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O benefício da gratuidade da justiça após a reforma trabalhista promovida pela Lei nº 13.467/2017

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

RODRIGO DE PAULA LÖBLEIN

O BENEFÍCIO DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA APÓS A REFORMA TRABALHISTA PROMOVIDA PELA LEI nº 13.467/2017

Ijuí (RS) 2019

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RODRIGO DE PAULA LÖBLEIN

O BENEFÍCIO DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA APÓS A REFORMA TRABALHISTA PROMOVIDA PELA LEI nº 13.467/2017

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito, objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso – TC.

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: Ma. Nelci Lurdes Gayeski Meneguzzi

Ijuí (RS) 2019

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Dedico este estudo, bem como todas as minhas conquistas, à minha família, que nunca mediu esforços para que eu chegasse até aqui, sendo o meu suporte e apoio em todos os momentos.

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AGRADECIMENTOS

À minha orientadora, Profa. Ma. Nelci Lurdes Gayeski Meneguzzi, pelo apoio, incentivo e confiança na elaboração e desenvolvimento deste estudo, bem como pelo suporte nas suas correções, apesar do curto espaço de tempo disponível.

Aos meus pais, João Osvaldo Löblein e Lenise de Paula Löblein – responsáveis pela minha educação – sempre presentes nos momentos mais importantes da minha vida, me dando apoio e me incentivando durante os anos de faculdade, e me ensinando a seguir em frente e nunca desistir dos meus objetivos.

Aos meus irmãos, Vinícius de Paula Löblein e Juliano de Paula Löblein – exemplo de caráter, determinação e persistência na minha vida, que sempre acreditaram em mim e me incentivaram a não desistir jamais.

À minha namorada, Natascha Sinhor, pela compreensão e paciência demonstradas durante esta etapa acadêmica, e por se manter firme do meu lado, sem nunca medir esforços para me ajudar no que fosse preciso.

E, por fim, aos demais professores do curso de Direito da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí que, direta ou indiretamente, me auxiliaram ao longo dessa jornada.

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“Se, na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade que tenho para não apenas falar de minha utopia, mas participar de práticas com elas coerentes.”

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RESUMO

A assistência judiciária gratuita tem origem na evolução histórica do Ordenamento Jurídico brasileiro, sendo que por muito tempo o Estado não exercia o poder de regular o Direito. À medida que começou aplicar o Direito em diferentes tipos de litígios, porém, viu-se obrigado a criar dispositivos que regulamentassem e garantissem o direito à assistência judiciária gratuita aos necessitados a fim de que todos os cidadãos tivessem assegurado o direito de ação e defesa. É preciso, todavia, não pensar apenas no processo, mas também na atuação social do Estado. Essa garantia está diretamente ligada aos aspectos políticos, sociais e econômicos dos cidadãos, que garantem a assistência aos que comprovem insuficiência econômica. Este trabalho de conclusão de curso visa fazer uma análise do benefício da gratuidade na Justiça do Trabalho, especialmente após a reforma trabalhista promovida pela Lei nº 13.467/2017, que compreendeu que a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) já estava ultrapassada. A Reforma Trabalhista teve mudanças significativas e impactantes que visaram beneficiar empregados e empregadores. O Direito do Trabalho está direta e historicamente ligado às necessidades do homem, resolvendo diferentes tipos de conflitos entre empregados e empregadores, garantindo, assim, direitos aos trabalhadores. O estudo busca, também, fazer uma reflexão sobre a evolução histórica da gratuidade no Direito brasileiro, sua posição constitucional e legislação infraconstitucional, buscando compreender a sua importância para o Ordenamento Jurídico brasileiro. Traz, ainda, a garantia do benefício da gratuidade na Justiça do Trabalho após a Lei nº 13.467/2017, e faz uma reflexão das inconstitucionalidades das previsões trazidas pela Reforma Trabalhista, analisando o impacto dessas mudanças. Metodologicamente, o estudo tem caráter exploratório, pois enfatiza as causas e consequências relacionadas à problemática por intermédio da coleta de dados. Para tanto, utiliza o método de abordagem hipotético-dedutivo, sendo observados a essência do objeto de estudo, os procedimentos de seleção bibliográfica e a leitura do material selecionado, que permitiram uma reflexão crítica acerca do tema pesquisado e, por fim, a exposição dos resultados obtidos.

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ABSTRACT

The Legal Aid is outcome of a historical evolution of the Brazilian Legal System, which for a long time the state did not accomplish the power to regulate the law. As the State began to run the law in different types of litigation, it was eventually coerced to create provisions to regulate and guarantee the right to Free Legal Aid to those in need, which all citizens ensure the right of act and defense. It is indispensable, meantime to think about the process, but rather that the State must act in a social way. This guarantee is straight associated to the political, social and economic aspects of citizens, which assistance to those who prove economic insufficiency is assured. This present work analyzes the benefits of the gratuity of Labor Law, after the labor reform induced by Law No. 13.467 / 2017, which the Consolidation of Labor Laws - CLT, was already considered outdated by many. The Labor Reform had significant and impactful changes, where adjustments were made to benefit employees and employers. Labor law is directly and historically linked to human needs, resolving different types of conflicts between employees and employers and guaranteeing workers rights. Based on this, this paper seeks to consider on the historical evolution of gratuity in Brazilian law, its constitutional position and its infra-constitutional legislation, seeking to understand its importance to the Brazilian legal system, also bringing the guarantee to the benefit of gratuitousness, in the Labor Court after Law No. 13.467 / 2017, also reflecting the unconstitutionalities of the predictions originated by the Labor Reform, analyzing the impact that had such changes. Regarding the goals of this paper which we emphasize the causes and consequences related to the problem, through data collection. To presente this work it was used a deductive approach method which was observed bibliographic selection procedures, reading selected material, critical reflection on the researched theme and, finally, the exposition of the results obtained. Keywords: Access to Justice. Free Legal Aid. Labor Law. Labor Reform.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 8

1 A GRATUIDADE DA JUSTIÇA NO DIREITO BRASILEIRO ... 10

1.1 A inconstitucionalidade das previsões trazidas pela Reforma Trabalhista ... 11

1.2 A legislação infraconstitucional acerca da gratuidade da Justiça... 16

1.3 O Código de Processo Civil de 2015 e sua aplicação na Justiça do Trabalho ... 20

2 A GRATUIDADE NA JUSTIÇA DO TRABALHO ... 24

2.1 A gratuidade da Justiça com o advento da Lei nº 13.467/2017 ... 26

2.2 Da posição do Supremo Tribunal Federal sobre a gratuidade da Justiça do Trabalho ... 30

2.3 A posição constitucional na gratuidade da Justiça ... 35

CONCLUSÃO ... 39

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INTRODUÇÃO

O presente estudo analisa as reflexões atuais acerca da assistência judiciária gratuita e sua evolução histórica no Ordenamento Jurídico brasileiro, tema que ganhou bastante relevância com as recentes mudanças no Código de Processo Civil. Busca, também, estudar a justiça gratuita no Direito Processual Trabalhista com o advento da Lei nº 13.467/2017, fazendo reflexões analíticas e críticas, expondo suas inconstitucionalidades no Ordenamento Jurídico de forma geral.

O estudo é importante em razão de o Direito do Trabalho abranger grande parte da sociedade brasileira, constituindo-se no meio mais eficaz de resolução de conflitos no Ordenamento Jurídico, sobretudo quanto às recentes mudanças trazidas pela Lei nº 13.467/2017, que trata da Reforma Trabalhista e suas implicações na sociedade. A matéria trazida por essa lei fere aos princípios diretamente ligados ao processo trabalhista e controles constitucionais, contidos no art. 5° da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF/88), principalmente no que diz respeito à gratuidade da Justiça.

Diante disso, esta pesquisa busca problematizar e refletir sobre a aplicação do processo do trabalho após a reforma na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), bem como a aplicação da gratuidade da Justiça no Direito do Trabalho, tendo em vista que se trata de uma garantia prevista na Carta Magna. Constitui-se, assim, no mais eficaz entre os inúmeros dispositivos a assegurar o acesso à Justiça, garantindo os direitos constitucionais da pessoa humana.

