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SAYARA SANTOS DE AGUIAR SUICÍDIO ASSISTIDO À LUZ DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA

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Lauro de Freitas 2017

SAYARA SANTOS DE AGUIAR

SUICÍDIO ASSISTIDO

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Lauro de Freitas 2017 17de outubro de 2017 Ano Lauro de Freitas 2017

SUICÍDIO ASSISTIDO

À LUZ DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à UNIME como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em Direito.

Orientadora: Lisla Vassoler

SAYARA SANTOS DE AGUIAR

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SAYARA SANTOS DE AGUIAR

SUICÍDIO ASSISTIDO

À LUZ DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à UNIME, como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em Direito.

BANCA EXAMINADORA

Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a)

Lauro de Freitas, 23de novembro de 2017

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Dedico este trabalho a Deus, por ter iluminado meus caminhos e me conduzido até aqui, à minha família, em especial minha mãe Maria D’ Ajuda Santos de Aguiar, que sempre me incentivou a buscar uma vida melhor, através dos seus conselhos, durante todo curso de graduação, a minhas irmãs e ao meu amigo, companheiro e namorado Tarsso da Cruz Castro por está comigo nesse momento tão especial em minha vida.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu Deus, principal responsável pela minha conquista, pois sem sua divina permissão não conseguiria. A minha família, minha mãe Maria D’ Ajuda Santos de Aguiar e minhas irmãs Sumaia Aguiar e Suan Aguiar que sempre acreditaram em mim. Aos meus queridos docentes, pelos ensinamentos compartilhados ao longo desses anos. Em especial a minha orientadora e Dra. Lisla Vassoler, professora de Direito Civil, que me ajudou nos momentos em que precisei, obrigada por orientação, que foram fundamentais na realização deste trabalho. Por fim, registro meu carinho, respeito e gratidão a todos que contribuíram direta e indiretamente em minha vida pessoal e acadêmica.

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AGUIAR, Sayara Santos de. Suicídio assistido: A luz da constituição brasileira. 2017. 43 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso Direito – UNIME, Lauro de Freitas, 2017.

RESUMO

Este estudo tem como tema o suicídio assistido, a luz da constituição brasileira. Busca-se analisar a grande problemática existente, desde o conceito do instituto até as figuras do homicídio privilegiado. O desenvolvimento da temática é feito através de comparações, por experiências vividas em territórios estrangeiros relacionados ao tema, bem como problematizar a sua criminalização conforme o Art.122 do Código Penal, ressaltando que a dignidade da pessoa humana e a autonomia da vontade estejam presentes na vida do ser humano, desde seu nascimento, não devendo ser afastado de forma alguma em fase terminal da vida, ou seja deve ser levado em conta a sua relevância. Tem-se como problema desse estudo o suicídio assistido, seguindo como objetivo geral discutir quais fundamentos são utilizados pelo ordenamento jurídico brasileiro para que não adote o suicídio assistido e seus objetivos específicos são definir conceitos do suicídio assistido e outros institutos; apresentar o contexto sociocultural e jurídico relacionado ao suicídio assistido; realizar pesquisas que firmem cada vez mais a ideia do suicídio assistido como benefício à pessoa; comparar o tratamento dado ao instituto no Brasil e nos países que já permitem sua prática; apresentar aspectos da legislação brasileira que amparam a decisão do indivíduo no suicídio assistido. Concluindo que possa existir uma possibilidade de análise crítica do princípio da proteção da dignidade da pessoa humana, conforme inciso III do Art. 1º da Constituição Federal de 1988.

Palavras-chave: Autonomia; Constituição federal; Dignidade humana; Suicídio

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AGUIAR, Sayara Santos de. Assisted suicide: the sight of the Brazilian federal constitution. 2017. 43 pages. Trabalho de Conclusão de Curso Direito – UNIME, Lauro de Freitas, 2017.

ABSTRACT

This study focuses on assisted suicide, the light of the Brazilian constitution. It seeks to analyze the great problem that exists, from the concept of the institute to the figures of the privileged homicide. The development of the thematic is done through comparisons, by experiences lived in foreign territories related to the subject, as well as problematizing their criminalization according to Art. 122 of the Penal Code, emphasizing that the dignity of the human person and the autonomy of the will are present in the life of the human being, from his birth, and should not be removed in any way at the terminal stage of life, that is, his relevance must be taken into account. It is a problem of this study assisted suicide, following as a general objective to discuss which foundations are used by the Brazilian legal system not to adopt assisted suicide and its specific objectives are to define concepts of assisted suicide and other institutes; to present the socio-cultural and legal context related to assisted suicide; to conduct research that increasingly establishes the idea of assisted suicide as a benefit to the individual; compare the treatment given to the institute in Brazil and in the countries that already allow its practice; to present aspects of Brazilian legislation that support the individual's decision in assisted suicide. Concluding that there may be a possibility of a critical analysis of the principle of the protection of the dignity of the human person, as per item III of Article 1 of the Federal Constitution of 1988.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...8

1. O INSTITUTO DO SUICÍDIO ASSISTIDO E SEUS CONFLITOS JURÍDICOS...11

1.1 CONCEITOS...11

1.1.1 Antecedentes históricos... 12

1.1.2 Características principais do suicídio...13

1.1.3 Os meios de se praticar suicídio assistido...14

2. A LEGALIZAÇÃO DO SUICÍDIO ASSISTIDO EM ALGUNS PAÍSES... 15

2.1 Países que permitem a prática do instituto suicídio assistido...15

2.1.1 Posicionamentos contra e a favor do suicídio assistido...19

2.1.2 Suicídio assistido e Eutanásia, suas semelhanças e diferenças...22

3. SUICÍDIO ASSISTIDO NO BRASIL E ALGUNS INSTITUTOS AFINS......25

3.1 SUICÍDIO ASSISTIDO NO BRASIL...25

3.1.1 Suicídio assistido e o Código Penal...28

4. SUICÍDIO ASSISTIDO E A BIOÉTICA...32

4.1 PRINCIPIOS CONSTITUCIONAIS...32

4.1.1 Bioética...34

CONSIDERAÇÕES FINAIS...38

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho trata de um dos assuntos mais polêmicos, pois é bastante complexo o que acaba dividindo opiniões na sociedade, visto que está relacionado à vontade própria do ser humano em pôr fim a sua vida, desejando uma morte vista como digna.

A grande curiosidade por este tema surge através das discussões na sociedade, sendo uma problemática discutida em vários níveis, desde o da moral ao da religião, da filosofia, ou da própria ética. Assim, envolvendo questões filosóficas, antropológicas, psicológicas, míticas e práticas no que diz respeito a morte, relacionando as vertentes da ciência e as questões morais, éticas e legais.

Não se deve ter medo da morte, pois a única certeza que nós, seres vivos, temos na vida é de que um dia todos passarão por esse momento. Sabe-se que a maioria dos seres humanos não deseja a morte, desejariam viver eternamente, entretanto, as vezes, algumas pessoas se veem em determinadas situações de sofrimento tão insuportável, que preferem a morte do que prolongar esse sofrimento.

Com os avanços tecnológicos dentro da medicina, possibilitou o aumento da expectativa de vida, trazendo um pouco de esperança para alguns e para outros trouxe o prolongamento do sofrimento, atualmente existem aparelhos que foram desenvolvidos para suprir algumas necessidades especiais de pacientes que precisam para se manterem vivos. Contudo, levantou-se o seguinte questionamento: Qual sentido faz continuar vivendo, se não existe chance de melhora? Para as pessoas portadoras de doenças terminais irreversíveis, esse questionamento faz todo sentido, pois nessa situação que o indivíduo se encontra, não há expectativa de melhora em seu quadro clínico.

