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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR VICE-PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MATO GROSSO DO SUL.

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR VICE-PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MATO GROSSO DO SUL.

Processo nº XXXX.XXXXXX-X

O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, por intermédio da Coordenadoria de Recursos Especializados, pela Procuradora de Justiça que esta subscreve, irresignado com o v. acórdão de fls. 100/104 que, contra o parecer, extinguiu a punibilidade do recorrido, tendo em vista que a audiência prevista no artigo 16 da Lei nº. 11.340/06 é imprescindível e a vítima não compareceu na audiência de instrução e julgamento, entendendo que isso demonstra a sua vontade de retratar-se, vem, com fulcro no art. 105, III, “a” e “c”, da Constituição Federal, interpor RECURSO ESPECIAL para o COLENDO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, requerendo a V. Exa., que se digne recebê-lo e processá-lo com as razões em anexo, a fim de ser modificada a decisão proferida no acórdão objurgado.

N. termos, P. deferimento.

Campo Grande, 20 de janeiro de 2011.

Esther Sousa de Oliveira Procuradora de Justiça Em substituição legal

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EXCELENTÍSSIMOS SENHORES MINISTROS DO COLENDO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.

MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL

Proc. de Justiça: Esther Sousa de Oliveira

(Designada pela Portaria 1137/2009-PGJ, de 31.08.2009, publicada no DJ 2038, p. 333, de 03.09.2009)

Manifestação Processual n.º XXX/XXXX

Processo n.º XXXX.XXXXXX-X

Recurso Especial em Apelação Criminal Recte: Ministério Público Estadual Recdo: R.F.D.

Assunto: Art. 105, III, alíneas “a”e “c”, da CF/88.

Pelo recebimento e provimento do recurso para reformar o acórdão recorrido.

RAZÕES DO RECORRENTE

COLENDO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA:

O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, através de sua representante legal, não se conformando com o v. acórdão de fls. 100/104 que, contra o parecer, extinguiu a punibilidade do recorrido, tendo em vista que a audiência prevista no artigo 16 da Lei nº. 11.340/06 é imprescindível e a vítima não compareceu na audiência de instrução e julgamento, entendendo que isso demonstra a sua vontade de retratar-se, interpõe recurso especial, com fundamento no art. 105, III, “a” e “c” da Constituição Federal.

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1 – BREVE RESUMO DOS FATOS:

R.F.D. foi denunciado nos autos de n.º XXX.XX.XXXXXX-X, pela prática dos delitos descritos nos artigos 129, § 9º, e 147, ambos do Código Penal, porque ofendeu a integridade física e ameaçou de causar mal injusto e grave a sua ex-convivente E.L.S., causando-lhe as lesões corporais descritas no Laudo de Exame de Corpo de Delito acostado à fl. 10.

Processado o feito, sobreveio a sentença (fls. 68/69), a qual extinguiu a punibilidade do recorrido por falta de representação.

Inconformado, o representante ministerial de Primeira Instância interpôs RECURSO EM SENTIDO ESTRITO (fls. 70/76), requerendo a reforma da sentença para o prosseguimento do feito.

A Primeira Turma Criminal, manteve a decretação da extinção da punibilidade do recorrido, restando assim ementado:

EMENTA – RECURSO EM SENTIDO ESTRITO – LESÃO CORPORAL E AMEAÇA – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE – RECURSO MINISTERIAL – NÃO REALIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA PREVISTA NO ARTIGO 16 DA LEI N. 11.340/06 – AUSÊNCIA DA OFENDIDA À AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO – REPRESENTAÇÃO NÃO CONFIRMADA – RECURSO IMPROVIDO.

1. No presente caso, não foi realizada a audiência prevista no art. 16 da Lei Maria da Penha, a qual é imprescindível para que a vítima se retrate ou confirme a representação perante o juiz e, por conseguinte, o Ministério Público possa oferecer a denúncia. (Precedentes).

2. Embora seja o caso de anulação da ação penal a partir do recebimento da denúncia diante da não realização da referida audiência, tal providência mostra-se descabida na hipótese, visto que a vítima, embora regularmente intimada para a audiência de instrução e julgamento realizada, deixou de comparecer, 3

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demonstrando o seu desejo de retratar-se, devendo ser mantida a sentença que extinguiu a punibilidade do réu.

3. Recurso improvido.

Desta forma, a douta Corte contrariou o artigo 16, da Lei 11.340/06, bem como deu a ele interpretação diversa da de outros tribunais.