Visa, também, estudar a evolução histórica do benefício da gratuidade da Justiça no Ordenamento Jurídico brasileiro, buscando entender as necessidades de

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seu surgimento e o seu papel como direito fundamental de acesso à Justiça. Ainda, conhecer a sua importância na efetividade da tutela e dos direitos, compreendendo as impactantes mudanças na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Para o desenvolvimento deste estudo utilizou-se o método da pesquisa exploratória por meio da coleta de dados, revisões bibliográficas e consultas à legislação brasileira, tanto em meios físicos como eletrônicos. Nesse sentido, considera-se o acesso à Justiça por meio da gratuidade, a fim de trazer uma abordagem geral dos resultados obtidos e os impactos da nova legislação vigente na Consolidação do Trabalho.

No primeiro capítulo é feita uma abordagem acerca da evolução histórica do acesso à Justiça no Ordenamento Jurídico brasileiro, como direito a uma tutela jurisdicional efetiva, de maneira que todo o cidadão possa buscar a reparação dos seus direitos violados. Considera-se que a assistência judiciária gratuita, elencada no art. 5º da CF/88, foi uma das formas encontradas pelo Estado para garantir o direito individual à grande parte da população, possibilitando, com o advento da Lei nº 13.467/2017, uma análise laboral da legislação.

O segundo capítulo analisa o benefício da gratuidade da Justiça com o advento da Lei nº 13.467/2017, e suas inconstitucionalidades por observar que são incompatíveis com os princípios constitucionais e trabalhistas previstos pela Lei Maior, levando em consideração a necessidade de readequar a nova legislação à realidade política, social e econômica dos cidadãos brasileiros. Por fim, o estudo mostra como ficou o diálogo do cidadão com a Justiça do Trabalho.

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1 A GRATUIDADE DA JUSTIÇA NO DIREITO BRASILEIRO

A gratuidade da Justiça sempre esteve presente no Ordenamento Jurídico brasileiro, mas foi efetivamente elencada a partir da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF/88) e da evolução histórica da justiça brasileira. Inicialmente, o meio de resolver os conflitos era baseado na autotutela, em que as partes eram responsáveis por exercer o Direito, sendo o Estado obrigado a intervir nos conflitos dos cidadãos, regulando e aplicando o Direito.

Qualquer governo democrático tem o desafio de garantir o acesso da população à Justiça, com o Estado regulando e aplicando o Direito. Nesse sentido, surgiram vários dispositivos para garantir o acesso à Justiça, mas a maneira mais eficaz de garantir esse direito ao cidadão foi o benefício da gratuidade, que beneficiou até a parcela mais pobre da população.

A CF/88 regulamenta em seu art. 5º, inc. LXXIV, o dever do Estado de prestar assistência judicial gratuita àqueles considerados hipossuficientes, com carência de recursos para custear o seu processo sem prejudicar o provento de sua família. Nesse contexto, afirma Ricardo Rodrigues Gama (2002, p. 228) que, ao instituir a justiça gratuita ou gratuidade judiciária,

[...] a Constituição Federal o fez de forma genérica, mas a Lei nº 1.060/50 tratou de atribuir os contornos necessários à maneira de exercitar tal direito, precisando os benefícios para que se desse a efetiva assistência judiciária. Em conformidade com o art. 3º da referida lei, a assistência judiciária compreende as seguintes isenções: I) de taxas judiciárias e selos; II) dos emolumentos e custas devidos aos juízes, órgãos do Ministério Público e serventuários da justiça; III) das despesas com publicações indispensáveis no jornal encarregado da divulgação dos atos oficiais; IV) das indenizações devidas às testemunhas que, quando empregadas, receberão do empregador salário integral, como se em serviço estivessem, ressalvado o direito regressivo contra o Poder Público federal, no Distrito Federal e nos Territórios, ou contra o Poder Público estadual, nos Estados; V) dos honorários de advogado e peritos.

Diante disso, é possível verificar que o Estado, além de controlar a aplicação das leis, deve garantir a Assistência Judiciária gratuita para garantir que todo cidadão que não tenha condições financeiras, tenha acesso ao Poder Judiciário, e possa

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garantir o seu direito de ação e defesa. Vale ressaltar que para ter acesso à Assistência Judiciária gratuita deve comprovar que não possui condições financeiras para arcar com tais custos, o que deve ser realizado por meio de declaração anexa aos autos.

Não é de hoje que é dever do Estado prover o acesso da população à Justiça. Sua evolução histórica ocorreu a partir das mudanças sociais que foram acontecendo no país, passando a fazer parte dos deveres do Estado.

Ao longo da evolução do ser humano constata-se que nem todos conseguem conviver pacificamente em sociedade, vindo a gerar conflitos. O Estado, então, tem a responsabilidade de garantir que o Direito seja aplicado em conformidade com Ordenamento Jurídico. Dessa maneira, o acesso à gratuidade se tornou o meio mais eficaz para garantir que todo cidadão hipossuficiente possa pleitear os seus direitos junto à Justiça.

1.1 A inconstitucionalidade das previsões trazidas pela reforma trabalhista

O aporte de novas legislações ao Ordenamento Jurídico normalmente traz esperança de melhora à situação dos direitos e garantias da população, o que não é o caso da reforma perpetrada. Em razão disso, críticas de argumentações defensivas foram tecidas nos flancos das mudanças, considerando, sobretudo, que as alterações efetuadas consideraram, em suma, as dificuldades enfrentadas pelos empregadores, inobstante o fato de o protagonismo na tentativa de alavancar igualdades às partes ter sido olvidado ou até mesmo ignorado.

Não é à toa que se flagra a sua inconstitucionalidade, uma vez que as mudanças ocorridas possuem ligação intrínseca com vetores constitucionais protegidos por corresponderem ao núcleo rígido da Carta Magna, denominados “cláusulas pétreas”, cujas alterações necessitam, imprescindivelmente, da derrocada da Constituição vigente para criação de uma nova, sendo, portanto, intangíveis e imutáveis. Giza-se, por conseguinte, o tamanho cuidado dos constituintes originários, visto que as previsões lá instituídas translucidam a égide protecionista de um estado democrático de Direito.

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Nesse liame, o princípio constitucional afetado negativamente com maior gravidade não poderia ser outro senão o pleno e efetivo acesso à Justiça. Por esse viés, conceitua o doutrinador Mauri Vasni Paroski (2008, p. 138):

O acesso à justiça é um direito fundamental inerente a todos os indivíduos, cujo exercício e importância podem ser constatados não só nos dias atuais, mas também durante todo um processo histórico verificado e reconhecido em declarações de direitos humanos de cunho internacional e na evolução dos diplomas políticos no que tange ao direito interno. Desta feita, é transferida para o Estado, por meio do Poder Judiciário, a tarefa de dirimir conflitos sociais, entre todos os jurisdicionados, mediante uma prestação jurisdicional que seja capaz de proporcionar a pacificação conjunta de todos os indivíduos que exercem o direito de acesso à justiça como instrumento ou mecanismo hábil a assegurar o arcabouço legislativo garantidor de direitos que se encontram violados, na iminência ou ameaça de o serem.

Todas as conceituações contemporâneas no que tange ao acesso à plena Justiça possuem facetas complexas e correntes doutrinárias diversificadas, especialmente se se ponderar o fato de que partem das compreensões antigas acerca desse princípio. Assim, são primordialmente pautadas em seu aspecto estritamente formal, qual seja, o ajuizamento de uma ação cujo petitório é apreciado pelo Estado, por intermédio de sua jurisdição.

Destarte, é válido destacar que embora seja de grande importância às partes poderem ingressar com a ação sem qualquer ônus econômico, a manutenção desse beneplácito durante o deslinde do feito é medida igualmente imperiosa, tendo em vista que se os litigantes necessitaram de isenção para começar, isso pode redundar e concretizar a sua imprescindibilidade, enquanto a demanda transcorre até o fim.

