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III CONGRESSO INTERNACIONAL DO MAR

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OS PODERES DOS ESTADOS COSTEIROS EM RELAÇÃO À ATIVIDADE DE “BUNKERING” NA ZONA ECONÓMICA EXCLUSIVA ______________________________________________________________________________________________________

§ 1.º

NATUREZA DA ZONA ECONÓMICA EXCLUSIVA (ZEE) 1.1. O CONCEITO DE ZEE

Podemos retirá-lo:

- da Lei n.º 34/2006, de 28 de julho, que determina a extensão das zonas marítimas sob soberania ou jurisdição nacional e os poderes que o Estado Português nelas exerce, interpretada – como determina o seu artigo 3.º - em conformidade com os princípios e normas do direito internacional, designadamente os previstos na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, de 10 de dezembro de 1982 (Convenção).

“OS PODERES DOS ESTADOS COSTEIROS

EM RELAÇÃO À ATIVIDADE DE “BUNKERING”

NA ZONA ECONÓMICA EXCLUSIVA”

UNIVERSIDADE LUSÍADA 21.05.2014

PROF. DOUTOR SÉRVULO CORREIA

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OS PODERES DOS ESTADOS COSTEIROS EM RELAÇÃO À ATIVIDADE DE “BUNKERING” NA ZONA ECONÓMICA EXCLUSIVA ______________________________________________________________________________________________________

1.2. O COMPROMISSO INSTITUCIONALIZADO NA ZEE

A Terceira Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDIM III/UNCLOS III) inovou, adotando soluções não testadas, criando um sistema único, mas por vezes frágil, de pesos e contrapesos, com o objetivo de acomodar interesses antagónicos (DAVID ATTARD, The

Exclusive Economic Zone in International Law, Clarendon Press, Oxford, 1987, p. 66).

Compromisso entre:

- a pretensão de múltiplos Estados de alargamento do mar territorial até às 200 milhas náuticas e a ênfase posta por outros Estados na liberdade de navegação e de outros usos do mar internacionalmente lícitos …

… mare clausum / mare liberum … … mar territorial / alto mar. 1.1. O CONCEITO DE ZEE (Continuação)

Conceito de ZEE: Uma zona situada para além do mar territorial e a ele adjacente, tendo por limite exterior a linha cujos pontos distam 200 milhas náuticas do ponto mais próximo das linhas de base (Lei n.º 34/2006, artigos 2.º e 8.º) …

… sujeita a um regime específico, caraterizado pela conjugação dos direitos de soberania e da jurisdição do Estado costeiro com os direitos e liberdades dos outros Estados.

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1.2. O COMPROMISSO INSTITUCIONALIZADO NA ZEE (Continuação)

O compromisso centra-se na conjugação entre os artigos 56.º e 58.º da Convenção, respetivamente sobre direitos, jurisdição e deveres do Estado costeiro na ZEE e direitos e deveres dos outros Estados na ZEE.

(i) Posição jurídica do Estado costeiro na ZEE (síntese): Artigo 56, 1:

- Direitos de soberania para fins de exploração e aproveitamento, conservação e gestão dos recursos naturais, vivos ou não vivos, das águas sobrejacentes ao leito do mar, do leito do mar e seu subsolo;

- Jurisdição, de conformidade com as disposições pertinentes da Convenção, nomeadamente para efeito de proteção e preservação do meio marinho.

Artigo 56, 2

- No exercício dos seus direitos e no cumprimento dos seus deveres na ZEE, o Estado costeiro terá na devida conta os direitos e deveres dos outros Estados e agirá de forma compatível com as disposições da Convenção.

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1.2. O COMPROMISSO INSTITUCIONALIZADO NA ZEE (Continuação) (ii) Posição jurídica dos outros Estados na ZEE

Artigo 58, 1: - Liberdades:

- de navegação; - de sobrevoo;

- de colocação de cabos e ductos submarinos;

- de outros usos do mar internacionalmente lícitos relacionados com as referidas liberdades.

Artigo 58, 3 - Deveres:

- de tomar em devida conta os direitos e deveres do Estado costeiro;

- de cumprir as leis e regulamentos adotados pelo Estado costeiro em conformidade com a Convenção;

- de cumprir as restantes normas de direito internacional que não sejam incompatíveis com a Parte V da Convenção.

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1.2. O COMPROMISSO INSTITUCIONALIZADO NA ZEE (Continuação) (iii) Cumprimento das leis e regulamentos adotados pelo Estado costeiro

Artigo 73, 1:

- O Estado costeiro pode, no exercício dos seus direitos de soberania de exploração, aproveitamento, conservação e gestão dos recursos vivos na ZEE, tomar as medidas necessárias, incluindo visita, inspeção, apresamento e medidas judiciais, para garantir o cumprimento das leis e regulamentos por ele adotados em conformidade com a Convenção. - Direitos de soberania (“sovereign rights”; “droits souverains”)

Uma ideia de titularidade autónoma de direitos (“ownership”, “dominium”) (Artigo 56,1), (a)); - Jurisdição (“jurisdiction”; “juridiction”)

Uma ideia de poder de autoridade (competência, imperium) (Artigo 56, 1, (b)).

