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Processo 24181/19.0T8PRT.P1 Data do documento 8 de outubro de 2020 Relator Fernando Baptista

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DO PORTO | CÍVEL

Acórdão

DESCRITORES

Procedimento cautelar > Vontade do testador > Incapacidade acidental

SUMÁRIO

I - O processo cautelar, enquanto procedimento instrumental em relação aos restantes processos definitivos, constituindo a “garantia da garantia judiciária”, não visa a definição, em si mesmo, do direito acautelado, excepto se for decretada a inversão do contencioso.

II - Ou seja, é na acção principal que (salvo aquela excepção) o direito é definido.

III - Porém, sendo certo que o objecto da providência cautelar tem de ser conjugado com o objecto da causa principal, não tem de existir uma perfeita coincidência entre os pedidos neles formulados (atendendo a que se navega em “campos” diferentes e com diferentes objectivos: o meramente cautelar e o da definição do direito).

IV - Mas a identidade entre o direito acautelado e o que se pretende valer no processo definitivo impõe, pelo menos, que o facto que serve de fundamento à providência integre a causa de pedir da acção principal.

V - Não é na providência cautelar em que se invoque factualidade integrante de incapacidade acidental do testador, que se vai decidir pela anulação do testamento. Isso fica para a acção principal.

VI - Na providência apenas importa (obviamente, sempre mediante a alegação e prova, meramente perfunctória, daquela incapacidade acidental) sejam tomadas providências bastantes a acautelar ou prevenir os efeitos nefastos que a validade do testamento implicaria para o Requerente, assim se salvaguardando com suficiência bastante os legítimos interesses deste interessado na partilha, até à decisão definitiva da demanda declarativa que se seguirá.

VII - Provado o estado demencial, em período que abrange o acto anulando, é de presumir, sem necessidade de mais, que na data do mesmo acto aquele estado se mantinha sem interrupção (id quod plerumque accidit = o que acontece geralmente). À outra parte caberá ilidir a presunção.

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Proc. 4181/19.0T8PRT Relator: Fernando Baptista Adjuntos: Des. Amaral Ferreira Des. Deolinda Varão

SUMÁRIO:

... ... ...

I. RELATÓRIO

Acordam na Secção Cível do tribunal da Relação do Porto

B… requereu o presente procedimento cautelar comum contra C…, formulando as seguintes pretensões: “- seja declarado anulado o testamento (doc 5) e, em consequência,reconhecido o Rte (e sua irmã D…) como Herdeiro(s) Legal(is) (Legítimo(s)) de E…, e, por via disso,

- seja o Rdo. condenado a repor todos os bens móveis que já retirou da Rua…, nº …, no Porto,

- sejam, por oficial de justiça, inventariados todos esses bens, bem como os que se encontram na Rua…, nº…, também no Porto, e o Rdo proibido de deles se apropriar, vender ou onerar,

- seja o Rdo. condenado a não vender, onerar, arrendar ou ocupar, os bens que constam de docs 12 e 13, levando-se a registo predial esta condenação.”.

Alegou, para tanto, ser, entre outros, sucessível de E…, e que esta, que faleceu no dia 18 de Novembro de 2019, tendo embora feito testamento a favor do requerido em 15 de Dezembro de 2004, não estava no momento em estado de incapacidade acidental. Mais alegou que o requerido, que vive nos EUA, pretende vender todos os bens da requerida para realizar dinheiro e regressar.

Requereu que a decisão seja proferida sem contraditório prévio. Requereu ainda a inversão do contencioso.

Procedeu-se à produção de prova indicada pelos requerentes.

A final foi proferida sentença julgando improcedente o procedimento cautelar, indeferindo-se as providências requeridas.

Inconformado com esta sentença, dela recorreu o Requerente B…, apresentando alegações que remata com as seguintes

CONCLUSÕES

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ou esquizoafectivo).

Este facto TINHA de ser dado como provado (e não foi), pois assim atestaram as testemunhas que o tribunal reputou como credíveis: Instª: Tinha dito quando é que isto tudo começou, certo?

Testemunha: Não disse directamente, mas eu presumi que… pelas coisas que tirei a seguir, é que isto lhe vinha há, pelo menos, há mais de 20, 30 anos. Aliás, este tipo de psicoses que é muito característico, começa geralmente, na meia-idade, isto é, mais tarde que a esquizofrenia. A esquizofrenia começa, sei lá, entre os dezoito e os vinte e tais, estas, normalmente começam mais tarde, embora também possam começar mais cedo. (Audio: 20191219151213 – Prof F…, 08:42’)

Audio: 20191912153058 – G…

Segundo informações que eu tenho, foi colega de curso da Dra. E……

Testemunha: Sim, sim, fui colega de curso. De faculdade. É pra… pra falar sobre essa fase, é? Instª: Podemos começar por aí… Testemunha: Pronto…

Instª: Como é que era a Dra. E…? 03:06’

Testemunha: A E… estav… foi minha colega, tivemos alguma empatia logo de princípio, começámos a conviver muito regularmente, e ela contava-me, nessa atura, contava-me, a mim e às… a outra colega, e a duas mais colegas com quem estávamos sempre, que havia, em casa, uma senhora, que era a ama deles, que tentava envenenar, a ela e à irmã… a irmã e essa funcionária que estavam feitas uma com a outra, e a mãe, provavelmente também… pronto, e então…

Instª: Sra. Dra. E este irmão, não entrava nesse…Sra. Dra. E este irmão, não entrava nesse…

Testemunha: Nessa altura não. Nessa altura não. Era a H…, que era assim que ela chamava, a mãe e a empregada, que acho que era uma ama que eles tiveram.

Instª: Estamos a falar, Estamos a falar, tinha à volta de…tinha à volta de…

Testemunha: Uns 20 anos. Deza… deza… Dezassete, dezoito, dezanove, vinte, por aí. Nessa altura, eu não tinha ainda percebido que isto era tudo mentira. Que era tudo inventado. E então, tinha muita pena dela, porque realmente… eu não tinha nada disso em casa e viver assim devia ser horrível, não é?... alguém… ela não podia estar em casa. Então ainda fiquei mais amiga dela, procurava protegê-la e até às… “Queres vir lá casa?” E eu ia, mas até ia com medo, a casa dela, porque não sabia o que é que ia acontecer. Ela dizia “não bebas daqui”, “eu vou-te lavar o copo”, não sei quê…, “pode estar envenenado para mim”, era sempre, era assim, tudo muito misterioso lá em casa, como ela… segundo ela me fazia crer. Pronto, esta foi a fase da faculdade.”

(…) 07:52’

Testemunha: E ela vivia ali. Pronto. Depois, ali, quando estava em … … a casa era muito boa, aquilo era muito alegre, ela gostava muito, mas, de repente, começou a dizer que estavam a espiá-la, porque ela abriu a janela da parte de trás e viu uma luz no prédio vizinho. Ora, só podiam estar a espiá-la. Então, ela começou a fechar, a tapar as… as tomadas, não abria as janelas, tomava banho às escuras – disso eu lembro-me perfeitamente, dizia-lhe “olha que tu vais-te… olha que podes cair”, “ah eu…” pronto. – Houve aí uma fase em que ela até ficou… estava muito… eu acho, deprimida, porque ela um dia liga-me e diz-me “olha que eu não consigo…” – uma voz mesmo mal – “não me consigo levantar, eu estou… estou… não

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comi… estou assim…” Eu disse “faz o seguinte: vai, levantas-te, ouves… estás sempre com o meu telefone ligado, vai à cozinha, põe a água num copo com açúcar e bebe, mas faz isso.” Eu estive a acompanhá-la até ela acabar de fazer isso, e disse assim, “agora vai- te deitar, que, entretanto, vais melhorar”, pronto, para lhe dar tempo para poder, depois, ligar e poder estar com ela. Pronto. Isso… Essa… essa mania da perseguição começou, que eu me lembre, portanto, nessa altura, muito acentuadamente, contra tudo aquilo que pudesse estar… que ela pensasse que estava a espiá-la. Até… até no K…, na escola.

