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Academic year: 2021

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Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Faculdade de Psicologia

Psicologia – 1º Ano

História e Epistemologia da Psicologia

Teorias Sócio-Cognitivas no Mundo Contemporâneo

Jaqueline Cruz, N.º 20080451 Joana Filipa Ferreira, N.º 20085759

Jorge Adrião, N.º 20080443 José Gonçalves, N.º 20084329 Mirian Jordana, N.º 20083786

Turma 1D1

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Índice 1. O nascimento da Psicologia Colectiva

1.1. Le Bon e a Psicologia das Multidões

2. Origens da Psicologia Social nos Estados Unidos 2.1. Mc Dougall e a Psicologia Hórmica

2.2. Allport e a Facilitação Social 3. O estudo dos grupos

3.1. Mayo e o Efeito Hawthorne 3.2. Moreno e a Sociometria

3.3. Lewin e a Dinâmica de Grupos 4. A Psicologia Social Cognitiva

4.1. Festinger e a Dissonância Cognitiva 4.2. Heider e a Teoria da Atribuição 5. Conclusão final

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2. Origens da Psicologia Social nos Estados Unidos

Conceito de psicologia social

Psicologia social – ramo da psicologia que se centra no comportamento social e que tenta compreender como as pessoas interagem umas com as outras: a natureza e as causas do comportamento, e o pensamento dos indivíduos em situações sociais (implica estar em contacto com outras pessoas). Esta é uma definição aproximada, pois esta disciplina é difícil de definir devido à grande diversidade do seu campo e ao seu ritmo rápido de mudança.

História e origens da psicologia social

A “data de nascimento” reconhecida formalmente, porque não é clara exactamente, da psicologia social é 1908, ano em que se publicam dois manuais muito importantes – e criticados – de psicologia social.

Os primeiros tratados de psicologia social são, geralmente, atribuídos a dois americanos – o sociólogo Ross e o psicólogo Mc Dougall –, cada um dos quais publicou, em 1908, um livro (Social Psychology, an Outline and Source Book e An

Introduction to Social Psychology, respectivamente).

As quatro etapas da psicologia social são as seguintes:

1ª - Precursores (antes de 1908)

Os dois filósofos que mais influenciaram a visão da natureza humana, e os quais impregnaram a psicologia social, são Hobbes e Rousseau.

Também se destacam os seguintes:

- Wilhelm Wundt: precursor da psicologia social;

- William James: distingue o “self” (o eu social e como nós vemos os outros) e o “eu” (o eu mesmo e como nos vemos a nós próprios). Também abordou a noção de hábito, a qual é uma unidade de estudo da psicologia social;

- Augusto Comte: perspectiva mais sociológica. Mencionou a “moral positiva”, a qual refere que a sociologia deveria tratar os fundamentos biológicos da conduta humana (psicofisiologia) e o comportamento do ser humano na cultura e na sociedade. Também

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propôs a existência de uma ciência que integrara os pontos de vista fisiológico + sociológico (desta concepção, posteriormente, surgiu a ciência da psicologia social); - Emilio Durkheim: foi um sociólogo importante, dando mais importância aos factores sociológicos que psicológicos. Introduziu conceitos como “consciência colectiva”, “representações sociais”, “norma social”;

- Gabriel Tarde: sociólogo que explicou a “dinâmica social”;

- Gustavo Le Bon: sociólogo que publicou “A psicologia das massas”, livro que aborda temas sobre comportamentos colectivos (ex: revoluções).

2ª - Nascimento e consolidação (de 1908 até à Segunda Guerra Mundial)

Em 1908 foi quando se publicaram dois livros muito importantes – e criticados – de psicologia social, um na América do Norte (escrito por Edward Ross) e outro na Inglaterra (escrito por William Mc Dougall). Ross menciona que a imitação e a sugestão (induzir ideias ou sentimentos a uma pessoa para que realizem actos involuntários) se mantêm por convenções sociais, entre outras coisas. Mc Dougall foi o representante da psicologia hórmica, ou seja, a psicologia que explica a conduta através dos instintos ou tendências inatas (instinto sexual, parental, por exemplo).

