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A proteção dos ativos de propriedade intelectual na indústria da moda e os desafios advindos da modernização da produção: o uso não licenciado de direitos na indústria têxtil e de confecções

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

DEPARTAMENTO DE DIREITO

DANIELA FAGGION SPONHOLZ

A PROTEÇÃO DOS ATIVOS DE PROPRIEDADE INTELECTUAL NA INDÚSTRIA DA MODA E OS DESAFIOS ADVINDOS DA MODERNIZAÇÃO DA PRODUÇÃO:

O USO NÃO LICENCIADO DE DIREITOS NA INDÚSTRIA TÊXTIL E DE CONFECÇÕES

FLORIANÓPOLIS 2019

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DANIELA FAGGION SPONHOLZ

A PROTEÇÃO DOS ATIVOS DE PROPRIEDADE INTELECTUAL NA INDÚSTRIA DA MODA E OS DESAFIOS ADVINDOS DA MODERNIZAÇÃO DA PRODUÇÃO:

O USO NÃO LICENCIADO DE DIREITOS NA INDÚSTRIA TÊXTIL E DE CONFECÇÕES

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito do Centro de Ciências Jurídicas da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Direito

Orientador: Prof. Dr. Luiz Otávio Pimentel Coorientadora: Dra. Gisele Ghanem Cardoso

FLORIANÓPOLIS 2019

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Daniela Faggion Sponholz

A PROTEÇÃO DOS ATIVOS DE PROPRIEDADE INTELECTUAL NA INDÚSTRIA DA MODA E OS DESAFIOS ADVINDOS DA MODERNIZAÇÃO DA PRODUÇÃO :

O USO NÃO LICENCIADO DE DIREITOS NA INDÚSTRIA TÊXTIL E DE CONFECÇÕES

TERMO DE APROVAÇÃO

Este Trabalho de Conclusão de curso foi aprovado pela Banca Examinadora composta pelos membros abaixo assinados, em sua forma final, com nota ___ (_____) , cumprindo o requisito legal para a obtenção do Título de "Bacharel em Direito", previsto no art. 10 da Resolução

09/2004/CES/CNE, regulamentado pela Universidade Federal de Santa Catarina, através da Resolução 01/CCGD/CCJ/2014.

Florianópolis, de de 2019.

______________________ Professor Dr. Luiz Otávio Pimentel

Orientador

______________________ Prof. Dr. Orlando Celso da Silva Neto

Membro da Banca ______________________ Prof. Dra Michele Copetti de Almeida

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TERMO DE RESPONSABILIDADE PELO INEDITISMO DO TCC E ORIENTAÇÃO IDEOLÓGICA

Aluna: Daniela Faggion Sponholz RG: 5.342.167

CPF: 059.530.439-70 Matrícula: 15104110

Título do TCC: A Proteção dos Ativos de Propriedade Intelectual na Indústria da Moda e os Desafios Advindos da Modernização da Produção: o Uso Não Licenciado de Direitos na Indústria Têxtil e de Confecções

Orientador: Luiz Otávio Pimentel Coorientadora: Gisele Ghanem Cardoso

Eu, Daniela Faggion Sponholz, acima qualificada, venho, pelo presente termo, assumir integral responsabilidade pela originalidade e conteúdo ideológico apresentado no TCC de minha autoria, acima referido.

Florianópolis, ___ de _____________ de 2019.

_______________________________________ Daniela Faggion Sponholz

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Dedico a meus pais, por todo o incentivo, à Dra. Gisele Ghanem por tanta colaboração e paciência durante o desenvolvimento deste trabalho, e ao Professor Dr. Luiz Otávio Pimentel, pelo incentivo ao estudo da propriedade intelectual.

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RESUMO

Este estudo tem o objetivo de analisar as possíveis problemáticas advindas das novas tecnologias relativas à Indústria 4.0 aplicadas ao setor têxtil e de confecções, bem como levantar soluções através da adequação legal e adaptação dos agentes de mercado. O método empregado é o dedutivo com pesquisa bibliográfica. No primeiro capítulo, expõe-se dados que ilustram a importância econômica e social do setor da moda, além de demonstrar os fatores que levaram essa indústria a tomar tais proporções, e as tendências de avanços propiciados pelo atual cenário tecnológico marcado pela utilização de programas de computadores, impressão 3D, etc. Demonstrada a relevância desse setor, o trabalho apresenta a abordagem jurídica perante as questões advindas no mercado da moda, definindo o Direito da Moda e o seu amplo escopo. O estudo dá enfoque aos direitos de propriedade intelectual no âmbito da indústria ​fashion​, trazendo o conceito jurídico de institutos de propriedade intelectual como os direitos de autor e conexos, as marcas, os programas de computador, as patentes e os desenhos industriais. O segundo capítulo demonstra a aplicação desses institutos aos artigos de moda, sob a noção de pacote de proteção. Também ilustra, através de exemplos jurisprudenciais, a importância das marcas e dos programas de computador como ativos de propriedade intelectual essenciais à indústria da moda atual. O último capítulo discute as possíveis problemáticas decorrentes das tecnologias que já revolucionam o cenário da moda e tendem a, cada vez mais, fazer parte desse mercado. O capítulo dá enfoque especial às infrações advindas da prática da impressão 3D, da utilização de programas de computador e do compartilhamento online de arquivos. O capítulo apresenta uma comparação entre o fenômeno da impressão 3D na indústria da moda e o fenômeno de compartilhamento digital de arquivos de música, filmes e livros, bem como demonstra as lições retiradas da abordagens destas indústria perante a infração aos direitos de propriedade intelectual. Por fim, são apresentadas sugestões de abordagens, tanto na forma de uma proposto legislativa ​sui generis​, quanto através de adaptações mercadológicas e sociais ao fenômeno. O trabalho não esgota o tema, sendo tão somente uma abordagem inicial a um assunto atual que merece atenção no âmbito acadêmico para que sejam enfrentadas as peculiaridades dele advindas.

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ABSTRACT

The purpose of this study is to analyze the possible issues that result from the new technologies of the Industry 4.0 applied to the textile and apparel industries, as well as raising solutions through legal accommodations and the adaptation of market agents. The used approach is the deductive method with a bibliographical review. In the first chapter, the study exposes data that illustrate the economic and social importance of the fashion sector, also demonstrating the factors which have lead this industry to achieve such big proportions, as well as the progress tendencies provided by the current technological scenario of the use of computer programs, the 3D printing, etc. Once demonstrated the relevance of this sector, the study shows a legal approach towards this issues in the fashion industry, defining the concept of Fashion Law and it's wide scope. This study emphasizes the intellectual property rights in the fashion industry field, defining the legal concepts of the intellectual property assets such as copyrights, trademarks, computer programs, patents and design patents. The second chapter demonstrates the application of this assets to the fashion items, under the idea of a package of protection. It also illustrates, through jurisprudence examples, the importance of trademarks and computer programs as essential intellectual property assets for the current fashion industry. The last chapter discusses the possible issues originated by the technologies that are already revolutionizing the fashion scenario and tend to, more and more, be a part of this market. This chapter gives special emphasis to the infractions originated by the 3D printing method, by the use of computer programs and by the online file sharing. The chapter also compares the phenomenon of 3D printing applied to the fashion industry with the phenomenon of music, books and movies files shared online, as well as it demonstrates which lessons can be taken from the approach of these industries against the infraction of intellectual property rights. Lastly, it presents the suggested of approaches when facing the mentioned issues, both in the form of a legislative proposal and through mercantile and social adequation to the technology phenomena. This study doesn't touch the entire scope of issues involved in this subject, instead, it is only an initial approach to a very current topic that deserves attention in the academic field, so that the very peculiar matters that come with it can be faced in the best way.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: O Crescimento das Redes Fast Fashion entre os anos de 2004 e 2005 18 Figura 2: Anúncio da Forever 21 e videoclipe da cantora Ariana Grande​ ​27

