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Palavras-chave: Gênero. Museus de Ciências. Educação não formal. Exposições científicas. Famílias.

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APRENDIZAGEM FAMILIAR EM MUSEUS DE CIÊNCIAS: INTERAÇÕES DE PAIS E MÃES COM EXPOSIÇÕES CIENTÍFICAS

Bruno Rafael Santos de Cerqueira (Programa de Pós - Graduação Interunidades em Ensino de Ciências da USP – Bolsista Doutorado/CAPES) Rafael Vitame Kauano (Programa de Pós - Graduação Interunidades em Ensino de

Ciências da USP) Paula Yumi Nagumo (Instituto de Biociências da USP) Alessandra Fernandes Bizerra (Instituto de Biociências da USP) RESUMO

Os estudos sobre a visitação de famílias a museus têm aumentado nos últimos anos, contribuindo para entender as especificidades das interações desse tipo de público. Estudos indicam que podem existir diferenças de comportamentos quando especificamos o gênero dos pais. O objetivo deste trabalho é compreender como pais e mães interagem com seus filhos em duas exposições de temáticas diferentes (física e em biologia). Coletamos dados de dez famílias que visitaram duas exposições no Espaço Catavento Cultural e Educacional, neste trabalho, apresentaremos as análises referentes a quatro delas. As falas foram categorizadas de acordo com os tipos de conversas estabelecidas por Allen (2002). Apontamos que podem ocorrer elaborações conversacionais diferenciadas de acordo com o módulo temático.

Palavras-chave: Gênero. Museus de Ciências. Educação não formal. Exposições científicas. Famílias.

1. INTRODUÇÃO

Os espaços museais, como instituições educacionais, têm sido o foco de pesquisas no campo da aprendizagem. É importante entender como este processo ocorre dentro destas instituições e para isto é preciso direcionar o olhar dentro das diversas possibilidades de pesquisa. Estas podem abordar a esfera da instituição, mas também as exposições e o público (RUFATO; BIZERRA, 2014).

Os estudos de público tornam-se necessários para o desenvolvimento, planejamento e avaliação de exposições nos museus, uma vez que estes buscam entender as necessidades, interesses e, também, a forma de interação dos visitantes. Studart (2009)

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acrescenta alguns tópicos de interesse nestes estudos como: saber a maneira que os visitantes utilizam as exposições e aparatos interativos; estudar a importância das exposições e materiais informativos como meios de professores e pais estimularem a aprendizagem de crianças durante e após a visita aos museus; e, por consequência, investigar os benefícios da educação não formal e natureza da aprendizagem nesses espaços.

A família é o grupo mais comum em pesquisas de visitação espontânea em museus. Em relação ao estudo de público envolvendo pais e filhos, há interesse em analisar se há especificidade nas relações de pais e mães com seus filhos em visita a museus de ciências. A questão das especificidades de gênero em relação às ciências não é inerente aos museus, estando presentes em pesquisas em diferentes contextos. Brotman e Moore (2008) fizeram uma revisão sistemática e abrangente da literatura sobre gênero e ciências e constataram que, apesar de sua maior participação na área, as mulheres ainda são pouco representadas em algumas áreas das ciências exatas como física, engenharia e tecnologia. Além disso, concluem que meninas de pouca idade preferem e têm maior participação na área de Biologia do que em Física e têm menos experiências extracurriculares em ciências do que os meninos. Estes, por sua vez, teriam visões estereotipadas da ciência como sendo “para meninos”.

Essas especificidades dos gêneros em relação às ciências se fazem presentes também nos museus. Estudos indicam diferenças entre como pais e mães interagem com seu(s) filho(s) em museus de ciências de acordo com a configuração da família, isto é, apenas mães, apenas pais ou mães e pais acompanhando seu(s) filho(s) (NADELSON, 2013; RUFATO; BIZERRA, 2014). Por outro lado, há trabalhos que indicam que não há diferenças entre pais e mães em interação com seus filhos nos museus (BORUN e CHAMBERS, 1999; HILKE 1989). É importante ressaltar que a grande maioria das pesquisas encontradas sobre o tema refere-se aos contextos estadunidense e europeu.

