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ÉTICA NO JOVEM SARTRE: A RELAÇÃO HOMEM E MUNDO.

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Academic year: 2021

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Universidade Federal do Ceará Campus Cariri

3o Encontro Universitário da UFC no Cariri

Juazeiro do Norte-CE, 26 a 28 de Outubro de 2011

ÉTICA NO JOVEM SARTRE: A RELAÇÃO HOMEM E

MUNDO.

Pedro Nogueira Farias1

Resumo: A intenção presente é explorar primeiramente a enfática concepção de

consciência em germinação no jovem Sartre por intermédio das obras A Transcendência

do Ego e A Náusea, atentando aos seus desenvolvimentos conceituais consoantes, tendo

em vista prosseguir no escrutínio da relação homem e mundo. As obras elucidam concomitantemente, por vias diferentes, o alvorecer do plano ético sartriano, onde, em princípio, será abordada a temática inicial: uma ênfase ao desvelamento do mundo humano relacionado à concepção de homem no mundo. Trata-se de deparar-se com a natureza das coisas do mundo como também da própria consciência como contingentes, traçando, circunstanciadamente, o despertar de uma relação que se depara com a absurdidade que será a constatação da existência humana como gratuidade e contingência, abrindo-se então um horizonte, que, prefaciado por essa relação angustiante, prevaleça uma melhor compreensão a respeito dos desdobramentos éticos até então esboçados. Para uma filosofia que só pode ser constituída a partir de experiências reais, concretas, nas obras literária de Sartre são expostas diversas situações que configuram a existência, questões que se propõem um examinar mais aguçado, uma compreensão dos problemas que se apresentam em todos os instantes para a consciência sempre no âmbito de sua relação perante o mundo.

Introdução:

Há uma dificuldade para compreender a ética existencialista, e esse problema refere-se principalmente à ambigüidade e ao radicalismo da liberdade: noção central da filosofia existencialista. É exigido um exame dessa ambigüidade para a compreensão ética. A liberdade radical deriva exatamente do fato de que ela diz respeito unicamente às escolhas que o ser humano pode fazer.

Abordar a ética existencialista significará tratar da liberdade, pois não podemos pensar a ética como uma responsabilidade de exercer regras pré-estabelecidas, seria como uma contradição, pois para uma liberdade radical não entra em consonância com um dever obedecer ou não normas ou preceitos. Responsabilidade não teria sentido se

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Mestrando em Filosofia pela Universidade Federal do Ceará. Endereço eletrônico: pedrofariass@hotmail.com.

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houvesse um condicionamento ou determinismo precedendo uma ação2, como se nossas

ações fossem simplesmente uma resposta mecânica ou automática.

Admitir a liberdade absoluta é a exigência da responsabilidade absoluta. Para Sartre, no homem há sempre a anterioridade da existência como também há sempre a permanência da questão do sentido voltado sobre si. Se associarmos essas duas afirmações o que se desvendará é a ação. Reitera Sartre que a condição básica de qualquer ação é certamente a liberdade daquele que atua, pois, “a condição fundamental do ato é a liberdade”.3 Toda ação humana é constituída pela liberdade sempre inserida

na história e todo fato histórico é contingente, derivando que toda ação humana e todo fato histórico é contingente enquanto livre. Nessa relação entre ação histórica e liberdade, que estabelece o âmago ético da existência, todas as ações são originadas de escolhas livres. Sendo que cada ação se realizará em um revestimento histórico de um compromisso ético.

O processo existencial é definido pela sucessão de escolhas morais, através de valores e fins que invento no decorrer da minha existência e que persigo. Compreender a moral sartriana é assumir que não existem valores a priori capazes de determinar a ação humana. Esse projeto ético-existencial de constituição do ser humano através de ações, da liberdade, não é outra coisa do que o exercício de si mesmo.

O projeto de uma liberdade implica a previsão e a aceitação das mais diversas resistências, e sua realização está no enfrentamento. É necessário admitirmos certa margem de imprevisibilidade decorrente da independência das coisas em relação ao homem. Por esse motivo “todo projeto da liberdade é projeto em aberto, e não projeto fechado”.4

É notável que no projeto ético sartriano o romance comporta-se numa relação de complementaridade entre o pensamento filosófico e a expressão literária, ou melhor, as duas formas de expressão desenvolvem uma relação recíproca, onde os temas filosóficos de Sartre tornam-se concretos, tornam-se um equacionamento, uma exigência da expressão literária na expressão multifacetada do concreto, equacionamento esse que, por meio de ficção, dá-se também como uma forma de enfretamento na vida real, no mundo dos homens.5

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Ação é a atividade surgida da livre intenção de um agente, e, portanto não submetida a qualquer compulsão ou poder coercitivo, sendo sempre uma atividade prática, concreta, que intervém no real em contraste à passividade de uma atitude puramente especulativa ou teórica. E agir é se constituir é fazer-se a cada ação realizada.

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Sartre, Jean-Paul. O Ser e o Nada, p. 541. 4

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Sartre, Jean-Paul. O Ser e o Nada, p. 623. 5

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Metodologia:

Primeiramente, trataremos do contexto filosófico do autor para que possamos ter um melhor acesso à obra literária. De início, iremos abordar a obra A Transcendência

do Ego, escrita na mesma época de A Náusea, na qual teremos acesso ao pensamento

filosófico do jovem Sartre, que irá tecer críticas ao Espiritualismo e ao Idealismo, bem como mostrar sua aproximação com o pensamento de Husserl, mais especificamente, expressando seu elogio ao conceito de intencionalidade. Depois desta primeira abordagem do pensamento do jovem Sartre, finalizaremos essa primeira parte do trabalho fazendo uma primeira menção às relações entre filosofia e literatura segundo o autor. Posteriormente, investigaremos questões internas à obra A Náusea: trataremos sobre os processos de constatações que a personagem Roquentin tem com o mundo a sua volta, que analisam e desenvolvem narrativamente as explorações do jovem Sartre sobre a problemática da consciência.

