DEZEMBRO/1998
Patrocínio da Associação Paulista de Magistrados
Conforme estudos do desembargador paulista Geraldo Gomes, "num grama de maconha, o THC, que é o elemento respon-sável pela produção da euforia, correspon-de a 10 mg. Mas, sendo absorvido apenas metade pelo acusado, não é mesmo bastante para gerar distorções psíquicas, em face do metabolismo" (RT 585/290).A ementa do acórdão relatado pelo emi-nente desembargador Ladislau Fernando
Rohnelt, do egrégio Tribunal de Justiça do
Rio Grande do Sul, também expressa de modo contundente o núcleo da máteria em análise:
"Crime de tóxico. É crime de perigo contra a saúde pública. Não se tipifica, portanto, quando a maconha, por tão pe-quena sua quantidade, não pode conter o mínimo de tetrahidrocanabinol capaz de criar aquele perigo, que é o estado de dependência. Nenhum tipo penal é instituí-do pela lei para existir por si mesmo, sem um sentido finalístico definido. (...) Por isso não se pode considerar como típica a con-duta de portar substância entorpecente sem a indispensável presença do perigo comum, que vem a ser, precisamente, o elemento necessário para que haja a consumação delituosa"(4).
Como observou com extrema lucidez o desembargador Dante Busana, a atuação do Direito Penal é vinculada a danosidade da conduta, "de tal sorte que a lei penal deve ser interpretada de modo a limitar a punibilidade aos fatos ofensivos do bem jurídico. Trata-se — conclui o douto magis-trado — de princípio hoje pacífico na dou-trina. Apenas se for ofendido o bem jurídi-co que a norma quer tutelar é que pode surgir o ilícito"(5).
Há muito se abandonou aquela antiga concepção que via na tipicidade um mero juízo lógico formal de subsunção do com-portamento humano ao modelo descritivo legal.
Modernamente, para ser típica, além de se ajustar a uma moldura legal, a conduta
deve ser materialmente lesiva a bens jurí-dicos, a ponto de fazer atuar o Direito Penal,
pois, como advertem Cezar Roberto
Biten-court e Luiz Régis Prado, "nem sempre
qualquer ofensa a esses bens ou interesses é suficiente para configurar o injusto típi-co"(6).
As ofensas insignificantes ao bem jurídi-co não devem ser jurídi-consideradas. De bagate-las não se ocupa o Direito Penal. Este, como acentua Antonio Garcia-Pablos de
Moli-na, "sólo protege los bienes más valiosos
para la convivencia; lo hace, además, ex-clusivamente frente a los ataques más
O Princípio da Insignificância
Como Excludente da Tipicidade
em Casos de Ínfima Quantidade
de Droga Apreendida
(Art. 16 da Lei nº 6.368/76)
mente risco ao bem jurídico tutelado, falta-lhe a ratio essendi incriminadora".
No julgamento do Recurso Ordinário Constitucional nº 7.205/RJ, cuja relatoria ficou a cargo do eminente ministro José
Dantas, a 5ª Turma deste mesmo Superior
Tribunal de Justiça, aplicando o princípio da insignificância, decidiu que a conduta de trazer consigo, para uso próprio, trezentos miligramas de "maconha", era atípica.
A ementa desse julgado, publicada no DJU do dia 18.05.98, p. 116, ganhou a seguinte redação:
"Penal. Entorpecente. Quantidade ínfi-ma. Atipicidade (art. 16 da Lei nº 6.368). Concede-se a ordem de trancamento da ação penal, em face da ínfima quantidade de 'maconha', em cujo uso foi flagrado o ora paciente, assim configurado o chamado princípio da insignificância"(3).
O tema não é pacífico. O Supremo Tribu-nal Federal, por exemplo, sempre entendeu que a circunstância de ser ínfima a quantida-de da droga "não prejudica a configuração da tipicidade do crime previsto no art. 16 da Lei nº 6.368/76, que está vinculada às pro-priedades das drogas, ao risco social e de saúde pública e não à lesividade comprova-da em cacomprova-da caso concreto" (RTJ 112/1186, 119/874 e RT 613/434, 614/402, 651/373).
No mesmo sentido do Pretório Excelso, afirmando que a pequena quantidade de droga não desnatura o delito, orienta-se em sentido majoritário a jurisprudência do egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo (RT 714/351, 715/447, 716/423, 717/383, 718/381, 732/623, 736/625).
Pensamos, contudo, que a melhor exe-gese sobre essa polêmica questão está com o Superior Tribunal de Justiça. É que, em tais hipóteses, face a diminuta quantidade de entorpecente, o grau de lesão ao bem jurídico saúde pública — objeto de tutela por parte do art. 16 da Lei nº 6.368/76 — é tão inexpressivo que não justifica a inter-venção penal.
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Superior Tribunal de Justiça, atra-vés de decisões recentes de suas duas Tur-mas encarregadas do julgamento de matéria criminal, voltou a entender que a ínfima quantidade de entorpecente para uso pró-prio não caracteriza o delito do art. 16 da Lei nº 6.368/76.O ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, ilustre integrante da 6ª Turma, ao proferir seu voto no julgamento do Recurso Ordiná-rio Constitucional nº 7.252/MG(1), assim expressou a questão:
"Todo crime, além da conduta, tem re-sultado. No caso, prevenir a saúde, o bem estar físico do paciente para não sofrer dependência física ou psíquica, à qual a lei se refere. Tratando-se, no caso concreto, de um cigarro de maconha e não havendo in-formação desse comportamento traduzir repetição, seqüência de outros da mesma natureza, é evidente que a pequena quanti-dade não é bastante para causar o evento. Se houve a conduta, não houve, entretanto, o resultado relativamente relevante. É im-portante demonstrar se a substância trazia potencial para afetar o bem juridicamente tutelado".
Em outra oportunidade, essa mesma 6ª Turma, à unanimidade de votos, sendo tam-bém relator o preclaro ministro
Cernic-chiaro, concluiu:
"O crime, além da conduta, reclama — resultado — no sentido de provocar dano, ou perigo ao bem jurídico. O tráfico e o uso de entorpecentes são definidos como delito porque acarretam, pelo menos — perigo para a sociedade ou ao usuário. A quanti-dade ínfima, descrita na denúncia, não projeta o perigo reclamado"(2).
No corpo deste último aresto, com apoio nas precisas lições contidas no parecer do ilustre subprocurador geral da República
Francisco Ribeiro de Bonis, restou
consig-nado:
"...Com efeito, se a substância, por sua ínfima quantidade, não oferece
dido na posse de ínfima quantidade de droga para uso próprio, seja tratado como crimi-noso ou mesmo dependente, ainda mais quando se sabe que a lei penal nesse ponto, além de não ser fator eficiente de preven-ção, apenas estigmatiza e marginaliza.
Diante do exposto, em vista da nova orientação adotada pelo Superior Tribunal de Justiça sobre o tema comentado, espera-se que a jurisprudência de nossos tribunais estaduais também passe a reconhecer que a ínfima quantidade de droga não tem o con-dão de lesionar o bem jurídico tutelado pelo art. 16 da Lei nº 6.368/76.
O Supremo Tribunal Federal, apesar de ainda não ter tido a oportunidade de nova-mente enfrentar essa questão, já deu mos-tras que poderá rever sua jurisprudência a respeito, tanto assim que em data recente decidiu que "uma vez verificada a insignifi-cância jurídica do ato apontado como deli-tuoso, impõe-se o trancamento da ação pe-nal por falta de justa causa. A isto direcio-nam os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade"(9).
É esperar para ver.