Em alguns países, já é permitido, legalmente, o suicídio assistido, como por exemplo: em Oregon – Estados Unidos (EUA), ocorreu em 1998 a primeira legalização do suicídio assistido, que por sinal virou um documentário, no qual são feitos fortes relatos, da preparação a execução do procedimento; na Holanda o suicídio foi legalizado em 2000 e 2001; a Bélgica também é adepta do suicídio assistido, legalizou em 2002, além da Suíça. No Brasil, ainda não foi possível alcançar a legalização para a prática do suicídio assistido, que é o principal objetivo, além de ser nosso parâmetro de estudo científico, devido ao ordenamento jurídico brasileiro, ser contra a interrupção da vida humana, os ministros do STF, entendem a sua maioria, que esse

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tipo de método infringe ao Código Penal Brasileiro, colocando como crime contra a pessoa, artigo 122, do Código Penal. Por outro lado, temos a Constituição Federal de 1988 que garante ao cidadão o direito de escolher morrer com dignidade, através dos seus princípios, são eles: o princípio da dignidade da pessoa humana, artigo 1º, Inciso III, e o princípio da autonomia da vontade, artigo 5º, ambos da CF.

Portanto busca-se garantir e fortalecer a ideia do direito de escolha aos pacientes terminais em relação a sua própria vida, através de debates que possam surtir efeitos positivamente aos pacientes terminais, que clamam e merecem ter uma morte digna. Sendo assim, levando a discussão até a última instância do poder judiciário brasileiro e ao mundo, já que alguns países obtiveram sucesso na luta pela legalização do suicídio assistido.

Quais são os fundamentos para que o ordenamento jurídico não adote o suicídio assistido?

Compreender e aceitar a decisão do indivíduo que se encontra em fase terminal por suicídio assistido sob a ótica do ordenamento jurídico.

Constitui objetivo geral desse trabalho discutir quais fundamentos são utilizados pelo ordenamento jurídico brasileiro para que não adote o suicídio assistido. E são objetivos específicos definir conceitos do suicídio assistido e outros institutos; apresentar o contexto sociocultural e jurídico relacionado ao suicídio assistido; realizar pesquisas que firmem cada vez mais a ideia do suicídio assistido como benefício à pessoa; comparar o tratamento dado ao instituto no Brasil e nos países que já permitem sua prática; apresentar aspectos da legislação brasileira que amparam a decisão do indivíduo no suicídio assistido.

A escolha do tema para pesquisa, se deu por se tratar de um assunto polêmico, mas que se faz necessário dentro de uma sociedade moderna e democrática de direitos, não se deve tratar o suicídio assistido como descaso, desde quando é um assunto de alta relevância, que precisa e merece ser discutido dentro da sociedade, para defender os interesses de alguns indivíduos que clamam por misericórdia para terem seus desejos atendidos. Há quem diga que isso é loucura, mas também há quem enxergue como uma solução para o paciente terminal, pois pode ser o fim do seu sofrimento que já dura a anos sem solução, além disso contribui socialmente para a reflexão nas pessoas, que são tão egoístas ao ponto de não se comover com o sofrimento alheio, sabe-se que envolve a ética, moral, a dignidade da pessoa humana, a autonomia da vontade. Contribui também na vida acadêmica, porque ajuda a

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despertar o senso crítico no indivíduo sobre o assunto em discussão, assim quebrando alguns paradigmas enrijecidos na sociedade moderna que foram implantados por questões religiosas de modo que venham dar sua contribuição na sociedade.

Atualidade do tema: O suicídio assistido gera uma certa preocupação e desconforto a sociedade contemporânea, quando se discute o direito de morrer com dignidade. Despertando assim a curiosidade nas pessoas sobre o tema, que buscam se aprofundar em maiores detalhes sobre o assunto.

A complexidade do referido tema e sua controvérsia: É essencial ser discutido dentro do direito, principalmente porque a função do ordenamento jurídico é equilibrar as dúvidas a respeito do direito à vida e a morte, levando-se em consideração dois pontos: de um lado a proteção à vida, que é a prioridade de todos os direitos; e; por outro lado, limitar a dignidade humana, suspendendo os procedimentos que posterguem a morte de uma forma agonizante.

Este trabalho é resultado de uma consulta bibliográfica, realizada a partir de fontes legais, como por exemplo as doutrinas, artigos científicos da internet e legislação brasileira. Esta pesquisa foi desenvolvida através da análise de casos reais em que pessoas com limitações físicas requereram a ajuda de um terceiro para praticar o suicídio assistido. Foi feito também um estudo comparativo com relação ao tratamento que o instituto suicídio assistido recebi no Brasil e em outros países do mundo, como a Suíça, Bélgica, EUA, Espanha, Colômbia entre outros, que admitem a prática do mesmo, mas cada um se baseando nos princípios legais. Sendo assim, teve como referência os princípios da dignidade da pessoa humana e o da autonomia da vontade, ambos garantidores do direito à liberdade de escolha do ser humano, elencados na Constituição Federal de 1988, podendo, assim, o indivíduo atingir o direito de obter à morte com dignidade.

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1. O INSTITUTO DO SUICÍDIO ASSISTIDO E SEUS CONFLITOS JURÍDICOS

O tema de pesquisa insere-se no direito de escolha de se ter uma boa morte

com dignidade.

O dicionário da língua portuguesa de Silveira Bueno define o suicídio, como ato de suicidar-se; desgraça ou ruína proporcionada ao próprio indivíduo por falta de bom-senso; autodestruição.

A definição de suicídio assistido, segundo o artigo científico se consiste no ato de autoextermínio favorecido por médico ou profissional de saúde, que franqueia método letal, eficaz e indolor, muito embora a consumação se faça pela ação do próprio paciente (CAJAZEIRAS, 2010 p.1).

Segundo KOVÁCS, (2013, p.01) ocorre porque o sujeito tem o desejo de terminar sua vida, mas não consegue realizar o ato sozinho demandando ajuda medicamentosa ou encorajamento psíquico, firmando que a responsabilidade e execução do ato final da indução da morte é da própria pessoa.

O suicídio assistido ocorre quando uma pessoa que não consegue concretizar sozinha sua intenção de morrer, e solicita o auxílio de outro indivíduo (GOLDIM, 2004, p.01).

Segundo Beauchamp (2002), o suicídio é a realização de uma ação que ocasiona a própria morte para o agente, entretanto, tal ato deverá apresentar a intenção de se causar a própria morte.

1.1 Conceitos

Para se ter melhor entendimento da temática, é fundamental e relevante destacar os conceitos dos institutos que são relacionados ao suicídio assistido, que causam grande impacto e ampliam ainda mais preconceitos em relação ao tema em estudo.

Eutanásia é um vocábulo de origem grega (“eu”, significa boa e “thanathos”, que significa morte), pode-se dizer que significa uma morte tranquila, sem sofrimento (VIEIRA,1999, p. 80).

Desde antigamente a eutanásia é vista como uma ajuda para morrer.

Suicídio assistido ocorre quando um indivíduo em estado terminal, não consegue colocar fim a sua vida sozinho, solicita o auxílio de um terceiro (médico).

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Distanásia, segundo o Dicionário Aurélio traz em seu conceito morte lenta, ansiosa e com muito sofrimento, “dis + thanasia”. Ocorre quando a família juntamente com o médico persistem no tratamento do paciente terminal que emprega todos os meios terapêuticos possíveis, para prolongar a vida do paciente.

Ortotanásia quer dizer morte correta, orto = certo, thanatos= morte. Significa o não prolongamento artificial do processo de morte, além do que seria o processo natural.

1.1.1 Antecedentes Históricos

Segundo Herrera, o termo suicídio foi criado no século XVII a partir do latim:

sui (auto) e cidium (assassínio).

Durante séculos em várias culturas, a morte e o morrer foram vistos como acontecimentos humanos impossíveis de serem controlados e evitados, sobretudo no sentido de dominarem o tempo e o modo de morrer, que somente às crenças e religiões pertencia (SANTOS, 2012, p.07).

Embora a morte faça parte do ciclo biológico do corpo humano, as pessoas, de maneira geral, não parecem psicologicamente aptas a lidar com a questão de sua morte futura (SÁ, 2005, p.41).

Acontece que, no mundo de hoje as sociedades ocidentais, por serem muito influenciadas pela cultura cristã, não são mais centradas moralmente como antigamente. Pelo contrário, hoje o pluralismo ético é inevitável, não existe apenas um único paradigma do que é moralmente correto ou aceito. Nesse ambiente pluralista e democrático, há quem reclame por dignidade e autonomia em face do sofrimento humano, daí o debate atual sobre o direito de morrer dos pacientes terminais.