A partir dessa concepção histórica jurisdicional, esclarecem Mauro Cappelletti e Bryant Garth (1988, p. 8) que:

A expressão “acesso à Justiça” é reconhecidamente de difícil definição, mas serve para determinar duas finalidades básicas do sistema jurídico – o sistema pelo qual as pessoas podem reivindicar seus direitos e/ou resolver seus litígios sob os auspícios do Estado. Primeiro, o sistema deve ser igualmente acessível a todos; segundo, ele deve produzir resultados que sejam individual e socialmente justos. Sopesar a situação de que o reclamante hipossuficiente deverá, antes de postular em juízo, analisar se uma sentença parcialmente procedente não arruinará

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boa parte de seu crédito trabalhista é, em outras palavras, uma forma de barrar o ingresso de ações e um empecilho ao acesso à Justiça.

Ademais, mesmo que as justificativas para as mudanças não sejam totalmente desprezíveis, a extirpação de alguns aventureiros que abusavam da Justiça do Trabalho – com ações que em seu bojo carregavam pedidos temerários – não deveria representar uma necessidade de alterar a regra geral, mas atingir uma exceção de litigantes em situação de evidente deslealdade processual.

No entendimento de Maria Tereza Aina Sadek (2014, p. 57), a aspiração de premência de acesso à justiça livre de ônus absurdamente pesados aos hipossuficientes na esfera econômica determina que,

Acesso à justiça é um direito primordial. Sem ele nenhum dos demais direitos se realiza [...]. Esse mandamento constitucional implica a possibilidade de que todos, sem distinção, possam recorrer à justiça, e tem como consequência atuar no sentido de construir uma sociedade mais igualitária e republicana.

Outro aspecto a ser exaltado na análise desse princípio maculado pela reforma é justamente o fato de que a acessibilidade formal à Justiça é um compêndio de vários outros princípios adjacentes. Juntos, possuem o salutar escopo de conceder às partes que se submeteram (voluntária ou imperativamente) à resposta jurisdicional a concretização do direito material em pauta por meio da decisão efetiva do que foi postulado ou defendido pelo pronunciamento judicial.

Com base em informações que clareiam essas acepções, Sadek (2014, p. 57) destaca:

A efetiva realização dos direitos não é, contudo, uma decorrência imediata da inclusão do direito de acesso à justiça na Constituição e em textos legais [...] o direito de acesso à justiça só se efetiva quando a porta de entrada permite que se vislumbre e se alcance a porta de saída em um período de tempo razoável.

Desse modo, não basta que o reclamante tenha acesso liberado às portas da jurisdição, mas é necessário muito mais. É inconcebível que durante o trâmite de sua ação, intentado a reaver a justiça pelos fatos incorridos, o empregado já lesado pela

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ruptura de seu vínculo empregatício (especialmente, a cessação de sua remuneração), ainda tenha que saldar com seu crédito trabalhista (mesmo que formalmente não seja alimentar) as despesas processuais totalmente desproporcionais e suportáveis pelo Estado ou pela parte sucumbente que possui condições para tanto.

Dulce Chaves Pandolfi (1999, p. 54) assim se manifesta com relação à plena garantia de alcance uniforme da disponibilização de resposta estatal frente às necessidades jurídicas:

Além da dificuldade de expressar seus direitos, a precariedade da nossa cidadania parece transformar os direitos em um bem escasso, em algo que só pode ser alcançado mediante determinadas condições. Podem, inclusive, tornar-se objeto de disputa entre pessoas consideradas merecedoras e não merecedoras dos direitos. É como se os benefícios recebidos pelos não merecedores representassem uma privação ou um ônus para os demais membros da comunidade.

Nessa seara, é válido rememorar que a legislação obreira foi criada justamente com o objetivo de equilibrar as relações empregatícias, ao passo que o empregado é subordinado ao empregador e, invariavelmente, possui condições financeiras restritas em comparação a seu contratante.

Em consonância, tem-se como referência a legislação consumerista que, em atenção à necessidade de equilibrar a relação entre fornecedor ou prestador e o consumidor finalístico, subverteu o desequilíbrio por meio de uma proteção acurada destinada ao polo mais deficitário, provendo igualdade não mais meramente formal, e sim fática-material, tal como vislumbravam os dispositivos da legislação laboral.

Ressalta-se, por oportuno, que o princípio da proteção (amplamente prejudicado de maneira, inclusive, inconstitucional, pela reforma) deve circundar todas as formalidades das relações contratuais entre o empregador e o empregado, em razão das invariáveis condições de desequilíbrio. Isso fica mais claro na medida em que se entende o empregador como o detentor de poderes sob os quais tem o direito de subordinar o seu empregado.

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O empregado é sujeito passivo nessa relação laboral, o que significa que a sua vontade está condicionada e subordinada às ordens de seu empregador, especialmente às suas sanções disciplinares. Tal situação evidencia que a relação entre ambos é totalmente desigual, o que justifica a tentativa de equilibrá-la por meio de uma legislação focada justamente nessa problemática (que agora carece de inconstitucionalidade face às mudanças supervenientes).

Destaca-se, outrossim, que a subordinação é um elemento característico de uma relação empregatícia. Essa situação também ocorre nos casos em que a formalidade suprime a realidade, ensejando prejuízos ao trabalhador que necessita de ampla assistência do judiciário para reaver o que é seu por direito (normalmente sonegado pelo patrão por prevalecimento e abuso ante ao fato de que o empregado, na maioria das vezes, desconhece os seus direitos a serem recebidos) sem qualquer ônus ao seu patrimônio já lesado pelas atitudes do empregador.

Nesse feitio, é inadmissível que perdure a inconstitucionalidade, embasada na sujeição de encargos pecuniários altíssimos ao empregado que recorre à Justiça laboral na esperança de reaver o que lhe foi negado. Isso se deve à reforma trabalhista perpetrada em benefício dos empregadores, em evidente detrimento das prerrogativas substanciais dos sujeitos mais fracos da relação, quais sejam, os subordinados empregados.

Nesse contexto, ressalta Luiz de Pinho Pedreira da Silva (1999, pp. 22-24): A proteção do trabalhador deve, portanto, se desenvolver também a esse nível: todas as precauções devem ser adotadas para que a subordinação do trabalhador fique limitada à prestação do trabalho e para que, mesmo na execução deste, o respeito à pessoa e às suas liberdades inalienáveis prevaleça.

Em resumo, o que se depreende de toda essa problemática é o que mais evidencia a inconstitucionalidade: o descaso com os sujeitos de menor poderio econômico e a exaltação das potências detentoras de capital elevado. Soma-se a isso o panorama do Poder Legislativo que, em representação do interesse do povo, se volta contra seus próprios eleitores e alavanca com suas ratificações, um quadro de

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degradação da classe econômica – embora mais frágil –, sem dúvidas, mais importante do país.

1.2 A legislação infraconstitucional acerca da gratuidade da Justiça

De todos os direitos determinados pela Carta Magna vigente na República brasileira, consolidados no bojo de seu texto constitucional, especialmente no seu art. 5º, destaca-se o acesso ao terceiro poder do ente federado, qual seja, a jurisdição executada pelo Poder Judiciário, que possui previsão expressa de aplicação geral e inescusável. Conforme o cerne propriamente dito de um Estado Democrático de Direito, é imprescindível que haja a prestação jurisdicional desincumbida de qualquer ônus econômico aos hipossuficientes, por ser dever do Estado auxiliá-los e isentá-los de tais despesas.

Esse é, sem dúvidas, o marco inicial do princípio do acesso à Justiça, que se define pela possibilidade de ingresso e submissão à jurisdição sem que as elevadas custas processuais dificultem, ou até mesmo obstem tal acesso, desde a propositura até o seu deslinde, com a sentença e o cumprimento efetivo desse pronunciamento judicial à égide do art. 5º da CF/88.

Nesse sentido, Luana Angélica dos Santos (2016, p. 10) alude que:

Outro fator importante que obstrui o acesso à Justiça dos necessitados é o grande decurso de tempo de uma demanda judicial. Assim, torna-se claro que os altos custos, na medida em que uma ou ambas as partes devam suportá-los, constituem uma importante barreira ao Acesso à Justiça.