2. DO ATENDIMENTO AOS REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE:

a) Tempestividade do recurso:

Conforme se constata à fl. 106, a Procuradoria de Justiça tomou ciência do acórdão objurgado no dia 17.01.11.

Considerando que o prazo para interposição do recurso especial é de 15 dias, nos termos do art. 787 do Regimento Interno do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, está demonstrado sua tempestividade com a sua propositura nesta data.

b) Quanto aos requisitos genéricos e específicos:

Todas as exigências para a admissibilidade do presente recurso foram devidamente preenchidas, sendo observados os requisitos genéricos em concomitância com aqueles que lhe são específicos.

Sabe-se que recursos excepcionais não se prestam a corrigir alegadas injustiças eventualmente perpetradas na apreciação da matéria de fato discutida no processo, em relação às quais as decisões das instâncias ordinárias são soberanas.

Enquanto às instâncias ordinárias incumbe não só a aplicação do direito aos fatos alegados pelas partes, mas também a apuração desses fatos, aos Tribunais Superiores compete exclusivamente verificar a correta aplicação do direito positivo, de cuja inteireza são guardiões.

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A matéria argumentada no recurso ora interposto tem natureza de direito e não factual.

Assim, a análise mais cuidadosa do acórdão permite concluir pela existência de interpretação de Lei Federal pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul em desacordo com o entendimento do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais.

3. DA DEMONSTRAÇÃO DO CABIMENTO DO RECURSO INTERPOSTO PELA ALÍNEA “A” DO INCISO III DO ART. 105 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL:

DAS RAZÕES PARA A REFORMA DA DECISÃO RECORRIDA: VIOLAÇÃO LITERAL DE DISPOSIÇÃO DE LEI FEDERAL.

O v. acórdão do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, por meio do julgamento realizado pela Primeira Turma Criminal que, contra o parecer, extinguiu a punibilidade do recorrido, equivocou-se ao entender que “...no presente caso, não foi realizada a audiência prevista no art. 16 da Lei Maria da Penha, a qual segundo a mais recente jurisprudência, é imprescindível para que a vítima se retrate ou confirme a representação perante o juiz e, por conseguinte, o Ministério Público possa oferecer a denúncia. Assim, embora seja o caso de anulação da ação penal a partir do recebimento da denúncia diante da não realização da referida audiência, tal providência mostra-se descabida na hipótese, tendo em vista que a vítima, embora regularmente intimada para a audiência de instrução e julgamento realizada (f. 63), deixou de comparecer, demonstrando o seu desejo de retratar-se, devendo ser mantida a sentença que extinguiu a punibilidade do réu.” (fl. 102).

Ora, o artigo 16, da Lei nº. 11.343/06 dispõe:

‘Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.’

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A lei 11.340/2006, no intuito de proteger a mulher vítima de violência doméstica, criou um ato solene para fiscalizar a retratação da representação, para evitar que ela ocorra por ingerência e força do agressor.

O claro objetivo é que o Ministério Público e o juiz fiscalizem a retratação da representação, que muitas vezes ocorre em face de coação ou violência do agressor.

Assim, ouvido o Ministério Público e convencido o juiz de que a retratação é espontânea, tendo por fim a efetiva reconciliação do casal, a real preservação dos laços familiares, e havendo condições favoráveis, deve admitir o pedido, pondo fim ao processo.

Neste sentido:

PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. LESÃO CORPORAL LEVE. LEI MARIA DA PENHA. AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO DA OFENDIDA. APLICAÇÃO DA LEI 9.099/95. RESTRIÇÃO. INSTITUTOS DESPENALIZADORES. ESPONTANEIDADE DO ATO. VERIFICAÇÃO. ANÁLISE DO CASO CONCRETO.

I - A intenção do legislador ao afastar a aplicação da Lei 9.099/95, por intermédio do art. 41 da Lei Maria Penha, restringiu-se, tão somente, à aplicação de seus institutos específicos, despenalizadores - acordo civil, transação penal e suspensão condicional do processo.

II - A ação penal, no crime de lesão corporal leve, ainda que praticado contra a mulher, no âmbito doméstico e familiar, continua sujeita à representação da ofendida, que poderá se retratar nos termos e condições estabelecidos no art. 16 da Lei 11.340/06.

III - O art. 16 da Lei 11.340/06 autoriza ao magistrado aferir, diante do caso concreto, acerca da real espontaneidade do ato de retratação da vítima, sendo que, em se constatando razões outras a motivar o desinteresse da ofendida no prosseguimento da ação penal, poderá desconsiderar sua manifestação de

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vontade, e, por conseguinte, determinar o prosseguimento da ação penal, desde que, demonstrado, nos autos, que agiu privada de sua liberdade de escolha, por ingerência ou coação do agressor. Recurso desprovido (REsp. 1.051.314/DF, Rel. Min. FELIX FISCHER, DJU 14.12.09).