As reflexões a respeito da moralidade do suicídio sempre estiveram presentes ao longo da história do direito (HERRERA, 2016, p.13)

Na era medieval, entregava-se ao soldado mortalmente ferido o punhal de misericórdia para que, com ele, se suicidasse, evitando um prolongado sofrimento ou que viesse a cair em poder do inimigo, vislumbrando assim desde a antiguidade as características do instituto do suicídio assistido.

Na Antiguidade Clássica, na Grécia e em Roma, existia legislação sobre o suicídio. Este ato era proibido e considerado uma injustiça para com a comunidade. No entanto, um indivíduo que quisesse se suicidar tinha de apresentar um pedido às

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autoridades, ou seja, ao Senado, explicando as suas razões. Se o pedido fosse atendido, o suicídio era considerado legítimo.

Portanto, na Grécia o suicídio era visto como um ato racional, considerado como uma alternativa para uma vida em desarmonia. Já os romanos consideravam possível uma morte planejada quando a vida se tornara indigna, com exceção dos escravos, que não eram considerados seres humanos, mas sim mercadoria e, portanto, sua morte envolvia uma perda financeira (HERRERA, 2016, p.14).

A partir da década de 1990, o termo suicídio assistido foi incorporado à temática do “direito à morte”, defendida por organizações espalhadas pelo mundo. Isso se deu principalmente como resultado das ações e proposições de médico patologista norte –americano Jack Kevorkian, conhecido como o “Dr. Morte” (CAJAZEIRAS, 2010, p.01).

O suicídio assistido ganhou notoriedade através do Dr. Jack Kevorkian, que nos Estados Unidos, já o praticou várias vezes em diferentes pontos do país, por solicitação de pacientes de diferentes patologias (GOLDIM, 2004, p.01).

Jack Kevorkian, afirma que o suicídio assistido é boa medicina, a partir da ajuda a pacientes a evitar sofrimento no processo de morrer. Foi condenado várias vezes porque o seu procedimento foi considerado como assassinato, mesmo com a intenção de evitar sofrimento e proporcionar morte com dignidade (KOVÁCS, 2013, p.04). Conclui-se que Dr. Jack, utilizou esse método com o intuito de tentar libertar os pacientes do sofrimento, já que são casos desenganados pela medicina.

1.1.2 Características principais do suicídio

Para Matilde Josefina Sutter, o suicídio assistido possui elementos especiais para sua caracterização: é o suicídio de pessoa que tem diagnóstico seguro de um mal gravíssimo e incurável sem possibilidade de recuperação, com perspectiva de vida de poucos meses, e em geral o mal de que padece é progressivo e doloroso, podendo acarretar grande grau de dependência do cuidado de terceiros ou falta de consciência. Cumpre acrescentar que comumente o solicitante tem idade avançada, mas é capaz. Ante a incapacidade de realizar o ato por si só, solicita assistência do médico. Essa assistência por parte de um médico, com Juramento de Hipócrates que prevê fazer o bem e, se isto não for possível, ao menos não fazer o mal, se constitui num dilema (SUTTER, 2000).

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O suicídio assistido só poderá ser concebido, se obtiver as seguintes exigências:

I – mediante manifestação expressa do paciente, em razão de diagnóstico de grave enfermidade física ou mental, comprovada por três médicos, sendo pelo menos um deles o profissional que efetivamente cuidou do paciente;

II – quando a morte for iminente

III – quando houver a orientação ou auxílio conferido por profissionais da medicina;

IV – quando houver total ausência de interesse por parte do médico, que deverá agir apenas por piedade (HERRERA, 2016, p.11).

Portanto, está mais do que claro, que não basta apenas que exista a vontade do paciente, ele precisará do auxílio de um terceiro, para que seja executada o ato.

1.1.3 Os meios de se praticar suicídio assistido

No suicídio assistido, quem requer e retira a própria vida é o paciente terminal, após requisitar conscientemente o auxílio de terceiro (médico), que faz a avaliação e prognóstico da doença terminal e da evolução do sofrimento causado por ela (MARTINEZ apud BERSOT, 2016, p. 291).

O auxílio pode consistir em prescrever doses letais de medicamentos, ajudar no processo de ingestão ou vias venosas e também pelo apoio e encorajamento do ato suicida. Uma das formas clássicas de suicídio assistido são as seringas, o procedimento criado por Jack Kevorkian, uma delas para o acesso venoso, outra com relaxante muscular e a terceira com veneno letal (KOVÁSCS, 2013, p.04).

Logo, o suicídio assistido ocorre quando, por decisão consciente em face de doença terminal, cuja deterioração resulta ou poderá resultar rapidamente em intenso e desnecessário sofrimento, o paciente opta pela morte assistida. “O ato causador da morte é de autoria daquele que põe termo a própria vida. O terceiro colabora com o ato, quer prestando informações, quer disponibilizando os meios e condições necessárias à prática” (MARTEL, 2010, p. 339 apud BERSOT e MARTINEZ, 2015).

A consciência do paciente é fundamental nessa hora, porque ele precisa estar ciente, de tudo que vai acontecer com ele, e depois de executado o ato final não há mais o que ser feito, a não ser esperar o resultado final “a morte”.

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2. A LEGALIZAÇÃO DO SUICÍDIO ASSISTIDO EM ALGUNS PAÍSES

Este capítulo abordará alguns exemplos de países que adotaram a prática do suicídio assistido e quando ocorreu a legalização desse instituto dentro de cada país.

2.1 Países que permitem a prática do instituto suicídio assistido.

Atualmente, o suicídio assistido é autorizado na Bélgica, Suíça, Holanda, cinco estados dos EUA e na Colômbia. Outros países estão debatendo ou já discutiram a possibilidade de se legalizar o suicídio assistido. A exemplo da Espanha, que ganhou o noticiário com o famoso e verídico caso narrado no filme “Mar Adentro”, onde um jovem , após um acidente fica tetraplégico, permanecendo 28 anos em uma cama. Ramón, o personagem principal, passa a lutar na justiça pelo direito de pôr fim a própria vida.

Para Ramón, em suas alegações, o caso deveria ser considerado suicídio assistido, uma vez que, o acidente que lhe transformou em objeto, pois não lhe retirou somente os movimentos de todo o corpo, mas também lhe retirou a dignidade de viver. Logo, sua situação estaria a ferir o “ Princípio da Dignidade da Pessoa Humana”, em conflito com o “ Direito à Vida”. Para ele, não se poderia falar em vida sem dignidade, então, seu caso, a única saída seria o suicídio (MARTINEZ, 2014, p. 151).

O filme verídico narra toda a batalha judicial, e mostra como o debate acerca do suicídio assistido foi aflorado na Espanha. A suprema corte espanhola negou o direito ao suicídio assistido, por acreditar ser um caso de eutanásia, o que demonstra a clara dificuldade em se conceituar as diferenças básicas entre os institutos. Ramón acabou realizando o ato, com auxílio de amigos (BERSOT e MARTINEZ, 2016, p. 293).

Suicídio assistido e os movimentos pré-morte com dignidade estão muitas vezes associados, embora não sejam coincidentes. As associações pré-morte com dignidade como o próprio nome diz estão relacionados com debates, políticas para evitar a obstinação terapêutica, prolongamento do processo de morrer e sofrimento, mas não estão restritos ao suicídio assistido. Como afirmam, em 1990 foi criada na Holanda a Comissão Rummerlink para estudar as decisões de cuidados no final da vida. A principal preocupação desta Comissão é evitar o abuso e mortes não justificadas por sofrimento extremo. A legalização do suicídio assistido ocorreu em 1998 no estado de Oregon, na Holanda eutanásia e suicídio foram legalizados entre

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novembro de 2000 e abril de 2001 e em 2002 na Bélgica, como apontam os autores (KOVÁCS, 2013, p. 05 apud FLORIANI e SCHRAMM, 2008).

A partir da década de 1990, o suicídio assistido foi relacionado com a morte com dignidade, defendida por várias instituições no mundo. Em Oregon o suicídio assistido é considerado como suicídio, portanto uma decisão consciente e voluntária da pessoa que tem a ajuda de um médico ou profissional de saúde, que oferece um método letal, para eliminar o sofrimento. O suicídio assistido é legal em Oregon (KOVÁCS, 2013, p.05).

