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AMETEOROLOGIA E A SEGURANÇA DA NAVEGAÇÃO FLUVIAL NA AMAZÔNIA:ESTUDO DE CASO DE

NAUFRÁGIO OCORRIDO EM 20 DE AGOSTO DE 2006.

João Paulo Nardin Tavares1, Antônio José da Silva Sousa2, David Nogueira dos Santos3, Leidiane Leão de Oliveira4

RESUMO

No dia 20 de agosto de 2006, um barco naufragou no Rio Negro, no Amazonas, sob chuva e ventos fortes. Onze pessoas morreram e 93 foram resgatadas. Para analisar as condições meteorológicas foram analisadas as imagens de satélite do dia e dados de superfície de uma plataforma de coleta de dados situada próxima ao local do acidente. As imagens de satélite mostraram numerosas nuvens Cumulonimbus na região, que provocaram tempo severo atingindo a embarcação. O trabalho mostra a importância da meteorologia para contribuir com a segurança da navegação fluvial na Amazônia, o principal meio de transporte da região.

ABSTRACT

In August 20, 2006, a boat sunk in Rio Negro, Amazonas, under heavy rain and winds. 11 people died and 93 were rescued. The GOES-12 satellite images of the day, rawinsond of SBMN and surface data of Moura Data Collector System were analyzed. The data revealed us instability, with high values of humidity in the moisture, wich developed numerous Cumulonimbus Clouds in that area, making the boat to sink. This could be predicted before. This paper intends to show the importance of meteorology to safer navigation on Amazonian Rivers.

Palavras-Chave: Naufrágio, Tempo Severo, Amazônia

INTRODUÇÃO

A Bacia Amazônica possui uma área estimada de 6,3 milhões de km², sendo que aproximadamente 5 milhões estão em território brasileiro; Seus rios, que nutrem cerca de 5,8 milhões de km² de floresta, descarregam no Oceano Atlântico um volume de água doce médio estimado em 209.000 m³/s. A região tem clima tropical úmido, com uma precipitação média de 2300 mm por ano, fortemente influenciada pela sazonalidade das chuvas; no oeste da Amazônia as chuvas são bem

1

Bacharel em Meteorologia, Universidade Federal do Pará –UFPA. End.: Av. Visc. Souza Franco, 1065 apto. 1501 Reduto – Belém – PA CEP: 66053-000 e-mail: jpnt25@gmail.com

2

Mestrando em Meteorologia, Universidade Federal de Alagoas – UFAL. End.: Av. Lourival de Melo Mota, S/N BR-104 km14. Tabuleiro do Martins – Maceió – AL CEP: 57070-972 e-mail: ajssousa2001@yahoo.com.br

3

Mestrando em Meteorologia, Universidade Federal de Campina Grande – UFCG. e-mail: david_nsantos@yahoo.com.br

4

Mestranda em Meteorologia, Universidade Federal de Campina Grande – UFCG. End.: Av. Aprígio Veloso, 882 Bloco Cl Bodocangó – Campina Grande – PB CEP: 58109-970 e-mail: leidianeoli@yahoo.com.br

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distribuídas ao longo do ano enquanto no leste apresenta-se uma pequena estação seca. As chuvas são geralmente na forma de pancadas ou chuvas fortes, provenientes, na maior parte, de nuvens Cumulonimbus (Cb), que são nuvens de grande desenvolvimento vertical, causadoras de trovoadas.

Devido a essas características naturais, a capital do Estado do Amazonas, Manaus, é situada na margem do Rio Negro, assim como a maioria das cidades, para facilitar a comunicação e o transporte fluvial, desde que auto-estradas são praticamente inviáveis e o avião, muito caro para o baixo poder aquisitivo da maioria da população. Essas embarcações são muito precárias, não têm uma rotina de manutenção, não dispõem de equipamentos eletrônicos como GPS, radar, sonar e outros a bordo, geralmente não possuem sequer bússola, tampouco botes de sobrevivência. Em muitos casos nem os coletes salva-vidas são adequados. Isso as torna muito vulneráveis às condições de tempo severo, tais como chuvas fortes, ondas agitadas, rajadas de vento e até mesmo trombas d’água.

Ocasionalmente, essa vulnerabilidade tem um desfecho fatal, como o que ocorreu no dia 20 de agosto de 2006, em que ao menos 11 pessoas morreram e 93 foram resgatadas do barco “Princesa Laura” que saiu no dia 19 de agosto do município de Barcellos, distante 400 km de Manaus (Figura 1), e naufragou domingo à tarde no Rio Negro, perto da Baía do Buiuçu, próxima à localidade de Novo Airão, a 60 km ou três horas de viagem do destino, Manaus.