Em decorrência disso, surge a Justiça Gratuita aos Necessitados instituída pela Lei nº 1.060, de 05 de fevereiro de 1950, que foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988. Por meio dessa lei são estabelecidas normas para a concessão deste benefício, seja pelos poderes públicos federais ou estaduais, como dispõe o art. 1º da referida lei.

Por esse viés, e para que haja a compreensão acerca das nomenclaturas empregadas pelas legislações infraconstitucionais, o mesmo autor observa que:

Importante destacar a distinção entre Assistência Judiciária e Justiça Gratuita. Ambas as expressões fazem parte da Assistência Jurídica, sendo a primeira, a gratuidade no serviço de um advogado para a causa, oferecido ou não pelo Poder Público. Já a segunda expressão

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se refere à gratuidade das custas processuais concedida pelo Poder Público. (SANTOS, 2016, p. 11).

A Lei nº 1.060/50, todavia, ao fazer menção à assistência judiciária, em verdade dispunha acerca da Justiça gratuita, tendo em vista que estipulava as regras para a concessão da isenção de pagamento das despesas oriundas do procedimento jurisdicional pela movimentação da máquina judiciária.

Em contrapartida, a Lei nº 13.105/15, que reformulou todo o panorama processual pátrio com a reforma do Código de Processo Civil, também revogou de maneira expressa alguns pontos da lei anteriormente mencionada, ponderando sobre o conceito e a aplicação da gratuidade da Justiça.

No que tange à definição do benefício, em sede infraconstitucional, o Código Processualista em vigor assegura o termo “Gratuidade da Justiça”, erradicando antiga definição aportada pela legislação revogada (Lei nº 1.060/50). Ainda, a legislação derrogada aferia em seu art. 2º, que o hipossuficiente econômico era aquele que, sem prejuízo de seu próprio sustento ou de sua família, não poderia arcar com as custas processuais e honorários advocatícios.

No que concerne à legitimidade para requerer essa isenção, outrossim, o Código Processual em vigor estabeleceu, em seu art. 98, que todas as pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou estrangeiras, que não possuem condições de arcar com as despesas processuais, podem requerer ao juízo o deferimento do beneplácito, e ter por suspensa a exigibilidade de pagamento.

Nesse sentido, Santos (2016, pp. 11-12) manifesta o seu entendimento:

Dispõe, ainda, o Código de Processo Civil, no § 1º do art. 98, as isenções que a Gratuidade da Justiça compreende, destacando-se: taxas ou custas judiciais, consistente no primeiro obstáculo a ser vencido para o Acesso à Justiça, como citado anteriormente; honorários de advogado, peritos e intérprete ou tradutor nomeado para apresentar a tradução em português de documentos redigidos em língua estrangeira e necessários à resolução da lide, isenção importante uma vez que a capacidade postulatória para o ingresso ao Judiciário é exclusiva de advogado; depósitos previstos pela legislação para ajuizamento de recurso, ajuizamento de ação e para a prática de demais atos processuais essenciais ao exercício da ampla defesa e do contraditório, entre outras.

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Anterior à mudança provinda do advento do novo Código de Processo Civil, para que a parte fosse digna de ter deferido o benefício da gratuidade, era necessário apenas que assinasse uma declaração de hipossuficiência, garantindo automaticamente a impossibilidade de arcar com as custas e honorários advocatícios. Ademais, acusava ciência das penas da lei acaso a declaração fosse inverídica, à luz do art. 4º da Lei nº 1.060/50.

A legislação derrogada (ou seja, parcialmente suprimida) pelo aconchego do novo Código Processualista, a partir da perpetração ao Ordenamento Jurídico, já denotava a sua incompatibilidade, considerando, especialmente, o fato de que, agora, a mera declaração já não é prova suficiente do estado de hipossuficiência. Para o deferimento, portanto, passou a ser necessária a instrução do feito com mais provas acerca da renda percebida pela parte requerente.

Depreende-se do exposto que gratuidade de litigância por meio da jurisdição é uma forma que enseja permissibilidade aos cidadãos com pouco poderio econômico, abrindo-lhes as portas de acesso ao judiciário sem qualquer custo ou ônus elevado que obste, ou até mesmo subverta negativamente o pleito por ultrapassar os créditos de uma sentença favorável.

Nesse liame, intrinsicamente ligado à legislação constitucional e infraconstitucional, pondera Santos (2016, pp. 12-13):

O acesso ao judiciário se torna restrito a apenas uma parcela da população por diversos fatores, sejam eles de ordem econômica, financeira, social, cultural ou falta de conhecimento. Cada um desses fatores é suficiente para afastar do Poder Judiciário a apreciação de lesão ou ameaça de lesão ao direito. Em razão de tal situação, o instituto da Gratuidade da Justiça se apresenta como forma de proporcionar a efetivação do princípio da isonomia previsto no art. 5°, caput, da Constituição Federal, assegurando a todos a igualdade perante a lei, sem distinção de qualquer natureza.

Compreende-se que a gratuidade da Justiça se perpetua enquanto diapasão hábil e basilar no que tange à necessidade de se buscar jurisdição de maneira efetiva e menos onerosa, por ser, em suma, a reação do Estado frente às ameaças e ou lesões a direitos protegidos pelo próprio ente público.

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Muito embora a lei sub-rogada (Lei nº 1.050/60) exigisse tão somente a declaração de hipossuficiência econômica enquanto prova da carência, alguns juízos, pelas acepções pós-positivistas, consubstanciadas no ativismo judicial, exigiam outras provas capazes de comprovar a situação de modo mais acurado, o que acabou se tornando a regra com a evolução legislativa do instituto.

Nessa perspectiva, é salutar frisar a importância e o escopo desse beneplácito que possibilita às partes desprovidas de poderio econômico, o livre acesso ao Poder Judiciário e a obtenção de uma solução plausível para as suas contendas factuais. Assim, conforme já debatido, tal preceito decorre do princípio constitucional de acesso à Justiça, que é o meio pelo qual o Estado garante, pela força de sua jurisdição, a justiça para as partes.

Em contraponto, caso não houvesse essa isenção aos necessitados, muitos deixariam de recorrer ao mecanismo e, por conseguinte, jamais teriam uma solução para o seu impasse, por mais que o Direito lhes assistisse total razão. Se, portanto, não houvesse a suspensão de sua exigibilidade, certamente tais custas acarretariam imbróglios no acesso à jurisdição.

No tocante à gratuidade da Justiça provinda da legislação obreira, destacam Diogo Esteves e Franklyn Roger Alves Silva (2018, p. 01) a despeito das mudanças advindas da alteração da CLT:

A reforma trabalhista assumiu o encargo de dar alguns novos passos rumo à modernização do instituto da gratuidade de Justiça. Nem é preciso dizer que a nova disciplina prevista nos artigos 98 a 101 do CPC é aplicável aos processos do trabalho, já que o artigo 15 do próprio código é expresso ao mencionar a sua aplicação de forma supletiva e subsidiária aos processos trabalhistas.

Os autores ressaltam ainda que antes mesmo da reforma, a CLT já abordava questões relativas à Justiça gratuita enquanto legislação infraconstitucional:

Note-se que a Consolidação das Leis do Trabalho possuía algumas esparsas menções à gratuidade de Justiça e foram elas alvo do legislador reformador. Deixando de lado o fato de que a reforma

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trabalhista trouxe impactos fortemente negativos nos direitos conquistados pelos trabalhadores, é importante destacar que a Lei 13.467, de 13 de julho de 2017, modernizou diversos aspectos processuais na CLT, suprindo várias omissões, a exemplo dos honorários de sucumbência e da forma de contagem de prazos processuais. (ESTEVES; SILVA, 2018, p. 01).

A CLT, mesmo sendo uma legislação complementar de regulação expressa da Justiça do Trabalho como um todo, utiliza o Código de Processo Civil para preencher as lacunas de sua formação que, inobstante a sua complexa formação, deixou espaços para dúvidas e alguns institutos faltantes.

Segundo essa construção legislativa, denota-se que, conforme a sociedade avança e, consequentemente, o mundo dos fatos, a rápida defasagem das disposições legais fazem com que, periodicamente, os legisladores necessitem desempenhar seus papéis e adequá-los às alterações positivas ao procedimento obreiro processual.

