seus respectivos municípios. A opção por entrevistar os gestores de educação dos municípios se justifica, conforme apontado anteriormente, por serem os responsáveis em definir e executar as políticas educacionais, visto que esta pesquisa pretende compreender de que forma as políticas federais se estruturam para constituir a biblioteca dentro das escolas, especificamente nos Centros Municipais de Educação Infantil.

Ao contrário dos questionários, as entrevistas semiestruturadas geram respostas mais livres, não deixando o entrevistado preso a respostas já elaboradas, pois o objetivo é obter as visões e opiniões de cada interlocutor sobre o tema. Nesse sentido, a entrevista semiestruturada é,

[...] aquela que parte de questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem um amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante. Desta maneira, o informante, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do conteúdo da pesquisa. (TRIVIÑOS, 2013, p. 146).

Por possuir uma abordagem qualitativa, a aplicação das entrevistas semiestruturadas, que foram realizadas junto aos gestores municipais de educação e utilizadas enquanto instrumento de coleta de dados, se apresentaram como alternativa para uma investigação ampla e subjetiva sobre as políticas educacionais nos municípios uma vez que geram respostas livres e revelam, a partir das narrativas dos sujeitos, um leque de dados interligados diretamente à realidade vivenciada, possibilitando desenvolver uma compreensão mais próxima do objeto pesquisado. Assim, nas palavras de Bogdan e Biklen (1994, p. 134) “a entrevista é utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo.”.

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O primeiro contato com os entrevistados ocorreu no mês de julho de 2019 para a assinatura da Declaração de Ciência e Concordância da Pesquisa, solicitada pelo Comitê de Ética. Naquela ocasião foi possível conhecer todos os gestores de educação selecionados, bem como familiarizarmo-nos com as dependências de cada secretaria de educação. Vale ressaltar que durante o processo de pesquisa houve transições de cargos e alteração na chefia de algumas secretarias. Nesse sentido, em dois municípios os gestores que assinaram a declaração, não são os mesmos que foram entrevistados.

Com o auxílio de um colega, testamos o roteiro de entrevistas com a finalidade de identificar possíveis falhas no momento da sua aplicação, onde respondi as perguntas feitas por ele. As alterações necessárias foram efetivadas e o instrumento foi considerado adequado para atingir os objetivos propostos.

No roteiro das entrevistas não contemplamos uma pergunta específica sobre a existência de um bibliotecário por entendermos que utilizamos o método semiestruturado, permitindo que o pesquisador aprofunde o assunto quando há necessidade.

Para garantir a ética nas entrevistas, foi preservada a identidade dos participantes, uma vez que, desse modo, ficaram mais à vontade para responder as perguntas, potencializando assim as respostas. Neste sentido, essa pesquisa não apresenta os nomes reais dos entrevistados, sendo esses, substituídos por pseudônimos, ressaltando que essas escolhas não necessariamente obedecem ao gênero real dos participantes. Para garantir totalmente o anonimato, atribuímos nomes fictícios também aos municípios investigados, substituindo-os por cidades da Grécia clássica, sendo eles: Atenas, Tebas, Mileto, Olímpia, Esparta, Delfos, Erétria, Tróia e Éfeso. A escolha dos nomes fictícios dos municípios, se deu por acreditar na influência desses lugares para a história da humanidade, devemos lembrar que a escolha dos pseudônimos não possui nenhuma relação direta com o tamanho ou importância dos municípios pesquisados. Apresentamos no Quadro 2, a identificação do gestor e do município, com os seus pseudônimos e os seus nomes fictícios.

Quadro 2 – Relação dos sujeitos pesquisados e seus pseudônimos

Gestor municipal de educação (interlocutores) Município Ricardo Atenas Ana Tebas João Mileto Maria Olímpia

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Assis Esparta

Cecília Delfos

Vinicius Erétria

José Tróia

Paulo Éfeso

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

Quanto à realização das entrevistas, foram agendadas de maneira prévia para que procedessem de forma tranquila, com a finalidade de garantir o total respeito com o entrevistado, tendo em vista também, que dois dos gestores não haviam tomado ciência da pesquisa, sendo necessário o contato via telefone com explicações e justificativas da pesquisa.

As entrevistas, corpus de análise desse estudo, foram realizadas da seguinte forma: 6 gravadas em áudio e transcritas posteriormente; duas respondidas por mensagens de correio eletrônico; e, uma transcrita no momento da realização pois, não foi concedida a autorização para gravar áudio. As entrevistas gravadas tiveram a duração média de 10 minutos, ocorrendo entre os meses de novembro de 2019 e março de 2020, conforme disponibilidade de cada gestor de educação.