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Os barcos regionais costumam transportar carga, bagagens, animais e passageiros no mesmo local, dificultando a saída de muitas pessoas. Este barco, o “Princesa Laura”, de três andares, não chegou a afundar totalmente (figura 2), pois, em seu porão, havia grande quantidade de piaçava, uma fibra natural que utilizada como matéria prima de vassouras, o que manteve o casco flutuando. Segundo a Capitania dos Portos do Amazonas, a embarcação tinha autorização para fazer a rota. Ainda de acordo com a Capitania, chovia forte no momento do naufrágio e, segundo sobreviventes, durante a tempestade uma forte rajada de vento fez a embarcação virar e a correnteza arrastou o barco já naufragado por aproximadamente 500 metros.

No período dos meses agosto-setembro nessa região pode haver o desenvolvimento de tempestades com grande desenvolvimento vertical, porque nessa época do ano o contraste de temperatura entre as massas de ar tropical e a polar que avança pelo sul do país através de frentes frias provoca um aumento na instabilidade da atmosfera, além do forte aquecimento provocado pelo ângulo solar, que está quase no equinócio (ao zênite da linha do Equador).

Sabe-se que ventos fortes provocam agitação das águas do mar (ou rio, nesse caso, com grandes proporções), levantando ondas muito altas, desestabilizando a embarcação que se encontrar em tais condições.

Figura 2: O “Princesa Laura” naufragado Fonte: webnáuticos

O objetivo deste trabalho é identificar as condições meteorológicas predominantes no local e no momento do acidente, a fim de fornecer mais informações sobre os efeitos do tempo severo sobre a navegação fluvial e, assim, garantir subsídios à prevenção de acidentes. Justifica-se essa pesquisa pela exposição da mesma em seminários e encontros regionais de navegação, divulgação pela Capitania dos Portos e Comando do Distrito Naval e sindicatos de classe, despertando interesse coletivo para a segurança da navegação, usufruindo dos serviços prestados pela previsão meteorológica.

MATERIAIS E METODOLOGIA

Para realizar tal estudo, foram coletadas as imagens no canal visível, do satélite GOES-12, sobre a América do Sul, no período de 11:30Z a 21:30Z do dia 20/08, disponíveis no site do CPTEC-INPE. Usando os dados do satélite de órbita geoestacionária (Goes-12), com suas imagens em intervalos de 1h, e a técnica de animação, a observação do padrão de nuvens pode ser facilitada – uma trovoada individual aparecerá com muito brilho na imagem de satélite, desde que seja muito espessa e com o topo muito frio (FERREIRA, A.G). A trovoada pode aparecer na forma quase circular, globular ou triangular, dependendo da intensidade dos ventos no topo da nuvem. Isso permite se observar o movimento e a sua direção, o desenvolvimento e outras características em um pequeno intervalo de tempo. Embora com as imagens de satélite seja possível ver as nuvens se movendo e crescendo, a

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imagem não permite sempre mostrar as características exatas da trovoada e o seu potencial de produzir o tempo severo. Por isso buscou-se informações de precipitação da plataforma de coleta de dados de Moura (061°62’W, 01°46’S). Moura foi escolhida por se situar a montante do local do acidente e sob a área de influência da tempestade. Levou-se em consideração, ainda, a análise do padrão de circulação da atmosfera do dia realizada pela meteorologista Virgínia de Fátima Bezerra Nogueira, do CPTEC. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Pela análise das imagens de satélite (figura 3(a,b e c)), se postas em animação, observou-se a convecção na região Norte do Brasil, devido à instabilidade tropical, que favoreceu a formação de algumas nuvens Cumulonimbus isoladas com topo muito brilhante, em especial a de forma arredondada que se desenvolve à tarde na região do acidente.

Figura 3(a) – Imagem de Satélite do dia 20/08 às 16:00Z

Figura 3(b) – Imagem de Satélite do dia 20/08 às 17:00Z

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Esta nuvem (apontada pela seta vermelha) é identificada na imagem de satélite como sendo uma Cumulonimbus (Cb). Esse tipo de nuvem convectiva cresce, inicialmente, na fase de Cumulus, devido à instabilidade da atmosfera e suprimento de calor e umidade. Nessa fase há nenhuma ou pouca chuva, na forma de pancadas rápidas; Na fase de maturidade, predominam correntes ascendentes e descendentes, a nuvem já está bem desenvolvida e produz chuvas fortes, rajadas de vento e descargas elétricas; Na última fase, a de dissipação, a nuvem se enfraquece, a chuva passa a ser contínua e não há mais raios. Movimentos descendentes do ar predominam.