NOTAS
(1)Rel. originário ministro Anselmo Santiago, rel. intolerables de que puedan ser objeto
(na-turaleza 'fragmentaria' de la intervención penal)"(7).
Na Holanda, mais precisamente em Amsterdã, relatam Jules Woertel e Roel
Kerssemarkers(8), a legislação não pena-liza o agente que porta, para consumo pessoal, até 5 gramas de "drogas leves" (cannabis e haxixe). Entende-se, nessa hipótese, que a conduta é desprovida de potencialidade lesiva e que, face a peque-na quantidade, não há perigo de dissemipeque-na- dissemina-ção do tráfico.
A título ilustrativo, vale o registro de que existe em Amsterdã, ainda segundo esses últimos autores, um projeto formulado pelo Ministério Público para convencer depen-dentes a submeterem-se a tratamento sob pena de eventual detenção prisional. Assim, quando uma pessoa é apanhada em flagrante delito e a polícia verifica que ela já foi detida cinco ou mais vezes durante o ano precedente, o Ministério Público solicita a emissão de um mandado de detenção provi-sório, cuja execução fica suspensa sob a condição de a pessoa aceitar submeter-se ao programa de tratamento (o que implica a estrita obediência às instruções da institui-ção que realiza o programa).
De qualquer maneira, o fato é que não se
(2)REsp. nº 154.840/PR, j. 18.12.97, v.u., DJU 06.04.98. Ementa publicada no Boletim IBCCrim nº 66/254, maio de 1998 — grifos da reprodução.
(3)Ementa também publicada no Boletim IBCCrim nº 67/262, junho de 1998.
(4)AC nº 68006024, in "Leis Penais e sua
Interpre-tação Jurisprudencial", Alberto Silva Franco
e outros, 1995, pp. 782/783, sem grifos no ori-ginal.
(5)TJ/SP, Ap. Crim. nº 208.075-3/SP, 5ª CCrim., j. 17.04.97, v.u., in Boletim IBCCrim, nº 59/210 — grifos da reprodução.
(6)Revista Brasileira de Ciências Criminais, nº 15/87, ano 4, jul-set de 1996.
(7)"Derecho Pernal Introducción", Universidad Complutense de Madrid, 1995, p. 40. (8)"Droga - a experiência holandesa" e "A política
holandesa para a heroína, a cannabis e o ecsta-sy", in Revista do Ministério Público de
Portu-gal, ano 18, out-dez, 1997, pp. 123/132 e pp.
133/141, respectivamente.
(9)STF, HC nº 77.003/PE, 2ª Turma, rel. min. Marco Aurélio, Informativo STF nº 122 de 16.09.98. Ementa também publicada no Bole-tim IBCCrim nº 72/301.
O autor é advogado criminalista em São Paulo e editor do Boletim do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais - IBCCrim.
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Boletim IBCCrim
IBCCrim
IBCCrim nº 73/Jurisprudência - Dezembro/1998
309
Exame de
prova nova em
habeas-corpus.
Admissibilidade
"(...)Documento novo apresenta-do pelos impetrantes (...), que vem corroborar os elementos já existentes nos autos, de conteú-do suficiente para a aplicação conteú-do dispositivo legal.
A rigor, dada a natureza de nova, a prova deveria ser exami-nada em sede de revisão crimi-nal, por não compadecer a via do habeas-corpus com o reexame de provas. Apreciação que, toda-via, se faz ante a excepcionali-dade da situação.
Reconhecimento da extinção da punibilidade pela prescrição superveniente à condenação, em face do tempo transcorrido entre a data do julgamento e o respec-tivo trânsito em julgado.
Habeas-corpus deferido." (HC nº 77.298-4/RJ, 1ª Tur-ma, rel. min. Ilmar Galvão, j. 30.06.98, v.u., DJU 06.11.98, p. 2).
Exigir o
material gráfico
do imputado
equivale a exigir
sua auto-acusação
"Habeas-corpus. Crime de desobediência. Recusa a forne-cer padrões gráficos do próprio punho, para exames periciais, visando a instituir procedimento investigatório do crime de falsi-ficação de documento. Nemo tenetur se detegere.Diante do princípio nemo te-netur se detegere, que informa o nosso direito de punir, é fora de dúvida que o dispositivo do inciso IV do art. 174, do Código de Processo Penal, há de ser in-terpretado no sentido de não po-der ser o indiciado compelido a fornecer padrões gráficos do próprio punho, para os exames periciais, cabendo apenas ser intimado para fazê-lo a seu alve-drio.
É que a comparação gráfica configura ato de caráter essenci-almente probatório, não se po-dendo, em face do privilégio de que desfruta o indiciado contra a auto-incriminação, obrigar o su-posto autor do delito a fornecer prova de levar à caracterização de sua culpa.
Assim, pode a autoridade não só fazer requisição a arquivos ou
estabelecimentos públicos, onde se encontrem documentos da pessoa à qual é atribuída a letra, ou proceder a exame no próprio lugar onde se encontrar o docu-mento em questão, ou ainda, é certo, proceder à colheita de ma-terial, para o que intimará a pessoa, a quem se atribui ou pode ser atribuído o escrito, a escrever o que lhe for ditado, não lhe cabendo, entretanto, ordenar que o faça, sob pena de desobe-diência, como deixa transpare-cer, a um apressado exame, o CPP, no inciso IV do art. 174.
Habeas-corpus concedido." (HC nº 77.135-8/SP, 1ª Tur-ma, rel. min. Ilmar Galvão, j. 08.09.98, DJU 06.11.98, pp. 3/ 4).
Juizados Especiais
e crime militar
"Crime militar de lesões cor-porais leves. É aplicável o art. 88 da Lei nº 9.099/95, não suprindo a representação ali contida a simples circunstância de haver a vítima, em seu depoimento, ad-mitido a existência do fato deli-tuoso."
(HC nº 77.338-6/RS, 1ª Tur-ma, rel. min. Octávio Gallotti, j. 14.08.98, v.u., DJU 13.11.98, p. 4).
Cerceamento
de defesa
"Decisão citra petita: cercea-mento de defesa idoneamente argüido, mas não examinado nem no julgamento da apelação, nem no da correição parcial, equivocadamente tida por preju-dicada, porque apensados os au-tos aos de outra apelação em que se manteve a absolvição do paci-ente: nulidade das decisões."
(HC nº 76.365-0/SP, 1ª Tur-ma, rel. min. Sepúlveda
Perten-ce, j. 06.10.98, v.u., DJU 13.11.98,
p. 2).
Caso fortuito
não enseja prisão
de depositário infiel
"O depositário deverá resti-tuir o bem depositado, não po-dendo furtar-se à sua restituição, sob pena de ser compelido a fazê-lo mediante prisão civil, cuja legitimidade já foi procla-mada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do HC nº 72.131. Obsta, entretanto, a res-tituição se 'a coisa foi furtada ou
roubada' (CC, arts. 1.268 e 1.277).
Certa a ocorrência de furto do veículo, fica afastada a respon-sabilidade do paciente como de-positário infiel, não havendo como subsistir contra ele a ameaça de prisão, sem prejuízo de que o credor demande o paga-mento do que lhe é devido pelas vias adequadas (CPC, art. 906).
Precedentes da Corte. Habeas-corpus concedido." (HC nº 77.591-3/SP, 1ª Tur-ma, rel. min. Ilmar Galvão, j. 08.09.98, v.u., DJU 06.11.98, p. 5).