Conforme análise de Santos, o suicídio assistido só ocorre quando uma pessoa não consegue alcançar sozinha sua intenção de morrer e acaba precisando de auxílio para tanto (SANTOS, 2011, p.15).

Nos EUA, o médico Jack Kevorkian, conhecido como “ Doutor Morte”, auxiliava a morrer as pessoas enfermas que lhe procuravam. Para tanto ele criou uma máquina que o próprio paciente terminal manipulava para se injetar um coquetel letal de fármacos. Ele nunca foi condenado pela invenção dessa máquina ou por ensinar a sua utilização.

Kevorkian defendeu leis que permitissem o suicídio assistido e pôs em prática suas ideias, ajudando 130 pessoas a pôr fim à sua vida. Ele só foi acusado, julgado e condenado por assassinato de segundo grau depois de ter permitido a divulgação, no programa 60 Minutes da rede de televisão CBS, de um vídeo que o mostrava em ação, aplicando uma injeção letal em um homem que sofria da síndrome de Lou Gehrig. (SANDEL, 2012, p.92 - grifo nosso).

O Estado de Oregon, nos Estados Unidos da América, editou em 1994 a Oregon Death With Dignity Act-Oregon Revised Statutes, permitindo a realização do suicídio medicamente assistido através da prescrição de medicação para pôr termo à vida desde que observados alguns requisitos, como o dever do médico em certificar se a doença é terminal e se o pedido foi realizado voluntariamente por um paciente capaz e residente no Estado de Oregon, informando-o do diagnóstico, do prognóstico, do provável resultado de tomar a medicação prescrita, de seus riscos potenciais associados e das alternativas viáveis à eliminação da vida, como conforto, cuidado hospitalar e controle da dor.

Na América do Sul, cabe especificamente o exemplo da Colômbia, onde a descriminalização do suicídio assistido ocorreu após decisão da corte suprema daquele país, que julgou inaplicável o art. 326 do Código Penal Colombiano, quando tal ato for realizado por profissional médico a pedido e com consentimento explícito

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do paciente terminal (ARAÚJO, 2010, p.115 apud BERSOT e MARTINEZ, 2016,p. 296).

Para Maria Helena Diniz, “[...] na Suíça e na Holanda constitui prática institucionalizada, configurando-se pela injeção de uma única dosagem letal”.

Em 28 de maio de 2002, a Bélgica também legalizou a prática do suicídio assistido, seguindo basicamente as mesmas regras estabelecidas na Holanda (SANTOS, 2011, p. 26).

A Suíça também autoriza o procedimento. A base legal do direito suíço está no artigo 115 do Código Penal Suíço, que só considera a ocorrência de crime de auxílio ao suicídio se a motivação for egoísta de quem ajudou. Um motivo egoísta seria, por exemplo, alguém que auxiliasse uma pessoa a morrer com o objetivo de ficar com a herança (SANTOS, 2012, p.24).

Para tanto, na Suíça existem organizações que oferecem serviços de suicídio assistido como por exemplo a clínica Exit com sedes em Zurique e em Genebra e a clínica Dignitas sediada em Zurique.

Fundada em 1998 pelo advogado Ludwig Minelli, a clínica Dignitas presta assistência a suíços e estrangeiros especialmente do Reino Unido, França e Alemanha. Nesta instituição não são médicos que preparam a medicação, o paciente é quem toma a decisão de tomar o remédio, como se vê no documentário “A morte assistida em Oregon”. Percebe-se que a decisão de morrer não ocorre somente em situação de doença terminal, e sim em várias circunstâncias em que a pessoa considera que não quer mais viver. Possui atualmente grande número de associados do mundo todo, e já realizou por volta de 1000 mortes dessa forma. Seus diretores e o governo da Suíça contestam que estejam transformando a Suíça, conhecida pelos chocolates e relógios, em local de turismo de morte. A clínica oferece os serviços a um custo de 4.000 francos, segundo a direção é para cobrir os custos dos procedimentos. Os suicídios assistidos ocorrem em apartamentos alugados com a administração de dose letal de pentobarbital de sódio, sem haver a necessidade de prescrição médica (KOVÁCS, 2013,p.06).

A Dignitas exige um relatório psicossocial da pessoa, informando a situação do paciente com os familiares e com o trabalho. Somente após esses procedimentos iniciais é que o pedido será analisado. Quando o pedido não é deferido, a Dignitas atua recomendando a terapia ou cuidados com paliativos ao paciente terminal.

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A Dignitas não oferece a opção da Eutanásia, que não tem amparo legal em seu país, e, pelo menos em tese, analisa as solicitações sob parâmetros que devem excluir a incapacidade de decidir, pois se sabe que em torno de 90% dos suicídios em todo o mundo resultam de transtornos psiquiátricos (CAJAZEIRAS, 2010, p.01).

A Exit, fundada em 1982, conta com aproximadamente 70.000 associados, voltada especialmente para cidadãos suíços ou pessoas residentes na Suíça (DIE ORGANIZATION, 2014).

A Exit também possui alguns critérios para que uma pessoa adquira o suicídio assistido. Primeiro critério, o pedido deve ser muito bem fundamentado com dados médicos confiáveis e revisados. Segundo critério, o paciente deverá estar acometido de uma doença sem cura, com morte previsível, e mais, que a doença provoque sofrimentos psíquicos e físicos insuportáveis.

Segundo Herrera, na Suíça o suicídio assistido é legal desde 1941 e atualmente muitas pessoas vão à capital para abreviar a vida, a maioria por problemas de saúde insolúveis. É o chamado “turismo assistido”.

A Holanda publicou em 12 de abril de 2012, a chamada “Lei relativa ao término da Vida sob Solicitação e Suicídio Assistido” (ALBUQUERQUE, 2009, p. 108).

A lei publicada na Holanda não abriu caminho à arbitrariedade, o artigo 293 da referida lei, estipula que “a ação de pôr fim à vida de outrem não é passível de pena na medida em que for realizada por médico que satisfaça os critérios” (MASCHINO, 2006).

Conforme Maschino (2006) e Santos (2010), em 12 de abril de 2012, a Holanda publicou a chamada “Lei relativa ao Término da Vida sob Solicitação e Suicídio Assistido”, estipulando que a ação de pôr fim a vida de outrem não passível de pena na medida em que for realizada por um médico que satisfaça os critérios, dentre os quais podemos citar: 1) deve haver uma solicitação voluntária e bem pensada da parte do paciente, bem como o médico deve estar convencido de que se trata de uma solicitação voluntária; 2) deve ser esclarecido ao paciente a sua doença e as perspectivas de vida; 3) deve-se concluir que não há outra atitude razoável a ser tomada; 4) o médico deve informar a real situação da saúde do enfermo e ainda, o paciente deve ser informado das consequências de sua escolha.

De acordo com Santos (2011), cabe ressaltar que houve a descriminalização do suicídio assistido de pacientes terminais, entretanto a Eutanásia continuou a ser

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crime na Holanda. Em 28 de maio de 2002 e seguindo basicamente o modelo Holandês, a Bélgica também legalizou a prática do suicídio assistido.

Segundo Azevedo (2014), diferentemente da Holanda, a Bélgica não estabeleceu um limite de idade para que o suicídio assistido seja realizado, havendo uma ampla liberdade no procedimento. Por outro lado, a Holanda apenas permite que o suicídio assistido seja realizado em maiores de 12 anos.

2.1.1 Posicionamentos contra e a favor do suicídio assistido

O suicídio assistido tem vindo a ser definido como “um ato que tem muitos pontos em comum com a eutanásia, na medida em que há uma colaboração de uma pessoa, geralmente de um médico, com o doente para lhe terminar a vida” (CRISTINA, 2011, p.11).

Na Antiguidade Clássica, na Grécia e em Roma, existia legislação sobre o suicídio. Este ato era proibido e considerado uma injustiça para a comunidade. No entanto, um indivíduo que quisesse se suicidar tinha de apresentar um pedido às autoridades, ou seja, ao Senado, explicando as suas razões. Se o pedido fosse atendido, o suicídio era considerado legítimo (SANTOS, 2011, p.11 apud HERRERA, 2016).