Produziram-se debates sobre se a conduta é herdada ou aprendida, e concluiu-se que a conduta é aprendida. No ser humano existem poucas condutas instintivas, entendendo-se por conduta instintiva aquela que é universal, que se dá numa espécie semelhante como produto da evolução e na qual não existe aprendizagem.

Floyd Allport, psicólogo social norte-americano, publicou um importante livro em 1924 e influenciou e determinou a orientação da psicologia social norte-americana. Este refuta o conceito de instinto e de contribuições colectivas, e defende que o comportamento social provém de muitos e diferentes factores, incluindo a presença e acções de outras pessoas. Abordou o conceito de facilitação social, o qual faz referência a que algumas condutas duram mais quando alguém está acompanhado do que sozinho (ex. no desporto, “duramos mais” se estivermos acompanhados do que quando estamos sozinhos); contudo, tem o inconveniente da concentração que a presença de outros nos activa, pelo que facilita uns comportamentos e disturbe outros. Os comportamentos que dominamos fazem-se melhor se estivermos acompanhados, no entanto, os comportamentos que não dominamos fazem-se melhor se estivermos sozinhos ou com pouca gente.

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3ª - Auge (desde a Segunda Guerra Mundial até finais de 1960)

É nesta etapa que se dão os mais importantes desenvolvimentos da psicologia social.

Alguns autores assinalam o começo desta fase em 1933 quando Kurt Lewin, judeu, foi para os Estados Unidos (onde o contexto sociopolítico era mais liberal, promovendo-se melhor as investigações). Este, depois da Segunda Guerra Mundial, abordou técnicas de treino/formação e dinâmica de grupo como o “grupo-t” (treino com comunicação por grupos, em que posteriormente se pergunta a cada indivíduo o que pensa), “teoria do campo psicológico” e tentou uma teoria que explicasse todos os processos. A sua principal contribuição foi a formação de todos os seus discípulos (Leon Festinger, Harold Kelley, Morton Deutsh, Stanley Schachter, John Thibaut), uma vez que estes são os principais autores deste século.

A principal contribuição de Leon Festinger foi o estabelecimento de As bases do

processo de comparação social, as quais se baseiam em que as pessoas se comparam a

se mesmas com as demais, para reduzir a incerteza acerca da adequação do seu comportamento, sentimentos e crenças. Também abordou a Teoria da dissonância cognitiva, a qual menciona que os sujeitos necessitam que os seus pensamentos, crenças e comportamentos sejam compatíveis/coerentes entre si; quando algo está diferente ou incoerente com as nossas ideias sentimo-nos mal, pelo que é necessário eliminar essas incoerências.

O estudo do preconceito e dos conflitos entre pessoas de diferentes grupos sociais foi outro tema importante nesta etapa.

Outro tema importante foi a cognição social, isto é, o estudo dos processos internos do indivíduo, a percepção dos sujeitos, e de como isto afecta o comportamento social.

As experiências em laboratório tiveram uma grande importância nesta etapa. As experiências próprias da psicologia social apareceram em 1950, destacando:

- Conformidade social (Asch) – avalia a influência que um grupo tem num indivíduo (por exemplo, se todo o mundo disser que és feio, tu acabas dizendo o mesmo);

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- Erro de atribuição fundamental (Bardon) – por exemplo, ao escassearem os recursos numa guerra, aumenta a violência, porque quanto menos recursos temos, menos coisas podemos fazer (comer) e sentimo-nos mais oprimidos;

- Estilo de liderança democrática (Lewin) – por exemplo, na universidade faço o que me dizem (autoritário), em casa faço mais ou menos o que me dizem e outras vezes não (democrático), com os amigos faço o que quero (liberal).

4ª - Crises (finais de 1960 até finais de 1980)

1. Crise da identidade da teoria psico-sociológica – cada autor menciona uns pontos sobre no que se centrou a crise. Uns dizem que a crise se centrou nas experiências laboratoriais, outros que surgiu pela pressão do “publicar ou morrer”, outros que se devia à semelhança com as ciências naturais, outros que se devia à divisão em duas psicologias sociais (psicológica e sociológica).