Exigência de
comprovação
do ato delitivo
"Habeas-corpus. Lei nº 6.368/ 76. Ausência de elementos de-monstrativos da traficância. De-pendência comprovada.1 - A condenação criminal tem como pressuposto a existên-cia da prática de ato delituoso previsto na legislação penal.
2 - Meras conjecturas ou ila-ções resultantes de avaliação subjetiva do julgador não são provas.
3 - Inexistência delas quanto ao tráfico (Lei nº 6.368/76). De-pendência reconhecida por lau-do toxicológico (art. 16 da mes-ma lei).
4 - Habeas-corpus deferido." (HC nº 76.425-2/SP, 2ª Tur-ma, rel. min. Maurício Corrêa, j. 06.10.98, v.u., DJU 13.11.98, p. 2).
Gravidade do delito
não justifica
o regime fechado
"Individualização da pena: imposição de regime fechado fundada unicamente na avalia-ção subjetiva da gravidade do tipo infringido: inadmissibilida-de.A gravidade do tipo inciden-te, para todos os efeitos jurídi-cos, traduz-se na escala penal a ele cominado e, em concreto, na pena aplicada: por isso, é inad-missível a imposição de regime mais severo que o correspon-dente, em princípio, à pena apli-cada, quando fundada apenas na valoração judicial subjetiva da gravidade em abstrato do crime praticado, critério que alguns Tribunais vêm adotando siste-maticamente sempre que se trate de roubo com causas es-peciais de aumento da pena:
jurisprudência consolidada do Supremo Tribunal Federal."
(HC nº 77.714-8/SP, 1ª Tur-ma, rel. min. Sepúlveda
Perten-ce, j. 22.09.98, v.u., DJU 06.11.98,
p. 5).
Erro material
corrigido por
habeas-corpus
"Havendo o acórdão da ape-lação criminal incorrido em erro material na diminuição da pena decorrente da tentativa, é possí-vel a correção na via do habeas-corpus.
A pretensão à progressão de regime prisional deve ser dirigi-da ao Juízo dirigi-das Execuções Cri-minais, a quem compete, nos ter-mos do art. 66 da LEP, decidir sobre progressão de regime, não se inserindo na competência do Supremo Tribunal Federal."
(HC nº 77.620-3/RS, 1ª Tur-ma, rel. min. Ilmar Galvão, j. 08.09.98, v.u., DJU 06.11.98, p. 5).
Insignificância
do ato enseja
trancamento por
falta de justa causa
"Competência. Habeas-cor-pus. Ato do Superior Tribunal de Justiça. Compreende-se, no âm-bito da competência do Supremo Tribunal Federal, julgar habeas-corpus impetrado contra ato de tribunal superior.
Justa causa. Insignificância do ato apontado como delituoso. Uma vez verificada a insignifi-cância jurídica do ato apontado como delituoso, impõe-se o tran-camento da ação penal por falta de justa causa. A isto direcionam os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Consubs-tancia ato insignificante a con-tratação isolada de mão-de-obra, visando à atividade de gari, por município, considerado período diminuto, vindo o pedido formu-lado em reclamação trabalhista a ser julgado improcedente, ante a nulidade da relação jurídica por ausência do concurso públi-co."
(HC nº 77.003-4/PE, 2ª Tur-ma, rel. min. Marco Aurélio, j. 16.06.98, v.u., DJU 11.09.98, p. 5).
Jurisprudência compilada por Sérgio Rosenthal, Janaina C. Paschoal e Mariângela Gama de Magalhães Gomes.
HC contra
decisão que nega
pedido de liminar.
Cabimento em
casos excepcionais
"(...) As Cortes Superiores vêm-se fixando na diretriz de ser incabível habeas-corpus contra decisão que nega pedido de liminar, salvo manifesta ile-galidade ou manifesto abuso do poder.
Limpamente, não se pode acoimar de írritos ao nosso or-denamento processual penal, os atos que negaram a concessão da liberdade provisória. Entendo, porém, excessiva agora a custó-dia à vista das circunstâncias e da peculiaridade do caso.
Em sede de habeas-corpus, pela sua natureza, de recursos de caráter excepcional (recurso es-pecial e recurso extraordinário) também, e à vista do estafante e invencível número de processos que afluem ao Poder Judiciário temos, juízes, amiudadamente, nos descurado da pessoa do in-frator para nos atermos ao dis-positivo legal, frio, inteiro e im-placável. Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou vio-lência à pessoa. Pena: reclusão de 4 a 10 anos. É o texto da lei. No caso, a coisa móvel: R$ 15,00 (quinze reais), e depois, 1 vale transporte e R$ 1,00 (um real), quantias menores que um ingresso que cada um dos mi-lhares de jovens pagava para assistir aos shows do conjunto Polegar, de que R.I. era mem-bro.
No caso, a grave ameaça: uma mão suja, tremente, sob a camisa, mal simulando estar ar-mado. Tão inverossímel a gra-vidade da ameaça que o aposen-tado T.P. reagiu, empurrando-o, nada lhe sendo subtraído. Idên-tico gesto de simulação perante T.O.P., que abriu a bolsa e o paciente levou o passe e um real, ficando, ainda, na bolsa, R$ 30,00 (fls. 8).
Não é o habeas-corpus, mui-to menos em juízo de cognição preambular, o instrumento ade-quado para, revolvendo a prova, aferir-se se o paciente atuou com grave ameaça ou não, com vistas a proceder-se à definição legal do crime.
Nada obstante, a situação apresenta certa peculiaridade que merece ser enfrentada.
Está nos autos que o paciente é primário, não ostenta
prece-dentes criminais. Malgrado haja declinado não ter residência fi-xa, perante a autoridade polici-al, fê-lo para esconder da famí-lia esses fatos. A ação delituosa, mesmo impelida para obtenção de recursos para adquirir subs-tâncias entorpecentes não se descaracteriza como crime, é sabido. Mas, vê-se que o paci-ente, ausentes antecedentes cri-minais, não tem inclinação para o crime. Não se vislumbra re-presentar risco à garantia da or-dem pública a sua soltura. Pare-ce atender mais à ordem e ao interesse públicos propiciar-lhe tratamento médico e assistência familiar para restituí-lo ao meio social, posto é dependente toxi-cológico. É certo que a prima-riedade e os bons antecedentes não impedem a decretação da custódia provisória. Mas, o cri-me praticado não se reveste de crueldade e violência, causando indignação na opinião pública, reclamando a necessidade da prévia prisão. Ao revés, a re-percussão do crime se deu mais em razão da origem do jovem paciente, ex-integrante de um grupo musical famoso, vir a subtrair quantia irrisória, em situação penosa, a merecer, como demonstrado na impren-sa, sentimento de comiseração e alarme.
Decidiu o Tribunal de Justi-ça de São Paulo: "Para a decre-tação da prisão preventiva, na sistemática processual vigente, deve o julgador atender aos pressupostos básicos do art. 312 do CPP, visualizando, tam-bém, em perspectiva abran-gente, a ação delituosa e a figu-ra do acusado. Esta, sobretudo, é da maior importância. Se não se trata de criminoso vulgar, de marginal perigoso, nada acon-selha a medida cautelar" (RT 547/314, in "C.P.P. Interpreta-do", 3ª ed., p. 377, Júlio F.
Mirabete).
Estima-se que os familiares, máxime a mãe do paciente, a par das providências de tratamento médico, cerquem-no de afeto e assistência diuturna.
Dos ex-colegas do Conjunto Polegar, solidários nos aplausos e nas alegrias de outrora, espe-ra-se solidariedade irrestrita pa-ra agopa-ra.