(…) 12:15’

Testemunha: 2003, 2004, 2005, isto foi assim um período… um período alargado. Não foi só… Não sei se foi um ano, ou dois, ou três, mas foi assim um período muito alargado.

(…)

Instª Casas. Quando a Dra. E… mudava eram muito boas, durante pouco tempo 18:08’

Testemunha: Durante pouco tempo.

Instª Mas depois do outro lado acendia se uma luz e o que é que acontecia? Testemunha: Fechava tudo, fechava as janelas, começava a fechar as tomadas… Instª Mudava de casa?

Testemunha: Diga?

Instª Mudava de casa? Testemunha: Mudava logo de casa. (…) 18:28’

Testemunha: Sim, nessa altura, 2004, 2003, 2005. Foi por aí, ela fez

… Ia pró …, vinha, depois já não… Depois até resolveu ir aos jazigos, também. “O I… tem jazigos, deixa-me lá ver o que é que tem.” Foi lá, ligou-me de lá do jazigo: “estou aqui no jazigo do I…. Está cheio de pratas. Vou levar as pratas todas. Não vá ele lembrar-se de vir aqui ao jazigo levar as pratas.” As pratas que eram dele, mas ela achou que, naquele momento, as coisas que estavam no jazigo também tinha que levar… J… - Audio: 20191219155842 06:44’

Instª O que é que aconteceu com a Dra. E…, e qual era a postura dela perante a vida?

Testemunha: Ela nessa altura estava, creio que estava no K…… e … teve … teve bastantes problemas de conflito, resultantes da sua instabilidade… emocional, da sua… da sua agitação, da sua perturbação e… Instª Já nessa altura vivia nesse mundo, chamemos-lhe, alternativo? Testemunha: Já. Já um bocado. Já um bocado. Já um bocado…. A nível de hostilizar ou sentir-se perseguida.

(…) 12:48’

Testemunha: Era capaz de se aperceber. Porque… ela vinha com uma… Deixava sempre escapar a sua mania de perseguição … o que a perseguia.. porque ela tinha muito essa… essa… esse convencimento. Ela estava perfeitamente convencida que ela era perseguida.

(…)

Ela andou aí numa fase muito agitada, 2003, 2004, quando estava em …, ela estava completamente perturbada…

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Audio: 20191219162409 – L… 10:07’

Testemunha: Eu acho que em 2004/2005 foi uma altura em que ela foi viver ali para a Rua … Juiz: ….

Testemunha: … e convidou-me para eu ir lá a casa. E eu disse-lhe: “olhe, Menina, não vou, eu à sua casa não vou, porque eu… Vou trabalhar…”

Instª: Vou-lhe fazer a pergunta de outra maneira, senão… Nessa altura foi uma altura em que a Dra. E… terá tido… um agravamento?

Testemunha: Ah, sim, sim. Mental. Até saiu de casa da Mãe, não ia a casa da Mãe… entr… entrava lá e saia, que ainda tinha as chaves de casa, ia ao quarto dela, não entrava no quarto da Mãe…

13:37’

Testemunha: Ai… Ela já … Quando eu fui lá pra casa já ela andava no psiquiatra. Instª: Isso é quando?

Testemunha: Quando eu para lá fui pra casa, para tomar conta da Mãe… Instª: Quando?

Juiz: Quando é que pra lá f… Sr. Dr. Desculpe…

Testemunha: Praí mil novecentos e… ora noventa e ci… noventa e dois, noventa e três. Juiz: 92, 93. E já era seguida pelo psiquiatra? Testemunha: Já era seguida pelo psiquiatra. Audio: 20191219164115 – D… 09:57’

Testemunha: Consigo. Por exemplo, ela, na época estava no Liceu K… … liceu esse onde houve uma série de problemas, e… ela vinha para casa de táxi, muitas vezes, e uma vez disse-me “imagina que o … o indivíduo do táxi que era cego… um cego… que me levou para casa…” Era assim.

E no mesmo sentido aponta a ciência médica - “Final da adolescência e início da idade adulta são os anos mais comuns para o desencadeamento do transtorno esquizoafetivo, embora haja relatos de seu desencadeamento na infância. Como é um transtorno psiquiátrico mais frequente entre 15 e 30 anos é importante considerar que pode ser desencadeado por uso de drogas.” – in, wikipédia, com remessa para estudos científicos.

B) Mais teria o Tribunal de dar como provado que a psicose de que sofria incapacitava a Testadora de uma vontade “sã”.

Assim aponta a Jurisprudêcia (nacional e estrangeira). Vg, além dos já citados, Acs.:

STJ 08/03/2018 STJ 19/01/2016 STJ 24/05/2011 RP 16/06/2014 RP 08/05/2000 RL 07/06/2018 RL 20/12/2018 RG 04/10/2018 RG 09/04/2018

Da mesma forma apontou o Prof F…, seu psiquiatra: Instª: Uma última pergunta, agradecendo, desde já, os seus esclarecimentos, com esse quadro, acha que a Dra. E…, sendo uma doente sua, tem uma vontade sã ao elaborar um testamento?

16:19’

Testemunha: Oh Sr. Dr, eu penso que… eu penso que não, porque, repare, isto… A Sra. Dra. era desconfiada de tudo. Das pessoas que podiam adivinhar os… os… ou antes, que ela acreditava que a

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perseguiam por causa dos gostos dela, ou das cores… os objectos que ela tinha, ou das músicas que ouvia… isto afecta a pessoa. Se eu desconfiar … É por isso que estas pessoas … Uma das limitações maiores … Uma das maiores limitações …

Instª: Pode ser motivo para arranjar um 31 de todo o tamanho, é isso? Testemunha: Claro, e por isso estas pessoas, o principal défice que têm é no relacionamento interpessoal, porque isso… por exemplo, uma pessoa destas é… que desconfia que a vizinha do lado lhe manda mensagens através do frigorífico: fica a odiar a vizinha do lado que nunca lhe fez mal nenhum, não é? Isto… isto é susceptível … As pessoas deste género, de uma maneira geral, têm uma vida muito isolada, porque incompatibilizam-se com muita gente, não é?, e portanto, isto afecta-lhes a sua capacidade de discernimento e de decisão, é evidente.

17:34’

Instª: Sr. Dr., clinicamente, e mesmo para acabar a instância, não sei se tem conhecimento do testamento que a Dra. E… fez (Testemunha: tenho, tenho vagamente que ela tinha…) em que, no fundo, deixa todo o seu património a um irmão que está nos Estados Unidos, e que, alegadamente pouco a visitava.

Testemunha: Sim.

Instª: O sr. Dr. Encontra alguma justificação… no aspecto da medicina…

Testemunha: Quer dizer, não me espanta nada esse tipo de decisões que uma pessoa com a doença dela possa fazer… E se calhar até o irmão tinha o benefício de estar longe, não é?, não é que fosse obrigatório… obrigatoriamente por isso, mas…

Aliás, também assim apontando a medicina “teórica”:

Socorrendo-nos do Dicionário de Psicopatologia Forense para uso de juristas, de Gian Carlo Spirolazzi, p. 53, podemos ler acerca desta grave doença mental, que:

“É uma doença caracterizada fundamentalmente pela dissociação, isto é, pela falta de coordenação entre as faculdades psíquicas principais, especialmente, o pensamento, afectividade e vontade, e também entre os próprios elementos do pensamento”.

Como se lê do Ac RL, in

http://www.dgsi.pt/jtrl.nsf/33182fc732316039802565fa00497eec/0a66702da2b87182802582ce00356d2d? OpenDocument

“VII-Impunha-se, pois, ao tribunal, dar como provado que na altura em que testou, a Autora sofria de psicose, crónica, constante e irreversível, que a impedia de formular uma vontade sã.