Figura 3: Classificação da Propriedade Intelectual. 29

Figura 4: Coleção Karl Lagerfeld for Riachuelo 48

Figura 5: League of Legends em parceria com a Louis Vuitton 49

Figura 6: The Sims 4 em parceria com a Moschino. 49

Figura 7: "Birkin bag" da Hermès X "Bolsa 284" da Village 284 55

Figura 8: Demonstração de arquivo em formato STL 64

Figura 9: Vestido Pangolin, no New York Fashion Week 67

Figura 10: Yuniku, impressão de óculos em tecnologia 3D 67

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

INPI Instituto Nacional de Propriedade Intelectual TIC Tecnologias de Informação e Comunicação RFID Radio Frequency Identification

SENAI ​Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial IoT Internet of Things

OAB Ordem dos Advogados do Brasil

ABIT Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção PETA People for the Ethical Treatment of Animals

WIPO World Intellectual Property Organization ONU Organização das Nações Unidas

LDA Lei de Direitos Autorais LPI Lei de Propriedade Industrial PCT Patent Cooperation Treaty

INTA International Trademark Association

USPTO United States Patent and Trademark Office 3D Tridimensional

CAD Computer Aided Design STL Stereolithography

TRIPS Trade Related Aspects of Intellectual Property Rights EUIPO European Union Intellectual Property Office

AMPP ​Additive Manufacturing Piracy Protection DPPA Design Piracy Prohibition Act

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 1​2

2. O DIREITO DA MODA E OS INSTITUTOS DE PROPRIEDADE

INTELECTUAL 14

2.1. O ATUAL CENÁRIO DA INDÚSTRIA DA MODA: TECNOLOGIA, INDÚSTRIA

4.0, INTERNET DAS COISAS 15

2.2 A IMPORTÂNCIA DO DIREITO DA MODA NO CENÁRIO ATUAL E ÁREAS

CORRELATAS 23

2.3 PROPRIEDADE INTELECTUAL NO DIREITO DA MODA 26

2.3.1. Direito de Autor 28 2.3.2. Direitos Conexos 29 2.3.3. Programa de Computador 30 2.3.4. Marca 32 2.3.5. Patente 36 2.3.6. Desenho Industrial 38

3. A APLICAÇÃO E RELEVÂNCIA DOS ATIVOS DE PROPRIEDADE

INTELECTUAL NA INDÚSTRIA DA MODA 40

3.1. A MARCA COMO ATIVO INTANGÍVEL INDISPENSÁVEL NA INDÚSTRIA

DA MODA 40

3.2. A PROTEÇÃO AOS PROGRAMAS DE COMPUTADOR E A LEI DE

SOFTWARE 49

3.3. COMO SE DÁ A PROTEÇÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA

INDÚSTRIA DA MODA E A NOÇÃO DE PACOTE DE PROTEÇÃO 53

4. AS QUESTÕES ADVINDAS DO USO ILEGAL DOS SOFTWARES

APLICADOS À INDÚSTRIA DA MODA 61

4.1. O USO DE PROGRAMAS DE COMPUTADOR E IMPRESSÃO 3D E AS

IMPLICAÇÕES NA INDÚSTRIA DA MODA 61

4.2. A RELAÇÃO ENTRE OS DIREITOS DAS EMPRESAS E O USO ILEGAL DE

PROGRAMAS DE COMPUTADOR DENTRO DO SETOR 68

4.3. CONSEQUÊNCIAS PRÁTICAS E JURÍDICAS DO USO ILEGAL DA

TECNOLOGIA DE SOFTWARE E IMPRESSÃO 3D 75

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1. INTRODUÇÃO

A moda é um campo da atividade industrial que demonstrou, internacionalmente, crescimento exponencial nos últimos anos. Segundo dados datados de 2017, o setor foi avaliado no valor aproximado de 2,4 trilhões de dólares ao ano.

A relevância desta indústria em termos nacionais também é de destaque, denotando números consideráveis no faturamento bruto, no comércio exterior e na geração de emprego. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, o faturamento do setor em âmbito nacional, em 2017, foi de 51,58 bilhões de dólares, sendo o segundo setor que mais gerou empregos na indústria de transformação, perdendo apenas para as indústrias de alimentos e bebidas, juntas.

Da mesma forma, em âmbito catarinense, segundo estudo realizado pela Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina em parceria com o Instituto Nacional de Propriedade Intelectual, atualmente o setor têxtil e de confecção apresentam o maior número de trabalhadores e o segundo maior número de estabelecimentos, tendo sido responsável, em 2016, por R$20 bilhões em produção industrial (14,9% do valor da indústria do Estado e 24,7% do setor no país).

Diante destes dados expressivos, é de se compreender a importância de os estudiosos e praticantes do meio jurídico voltarem seus olhos às discussões no âmbito do Direito da Moda.

O Direito da Moda, também chamado ​Fashion Law, ​envolve diversas áreas jurídicas distintas, como o Direito Trabalhista, nas relações de trabalho dentro dessa indústria; o Direito Empresarial e Societário, na estruturação e relações concernentes aos sócios das empresas de moda; o Direito do Consumidor, nas relações entre as empresas do setor e os adquirentes dos produtos de moda; e, entre outros diversos campos, o Direito de Propriedade Intelectual, que diz respeito à proteção de ativos intangíveis, os quais, conforme veremos, demonstram-se essenciais a esta indústria.

Neste trabalho, os estudos serão direcionados aos Direitos de Propriedade Intelectual aplicados à indústria da moda, denotando a dimensão da importância destes, especialmente na atual conjuntura de modernização, dando enfoque especial às marcas e

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no contexto atual da indústria de moda, que, como os demais setores industriais, passa por um processo de modernização.

A modernização refletiu também na emergência de novos padrões de produção introduzidos pelas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), a Indústria 4.0., a Internet das Coisas, a impressão 3D e a automatização do processo produtivo. 1

Um grande desafio da Indústria da Moda brasileira é adaptar-se à competitividade deste novo mercado. A modernização da produção baseia-se, em grande parte, na utilização de softwares de automação das máquinas, o que vem sendo amplamente instaurando na indústria mundial e, gradualmente aderido também em âmbito nacional.

Ocorre que, levando-se em consideração a dificuldade material em se proteger um programa de computador contra atos de contrafação e plágio, muitas empresas do ramo têxtil e de confecção realizam o uso ilegal destes programas, sendo recorrentes a infração a direitos de propriedade intelectual dentro da indústria.

Pode-se falar ainda das possíveis infrações a outros direitos de propriedade intelectual que não os direitos autorais sobre o ​software​, tomando em consideração situações como a possibilidade de cópia das modelagens e ​designs contidos em um ​software plagiado. O problema é ainda mais evidente com o advento das impressoras 3D e do compartilhamento

online​ dos arquivos de impressão.

Apesar das vantagens produtivas, a impressão tridimensional abre margem para a prática de contrafação dos artigos de moda no meio tecnológico, visto que já existem plataformas onde arquivos de designs 3D em formato digital são compartilhados ​online, ​a

exemplo do ​website The Pirate Bay​, popularmente conhecido pelo compartilhamento de arquivos de músicas e filmes.

O uso destes moldes e desenhos disponibilizados em formato digital de forma ilegal em ​softwares ​contrafeitos ou plataformas ​online permitiria a sujeitos contrafatores gerarem peças de roupa cujos atributos correspondem a ativos de propriedade industrial pertencentes a terceiros.