É de interesse da sociedade resguardar-se dos atos delituo-sos, sejam praticados por ado-lescentes ou adultos, é de inte-resse também proteger o infra-tor.
Ante estas razões e especiais circunstâncias, concedo a limi-nar para assegurar ao ora paci-ente, R.I.A.P., liberdade provi-sória até o julgamento final
des-te habeas-corpus.
Comunique-se com urgên-cia.
Requisitem-se informações à il. autoridade coatora.
Publique-se."
(HC nº 8.071/SP, 5ª Turma, rel. min. José Arnaldo, j. 22.10.98, DJU 03.11.98, pp. 331/332).
Crime contra o
Sistema Financeiro
Nacional.
Administradora
de consórcio.
"- As empresas administra-doras de consórcio equiparam-se às instituições para fins de incidência, ex vi do art. 1º, pará-grafo único, inciso I, da Lei nº 7.492/86, sendo aos administra-dores vedado tomar emprésti-mo ou deferi-lo à empresa con-troladora, sob pena de incorrer nas sanções do art. 17, do men-cionado diploma legal.- Se o Banco Central, por longo período, aceitava como regular a livre disposição de re-cursos provenientes de taxa de administração dos consórcios, a nova mudança de orientação imposta pela Receita Federal não pode acarretar a condena-ção criminal dos dirigentes des-sas empredes-sas, por ausência de juízo de reprovabilidade, confi-gurando erro inevitável sobre a ilicitude do fato, ou erro de
proibição.
- Precedente deste Tribunal (RHC nº 4.146-3/SP, rel. min.
Cid Flaquer Scartezzini).
- Recurso ordinário provido. Habeas-corpus concedido."
(RHC nº 6.606/SP, 6ª Turma, rel. min. Vicente Leal, j. 19.02.98, v.u., DJU 26.10.98, pp. 154/ 155).
Denúncia.
Narrativa genérica.
Obstáculo ao exercício
do direito de defesa
"A denúncia que deixa de re-latar, em delito de estelionato levado a efeito em concurso de pessoas, a atuação de cada uma delas, declinando a prática frau-dulenta cometida e causadora de lesão aos cofres da Previdên-cia SoPrevidên-cial, por dificultar sobre-maneira o exercício do direito de defesa, não subsiste à luz do art. 41 do Código de Processo Penal.
Recurso ordinário provido."
(RHC nº 7.840/BA, 6ª Tur-ma, rel. min. Fernando
Gon-çalves, j. 06.10.98, v.u., DJU
26.10.98, p. 159).
Suspensão condicional
do processo.
Reparação dos
danos como requisito.
Inadmissibilidade
"A exigência referente à re-paração dos danos não é requi-sito para concessão da suspen-são condicional do processo, mas sim, condição da extinção da punibilidade. Vale dizer, não há que se falar, no que toca à suspensão condicional do processo, em reparação dos danos antes do período de pro-va ao qual o acusado será sub-metido.
Ordem concedida."
(HC nº 7.637/GO, 5ª Turma, rel. min. Felix Fischer, j. 22.09.98, v.u., DJU 26.10.98, p. 129).
Não configura crime
de desobediência a
conduta de delegado
que se recusa
a fornecer a
promotores a
relação dos
funcionários
lotados no distrito
"A extensão conceitual do controle externo da atividade policial pelo Ministério Público é questão a ser dirimida pela cúpula da Administração, con-siderando os altos interesses pú-blicos, abstraídas as políticas corporativas.
Eventual debate sobre o tema, em que ocorre discussão e desacordo entre Promotores de Justiça e Delegados de Polí-cia, não configura, em tese, crime de desobediência, pois não se confunde controle ex-terno com subordinação hie-rárquica.
Recurso ordinário provido. Habeas-corpus concedido."
(RHC nº 7.640/SP, 6ª Turma, rel. min. Vicente Leal, j. 18.09.98, v.u., DJU 13.10.98, p. 186).
Jurisprudência compilada por Carlos Alberto Pires Mendes, Carlos Magno Brolesi Silva e Fernanda Velloso Teixeira.
Boletim IBCCrim
IBCCrim
IBCCrim nº 73/Jurisprudência - Dezembro/1998
311
Falsidade ideológica
exige dolo específico
"I - Penal e Processual Penal. Recurso em Sentido Estrito. Art. 581, inciso I do CPP. Rejeição de denúncia.
II - Art. 299 do CP. Para con-figuração do delito de falsidade ideológica exige-se, além do do-lo genérico, o especial fim de agir, o que se traduz pela inten-ção de prejudicar direito, produ-zir obrigação ou modificar a ver-dade sobre fato juridicamente relevante.
III - Parcelamento de dívida é um direito conferido ao devedor por lei. Na hipótese dos autos não havia outra alternativa para solução amigável da dívida. As-sim o devedor, ora recorrido, não pode sofrer qualquer censura na esfera penal.
IV - Inteligência do art. 43, inciso I do CPP. Ao adotar entre as hipóteses do não recebimento da inicial a atipicidade do ilícito face a ausência de dolo.
V - Recurso conhecido, mas improvido."
(RSE nº 97.02.27141-0/ES, TRF 2ª Região, 5ª Turma, rel. juiz Raldênio Bonifácio Costa, j. 06.10.98, v.u., DJU 22.10.98, p. 225).
Uso de documento falso.
Delinqüência ocasional.
Absolvição
"I - Penal. Uso de passaporte falso para entrada nos Estados Unidos. Art. 304 do Código Pe-nal. Absolvição. O uso de docu-mento falso com o objetivo de sair do País para tentar a vida em terras estrangeiras não legitima um decreto condenatório, ainda que na pena mínima e com sur-sis. Trata-se de pessoas que se encontram, eventualmente, na chamada 'delinqüência ocasio-nal', muitas vezes sem consciên-cia da natureza ilícita de sua conduta, e, por estas razões, não devem ser punidas. O que o acu-sado sofre antes da deportação, através das conhecidas, humi-lhantes e constrangedoras entre-vistas e averiguações procedidas pelo Departamento de Imigra-ção norte-americano, já repre-senta verdadeira punição. Im-põe-se, assim, a absolvição do acusado.
II - Apelação provida. Senten-ça reformada no concernente à apenação do acusado, A.L.N.S.,
para absolvê-lo da imputação que lhe foi imposta."
(Ap. Crim. nº 98.02.03303-0/RJ, TRF 2ª Região, 4ª Turma, rel. juiz Frederico Gueiros, j. 17.06.98, v.u., DJU 22.10.98, p. 188).
Crime de descaminho.
Distinção entre a
ilicitude fiscal e penal
"Recurso em Sentido Estri-to contra sentença que rejeiEstri-tou a denúncia, com fundamento no art. 43, I, do CPP, por su-posta infringência ao art. 334, do CP.
A importância de existir ou não no agente o propósito de iludir o Fisco é fundamental, à luz do princípio da reseva legal, na distinção entre a ilicitude pe-nal e a fiscal.
In casu, a conduta narrada na denúncia é, realmente, atípica, pois nela não consta o mecanis-mo de ilusão utilizado pelo de-nunciado para não pagar o tribu-to devido pela importação."
(RSE nº 98.02.05316-3/RJ, TRF 2ª Região, 3ª Turma, rel. juiz Arnaldo Lima, j. 26.05.98, v.u., DJU 22.09.98, p. 180).
Falso testemunho:
configuração
"I - A alegação de que as condutas dos apelantes, expres-sas nos depoimentos prestados na fase policial e perante o Mi-nistério Público, em sede de in-quérito civil público, teriam sido informadas pela coação, não se apresenta crível, em virtude de terem sido tomados na presença de testemunhas e defensor, bem como em consonância com os permissivos legais confiados ao órgão Ministerial, no que tange ao exercício do controle externo da atividade policial.