VIII-Se resultar provado que o testador sofria de esquizofrenia paranóide ou outra doença do foro psíquico, em contínua actividade e progressão, é de presumir que, no momento da feitura do testamento, aquele se encontrava numa situação de incapacidade natural de entender e de querer o sentido da declaração testamentária, incumbindo à beneficiária do testamento fazer a prova de que, no momento da feitura deste testamento, apesar da esquizofrenia paranóide de que sofria, o testador não foi influenciado pelo concreto estado demencial em que se encontrava.

XIX- Só assim não será se, no momento da realização do testamento, as capacidades mentais do testador, forem atestadas, confirmadas por perito médico, ou seja, por pessoa com especiais conhecimentos para atestar que, naquele momento, o testador se encontrava lúcido e capaz.”

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RP 16/06/2014

I - A anulabilidade do testamento por incapacidade de facto do testador exige a demonstração que essa incapacidade existia no momento da outorga do testamento.

II - No entanto, não é exigível que apenas por atestado médico, atestando a incapacidade no preciso momento da outorga, aquela demonstração seja possível.

RP 08/05/2000

III - A incapacidade acidental, a quando da feitura do testamento, do testador não interdito por anomalia psíquica, pode ser objecto de presunção judicial socorrendo-se o juiz das regras da experiência comum e atendendo à gravidade e evolução de situações de incapacidade anteriormente vividas pelo testador, de modo a inferir-se que ele, no acto da outorga do testamento, não podia entender o sentido nem querer o alcance da declaração manifestada.

C) Do mesmo modo se imporia ter dado como provado que o beneficiário do testamento vai dissipar o património, pois assim apontam os docs 1 e 2, que ora se juntam, como apontava o senso- comum (quem vive há anos nos EUA, vendeu os bens que recebeu dos pais, e pouco cá vem… vai guardar estes?!!), como já apontavam os depoimentos das testemunhas, reputadas por credíveis:

12:04’ – D…

Instª: … neste caso, caso estes bens vão, efectivamente, parar à sua esfera jurídica, o que é que ele vai fazer com estes bens que eram da sua irmã E…?

Testemunha: Vai vender, porque é assim, há cerca de quinze dias ou dezoito dias, mais ou menos, após… após o falecimento da minha irmã, eu ainda estive com o meu irmão C…, na casa da M… e o meu irmão deu-me conta de que… de que sim, tudo ia ser avaliado, fazer um estudo de mercado, para os bens serem vendidos. Instª: Se ele ficou cá com alguma coisa, ou se, pelo contrário…

23:55’ – J…

Testemunha: Vendeu! A própria E… me dizia que … o que… eventualmente fosse para a América, se fosse para a América, era tudo transformado em… em dólares. Portanto, ela, manifestamente não queria que… que as coisas fossem para a América.

10:30’ – L…

Inst: Sabe o que é que o irmão que está nos Estados Unidos fez aos bens? Testemunha: Vendeu.

Instª Sabe… Sabe que vendeu? Testemunha: Vendeu. Instª: Como é que sabe?

Testemunha: Pelo menos… Ele disse às … disse aos irmãos que ia vender tudo, não é?, eu depois não acompanhei esses senhores, que eu não estava lá em casa, mas, que vendeu tudo…

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D) Mesmo que o tribunal entendesse (sem razão aparente) não dar como provado o diagnóstico da doença, sempre devia ter dado como provada a existência de doença (psiquiátrica), capaz de lhe tolher a formação da vontade, e que teve agravamento (dos sintomas) em 2003/2004, pois nisso as testemunhas foram unânimes e, ao contrário do que se lê na sentença, precisas – o que bastaria para que fosse a Providência decretada, pois estamos no domínio de prova indiciária!

E) Provada a doença e a inerente falta de sã vontade e o ensejo de venda dos bens por parte do Rdo., deveria o Tribunal ter decretado a providência, como requerida, ou adequando-a a salvaguardar o direito invocado – o Direito a Suceder. Não o fez!

Nestes termos,

Deve a sentença ser revogada e substituída por outra que dê como provado (além dos factos já provados) que:

E… sofria à altura do testamento de doença psiquiátrica que a incapacitava de formar uma sã vontade; Anulando-se, em conformidade, o seu testamento.

Que o Rdo. pretende vender os bens.

E, por via disso,

Decretando-se a providência requerida, ou adequando-a aos fins por ela visados – garantir o direito a suceder de herdeiros legítimos.

Normas violadas: 607º e 368º, ambos do CPCivil. Só assim se cumprirá o Direito e se fará

JUSTIÇA!!! *

Foram colhidos os vistos legais.

Os autos foram redistribuídos em cumprimento do Provimento n.º 18/2020, exarado em 14-09-2020 pelo Exmo. Juiz Desembargador Presidente do Tribunal da Relação do Porto, tendo novamente ido vistos dos novos Senhores Desembargadores Adjuntos.

II. FUNDAMENTAÇÃO II.1. AS QUESTÕES

Tendo presente que:

- O objecto dos recursos é balizado pelas conclusões das alegações dos recorrentes, não podendo este Tribunal conhecer de matérias não incluídas, a não ser que as mesmas sejam de conhecimento oficioso (arts. 635º, nº4 e 639º, do C. P. Civil);

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- Os recursos não visam criar decisões sobre matéria nova, sendo o seu âmbito delimitado pelo conteúdo do acto recorrido,

as questões suscitadas no recurso são:

• Se devem ser dados como provados os seguintes factos:

1. Na altura em que E… fez, com 54 anos, o seu testamento (2004) era doente psicótica (do tipo paranoide ou esquizoafectivo), doença esta que a incapacitava de formar uma sã vontade;

2. O Requerido/beneficiário do testamento pretende vender os bens.

• Se, perante a nova factualidade dada como provada, deve ser decretada a providência e se o deve ser nos termos requeridos.

II.2. OS FACTOS

No tribunal recorrido entendeu que, “Perante a prova apresentada, resultam indiciariamente provados os seguintes factos”:

1) O requerente, o requerido, E… e D… são irmãos.

2) E… fez testamento no dia 15 de Dezembro de 2004, em que, sem prejuízo da legítima da sua mãe se lhe sobrevivesse, instituiu como seu herdeiro o requerido ou os seus descendentes, se este não lhe sobrevivesse.

3) Foi-lhe diagnosticado um transtorno esquízo-afectivo, de que padecia pelo menos desde 24 de Março de 2005.

4) E… faleceu no dia 18 de Novembro de2019.

1) O requerido vendeu os bens que recebeu por óbito dos pais.

2) E… deixou bens imóveis e móveis, parte herdados por óbito dos pais. *

No mesmo tribunal recorrido deu-se como não provado que:

a.- No momento em que fez o testamento, E… não estava capaz de perceber o sentido do que declarou e o que consta do testamento não corresponde a uma sã e real pretensão daquela em beneficiar o requerido. b.- O requerido anunciou que iria vender os bens que E… deixou.

III. O DIREITO

Vejamos, então, as questões suscitadas no recurso.

1. QUESTÃO PRÉVIA: DA ADMISSIBILIDADE DA JUNÇÃO DOS DOCUMENTOS COM AS ALEGAÇÕES.

Junta o Recorrente com as suas alegações de agravo os documentos 1 e 2 que diz se referirem a factos que só agora conheceu.

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Sem mencionar ao abrigo de que preceito do CPC faz assa aludida junção, o certo é que a junção dos documentos às alegações só pode ocorrer no condicionalismo previsto no artº 651º daquela lei adjectiva.

Dispõe o art. citado artº 651º, nº1, do CPC que as partes podem juntar documentos às alegações: ■ Nas situações excepcionais a que se refere o artigo 425º;

■ ou no caso de a junção se tornar necessária em virtude do julgamento proferido na 1ª instância.

- Os casos excepcionais previstos nesse art. 425º são os documentos cuja apresentação não tenha sido possível até àquele momento – o encerramento da discussão. E é, manifestamente, o caso presente, como ressalta da data alia aposta como de emissão.