Diversas violações podem surgir da aplicação das tecnologias digitais à indústria da moda, apesar da existência previsão legal na Lei de Software de punição em caso da violação aos direitos autorais do autor do programa de computador, o presente trabalho busca

1CARDOSO, Gisele Ghanem.​Direito da Moda: análise dos produtos "inspireds"​. 2a edição. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2018.

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levantar possíveis questões decorrentes do uso ilegal dos programas de computador, bem como incitar possíveis as consequências e soluções legais nesse cenário, tendo em vista tratar-se de assunto muito atual tanto no meio empresarial quanto, por consequência, no âmbito jurídico.

2. O DIREITO DA MODA E OS INSTITUTOS DE PROPRIEDADE

INTELECTUAL

2.1. O ATUAL CENÁRIO DA INDÚSTRIA DA MODA: TECNOLOGIA, INDÚSTRIA

4.0, INTERNET DAS COISAS

Tendo em vista o crescimento exponencial da indústria da moda e a relevância deste setor no cenário global, o qual, segundo dados datados de 2017, foi avaliado no valor aproximado de 2,4 trilhões de dólares ao ano , não é de se espantar que grande parte do2 comércio físico e eletrônico do planeta seja dedicada à venda de itens de vestuário e acessórios, tanto é que a ​Amazon (gigante americana no ramo do ​e-commerce)3 ​adquiriu a loja de sapatos Zappos por um bilhão de dólares em 2010, e outros gigantes do ramo de vendas como ​Walmart e ​Target adentraram no ramo de vendas no setor ​fashion, ​através de suas próprias marcas ou de parcerias. 4

A indústria da moda se desenvolveu e tomou tais proporções em decorrência do modelo de processo de produção, ou seja, as cadeias produtivas em escala internacional, as quais se deram por meio da política de globalização, consolidada em medidas como a diminuição das barreiras tarifárias, por força de incentivo de organizações como a Organização Mundial do Comércio, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional.

As economias em desenvolvimento mostraram sua relevância como mercados e também como parte das cadeias produtivas internacionais, especialmente no fornecimento de

2 ​I​ndústria mundial da moda estima crescer 3,5% este ano. ​Brasil Econômico​, ​2 de fevereiro de 2017.

Disponível em: <https://economia.ig.com.br/2017-02-02/mercado-da-moda.html>. Acesso em 30 de outubro de 2019.

3https://www.amazon.com

4Trecho original:"Much of brick-and-mortar traditional retail as well as online e-commerce is dedicated to the sale of clothing and fashion items. So much so that Amazon acquired shoe retailer Zappos for $1 Billion in 2010, and major retailers such as Walmart, Target, Amazon, and others have themselves entered into the fashion retail business through their own brands and brand partnerships.". SCHMELZER, Ron. The Fashion Industry Is Getting More Intelligent with AI. ​Forbes​, 16 de julho de 2019. Disponível em: <https://www.forbes.com/sites/cognitiveworld/2019/07/16/the-fashion-industry-is-getting-more-intelligent-with-ai/#338c0bdf3c74>. Acesso em: 21 de outubro de 2019.

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mão de obra, a exemplo do fenômeno de orientalização da produção. Nesse sentido, a fragmentação dos processos produtivos, com a busca tanto de mão de obra quanto de fornecedores mais baratos em diferentes estados atingiu a indústria ​fashion​, observando-se, como consequência, a queda nos custos produtivos.

Dentre os protagonistas desse cenário contemporâneo, observa-se o sistema ​fast

fashion,​conceito de produção e comércio desenvolvido pelas indústrias têxtil e de confecção, o qual instaurou um novo modelo de consumo, revolucionando o setor. O ​fast fashion,​como a própria tradução literal do termo leva a concluir, é o sistema da "moda rápida" que, ao trabalhar com quantidade limitada de produtos, colocados à disposição do público consumidor em curtos intervalos de tempo, desperta o desejo de consumo através da renovação constante.

Enrico Cietta explica o sucesso do modelo da seguinte forma: "o ​fast fashion estabeleceu a diferença no fato de que o ciclo/produção/consumo não é atravessado duas vezes ao ano, mas continuadamente, com fluxos que chegam a ser quinzenais." . 5

Baseadas neste modelo de produção e consumo, gigantes como ​Zara e ​H&M6 7 consolidaram-se no mercado, esbanjando dados expressivos no cenário internacional, conforme demonstra o gráfico abaixo.

Figura 1: O Crescimento das Redes Fast Fashion entre os anos de 2004 e 2005. 8

5CIETTA, Enrico. ​A revolução do fast fashion. ​ edição. São paulo: Estação das Letras e Cores, 1 de janeiro de 2012. P. 80.

6 https://www.zara.com/br/#utm_referrer=https%3A%2F%2Fwww.google.com%2F 7 https://www.hm.com/entrance.ahtml?orguri=%2F

8UBEROI, Ravneet. ZARA: Achieving the “Fast” in Fast Fashion through Analytics. ​Harvard Business School

Digital Initiative​, ​5 de abril de 2017. Disponível em:

<https://digital.hbs.edu/platform-digit/wp-content/uploads/sites/2/2017/04/Growth-of-fast-fashion.png>. Acesso em: 8 de setembro de 2019.

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O apelo do sistema fast fashion, ​no entanto, não se limita à agilidade das linhas de produção e à aproximação nas datas de lançamento das novas coleções. Outro grande propulsor deste sistema é a popularização da moda de baixo custo, que introduziu a noção de

high-low na cultura ​fashion​, onde passou a se considerar uma atitude antenada a mixagem entre produtos de marcas de luxo com produtos baratos, via de regra advindos das redes ​fast

fashion​, os quais satisfazem a função de adaptarem-se às tendências efêmeras do mundo da moda.

Quando a primeira loja da rede ​H&M ​foi aberta nos Estados Unidos, nos anos 2000, o jornal ​The New York Times escreveu que a loja adentrou o mercado em tempo certo, já que os consumidores haviam recentemente se tornado mais propensos a caçar barganhas e desconsiderar lojas de departamentos, declarando que agora consideram "chique pagar menos" . 9

Além do baixo custo, que por si só gera a popularização e acessibilidade da moda aos mais variados públicos, o fluxo de troca de informações, possibilitado em especial pelas tecnologias de comunicação e pelas mídias sociais, foi outro grande responsável pela expansão e democratização do meio ​fashion​.

Através dessas novas tecnologias, observou-se a hibridização das culturas de diferentes países e a concepção de símbolos internacionais através do consumo, em um cenário onde o acesso à informação é cada vez mais rápido.

Toda essa tecnologia está extremamente ligada com o mundo ​fashion.​Desfiles de moda de Paris demoravam semanas até chegar no Brasil. Atualmente, os clientes estão com seus aparelhos celulares, câmeras e ​tablets ligados, filmando e fotografando cada passo de seus modelitos ​preferidos e compartilhando com o mundo, sendo possível assistir aos desfiles praticamente ao vivo através dessas mídias 10

A Indústria da Moda passa a utilizar estas novas tecnologias de comunicação em seu proveito, de modo a apoiar-se em um sistema de propaganda e ​marketing ​online​, que atinge cada vez mais potenciais consumidores.

9Trecho original: "​When the first H&M location in the U.S. opened in April 2000, the ​New York Times wrote that the retailer had arrived at the right time as consumers had just recently become more likely to hunt for bargains and dismiss department stores, stating that it was now "chic to pay less."" LA FERLA, Ruth. 'Cheap Chic' Draws Crowds on 5th Ave. ​New York Times​, 11 de abril de 2000. Disponível em: <https://www.nytimes.com/2000/04/11/style/cheap-chic-draws-crowds-on-5th-ave.html>. Acesso em: 30 de outubro de 2019.