Pitágoras, no século VI a.c., rejeitou o suicídio com o fundamento de que “somos os bens de Deus… e que sem a sua ordem não temos o direito de efectuar a fuga”. Platão também o rejeitou porque “o homem é um soldado de Deus e tem de permanecer no seu posto até que ele o chame”. Para este filósofo, a morte só se devia aceitar quando ela chegasse, não se devia antecipar. No entanto, aceitava exceções, quando ordenado pelas autoridades, determinado por uma infelicidade extrema ou pela desonra pessoal. Aristóteles recusou o suicídio com base nos fundamentos cívicos de que o homem tem um dever para com o Estado. No entanto, os três filósofos aceitavam-no em casos de doença incurável. Sófocles, foi, possivelmente, o primeiro a aceitar o suicídio como remédio mais geral para as aflições da vida e a sua orientação foi entusiasticamente seguida por muitos estoicos (SANTOS, 2011, p.12). A partir de Santo Agostinho (354-430) começou a considerar-se o suicídio como uma usurpação da autoridade de Deus e da Igreja. Santo Agostinho fundamenta a sua argumentação contra o suicídio no mandamento “não matarás” (Êxodo 20:13). Desta forma, o suicídio era por ele encarado como um pecado mortal, considerando

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que a pessoa que o executasse teria uma atitude indigna e seria desprezível. No entanto, Santo Agostinho acaba por aceitar o suicídio em caso de martírio. Como exemplo dessa aceitação, temos o caso de Sansão, que morre ao derrubar o templo matando também o inimigo, os Filisteus. Assim, este ato, realizado em obediência a Deus, não foi um ato com outras motivações, sendo, por este motivo, aceitável. A Escola estoica, fundada por Zenão na Grécia, no ano 400 a.C., que teve grande propagação, especialmente no Império Romano, debruçou-se sobre está temática. O mais importante para os estoicos era viver em harmonia com a natureza e de acordo com a razão. Por exemplo, se o estado de saúde não permitisse uma vida feliz, o homem sensato poderia considerar o suicídio, e levá-lo a cabo, pois, não aumentava nem diminuía a sua virtude moral (SANTOS, 2011, p.12).

Cícero rejeitava o suicídio na maior parte das circunstâncias. Contudo, em casos de sofrimento extremo, ou de desonra ou em que o próprio Deus teria apresentado uma razão válida, assim para este o suicídio era admissível. O jovem Plínio, acreditava que o direito de morrer quando nos agradasse seria o melhor dom de Deus aos homens que sofriam na vida (SANTOS, 2011, p.12).

E para tanto, nas sociedades cristãs, o suicídio foi proibido e encarado como sendo diabólico. Em 452 o suicídio foi declarado como crime. Em 561, no Concílio de Braga, chegou-se ao consenso de que, no funeral de um suicida, não haveria os rituais religiosos. Em 693, no Concílio de Toledo, foi decidido que os que tentassem o suicídio seriam castigados com a excomunhão (HERRERA, 2016, p.14).

Confúcio, na sua ética, aceita o suicídio em algumas circunstâncias, incluindo na doença irrecuperável, e, na China, aceitava-se o suicídio voluntário em casos de enfermidade incurável.

O Taoísmo aceita o suicídio numa variedade mais lata de circunstâncias, incluindo o sofrimento e a doença incurável. Mas, nos primeiros tempos da era cristã, o suicídio altruísta e o martírio eram elogiados. A Bíblia não apresenta conselhos particulares sobre o suicídio e, por isso, os filósofos cristãos desenvolveram o seu pensamento a partir dos filósofos gregos, que tinham uma enorme preponderância na época (SANTOS, 2011, p.12).

É notável que desde antigamente, já existiam as divergências com relação a aceitação ou não do suicídio assistido, e o que mais era levado em conta, era a religião, que de certa forma determinava a vida das pessoas da época.

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De acordo com Bersot e Martinez (2016), por vários séculos, em muitas culturas a morte era vista como um fato impossível de controlar e evitar, sobretudo no sentido de dominarem o tempo e o modo de morrer que somente às crenças e religiões pertencia.

As sociedades ocidentais contemporâneas, embora influenciadas pela cultura cristã, admitem, irrevogavelmente, o pluralismo ético, o que permite a constante mudança de paradigmas do que é correto ou aceito moralmente. Nesse contexto surge a discussão sobre o direito de morrer dos paciente em estado terminal diante do protesto por dignidade e autonomia em face do sofrimento humano.

Embora seja um fato inevitável do ciclo biológico da vida, muitas pessoas não demonstram estar aptas psicologicamente para lidar com a questão de sua morte futura (BERSOT; MARTINEZ, 2016).

A partir de uma perspectiva religiosa, o suicídio não é aceito. Para os cristãos o homem passou a não possuir um direito de tirar sua própria vida, uma vez que ela pertence unicamente a Deus e dispor-se dela seria um desrespeito para com o criador da vida. E para tanto, nas sociedades cristãs, o suicídio foi proibido e encarado como sendo diabólico. Em 4520 suicídio foi declarado como crime. Em 561, chegou-se ao consenso de que, no funeral de um suicida, não haveria os rituais religiosos. Em 693, no Concílio de Toledo, foi decidido que os que tentassem o suicídio seriam castigados com a excomunhão (HERRERA, 2016, p.14).

A justificação para a condenação absoluta do suicídio foi com base no mandamento de não matar, igualando o suicídio ao homicídio, provando o suicida dos sacramentos e até mesmo de sepultura eclesiástica, por entenderem que a vida é dom de Deus e somente ele poderá tirá-lo.

A religião islâmica proíbe o suicídio, pois só Alá pode tirar a vida, devendo as pessoas aceitarem o seu destino. No alcorão, pode-se ler que: “[....] não nos mateis. Deus é misericordioso para convosco e quem praticar o suicídio com injustiça e iniquidade fá-lo-emos consumir fogo, isso é fácil para Deus”.

Para o Judaísmo, o suicídio é considerado homicídio e caí, portanto, na proibição geral do homicídio. Uma pessoa que intencionalmente toma a sua própria vida não enfrentar um tribunal terreno, mas não escapa ao julgamento. “[...] O suicídio é proibido pelas Sete Leis Universais” (HERRERA, 2016, p.15).

Para a oposição, o fundamento central está atrelado a religião, por considerar que a vida é um bem concedido por Deus, que também decide a sua duração. Para

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alguns religiosos todos temos uma missão predeterminada a ser cumprida na terra, e antecipar o ciclo que nos foi dado, seria uma forma de afrontar a lei de Deus (HERRERA, 2016).

Sabemos que é Deus que dá a vida e só ele pode tirar, mais em algumas circunstâncias da vida, não devemos ser tão radicais, a ponto de fecharmos os olhos, para uma realidade tão cruel e dolorosa, por conta de uma religião e simplesmente ignorar a vontade de quem realmente sofre com a situação.

2.1.2 Suicídio Assistido e Eutanásia, suas semelhanças e diferenças

O suicídio assistido também pode ser conhecido como eutanásia, sendo a eutanásia realizada pelo próprio indivíduo, que coloca fim a sua vida sem a intervenção direta de um terceiro, apesar de sua participação indireta, seja por motivos morais ou humanitários. O terceiro poderá atuar de forma a prestar assistência material ou moral para a realização do ato, motivo pelo qual para a doutrinadora Ana Maria Marcos Del Cano o nome desse instituto é “suicídio eutanásico”.

Para alguns doutrinadores o suicídio assistido se confunde com eutanásia em virtude de causa que leva à morte ao paciente, qual seja, uma doença incurável, que é caracterizada por um intenso sofrimento e dor. Sendo a consequência tanto da eutanásia, como do suicídio assistido, a mesma, qual seja, uma morte tranquila, sem que haja dor, após a manifestação prévia do consentimento.

Além das semelhanças apresentadas acima, outra característica apresentada em ambos os institutos é a participação de um terceiro, que o faz movido por um espírito misericordioso, de amor e respeito ao próximo (HERRERA, 2016, p.16).

No suicídio assistido não há o ato da eutanásia exercido pelo médico e transfere para o paciente a decisão de encerrar a vida. A diferença entre eutanásia e suicídio assistido tem a ver com a execução do procedimento e não com o desejo de morrer com dignidade, de interromper uma vida com sofrimento.