E a pertinência de tal junção é mais que evidente, pois deles se indicia com relevância que o Requerido terá mandado entregar “tudo” a uma vendedora imobiliária (N…), assim se revelando patente a intenção de se desfazer do património recebido por via do testamento dos autos.

Como tal, e sem mais delongas, admite-se a junção requerida. **

A. DA IMPUGNAÇÃO DA MATÉRIA DE FACTO

O Recorrente impugna a apreciação de facto levada a cabo no tribunal recorrido, entendendo que não foi vertida na decisão recorrida a factualidade relevante que emergiu dos autos.

Como é sabido, impende sobre o Recorrente o ónus a que se reporta o art.º 639º do CPC, que é o de, na interposição de qualquer recurso, apresentar a sua alegação, na qual deve concluir, embora de forma sintética, pela indicação dos fundamentos por que pede a alteração ou anulação da decisão, a que acresce o ónus previsto no art.º 640º, estabelecido especificamente para os casos em que seja impugnada a decisão relativa à matéria de facto.

Portanto, as conclusões (que, diga-se, não são uma reprodução de toda a argumentação desenvolvida na fundamentação do recurso, mas uma síntese dessa argumentação que terá de permitir a identificação clara dos motivos de discordância do recorrente e integrar a formulação do pedido de alteração da decisão recorrida, em conformidade) não podem deixar de sintetizar as razões que estão subjacentes à interposição do recurso, tendo de permitir a identificação clara dos motivos de discordância do recorrente, tanto mais porque são elas que definem o objecto do recurso, conforme resulta do disposto no art.º 635.º, n.º 4, do CPC.

Ora, cremos que o Apelante deu suficiente cumprimento ao disposto naquele normativo (artº 639º CPC).

E quanto ao cumprimento ao disposto no artº 640º do CPC?

Deve o Recorrente cumprir, no essencial, os ónus ali contidos: especificar, sob pena de rejeição, os concretos pontos de facto que considera incorrectamente julgados; indicar os concretos meios probatórios, constantes do processo, de registo ou de gravação nele realizada, que impunham decisão sobre os pontos da matéria de facto impugnados diversa da recorrida; indicar com exactidão as passagens da gravação e

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identificar e localizar no processo os documentos em que funda a sua impugnação; indicar a decisão (de facto) que, em seu entender, deve ser proferida sobre cada um dos pontos de facto impugnados (nº1). Sendo que estatui, por seu turno, do n.º 2 do mesmo artigo:

«No caso previsto na alínea b) do número anterior, observa-se o seguinte:

a) Quando os meios probatórios invocados como fundamento do erro na apreciação das provas tenham sido gravados, incumbe ao recorrente, sob pena de imediata rejeição do recurso na respectiva parte, indicar com exactidão as passagens da gravação em que se funda o seu recurso, sem prejuízo de poder proceder à transcrição dos excertos que considere relevantes;

b) Independentemente dos poderes de investigação oficiosa do tribunal, incumbe ao recorrido designar os meios de prova que infirmem as conclusões do recorrente e, se os depoimentos tiverem sido gravados, indicar com exactidão as passagens da gravação em que se funda e proceder, querendo, à transcrição dos excertos que considere importantes.».

Ora, parece que o Recorrente não teve grandes preocupações de índole formal neste segmento, na medida em que, designadamente, não teve o cuidado de mencionar – elencando, com a devida arrumação – , nomeadamente, os concretos pontos de facto que considera incorrectamente julgados (isto é, quais, de entre os factos dados pelo tribunal a quo como provados ou não provados, aqueles em que considera ter havido erro na apreciação da prova, com que fundamento preciso e respectivos concretos meios probatórios).

Porém, percebe-se, quer no corpo das alegações, quer nas próprias conclusões, quais os factos que considera incorrectamente julgados na 1ª instância e em que sentido entende que o deveriam ter sido e com que base probatória: obviamente que o que pretende é, no essencial, insurgir-se contra a relação de factos declarados na sentença como não provados, mostrando, ao invés, que tal factualidade ficou provada, seja a incapacidade da testadora, no momento em que outorgou o testamento, seja a vontade do requerido em vender os bens que daquela recebeu.

E também no que tange às passagens da gravação (al. a) do nº 2 do artº 639º CPC), faz-se, é certo, menção a elas nas conclusões das alegações. Mas a sua localização não é muito precisa.

Como quer que seja, cremos bastante a indicação feita.

Aliás, mesmo que nas conclusões se não indicasse, de todo, a localização de tais passagens, não cremos que essa omissão nas conclusões propriamente ditas fosse motivo bastante para a rejeição do recurso da matéria de facto, pois seria uma sanção assaz pesada e, a nosso ver, desproporcional e injustificada. Estamos perante um ónus secundário que impende sobre o recorrente, que tem como função apenas facilitar o acesso ao meio de prova.

Seguimos, assim, o entendimento sufragado, designadamente, nos Acs. desta Relação, de 08.03.2016 (proc. n.º 46519/13.4YIPRT.P1)[1] e de 07.12.2018 (proc. nº 323/17.0T8VFR.P2)[2].

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1. Na altura em que E… fez, com 54 anos, o seu testamento (2004) era doente psicótica (do tipo paranoide ou esquizoafectivo), doença esta que a incapacitava de formar uma sã vontade?

Salvo melhor opinião, parece que a prova carreada aos autos é bem mais que suficiente para dar como provado este facto – dir-se-ia mesmo que a prova havida não é apenas indiciária, mas firme.

E isso mesmo é demonstrado de forma quase “arrasadora” nas doutas alegações, de forma que quase eramos tentados a, simplesmente, para elas remeter.

Vejamos, apenas, alguns aspectos da “carga” probatória trazida aos autos que mostram, à saciedade, que na altura da outorga do testamento a testadora era, de facto, doente psicótica (do tipo paranoide ou esquizoafectivo), sendo que essa doença não lhe permitia (aliás, desde há muito tempo…) formar uma vontade sã, designadamente – para o que aqui importa – na explanação do que fez constar do documento. Ou seja, que estava munida do vício da incapacidade acidental, susceptível de levar à anulação do testamento (ut artº 2199º CC).

Como disse, é abundante a prova nos autos neste sentido.

ü Desde logo, temos o depoimento do Dr. F…, médico psiquiatra e que foi o médico psiquiatra da testadora E….

Disse esta testemunha:

“…eu acho que a Sra Dra E… tem um diagnóstico que pra mim é relativamente evidente para qualquer psiquiatra…acho eu… embora o nome não seja dado por todos da mesma maneira. Mas tem aquilo que se chama uma psicose delirante crónica, ou também há quem lhe chame uma psicose paranoide. É isso que ela tinha…”.

“ ..isto lhe vinha há, pelo menos, há mais de 20, 30 anos. Aliás, este tipo de psicoses que é muito característico, começa geralmente, na meia-idade, isto é, mais tarde que a esquizofrenia. A esquizofrenia começa, sei lá, entre os dezoito e os vinte e tais…”

E à pergunta, em jeito de remate: “com esse quadro, acha que a Dra. E…, sendo uma doente sua, tem uma vontade sã ao elaborar um testamento?”

Responde, sem qualquer hesitação:

- “Oh Sr. Dr, eu penso que… eu penso que não, porque, repare, isto… A Sra. Dra. era desconfiada de tudo. Das pessoas que podiam adivinhar os… os… ou antes, que ela acreditava que a perseguiam por causa dos gostos dela, ou das cores… os objectos que ela tinha, ou das músicas que ouvia… isto afecta a pessoa. Se eu desconfiar … É por isso que estas pessoas … Uma das limitações maiores … Uma das maiores limitações …

- Instª: Pode ser motivo para arranjar um 31 de todo o tamanho, é isso?