Os recortes escolhidos para compor essa pesquisa procuraram representar de forma direta e clara os relatos dos interlocutores. Durante as transcrições das gravações, procuramos retratar as expressões faciais, os gestos e as mudanças de postura realizadas pelos entrevistados, como sugerem Lüdke e André (1986), e nesse sentido:

[...] não é possível aceitar plena e simplesmente o discurso verbalizado como expressão da verdade ou mesmo do que pensa ou sente o entrevistado. É preciso analisar e interpretar esse discurso à luz de toda aquela linguagem mais geral e depois confrontá-lo com outras informações da pesquisa e dados sobre o informante. (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 36).

Quando aos e-mails, “a análise dos dados é semelhante às entrevistas presenciais, obedecendo aos mesmos critérios de análise e estruturação na apresentação no trabalho.” (HUNT; MCHALE, 2007 apud SOARES, 2018, p.105). As falas, que não são meras formas de comunicação, expressam em si o contexto social em que estão inseridas, podendo desvelar opiniões, fatos, denúncias e desabafos. Desse modo, a entrevista foi elaborada como um instrumento para coletar os dados necessários a fim de responder as questões desse estudo.

Além dos dados coletados através da entrevista, realizamos o levantamento bibliográfico, selecionando os documentos para compor essa dissertação. A seleção dos

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documentos que compõem as políticas educacionais para as bibliotecas infantis foi resultado de um processo que envolveu muitas leituras e pesquisas. Nesse sentido, os documentos definidos no início desse estudo não representavam a totalidade existente, assim, foi necessário ao longo da escrita, acrescentar outras ações governamentais encontradas no caminho para possibilitar o cumprimento dos objetivos definidos, e, nessa lógica, Flick (2009, p. 52) nos explica que “esse corpus pode ser estabelecido em um momento no início da análise e pode ser redesenhado durante seu progresso e segundo as lacunas no material ou análise até então”.

Portanto, à luz da análise de conteúdo, todo o material coletado foi utilizado para compor as categorias sistematizadas que serão apresentadas na sequência.

1.4 TRATAMENTO DOS DADOS COLETADOS

A realização das análises do material empírico coletado através das entrevistas semiestruturadas e dos documentos oficiais, deu-se pela abordagem qualitativa, isto significa “[...] ‘trabalhar’ todo o material obtido durante a pesquisa [...]” (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 45), como exposto anteriormente. Como método para a análise e interpretação dos dados coletados, foi utilizada a técnica de análise de conteúdo sugerida por Bardin (2016).

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN, 2016, p. 48).

Alinhando-se aos objetivos dessa pesquisa, a análise de conteúdo é válida, pois pode ser aplicada a uma variedade de discursos e em qualquer tipo de comunicação, sendo um instrumento metodológico que suporta documentos de qualquer natureza. Bardin (2016) e Franco (2008) atestam que, na análise de conteúdo, devemos ter como ponto de partida a mensagem, nas suas variadas formas, seja ela verbal ou não. Nesse sentido, esse método se valida também enquanto um estudo da área da educação, a qual, essa técnica “é uma ferramenta, um guia prático para ação, sempre renovada em função dos problemas cada vez mais diversificados que se propõe investigar” (MOARES, 1999, p. 9). Trata-se, então, de técnicas que vão desde o levantamento, perpassando a seleção, e concluindo

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com a interpretação dos dados, propondo uma sequência metodológica que orienta o pesquisador em sua prática.

Por meio desse método de análise de conteúdo, podemos acessar aquilo que não está aparente, ou seja, checar o que se encontra nas entrelinhas dos dados coletados para descrever e interpretar os conteúdos presentes nos documentos da pesquisa. Dessa forma, entendemos que essa técnica nos permite inferir, nos dados coletados, como as políticas federais se estruturam para constituir as bibliotecas escolares em instituições de Educação Infantil. Vale ressaltar que a análise de conteúdo aplicada na pesquisa segue os “[...] três polos cronológicos: 1) a pré-análise; 2) a exploração do material; 3) o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação” (BARDIN, 2016, p. 125).

A etapa de pré-análise corresponde à fase de organização do material, sistematizando as ideias iniciais. Esse momento é muito importante para a pesquisa, pois definirá o desenvolvimento sucessivo da análise. Aqui foi possível definir o corpus que se constitui, nessa pesquisa, pelas informações obtidas nas entrevistas e nos documentos.