10CARDOSO, Gisele Ghanem.​Direito da Moda: análise dos produtos "inspireds"​. 2a edição. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2018. P. 24-25

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Porém, contar somente com a grande quantidade de consumidores atingidos não é suficiente para o êxito das empresas inseridas neste mercado. Isso porque, o público consumidor passou a ser mais exigente e, para atender a tais demandas, as empresas precisam elaborar diferentes estratégias de comunicação.

O conceito de ​life style​é uma das técnicas de aproximação ao público, segundo o

qual a moda é estabelecida como definidora do estilo de vida e formadora de identidade de um grupo social. O uso desse conceito fundamenta-se nas preferências ético-morais, nos comportamentos . 11

Em compasso com esta noção que busca retratar a moda como símbolo de um determinado estilo de vida, observa-se um consumidor ávido de novidade mas também categórico quanto a necessidade de a empresa e o produto por ela oferecido se identificarem com seus padrões éticos e conferirem um atendimento personalizado dentro de um sistema de consumo de massa.

O uso da inteligência artificial tem sido aplicado no mesmo sentido, tendo em vista tratar-se de um mercado baseado em tendências, a captação de dados e sua interpretação por vias tecnológicas é um mecanismo que permite às empresas a prognosticar a popularidade e desempenho de vendas de um produto, através de dados captados em redes sociais, em ferramentas de busca e em plataformas de ​e-commerce​, podendo, dessa forma, adaptar suas futuras coleções e seus estoques a fim de expandir as vendas e evitar desperdício. 12

Para atender a necessidade do consumidor atual de identificar-se com os ideais ligados ao produto e à empresa que o comercializa, os ​players atentos a este padrão investem pesado em ​marketing por meios digitais, em especial através das redes sociais. O fenômeno das ​digital influencers ​surgem como reflexo desta demanda: pessoas com alto grau de engajamento com o público em suas plataformas digitais divulgam os produtos que consomem ao passo que compartilham momentos de seu cotidiano em redes de alto alcance como ​Instagram e ​Pinterest , de forma mais natural, de modo a colocarem-se mais13 14 próximas ao público alvo do que os tradicionais métodos de propaganda e ​marketing​.

11 CASTILHO, K.; GALVÃO, D. ​A moda do corpo o corpo da moda. ​São Paulo: Esfera, 2002, p. 94.

12 UBEROI, Ravneet. ZARA: Achieving the “Fast” in Fast Fashion through Analytics. Harvard Business

School Digital Initiative​, ​5 de abril de 2017. Disponível em:

<https://digital.hbs.edu/platform-digit/wp-content/uploads/sites/2/2017/04/Growth-of-fast-fashion.png>. Acesso de acesso: 8 de setembro de 2019.

13 https://www.instagram.com 14 https://br.pinterest.com

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Influenciadoras digitais como Chiara Ferragni e Camila Coutinho, ambas com número de seguidores na casa dos milhões, usam de sua desenvoltura em frente às câmeras para estabelecer uma relação de pessoalidade com seus seguidores ​online​, e, a partir da confiança estabelecida, geram visibilidade aos produtos e suas marcas.

Ocorre que, apesar do êxito do sistema ​fast fashion baseado nas cadeias de valor global, fatores como os ​standards ​éticos do público consumidor, conforme citado anteriormente; a elevação dos custos da mão de obra; e as novas políticas de desenvolvimento dos Estados passaram a demandar novos modelos produtivos, visto que a mão de obra barata já não representava uma vantagem competitiva de mesma maneira que anteriormente representara.

Nesse sentido, observa-se a aplicação de avanços tecnológicos na estratégia produtiva de grandes agentes da Indústria da Moda, a exemplo da análise de dados por meio digital. A ​Inditex , uma dos maiores empresas do ramo da moda em âmbito mundial,15 proprietária da espanhola ​Zara​, atingiu grande êxito na agilidade de atendimento às demandas de mercado, possuindo uma das cadeias de fornecimento mais eficientes do setor e reforçando o sucesso do sistema ​fast fashion​.

No relatório anual da ​Zara​, datado de 2015, há a seguinte informação: "todos os itens da empresa são etiquetados com um ​RFID ​microchip (microchip de identificação por radiofrequência) antes de saírem de um depósito central, fato que possibilita que a empresa monitore a peça de inventário até que seja vendida ao consumidor." . 16

O sistema de gestão tecnológico é tido como um dos grandes motivos por trás do sucesso da empresa, tendo em vista que seu ​approach ​é, justamente, baseado na agilidade em trazer as tendências ​fashion​ ao público consumidor.

Ravneet Uberoi descreve o sistema, em seu artigo:

A informação acerca da venda de cada unidade de manutenção de estoque, dos níveis do inventário em cada loja, e da velocidade em que cada unidade de manutenção de estoque em particular vai da prateleira para o sistema de ponto de venda é enviada praticamente em tempo real para o centro de processamento de dados da ​Inditex​. Tal centro fica aberto vinte e quatro horas por dia e coleta informação de todas as mais de seis mil lojas da Inditex, em mais de oitenta países, e os dados são utilizados pelas equipes para a administração de seus inventários, 15 https://www.inditex.com

16Trecho original:"Every item of clothing is tagged with an RFID microchip before it leaves a centralized warehouse, which enables them to track that piece of inventory until it is sold to a customer " Inditex Annual

Report 2015. Inditex​, 2015. Disponível em:

<http://static.inditex.com/annual_report_2015/en/our-priorities/innovation-in-customer-services.php>. Acesso em: 21 de outubro de 2019.

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distribuição e melhoramentos nos designs e serviço ao consumidor. (Tradução 17 literal)

Não apenas à globalização da produção e ao avanço das tecnologias de informação e comunicação está ligado o êxito do setor da moda nos últimos anos. Se nos séculos dezoito e dezenove a Primeira e Segunda Revolução Industrial afetaram a indústria da moda por meio da introdução da máquina a vapor e eletricidade na produção têxtil, e, posteriormente, no século vinte, a Terceira Revolução Industrial transformou o meio ​fashion através da tecnologia de informação, atualmente fala-se no fenômeno identificado como Indústria 4.0, o qual representaria o advento de uma Quarta Revolução Industrial.

O desenvolvimento de modelos de produção e comércio tecnológicos é protagonista na dinâmica da Indústria da Moda atual, mostrando-se presente através da automatização da produção, da criação de tecidos biotecnológicos, da inteligência artificial e das impressoras 3D.

Na obra ​A Quarta Revolução Industrial do Setor Têxtil e Confecção​, desenvolvida

com apoio do Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil do Senai, é desenhada uma perspectiva para a indústria têxtil e de confecção no ano de 2030:

Tudo será muito virtualizado. Com o exemplo da impressora 3D, que posso criar na Alemanha, elaborar em Pernambuco, e tudo ao mesmo tempo. Mandar um desenho pra lá e pra cá. Já estamos acostumados a lidar com isso e cada vez mais com o mundo virtual. Imagina o custo que isso representa em todas as etapas. O desperdício que ao desenvolver um produto estará sendo evitado. Quando vamos a um grande varejista é aquele espaço enorme, quanto custa uma loja para o grande varejista, e tudo aquilo é um estoque, ao vivo e em cores, parado até que alguém compre. E muitas vezes não compram e então são dados descontos. E é por isso que o preço é alto, porque o resto das coisas são vendidas por preços mais baixos. São essas lógicas que com essas tecnologias fica possível eliminar.

Nesse cenário, ganha destaque o desenvolvimento de produtos tecnológicos, os quais introduzirão novas características estéticas e, especialmente, funcionais aos artigos

fashion​. ​As novas tecnologias aplicadas nas fibras dos tecidos, por exemplo, resultam em características de adaptação em relação à diversos fatores como cor, textura e à temperatura corpórea.