Testemunha: Claro, e por isso estas pessoas, o principal défice que têm é no relacionamento interpessoal, porque isso… por exemplo, uma pessoa destas é… que desconfia que a vizinha do lado lhe manda

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mensagens através do frigorífico: fica a odiar a vizinha do lado que nunca lhe fez mal nenhum, não é? Isto… isto é susceptível … As pessoas deste género, de uma maneira geral, têm uma vida muito isolada, porque incompatibilizam-se com muita gente, não é?, e portanto, isto afecta-lhes a sua capacidade de discernimento e de decisão, é evidente.

ü O mesmo se extrai do depoimento da G…, ex-colega da testadora. Atente-se, apenas, no seguinte excerto do seu depoimento:

Estamos a falar, tinha à volta de…

Testemunha: Uns 20 anos. Deza… deza… Dezassete, dezoito, dezanove, vinte, por aí. Nessa altura, eu não tinha ainda percebido que isto era tudo mentira. Que era tudo inventado. E então, tinha muita pena dela, porque realmente… eu não tinha nada disso em casa e viver assim devia ser horrível, não é?... alguém… ela não podia estar em casa. Então ainda fiquei mais amiga dela, procurava protegê-la e até às… “Queres vir lá casa?” E eu ia, mas até ia com medo, a casa dela, porque não sabia o que é que ia

acontecer. Ela dizia “não bebas daqui”, “eu vou-te lavar o copo”, não sei quê…, “pode estar envenenado para mim”, era sempre, era assim, tudo muito misterioso lá em casa, como ela… segundo ela me fazia crer. Pronto esta foi a fase da faculdade.

Testemunha: Nessa altura só tinha essas, que era envenenada, que iam envenená-la e que… que… Instª: E um namorado virtual

(…)

.. andou a perseguir colegas. Havia amigas… uma grande amiga dela, a Célia Vouga, uma vez disse-me a mim, “eu vou ter que chamar a polícia, porque ela faz-me uma perseguição cerrada. Eu quando chego a casa à noite, depois das aulas… o a qualquer hora, ela fica ali – nas Antas – e fica com o carro virado para a minha entrada , quando eu chegou ela liga os faróis e eu até me assusto”.

(…)

Ela todos os dias tomava banho às escuras. Todos os dias.

ü E assim também vai o depoimento da J…:

Instª: Consegue descrever-nos a sua personalidade?

Testemunha: Ela era uma senhora muito, digamos, muito inconstante, sem saber o que queria. Acho que ela era uma pessoa que não sabia o que queria. A própria Mãe já dizia que ela… que tinha muita pena que ela não conseguia saber… se.. sentir… aquilo que queria para ela própria. Que era uma pessoa que, além de fazer os conflitos que fazia com os outros, que também, digamos, ela própria não sabia o que fazia com ela própria, porque o que queria hoje, amanhã já não era a mesma coisa.

Instª: E isso era uma constante na vida? Testemunha: Continuamente, continuamente.

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Testemunha: Relativamente ao testamento… a minha irmã fez o testamento… em 2004, numa fase em que a minha irmã estava altamente conturbada. Uma fase muito má da vida dela, de… devido ao problema psíquico grave e que não estava… pronto… tinha situações absolutamente insanas, aquilo… ela tinha… ela tinha situações, realmente, que para descrever é um bocado difícil.

Instª: … Consegue dar exemplos?

Testemunha: Consigo. Por exemplo, ela, na época estava no Liceu K…… liceu esse onde houve uma série de problemas, e… ela vinha para casa de táxi, muitas vezes, e uma vez disse-me “imagina que o … o indivíduo do táxi que era cego… um cego… que me levou para casa…” Era assim.

Instª: Tinha ou não uma ideia constante de que a senhora mais o seu irmão a iam envenenar? Testemunha: Tinha… Tinha uma ideia… Isso já há muitos anos atrás.

Tinha, tinha…, essa… essa ideia, pronto. Tinha. (…)

… ela, por exemplo, lá em casa dormia sempre com a porta fechada à chave, não admitia que ninguém entrasse no quarto…

Portanto, perante todos os elementos probatórios trazidos aos autos, cremos que há mais do que bastaria num procedimento cautelar: a prova meramente perfuntória. Aqui a prova é bem mais do que isso, é abundante e consistente no sentido de um diagnóstico paranoide, como se extrai das transcrições juntas aos autos: tinha paranoias - namorados “virtuais”; vivia pensando que estava a ser perseguida por todos, fugindo dos “perseguidores”; julgava que os irmãos D… e B… a queriam matar; via-se conduzida por um “taxista ceguinho”; gerava um conflito por ouvir uma palavra ou por visualizar uma cor; etc., etc.. Tudo a corroborar a conclusão de que a testadora não tinha, de facto, uma vontade sã aquando da outorga do testamento (e de há muito tempo antes, diga-se).

Ausência dessa vontade sã a que igualmente se chegava por presunção judicial, assente na ciência médica. Com efeito, se, à altura do testamento, a situação do testador era o estado de demência paranóide, parece-nos ser de considerar que esse estado demencial existia no momento da celebração do referido negócio jurídico.

E a ciência médica não deixa margem para dúvidas sobre a doença de que a testadora padecia, seu âmbito e efeitos em termos comportamentais e de funcionamento da mente.

Assim, como vimos, o psiquiatra da testadora foi peremptório: “Sra Dra E… tem um diagnóstico que para mim é relativamente evidente para qualquer psiquiatra…acho eu… embora o nome não seja dado por todos da mesma maneira. Mas tem aquilo que se chama uma psicose delirante crónica, ou também há quem lhe chame uma psicose paranoide. É isso que ela tinha.” - rematando que, devido a essa doença, não tem uma mente sã ao elaborar um testamento.

“…As pessoas deste género, de uma maneira geral, têm uma vida muito isolada, porque incompatibilizam-se com muita gente, não é?, e portanto, isto afecta-lhes a sua capacidade de discernimento e de decisão, é

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evidente.”.

Sobre a esquizofrenia, nas suas várias vertentes e/ou manifestações (v.g., sobre a forma paranóide da doença), sua evolução, efeitos, etc., remete-se para as citações deixadas pelo Recorrente nas alegações, onde traz à liça Autores reputados na matéria e que corroboram a posição do Recorrente.

Quanto à referência feita na sentença da Drª E… ter um “discurso coerente”, tal é irrelevante para o caso, como bem mostra o recorrente[3].

E também – ao invés do que se diz na sentença – não nos parece ser aqui relevante o facto de a testadora viver sozinha.

Com efeito, viver sozinha não era uma manifestação de independência ou de capacidade, mas apenas, e só, a expressão do seu afastamento, uma característica inerente à própria doença.

Aliás, como bem observa o Recorrente, nem quando casou viveu com o marido. E o facto de estar em permanentes conflitos com os demais, designadamente, com familiares e amigas, não ajudaria a que nem ela se sujeitasse a viver com outra pessoa, nem os outros com ela.

E o mesmo se diga no que toca ao “argumento”, vertido na sentença, referente ao facto de não ter havido internamento. É que tal não é conditio sine qua non para se determinar da gravidade deste tipo de transtorno psíquico. De todo[4].

Concorda-se, assim, com o Recorrente: “as considerações insertas na douta sentença da Primeira Instância, não atendem suficientemente nem à natureza da “anomalia psíquica” de que a Dra. E… era portadora, nem à gravidade que, em concreto, à data do testamento, essa doença mental apresentava, uma vez que, conforme prova testemunhal sobejamente feita, foi o período mais crítico que a senhora passou.”.

Termos em que se considera provado o seguinte facto:

“Na altura em que E… fez o seu testamento (2004) era doente psicótica (do tipo paranoide ou esquizoafectivo), doença esta que a incapacitava de formar uma sã vontade”.

Assim se eliminando, consequentemente, a al a) dos factos não provados.

1. O Requerido/beneficiário do testamento pretende vender os bens?

Parece evidente que – pelo menos em termos de prova perfunctória, que aqui basta – tal está provado. Isso mesmo resulta dos depoimentos das testemunhas.