2. Crise da metodologia – a maioria das críticas deveu-se ao excessivo uso das experiências em laboratório, deixando de lado os estudos de factos. Outra questão metodológica também alvo de críticas foi o tipo de amostras que estudavam, uma vez que estas eram de um número reduzido. Também se criticavam as dimensões éticas das investigações ou experiências (não se deve enganar os sujeitos “experimentados” e sim guardar a sua intimidade).

3. Soluções propostas para acabar com a crise (as quais também foram objecto de bastante crítica) – não fazer uso das experiências de laboratório, fazer investigações de campo, utilizar sondagens, utilizar relatos autobiográficos, criar novas teorias que tiveram mais em conta os aspectos sociais. A maior parte estava de acordo de que era necessário trabalhar com um modelo de ser humano diferente, que realmente fossem eles mesmos, com os seus valores e crenças.

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MC DOUGALL, William

Vida

- Nat. 1871, Inglaterra; Ob. 1938, E.U.A.

- Psicólogo muito importante no desenrolar da Teoria dos Instintos e na Psicologia Social. Foi um opositor do behaviorismo

- Estudou Medicina e Fisiologia na Universidade de Cambridge e em Londres e na Universidade de Göttingen. Depois de dar aulas na University College London e na Universidade de Oxford, foi recrutado por William James para a Universidade de Harvard, onde foi professor de Psicologia de 1920 a 1927. Depois foi para a Duke University, onde permaneceu até à sua morte

Opondo-se ao behaviorismo, defendia que a conduta está em geral orientada a um objectivo (goal-oriented and purposive), uma abordagem a que chamou de Psicologia Hórmica. Contudo, na teoria da motivação, defendeu a ideia de que os indivíduos estão motivados por um número significativo de instintos herdados, cuja acção podem não entender em forma consciente, de tal forma que nem sempre entendem os seus próprios objectivos. As suas ideias sobre o instinto influenciaram fortemente Konrad Lorenz. Em 1920 foi presidente da Society for Psychical Research e no ano seguinte o seu homólogo nos Estados Unidos, na American Society for Psychical Research.

Obras

An Introduction to Social Psychology (1908-50) Psychology: The study of behavior (1912) The Group Mind (1920)

Physiological Psychology (1920) Outline of Psychology (1923) Abnormal Psychology (1926) The energies of man (1932) Body and Mind

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Teoria Hórmica

Introduction to social psychology é o título do manual de William Mc Dougall,

psicólogo inglês radicado nos Estados Unidos, publicado em 1908 e com um êxito imenso. Influenciado por Darwin e James, em desacordo com o behaviorismo dominante, Mc Dougall desenvolve uma psicologia que baptiza de «hórmica» em referência ao grego hormè, que significa «impulso», «movimento para». Esforça-se por descobrir os «instintos» que estão na origem da acção, nos animais e nos homens. Assim, faz uma lista de dez instintos e quatro «tendências gerais» e mostra-lhes a ligação à emoção, da qual realça o papel funcional para a conservação da espécie. O instinto de reprodução e o parental levam a fundar uma família e, portanto, a sociedade, o combativo produz a civilização e o progresso, da mesma forma que o instinto gregário leva o homem a juntar-se aos seus semelhantes.

Sistema psicológico defendido por William Mc Dougall (1871-1938), cujo pressuposto fundamental afirma que o comportamento é caracterizado por um impulso (horme) no sentido da realização de certos propósitos ou metas. Basicamente, esse comportamento é motivado por propensões que são instintos ou sentimentos. Os instintos são propensões inatas, como a fuga, a curiosidade, a reprodução, a pugnacidade, a aquisição e a auto-afirmação. Todos os instintos são susceptíveis de descrição em função dos seus três atributos ou características fundamentais: cognitivo,

afectivo e conectivo. Quer dizer, todos os instintos possuem um componente sensorial,