V. ROTHWELL / STEPHENS, The International Law of the Sea, Hart: Oxford and Portland, 2010, p. 84).

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1.3. A SOBERANIA DO ESTADO COSTEIRO SOBRE A ZEE

No que toca à ZEE, a “soberania” ou “direitos de soberania” ou “direitos soberanos” do Estado costeiro não significa que essa zona marítima integre o território estadual. Não se trata, pois, de “soberania territorial”, mas, ainda assim, de direitos que se inscrevem na noção ampla de soberania em direito internacional (V. JAMES CRAWFORD, Brownlie’s Principles of Public

International Law, 8.ª ed., Oxford University Press, 2012, p. 205/206).

Em consequência, um poder independente na definição pelo Estado costeiro dos objetivos e meios das políticas de exploração, aproveitamento, conservação e gestão dos recursos vivos da ZEE.

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§ 2.º

O ENQUADRAMENTO DO “BUNKERING” NA ZEE: OBJETO DOS DIREITOS DE SOBERANIA DO ESTADO COSTEIRO OU FORMA

DE EXERCÍCIO DA LIBERDADE DE NAVEGAÇÃO ? 2.1. O CONCEITO DE “BUNKERING”

- Novidade do termo: não figura, por exemplo, na última edição impressa do “Oxford

Advanced Learner’s Dictionary” (Reimp. de 2010).

- Dificuldade de tradução. Em francês, “soutage”. - Tentativa de uma definição …

“A atividade, exercida no mar de fornecimento de bens ou de prestação de serviços, por uma embarcação a outra embarcação”.

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2.2. AS REFERÊNCIAS (NUNCA DEFINITÓRIAS) DO ITLOS∗À ATIVIDADE DE BUNKERING M/V “SAIGA” (No. 2) (Saint Vincent and Grenadines v. Guinea), Judgment, ITLOS Reports 1999.

par. 31 “… The Saiga was engaged in selling gas oil as bunker and occasionally water to fishing and other vessels off the coast of West Africa”.

Elementos relevantes:

- Fornecimento não necessariamente apenas de combustível;

- Fornecimento a embarcações de pesca ou a outros tipos de embarcações.

Site para consulta da jurisprudência do ITLOS:www.itlos.org.

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2.2. AS REFERÊNCIAS (NUNCA DEFINITÓRIAS) DO ITLOS À ATIVIDADE DE BUNKERING (Continuação)

M/V “VIRGINIA G” CASE (Panama / Guinea-Bissau), Judgment, ITLOS , 2014.

par. 162 “Panama defines bunkering as “the term used in the shipping industry to describe the selling of fuel from specialised vessels, such as oil tankers, which supply fuel (such as light fuel, gas oil and marine diesel) to other vessels whilst at sea”.

Guinea-Bissau considers the description by Panama of the economic activity of bunkering “to be in general correct”.

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2.3. A QUESTÃO DA TITULARIDADE DE DIREITOS DE SOBERANIA DO ESTADO COSTEIRO PARA EFEITO DA REGULAÇÃO DO BUNKERING NA ZEE

JUDGEMENT no caso SAIGA (No. 2) (1999)

- Pretensão da Guiné (Conakri): o Estado costeiro pode aplicar a sua legislação alfandegária às transações efetuadas na ZEE.

- O ITLOS considera que, pelo contrário, “… the Convention does not empower a coastal state to apply its customs laws in respect of any other parts of the EEZ” que não sejam as ilhas artificiais e as instalações e estruturas referidas no art. 60.º, n.º 2 (pa. 127).

Em consequência, se bem que ambas as partes tenham “… requested the Tribunal to make declarations regarding the rights of coastal States and of other States in connection with offshore bunkering, i.e. the sale of gas oil to vessels at sea” (par. 137)…

… “The Tribunal has reached a decision … without having to address the broader question of the rights of coastal States and other States with regard to bunkering in the EEZ” (par. 138).

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2.3. A QUESTÃO DA TITULARIDADE DE DIREITOS DE SOBERANIA DO ESTADO COSTEIRO PARA EFEITO DA REGULAÇÃO DO BUNKERING NA ZEE (Continuação)

JUDGEMENT no caso M/V VIRGINIA G (2014)

Par. 217 “The Tribunal is of the view that the regulation by a coastal State of bunkering of foreign vessels fishing in its EEZ is among those measures which the coastal State may take in its EEZ to conserve and manage its living resources under article 56 of the Convention read together with article 62, paragraph 4, of the Convention”.

Par. 222 “… Such competence … derives from the sovereign rights of coastal States to explore, exploit, conserve and manage natural resources”.

Mas …

…Par. 223 “… The coastal State, however, does not have such competence with regard to other bunkering activities, unless otherwise determined in accordance with the Convention”.

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2.3. A QUESTÃO DA TITULARIDADE DE DIREITOS DE SOBERANIA DO ESTADO COSTEIRO PARA EFEITO DA REGULAÇÃO DO BUNKERING NA ZEE (Continuação)

CONCLUSÕES:

- Um significativo passo na clarificação do regime da ZEE; - Não obstante o teor cautelosamente salomónico da decisão; - Uma ressalva sibilina;

- Uma satisfação minimalista e indireta às críticas provenientes de certos setores da doutrina segundo as quais …

…”It is unfortunate that the efforts of coastal States to curb this practice [IUU fishing] have been undermined by the decisions of ITLOS in the prompt release cases and ITLOS should therefore reconsider the balance it applies between flag States and coastal States if it is to play any meamingful role in addressing this difficult issue” (Nathalie Klein, Maritime

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