É utópico admitir que a legislação esteja à frente do mundo dos fatos, o que é praticamente impossível. Apesar disso, e com o trabalho ágil dos mandatários políticos, é possível que as alterações acompanhem, mesmo que com algum atraso compreensível, as necessidades provenientes da complexidade e modificações das relações subjetivas escorreitas dos fatos cotidianos.

Por fim, compreende-se, nesse sentido, a importância de o Estado alavancar a legislação com preceitos e institutos que realmente auxiliem os seus cidadãos a obterem uma melhora na sua prestação jurisdicional. Assim, com o acesso à Justiça e uma efetiva assistência estatal, é possível que as partes, a partir do pronunciamento judicial esperado, alcancem a tão esperada Justiça.

1.3 O Código de Processo Civil de 2015 e sua aplicação na Justiça do Trabalho

O Novo Código de Processo Civil, Lei nº 13.105/2015, resultante de estudo que visou modernizar o diploma civilista brasileiro, entrou em vigor em 18/03/2016 com diversas alterações legais e principiológicas em relação ao Código anterior.

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Em relação a essas mudanças, os princípios trazidos pelo novo Código de Processo Civil despertaram interesse e apreensão dos profissionais que atuam na Justiça do Trabalho, uma vez que a CLT é uma norma antiga e repleta de lacunas.

Mauro Schiavi (2015, p. 1) se manifesta a esse respeito, afirmando que:

Os regramentos trazidos pelo Novo Código de Processo Civil de 2015 elucidam as obscuridades ainda existentes em relação ao tema, e promovem mais amplamente o acesso à Justiça, passando a ser, hodiernamente, a principal norma regulamentadora da Assistência Judiciária gratuita, uma vez que propõe a revogação dos artigos previstos na Lei nº 1.060/50.

Assim, por meio no Novo Código de Processo Civil, a Assistência Judiciária gratuita passa a receber um tópico especial e disposições específicas quanto à aplicação do benefício em casos concretos, avaliando a admissibilidade e a funcionalidade em face das diversas custas processuais. Nesse sentido, é o entendimento de Carlos Roberto Gonçalves (2015, p. 77):

A chegada do Novo Código de Processo Civil provoca, mesmo de forma inconsciente, um desconforto nos aplicadores do Processo Trabalhista, uma vez que há muitos impactos da nova legislação nos sítios do processo do trabalho, o que exigirá um esforço intenso da doutrina e jurisprudência para revisitar todos os institutos do processo do trabalho e analisar a compatibilidade, ou não, das novas regras processuais civis.

Assim, com a chegada do Novo CPC surgiu a dúvida a respeito das regras que poderiam ser aplicadas no processo trabalhista e quais seriam os seus fundamentos. A fim de definir a aplicação subsidiária do Novo Código de Processo Civil ao Processo do Trabalho, o legislador previu expressamente essa aplicação supletiva no seu art. 15, o qual dispõe: “Art. 15. Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente.”

Diante dessa regra, os operadores do Direito passaram a questionar a harmonização desse dispositivo com as disposições do art. 769 da CLT, que prevê: “Nos casos omissos, o direito processual comum será fonte subsidiária do direito processual do trabalho, exceto naquilo em que for incompatível com as normas deste título.”

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De acordo com o referido dispositivo em processo comum, somente podem ser aplicadas as regras do CPC ao processo do trabalho se houver compatibilidade entre as normas. Em razão disso, para que seja possível a aplicação subsidiária é preciso que a norma do CPC seja compatível com as regras e princípios que regem o Processo do Trabalho, de modo que os arts. 15 do CPC e 769 da CLT sejam aplicados de forma harmônica.

Nesse mesmo sentido, destaca-se o entendimento de Schiavi (2015, p. 2):

Desse modo, conjugando-se o artigo 15 do CPC com os artigos 769 e 899, da CLT, temos que o CPC se aplica ao processo do trabalho da seguinte forma: supletiva e subsidiariamente, nas omissões da legislação processual trabalhista, desde que compatível com os princípios e singularidades do processo trabalhista.

Haverá, assim, a aplicação do CPC ao Processo do Trabalho quando esse não tratar total ou parcialmente de algum tema ou instituto jurídico e se houver a compatibilidade entre a norma do CPC e os princípios e regras do Direito Processual do Trabalho.

O Novo CPC trouxe, em boa hora, um novo regramento para a justiça gratuita, renovando o modelo até então disciplinado pela Lei 1.060/50, deixando o sistema condizente com as lições doutrinárias mais abalizadas e em sintonia com a jurisprudência majoritária sobre o assunto. O certo é que, com o advento do Novo CPC, evidentemente a benesse da justiça gratuita estará regrada de forma bem mais lógica, apresentando maior segurança aos usuários dos serviços judiciais e extrajudiciais abrangidos por sua aplicação.

Observa-se que o Novo Código de Processo Civil passa a ser fonte reguladora do benefício da gratuidade da Justiça, o que faz com que seja aplicada subsidiariamente em outras áreas do Direito, como é o caso da Justiça do Trabalho.

O processo trabalhista, em um período pré-Reforma, seguia as mesmas disposições do Processo Civil, sendo que a Lei nº 1.060/50 era a principal reguladora da concessão da assistência judiciária trabalhista. Assim, com o advento da legislação processual civilista, passou-se, subsidiariamente, a aplicar as disposições desse diploma.

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A abrangência da aplicação da Assistência Judiciária gratuita sofreu alterações com o Novo Código de Processo Civil, de forma que o art. 98, § 1º, passou, exemplificativamente, a elencar as despesas processuais que seriam abrangidas pelas novas regras. Importante frisar que, muito além das taxas e custas processuais, tal benefício é aplicável, inclusive, às despesas de postagem, de imprensa, de indenização a testemunhas, perícias, honorários advocatícios e periciais, e assim por diante.

Além de ser a fonte reguladora da Assistência Judiciária gratuita, o Novo Código de Processo Civil passou a representar os encargos do Estado com o beneficiário, bem como a sua forma de aplicação diante dos diversos atos processuais e dos meios probatórios admitidos pelo Direito.

No que concerne à Assistência Judiciária gratuita, à luz da legislação processual civil, Luiz Dellore e Fernanda Tartuce (2014, p. 309) explanam:

A grande inovação do Projeto de novo CPC em relação à temática está na criação de toda uma Seção (de n. IV) destinada à gratuidade. Apesar disso, o artigo que inaugura a seção traz a menção “nos termos da lei”; como o projeto propõe a revogação de diversos dispositivos da Lei 1.060/1950, a regulamentação será basicamente a prevista no próprio Código – sem prejuízo de uma futura lei a ser futuramente editada.

Importante mencionar ainda que, além das inovações trazidas pelo NCPC, o processo trabalhista já adotava as regras consagradas na Lei nº 5.584, de 26 de junho de 1970, acerca da responsabilidade sindical na Assistência Judiciária.

Nessa senda, a referida Lei nº 5.584/70 atribuía aos sindicatos a obrigação de prestar assistência aos empregados hipossuficientes de sua categoria, desde que se enquadrassem nos requisitos básicos para a concessão do benefício, em especial aqueles atinentes aos rendimentos líquidos, os quais não poderiam ultrapassar o patamar de dois salários mínimos.

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2 A GRATUIDADE NA JUSTIÇA DO TRABALHO

Inicialmente, é preciso referir que há diferenças teóricas e processuais entre a Assistência Judiciária gratuita e o benefício da Justiça gratuita. Assim, em razão do objetivo deste estudo, é preciso fazer uma breve diferenciação entre tais institutos.

A Assistência Judiciária gratuita, regulada pela Lei nº 5.584/70, é o direito do cidadão, parte do processo, de ter um advogado disponibilizado gratuitamente pelo Estado, bem como a isenção de todas as taxas e despesas processuais.

Já o benefício da Justiça gratuita é o direito à gratuidade das referidas taxas judiciárias e despesas processuais, como honorários do perito, previstas no art. 790, § 3º da CLT, o que garante aos seus beneficiários a isenção do pagamento das custas processuais. Tal benefício, em razão da sua natureza, decorre do princípio constitucional do acesso à Justiça, insculpido no art. 5º, incs. LXXIV e XXXV, da CF/88.