Daí a necessidade da audiência.

Não se destina esta a uma não prevista ratificação da representação.

Atentou a nova lei, ao prever a audiência de retratação da representação, garantir que a mulher, vítima da lesão corporal, não “desista” do prosseguimento da ação contra seu marido ou companheiro, em face de coação ou pressão deste, ou mesmo diante da rotineira situação de violência familiar, onde, muitas vezes, insere-se em condição peculiar de fragilidade e dependência, tanto emocional como financeira, do próprio agressor.

Feito pedido expresso pela ofendida, verbal no cartório, por este certificado, ou escrito nos autos, ou mesmo evidenciada a sua intenção de retratar-se, deve designar o juiz audiência para, antes do recebimento da denúncia, ouvido o Ministério Público, admitir a retratação da representação.

Tem-se, ainda, que não se faz necessária qualquer formalidade na representação, não podendo a audiência prevista no artigo 16 da Lei Maria da Penha ser designada de forma ordinária, de forma a proporcionar à vítima oportunidade de se retratar da representação já oferecida, quando não há nos autos qualquer notícia de que a vítima deseja rever o seu posicionamento no processo.

Neste sentido:

“Assim, em caso de violência doméstica, transfigurada em delito dependente de representação da vítima, a decisão desta em obstaculizar a persecução penal deve ser garantida de quaisquer pressões ou coações, motivo pelo qual a eventual retratação da ofendida precisa ser ratificada perante o Judiciário, como condição de sua eficácia.

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Todavia, no presente caso, quando o ilustre magistrado a quo designou a audiência preliminar, não havia nos autos qualquer manifestação da vitima no sentido de se retratar de sua anterior representação contra o denunciado, no que tange ao delito de ameaça. Portanto, não havia o que ser ratificado em juízo, de modo a justificar de tal designação de oitiva. A vitima manifestação claramente seu desejo em representar contra seu companheiro, tanto em suas declarações em inquérito (fls. 08/09) quanto em termo apartado (fls. 10). Neste ínterim, a designação de audiência para uma “confirmação da representação” realmente afigurou-se um arrepio da lei. O que demanda confirmação é a retratação (ou “renuncia”, na atecnia do texto legal acima transcrito) da vítima e não sua representação válida nos autos. (grifo nosso). (TJMG- RECURSO EM SENTIDO ESTRITO Nº 10024 07 427 524-9/001-COMARCA DE BELO HORIZONTE-RECORRENTE: MINISTÉRIO PUBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS-RECORRIDO: GIOVANNI MOREIRA DOS SANTOS-RELATORA: DESª. MÁRCIA MILANEZ).

Outrossim, não é correto entender que o não comparecimento da vítima na audiência de instrução e julgamento consiste na manifestação de sua vontade em retratar-se, pois a retratação da representação prevista no artigo 16, da Lei 11.343/06, só pode ser realizada "antes do recebimento da denúncia”.

Assim sendo, preclusa a oportunidade para que possível retratação fosse realizada pela vítima, restando clara a contrariedade ao artigo 16, da Lei 11.343/06.

A este respeito têm-se recentes decisões proferidas pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais:

EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - CRIME DE AMEAÇA PERPETRADO NO ÂMBITO DAS RELAÇÕES DOMÉSTICAS - LEI MARIA DA PENHA - DENÚNCIA RECEBIDA - RETRATAÇÃO - IMPOSSIBILIDADE - AUDIÊNCIA DESNECESSÁRIA - MOMENTO APROPRIADO PRECLUSO - NULIDADE INEXISTENTE - CRIME CARACTERIZADO - 'SURSIS' - CUMULAÇÃO INDEVIDA DE

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CONDIÇÕES DE PROVA - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. - Ultrapassada a fase de recebimento da denúncia, sendo formalmente admitida a peça de acusação, inviável promover-se a retratação da representação oferecida, por expressa disposição legal em sentido contrário (art. 16 da Lei n. 11.340 de 2006), sendo desnecessário cogitar de audiência designada para tanto. - Devidamente caracterizado o crime de ameaça, não insta seu afastamento a ulterior reconciliação da ofendida com seu agressor, por ausência de previsão legal. - As medidas previstas para o 'sursis' especial (art. 78, § 2º, do CP) substituem aquelas determinadas ao simples (art. 78, § 1º, do CP), somente podendo haver cumulação em casos excepcionais, em que devidamente justificada a reunião das restrições (art. 79 do CP). - Preliminar rejeitada e recurso parcialmente provido. (TJMG – 16.06.2010- APELAÇÃO CRIMINAL N° 1.0024.07.391430-1/001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE(S): EDSON PEREIRA BISPO - APELADO(A)(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS - RELATOR: EXMO. SR. DES. EDIWAL JOSÉ DE MORAIS).