A partir do cenário apresentado, torna-se importante compreender como pais e mães interagem com seus filhos, no contexto brasileiro. Pela literatura analisada, pode-se esperar que pais tenham uma relação mais técnica/utilitária e mães sejam mais afetivas com relação a determinados conteúdos apresentados nas exposições, e até mesmo com relação ao próprio ato de ir à exposição. Entretanto, é necessário questionar se exposições de temáticas específicas estimulam um ou outro tipo de interação, haja vista que estereótipos de gênero em relação às preferências por determinadas áreas das ciências são conhecidos. Assim, tendo o cuidado de não fortalecer estereótipos, a questão que norteia

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esse trabalho é: há, no cenário brasileiro, diferenças nos modos como pais e mães interagem com seus filhos em relação à temática da exposição?

O objetivo deste trabalho é, portanto, compreender como ocorrem as elaborações conversacionais das mães e dos pais em uma visita a duas exposições científicas, voltadas à física e à biologia. Em caso de especificidades de gênero, pretende-se analisar como essas elaborações são estabelecidas. Serão apresentados, nesse trabalho, os resultados e discussões referentes a quatro das 15 (quinze) gravações realizadas até o momento.

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Os dados desta investigação foram coletados durante visitas de famílias ao Espaço Catavento Cultural e Educacional, localizado no centro da cidade de São Paulo. As visitas foram gravadas em áudio e vídeo, sendo posteriormente transcritas. Este trabalho apresenta tanto características qualitativas como quantitativas, sendo que os dados analisados são os conteúdos das falas de pais e mães estabelecidas durante as visitas com seus filhos. Os resultados quantitativos constituem-se como suporte às interpretações qualitativas providas pelos pesquisadores.

O registro da visita foi realizado com um gravador profissional, modelo Zoom Q3HD®, carregado pelos integrantes da família, com sua devida autorização prévia. Com esta ferramenta, foi feito o registro do caminho percorrido e das conversas entre os membros da família. Os áudios capturados foram transcritos, as falas separadas em categorias e analisadas de acordo com os tipos de conversação (descritos posteriormente).

Para o presente trabalho, conversas de quatro famílias foram analisadas e seus perfis, obtidos a partir de uma entrevista semi estruturada (realizada antes da visita) estão descritos a seguir:

Família 4

Esta família era composta pelo pai, de 44 anos, graduado em marketing e atuando na área de gerência de vendas, e sua filha de 10 anos. Conversaram e andaram juntos durante toda a visita ao museu.·.

Família 7

Família formada pela mãe, de 34 anos, graduada na área de recursos humanos e atuando como agente de turismo, junto com seu filho de 11 e sua sobrinha de 10. Embora

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os três membros da família não tenham andado juntos durante todo o módulo do Engenho (física), conversavam e interagiam bastante entre si e chamavam os outros prontamente quando algo no museu despertava o interesse de um integrante da família.

Família 8

Família composta pelo pai de 47 anos, advogado com pós-graduação e seus três filhos (14 7 e 3 anos). Nessa família, durante a visita, tanto o pai como o irmão mais velho ajudavam no entendimento dos menores, sendo que o pai possuía bastante conhecimento sobre a temática apresentada no espaço relacionado à física.

Família 13

Composta pela mãe de 51 anos, dona de casa, com ensino superior incompleto e seu filho de 12 anos. A mãe analisava todos os objetos com calma e atenção, muito entusiasmada, enquanto o filho, mais impaciente, andava pelo espaço parando em alguns momentos nos aparatos eletrônicos. As interações verbais eram sempre iniciadas pela mãe, que tentava atrair o filho para o aparato que acabara de ver e relacionar os assuntos com os conhecimentos do filho.

2.1 O Espaço Catavento Cultural e Educacional

O “Catavento” é um espaço cultural interativo dedicado às ciências, localizado no Palácio das Indústrias na cidade de São Paulo, abrigando módulos temáticos relacionados ao universo, à sociedade, à física e à biologia que norteiam as seções nomeadas: “Universo”, “Sociedade”, “Engenho” e “Vida”. Nesta pesquisa, as seções “Vida” e “Engenho” foram o foco de estudo, por tratarem justamente dos temas ligados à biologia e à física.