um motivacional e um emocional. Os instintos podem ser modificados em sentimentos, como o amor, o ciúme ou o patriotismo, que são combinações de instintos e, através da experiência, ficam associados a complexas situações de estímulo. Escreveu Mc Dougall: “A teoria hórmica sustenta que onde há vida há mente; e que, se existe alguma contiguidade do inorgânico para o orgânico, deve ter existido algo de mental, algum indício de natureza e actividade mentais no inorgânico, a partir do qual se gerou tal emergência. Actuar com um propósito é um indício mental, ainda que o ser em foco seja tão primitivo quanto um protozoário” (Outline of psychology, 1923). Assim, Mc Dougall tentou combinar uma teoria teleológica da evolução, inspirada em Lamarck, com as coordenadas físico-químicas, a fim de explicar o comportamento que ele descreveria como uma descarga de energia (reducionismo psicofísico) armazenada nos

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tecidos sob forma química e capaz de transformar-se em qualquer dos demais tipos de energia livre e activa, cinética ou eléctrica.

A psicologia hórmica de Mc Dougall foi popular entre aqueles psicólogos, antropólogos e sociólogos, no início da década de 1920, que consideravam os sistemas estruturalista e behaviorista esteréis – de um ponto de vista dinâmico. Entretanto, quando o conceito de “instinto” caiu em descrédito, sob o ataque dos behavioristas, o sistema de Mc Dougall começou a perder terreno.

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ALLPORT, Henry Floyd Vida

- Nat. 1890, Wisconsin; Ob. 1971/8 Califórnia - Professor universitário e Psicólogo

- Leccionou na Maxwell School of Citizenship and Public Affairs da Universidade de Syracuse em Syracuse, de 1924 a 1956, e foi professor visitante na Universidade da Califórnia, em Berkeley

- É considerado fundador da psicologia social como disciplina científica; pai da psicologia social experimental

Obras:

The influence of the group upon association and thought (1920) Social Psychology (1924)

Institutional Behavior: Essays toward a Re-interpreting of Contemporary Social

Organization (1933)

Theories of Perception and the Concept of Structure: A Review and Critical Analysis with an Introduction to a Dynamic (1955)

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Fenómeno da facilitação social

O termo facilitação social foi utilizado por F. Allport para significar a influência da presença de outras pessoas no desempenho de um indivíduo. Embora a expressão tenha surgido com Allport e muitos estudos sobre o assunto tenham sido por ele conduzidos, historicamente devemos remontar a Triplett (1897) para buscar o início de experimentação sobre tal fenómeno. O experimento de Triplett consistia, simplesmente, do seguinte: meninos de cerca de 12 anos de idade foram solicitados a enrolar um anzol o mais rápido que pudessem. Tal tarefa lhes foi pedida sob duas condições: a) a sós; b) em conjunto. Triplett verificou que o tempo que levavam a executar a tarefa era em média mais curto quando eles estavam em conjunto do que quando agiam separadamente. Estudos posteriores (Allport, 1924; Dashiell, 1930) mostraram que há diversas variáveis a serem levadas em conta no estudo do desempenho individual comparado com o desempenho da pessoa na presença de outras. O tipo de tarefa a executar, por exemplo, produz resultados diferenciais. Allport (1924) mostrou que tarefas motoras simples são facilitadas pela presença de outros, enquanto que actividades que requerem raciocínio são prejudicadas. O trabalho em grupo é mais eficiente na resolução de tarefas, devido a um maior número de ideias apresentadas, críticas a hipóteses erróneas e debates esclarecedores.

Em reacção a isso e inspirados no behaviorismo, autores como Floyd Henry Allport (Social psychology, 1924) fazem os seus estudos incidir exclusivamente na influência do meio social, sem deixar muito espaço aos instintos ou àquilo que é da iniciativa própria ao indivíduo. Este nada é relativamente ao grupo que o determina. Allport faz um estudo experimental da psicologia social, definida como a ciência que tenta explicar «como os pensamentos, os sentimentos e os comportamentos são influenciados pela presença real, imaginária ou implícita de um terceiro». Estuda, nomeadamente, o conceito de «facilitação social», que evidencia a influência positiva do grupo nas actividades dos seus membros: é estimulante «ver e ouvir os outros fazerem a mesma coisa». Concorda assim com os já antigos estudos de Norman Triplett: em 1897, a partir de análises de arquivos, este havia mostrado que os desempenhos dos ciclistas melhoravam se não corressem sozinhos, mas sim numa competição com outros. Triplett verificara esta influência pela via de um estudo em laboratório com quarenta crianças de dez a doze anos de idade: estas conseguem dar

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cento e cinquenta voltas a carretos de cana de pesca mais rapidamente em grupo do que sozinhos.