II - Crime de falso testemu-nho que resulta evidenciado pela contradição entre os depoimen-tos prestados na fase investiga-tória e em Juízo, bem como atra-vés das declarações firmadas por outros testigos, no sentido de dar conta do comportamento doloso dos apelantes, a caracterizar, ainda, o tipo subjetivo do ilícito penal.
III - Por se tratar de crime formal, cuja consumação se dá no momento em que a testemu-nha compromissada assina seu depoimento, a caracterização do
falso testemunho em nada de-pende do resultado do processo em que tenha sido praticado.
IV - Potencialidade lesiva dos depoimentos dos apelantes que restou demonstrada nos autos, ante o comprometimento da ver-dade material a que ficou condi-cionado o processo-crime elei-toral.
V - Recurso a que se nega provimento."
(Ap. Crim. nº 94.03.073107-9/SP, TRF 3ª Região, 5ª Turma, rel. juíza Suzana Camargo, j. 11.05.98, v.u., DJU 22.09.98, p. 230).
"Servidor" autárquico.
Aplicabilidade do
art. 514 do CPP.
Competência da
Justiça Federal
"I - O médico de hospital do INSS, na qualidade de servidor autárquico, é considerado funci-onário público para os fins pe-nais, competindo à Justiça Fede-ral o processo e julgamento do feito inclusive pelas repercus-sões que possa ter no patrimônio da autarquia.
II - Em se tratando de crime de responsabilidade dos funcio-nários públicos, compreendidos nesta expressão os servidores autárquicos, deve ser aplicado o disposto no art. 514 do CPP.
III - Habeas-corpus provido em parte."
(HC nº 96.02.23514-4/RJ, TRF 2ª Região, 4ª Turma, rel. juiz Frederico Gueiros, rel. p/ acórdão juiz Carreira Alvim, j. 21.08.98, m.v., DJU 22.10.98, p. 188).
Tráfico de
entorpecentes.
Concessão da
progressão prisional
"- Laudo pericial comprovou a natureza entorpecente da subs-tância apreendida e a autoria e circunstância fático-delitivas fi-caram evidenciadas pelo auto flagrancial, bem como pelos de-poimentos judiciais das teste-munhas de acusação.
- A grande quantidade de co-caína apreendida aliada à condu-ta do apelante de ter ingressado no País, proveniente da África do Sul, somente para adquirir a droga por preço ínfimo
permi-tem concluir não se tratar de usuário.
- A defesa não produziu prova capaz de desconstituir a veraci-dade dos depoimentos dos poli-ciais federais e, pois, não há como desconsiderá-los. Referi-do testemunho merece fé até prova em contrário, assim como o de qualquer pessoa idônea.
- O MM. Juízo a quo determi-nou que a pena restritiva de li-berdade fosse integralmente cumprida em regime fechado, com fundamento no artigo 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90. Referido dispositivo foi revogado pelo Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, artigo 7º, que foi ratificado pelo Brasil, em 24.01.92. Constitui tratamento cruel a um condenado submetê-lo, integralmente, durante o cumprimento da sanção, a regi-me mais gravoso, excluindo a possibilidade de, pelo mérito, demonstrar que faz jus à pro-gressão prisional.
- Desprovido o recurso e con-cedida de ofício ordem de ha-beas-corpus para autorizar a progressão do regime prisional, nos termos do artigo 33, § 2º, do Código Penal e artigo 112 da Lei nº 7.210/84. O Juízo das Execu-ções Penais examinará quando e se o condenado preenche os re-quisitos concretos."
(Ap. Crim. nº 98.03.012408-0, TRF 3ª Região, 5ª Turma, rel. juiz
André Nabarrete, j. 10.08.98,
v.u., DJU 20.10.98, p. 432).
Ilegitimidade
para recorrer
"I - Não tendo o recurso de apelação sido interposto por quem figurava na condição de assistente de acusação, mas pelo advogado em nome pró-prio, tem-se que a irresignação não pode ser conhecida, face a não demonstração do legítimo interesse de recorrer, exigido pelo artigo 577, parágrafo úni-co, do Código de Processo Pe-nal.
II - Recurso que não se conhe-ce."
(Ap. Crim. nº 94.03.005914-1/SP, TRF 3ª Região, 5ª Turma, rel. juíza Suzana Camargo, j. 24.08.98, DJU 20.10.98, p. 421).
Jurisprudência compilada por Hélio Narvaez, Rodrigo Strini Franco e Rosier Batista Custódio.
Princípios do
contraditório e
da ampla defesa
"(...) o MM. Juízo a quo uti-lizou-se de expressões vagas e ambíguas, tais como 'não con-venceu este Juiz', as 'alegações de defesa não convencem' ou ainda 'as testemunhas de defe-sa nada disseram' (...) as quais violam os princípios do contra-ditório e da ampla defesa (art. 5º, LV da Constituição), consa-grados pelo art. 381, III do CPP. A ausência de fundamenta-ção clara e precisa faz com que a r. sentença viole o contraditó-rio na medida em que dificulta a identificação das razões pelas quais os réus foram condenados, impossibilitando a interposição de recurso para refutá-las.
Dessa forma a obstaculiza-ção do contraditório, por con-seqüência, impede o exercício da ampla defesa, por não pode-rem os acusados defendepode-rem- defenderem-se dos motivos que levaram à sua condenação.
Conclui o parecer que os réus sofreram prejuízos no exercício da ampla defesa (art. 563 do CPP) e que a r. sentença não contém um de seus ele-mentos essenciais (fundamen-tação precisa — art. 381, III c/ c art. 564, IV do CPP) (...).
O mesmo vício ocorre rela-tivamente à dosimetria da pena, em virtude da ausência de mo-tivação para a fixação do valor da multa no máximo legal (...). Por estes motivos, o voto propõe sejam providos os re-cursos para o fim de ser decre-tada a nulidade da sentença e determinada a prolação de ou-tra."
(TRE/SP, Rec. Crim., Proc. nº 1.247, Classe Terceira, Acórdão nº 131.750, rel. juiz
José Reynaldo, j. 15.10.98, v.u., DOE/SP 22.10.98, p. 46).
Art. 350 do CE.
Inocuidade da
declaração falsa.
Atipicidade
"(...)Bem observa que se estabe-leceu, sem sombra de dúvida, que K. residia no município há mais de três meses e que o falso — pertinente apenas ao endere-ço, dentro do município —,
ain-da que doloso fosse, resultaria inócuo, inconseqüente, já que inexistiu na conduta incrimina-da qualquer potencialiincrimina-dade de dano, uma vez que de modo algum teria o condão de alterar ou prejudicar o pode-dever da beneficiária, que era o de votar no município (...)."
(TRE/SP, Rec. Crim., Proc. nº 910, Classe Terceira, Acór-dão nº 131.745, rel. juiz José
Reynaldo, j. 15.10.98, v.u., DOE/SP 22.10.98, p. 46).
Absorção do
art. 350 do CE
pelo art. 289 do CE
"(...)Porém, não vislumbro, in casu, a hipótese de concurso material, posto que a falsidade ideológica do artigo 350, do Código Eleitoral retratou, na realidade, o próprio ardil em-pregado à prática da transferên-cia, mediante fraude, dos títu-los eleitorais.
Agregue-se a isso, que o fato definido neste artigo, serviu, apenas, na preparação de outro crime, restando absorvido pela norma do artigo 289, do Códi-go Eleitoral.