Neste polo cronológico, utilizamos o Software IRaMuteQ para criar uma imagem que serviu de base para a pré-análise. Sua utilização é apenas uma ferramenta para o processamento dos dados, e não um método da pesquisa, portanto seus resultados são instrumentos de exploração para analisar a repetição do uso dos termos. A nuvem de palavras (WordCloud) é uma representação visual que destaca a frequência das palavras no texto, quanto maior a frequência, maior será sua apresentação na imagem, permitindo-nos uma compreensão a partir de uma análise lexical. Para isso, todas as respostas das entrevistas foram copiladas, seguidas por linhas de comando para realizar a contagem da frequência das palavras, formando um corpus. Nele, não foram retiradas as palavras “desnecessárias”, as stopwords, ou seja, as preposições, os artigos, os advérbios, entre outras, visto que, são palavras consideradas relevantes para a construção da nuvem. Mesmo sendo uma análise lexical simples, a nuvem de palavras é graficamente interessante, vejamos (Figura 3):

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Fonte: Elaborada pela autora, (2020).

Nota: Nuvem de palavras elaborada por meio do Software IRaMuteQ.

A repetição de palavras em um texto, assim é por algum motivo, e aponta caminhos a serem observados, sendo uma estratégia de persuasão. Com base na imagem, percebemos que a palavra “não” é a que mais aparece nas entrevistas, somando o total de 131 vezes, e, ao observarmos a imagem e voltarmos às entrevistas, percebemos que essas negações estão associadas diretamente à existência de bibliotecas escolares na Educação Infantil e à suficiência das políticas públicas federais. A segunda palavra mais repetida durante as entrevistas foi “livro”, com 103 recorrências. Esse fator, demonstra que, para os participantes dessa pesquisa, a biblioteca muitas vezes é entendida apenas como um suporte para que os livros sejam alocados. Já a palavra “gente” refere-se à subjetividade da gestão, ou seja, toda vez em que ela aparece nos textos, desvela-se algo local, pelo qual a gestão municipal é responsável. Ao passo que “infantil” retrata um dos focos dessa pesquisa, assim como “política”, as quais são representadas de maneira menor na nuvem

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de palavras, aparecendo respectivamente 29 e 11 vezes. Esses apontamentos serão evidenciados no decorrer das análises.

Em seguida, procedemos a exploração do material coletado nas entrevistas e nos documentos, onde transformamos os dados brutos em dados da pesquisa, procurando atingir uma representação do conteúdo como sugere Bardin (2016). A exploração dos materiais consiste em codificá-los, realizando o recorte do texto e transformando-o em unidades de registro, como a definição das regras de contagem e a classificação de categorias temáticas. Nas palavras de Silva e Fossá (2015):

Nessa fase, o texto das entrevistas, e, de todo o material coletado, é recortado em unidades de registro. Tomar-se-ão, como unidades de registro, os parágrafos de cada entrevista, assim como textos de documentos, ou anotações de diários de campo. Desses parágrafos, as palavras-chaves são identificadas, faz-se o resumo de cada parágrafo para realizar uma primeira categorização. Essas primeiras categorias, são agrupadas de acordo com temas correlatos, e dão origem às categorias iniciais. As categorias iniciais, são agrupadas tematicamente, originando as categorias intermediárias e estas últimas também aglutinadas em função da ocorrência dos temas resultam nas categorias finais. Assim, o texto das entrevistas é recortado em unidades de registro (palavras, frases, parágrafos), agrupadas tematicamente em categorias iniciais, intermediárias e finais, as quais possibilitam as inferências. (SILVA; FOSSÁ, 2015, p. 4).

Para a elaboração das categorias que serão apresentadas nesta dissertação, os dados produzidos foram lidos exaustivamente, dando origem às categorias iniciais, essas por sua vez, foram reagrupadas por assuntos comuns, permitindo a elaboração das categorias finais.

Desta maneira, a ação analítica de interpretar os dados torna o material mais compreensível. Para tanto, conforme a proposta metodológica do estudo, a análise foi realizada por meio da elaboração de categorias que visaram sistematizar os dados coletados, transformando-os em unidades, e assim possibilitando a análise de conteúdo, a saber: lugar, política e gestão municipal. Essas categorias ainda são divididas em subcategorias, assim como explica Bogdan e Biklen (1994, p. 234): “Os códigos principais são mais gerais e abrangentes, incorporando um vasto leque de atividades, atitudes e comportamentos. Os subcódigos, dividem os códigos principais em categorias mais pequenas [sic menores].”, tal como apresentamos abaixo:

1. Lugar: Diz respeito à biblioteca escolar na Educação Infantil, bem como às

intervenções e articulações por ela proporcionadas, a partir do conceito de lugar que propõe Massey (2000).

Referências

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