Eutanásia é um procedimento médico nos países em que está legalizada. É crime naqueles em que ainda é procedimento ilegal. De qualquer forma para que se considere como eutanásia é preciso haver um pedido do paciente, atestando-se sofrimento intenso, sem possibilidade de alívio. Há um protocolo a ser seguido em que pacientes pedem e se confirma o seu pedido várias vezes, médicos atestam e assim o ato da eutanásia é executado.

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Se não houver o pedido reiterado do paciente de forma consciente e intencional o ato é visto como assassinato, mesmo que por razões humanitárias, como afirmam Floriani e Scharamm (2008). Os autores afirmam que retirada de suporte vital que não traz benefícios para cura ou controle de sintomas não é eutanásia passiva que por definição não existe, pois eutanásia implica sempre num ato deliberado. A sedação terminal é um procedimento de cuidados no final da vida e só pode ser iniciada com consentimento do paciente ou dos familiares, portanto também não eutanásia ou suicídio assistido.

O suicídio assistido é relacionado ao suicídio e não à eutanásia, pela condição de realização do ato. No suicídio assistido a execução do ato final é da pessoa, que precisa de ajuda, pois não consegui realizar o ato sozinho. O suicídio assistido retira de um terceiro a responsabilidade pelo ato final.

Ressaltamos que tanto na eutanásia, quanto no suicídio assistido a voluntariedade é elemento essencial. Nos dois casos se o paciente não é quem decide é considerado assassinato, mesmo que cometido para aliviar sofrimento ou por outras razões não tão nobres, como liberação de leitos (KOVÁCS, 2013, p.05).

A quase totalidade dos códigos ignora oficialmente as circunstâncias que distinguem a eutanásia do homicídio ou do auxílio ao suicídio. No entanto, na prática, os tribunais têm feito prova de indulgência nestes casos.

Os defensores da eutanásia entendem que esta deve ser aplicada sempre que não houver mais terapêutica de cura (confirmada por junta médica) e o doente plenamente consciente solicitar que se interrompa a sua vida sem dignidade. A Holanda e a Bélgica legalizaram este tipo de “suicídio assistido”, e alguns outros países o consideram altruísta. A opinião pública do mundo todo debate este assunto visando uma modificação nas legislações, no sentido do favorecimento à assistência ao suicídio nestes casos. Algumas vezes é mais digno deixar morrer (VIEIRA, 2006, p.34).

Os defensores da legalização da eutanásia ativa são conscientes de que esta não poderá ser admitida exceto em circunstâncias específicas, em condições estritas, objetivando livrar-se de uma situação insuportável para o paciente. Assim, os prosélitos da eutanásia rejeitam os termos matar ou provocar a morte, preferindo permitir a morte ou não prolongar a agonia.

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Cogita-se quem poderá ser o requerente da eutanásia: 1) o próprio paciente; 2) o cônjuge ou quem coabite com o paciente; 3) os filhos, naturais ou adotivos maiores; 4) os descendentes; 5) os médicos (VIEIRA, 2006, p.35).

Pode-se perceber, que tanto o suicídio assistido como a eutanásia, são dois institutos muito parecidos, pois ambas tem um única finalidade, que é causar a morte do paciente em estado terminal.

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3. SUICÍDIO ASSISTIDO NO BRASIL E ALGUNS INSTITUTOS AFINS

Sabe-se que o ordenamento jurídico brasileiro condena a prática do suicídio assistido no Brasil tipificando como crime o auxílio, por entender que ninguém tem o direito de pôr fim a vida de forma provocada.

3.1 Suicídio assistido no Brasil

Conforme as Nações Unidas no Brasil (ONUBR) em um estudo publicado em setembro de 2014 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) evidenciou que o suicídio alcançou de proporções globais, sendo a causa da morte de mais de 800 mil pessoas por ano e 75% dos casos são registrados em países emergentes e pobres.

Também conforme OMS, o Brasil é o oitavo país no mundo com maior número de suicídios. Dessa forma, exigindo uma maior preocupação em debater o referido instituto, visto que mesmo diante do dogma jurídico da proteção absoluta da vida, não foi possível evitar o desfecho da morte desejado por parte dos indivíduos em sofrimento psíquico ou físico.

Alguns doutrinadores denominam o suicídio assistido de suicídio indireto, que ocorre quando alguém pede a outro, médico ou não, que lhe cause a morte.

Esse instituto tem sido objeto de debates e reflexões sobre sua natureza, sua explicação e motivação ao longo da história. É uma questão extremamente delicada, sensível e complexa, pois o fato de alguém se matar, seja de que forma for, não deixa de ser um gesto perturbador (HERRERA, 2016, p.12).

A reflexão acerca dos limites da vida humana exige, prioritariamente, a deferência de valores constitucionais, como a dignidade e a sadia qualidade da vida indispensáveis ao ser humano. Assim, temos:

[...] a vida humana é um valor relativo, existente e digno de proteção enquanto mantenha um determinado nível de qualidade, representado pela capacidade do indivíduo de relacionar-se com os demais seres humanos e de assumir seus próprios atos. Hodiernamente, busca-se uma aproximação entre ambas tendências, tomando como referência básica a sacralidade de vida humana, com vistas a evitar uma paulatina degradação de sua proteção, mas considerando também que a qualidade de vida pode solucionar situações limites nas quais uma concepção rigorosa de intangibilidade da vida humana mostra-se impotente (CARVALHO, 2001, p.112).

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Para Martel (2010), com o fim da Segunda Guerra Mundial, a valorização e a proteção da vida humana tornou premente o direito à vida, assumindo notável destaque histórico na cultura ocidental. Tal fato, ilustrado pela Declaração Universal de Direitos Humanos (1948), que determina em seu artigo 3º, que “toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”.

No Brasil, o direito à vida nem sempre esteve presente nas Constituições, apenas com a Constituição Federal da República de 1988, em seu art. 5º, é que o direito à vida foi tutelado de forma expressa (SÁ, 2012, p. 70).

Uma observação sobre o direito à vida é que “o reconhecimento do direito à vida pelas constituições tem, antes de tudo, um valor simbólico, porquanto é um direito inerente ao ser humano, que para existir não necessita seu conhecimento expresso” (SWIDEREK, 2007, p.24).

Embora o direito brasileiro apenas faça menção à proteção da vida na Constituição de 1988, desde 1830 o direito brasileiro atribui pena a quem praticar homicídio (SÁ, 2012, p.70).

Silva aborda o conceito de vida, tal como está no art. 5º, da Constituição Federal. Para o autor, a vida não deve ser considerada apenas no sentido biológico:

Mas na sua acepção biográfica mais compreensiva. Sua riqueza significa é de difícil apreensão porque é algo dinâmico, que se transforma incessantemente sem perder sua própria identidade, até que muda de qualidade, deixando, então, de ser vida para ser morte. Tudo que interfere em prejuízo deste fluir espontâneo e incessante contraria a vida (SILVA, 1996, p. 194).

O legislador brasileiro optou por definir o critério da morte com base na Resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1.480 de 1997, que postula a ausência de atividade cerebral para decretação do fim da vida (WUSCH; SCHIOCCHET, 2011, p. 139).

Com a evolução da medicina e da tecnologia dos equipamentos hospitalares surgiram novas questões sobre esse conceito, na transposição da vida em morte. A partir do momento em que se possa manter artificialmente as funções vitais por meio de máquina, evitando-se a ocorrência de morte cerebral, a proteção absoluta à vida ainda seria a mesma?

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Tem-se que não se pode privilegiar apenas a dimensão biológica da vida humana, negligenciando a qualidade de vida do indivíduo. A obstinação em prolongar o mais possível o funcionamento do organismo de pacientes terminais não deve mais encontrar guarida no Estado de Direito, simplesmente, porque o preço dessa obstinação é uma gama indizível de sofrimento gratuitos, seja para o enfermo, seja para os familiares deste. O ser humano tem outras dimensões, que não somente a biológica, de forma que aceitar o critério da qualidade de vida significa estar a serviço não só da vida, mas também da pessoa. O prolongamento da vida somente pode ser justificado se oferecer às pessoas algum benefício, e ainda assim, se esse benefício não ferir a dignidade do viver e do morrer (SÁ, 2012, p.70).