A seção “Vida” apresenta os seguintes módulos: Biomas; Árvore da Vida; Insetos; Vida no Oceano; Aquários Marinhos; Fotossíntese; Do Veneno ao Remédio; Aves do Brasil; Evolução e Darwin; Corpo Humano; Célula e DNA. São modelos didáticos, animais taxidermizados, jogos, vídeos e aparatos interativos que abordam os temas ligados à Biologia.

Na seção “Engenho” são utilizados aparatos interativos, experimentos, vídeos e simulações que auxiliam na abordagem de temas ligados à física. Fazem parte dessa exposição os seguintes módulos: Sala das ilusões, mecânica, som, eletromagnetismo, calor, fluídos, luz e óptica.

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2.2 As categorias de análise

As falas dos pais e das mães foram analisadas de acordo com seu conteúdo com o objetivo de se investigar evidências de ensino ou aprendizagem, além de tentar caracterizar a forma como as pessoas interagem entre si durante a visita ao museu. As manifestações verbais foram classificadas de acordo com as categorias pré-estabelecidas por Allen (2002) (Tabela 1). Para essa autora, a partir dessa categorização, é possível estabelecer as especificidades das interações que ocorreram durante a visita. Ressaltamos que as falas dos filhos ajudam no entendimento do contexto da visita, porém não foram categorizadas já que o foco desta investigação está nos pais e mães.

As cinco categorias e dezesseis subcategorias criadas por Allen (2002) para classificar as falas, assim como os respectivos exemplos das subcategorias, encontram-se na Tabela 1. As definições das mesmas estão descritas a seguir e foram baseados no entendimento de Rufato e Bizerra (2014).

Tabela 1 - Categorias e subcategorias criadas por Allen (2002) para classificar as manifestações verbais dos visitantes do museu.

Categoria Subcategoria Exemplo

PERCEPTUAL - engloba as falas em que os visitantes chamam a atenção ou indicam algo a sua volta. Sua importância para a aprendizagem está em destacar algo em específico em um ambiente com muitas informações e estímulos variados.

Identificação - apontar para alguma coisa, seja um objeto ou parte da exposição.

“que bicho é aquele?”

Nomeação - nomear um elemento específico da exposição.

“esse é uma lacraia” “essa é uma roldana”

Caracterização - indicar algum aspecto concreto ou propriedade específica da exposição.

“olha tão fundo que é” “como é escuro aqui”

Citação - ler um texto em voz alta, de forma literal, como uma citação ou paráfrase muito semelhante ao texto original.

leitura de enunciado: “mamíferos são tetrápodes com três ossos na orelha média”

“sistema de refração”

CONCEITUAL - considera as diversas interpretações cognitivas do que é exibido

Inferência simples - interpretação de parte da exposição ou de outro elemento em específico.

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na exposição. A fala não precisa ser complexa ou profunda, bastando ser uma inferência.

Inferência complexa - hipótese ou qualquer forma de generalização de informações ou objetos presentes na exposição. Não necessariamente caracteriza algo complexo de fato, mas se apresenta mais elaborada que a inferência simples.

“não, é que o mundo agora tá… não é tão verde, então.”

Previsão - fala explícita do que se acredita que irá acontecer com algum elemento da exposição, geralmente num local mais interativo.

“mas vai passar, olha”. “vai ficar mais leve desse lado”

Metacognição - reflexão sobre o próprio conjunto de conhecimentos atuais ou recentes.

“mas eu pensava que…”

CONECTIVA - inclui as falas que fazem conexões entre algum elemento da exposição e algum outro fato ou conhecimento da exposição ou fora dela, como uma concepção prévia.

Conexão com a vida - relação de algum elemento da exposição com alguma experiência pessoal ou particular.