O mérito da primeira experiência de psicologia social é tradicionalmente atribuído a Triplett, que ainda estudante, comparou sistemática e experimentalmente diversos meios de melhorar as nossas performances (realizações) motoras. Vejamos o caso de um ciclista que faz sozinho uma prova de contra-relógio; o seu resultado não será tão bom como o de um outro ciclista que, em torno do velódromo, tem pessoas que o ajudam a regular a sua velocidade. No entanto, a melhor performance será geralmente a de alguém que se opõe a um adversário. Ocupemo-nos aqui simplesmente das condições em que a tarefa é executada, ou isoladamente ou em companhia de outra pessoa. Em vez de comparar diferentes corridas de bicicletas, onde muitos factores de perturbação podem intervir, Triplett pediu a crianças que enrolassem o mais rapidamente possível carretos de canas de pesca. Por vezes, as crianças trabalhavam sozinhas; outras vezes, eram duas a realizar a tarefa na mesma sala. As performances foram superiores no segundo caso. A presença de outrem, trabalhando ao nosso lado, tem portanto uma influência sobre o nosso comportamento e, neste caso, uma influência benéfica.

Este fenómeno, a que mais tarde se chamará facilitação social, aparece ao mesmo tempo que a disciplina que se interessará por ele. Durante longos anos, apaixonará os psicólogos sociais que verão nele uma espécie de identidade da sua perspectiva: a influência directa de outrem sobre um indivíduo. Esta circunstância histórica bastará, sem dúvida, para explicar que nos interessemos por este fenómeno numa obra de introdução à psicologia social experimental.

A. Os efeitos de audiência e de coacção

Desde o início, os estudos daquilo que será ulteriormente a facilitação social seguiram duas orientações de que as experiências de Triplett só representavam, parcialmente, um aspecto. Por um lado, estudaram-se os efeitos de audiência, isto é, a medida em que espectadores passivos afectam a performance de um indivíduo que trabalha em qualquer tarefa. Por outro lado, houve interesse em saber se a produção de um indivíduo que efectua determinada tarefa é influenciada pelo facto de outras pessoas, junto dele, realizarem o mesmo trabalho. Fala-se, nesse caso, de efeitos de

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O autor que mais estudou a coacção e a quem, aliás, devemos este termo, assim como o de facilitação social, é Floyd Henry Allport. Ele imaginou, nomeadamente, uma série de testes a efectuar por uma pessoa isolada ou em coacção:

1. Uma tarefa administrativa que consiste em riscar todas as vogais de um texto. 2. Uma tarefa de reversibilidade de perspectivas em que se trata de ver a face de um cubo como anterior ou posterior e vice-versa

3. Uma tarefa de multiplicação de números com dois algarismos 4. Uma tarefa de associação de palavras em cadeia

A maior parte dos resultados confirmam a facilitação social. Os estudantes de Harvard testados por Allport (1924) riscam mais vogais, fazem mais multiplicações, mudam mais vezes de perspectiva, fornecem mais associações e refutações. Isto deve-se a dois factores, segundo Allport. A visão dos movimentos de outrem aumentaria os nossos; é a facilitação social. Por outro lado, um fenómeno de rivalidade, inerente à situação de coacção, também teria influência.

Concluindo, poderia julgar-se que os efeitos de audiência e de coacção são unilateralmente benéficos. Não é o caso. A realidade é muito mais complexa do que a imagem facetada que dela foi dada. Caso contrário, a história teórica da facilitação social teria terminado com estas experiências do início do século.

Nas pesquisas de Allport, por exemplo, se o número de refutações é mais significativo em situação de coacção do que em estado de solidão, a sua qualidade é bem menor.