17Trecho original: "The data about the sale of each SKU, inventory levels in each store, and the speed at which a particular SKU moves from the shelf to the POS is sent on a real time basis to Inditex’s central data processing center. This center is open 24 hours a day and collects information from all 6000+ Inditex stores across 80+ countries and is used by teams for inventory management, distribution, design and customer service improvements.". UBEROI, Ravneet. ZARA: Achieving the "Fast" in Fast Fashion through Analytics. ​Harvard

Business School Digital Initiative: 5 de abril de 2017. Disponível em:

<https://digital.hbs.edu/platform-digit/submission/zara-achieving-the-fast-in-fast-fashion-through-analytics/>. Acesso em: 28 de outubro de 2019.

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O fenômeno da Internet da Coisas (​IoT​) já é realidade em diversos setores do mercado, e com a indústria da moda não é diferente. Trata-se da produção de objetos inteligentes, configurados para comunicarem-se entre si, criando sistemas que armazenam, trocam e processam informações entre ​softwares​ e ​hardwares​.

A marca americana ​Levi Strauss & Co​. lançou uma jaqueta em colaboração com a

Google​, com o uso de tecnologia produzida por esta - o projeto ​Jacquard - tecido tecnológico que permite o usuário da jaqueta controlar seu ​smartphone​através do simples toque à peça de roupa.

A fala do vice presidente global de inovação de produtos da ​Levi's retrata bem a aproximação cada vez mais latente entre a indústria da moda e a tecnologia: "A ​Google foi essencial para nos ajudar a fazer a ligação entre a indústria do jeans e o mundo digital" , 18 afirmou.

O desenvolvimento tecnológico não impactou apenas os produtos finais mas também os processos produtivos, desde o desenvolvimento tecnológico da matéria prima à automatização das fábricas. Além de ampliar a funcionalidade do produto final, conforme já mencionado anteriormente, a tecnologia aplicada à matéria prima pode contribuir para o aumento da eficiência produtiva e para a redução dos custos de produção e do desperdício

De acordo com Suzanne Lee, chefe criativa do ​Modern Meadow​, uma ​start up nova iorquina que desenvolve couro, entre outros materiais, em laboratório, a biotecnologia poderia ajudar:

A forma com que os animais são intensivamente criados significa que a qualidade do couro está decaindo," ela explica. "Você possui mais cicatrizes no couro, as quais você precisa cortar, gerando mais desperdício. Pode haver entre 30 e 80 por cento de desperdício no couro de um animal. Do ponto de vista da eficiência, do ponto de vista da manufatura, este é um enorme problema. 19

Outro fenômeno marcante na modernização da produção é a aplicação de

softwares, não apenas no gerenciamento da empresa, como já observamos, mas também no

18Trecho original:​“Google was essential in helping us merge the gap between the denim industry and the digital world,” ABNETT, Kate. Fashion's Fourth Industrial Revolution.​Business of Fashion, 16 de agosto de 2016.

Disponível em:

<​https://www.businessoffashion.com/articles/fashion-tech/fashions-fourth-industrial-revolution-2>. Acesso em: 21 de outubro de 2019.

19 Trecho original: "​“The way that animals are intensively farmed means that the quality of the hides is dropping,” she explained. “You’ve got more scars you need to cut around, so there’s more waste. There can be between 30 to 80 percent wastage on one animal hide. From an efficiency standpoint, from a manufacturing standpoint, that’s a massive problem."" ABNETT, Kate. Fashion's Fourth Industrial Revolution. Business of

Fashion​, 16 de agosto de 2016. Disponível em:

<​https://www.businessoffashion.com/articles/fashion-tech/fashions-fourth-industrial-revolution-2>. Acesso em: 21 de outubro de 2019.

(21)

próprio processo produtivo, desde a fase criativa dos ​designs até a automatização das máquinas utilizadas no desenvolvimento do produto final.

Em se tratando do processo de criação, ferramentas de desenho como o ​Adobe

Illustrator e o20 ​CorelDraw demonstram avanço em relação aos desenhos feitos à mão, já21 que os ​designs ​podem ser facilmente alterados, proporcionando agilidade ao processo de criação. Ademais, estes programas de computador armazenam os desenhos técnicos em bancos de dados, os quais podem servir de fonte para o desenvolvimento de novas criações através da combinação de desenhos prévios, economizando, além de tempo, espaço físico.

As tecnologias de automação de máquinas nas fábricas têxteis e de confecção, por sua vez, geram diminuição da perda de tecido e otimização da produção. Referência na área, a empresa catarinense Audaces oferece soluções tecnológicas nesse âmbito, oferecendo tanto os

hardwares, ​quanto os ​softwares ​que permitem a máxima performance deste maquinário. É o que propõe a máquina de corte Audaces ​Neocut​ Bravo, segundo informação de sua fabricante:

A Audaces​Neocut Bravo é uma máquina da Indústria 4.0. Com ela, a hora, dia, semana e mês da produção são cronometrados, alinhados com os objetivos da sua empresa e fornecidos automaticamente para você tomar decisões com toda a segurança. O monitoramento contínuo das condições de trabalho permite a telemanutenção, o telediagnóstico e a rápida resolução de qualquer situação. Gerencie melhor com a inteligência da ​Neocut Bravo integrada com o aplicativo Neocut​Mobile para prevenir perdas e acelerar sua produção. Mantenha-se atualizado em tempo real para produzir mais. 22

Seguindo essa tendência de modernização tecnológica do processo produtivo na indústria da moda, observamos diversos exemplos de empresas que atuam no desenvolvimento de tecnologias aplicáveis à indústria têxtil e de confecção, como a italiana

Tonello - baseada nos pilares da inovação e sustentabilidade, a empresa é referência na lavagem e tingimento de tecidos ​jeans​: além de vender os maquinários e os sistemas que os regem, oferece serviço de assistência remota em todas suas máquinas, através do qual o consumidor pode alcançar de forma direta os especialistas da fabricante, recebendo consultoria acerca do uso da máquina e do ​software.

Um de seus produtos mais populares no mercado é a Laser Blaze ​, máquina de

laser​ automatizada por meio de ​software​:

20 https://www.adobe.com/br/products/illustrator.html

21https://www.coreldraw.com/br/product/coreldraw/?sourceid=cdgs2019-xx-ppc_brkws-emea&x-vehicle=ppc_br kws&gclid=CjwKCAjw5fzrBRASEiwAD2OSV8fp3gn0V6lfWJQIWp6EJhHbHHWMURD-u-oIc7M5uBDH3x 314_wBHxoCPzkQAvD_BwE

22Audaces Neocut Bravo. ​Audaces​, 2019. Disponível em: <https://www.audaces.com/produto/neocut-bravo/>. Acesso em 30 de setembro de 2019.

(22)

A ​Laser ​Blaze pode criar efeitos ​vintage​, como desgaste ou rasgo em furos específicas, linhas de sombreado e rasgos através da ação de um raio ​laser​. Ela pode também criar estampas, aplicações, formas gráficas personalizadas e efeitos 3D incríveis em diversos tipos diferentes de tecidos. A máquina é distinta por sua habilidade em garantir que todo ponto da área de trabalho seja perfeitamente uniforme. O ​software garante flexibilidade máxima, graças a constantes atualizações, as quais estão sempre adicionando novas opções. O efeito de "raspagens" no tecido é um exemplo que rapidamente transforma o design usual em uma imagem com efeito de "pintura manual". A ​Tonello ainda oferece a todos os clientes um banco de projetos pronto para o uso e desenvolvido por um time de designers de ​laser​. Nesse âmbito, a última novidade da ​Tonello é a ​Multicolour Laser​, ​que permite o tingimento de tecidos de maneira nunca vista. (Tradução 23 livre)

A aplicação dessas tecnologias ao processo produtivo na indústria da moda tende a se tornar parte necessária para as empresas que pretendem permanecer competitivas no mercado.