Os mencionados dispositivos referem que o Estado prestará assistência jurídica àqueles que comprovem insuficiência de recursos e que a lei não afastará do Poder Judiciário o julgamento à lesão ou ameaça a Direito.

Sobre este aspecto, Alexandre de Moraes (2003, p. 836) faz a seguinte observação:

Importante, igualmente, salientar que o Poder Judiciário, desde que haja plausibilidade da ameaça ao direito, é obrigado a efetivar o pedido de prestação judicial requerido pela parte de forma regular, pois a indeclinabilidade da prestação judicial é princípio básico que rege a jurisdição, uma vez que toda violação de um direito responde uma ação correlativa, independentemente de lei especial que a outorgue.

Isso significa que não há como afastar ou excluir da apreciação do Judiciário qualquer lesão ou ameaça de Direito, de modo que a gratuidade da Justiça não pode ser óbice de acesso à Justiça contra a parte que a pleiteia. Este aspecto será aprofundado no terceiro capítulo deste estudo.

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Importante referir que o benefício da Justiça gratuita era regulado pela Lei nº 1.060/50. O novo Código de Processo Civil, no entanto, em seu art. 1.072, inc. III, revogou essa lei, de modo que o próprio CPC passou a tratar desse instituto de aplicação subsidiária na Justiça do Trabalho.

Conforme já referido, o benefício da Justiça gratuita é tratado no art. 790, § 3º da CLT. Anterior à Lei nº 13.467/2017, porém, o mencionado dispositivo continha a seguinte redação:

É facultado aos juízes, órgãos julgadores e presidentes dos tribunais do trabalho de qualquer instância conceder, a requerimento ou de ofício, o benefício da justiça gratuita, inclusive quanto aos translados e instrumentos, àqueles que perceberem salário igual ou inferior ao dobro do mínimo legal, ou declararem, sob as penas de lei, que não estão em condições de pagar as custas do processo sem prejuízo do seu sustento próprio ou de sua família.

Conforme se observa, para que a parte tivesse direito ao benefício em questão, bastava que percebesse salário igual ou inferior ao dobro do mínimo legal, ou declarasse, sob as penas da lei, que não tinha condições de pagar as custas do processo sem causar prejuízo ao seu sustento ou de sua família.

Assim, nenhum outro requisito era necessário e a mera declaração de pobreza era suficiente para a configuração do direito a este benefício. O referido artigo não fazia menção, inclusive, à necessidade de a parte estar assistida por sindicato para ser concedida a isenção do pagamento de custas. Logo, não havia sequer necessidade de o empregado estar sindicalizado para ser beneficiário da isenção de custas.

Sob o prisma civilista, em relação a esse aspecto, o art. 98 do CPC, em seu caput, expressa que:

A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios têm direito à gratuidade da justiça, na forma da lei.

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Cumpre salientar, ainda, que o CPC, no referido art. 98 e seguintes, define a gratuidade da Justiça como sendo a dispensa dos pagamentos de taxas, custas e outras despesas processuais, bem como do pagamento de honorários advocatícios e periciais.

É importante destacar que a afirmação de insuficiência de recursos da pessoa natural goza de presunção de veracidade, como consta no art. 99, parágrafo 3º do CPC:

Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural; ao qual o magistrado deve somente exigir comprovação do alegado somente quando perceber indício razoável de que o pleito é temerário.

De acordo com o novo CPC, portanto, basta a afirmação da parte requerente quanto à insuficiência de recursos para que seja considerada verdadeira a alegação e deferido o benefício, no mesmo sentido da regra celetista supramencionada.

Nessa linha, a Súmula 463, art. I, do TST, expressa, in verbis:

SÚMULA Nº 463 - ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. COMPROVAÇÃO (conversão da Orientação Jurisprudencial nº 304 da SBDI - 1, com alterações decorrentes do CPC de 2015) - Res. 219/2017, DEJT divulgado em 28, 29 e 30.06.2017. I – A partir de 26.06.2017, para a concessão da assistência judiciária gratuita à pessoa natural, basta a declaração de hipossuficiência econômica firmada pela parte ou por seu advogado, desde que munido de procuração com poderes específicos para esse fim (art. 105 do CPC de 2015).

Com advento do novo diploma civilista, o benefício da Justiça gratuita foi regrado de forma clara, com utilização complementar quanto às regras já trazidas pelo art. 790, § 3º da CLT. Houve, porém, mudanças drásticas e significativas na CLT, introduzidas pela Lei nº 13.467/2017, as quais são analisadas a seguir.

2.1 A gratuidade da Justiça com o advento da Lei nº 13.467/2017

A reforma trabalhista aconteceu por intermédio da Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017, que modificou vários dispositivos da CLT, trazendo grande mudança no que diz respeito à gratuidade da Justiça.

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O objetivo da reforma, segundo o governo da época, foi modernizar e reformular as relações de emprego regulamentadas pela Consolidação das Leis do Trabalho, combater o desemprego e a crise econômica no país. Assumiu, assim, o encargo de dar novos contornos ao instituto da gratuidade de Justiça, inclusive sob o fundamento de evitar o abuso do direito de litigar.

No que se refere ao benefício da Justiça gratuita, a Lei nº 13.467/17 alterou profundamente o art. 790 da CLT, o qual já tratava desse instituto, tanto em relação às hipóteses de sua concessão, como na sua extensão e alcance.

A primeira mudança no art. 790 da CLT ocorreu em seu parágrafo 3º, que passou a ter a seguinte redação:

É facultado aos juízes, órgãos julgadores e presidentes dos tribunais do trabalho de qualquer instância conceder, a requerimento ou de ofício, o benefício da justiça gratuita, inclusive quanto a traslados e instrumentos, àqueles que perceberem salário igual ou inferior a 40% (quarenta por cento) do limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social.

Essa alteração diz respeito ao critério material da capacidade econômica da parte que pleiteia a concessão do benefício, sendo concedido àqueles que percebam salário igual ou inferior a 40% (quarenta por cento) do limite máximo dos benefícios do Regime Geral da Previdência. Atualmente, esse teto corresponde a R$ 2.335,78 (dois mil, trezentos e trinta e cinco reais e setenta e oito centavos).

Com essa alteração no parágrafo 3º, o legislador restringiu o acesso ao pedido do benefício da Justiça gratuita com base no critério financeiro, de modo a presumir que quem recebe salário superior a 40% (quarenta por cento) do limite máximo dos benefícios do Regime Geral da Previdência tem condições de arcar com os custos da demanda judicial, sem prejuízo do seu sustento e de sua família.

A esse respeito, nos próximos itens será feita uma abordagem sobre a sua constitucionalidade e de outros pontos da referida reforma trabalhista.

Ainda sobre este parágrafo 3º, Homero Batista Mateus da Silva (2017, p. 95) faz algumas observações:

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No entanto, a reforma deixou escapar entre os dedos a grande oportunidade de definir se a justiça gratuita (a) leva em consideração o salário presente ou o salário à época do contrato de trabalho questionado e (b) deve analisar o patrimônio imobilizado do requerente. São assuntos controvertidos bastante conhecidos dos órgãos julgadores. Uma pessoa pode ter salário de 10.000 reais à época do contrato e estar desempregada à época do processo – aliás, o cenário mais provável, dado que a Justiça do Trabalho é a Justiça dos Desempregados – de modo que o julgador deveria se abster de confrontar o pedido com um salário que não existe mais. Ao revés, uma pessoa podia ganhar 2.000 reais à época do contrato e atualmente se encontrar recolocado em outra empresa com salário, digamos, de 6.000 reais.

Ainda quanto ao parágrafo 3º supratranscrito, é possível reconhecer o direito ao benefício da Justiça gratuita em favor de partes que possuam renda igual ou inferior ao valor já mencionado, inclusive de ofício pelo Juiz, reforçando a natureza fundamental da prestação jurisdicional gratuita para o necessitado e a sua família.