Neste passo, devidamente aplicável o artigo 383, do Códi-go Processual Penal, corrijo a denúncia, dando aos fatos a correta configuração, para reclassificar a conduta da ré. E assim faço, com base apenas no artigo 289, do Código Eleito-ral, ficando sem efeito a pena aplicada com supedâneo no ar-tigo 350, do Estatuto Eleitoral.
(...)."
(TRE/SP, Rec. Crim., Proc. nº 1.285, Classe Terceira, Acór-dão nº 131.761, rel. juíza Anna
Maria Pimentel, j. 15.10.98, v.u.,
DOE/SP 22.10.98, p. 45).
Revogação tácita
do art. 51, § 1º,
da Lei nº 9.100/95
pelo art. 37
da Lei nº 9.504/97
"(...)O acusado foi denunciado por violação ao artigo 51, § 1º, da Lei nº 9.100/95, porquanto teria afixado placas e cartazes com propaganda eleitoral em locais públicos, quando das eleições realizadas em 1996.
Ocorre que esse mandamen-to legal foi absorvido pelo arti-go 37, da Lei nº 9.504/97, que deu ao crime outra definição menos abrangente, de sorte a punir apenas a pichação, a ins-crição a tinta e a veiculação de propaganda, com expressa res-salva no que diz com a fixação de placas, estandartes, faixas e assemelhados nos postes de iluminação pública e outros lo-cais.
(...)."
(TRE/SP, Proc. Crime, nº 706/98, Classe Quarta, Acórdão nº 131.733, rel. juiz Viseu
Júnior, j. 13.10.98, v.u., DOE/
SP 20.10.98, p. 34).
Transporte
interurbano
de eleitores.
Inexistência de
disposição legal
incriminadora
"(...) A r. sentença considerou o fato atípico porque a prova dos autos revelou que houve fre-tamento de ônibus para trans-porte de eleitores de cidades mais próximas da Capital para a distante cidade de Lucélia, razão porque não se aplica o artigo 5º da Lei 6.091/ 74 que disciplina o transporte de eleitores da zona rural, em dia de eleição.Realmente, pelo artigo 1º da Lei 6.091/74 é possível susten-tar que a gratuidade vedada aos particulares está restrita ao transporte de eleitores em zo-nas rurais, em dias de eleição, não merecendo interpretação extensiva para atingir todo e qualquer transporte gratuito prestado por particular, pelo fato de a lei, em sua ementa, disciplinar esta matéria e 'dar outras providências'.
Da leitura da lei, vê-se que estas 'outras providências' constituem, por exemplo, na re-gulação do fornecimento de ali-mentação (art. 8º), disciplina de propaganda eleitoral (art. 12), nomeação do provimento de servidores (art. 13), mas em momento algum trazem qual-quer regra aplicável ao trans-porte interurbano de que cui-dam estes autos.
Ocorrendo, pois, inadequa-ção ao tipo, merece ser mantida
a absolvição decretada. (...)."
(TRE/SP, Rec. Crim., Proc. nº 1.253, Classe Terceira, Acórdão nº 131.751, rel. juiz
José Reynaldo, j. 15.10.98,
v.u., DOE/SP 22.10.98, p. 46).
Declaração falsa
para fins eleitorais.
Necessidade de
demonstração do dolo
"(...)
Não basta, data venia a sim-ples declaração falsa para res-tar tipificado o delito imputado aos acusados.
(...) há que ressaltar serem eles provenientes da zona ru-ral, que conta com a mobilida-de mobilida-de mão-mobilida-de-obra em função das safras agrícolas. O fato dos acusados não terem sido en-contrados nos endereços for-necidos à Justiça Eleitoral, quando procurados posterior-mente às eleições de 1988 não significa que não residissem por lá até a data em que elas se deram. (...) não demonstrou a acusação o dolo indispensável para a caracterização de fato típico, antijurídico e culpável. Sobre isso há que se sobrepor à análise formal dos fatos, con-sideração de ordem real. O nosso homem médio não se distingue pela cultura, nem pela urbanidade, nem pela consciência social e muito me-nos pelo exercício da cidada-nia. É para todos os efeitos, hipossuficiente, no limiar da indigência intelectual. Nestas circunstâncias, exigir-se-lhe o conhecimento de que é crime votar em município distinto do que reside (quando não há qualquer orientação nesse sen-tido dos órgãos responsáveis, mas que o impelem ao mesmo tempo a votar de qualquer ma-neira) é pressupor preparo cí-vico impossível de alguém que a rigor nem deveria votar. (...)."
(TRE/SP, Rec. Crim., Proc. nº 1.054, Classe Terceira, Acórdão nº 131.746, rel. juiz
José Reynaldo, j. 15.10.98,
v.u., DOE/SP 22.10.98, p. 46).
Jurisprudência compilada por Renato Barão Varalda, Paulo Fernando dos Santos e Henrique Gutierre Biassio.
Boletim IBCCrim
IBCCrim
IBCCrim nº 73/Jurisprudência - Dezembro/1998
313
Prisão preventiva.
Decretação por juíza
do Plantão Judiciário
"Habeas-corpus. Pedido de anulação de decreto de prisão preventiva porque expedido por juiz incompetente e não funda-mentado. Não acolhimento, pois a prisão cautelar foi decretada por juíza que estava no exercício do Plantão Judiciário, não importan-do que, por não se tratar de crime doloso contra a vida, mas sim de latrocínio, tenha ela, ao tempo em que determinou a custódia — que era urgente — remetido os autos para uma das varas criminais da comarca, onde a denúncia foi re-cebida. O decreto da prisão pre-ventiva está, concisamente, fun-damentado, enquadrando-se a hi-pótese nos permissivos do artigo 311 do Código de Processo Penal. Ordem denegada."
(TJ/SP, HC nº 250.271-3/6, Osasco, 3ª CCrim., rel. des.
Wal-ter Guilherme, j. 03.03.98, v.u.).
Recusa do réu
ao sursis processual.
Impossibilidade de
requerer novamente
o benefício
"A questão posta na presente Correição Parcial se apresenta tor-mentosa tanto na doutrina como na jurisprudência. Não se pode negar, data venia, que a Lei nº 9.099/95, ao criar a suspensão condicional da ação penal, não deferiu de maneira discricionária ao Ministério Público o poder, por puro subjetivismo, de determinar quem é merecedor dos seus bene-fícios. Tal posição afronta, sem qualquer dúvida, os princípios de-mocráticos sobre os quais se as-senta o Estado de Direito.
A ação é de 'discricionarieda-de controlada', ou seja, há uma ação vinculada, tal como no ato administrativo vinculado, impon-do ao promotor de justiça necessa-riamente apresentar a proposta de acordo, desde que estejam presen-tes os requisitos objetivos e subje-tivos.
Há o momento processual cor-reto, e sendo ele ultrapassado, há a preclusão. O que se admite, em razão de ser fato que beneficia o acusado, é que, havendo acordo entre as partes ou seja, do Ministé-rio Público e do acusado, o magis-trado deverá analisar e decidir so-bre o tema. Porém, não havendo nova proposta, fica impossível, diante do artigo 89, § 7º, da Lei nº 9.099/95, o juiz determinar de ofí-cio a suspensão.
No caso, verifica-se, às fls. ...
que o réu, em juízo, recusou a sus-pensão condicional da ação penal. Teve ela regular processamento e, em singela manifestação, requereu ele novamente a sua concessão. Era de evidente impossibilidade o aco-lhimento, pois não havia qualquer menção, em seu pleito, de motivo a justificar o pretendido.