2.2 A IMPORTÂNCIA DO DIREITO DA MODA NO CENÁRIO ATUAL E ÁREAS

CORRELATAS

Demonstrada a relevância da indústria da moda em termos sociais e econômicos, resta evidente o interesse dos estudiosos do direito em voltarem seus olhos ao universo

fashion​. O direito da moda surge para tratar das questões jurídicas advindas neste âmbito, e é nesse contexto, so​b a necessidade de atender as especificidades da indústria da moda, que surgiu, em 2010, na Universidade ​Fordham​, em Nova York, o primeiro curso de​ fashion law​. Em que pese o estudo do direito da moda estar mais difundido nos países europeus e nos Estados Unidos, onde já é possível encontrar diversos advogados e escritórios especializados no ramo, no Brasil, o setor vem ganhando espaço nos últimos anos e já permeia o meio jurídico por meio da criação das comissões de direito da moda nas OAB em cenário nacional e celebração, cada vez mais recorrente, de congressos e eventos acerca do tema.

O direito da moda, apesar de ter ganhado a atenção do meio jurídico recentemente, é uma seara que abarca diversos campos do direito, tais quais os direitos trabalhistas, os

23Trecho original:"Laser Blaze can create vintage effects, like wear and tear in specific areas, whisker fading and rips with the action of a laser beam. It can also create patterns, patches, personalized graphics and incredible 3D effects on many different types of fabrics. The machine distinguishes itself for its ability to guarantee that every single point of the work area is perfectly uniform. The software ensures maximum flexibility thanks to constant updates which are always adding new options. The scraping effect is an example which rapidly transforms a standard design into an image with a “manual brushing” effect. Tonello also provides all clients with a project library ready to use and developed by a team of laser designers. In this field, Tonello’s latest novelty is Multicolour Laser, which lets you dye fabrics like never before.". TONELLO. ​Tonello​: garment finishing technologies, 2019. Página inicial. Disponível em: <https://www.tonello.com/en/product/laser-blaze-c>. Acesso em: 21 de outubro de 2019.

(23)

direitos de imagem, os direitos do consumidor, direito comercial, direito ambiental e os direitos de propriedade intelectual, considerando que os advogados atuantes na área podem prestar serviços a diversos clientes como designers, empresas têxteis e de confecção, agências de modelos, lojas, fotógrafos, etc. O que reúne todas estas diversas áreas jurídicas em um único âmbito de estudo é a sua abordagem sob o ponto de vista da indústria da moda, o que exige do jurista um conhecimento adicional acerca das especificidades deste mercado.

Uma dos tópicos insurgentes nesta indústria, questão que figura dentro do escopo do direito da moda, é o direito trabalhista. As relações de trabalho dentro do setor têxtil e de confecção adotam certas especificidades advindas deste mercado pautado nas cadeias globais de valor. Um grande exemplo, nesse sentido, são as redes ​fast fashion​, as quais, na busca de mão de obra barata, visando manter o preço de seus produtos atraentes ao público consumidor, acabam por infringir condições de trabalho previstas em lei.

As lojas ​Zara​, gigante espanhola no setor de confecção, enfrenta diversas ações trabalhistas internacionalmente. Em ação proposta na ​3ª Vara do Trabalho de São Paulo, a empresa foi acusada de manter trabalhadores em condição de trabalho análogas à escravidão. Tratava-se de uma empresa terceirizada, AHA Indústria e Comércio LTDA, a qual atuava como fornecedora da ​Zara​. Em sentença, o juiz Álvaro Emanuel de Oliveira Simões afirmou que mais de noventa por cento da produção era adquirida pela empresa espanhola e que, portanto, esta foi considerada responsável. 24

Além das consequências em âmbito judicial, a importância da temática também reside nos impactos que tais infrações podem gerar no âmbito econômico, através de consequências como o abalo à reputação das empresas rés. Nesse sentido, a ABIT - Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, em atenção à importância da temática, assinou o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo e atua, em conjunto com os agentes do mercado interno e internacional, contra o trabalho escravo e trabalho infantil. 25

Outra situação jurídica que retrata a amplitude de temas abarcados pelo direito da moda é a infração aos direitos de imagem. Em setembro de 2019 , a cantora ​pop Ariana 24Justiça mantém ação contra Zara por trabalho escravo. ​Veja​, 31 de outubro de 2017. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/politica/justica-mantem-acao-contra-zara-por-trabalho-escravo/>. Acesso em: 29 de outubro de 2019.

25PIMENTEL, Fernando Valente. O impacto do compliance na cadeia têxtil. Monitor Mercantil ​, 23 de agosto de 2017. Disponível em: <https://monitordigital.com.br/o-impacto-do-compliance-na-cadeia-t-xtil>. Acesso em: 21 de outubro de 2019.

(24)

Grande acusou a rede26 ​fast fashion ​Forever 21 de fazer uso indevido de sua imagem ao27 utilizar uma modelo com aparência física extremamente similar à dela.

A ação proposta na Corte Federal Distrital de Los Angeles compara as imagens do videoclipe “7 rings” e os anúncios publicitários da empresa ré, onde a modelo “ ​look-alike​” usa o mesmo estilo de cabelo marcante da artista e veste roupas similares.

Em um anúncio feito através da conta da empresa, na rede social ​Instagram​, a imagem acompanha uma legenda que Ariana considera como referência a um trecho de sua música. A empresa acusada inclusive já havia contatado os representantes da cantora para firmar uma parceria de divulgação via redes sociais, que, no entanto, não foi firmada, pois a

fast fashion ​não se dispôs a pagar o valor sugerido pela equipe de Ariana. 28

Figura 2: Comparação entre o anúncio da empresa ​Forever 21​ e imagens do videoclipe da cantora Ariana Grande 29

Outro campo do direito que figura como grande preocupação do setor industrial, em termos de responsabilização jurídica e reputação da empresa, é o direito ambiental. O mercado da moda, marcado pelo consumo e descarte cíclicos, e baseado em processos produtivos de alto impacto ambiental, encara desafios advindos de novas demandas consumeristas.

Como consequência de um público consumidor atento às causas ambientais, é de interesse das empresas a atuação em conformidade com um programa de ​compliance ​em

26 https://www.arianagrande.com/ 27 https://www.forever21.com/us/shop

28JACOBS, Julia. Ariana Grande Sues Forever 21 Over "Look-Alike" Model in Ads. ​The New York Times​, 3

de setembro de 2019. Disponível em: <

https://www.nytimes.com/2019/09/03/arts/music/ariana-grande-forever-21.html>. Acesso em 25 de setembro de 2019.

(25)

direito ambiental, com atenção às previsões legais. A importância de agir dentro de padrões éticos é essencial dentro do contexto atual, onde o público consumidor demonstra-se mais solidário às causas ambientais. Organizações de proteção aos animais, como a PETA ( ​People

for the Ethical Treatment of Animals ), travam lutas constantes contra os maus tratos aos animais promovido pela indústria da moda.

Outro tema jurídico que tem recebido grande enfoque no estudo do direito da moda é a proteção aos ativos de propriedade intelectual. A discussão é marcada por polêmicas e trata-se, ainda, de um campo repleto de incertezas, visto não haver previsão legal expressa acerca da proteção de designs de moda como uma unidade, como objetos concomitantemente funcionais e estéticos.