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO - AMEAÇA E LESÕES CORPORAIS NO ÂMBITO DOMÉSTICO - LEI MARIA DA PENHA - DENÚNCIA RECEBIDA - RETRATAÇÃO - IMPOSSIBILIDADE - MOMENTO APROPRIADO PRECLUSO - RECURSO PROVIDO. - Ultrapassada a fase de recebimento da denúncia, sendo formalmente admitida a peça de acusação, inviável promover-se a retratação da representação oferecida, por expressa disposição legal em sentido contrário. Art. 16 da Lei n. 11.340 de 2006 (Lei Maria da Penha). - Recurso provido [TJMG - 1ª C - RSE 1.0105.06.210688-2/001 - Rel. Ediwal José de Morais - pub. 03/12/2009].

Portanto, contrariou expressamente a Lei o Egrégio Tribunal de Justiça ao anular o processo aduzindo ser imprescindível a realização de audiência para a vítima representar contra o acusado, mormente por já existir sentença condenatória, devendo o acórdão objurgado ser modificado, mantendo a condenação do recorrido A.R.S.

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4. DA DEMONSTRAÇÃO DO CABIMENTO DO RECURSO INTERPOSTO PELA ALÍNEA “C” DO INCISO III DO ART. 105 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL:

DO DISSÍDIO PRETORIANO:

O v. aresto, além de ferir disposição expressa de lei federal, divergiu do julgamento do Tribunal de Justiça de Minas Gerais que, em caso semelhante, decidiu:

EMENTA: RECURSO EM SENTIDO ESTRITO - DELITO DE AMEAÇA - REJEIÇÃO DA DENÚNCIA - PRELIMINAR DE NULIDADE DA AUDIÊNCIA DESIGNADA PARA OITIVA DA VÍTIMA - PROCEDÊNCIA - OFENDIDA QUE MANIFESTOU SEU INTERESSE EM REPRESENTAR CONTRA SEU COMPANHEIRO - ART. 16 DA LEI Nº 11.340/06 QUE NÃO EXIGE DESIGNAÇÃO DE AUDIÊNCIA PARA 'CONFIRMAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO' - INEXISTÊNCIA DE DADOS PROBANTES HÁBEIS A DELINEAR UMA SUPOSTA RETRATAÇÃO DA VÍTIMA - EXAME DE MÉRITO PREJUDICADO - RECURSO CONHECIDO, COM O ACOLHIMENTO DA PRELIMINAR SUSCITADA. (TJMG - RECURSO EM SENTIDO ESTRITO N° 1.0024.07.427524-9/001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - RECORRENTE(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS – RECORRIDO (A)(S): GIOVANNI MOREIRA DOS SANTOS - RELATORA: EXMª. SRª. DESª. MÁRCIA MILANEZ).

Conforme se vê, o v. acórdão paradigma identifica-se com o v. acórdão recorrido porque ambos tratam de hipótese de lesão corporal no âmbito da violência doméstica. Contudo, somente o Tribunal de Justiça de Minas Gerais agiu com acerto ao entender que:

“...Isto porque tal audiência foi instituída pelo legislador ordinário em benefício e segurança da vítima, ou seja, para que sua hipotética decisão de se retratar de uma representação contra seu ofensor , antes do recebimento da denúncia, fosse confirmada sob crivo judicial.

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Vejamos os claros termos da norma sob enfoque:

"Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público."

Assim, em caso de violência doméstica, transfigurada em delito dependente de representação da vítima, a decisão desta em obstaculizar a persecução penal deve ser garantida de quaisquer pressões ou coações, motivo pelo qual a eventual retratação da ofendida precisa ser ratificada perante o Judiciário, como condição de sua eficácia.

Todavia, no presente caso, quando o ilustre magistrado a quo designou a audiência preliminar, não havia nos autos qualquer manifestação da vítima no sentido de se retratar de sua anterior representação contra o denunciado, no que tange ao delito de ameaça. Portanto, não havia o que ser ratificado em juízo, de modo a justificar tal designação de oitiva. A vítima manifestou claramente seu desejo em representar contra seu companheiro, tanto em suas declarações em inquérito (fls. 08/09) quanto em termo apartado (fl. 10). Neste ínterim, a designação de audiência para uma "confirmação da representação" realmente afigurou-se ao arrepio da lei. O que demanda confirmação é a retratação (ou "renúncia", na atecnia do texto legal acima transcrito) da vítima e não sua representação válida nos autos. (...)”