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3. O estudo dos grupos

LEWIN, Kurt

Vida

- Nat. 1890, Prússia; Ob. 1947, Newtonville.

- Trabalhou durante 10 anos com Wertheiner, Koffka e Kohler na Universidade de Berlim. Dessa colaboração com os pioneiros da Gestalt nasceu a sua teoria de campo, mas não podemos considerá-lo um gestaltista, já que acabou por seguir outro rumo. - Lewin modificou profundamente o curso de psicologia, e pode ser apontado como um dos maiores psicólogos contemporâneos.

Obras:

Teoria dinâmica da personalidade Princípios de Psicologia Topológica Dinâmica e génese dos grupos

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Dinâmica dos grupos

Ao longo da obra de Kurt Lewin nota-se a importância da Gestalt na renovação da psicologia social americana.

O autor mostra que os grupos têm propriedades particulares que não podem ser resumidos aos seus elementos constituintes, da mesma maneira que os demais teóricos da Gestalt demonstraram que, na percepção, as figuras têm formas que não se reduzem aos elementos de que são compostos.

Lewin lançou uma «pesquisa de acção», em que observou que «nada há de mais mágico por trás do facto de que os grupos têm propriedades particulares distintas das dos seus subgrupos do que por trás da realidade que as moléculas têm propriedades diferentes das dos átomos e dos iões que as compõem». Segundo esta metáfora, ele considera que deve ser possível determinar leis da dinâmica de grupos.

Para Lewin, o grupo é concebido como uma «totalidade dinâmica» e «a interdependência é a essência social: a essência de um grupo não está presente na similitude dos seus membros na sua interdependência».

Esta totalidade dinâmica grupal possui propriedades especiais, distintas das propriedades dos subgrupos ou dos membros individuais que a compõem.

Para Lewin, o estudo de pequenos grupos constituía uma opção estratégica que permitiria, num futuro imprevisível, esclarecer e tornar inteligível a psicologia dos macro-fenómenos de grupos. Basicamente, ele começava as suas pesquisas com pequenos grupos para ver até que ponto a sua pesquisa tinha coerência suficiente para seguir. Quando este percebeu que sim, aplicava a sua experiência a macro-fenómenos de grupo, sendo daí que retirava as suas conclusões e teorias.

Num comportamento de grupo, vários indivíduos têm que sentir as mesmas emoções e as mesmas têm que ser suficientemente intensas para integrá-los, deles fazer um grupo e que, finalmente, a grande coesão atingida por estes indivíduos seja tal que eles se tornem capazes de adoptar o mesmo tipo de comportamento. Para as suas experiências terem coerência, todos ou a maioria dos indivíduos constituintes do grupo tinham que sentir as emoções com a mesma intensidade, para que não houvesse controvérsias nas suas experiências.

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FESTINGER, Léon

Vida

- Nat. 1919; Ob. 1989

- Psicólogo que se tornou famoso pelo desenvolvimento da teoria da dissonância cognitiva

- Foi orientado por Kurt Lewin, que na altura era chamado “pai da psicologia social”

Obras:

A teoria da dissonância cognitiva Conflito, decisão e dissonância

Teoria e experiência na comunicação social Retrospectivas na psicologia social

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Dissonância cognitiva

Leon Festinger, discípulo de Lewin, desenvolveu duas teorias em psicologia social: uma de processos de comparação social e outra de dissonância cognitiva.

Nos termos da primeira teoria, diz que as pessoas, num grupo, são levadas a avaliar as suas opiniões e aptidões e que a fonte para a aliação das suas opiniões e aptidões se encontra na reacção dos outros, que passa a funcionar como um espelho e também, segundo Festinger, as pessoas comparar-se-ão com os que lhes são algo semelhantes, e não com as que lhe são distintas.

Na teoria da dissonância cognitiva, ele procura criar uma teoria para explicar porque uma pessoa mantém dada opinião ou manifesta determinado comportamento, ou ainda, porque modifica a sua opinião ou altera a sua conduta.