Além do que, não se pode ol-vidar que o Ministério Público manifestou-se contrariamente a esta pretensão.
Diante deste quadro, é de ser reconhecido que o despacho viola disposição legal e tumultua a ação penal, sendo, portanto, correto o ajuizamento da presente correição parcial. Fica prejudicada a análise dos demais argumentos, em face do acolhimento do pretendido pelo dr. promotor de justiça."
(TJ/SP, Correição Parcial nº 243.634-3/7, São Paulo, 1ª CCrim., rel. des. Almeida
Sam-paio, j. 09.03.98, m.v.).
É inadmissível
a inquirição de co-réu
como testemunha
de outro acusado
"A Constituição Federal de 1988 introduziu modificação no que concerne às declarações pres-tadas pelo réu. Na atualidade, asse-gura-se-lhe o 'direito de permane-cer calado' (art. 5º, inciso LXIII), sem que tal conduta possa ser inter-pretada em prejuízo de sua defesa. A parte final do art. 186 do CPP foi revogada pela Lei Maior.
(...)
Na verdade, o principal dever da testemunha é dizer a verdade, enquanto que o réu pode perma-necer silente ou mentir à vontade, sem estar, por isso, sujeito a qual-quer penalidade. A testemunha é constrangida a depor, enquanto que o réu jamais pode sofrer tal constrangimento.
(...)
Pelo exposto, deferem a Cor-reição Parcial para determinar que, do rol de testemunhas, seja excluído o co-réu."
(TJ/SP, Correição Parcial nº 247.297-3/7, São Paulo, rel. des.
Silva Pinto, j. 02.03.98, v.u.).
Réu e defensor
devem ser intimados
pessoalmente da
sentença condenatória
"A intimação da sentença condenatória deve ser pessoal, em relação ao réu ou ao seu de-fensor constituído, de acordo com as regras específicas reuni-das no art. 392 do CPP, não po-dendo ser substituída a do
advo-gado, no 1º grau de jurisdição, pela publicação a que alude o § 1º, art. 370 do mesmo diploma, com a nova redação que lhe em-prestou a Lei nº 9.271/96.
Sob tal ótica, a intimação da sentença ao réu preso não vale, isoladamente, como linha de parti-da para a fluência do prazo parti-da ape-lação, sendo necessária também a do seu defensor dativo ou consti-tuído a fim de que tal ocorra."
(TJ/RJ, Ap. Crim. nº 1.913/98, 1ª CCrim., rel. des. Jorge
Al-berto Romeiro Jr., j. 07.04.98,
v.u.).
Único cigarro de
maconha. Atipicidade
"Tóxico. Agente apanhado quando fumava um único cigar-ro de maconha que possuía. Atipicidade da conduta. A de-tenção transitória de ínfima quantidade de maconha, que se estava a consumir, não caracte-riza o porte ilegal de entorpe-cente, eis que este só tem rele-vância quando ainda persiste o risco à saúde pública. A lei pe-nal não pune o vício, e o agente ao consumir a droga, lesa ape-nas a si mesmo, desaparecendo a potencialidade de dano social e o perigo de disseminação do tráfico. Apelação provida para absolver o réu, face à atipicida-de da conduta."
(TJ/SP, HC nº 264.531-3/0, São Sebastião, 3ª CCrim., rel. des. Segurado Braz, j. 20.10.98, m.v.).
Júri. Decisão contrária
à prova dos autos
e soberania dos veredictos
"A decisão dos jurados só pode ser cassada quando não tiver apoio em nenhuma prova dos autos, uma vez que, ao con-trário do que ocorre nos demais procedimentos, onde prevalece o princípio do livre convenci-mento, no Júri vigora o princí-pio da íntima convicção, tendo os jurados a mais ampla liberda-de na apreciação da prova, sen-do apenas defeso aos jurasen-dos decidir arbitrariamente, preva-lecendo a respeito o princípio constitucional da soberania dos veredictos, ínsito no art. 5º, XXXVIII, 'c', da CF/88, signifi-camente inserido no capítulo dos direitos e deveres individu-ais e coletivos, do Título que trata dos direitos e garantias fundamentais."
(TJ/RJ, Ap. Crim. nº 2.196/ 97, 1ª CCrim., rel. des. Manoel
Alberto Rebêlo dos Santos, j.
17.02.98, v.u.).
Roubo com
seqüestro da vítima.
Lex mitior
"A Lei nº 9.426, de 24.12.96 criou no elenco das causas especi-ais de aumento de pena, o inciso V do art. 157, § 2º, do CP, no caso de o agente manter a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. Até o advento desta nova tipi-ficação, duas eram as orientações doutrinárias e jurisprudenciais quanto à circunstância de ser a vítima mantida cativa pelo rouba-dor, a primeira entendendo que tal conduta estaria subsumida pelo roubo, como que exaurimento impunível, outra vislumbrando crime autônomo de seqüestro ou cárcere privado.
No caso concreto, em que o captor restringiu a liberdade do motorista do caminhão, haverá que se atender ao comando cons-titucional, art. 5º, XL, da Carta Maior, e a norma infraconstitucio-nal consubstanciada no art. 2º, pa-rágrafo único, do CP, reclas-sificando-se os fatos, de concurso material do roubo com o seqües-tro, para tão-só roubo tendo como causa especial de aumento de pena, a retenção da vítima."
(TJ/RJ, Ap. Crim. nº 399/98, 6ª CCrim., rel. des. Eduardo
Mayr, j. 02.06.98).
Habeas-corpus
contra os Juizados
Especiais Criminais.
Competência das
Turmas Recursais
"São as Turmas Recursais competentes para conhecer e jul-gar os habeas-corpus interpostos contra os Juizados Especiais Cri-minais e não as Câmaras Crimi-nais isoladas do Tribunal de Justi-ça, vez que este órgão tem a sua competência definida no artigo 9º do Regimento Interno do Egrégio Tribunal, não se encontrando no mesmo qualquer referência aos Juizados Especiais Criminais. O enunciado nº 07, fruto do encon-tro de coordenadores e juízes das Turmas Recursais dos Juizados Especiais, ressalta que cabe às Turmas Recursais julgar as ações constitucionais de habeas-cor-pus."
(TJ/RJ, HC nº 616/98, 2ª CCrim, rel. des. José Lucas Alves
de Brito, j. 18.06.98, v.u.).
Jurisprudência compilada por Fabio Machado de Almeida Delmanto, Márcia Maria Silva Gomes, Vinícius de Toledo Piza Peluso e Rogério Marcolini
Art. 32 da LCP
derrogado pelo
Art. 309 do CTB.
Ausência de
perigo concreto.
Transação penal.
Extinção da
punibilidade por
meio de habeas-corpus
de ofício
"Criado o crime de direção sem habilitação inscrito no art. 309, da Lei nº 9.503, de 1997, foi tacitamente regovada a figura contravencional do art. 32 da LCP, uma vez que o Código de Trânsito Brasileiro dispõe inte-gralmente sobre o ilícito penal, acrescentando-lhe elemento tí-pico (ocorrência de perigo de dano), e sobre a infração admi-nistrativa (art. 162, I a IV).
Cometida a infração prevista no art. 32 da LCP antes da pro-mulgação do Código de Trânsito Brasileiro, mas estando em cur-so o procescur-so no Juizado Especi-al CriminEspeci-al quando o novo di-ploma legal (art. 309 do CTB) entrou em vigor, aplica-se este imediatamente, e pelo fato de considerar a direção sem habili-tação mera infração administra-tiva, se ausente perigo concreto, impõe-se o trancamento da ação penal por habeas-corpus de ofí-cio e extinção da punibilidade do agente, nos termos do art. 107, III, do CP, sendo irrelevante a época do cometimento da infra-ção ou mesmo a ocorrência de transação penal em que não paga a multa acordada, nos termos da Lei nº 9.099, de 1995."