2.3 PROPRIEDADE INTELECTUAL NO DIREITO DA MODA

Para realizar a aplicação dos institutos de propriedade intelectual no âmbito da indústria da moda, é preciso, inicialmente, conceituar o termo. Luiz Otávio Pimentel o faz com maestria no trecho a seguir, extraído de seu Curso de propriedade intelectual e inovação no agronegócio:

A propriedade intelectual é uma espécie de propriedade sobre um bem imaterial. É um conjunto de princípios de regras jurídicas que regulam a aquisição, o uso, o exercício e a perda de direitos sobre ativos intangíveis diferenciadores que podem ser utilizados no comércio. A Propriedade Intelectual tem por objeto os elementos diferenciadores: novidade, originalidade e distinguibilidade; A "novidade" diferencia quanto ao tempo; a "originalidade" diferencia quanto ao autor e a "distinguibilidade" quanto ao objeto.30

Em material publicado em seu ​website​, a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (WIPO), agência especializada integrante do sistema ONU, explica a importância da promoção e proteção aos direitos de propriedade intelectual:

Existem diversos motivos convincentes. Primeiro, o progresso e bem estar da humanidade estar apoiado em sua capacidade de criar e inventar novos trabalhos nas áreas de tecnologia e cultura. Segundo, a proteção legal das novas criações encoraja o comprometimento de fontes adicionais para gerar mais inovação. Terceiro, a promoção e proteção da propriedade intelectual impulsiona o crescimento econômico, cria novos trabalhos e indústrias, e aumenta a qualidade e aproveitamento da vida. Um sistema de propriedade intelectual eficiente e equitativo pode ajudar todos os países a perceber o potencial da propriedade intelectual como catalisadora do desenvolvimento econômico e social e do bem estar cultural. O sistema de propriedade intelectual auxilia a atingir um equilíbrio entre os interesses

30 PIMENTEL, Luiz Otávio. ​Curso de propriedade intelectual e inovação no agronegócio. ​3a Ed. Florianópolis: Mapa, 2012. P.45

(26)

dos inovadores e o interesse público, fornecendo um ambiente onde a criatividade e a inventividade podem florescer, para benefício de todos (Tradução livre) 31

Nesse mesmo contexto, Pimentel discorre também sobre a diferença entre a exclusividade de mercado proporcionada pela propriedade intelectual - legítima - e os abusos representados pelo monopólio, prática repreendida em um sistema de livre mercado:

Na economia de mercado, hoje, o monopólio exprime a forma de organização em que uma empresa domina a oferta de determinado produto ou serviço, que não tem substituto. O fato de existir apenas um ofertante provoca uma situação de domínio que permite impor preços e alcançar o máximo de benefício. Por isso, tende a não ser tolerado no livre comércio. Pode haver a exclusividade proporcionada pela propriedade intelectual com medidas para evitar abusos de posição dominante, mas não o monopólio. 32

Em âmbito nacional, existe a previsão dos direitos de propriedade intelectual como instrumento de fomento à inovação, ​através do artigo 5o, inciso XXIX, da Constituição Federal de 1988.​In verbis:

A lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, os nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em conta o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País. 33

Adentrando o estudo dos instrumentos de proteção à propriedade intelectual, demonstra-se conveniente classificá-los, para fins didáticos. Em publicação do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), exibe-se a divisão expressa na figura a seguir:

Figura 3: Classificação da Propriedade Intelectual. 34

31What is Intellectual Property - WIPO Publication No. 450(E). P. 3. Genebra: World Intellectual Property

Organization, 2004. Disponível em:

<https://www.wipo.int/edocs/pubdocs/en/intproperty/450/wipo_pub_450.pdf>. Acesso em: 21 de outubro de 2019.

32PIMENTEL, Luiz Otávio. ​Curso de propriedade intelectual e inovação no agronegócio. ​3a ed. Florianópolis: Mapa, 2012. P. 51-52.

33 BRASIL. ​Constituição (1988). ​Constituição ​da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado

Federal: Centro Gráfico, 1988.

34JUNGMANN, Diana de Mello. Proteção da criatividade e inovação: entendendo a propriedade intelectual: guia para jornalistas. ​Brasília: IEL, 2010. P. 32. Disponível em: <http://www.inpi.gov.br/sobre/arquivos/guia_jornalista_iel-senai-e-inpi.pdf>. Acesso em: 21 de outubro de 2019.

(27)

Respeitar-se-á a ordem trazida pela figura para a abordagem dos métodos de proteção da propriedade intelectual e serão selecionados os institutos mais relevantes à presente monografia para figurarem como subtópicos, iniciando pela abordagem dos direitos autorais, discorrendo acerca dos direitos de autor e conexos, e sobre a proteção dos programas de computador. Posteriormente, discorrer-se-á acerca dos seguintes institutos de propriedade industrial: a marca, a patente, o desenho industrial e a repressão à concorrência desleal.

2.3.1. Direito de Autor

Os direitos de autor são regulados, em âmbito nacional, pela ​Lei número 9610, de 19 de fevereiro de 1998 , a qual aponta os objetos de sua proteção no sétimo artigo. 35 ​In verbis: Art. 7º São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais como:

I - os textos de obras literárias, artísticas ou científicas;

II - as conferências, alocuções, sermões e outras obras da mesma natureza; III - as obras dramáticas e dramático-musicais;

IV - as obras coreográficas e pantomímicas, cuja execução cênica se fixe por escrito ou por outra qualquer forma;

V - as composições musicais, tenham ou não letra;

VI - as obras audiovisuais, sonorizadas ou não, inclusive as cinematográficas;

VII - as obras fotográficas e as produzidas por qualquer processo análogo ao da fotografia;

VIII - as obras de desenho, pintura, gravura, escultura, litografia e arte cinética; IX - as ilustrações, cartas geográficas e outras obras da mesma natureza;

X - os projetos, esboços e obras plásticas concernentes à geografia, engenharia, topografia, arquitetura, paisagismo, cenografia e ciência;

XI - as adaptações, traduções e outras transformações de obras originais, apresentadas como criação intelectual nova;

XII - os programas de computador;

XIII - as coletâneas ou compilações, antologias, enciclopédias, dicionários, bases de dados e outras obras, que, por sua seleção, organização ou disposição de seu conteúdo, constituam uma criação intelectual.

A Lei número 9.610 considera tanto o caráter patrimonial quanto o caráter extrapatrimonial desses direitos, tendo em vista que o artigo 22 ​dispõe que pertencem ao autor os direitos morais e patrimoniais sobre a obra que criou. Essa concepção dualista é herança da noção francesa de direito de autor ( Droit d’ Auteur), ​retratada pelo trecho a seguir, extraído do artigo de Roberto Corrêa de Mello, acerca da dessemelhança do sistema brasileiro com o sistema de ​copyright​ e, alternativamente, da adequação da legislação ao sistema francês.

35_____. ​Lei n. 9610​, de 19 de fevereiro de 1998. Disponível em:

(28)

Vejamos:

Criador e criatura, segundo o ordenamento jurídico nacional, estão umbilicalmente vinculados e a soberania da vontade do titular está inderrogavelmente expressada como extensão de sua pessoa, cuidando de um analógico direito de personalidade. E tais direitos personalíssimos, tanto os morais (mandatório mandamento que determina que o autor seja sempre declarado quando da utilização da criação), quanto os patrimoniais (o direito de decisão para usar, fruir e gozar do bem imaterial) concretiza-se no plano material para absolutamente todas as modalidades de utilização — plásticas, fônicas, audiovisuais, o que determina que remunere-se o titular (seus herdeiros e sucessores a qualquer título), ao invés de remunerar-se a obra “per si”, mas sim em decorrência da autoria. Trata-se do sistema dualístico não utilitário, posto que circunscrevem-se ambos os universos (moral e patrimonial) à pessoa do criador. 36

Nesse mesmo sentido, Pimentel pontua:

O​copyright​, vocábulo jurídico inglês, é, na tradução literal, o direito de cópia. Com um viés econômico e patrimonialista, permite ao autor renunciar seus direitos morais ao negociar a sua obra, visto que esses não são englobados pelo ​copyright​. Isso significa que nesse modelo, ao contrário do Brasil, a própria autoria da obra pode ser negociada, ou seja, uma empresa pode passar a ser referida como autora da obra, por exemplo. Esse sistema protege especificamente a obra, sem considerar o processo de criação que gerou o resultado final, o que permite que a pessoa jurídica seja admitida como titular originário de direito autoral. 37

Da previsão legal e do trecho colacionado acima fica evidente que o direito de autor, em seu viés patrimonial, pode estar atrelado tanto ao autor da obra quanto a um terceiro com interesse econômico sobre a obra. Em seu viés moral, no entanto, será sempre detido por pessoa física, aquela responsável pela autoria da obra protegida.