“parece aquela que tem no filme…”

Conexão com

conhecimentos prévios - relação de algum elemento da exposição com algum conhecimento ou concepção anterior à visita à exposição.

“mas eu pensava que só existisse só um tipo de tucano”

Conexão com outras partes da exibição - relação entre elementos pertencentes à exposição.

“é igual aquela que vimos antes”

ESTRATÉGICA - inclui conversas sobre como usar a exposição, seja relacionado à manipulação de objetos ou recomendações de como se movimentar, o que e para onde direcionar o olhar ou mesmo como ouvir algo.

Uso - engloba instruções sobre como utilizar uma exposição.

“aperta o botão e fica aí”

Metaperformance - falas ou avaliações sobre o próprio desempenho.

“nossa, eu não tinha nem visto”

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AFETIVA - considera qualquer tipo de expressão de sentimento ou sensação.

Prazer - expressões de sentimentos positivos ou valorização de aspectos ou elementos da exposição. Também inclui risadas.

“olha que legal”

Desgosto - expressões de sentimentos negativos para com aspectos ou elementos da exposição. Esta subcategoria também inclui demonstração de tristeza ou pena.

“não gostei deles”

Intriga/Surpresa - expressões de surpresa, intriga, fascínio ou admiração.

“de novo, nossa”!’

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados serão apresentados de modo a permitir visualizar as possíveis especificidades de conversação das famílias nas visitas às exposições “Vida” e “Engenho”. Para a apresentação dos resultados, foi utilizada a frequência relativa de ambas categorias de participantes da pesquisa, sendo que o objetivo é levantar reflexões sobre possíveis diferenças nas elaborações conversacionais, comparando as temáticas expositivas.

3.1 Família 4 (Pai de 44 anos e filha de 10 anos)

A família 4, composta por pai e filha de 10 anos, apresentou alguns padrões de variação nas manifestações verbais do pai nas duas diferentes exposições (Tabela 2).

Tabela 2: frequência relativa percentual das manifestações verbais do pai da família 4.

Categorias “Engenho” “Vida”

Perceptual 32.26% 50.00%

Conceitual 25.81% 16.87%

Conectiva 3.23% 4.22%

Estratégica 19.35% 7.83%

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Na exposição Vida, é maior a frequência da categoria perceptual (50%) sendo que maior parte das manifestações estão expressas nas subcategorias de identificação (24,70%), comum em visitas a museus (Allen, 2002). Dentro da mesma categoria a subcategoria de caracterização é a segunda mais frequente (16,13%), porém na exposição “Engenho” as categorias conceituais e estratégicas foram mais frequentes (25,81 e 19,35%, respectivamente), com destaque para as subcategorias de inferência complexa e de uso (16,13%, ambas). Esses resultados podem indicar uma maior afinidade do pai a temas relacionados à física. O caráter mais interativo da exposição “Engenho” pode justificar a alta ocorrência de manifestações estratégicas. Sobre isto, Studart (2005, p. 62) aponta que “adultos manifestaram uma atitude entusiasmada com relação à oportunidade das crianças interagirem com aparatos em museus, porque acreditam que isso motiva a criança para o aprendizado e a encoraja a visitar museus com maior frequência”.

A categoria afetiva não apresentou grande diferença entre as frequências encontradas nos dois módulos temáticos com 19,35% na exposição Engenho e 21,08% na exposição Vida, com prevalência das manifestações enquadradas na subcategoria positiva. Adultos, incluindo pais e parentes, costumam achar exposições lugares agradáveis e estimulantes, relatando experiências prazerosas (STUDART, 2005).

3.2 Família 8 (Pai de 47 e três filhos com idades de 14, 7 e 3 anos)

Na família 8, foram identificadas elaborações conversacionais conforme indicado na Tabela 3, abaixo:

Tabela 3: Frequência relativa percentual das manifestações verbais do pai da família 8,

Categorias “Engenho” “Vida”

Perceptual 21.95% 41.46%

Conceitual 15.85% 12.20%

Conectiva 2.44% 14.63%

Estratégica 47.56% 24.39%

Afetiva 12.20% 7.32%

Igualmente à família anterior, durante a visita à exposição “Vida”, e como apresentado por Rufato (2015), a categoria perceptual foi a mais frequente (41,46%), indicando uma possível tendência dos pais desenvolveram conversas perceptuais em exposições com essa temática. Outras conversas desenvolvidas com frequência pelo pai

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da família 8, agora na seção “Engenho”, são as falas estratégicas (47,56%), o que pode novamente ser explicado pela característica interativa dos objetos expositivos. Dessa forma, o pai assume a função de auxiliar os seus filhos na manipulação dos aparatos.