(Ap. nº 1.120.017/1, Igarapa-va, 12ª Câm., rel. juiz João
Morenghi, j. 19.10.98, m.v.).
Lei nº 9.271/96.
Decisão concessiva da
suspensão não pode ser
revista ex officio.
Concessão da ordem
"Conquanto se possa admitir que a decisão que determinou a suspensão do processo, nos ter-mos do artigo 366 do Código de Processo Penal, não se orientou pelo melhor direito aplicável, contra ela não houve interpo-sição de qualquer recurso, tor-nando-se portanto matéria pro-cessualmente preclusa. Tal pre-clusão, tendo por pressuposto uma decisão não recorrida, é equiparável à coisa julgada for-mal. Vale dizer, para o prosse-guimento da ação penal é
indis-pensável o comparecimento do paciente ao processo, nos termos do artigo 366, § 2º, do Código de Processo Penal.
Por conseguinte, si et in quan-tum permaneça inalterada a situa-ção fática em que se fundamentou a suspensão do processo, não era pertinente o reexame da decisão que suspendeu o curso da ação penal por eventual mudança de entendimento do juízo mono-crático sobre a matéria, ainda que baseada em orientação pre-toriana superveniente do Colen-do Supremo Tribunal Federal."
(HC nº 327.736/7, São Paulo, 7ª Câm., rel. juiz S. C. Garcia, j. 17.09.98, m.v.).
Porte ilegal de arma de
fogo. Homologação da
transação penal.
Ilegalidade do confisco
da arma de fogo
"O confisco da arma de fogo é efeito da sentença condenató-ria, consoante dispõe o art. 91, inciso II, letra 'a', do Código Penal.
In casu, houve transação pe-nal, cuja natureza jurídica da decisão que a homologa é mera-mente declaratória ou homolo-gatória.
(...) A transação penal, por-que não tem natureza jurídica de sentença condenatória, mostra-se inidônea para autorizar o con-fisco em apreço."
(Ap. nº 1.099.641/2, Palmeira D'Oeste, 13ª Câm., rel. juiz
Teo-domiro Mendes, j. 28.07.98, v.u.).
Lei nº 9.271/96.
Necessidade de
periculum in mora
para produção
antecipada de prova
"Trata-se de mandado de se-gurança, com pedido de liminar, impetrado pelo doutor promotor de justiça em face da decisão do MM. Juiz de Direito da 11ª Vara Criminal da Comarca da Capi-tal, que indeferiu o seu pedido de produção antecipada da prova, nos autos da ação penal... cuja tramitação foi suspensa, junta-mente com o lapso prescricio-nal, nos termos da Lei nº 9.271/ 96, que deu nova redação ao art. 366 do CPP.
(...)
A ação deletéria do tempo na memória das pessoas bem como a certeza de que ninguém é imor-tal, por certo, foram considera-das pelo legislador quando da
edição da Lei nº 9.271/96 e se ele, a despeito disso, estabele-ceu que somente as provas con-sideradas urgentes podem ser antecipadamente produzidas, forçoso é concluir que essa me-dida apenas se justifica quando há fundado receio de que desa-pareçam os fatos que se deseja comprovar.
Exige-se, para tanto, a pre-sença do periculum in mora. Não o receio de que, ao tempo da audiência, vítimas e testemu-nhas possam estar mortas ou es-quecidas, mas, sim, o perigo de dano jurídico evidenciado por uma situação objetiva como, por exemplo, o estado terminal de uma testemunha ou o fato de ser perecível a coisa que se pretende examinar.
(...)."
(MS nº 327.746/0, São Paulo, 13ª Câm., rel. juiz Lopes da
Sil-va, j. 22.09.98, v.u.).
Possibilidade da
impetração de
habeas-corpus na hipótese de não
concessão da suspensão
condicional do processo
para o crime de furto
qualificado tentado
"Inicialmente, é preciso dei-xar consignado que é perfeita-mente possível antever a legiti-midade ativa do representante do Ministério Público para im-petrar habeas-corpus, posto que o ordenamento jurídico brasilei-ro autoriza exegese nesse senti-do, nos termos do artigo 654 do Código de Processo Penal c/c o artigo 32, inciso I, da Lei nº 98.625/93 (Lei Orgânica Nacio-nal do Ministério Público), reti-ficada pelo artigo 121, inciso I, da Lei Estadual nº 734/93 (Lei Orgânica do Ministério Público Estadual).
No tocante ao mérito, releva também anotar que a princípio, com o advento da nova lei, havia interpretações que se situavam na esteira do entendimento da r. autoridade judicial impetrada e, no entanto, com o passar do tem-po, este Tribunal de Alçada Cri-minal foi firmando jurisprudên-cia no sentido de que é possível a aplicação da suspensão condi-cional do processo, conforme o artigo 89 da lei supramenciona-da, também ao crime de furto qualificado, na sua modalidade tentada, considerando que a pena mínima abstratamente comina-da ao delito, é produto comina-da subtra-ção máxima de 2/3, da pena-base prevista.
(...).
A interpretação tem por
refe-rência a suspensão condicional do feito juridicamente exigível, de sorte que, em havendo decisão determinando o prosseguimento do feito, passa ela a se constituir em ato coativo sem justa causa, caracterizando a ilegalidade pre-vista no inciso I, do artigo 642, do Código de Processo Penal, saná-vel via habeas-corpus."
(HC nº 328.198/0, São Caeta-no do Sul, 15ª Câm., rel. juiz
Décio Barretti, j. 17.09.98,
v.u.).
Duas penas com regimes
diversos, cuja soma não
permite nova definição,
devem ser cumpridas
sucessivamente
"(...)
A agravada foi condenada no processo 113/94 da 3ª Vara de Indaiatuba à pena de 2 anos e 4 meses de reclusão, em regime inicial fechado, sendo que na ação nº 931/94 da 2ª Vara da mesma Comarca, foi sentencia-da a cumprir 1 ano de reclusão em regime aberto. Somando-se refe-ridas penas, chega-se ao total de 3 anos e 4 meses de reclusão.
Ora, a somatória acima não ultrapassa o limite de 4 anos previsto no art. 33, § 2º, 'c', do diploma legal, o que daria à agra-vada o direito de cumprir suas penas no regime aberto. (...).
Como ela foi sentenciada a 2 anos e 4 meses em regime fecha-do pela primeira ação, deverá então cumprir 1/6 sobre este quantum para ir para o semi-aberto, quando aí deverá expiar mais 1/6 sobre o total supramen-cionado para passar para a mo-dalidade aberta.
Nesse momento é que se so-mará o restante da primeira con-denação, também a ser descon-tada nessa modalidade.
Entender-se o contrário seria agravar a situação da reeducan-da, pois, como mencionada soma de suas penas não dá causa à alteração do regime prisional, ao adotar-se o entendimento do nobre promotor de justiça, aque-la teria de cumprir parte de sua segunda condenação, que por direito deveria ser na modalida-de aberta, no regime mais gravo-so, em clara ilegalidade.
(...)."
(Agravo nº 1.105.753/1, In-daiatuba, 13ª Câm., rel. juiz
Ro-berto Mortari, j. 08.09.98, v.u.).
Jurisprudência compilada por Carlos Gabriel Tartuce Júnior, Cristiano Avila Maronna e Mário Martinelli.