Tem-se ainda o voto proferido nos autos de Apelação criminal nº. 1.0145.09.545207-7/0001 – TJMG (inteiro teor em anexo):

APELAÇÃO CRIMINAL. LESÃO CORPORAL LEVE NO ÂMBITO DOMÉSTICO E FAMILIAR. AUDIÊNCIA DO ARTIGO 16 DA LEI Nº 11.340/06. NÃO REALIZAÇÃO. NULIDADE SUSCITADA DE OFÍCIO. REJEIÇÃO. - A ausência da audiência a que se refere o art. 16 da Lei nº 11.340/06 não enseja a nulidade do processo, pois somente deve ser implementada caso a vítima manifeste, em momento anterior ao recebimento da denúncia, eventual arrependimento, o que inocorreu no caso em tela. APELAÇÃO CRIMINAL - LEI MARIA DA PENHA - LESÃO CORPORAL LEVE - DESCUMPRIMENTO DA REGRA DO ARTIGO 16 DA LEI 11.340/06 - NULIDADE. - O art. 16 da Lei 11.340/06 prevê que, antes do 11

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recebimento da denúncia, deve ser designada audiência especial para o prosseguimento da ação penal. Não observada a formalidade legal, deve ser anulado o processo. (Voto vencido.) APELAÇÃO CRIMINAL - LEI MARIA DA PENHA - LESÃO CORPORAL LEVE - DESCUMPRIMENTO DA REGRA DO ARTIGO 16 DA LEI 11.340/06 - NULIDADE - PRELIMINAR REJEITADA PELA TURMA - PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA - MANIFESTAÇÃO EM SEDE RECURSAL - INCONSTITUCIONALIDADE - INOCORRÊNCIA - LESÃO CORPORAL LEVE E AMEAÇA - AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS - PENA - REDUÇÃO - POSSIBILIDADE. - O art. 16 da Lei 11.340/06 prevê que, antes do recebimento da denúncia, deve ser designada audiência especial para o prosseguimento da ação penal. Não observada a formalidade legal, deve se anulado o processo. - A emissão de parecer pela douta Procuradoria de Justiça não ofende o princípio do contraditório e da ampla defesa, por estar o órgão ministerial, em segunda instância, atuando como ""custos legis"", e, não, como parte. - Restando comprovado que o agente lesionou e ameaçou as vítimas, correta sua condenação pela prática dos delitos previstos nos artigos 129, § 9º, e 147, ambos do Código Penal. O r. acórdão paradigma também versa sobre lesão corporal no âmbito doméstico.

Todavia, ao contrário do entendimento proferido pelo TJMS, o TJMG aduziu que a audiência prevista no artigo 16, da Lei 11.343/06, é para benefício da vítima e não do réu, e para retratação da representação e não ratificação desta.

Verifica-se que o voto vencedor aduziu:

Isto porque, em coerência com o posicionamento que venho adotando, entendo que a audiência a que alude o artigo 16 da Lei nº 11.340/06 não é obrigatória, pois somente ocorrerá caso a ofendida manifeste, em algum momento anterior ao recebimento da denúncia, o seu arrependimento ou desinteresse no prosseguimento na ação penal, o que não se verifica na espécie.

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Importante lembrar, ademais, que tal audiência foi instituída em benefício da própria vítima, ou seja, para que a eventual intenção de se retratar seja confirmada judicialmente, depois de ouvido o Ministério Público, razão pela qual não há se falar em designação obrigatória.

Assim, cabalmente demonstrado que o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul deu à lei federal interpretação diversa da que lhe tem atribuído o Tribunal de Justiça de Minas Gerais.

5. DAS RAZÕES DO PEDIDO DE REFORMA DA DECISÃO RECORRIDA:

Diante do exposto, estando demonstrado que o acórdão recorrido contrariou Lei Federal e deu a Lei Federal interpretação diversa da que lhe tem atribuído outros tribunais, requer o Ministério Público, seja o presente recurso recebido, conhecido e provido por essa Corte Superior, a fim de que seja reformada a decisão proferida no acórdão de fls. 100/104, condenando o recorrido.

Campo Grande, 20 de janeiro de 2011.

Esther Sousa de Oliveira Procuradora de Justiça Em substituição legal

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