Em outras palavras, no juízo trabalhista, uma vez identificada a necessidade econômica da parte, o juiz pode lhe conceder o benefício dentro dos parâmetros legais e independentemente de requerimento.

Dando continuidade ao estudo das alterações trazidas pela Lei nº 13.467/2017, houve também a seguinte inserção no parágrafo 4º do art. 790: “O benefício da justiça gratuita será concedido à parte que comprovar insuficiência de recursos para o pagamento das custas do processo.”

O acréscimo desse texto indica que a CLT exige a necessária comprovação de hipossuficiência econômica e traz mudança legislativa de forma contrária à adotada pelo CPC de 2015, que estabelece uma presunção de hipossuficiência pautada na simples afirmação, conforme já referido acima.

Segundo entendimento de Silva (2017, p. 95), o referido acréscimo à CLT [...] trata-se de um complemento ao dispositivo anterior, agora sem critério objetivo e com ampla possibilidade de comprovação. Embora na Justiça do Trabalho esse histórico seja mais raro, é comum nas outras esferas judiciais a juntada de documentos comprobatórios de valor de aluguel, planos de saúde, notas de remédios, mensalidades escolares e demais elementos do custo de vida do homem médio.

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Outra alteração significativa diz respeito à extensão do benefício da Justiça gratuita concedido em relação ao pagamento de honorários periciais. Dispõe o art. 790-B da CLT, nesse sentido, que:

Art. 790-B. A responsabilidade pelo pagamento dos honorários periciais é da parte sucumbente na pretensão objeto da perícia, ainda que beneficiária da justiça gratuita.

§ 1º. Ao fixar o valor dos honorários periciais, o juízo deverá respeitar o limite máximo estabelecido pelo Conselho Superior da Justiça do Trabalho.

§ 2º. O juízo poderá deferir parcelamento dos honorários periciais. § 3º. O juízo não poderá exigir adiantamento de valores para realizar perícias.

§ 4º. Somente no caso em que o beneficiário da justiça gratuita não tenha obtido em juízo créditos capazes de suportar a despesa referida no caput, ainda que em outro processo, a União responderá pelo encargo.

De acordo com o caput do referido art. 790-B, ainda que tenha sido concedida à parte o benefício da Justiça gratuita, ela será responsável pelo pagamento dos honorários periciais, caso seja sucumbente na pretensão objeto da perícia. Ainda de acordo com o § 4º deste dispositivo, a União responderá pelo encargo somente no caso em que o beneficiário da Justiça gratuita não tenha obtido em juízo créditos capazes de suportar a despesa de honorários.

O caput desse dispositivo estabelece regra semelhante à do art. 95, parágrafo 3º do novo CPC, que atribui a responsabilidade do pagamento à parte em gozo do benefício quando for ela sucumbente.

Questão diversa, entretanto, decorre quando o artigo celetista estabelecer a fonte de custeio da prova pericial feita em favor de parte beneficiária da gratuidade de Justiça. Pelas regras do CPC, art. 95, parágrafo 3º, inc. I, a perícia feita em favor de parte beneficiária da gratuidade de Justiça será custeada com recursos alocados em orçamento do ente público ou de pessoa jurídica de direito público, seguindo os parâmetros definidos pelo Tribunal ou CNJ.

Assim, se o beneficiário da Justiça gratuita requerer a prova pericial e seu pedido for acolhido apenas em parte, será ele obrigado a pagar as custas da prova pericial, as quais serão abatidas do crédito.

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Em suma, essas são as principais mudanças trazidas pela Lei nº 13.467/17 no que se refere ao benefício da Justiça gratuita. A questão relativa à inconstitucionalidade desses dispositivos será objeto de estudo em tópico próprio, com fundamento no art. 5º, incs. LXXIV e XXXIV da CF/88. Isso se deve ao fato de que, diante do princípio constitucional da inafastabilidade da jurisdição, o direito de ação não pode ser restringido de nenhuma forma, ainda que indiretamente, o que vem ocorrendo em relação ao benefício da Justiça gratuita.

2.2 Da posição do Supremo Tribunal Federal sobre a gratuidade da Justiça do Trabalho

Tendo em mira que as alterações carregam traços inequívocos de inconstitucionalidade, por óbvio que os juristas brasileiros não quedariam resignados à inércia, sobretudo, tendo à disposição instrumentos jurídicos hábeis para rediscussão dos elementos afrontadores do texto constitucional.

É nesse prólogo que se conjectura a necessidade de intervenção por Ação Direta de Inconstitucionalidade. Por essa razão, a Procuradoria Geral da República, na utilização plena de suas prerrogativas legais, propôs, perante o Supremo Tribunal Federal (STF), ação que visa declarar a inconstitucionalidade do art. 790-B, caput e § 4º; art. 791-A, § 4º; e, por fim, do art. 844, § 2º da legislação obreira:

Art. 790-B. A responsabilidade pelo pagamento dos honorários periciais é da parte sucumbente na pretensão objeto da perícia, ainda que beneficiária da justiça gratuita. [...].

§ 4º. Somente no caso em que o beneficiário da justiça gratuita não tenha obtido em juízo créditos capazes de suportar a despesa referida no caput, ainda que em outro processo, a União responderá pelo encargo.

Art. 791-A. [...]

§ 4º. Vencido o beneficiário da justiça gratuita, desde que não tenha obtido em juízo, ainda que em outro processo, créditos capazes de suportar a despesa, as obrigações decorrentes de sua sucumbência ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser executadas se, nos dois anos subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que as certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de insuficiência de recursos que justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo, tais obrigações do beneficiário.

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Art. 844. [...]

§ 2º. Na hipótese de ausência do reclamante, este será condenado ao pagamento das custas calculadas na forma do art. 789 desta Consolidação, ainda que beneficiário da justiça gratuita, salvo se comprovar, no prazo de quinze dias, que a ausência ocorreu por motivo legalmente justificável. (BRASIL, 2017).

Depreende-se da exordial referida, que a reforma efetuada afronta pela violação dos seguintes preceitos fundamentais: dignidade da pessoa humana; fundamentos da República dos valores sociais do trabalho; escopo da República em erradicar a pobreza e a marginalização, assim como a redução das desigualdades sociais; garantia de jurisdição estatal por lesão ou ameaça de Direito; prestação de jurisdição ante a provocação da parte lesada que necessita de gratuidade antes e durante a permanência da demanda em litígio.

Destaca-se, portanto, que a ADI ajuizada de antemão já consigna a inconstitucionalidade do pagamento de custas e dos honorários advocatícios mesmo nos casos em que a parte litigue sob o pálio do beneplácito da Justiça gratuita. O fato, inescrupulosamente, viola a garantia constitucional de isenção de despesas quando presentes os requisitos autorizadores do deferimento do benefício.

A ação foi recebida e o relator designado foi o ministro Roberto Barroso, que proferiu o seu voto, em compêndio, nos seguintes termos:

O ministro Roberto Barroso (relator) julgou parcialmente procedente o pedido formulado para assentar interpretação conforme a Constituição, consubstanciada nas seguintes teses: 1) o direito à gratuidade de justiça pode ser regulado de forma a desincentivar a litigância abusiva, inclusive por meio da cobrança de custas e de honorários a seus beneficiários; 2) a cobrança de honorários sucumbenciais do hipossuficiente poderá incidir: (i) sobre verbas não alimentares, a exemplo de indenizações por danos morais, em sua integralidade; e (ii) sobre o percentual de até 30% do valor que exceder ao teto do Regime Geral de Previdência Social, mesmo quando pertinente a verbas remuneratórias; 3) é legítima a cobrança de custas judiciais, em razão da ausência do reclamante à audiência, mediante prévia intimação pessoal para que tenha a oportunidade de justificar o não comparecimento. (STF, 2018).