Assim, v.g.: • D…:

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fazer com estes bens que eram da sua irmã E…?

Testemunha: Vai vender, porque é assim, há cerca de quinze dias ou dezoito dias, mais ou menos, após… após o falecimento da minha irmã, eu ainda estive com o meu irmão C…, na casa da M… e o meu irmão deu-me conta de que… de que sim, tudo ia ser avaliado, fazer um estudo de mercado, para os bens serem vendidos.

• J…:

“A própria E… me dizia que … o que… eventualmente fosse para a América, se fosse para a América, era tudo transformado em… em dólares. Portanto, ela, manifestamente não queria que… que as coisas fossem para a América.”.

• L…:

“Ele disse às … disse aos irmãos que ia vender tudo, não é?, eu depois não acompanhei esses senhores, que eu não estava lá em casa, mas, que vendeu tudo… que ia vender tudo. Porque a própria Mãe disse-me uma vez “o que mais me custa é que o C…, o que vai receber da nossa parte, ele vai vender tudo, ele não vai ficar com nada nosso. Isso é o que mais me custa.”.

O que é reforçado pelos documentos juntos com as alegações, donde ressalta clara a intenção do requerido de vender tudo o que recebeu da testadora, dado ter já entregue tal património a N…, vendedora Imobiliária.

Termos em que se considera provado o seguinte facto:

“O Requerido/beneficiário do testamento pretende vender os bens que recebeu no testamento”. • Perante a nova factualidade dada como provada deve ser decretada a providência requerida? Cremos que sim.

A factualidade provada preenche, sem dúvida, os requisitos ou pressupostos exigidos no decretamento de providencia cautelar: a verificação da probabilidade séria da existência do direito invocado pelo requerente (fumus boni iuris) e a urgência de tutela atento o fundado receio de ser causada lesão grave e dificilmente reparável (periculum in mora) – art. 368.º, n.º1, do nCPC.

É certo que ainda que se preencham os referidos pressupostos, a providência deverá ser indeferida, em nome do princípio da proporcionalidade, se o prejuízo que dela resulte para o requerido exceder consideravelmente o dano que com ela o requerente pretenda evitar (ut art. 368.º, n.º2, do nCPC). Porém, tal situação, manifestamente, aqui se não verifica.

• Quanto ao primeiro requisito (fumus boni iuris), está preenchido: estando verificada uma situação de incapacidade acidental do testador, ao requerente, como interessado na partilha, assistia o direito em anular o testamento, com as inerentes consequências.

(17)

O artigo 2.179º do Código Civil[5] define o testamento como o acto unilateral[6] e revogável[7] pelo qual uma pessoa dispõe, para depois da morte, de todos os seus bens ou de parte deles.

O testamento é, assim, uma declaração de vontade pela qual o de cuius designa os seus sucessíveis a fim de, através desse acto, transmitir o seu património ou alguns dos bens que o integram[8].

Sendo uma declaração destinada a produzir os seus efeitos após a morte do testador, assume a natureza mortis causa.

O artigo 2.182º realça o carácter pessoal do testamento ao estabelecer que o mesmo é insusceptível de ser feito por meio de representante ou de ficar dependente do arbítrio de outrem no que tange aos aspectos que considera fundamentais[9]:

- escolha do sucessor (instituição de herdeiros ou nomeação de legatários);

- fixação do objecto do chamamento sucessório (objecto da herança ou do legado); determinação do cumprimento das disposições[10].

O carácter pessoal e a circunstância de os seus efeitos se produzirem após a morte do seu autor, ou seja, num momento em que nem o exacto sentido das suas palavras, nem a liberdade e a força da sua vontade pode ser testada, conduziu o legislador a prever um apertado esquema de formalismo e um vasto leque de nulidades[11].

O testamento é um negócio formal, já que a sua validade depende da observância das formas previstas nos artigos 2.204º a 2.206º, 2.210º a 2.212º, 2.214º, 2.219º, 2.220º, 2.223º do Código Civil.

Por outro lado, esse formalismo aparece como garante da expressão livre e última do testador, pretendendo o legislador que a forma de transmissão corresponda à sua vontade real. Tal reflecte-se na aferição da capacidade[12], bem como na garantia da liberdade de disposição ao prever a nulidade de deixas testamentárias a pessoas que tivessem um ascendente sobre o autor da sucessão[13].

Assim, dispõe, ainda, o art. 2199° do mesmo Código:

É anulável o testamento feito por quem se encontrava incapacitado de entender o sentido da sua declaração ou não tenha o livre exercício da sua vontade por qualquer causa, ainda que transitória.

Preceito, portanto, que prevê dois fundamentos legais de anulabilidade do testamento: a incapacidade acidental e coacção moral (art. 2201° e 255°).

Note-se que já Pires de Lima e Antunes Varela[14] chamavam a atenção que, ao contrário do que sucede no comum dos negócios inter vivos em que se recorre a juristas na preparação e redacção final dos contratos, a elaboração do testamento permanece uma tarefa “solitária” em que cada um apenas em si próprio confia. Por outro lado, nem sempre as pessoas têm capacidade de redigir com clareza as suas determinações de última vontade, a que não será alheia o medo da proximidade da morte, a precipitação com que, por vezes, é realizado, problemas de saúde, pressões exercidas sobre a vontade debilitada e a memória confusa. Todos estes factores determinam que certas disposições testamentárias sejam, por

(18)

vezes, indecifráveis. *

No caso presente, estamos perante uma situação de incapacidade acidental da testadora.

Há incapacidade acidental (art. 257.º do CC) quando alguém, por qualquer causa (anomalia psíquica não declarada, embriaguez, abuso de drogas ou outra causa semelhante), se encontra momentaneamente incapacitado de entender o sentido da declaração ou privado do livre exercício da vontade.

Trata-se de um vício que afecta a capacidade de discernimento ou de livre exercício da vontade, de tal modo que o incapacitado forma uma vontade e emite uma correspondente declaração que em condições normais não quereria nem emitiria [15].

Em tais situações, quando a declaração negocial é feita por quem, devido a qualquer causa, se encontrava acidentalmente incapacitado de entender o sentido dela ou não tinha o livre exercício da sua vontade, é anulável se a incapacidade for notória, isto é, notável por uma pessoa de normal diligência, ou conhecida do declaratário (artigo 257.º do Código Civil).

Não podemos esquecer que a declaração negocial é um comportamento que, exteriormente observado, cria a aparência de exteriorização de um certo conteúdo de vontade negocial, sendo esta definida como a intenção de realizar certos efeitos práticos com ânimo de que sejam juridicamente tutelados e relevantes [16].

A declaração negocial pretende ser o instrumento de exteriorização da vontade psicológica do declarante e, enquanto comportamento externo, manifesta normalmente uma vontade formada sem anomalias e coincidente com o sentido exteriormente captado.

Porém, entre outros problemas [17], pode colocar-se uma situação de vício da vontade.

A incapacidade acidental tanto pode respeitar à falta de entendimento como de querer, podendo ser transitória ou duradoura.

Portanto, como vimos, para que se verifique tal incapacidade, é necessário que, no momento em que a declaração é feita, o seu autor se encontre, por doença [18] ou qualquer outra causa acidental [19], em condições psíquicas que não lhe permitem entender e querer [20], ou seja, que existam circunstâncias endógenas que originem uma falta de entendimento ou de livre exercício da vontade que levem o declarante a emitir uma declaração que em condições de normalidade não corresponderia ao que quereria [21].

Para efeitos do disposto no artigo 2199 do Código Civil, o essencial é determinar se, no momento da feitura do testamento, o testador se encontrava ou não privado de uma vontade sã.

O ónus da prova dos factos demonstrativos da incapacidade acidental do testador, no momento da feitura do testamento, recair sobre o interessado na anulação do testamento, nos termos do artigo 342, n.º 1 do Código Civil[22] – in casu, sobre o Requerente.