2.3.2. Direitos Conexos

Os direitos conexos têm vinculação à existência prévia de direitos de autor e guardam relação com estes. Previstos de maneira esparsa, os direitos conexos dizem respeito às formas de expressão das obras de arte. A “Convenção Internacional para a proteção dos artistas intérpretes ou executantes, dos produtores de fonogramas e dos organismos de radiodifusão”, ratificada pelo Brasil e popularmente conhecida como Convenção de Roma, trata dessa espécie de direitos:

A denominada Convenção de Roma cuida exatamente da protetividade dos direitos conexos dos titulares já mencionados e conceitua as fisionomias jurídicas, explicitando definições precisas sobre os direitos que tocam aos intérpretes (atores, cantores, músicos, dançarinos, entre outros). Delimita a natureza jurídica dos fonogramas, trata do produtor fonográfico (a pessoa física ou jurídica que, pela

36DE MELLO, Roberto Corrêa. O copyright não cabe na ordem jurídica do Brasil. ​Revista Consultor Jurídico​,

29 de maio de 2013. Disponível em:

<https://www.conjur.com.br/2013-mai-29/roberto-mello-copyright-nao-cabe-ordem-juridica-brasil>. Acesso em: 21 de outubro de 2019.

37PIMENTEL, Luiz Otávio. ​Curso de propriedade intelectual e inovação no agronegócio. ​3a Ed. Florianópolis: Mapa, 2012. P. 273.

(29)

primeira vez fixou os sons de uma execução), e define o que seja publicação, reprodução, emissão de radiodifusão e retransmição. 38

A Lei de Direito Autoral prevê essa proteção, em seu artigo 89, o qual dispõe que "as normas relativas aos direitos de autor aplicam-se, no que couber, aos direitos dos artistas intérpretes ou executantes, dos produtores fonográficos e das empresas de radiodifusão." Importante pontuar que os direitos conexos não afetam os direitos conferidos aos autores da obra artísticas, científicas e literárias, protegidas por meio dos direitos de autor.

Ficam assegurados, portanto, tanto os direitos patrimoniais quanto os de direitos de cunho moral atrelados à obra, devendo sempre manter a autoria da obra atrelada à pessoa de seu autor e realizar-se a reprodução da obra em observância aos direitos do detentor dos direitos de autor de cunho patrimonial.

Em semelhança aos direitos de autor, os direitos conexos têm prazo de vigência também de setenta anos e não possuem necessidade de registro, apesar de que, o registro em órgãos como a Biblioteca Nacional, Agência Nacional do Cinema e Escola de Belas Artes são altamente encorajados como meio de facilitação da proteção por vias judiciais.

2.3.3. Programa de Computador

A terceira categoria contida no escopo de proteção dos direitos autorais é composta pelos programas de computador, os quais, conforme previsão do art. 7, § 1º, da Lei n. 9.610, encontram-se contemplados em lei específica, observando as disposições da Lei de Direito Autoral que lhes sejam aplicáveis.

A proteção, portanto, se dá por meio da Lei n. 9.609 , de 19 de fevereiro de 1998

, a Lei de ​Software​, que define seu objeto de proteção no artigo primeiro: 39

Art. 1º Programa de computador é a expressão de um conjunto organizado de instruções em linguagem natural ou codificada, contida em suporte físico de qualquer natureza, de emprego necessário em máquinas automáticas de tratamento da informação, dispositivos, instrumentos ou equipamentos periféricos, baseados em técnica digital ou análoga, para fazê-los funcionar de modo e para fins determinados. A definição a seguir, trazida por Gandelman, ilustra a definição legal e reforça a definição do programa de computador como conjunto de expressões de linguagem contida em

38DE MELLO, Roberto Corrêa. O copyright não cabe na ordem jurídica do Brasil. ​Revista Consultor Jurídico​,

29 de maio de 2013. Disponível em:

<https://www.conjur.com.br/2013-mai-29/roberto-mello-copyright-nao-cabe-ordem-juridica-brasil>. Acesso em: 21 de outubro de 2019.

39____. ​Lei n. 9609​, de 19 de fevereiro de 1998. Disponível em:

(30)

um suporte de ​hardware, ​que servem ao funcionamento de um dispositivo e lhe conferem funcionalidade: "​Software é a partitura, cuja interpretação amplia o alcance de nosso entendimento e eleva nosso espírito. Leonardo da Vinci chamou a música de "a criação de contornos do indivisível", e esta é até mais apropriada para descrever o ​software​.” 40

O ​software​, dessa forma, é o instrumento que realiza a ponte entre o usuário, humano, e a máquina, computador. É a linguagem através da qual o usuário de um dispositivo pode optar pela realização de diferentes comandos no funcionamento deste.

O trecho a seguir colacionado esclarece a noção do ​software como expressão de uma ideia, que, por tal natureza, merece proteção sob as normas de direito autoral:

É imprescindível perceber que o ​software​, como um meio para uma ação, é um instrumento pelo qual será processada a informação previamente determinada pelos dados fornecidos e cujo resultado é previsível. Assim, é a expressão de uma solução que merece tutela pelo direito autoral e não a solução encontrada, ou sua ideia primitiva. Portanto, não terá o idealizador qualquer direito de exclusividade sobre sua ideia, mas terá a proteção da expressão desta ideia materializada nas soluções expressas no programa de computador que desenvolveu. 41

Nesse sentido, observa-se que relevância do ​software está atrelada não à novidade da ideia que ele expressa, mas ao fato de esta ideia encontrar-se expressa de forma a instruir o funcionamento de uma máquina. Quando tratamos da proteção de um programa de computador através dos direitos de autor, portanto, o caráter dessa proteção é diferente do conferido por uma patente, a qual, conforme abordar-se-á em tópico futuro, protege uma solução técnica. Não estamos a proteger uma solução técnica, mas a expressão desta solução. É por este motivo que podemos observar a criação de ​softwares incorporando uma mesma ideia ou uma série de mesmas ideias, sem gerar infração a direitos autorais, desde que estas ideias estejam dispostas de modos diversos, de forma a criar conjuntos de instruções que diferem entre si e resultam num funcionamento diferente do meio físico a qual estão aplicados, o ​hardware ​onde estes ​softwares​ ganham expressão.

O registro do programa de computador pode ser realizado no próprio Instituto Nacional de Propriedade Intelectual, sendo o prazo de proteção de cinquenta anos, com início no dia primeiro de janeiro do ano subsequente ao da sua publicação ou, da sua criação, caso não publicado.

40GANDELMAN​, Henrique.​ De Gutemberg à Internet​. São Paulo: Record, 1997. P. 119

41PIMENTEL, Luiz Otávio (Org.); CAVALCANTE, Milene Dantas. PLATIC: arranjo produtivo catarinense: volume II – ​A proteção jurídica da propriedade intelectual de software: noções básicas e temas relacionados. ​Florianópolis: IEL, 2008. P. 37.

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