Essa análise é da opinião de que o direito à vida não é absoluto, ele é dimensional e requer um olhar sobre qual eixo, dimensão, está o foco da abordagem. No Brasil, existem situações, como na decisão do Supremo Tribunal Federal, sobre o direito ao aborto de fetos anencéfalos, que comprovam que o direito à vida não é absoluto (STF, 2012).

No mesmo direcionamento, conforme apontado por Mendel (2010,p.307), os tribunais, por várias vezes se manifestaram afirmando que os “direitos e garantias individuais não têm caráter absoluto.” É que, não há no sistema constitucional brasileiro, direitos ou garantias que se revistam de caráter absoluto (MS nº.23.452/RJ. Rel. Min. Celso de Mello. 16/09/1999, STJ HC 56.572/SP. Rel. Min. Arnaldo Estevez de Lima. Quinta Turma. DJ 15/05/2006).

“Tornou-se voz corrente na nossa família do Direito admitir que os direitos fundamentais podem ser objeto de limitações, quando enfrentam outros valores de ordem constitucional, inclusive outros direitos fundamentais” (MENDES, 2008, p.240).

Existe na própria Carta Magna de 1988, uma restrição ao direito à vida, ao permitir a instituição da pena de morte em caso de guerra declarada.

É também em enunciados normativos infraconstitucionais encontra-se a moderada admissão de intervenções com o direito à vida, em suas posições subjetivas, dada a aceitação da legítima defesa e do estado de necessidade. São exemplos de intervenções não expressamente autorizadas pela Constituição, mas reputadas plausíveis e cuja constitucionalidade ou recepção não foi alvo de contendas. Aqui, tem-se uma ponderação legislativa e/ ou judicial que torna permissível uma agressão a posições subjetivas do direito à vida em nome de posições subjetivas de outros direitos (MARTEL, 2010, p.308).

O que se busca debater é que a vida humana deve ter uma proteção especial, mas isso não implica que o direito à vida por todos os eixos dimensional devem ser protegidos de maneira absoluta. A própria ordem jurídica e seus tribunais tem se

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manifestado por sua limitação, em certas situações especiais. Diante disso, o direito à vida pode ser revitalizado por outros princípios a ele colidente no caso concreto.

O primeiro é o princípio da dignidade da pessoa humana, que, assim como a vida deve acompanhar toda a existência do indivíduo, desde o seu nascimento até a morte.

3.1.1 Suicídio assistido e o Código Penal

Para punir a prática de crimes contra as pessoas e contra a vida, foi necessário estabelecer em Lei, especificamente no Código Penal Brasileiro, elencados nos artigos 121 e 122, com o objetivo de regulamentar as atos ilícitos cometidos pelos seres humanos na sociedade.

De acordo com o pensamento jurídico moderno, uma das funções essenciais do direito penal é a proteção de bens jurídicos – bens essencialmente tutelados em razão de sua importância para a manutenção da convivência social (SWIDEREK, 2007, p. 26).

O direito penal protege a vida a vida enquanto bem jurídico essencial desde a formação embrionária, mas, como visto, não de maneira absoluta, pois com exemplo, o aborto é admitido, em certos casos, por fundamento legal e jurisprudencial.

Após o nascimento, o direito protege ainda mais a vida, prevendo no art. 121 do Código Penal a conduta típica o ato de “matar alguém”. O bem jurídico tutelado, no crime de homicídio, indiscutivelmente é a vida humana (BITENCOURT, 2011, p. 47). O suicídio não é punido pelo Direito, pois não é considerado crime, nem mesmo a sua tentativa. Contudo, são considerados delitos a indução, instigação ou auxílio (artigo 122 do Código Penal). Punir aquele que tentou o suicídio só irá aumentar a sua angústia e desprezo pela vida, levando-o a outras tentativas. O suicídio não é uma agressão à sociedade, porque o indivíduo tenta contra a própria vida (VIEIRA, 2006, p. 95).

Também chamado de autoquíria, o suicídio é uma forma peculiar de morte. Suicidar-se é dar a morte a si próprio; assassinar a si mesmo; estar ciente de que produz a sua própria morte. Para muitos, esta é a única forma encontrada para se livrar de uma vida infeliz, sem perspectivas de melhora. Para o médico francês Simonin, suicídio “é um ato paradoxal e inquietante, uma monstruosidade biológica,

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um crime contra a natureza, que por ser a negação do instinto de conservação, deixa prever seu caráter mórbido” (VIEIRA, 2006, p.93).

Não importa a situação em que se encontra a vida humana, configura delito de homicídio a morte dada a qualquer pessoa, ainda que ela esteja prestes a morrer (PRADO, 2010, p. 78, apud BERSOT e MARTINEZ, 2016, p. 301).

Não obstante, há excludentes de ilicitude como visto, quando o crime é cometido para salvar a própria vida do agressor, seja em legitima defesa ou por estado de necessidade. Logo, uma relativização é inerente ao bem vida e está presente no ordenamento jurídico em várias situações específicas.

Nos casos de eutanásia, cometidos por compaixão, a chamada “morte piedosa”, a vida continua protegida, mas o agente agressor teria sua pena reduzida, uma vez que o § 1º do art.121 do código penal, apresenta hipóteses de diminuição da pena.

Nesse sentido, a eutanásia é um tipo de “homicídio privilegiado”.

Considera-se privilegiado se o agente: a) é impelido por motivo de relevante valor social; b) é impelido por motivo de relevante valor moral; c) atua sob o domínio de violenta emoção, logo após injusta provocação da vítima (PRADO, 2010, p.81).

De acordo com Bitencourt, na obra “Tratado de Direito Penal”, define relevante valor moral como sendo:

Aquele que, em si mesmo, é aprovado pela ordem moral, pela prática, como, por exemplo, a compaixão ou piedade ante o irremediável sofrimento da vítima. Admite-se por exemplo, como impelido por motivo de relevante valor moral o denominado homicídio piedoso (BITENCOURT, 2011, p.69).

Motivo de valor relevante para Prado (2010, p.96), é aquele cujo conteúdo revela-se em conformidade com os princípios éticos dominantes em uma determinada sociedade. Aqui seria portanto, os motivos nobres, altruístas, havidos como merecedores de indulgências. Portanto se encaixaria a eutanásia enquanto “morte piedosa”, movida por compaixão quanto ao sofrimento da vítima, no caso, um paciente terminal, que perdeu sua sadia qualidade de vida.

O relevante valor moral liga-se aos interesses individuais, particulares do agente, entre eles sentimentos de misericórdia, compaixão e piedade. “Assim, o homicídio praticado com o intuito de livrar um doente, irremediavelmente perdido, dos ferimentos que o atormentam goza de privilégio de atenuação da pena” (CUNHA, 2004, p.26).

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A relevância desse valor, social ou moral, é avaliada de acordo com a sensibilidade média da sociedade e não apenas segundo a sensibilidade maior ou menor do sujeito ativo, embora não se possa esquecer que a relevância do valor social ou moral é subjetiva e não puramente objetiva (BITENCOURT, 2011, p.69).

De outra forma, o suicídio é entendido como a deliberada destruição da própria vida (PRADO, 2010, p. 94). No mesmo sentido, suicídio pode ser entendido como a morte de si mesmo (CASSORLA, 1985, p.09).

Segundo as palavras de BITENCOURT “O ordenamento jurídico vê no suicídio um fato imoral e socialmente danoso, que deixa de ser penalmente indiferente quando concorrer com a atividade da vítima outra energia individual provinda da manifestação da vontade de outro ser humano” (2011, p.125).

Sendo assim existe uma determinada escolha por parte do legislador pátrio a ser contestada atualmente, em favor do princípio da dignidade da pessoa humana e da autonomia da vontade, no reconhecimento de uma ordem coletiva não pode ser colocada em face de uma ideologia ou religiosidade dominante que vá contra a vontade de um paciente terminal, que solicita auxílio para se matar, sem que precise utilizar outros meios, como por exemplo a clandestinidade.

Apesar de não se reconhecer ao ser humano a capacidade de dispor da própria vida, a ação de matar-se foge à consideração do direito penal. A não incriminação do suicídio não exclui, contudo seu caráter antijurídico, em razão da proteção do bem jurídico vida. Por razões que se voltam à impossibilidade de punição do suicídio e à política criminal não se incrimina a prática de suicídio (MIRABETE, 2009, p.46).