No caso dessa família, destaca-se a diferença de falas conectivas estabelecidas no espaço “Vida” (14,63%) que é relativamente superior ao encontrado em “Engenho” (2,44%). Essa categoria é um indicativo importante de que o visitante consegue estabelecer relações entre o que ele já sabe e o que é apresentado e, dessa forma, pode-se entender que há o estabelecimento de maior relação entre a família em questão e a exposição “Vida”.

3.3 Família 7 (Mãe de 34 anos, sobrinha de 11 e filho de 10 anos)

Os resultados para a família composta apenas por mãe (família 7), por sua vez, estão representados na Tabela 4.

Tabela 4: Frequência relativa percentual das manifestações verbais da mãe da família 7

Categorias “Engenho” “Vida”

Perceptual 20.37% 43.48%

Conceitual 8.33% 12.46%

Conectiva 1.85% 4.64%

Estratégica 25.00% 18.55%

Afetiva 44.44% 20.87%

Destaca-se, na família 7, a maior frequência de falas perceptuais na exposição “Vida”, sendo pouco mais que o dobro do valor encontrado na exposição “Engenho”. Porém, ao analisar as conversas no espaço “Engenho”, percebe-se a maior incidência de conversas afetivas (44,44%). Além disso, assim como nas famílias compostas por pais, ressalta-se um aumento na frequência de falas estratégias no espaço da física. As frequências relativas encontradas para as categorias de conversas conceituais e conectivas não são muito diferentes entre as duas exposições consideradas, mas ambas são pouco maiores na seção “Vida”.

As falas afetivas, encontradas em alta frequência principalmente no “Engenho”, são bem comuns em visitas e devem ser vistas como possíveis elementos potencializadores do processo de aprendizagem (FALK, 1992). Dentro dessa categoria, se destacaram as subcategorias prazer (20,37%) e intriga/surpresa (23,15%). Tal resultado

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pode estar relacionado aos experimentos presentes na exposição que frequentemente geram reações de satisfação ou surpresa por parte dos visitantes.

3.4 Família 13 (Mãe de 51 anos e filho de 13 anos)

Tabela 5: Frequência relativa percentual das manifestações verbais da mãe da família 13.

Categorias “Engenho” “Vida”

Perceptual 22.22% 44.83%

Conceitual 24.07% 19.54%

Conectiva 3.70% 12.64%

Estratégica 31.48% 10.34%

Afetiva 18.52% 12.6%4

Na família 13, destacam-se novamente na exposição “Vida” as falas do tipo perceptual (44,83%) por parte da mãe, enquanto que no espaço “Engenho” surgiram mais falas estratégicas (31,48%). Concordamos com Studart (2005) quando a autora afirma que a forma como a equipe do museu concebe seus aparatos e experimentos afeta diretamente a dinâmica de comportamento da família naquele espaço. Assim, entendemos que na exposição “Engenho”, em que havia diversas atividades coletivas ou que necessitariam do auxílio dos pais, as elaborações conversacionais do tipo estratégicas sejam mais frequentes entre as famílias.

Apontamos também a maior frequência de falas conectivas na exposição “Vida”, resultado também encontrado nas outras famílias, o que pode indicar que os temas e a forma como os objetos estão expostos permitem diálogos que estimulem os visitantes a fazer conexão com seus conhecimentos prévios.

Quando comparamos as manifestações verbais levando em consideração a variável temática expositiva (Tabelas 2 a 5), percebemos que as diferenças entre pais e mães são evidentes em todas as famílias participantes, sejam elas compostas só por pais ou só por mães.