Tentaremos, sempre que possível, mostrar os elementos narrativos contributivos para o esclarecimento filosófico da existência. Em seguida, notaremos a evolução narrativa da existência constatada como contingência, e estudaremos o desdobramento existencial e ético da personagem principal Antoine Roquentin. Finalmente, iremos abordar, também, as tentativas de fuga do herói do romance perante a revelação da existência como contingência.

Resultados e discussão:

É notável o teor pessimista que se configura no decorrer do romance A Náusea a respeito da questão da absurdidade, quando, oportunamente, questões sobre a razão da vida mostram-se sem sentido. Muitos críticos direcionaram-se em relação ao tratamento dessa questão, muitos, ora, viram nisso, nesse posicionamento de Sartre, uma obra que não teve nada a acrescentar em relação a uma moral, pois somente a constatação dessa “evidência” não traria nada além, quanto mais uma resposta concreta ao mundo.

Nesse contexto crítico sobressai o pensamento de Camus, onde escreverá em A

inteligência e o cadafalso que em qualquer vida, até as mais bem estruturadas, há o

desmoronamento de seu mundo, e que surge questionamentos acerca dos porquês da vida, das coisas, do futuro. Por que tudo isso, se tudo não tem razão de ser, tudo calcado nessa absurdidade?

Isso é comum a todos, essa angústia atinge a todos. Se ficarmos aprofundando e nos “afundando” nas idéias, constatações sempre voltadas à absurdidade estampada à frente, iremos tornar o constatável em um coeficiente anulador da vida, e todo esse julgamento se torna inútil, cria a angústia. “De tanto viver remando contra a corrente, um desgosto, uma revolta toma conta de todo o ser, e a revolta do corpo chama-se náusea”.6

No romance de mesmo nome, Sartre constata a absurdidade da vida, mas somente a apresenta. Camus observa na obra mencionada, que a constatação do absurdo é algo que iremos nos deparar fatalmente e que constatar a absurdidade “não pode ser um fim, mas

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apenas um começo” 7. Não vale apenas desvelar esta absurdidade da vida. Dessa

constatação temos que partir para enfrentar suas conseqüências para a realidade humana. É a partir da absurdidade que, portanto, deveremos agir, determinando moralmente nossas ações perante a contingência radical de nosso mundo presente, no qual estamos condenados à liberdade.

Conclusão:

Na obra teórica a reflexão sempre condiz em delimitações reducionistas, não condiz com a realidade humana que só é compreendida nas inscrições determinadas de cada indivíduo. As considerações a respeito das circunstancias particulares entre os homens em sua situação histórica, tornam-se o campo de compreensão acerca do desempenho de suas condutas éticas.

Para uma filosofia que só pode ser constituída a partir de experiências reais, concretas, nas obras literárias de Sartre são expostas diversas situações que configuram a existência, questões que se propõem um examinar mais aguçado, uma compreensão dos problemas que se apresentam em todos os instantes para a consciência sempre no âmbito de sua relação perante o mundo. Aqui a realidade humana é posta em questão e, na concepção existencialista da realidade humana, não se constitui em tentar apreender uma essência, mas sim a concepção de que a realidade humana é aquilo que a cada momento se faz de si mesma. A lucidez em relação à existência, em relação ao desvelo da realidade humana, tem papel fundamental. É a partir dessa definição, como existência e contingência, que o homem também se definirá pelo comprometimento e pela ação, recusando o conjunto da tradição contemplativa.

Finalmente, ao lado do aprofundamento conceitual da fenomenologia existencialista promovida pela literatura, se desvela a última e talvez mais nobre tarefa da narrativa sartriana: a função ética e social do enfrentamento da realidade concreta da situação presente do absurdo.

Referências Bibliográficas:

BATALHA, Wilson de Souza Campos. A filosofia e a crise do homem: panorama da

filosofia moderna de Descartes a Sartre. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1968.

BORNHEIM, Gerd. Sartre. Metafísica e existencialismo. 2ª ed., São Paulo. Perspectiva, 1984.

CAMUS, A. A Inteligência e o Cadafalso. Record, Rio de Janeiro,199? GOMEZ-MÜLLER, A. Sartre – de la nausée à l´éngagement. Kiron, 1992.

JOLIVET, Regis. Las doctrinas existencialistas: desde Kierkegaard a J. P. Sartre . Madrid: Editorial Gredos

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MORAVIA, Sergio. Sartre. Lisboa: Edições 70, 1985.

MOUTINHO, Luiz Damon Santos. Sartre: psicologia e fenomenologia . São Paulo: Brasiliense, 1995.

SARTRE, Jean-Paul. A Transcedência do Ego. Seguida de Consciência de si

Conhecimento de si,. Tradução e Introdução de Pedro M. S. Alves. Lisboa: Edições

Colibri, 1994.

SARTRE, Jean-Paul. La Transcendance de l ´Ego. Paris. Vrin, 2003. 72

SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um Humanismo. 3.ed.São Paulo: Abril Cultural,1987.

SARTRE, Jean-Paul; BRAGA, Rita. A Náusea. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983. SARTRE, J-P. O Ser e o Nada. Vozes, São Paulo, 2001

SARTRE, Jean-Paul. “Uma idéia fundamental da fenomenologia de Husserl: a intencionalidade”. In: Situações I: Europa – América, 1968.

Silva, Franklin Leopoldo e. Ética e literatura em Sartre: ensaios introdutórios. São Paulo, SP: UNESP, 2004.

Referências

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