A nuvem estudada persistiu durante 3 horas ou mais, provocando todo o estado de tempo denunciado nas estações de superfície: chuva forte e variações bruscas na direção e intensidade do vento (rajadas), agitando as águas do Rio Negro o suficiente para desestabilizar o barco e virá-lo. A figura 4 ilustra graficamente a precipitação ocorrida na superfície em Moura, mais representativa das condições ambientiais no momento do acidente do que Manaus, já que o acidente ocorreu a 400 km de distância a montante desta cidade. Moura se encontrava no meio do percurso e, no mapa, mais diretamente abaixo da tempestade.

Figura 4(a): Gráfico de chuva na Estação Moura. Observar o aumento rápido na precipitação acumulada em horas (10 mm) no período do acidente.

Embora a estação não esteja localizada in situ, ela está na área de abrangência da nuvem vista nas imagens de satélite, próxima ao local do acidente. O gráfico nos mostra precipitação na forma típica de pancadas, provenientes da mesma nuvem.

O perfil termodinâmico da atmosfera fornecido pela radiossondagem feita às 12:00Z (08:00 da manhã) no Aeroporto de Manaus (SBMN), apresenta a Energia Potencial Disponível para Convecção (CAPE) de aproximadamente 839 J/kg (um valor baixo para produzir convecção), porém o valor do índice K (usado para previsão de trovoadas) foi igual a 33, o que corresponde à formação de Cb’s numerosos. Embora Manaus esteja localizada a 400 km do local do acidente, a análise da radiossondagem revela uma atmosfera instável, mesmo nesse horário, o que favorece a convecção.

A análise do padrão de circulação feita pela meteorologista Virgínia de Fátima Bezerra Nogueira, do CPTEC-INPE a partir do modelo Global de 00h do dia 20/08/06, em níveis altos (250 hPa), mostrava um escoamento difluente de sudoeste e convecção no setor noroeste da América do Sul, um cavado associado a uma frente fria que estava no oceano Atlântico na altura do litoral norte de São Paulo e acoplado a esse sistema um ramo do jato polar. Nos níveis baixos próximos à superfície, o padrão de circulação indicava os valores mais elevados de água precipitável no norte do Brasil,

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principalmente no noroeste da região norte. Segundo a análise, estes elevados valores estiveram associados a pulsos da Zona de Convergência Intertropical.

CONCLUSÃO

As imagens de satélite mostraram uma nuvem com topo muito brilhante, uma Cumulonimbus, cobrindo a região do acidente e que persistiu por mais de 3 horas, responsável pela chuva e ventos fortes que causaram o naufrágio do barco “Princesa Laura”. A análise do modelo revelou que altos valores de água precipitável na região norte e convecção foram influenciados por pulsos da Zona de Convergência Intertropical. Essas condições de tempo na região foram previstas com antecedência.

A meteorologia tem que servir, acima de tudo, à sociedade, e um de seus ramos para esse fim é a meteorologia aplicada à navegação marítima e fluvial. A meteorologia aplicada à navegação visa a segurança, fornecendo previsão de tempo, alertas de tempo severo, possibilidade de ocorrência de ventos e ondas fortes, tábua de marés, visibilidade horizontal, etc. A navegação na Amazônia é sujeita às condições ambientais da região mas nem por isso deve ser colocada como vítima dessas condições. O planejamento das viagens por parte dos comandantes, será muito mais seguro se for incluída uma consulta à previsão de tempo na sua rota, assim como fazem os aeronavegantes. Por outro lado, autoridades e empresários também devem fazer a sua parte, pensando no bem-estar da sociedade, se procurarem os meteorologistas para lhes fornecer suporte.

AGRADECIMENTOS

Aos professores Dimitrie Nechet e Maria Aurora Santos da Mota (DM-UFPA) pela orientação neste trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FERREIRA, A.G. Interpretação de Imagens de Satélites Meteorológicos: Uma visão Prática e Operacional do Hemisfério Sul. Brasília: Stilo, 2002.

NOGUEIRA, V.F.B. (CPTEC-INPE Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos.) Disponível em: <www.cptec.inpe.br> Acesso em: 21/08/06

Webnáuticos – Naufrágio deixa 11 mortos no Rio Negro. Disponível em: <http://www.webnauticos.com.br/ntc/default.asp?Cod=70> Acesso em: 21/08/06

Época Revista On Line – Naufrágio em Manaus deixa ao menos 15 mortos. Disponível em: <http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG66574-6009-331,00.html> Acesso em: 21/08/06

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