Em geral, percebemos que pais, na exposição “Vida”, elaboraram mais conversas perceptuais enquanto que, no módulo “Engenho”, os mesmos usaram mais falas estratégicas. Tal resultado demonstra que uma exposição que explora modelos “hands-on” pode favorecer este tipo de conversas, enquanto que uma abordagem mais contemplativa, como os objetos do módulo "Vida”, pode favorecer falas mais perceptuais.

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Quando analisamos as mães, notou-se um predomínio de falas perceptuais no módulo “Vida”, enquanto que as mesmas mães na exposição “Engenho” usaram falas mais afetivas. Porém, assim como nos pais, ganhou destaque a categoria estratégica no espaço que abordava questões da física, mostrando mais uma vez a influência das experiências manipulativas.

Por último, destacamos a baixa incidência da categoria conectiva em ambas exposições, mostrando que muitas vezes a experiência museal não permite que os visitantes estabeleçam relações com suas experiências prévias.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho, em andamento, pode contribuir para a pesquisa sobre o público familiar em museus de ciências ao trazer análises de visitas de uma mesma família em exposições de temáticas diferentes e não apenas das interações ocorridas em um aparato específico, de maneira isolada, como é comum nas pesquisas desse tipo. Identificamos que o tema abordado pela exposição pode ter grande influência nos tipos de conversas estabelecidos pelos pais com seus filhos durante suas visitas e destacamos que o caráter mais manipulativo de uma exposição pode promover uma maior interação entre pais e filhos no intuito de entender como deve se dar essa manipulação.

Esses dados contribuem para a reflexão sobre a concepção de exposições e os objetivos pretendidos, indicando que é importante que pensemos no papel que os pais e mães podem desempenhar nesses espaços, a fim de aperfeiçoar a experiência da visitação. Ressaltamos, nesse ponto, que a temática expositiva e, mais ainda, as estratégias expográficas utilizadas podem ser mais relevantes do que o gênero do progenitor.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALLEN, S. Looking for Learning in Visitor Talk: A Methodological Exploration. In: LEINHARDT, G.; CROWLEY, K.; KNUTSON, K. (eds.). Learning Conversations in Museums. Mahwah: London: Lawrence Erlbaum Associates, p. 259-303. 2002.

BORUN, M.; CHAMBERS, M. Gender Roles in Science Museum Learning. Visitor Studies Today, Grandville, v. 3, n. 3, p. 11-14, 1999.

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BROTMAN, J. S.; MOORE, F. M. Girls and Science: A Review of Four Themes in the Science Education Literature. Journal of Research in Science Teaching, v. 45, n. 9, p. 971-1002, 2008.

FALK, J.; DIERKING, L.. The Museum Experience. Washington, D.C.: Whalesback Books. 1992. 206 p.

HILKE, D. The Family as a Learning System: An Observational Study of Families in Museums. In: BUTLER, B.; SUSSMAN, M. (eds.), Museum Visits and Activities for Family Life Enrichment, The Haworth Press, London, p. 101-129, 1989.

NADELSON, L. S. Who is watching and who is playing: parental engagement with children at a hands-on science center. The Journal of Educational Research, v. 106, p. 478-484, 2013.

RUFATO, B. P. Diferenças entre mães e pais em visita a museus de ciências. 2015. 138 p. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências. Área de Concentração: Biologia) – Faculdade de Educação, Instituto de Física, Instituto de Química e Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.

RUFATO, B. P.; BIZERRA, A. F. Pais e mães em visita a museus de ciências no Brasil: há diferenças? Revista da SBEnBio, n. 7, out. 2014.

STUDART, D. C.: Museus e famílias: percepções e comportamentos de crianças e seus familiares em exposições para o público infantil. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 12 (suplemento), p. 55-77, 2005.

STUDART, D. C. O público de Famílias em Museus de Ciência. In: MARANDINO, M.; ALMEIDA, A. . M.; VALENTE, M. E. A. (org.). Museus: Lugar do Público. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2009. p. 95 - 115.

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