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Assim, não se encontrando, como vimos, a testadora, no momento da feitura do testamento em causa, em condições psíquicas de entender e de querer o sentido da declaração testamentária, o testamento é anulável (art. 2199 do Código Civil)[24].

Resultado a que se chegaria mesmo com recurso às presunções[25].

Essa falta de capacidade da testadora ficou, como vimos, provada (como dissemos, mais do que em termos meramente perfunctórios).

Como tal, é patente o direito do Requerente em ver anulado o testamento com as inerentes consequências, designadamente – no que aqui importa, enquanto providência meramente cautelar –, impedindo que o requerido proceda à dissipação desse património que recebeu da testadora.

• Quanto ao segundo requisito – a urgência de tutela atento o fundado receio de ser causada lesão grave e dificilmente reparável (periculum in mora) –, é manifesto que igualmente se encontra preenchido: da prova produzida resulta assente que o requerido pretende vender tudo o que recebeu da Testadora por força do testamento.

Não se devendo olvidar que, como dito já, em sede de providência cautelar se exige apena uma summaria cognitio ou um juízo perfunctório dirigido à “apparenza di essere vero”. Ou seja, a verificação, em concreto, da existência do direito ameaçado implica tão-só um juízo de possibilidade, cujo ponto de referência não é a realidade mas a hipótese (existência de fundadas razões para tomar um facto por verdadeiro)[26].

Assim sendo, preenchidos estão os requisitos ou pressupostos para o deferimento de requerido procedimento cautelar.

Mas nos exactos termos requeridos – pergunta-se? Não nos parece.

O Requerente veio formular, a título meramente cautelar, pedidos típicos de acções constitutivas e condenatórias – in casu, e em especial, pedido de anulabilidade de um negócio jurídico, o testamento. Quid iuris?

Como é sabido, o processo cautelar não visa a definição, em si mesmo, do direito acautelado, excepto se for decretada a inversão do contencioso. Antes está dependente de uma causa que tenha por fundamento o direito acautelado (arº 364º, nº1 CPC).

Ou seja, é na acção principal que (salvo aquela excepção) o direito é definido. Acautela-se ou antecipa-se, na providência cautelar, provisoriamente os efeitos da providencia definitiva, na pressuposição de que será favorável ao requerente a decisão a proferir no processo principal.

Assim se pode dizer que o procedimento é instrumental em relação aos restantes processos definitivos, constituindo a “garantia da garantia judiciária”, utilizando a expressão de Calamandrei, defendida por Castro Mendes[27].

(20)

E que dizer quanto ao objecto da providência cautelar relativamente ao da causa principal?

Tal objecto daquela tem de ser conjugado com o objecto desta, embora essa dependência não imponha perfeita identidade[28]. Cremos, com efeito, que não tem de existir uma perfeita coincidência entre os pedidos neles formulados, nem, sequer, a alegação do mesmo circunstancialismo fáctico integrador da causa de pedir na acção definitiva e nos fundamentos da providência solicitada. Porém, a função instrumental que a lei atribui aos procedimentos cautelares não é compatível com um total divórcio entre os respectivos objectos. Assim, a identidade entre o direito acautelado e o que se pretende valer no processo definitivo impõe, pelo menos, que o facto que serve de fundamento à providência integre a causa de pedir da acção principal[29].

Ou seja – e voltando ao caso sub judice – , quer na providência, quer na acção principal, a factualidade que as sustenta tem sempre de assentar na incapacidade da testadora, fundamento de anulação do testamento.

Mas, obviamente, isso não significa que aqui, na providência cautelar, se possa peticionar a anulação desse instrumento. Isso fica para a acção principal. Aqui importa, apenas e só – obviamente, sempre mediante a alegação e prova, meramente perfunctória, daquela incapacidade acidental da testadora – tomar providências cautelares de forma a prevenir os efeitos nefastos que a validade do testamento implicaria para o Requerente. Isso e só isso basta para satisfazer o desiderato ou objectivo da providência cautelar, assim se salvaguardando com suficiência bastante os legítimos interesses do Requerente/interessado na partilha dos bens da testadora, até à decisão definitiva da demanda declarativa que se seguirá.

Pretende o Requerente que:

1. Seja anulado o testamento e, m consequência,

2. Seja reconhecido o requerente (e sua irmã) como Herdeiros Legais (legítimos) de E…, e, por via disso, 3. Seja o Rdo. condenado a repor todos os bens móveis que já retirou da Rua…, nº …, no Porto;

4. Sejam, por oficial de justiça, inventariados todos esses bens, bem como os que se encontram na Rua…, nº…E, também no Porto, e o Rdo proibido de deles se apropriar, vender ou onerar, e bem assim,

5. Seja o Rdo. condenado a não vender, onerar, arrendar ou ocupar, os bens que constam de docs 12 e 13, levando-se a registo predial esta condenação.

Ora, atento o expendido supra, logo se vê que o referido nos pontos 1. e 2. se “enquadra” no âmbito da decisão a proferir na acção declarativa definitiva, a instaurar.

Como dito, cremos ser patente que os interesses pretendidos salvaguardar pelo Requerente com a presente providência cautelar – e só isso se “enquadra” no objectivo da providência – ficam satisfeitos com o deferimento dos pedidos 3, 4 e 5 supra – obviamente, como dito, os pedidos 1 e 2 terão, naturalmente, de ser formulados e decididos na acção principal, sem os quais os demais decairiam (pois pressupõem a qualidade de herdeiro e bem assim a anulação do testamento).

(21)

Assim procede a questão suscitada, pelo que se deferirá a providência cautelar, embora nos sobreditos termos.

IV. DECISÃO

Termos em que acordam os Juízes da Secção Cível do Tribunal da Relação do Porto em julgar procedente a apelação, revogando-se a decisão recorrida, em função do que:

1. Se determina que o Requerido proceda à reposição de todos os bens móveis que já tenha retirado da Rua…, nº…, no Porto, pertencentes à herança aberta por óbito de E….

---2. devendo, por oficial de justiça, ser inventariados todos esses bens, bem como os que se encontram na Rua…, nº…, também no Porto, sendo o Requerido proibido de deles se apropriar, vender ou onerar;

3. Se proíbe o Requerido de vender, onerar, arrendar ou ocupar os bens que constam de docs. juntos com a p.i. sob os nºs 12 e 13, pertencentes à mesma herança.

4. Custas em conformidade com o estatuído no artº 539º, nº1 CPC.

Porto, 8 de outubro de 2020. Fernando Baptista

Amaral Ferreira Deolinda Varão _____________

[1] «(…). II - A falta da exata indicação das passagens da gravação do depoimento que fundamenta a impugnação da matéria de facto constitui um ónus secundário que impende sobre o recorrente, que tem como função apenas facilitar o acesso ao meio de prova.

III - Por essa razão, não se pode aplicar a sanção da rejeição imediata do recurso nessa parte, cominada para a inobservância do ónus primário estabelecido no artigo 640.º, n.º 1, CPC (indicar os concretos pontos de facto que considera incorretamente julgados, os meios de prova que imponham decisão diversa e a decisão que deve ser proferida), cuja função é a delimitação do objeto do recurso.

IV - Caso a omissão da exata indicação das passagens da gravação dificulte excessivamente a localização dos excertos relevantes deve ser proferido despacho de aperfeiçoamento.».

[2] «No que respeita ao ónus de indicação exata das passagens da gravação que suporta a pretensão do impugnante da decisão da matéria de facto, na senda dos acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de 11 de Outubro de 2011, relatado pelo Sr. Juiz Conselheiro Martins de Sousa, no processo n.º 522/03.0JTCFUN.L1 e de 04 de Julho de 2013, relatado pelo Sr. Juiz Conselheiro Moreira Alves, no processo n.º 1727/07.1TBSTS-L.P1.S1, ambos acessíveis no site da DGSI, entendemos que a omissão da indicação detalhada ao minuto e ao segundo das passagens em que se estriba a impugnação não obsta ao conhecimento da impugnação da matéria de facto, bastando para tanto a indicação dos depoimentos em causa, bem como da identificação de quem os prestou, tanto mais que o tribunal ad quem, no exercício da sua tarefa de reapreciação da decisão da matéria de facto deve procurar formar a sua própria convicção, exercendo, para tanto, os poderes oficiosos que lhe são conferidos (veja-se o artigo 640º, n.º 2, alínea b),

(22)

do Código de Processo Civil).