Assim, no direito penal o suicídio não é considerado uma conduta criminalizada, demonstrando mais uma vez uma flexibilização do dogma absoluto da vida no direito brasileiro.

De acordo com os ensinamentos de Damásio E. De Jesus:

O suicídio, sob o aspecto formal, constitui um indiferente penal. Isto significa que a legislação não pune o fato como infração. Nem a tentativa de suicídio é apenada. Em face de medida de Política Criminal, entende-se que a tentativa de suicídio não pode ser submetida à imposição de sanção penal, uma vez que a punição exercida pelo Estado constituiria um acoroçoamento à repetição do tresloucado ato.

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A punição ao que tentou suicídio serviria de alento a novas tentativas, até chegar o sujeito à consumação do fato. A conduta, embora não constitua ilícito penal, é ato que contraria o ordenamento jurídico. É ato ilícito. Tanto que não constitui constrangimento ilegal a coação exercida para impedi-lo, nos termos do art. 146,§3º, II, do CP. Ora se o legislador diz que não constitui constrangimento ilegal a conduta de impedir o suicídio, significa que é comportamento absolutamente legal o fato de não se permitir a alguém a conduta de tirar a própria vida . O constrangimento, nesse caso é legal, pelo que se entende que a conduta do suicídio é ilegítima (DAMÁSIO, 1979).

Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça: pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, se da tentativa de suicídio resultar lesão corporal de natureza grave. Parágrafo Único. A pena é duplicada: I – se o crime for cometido por motivo egoístico; II – se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.

Portanto, não se deve achar que só por não ser apenada a tentativa, que deve ser praticada a qualquer momento o suicídio, pois o ato é ilícito e contraria o nosso ordenamento jurídico, a lei penal brasileira é bastante transparente ao colocar em seu Código Penal, que a indução, instigação ou auxílio ao suicídio é crime. Cumpre asseverar que a conduta tipificada é a participação em suicídio, desse modo, a conduta é penalmente irrelevante, sendo, portanto, atípica.

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4. Suicídio assistido e a Bioética

Abordaremos neste capítulo, os princípios garantidores da Constituição Federal de 1988 e observando quais são esses princípios violados, assim como a Bioética se comporta dentro do Direito obedecendo a esses princípios norteadores.

4.1 Princípios Constitucionais

No dizer do erudito magistrado e professor Sarlet é “a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualidade ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos”. Assim, é a qualidade irrenunciável da própria condição humana (VIEIRA, 2006, p. 17).

Diante dos avanços tecnológicos e das discussões a respeito do início e do fim da vida, algumas questões ético-jurídicas vem sendo analisadas à luz dos princípios da bioética e do biodireito, dentre eles o princípio da autonomia, da beneficência e o da dignidade da pessoa humana.

Considera-se autonomia a capacidade ou aptidão que têm as pessoas de conduzirem suas vidas como melhor conviver. Essa autonomia advém da capacidade para administrar seus interesses enquanto indivíduo, dentro da esfera particular em que outros não podem, pelo menos em princípio.

A autonomia da vontade, como o princípio balizador da ciência da vida, é o mecanismo racional que irá proporcionar a escolha da opção mais correta para se atingir os objetivos de realização da pessoa (JÚNIOR, 2010, p. 01).

Beauchamp (2002), considera que um indivíduo é autônomo se ele é capaz de deliberar e consequentemente de agir segundo a sua determinação. Para que suas decisões sejam consideradas autônomas, elas devem satisfazer determinados critérios, tais como: [....] ser intencional, baseada em um conhecimento adequado, e não coagida ou causada por condições além do controle do agente. Uma pessoa autônoma deve ser capaz de compreender e avaliar o significado das informações

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para a tomada de decisões e não deve ser controlada por forças externas e internas que ele não posa controlar.

Nesse contexto deverá ser observado o respeito à vontade, o respeito à crença, o respeito aos valores morais do sujeito, reconhecendo o domínio do paciente sobre sua própria vida e o respeito à sua intimidade.

Portanto, esse princípio da autonomia possui como premissa básica a limitação da sociedade em interferir na soberania das pessoas em tomar decisões, mesmo quando as reputamos imprudentes, porque geralmente, cada indivíduo é quem melhor sabe o que lhe convém. E é por esse motivo que esse princípio gera diversas discussões sobre os limites morais da eutanásia, suicídio assistido e ortotanásia. Exige também definições com respeito à autonomia, quando a capacidade decisional do sujeito está comprometida. São as pessoas ou grupo considerados vulneráveis. Isto ocorre em populações e comunidades especiais, como indígenas, menores de idade, militares etc. (HERRERA, 2016).

Para Schramm (2002) é nosso dever discutir o direito da pessoa de dispor e dar sentido à vida, buscando dignidade. É a possibilidade de exercer liberdade e autonomia para debelar o sofrimento. Nos últimos anos tem se observado a medicalização da morte, o que leva à interferência no processo de morrer, como é o caso da distanásia, compreendida como prolongamento do processo de morrer com sofrimento.

Em artigo sobre os conflitos éticos envolvendo o suicídio (KOVÁCS, 2013) debatemos a legitimação do desejo de morrer. Perguntamos, há diferença de julgamento com atenuantes para o suicídio dependendo do momento vivido pela pessoa? Exemplificando: idosos com doenças em estágio avançado com sofrimento intolerável teriam legitimação para encerrar sua vida? E se este desejo fosse manifesto por jovem com sofrimento psíquico? Como avaliar a intensidade do sofrimento? Desrespeitar o pedido de um idoso para finalização de sua vida não seria uma forma de matar sua individualidade, autonomia e desejo de finalizar a vida de forma digna? Considerando o reverso oferecer morte sem sofrimento não é respeito à dignidade humana? A Constituição fala sobre direito à vida, mas observa-se atualmente pelo exercício da distanásia, uma obrigação de viver, em alguns casos porque médicos não foram preparados para lidar com a morte (KOVÁCS, 2013, p. 07). O avanço da tecnologia médica favoreceu a cura de doenças e o prolongamento da vida, porém, levada ao exagero, pode fazer com que o sofrimento

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seja adicionado ao que se propõe ser um benefício, estimulando a discussão sobre questões relativas ao direito de decidir sobre o momento da morte, eutanásia, suicídio assistido e distanásia (KOVÁCS, 2003, p.01).

Sendo assim, a morte deixou de ser tratada como um evento digno; pelo contrário, o ser humano passou a utilizar de todos os meios de avanços tecnológicos possíveis, como tratamentos e procedimentos extraordinários e desproporcionais para adiar a morte, sem se preocupar com a dignidade da pessoa humana.

A dignidade da pessoa humana está prevista na Constituição brasileira como um dos fundamentos da República (art. 1º, III) que afirma que o Brasil se constitui em um Estado Democrático de Direito que tem como um dos seus fundamentos a dignidade da pessoa humana.

Essencialmente sua expressão dignidade significa que toda pessoa é um fim de si mesmo. A vida de todos os seres humanos possui uma valia intrínseca, objetiva, pois ninguém existe no mundo para atender as vontades de outra pessoa ou para servir as metas de uma sociedade (HERRERA, 2016, p.24).

O direito só deve aceitar as descobertas científicas que não contrariem a natureza do ser humano e sua dignidade. A ciência deve ser o mais poderoso auxiliar para que a vida humana seja cada vez mais digna de ser vivida. Logo, nem tudo que é cientificamente possível é moral ou juridicamente admissível (DINIZ, 2010, p.438).

A dignidade humana, como vista, deve permear toda a vida do sujeito de direito. Desse modo, ela é elemento essencial da caracterização da qualidade de vida, cuja conotação requer essa caracterização: “vida digna”. Uma vez sem dignidade, não seria direito obrigar alguém ao sofrimento, muito menos a uma situação degradante, cruel ou próxima da tipificação do crime de tortura (BERSOT e MARTINEZ, 2016, p. 301).

4.1.1 Bioética

Segundo o entendimento de DINIZ (2010, p. 438) “A bioética é o estudo da moralidade da conduta humana na área das ciências da vida”.

A Bioética é uma palavra que originou-se através da junção de dois vocábulos de origem grega: bio que significa “vida”, e ethos que quer dizer “ética”. Sendo assim significa “ética da vida”.

Referências

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