Ele argumenta que existe no ser humano um impulso para manter um senso geral de consonância com as opiniões, ideias, atitudes e coisas parecidas de outro ser humano, um senso de ser consistente com tais coisas, para seguirem juntos de maneira significativa.

Quando certos aspectos da vida mental de uma pessoa parecem erradas, parecem estar em dissonância com outros aspectos, há um impulso para reduzi-la. Esta redução poderá ser feita de muitos modos diferentes: a pessoa pode ignorar certas coisas, pode reintegrar as observações que fez ou pode modificar outras opiniões e atitudes para que a dissonância seja diminuída.

Exemplo:

«Vamos supor que você deseja comprar um carro e então passa a ler tudo sobre os carros e a ouvir opiniões. Você não sabe qual escolher (dissonância) mas por

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injunções económicas, acaba adquirindo um Peugeot 106 de 1992. A partir de então, passa a ler e a ouvir tudo sobre o Peugeot, para convencer-se de que fez uma boa compra (redução de dissonância). Quanto maior for a atracção da alternativa rejeitada em relação à escolhida, maior será a dissonância.

A entrada num grupo é um factor associado à ocorrência ou não de dificuldade de ingresso no mesmo, e à ocorrência de dissonância cognitiva em relação à gratificação que o grupo oferece.

A implicação psicológica segundo Festinger

Festinger propõe dois postulados para apoiar a teoria da dissonância:

1º - Considera o estado de dissonância como um estado de motivação comparável ao estado descrito pelos teóricos da aprendizagem. Ele compara o estado de dissonância com o estado de fome, sede, sono; se se trata de um estado de motivação, deveria existir uma dinâmica que permitiria o impulso e mecanismos próprios para assegurar uma redução da dissonância. O estado de dissonância provoca modificações psicológicas comparáveis às observadas quando o indivíduo está animado por motivações primárias como a fome e a sede.

2º - É o postulado que suscitou mais experimentações: a importância do trabalho de redução da dissonância é proporcional à quantidade de dissonância ressentida.

Quanto maior for a importância da dissonância ressentida, mais importante será a redução da mesma. Para reduzir a dissonância ressentida, o indivíduo aplica todos os processos de que dispõe como por exemplo mudar de atitude relativamente ao objecto com o qual se encontra em dissonância.

Por exemplo, se é levado a escolher uma orientação nos seus estudos e por mais simples que tenha sido a sua decisão (situação de forte dissonância), todos os elementos negativos da sua escolha favorecem a redução da dissonância, enquanto que todos os elementos positivos da sua escolha aumentam a sua dissonância e inibem a redução da dissonância.

Mais concretamente, imagine que está indeciso na compra do seu futuro automóvel entre um Fiat e um Audi. Imaginemos agora que, após uma longa indecisão, opta pela compra de um Audi e que não está completamente satisfeito com a sua compra. Encontra-se assim num estado de dissonância relativamente à sua compra.

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O facto da Audi ser uma marca reconhecida, apreciada pela sua solidez e robustez, que lhe permite fazer muitos quilómetros e a Fiat, marca, pelo contrário, julgada pela sua falta de fiabilidade e solidez, constitui tantas cognições que participam e favorecem a redução da dissonância ressentida.

Em contrapartida, que a Audi seja uma marca cara, um pouco “avantajada”, radicalmente familiar e que um Fiat não seja, caro e bastante prático, representam cognições que alimentam a origem da sua dissonância e inibem o trabalho de redução desta.

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Bibliografia

Cabral, A., Nick, E. (1998). Dicionário Técnico de Psicologia. 10ª Edição. Brasil: Cultrix.

Cerclé, A., Somat, A. (1999). Manual de Psicologia Social. Lisboa: Instituto Piaget. Leyens, J. P. (1979). Psicologia Social. Bruxelas: Edições 70.

Reuchlin, M. (1957). Histoire de la Psychologie. Paris: Presses Universitaires de France.

Rodrigues, A. (1972). Psicologia Social. 17ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Vozes Ltda.

Vala, J., Monteiro, M. B. (2000). Psicologia Social. 4ª Edição. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

Referências

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