[3] Como ali se observa, nem todo o doente com transtorno esquizoafectivo tem, necessariamente, um discurso ilógico ou incoerente, aliás, conforme assegura Tiago Azevedo, em Transtorno esquizoafetivo #1: Causas, sintomas e fatores de risco, 05/07/2016:

“Um indivíduo diagnosticado com transtorno esquizoafetivo tem episódios recorrentes de humor elevado ou deprimido, ou de modo simultâneo elevado e deprimido, ocorrerendo em conjunto ou alternando com as distorções de percepção. Simplificando – o indivíduo experimenta uma combinação de sintomas de esquizofrenia (alucinações, delírios) e sintomas de transtorno de humor (mania ou depressão).

Esta doença geralmente afeta a cognição (pensamento, saber, lembrar-se, julgar e resolver problemas) e emoção. O paciente pode experimentar alucinações auditivas, delírios bizarros, paranoia, e pode ter discurso desorganizado e pensar com disfunção social e profissional considerável

(ter problemas sociais e no trabalho).” – https://psicoativo.com/2016/07/transtorno-esquizoafetivo-causassintomas- tratamentos-cura.html.

[4] A regra é que o internamento apenas é necessário quando o paciente apresenta um quadro grave, em que não faz uso adequado dos medicamentos e representa um perigo para si e/ ou para os outros. – E, conforme foi dito pelo psiquiatra que acompanhava a Dra. E…, após o falecimento do Prof. O…, ela até foi bastante aderente à medicação, na época em que o procurou. Motivo pelo qual não se justificaria um internamento, e, possivelmente não se justificou anteriormente, na medida em que nem todo o esquizofrénico é agressivo, e a Dra. E…, eventualmente, não terá representado um verdadeiro perigo para si ou para outrem.

[5] A este diploma se reportam todas as normas sem indicação de proveniência.

[6] Salientando esta unilateralidade, assim como a discrição e inteira liberdade inerente à instituição de deixas testamentárias, com distinção relativamente às doações mortis causa, GALVÃO TELLES in Direito das Sucessões, Coimbra Editora, 6ª edição, 1991, pg. 119.

[7] Vide artigos 2.311º a 2.314º.

[8] Precisamos, no entanto, de ter presente que, de acordo com o nº 2 do artigo 2.179º do Código Civil, as disposições de carácter não patrimonial cuja inserção no testamento a lei permita são válidas conquanto fizerem parte de um acto revestido de forma testamentária, ainda que nele não figurem disposições de carácter patrimonial. Daqui decorre que o autor do testamento pode omitir qualquer disposição de bens, usando-o, designadamente, para perfilhar (cfr. artigo 1.853º alínea b) do Código Civil), nomear tutor (artigo 1.928º nº 3), confessar factos (artigo 358º nº 4), revogar anterior testamento (artigo 2.312º).

[9] Permite o legislador que o testador cometa a terceiro a repartição da herança ou do legado quando institua ou nomeie uma generalidade de pessoas e que proceda à nomeação do legatário de entre as pessoas que determine.

[10] Cfr. PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA in Código Civil Anotado, VI, Coimbra Editora, 1998, pg. 293. [11] Nesse sentido vide STJ de 28.09.2006 in http://www.dgsi.pt/ processo nº 06A1451.

[12] Cfr. artigo 2.199º.

[13] Cfr. artigos 2.192º, 2.194º, 2.196º, 2.197º e 2.198º do Código Civil. [14] CC Anotado, 304.

(23)

[15] Carvalho Fernandes, Teoria Geral do Direito Civil, vol. II (1983), 309; cfr. também Menezes Cordeiro, Tratado de Direito Civil Português, I, pp. 508 e ss., e Rodrigues Bastos, Direito das Sucessões, II, 161. [16] Cfr. Manuel de Andrade in Teoria Geral da Relação Jurídica, Almedina, 1983, p. 122.

[17] Além do indicado, Mota Pinto (Teoria Geral do Direito Civil, Coimbra Editora, 3.ª ed., 1986, p. 416) aponta a divergência entre a vontade e a declaração e a interpretação da declaração negocial.

[18] Um indivíduo portador de anomalia psíquica, não interdito nem habilitado, poderá realizar um negócio jurídico subsumível na norma em análise. Contudo, há que ressalvar a possibilidade de existência de intervalos lúcidos, caso em que a declaração será plenamente válida.

[19] Mota Pinto (in op. cit., p. 244) aponta como exemplos embriaguez, estado hipnótico, intoxicação, delírio, ira. Por sua vez, o STJ em acórdão de 3 de Maio de 1974 (in BMJ, 237, p. 176) alude ao primeiro e ao segundo e, ainda, a droga.

[20] Cfr. Ac. STJ de 3.05.1974 in http://www.dgsi.pt/jstj00003454; Ac. STJ de 28.03.1995 in http://www.dgsi.pt/jstj00026993.

[21] Cfr. Ac. STJ de 25.02.2003 in http://www.dgsi.pt/ 02A4271.

[22] Mota Pinto (in op. cit., p. 244) faz corresponder a expressão “notório” a cognoscível.

[23] Já, porém, incumbe ao Requerido, como beneficiário do testamento, fazer a prova de que, no momento da feitura do testamento, o testador, apesar da esquizofrenia de que sofria, não foi influenciado pelo concreto estado demencial em que se encontrava. Prova que não está feita.

[24] No direito francês actual, dispõe o art. 901 (L. n.º 2006-728 du 23 juin 2006) do Código Civil, que: “Pour faire une liberalité, il faut être sain d’esprit. La liberalité est nulle lorsque le consentement a été vicié par l’erreur, le dol ou la violence”.

[25] Afirmava Galvão Telles, na RT, Ano 72, p. 268, que: “Provado o estado demencial, em período que abrange o acto anulando, é de presumir, sem necessidade de mais, que na data do mesmo acto aquele estado se mantinha sem interrupção. Corresponde isto ao id quod plerumque accidit; está em conformidade com as regras da experiência. À outra parte caberá ilidir a presunção, demonstrando (se puder fazê-lo) que o acto recaiu num momento de excepcional e intermitente lucidez” – destaques nossos. No Ac. da RC, de 9-12-1959, publicado na Jurisprudência das Relações, tomo V, pág. 952 (citado no livro Da Incapacidade Jurídica dos Menores Interditos e Inabilitados, 2.ª ed., pág. 264, de António Pais de Sousa e Carlos Frias de Oliveira Matias), entendeu-se que:

“Quando o testador é um alcoólico crónico, o ónus da prova de que ele estava em seu perfeito juízo quando da feitura do testamento impende sobre o beneficiário deste” (ponto III do respectivo Sumário).

Sobre a problemática da incapacidade acidental, no domínio do Código Civil anterior, v. Carlos Alberto Mota Pinto, Valor dos actos jurídicos dos dementes, in RDES, Janeiro – Junho 1965, Ano XII, p. 1 e segs.

[26] Cfr. M. Taruffo, La prova dei fatti giuridici, pps. 160, 161 e 164. [27] Direito Processual Civil, rev. E actual., vol. I, pág. 253.

[28] Cfr., Lebre de Freitas, CPC Anotado, vol. II, pág. 17.

[29] Assim, v.g., Lebre de Freitas, cit. e Acs. Da Rel de Évora de 9.4.87, BMJ 367º/593 e da Rel de Guimarães de 26.8.2002, col. Jur., T. IV, pág. 271.

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