Nesse contexto, ponderou o ministro que há no Brasil excesso de litígios em trâmite, precipuamente na Justiça obreira, o que acarreta o descumprimento por parte dos empregadores das suas obrigações de natureza laboral. Para o colegiado, a

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reforma trabalhista tão somente abarcou as ações temerárias, sem acrescentar positivamente em qualquer mudança no sentido da amenização da complexibilidade e a falta de responsabilização veemente aos que não a cumprem:

O relator observou, inicialmente, que a sobreutilização do Judiciário congestiona o serviço, compromete a celeridade e a qualidade da prestação jurisdicional, incentiva demandas oportunistas e prejudica a efetividade e a credibilidade das instituições judiciais, o que afeta, em última análise, o próprio Direito Constitucional de acesso à Justiça. Dessa forma, reputou constitucional, resguardados os valores alimentares e o mínimo existencial, a cobrança de honorários sucumbenciais dos beneficiários da gratuidade de justiça como mecanismo legítimo de desincentivo ao ajuizamento de demandas ou de pedidos aventureiros. Para o relator, a gratuidade continua a ser assegurada pela não cobrança antecipada de qualquer importância como condição para litigar. O pleito de parcelas indevidas ensejará, contudo, o custeio de honorários ao final, com utilização de créditos havidos no próprio feito ou em outros processos. (STF, 2018).

Em contrapartida, afere-se do voto do ministro relator que a reforma trabalhista em si não inflige desproporção do beneplácito referido, e sim, que acarretará em verdadeiro desafogamento do Judiciário em razão da redução drástica da litigiosidade calcada em futilidade. Tais argumentações favoráveis e desfavoráveis foram proferidas, sendo o voto articulado no sentido da parcial procedência da ação proposta.

Na continuação da análise de seu voto, relata o ministro que aos aventureiros que não estiverem certos de que a busca pela jurisdição se fará medida totalmente justa e procedente, haverá imposição de ônus acaso sucumbirem. Tal consequência não fere, em grau algum, o princípio do acesso à Justiça, apenas o limita. Asseverou, também, que há permanência da proteção das verbas de natureza alimentar do empregado, com o resguardo do mínimo essencial, o que por si só já afasta a cobrança das despesas consectárias da derrota parcial ou total na demanda.

Também entendeu ser constitucional, em respeito e consideração à Justiça e à sociedade, que a subsidia, a cobrança de custas judiciais dos beneficiários da Justiça gratuita que derem ensejo ao arquivamento do feito em razão do não comparecimento injustificado à audiência, ônus que pode ser evitado pela apresentação de justificativa para a ausência.

Por fim, considerou constitucional o condicionamento da propositura de nova ação ao pagamento das custas judiciais decorrentes do

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arquivamento, medida adequada a promover o objetivo de acesso responsável à Justiça. (STF, 2018).

Desse modo, o relator defendeu que o escopo do legislador foi justamente intentar a redução da litigiosidade exacerbada, considerando o número de demandas ajuizadas na Justiça especializada, o que resultaria em menor prejuízo aos próprios empregados e empreendedores de pequeno porte.

Isso, indubitavelmente, é questionável, especialmente em razão de que o (des)amparo da gratuidade judiciária fará com que menos demandas sejam ajuizadas por receio de eventual condenação e não em virtude de mudança cultural instantânea e consequente erradicação do desrespeito aos direitos dos empregados.

Em subsequência ao término do voto do relator, votou o ministro Edson Fachin em total divergência, conforme segue:

Em divergência, o ministro Edson Fachin julgou integralmente procedente o pedido para declarar a inconstitucionalidade dos dispositivos combatidos, por vislumbrar ofensa aos direitos fundamentais da assistência jurídica integral e gratuita e de acesso à justiça, contidos, respectivamente, nos incisos LXXIV e XXXV do art. 5º da Constituição Federal (CF). Segundo ele, as normas estão em desacordo, ainda, com precedentes do STF e com o art. 8º da Convenção Interamericana de Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica). (STF, 2018).

No que tange à desigualdade social oriunda dos embaraços consectários da falta de acesso aos vetores básicos populacionais (saúde, educação, etc.), o ministro Fachin reconheceu, ainda,

[...] a relação da gratuidade da justiça e o acesso à justiça com a isonomia. Explicou que a desigualdade social gerada pelas dificuldades de acesso isonômico à educação, ao mercado de trabalho, à saúde, dentre outros direitos que têm cunho econômico, social e cultural impõe seja reforçado o âmbito de proteção do direito, que garante outros direitos e garante também a isonomia. A restrição das situações em que o trabalhador terá acesso aos benefícios da gratuidade da justiça pode conter, em si, a aniquilação do único caminho que esses cidadãos dispõem para ver garantidos os seus direitos sociais trabalhistas. (STF, 2018).

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Após o voto do ministro Fachin, o ministro Luiz Fux pediu vista em caráter antecipado dos autos da Ação Declaratória de Inconstitucionalidade, sendo o julgamento suspenso em razão do deferimento do pedido, sem qualquer decisão posterior a ser analisada até a presente data.

Destarte, é forçoso concluir que há insegurança jurídica em decorrência da Suprema Corte Nacional, sobretudo quanto ao fato de o ministro relator do caso simplesmente rasgar o texto constitucional com a relativização da terminologia objetiva de isenção totalitária das despesas processuais. Isso compromete o deferimento da Justiça gratuita às partes que dela necessitarem e se fizerem merecedoras mediante comprovação efetiva da imprescindibilidade, pois não conseguirão arcar sem prejuízo de seu sustento ou de sua família.

Nessa seara, destaca-se que a declaração dos constituintes é clara e não deixa dúvidas quanto à premência de suspensão da exigibilidade de custas oriundas do direito fundamental de buscar a jurisdição frente às violações em detrimento de direitos também de cunho constitucional (trabalhistas), regulamentados pela Consolidação das Leis do trabalho (CLT).

À vista disso, sujeitar um princípio tão basilar à insegurança e relativização é consequência inequívoca do pós-positivismo cumulado com o ativismo judicial inoportuno (não sempre, mas no caso, sim). Afinal, acima do Supremo Tribunal Federal, a quem o pobre trabalhador poderá recorrer na defesa de seus direitos fundamentais conexos ao acesso à Justiça?

Esse é o ápice de afronta à CF/88. Nesse epílogo da ação, mesmo que ainda indeterminada pela falta dos outros votos, já se vislumbra que os mesmos argumentos inconstitucionais – que embasaram o projeto de lei – foram e serão utilizados em votos favoráveis à reforma, mesmo que de maneira parcial, já resultando na criação de uma barreira gigantesca entre o lesado em seus direitos e a quem lhe incumbe o dever de indenizar.

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2.3 A posição constitucional na gratuidade da Justiça

É cediço que, em se tratando de estado democrático por absoluta observância dos direitos e garantias fundamentais, o acesso à jurisdição estatal é imprescindível enquanto caminho pelo qual o cidadão tem por resguardado o apoio estatal frente às injustiças possivelmente ocorridas no mundo em que se inserem os fatos das suas vidas cotidianas.

Invariavelmente, as relações laborais típicas ou atípicas são gizadas historicamente por confrontos entre os polos (empregados e empregadores). Em razão disso, o Estado, enquanto ente que detém a função de intervir nessas contendas promulgou em seu texto constituinte, princípios norteadores com o escopo de prover o equilíbrio dessas situações, nas quais o poderio econômico prevalece, gerando, sobretudo, subordinação em malefício do trabalhador.

A igualdade formal perante a lei – também assegurada no texto constitucional – é, de fato, garantida, eis que a mera previsão já sustenta o seu resguardo. Por outro lado, o acesso à Justiça, conexo a esse princípio, necessita de ações práticas do Estado para a sua plena efetividade. Nesse sentido, o doutrinador Mauro Cappelletti (1985, p. 9) vislumbra que:

O ‘acesso à Justiça’ é o meio garantidor que permite às pessoas reivindicar a garantia de direitos e/ou solucionar litígios sob a égide do Estado, devendo ser igualmente acessível a todos e produzir resultados socialmente justos.

Nessa senda, a CF/88, no inc. LXXIV do seu art. 5º, prevê, resguarda e garante a todas as pessoas em evidente estado de hipossuficiência econômica, devidamente comprovada nos autos do processo, a gratuidade de todas as despesas consectárias da utilização da jurisdição estatal, tendo em vista que essa necessidade de resposta decorre justamente da prerrogativa constitucional, e empecilho econômico algum pode barrar o acesso à Justiça:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...]

Referências

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