HISTÓRICO DA CASA DO SENADOR JOAQUIM AUGUSTO ASSUMPÇÃO: DO FINAL DO SÉCULO XIX AO INÍCIO DO XXI. PELOTAS. RS
GUTIERREZ, Ester Judite¹; SANTOS Carlos Alberto²; ESSINGER, Cíntia³; RIBEIRO, Juliana4.
¹ Núcleo de Estudos de Arquitetura e Urbanismo – NEAB/FAUrb/UFPel. ester@ufpel.tche.br ² Instituto de Artes e Desing – IAD/UFPel. betosant@terra.com.br
³ Núcleo de Estudos de Arquitetura e Urbanismo – NEAB/FAUrb/UFPel. ita.essinger@terra.com.br 4
Bolsista Iniciação cientifica FAPERGS. Núcleo de Estudos de Arquitetura e Urbanismo – NEAB/FAUrb/UFPel. srjuliana@ibestvip.com.br
1. INTRODUÇÂO
A história da residência começou por volta dos últimos vinte anos do século XIX, quando o futuro senador da república brasileira, Joaquim Augusto de Assumpção e sua esposa, Maria Francisca de Mendonça, passaram a viver na recém construída casa assobradada e a ocupar também a casa térrea vizinha. Nesta época, as duas casas, eram apenas uma.
Após a morte de Maria Francisca, em 1933, a casa principal foi herdada pelo seu filho Fernando Augusto e a casa vizinha pelo outro filho chamado Carlos. Grandes intervenções aconteceram como conseqüência do cotidiano desta família, como a divisão da casa assobradada em duas, para que a sogra de Fernando
Augusto fosse morar na morada e cuidar da
filha de seu primeiro casamento, logo após enviuvar.
Outras intervenções na casa transmitem a saga da família, que foi de grande importância para a cidade de
Pelotas. Em 2005 o Banco Santander resolveu comprá-la e doá-la a Universidade Federal de Pelotas para abrigar o curso de Turismo. Por conseqüência da compra e das intervenções que precisavam ser feitas, para abrigar o novo uso, optou-se por desvendar a história e a evolução desta residência.
Fig. 01: Fachada do prédio pela rua
2. MATERIAL E MÉTODOS
Para o processo de investigação foram utilizadas fontes impressas, como os jornais Correio Mercantil e Diário Popular1, documentação manuscrita, como atas da
a Costa.
Fonte: http://fcd.ufpel.edu.br/turismo/
Lobo d
1
CONGRESSO eucarístico começa amanhã: extensa programação. Diário Popular, Pelotas, 19 out 1960, p.6.
Volume 632. Relatório apresentado ao Conselho Municipal em 20 de setembro de 1922 pelo intendente dr. Pedro Luís Osório. Pelotas: Diário Popular, 1922. p. 80.
câmara de Vereadores de Pelotas, documentos esses existentes no Museu da Biblioteca Pública Pelotense; inventários2, localizados no Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul; fontes iconográficas como fotografias antigas, plantas, mapas3, pinturas, móveis e objetos encontrados em acervos privados e, em especial, fontes orais4, obtidas através de entrevistas com descendentes e empregados que viveram na morada.
Em um primeiro momento foram analisadas as fontes escritas, que identificaram os primeiros proprietários e seus descendentes, mostrando a riqueza e prosperidade que acompanhou a família. Simultaneamente foram realizadas entrevistas com antigos moradores da residência, o que certamente foi a fonte de maior riqueza para a pesquisa. Mapas antigos contribuíram para a análise das intervenções e descoberta das mudanças de usos de compartimentos.
3. RESULTADOS E DISCUSSÔES
O primeiro registro escrito encontrado sobre a morada em estudo, apareceu no inventário da Baronesa do Jarau, Cândida Clara de Assumpção, mãe do herdeiro Joaquim Augusto de Assumpção. A certeza sobre a data da construção da casa permaneceu indefinida. Através dos relatos dos descendentes de Joaquim, pode-se apontar apenas um período, compreendido entre os anos de 1884 e 1889. O que se ficou claro foi que, na época do casamento de Joaquim com Maria Francisca Mendonça (Dona Mariquinhas, como era chamada), em 18 de setembro de 1880, a casa estava em construção, e conforme a Sra. Maria Leocádia de Assumpção Gertum5, o palacete ficou pronto somente depois do nascimento dos dois primeiros filhos do casal, Joaquim Augusto de Assumpção Junior, nascido em 1881 e Francisco de Paula Assumpção, que nasceu e faleceu em 1882.
DR JOAQUIM Augusto d’Assumpção. Cabrion, número 93, Pelotas, 14 nov 1880, p. 2.
D. MARIA Francisca Mendonça de Assumpção. Diário Liberal. 27 nov 1933, p. 1. Porto Alegre, Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul
2
Processos de inventário:
Maria Francisca Mendonça de Assumpção. Pelotas, Nº 283, Maço 5. 2º Cartório, 1933
Cândida Clara de Assumpção. Pelotas, Nº 187, Maço 6 Estante 33. 1895. 2º Cartório Cível e Crime Joaquim Augusto de Assumpção Neto. Planta do prédio do Dr. Joaquim
la equipe de trabalho, 19 ago 2005. 1 o. Entrevista oral. Pelotas: gravação digital pela equipe de trabalho, ocádia de Assumpção. Entrevista oral. Pelotas: gravação digital pela equipe de oral. Pelotas: gravação digital pela equipe de trabalho, 5 out . Entrevista oral. Pelotas: gravação digital pela equipe de ssumpção. Entrevista oral. Pelotas: gravação digital pela equipe de 3
Pelotas. Acervo particular
Augusto Assumpção. Esc: 1/100. Autor ilegível. Pelotas, 1915 4
VIANA, Irene Assumpção. Entrevista oral. Pelotas: gravação digital pela equipe de trabalho, 17 ago 2005. 1 arquivo WAV (16’30”).
ARAÚJO, Dinah. Entrevista oral. Pelotas: gravação digital pe arquivo WAV (68’).
VIANA, Maria Luiza Assumpçã
23 ago 2005. 2 arquivos WAV (56’23”). GERTUM, Maria Le
trabalho, 5 set 2005. 1 arquivo WAV (84’). RIBEIRO, Irene Assumpção. Entrevista 2005. 3 arquivos WAV (86’58”).
ASSUMPÇÃO NETO, Joaquim Augusto de trabalho, 20 out 2005. 1 arquivo WAV (42’16”). 5
GERTUM, Maria Leocádia de A
As primeiras observações evidenciaram uma organização funcional distributiva da edificação onde a áreas sociais (oeste e norte), intimas (norte) e de serviço (leste) estavam definidas e adequadamente orientadas. Além disso, dois pátios internos, de mesma profundidade e larguras diferentes permitiram o conforto natural em todos os compartimentos do pavimento senhorial.
A residência se implantou no terreno na foram de uma letra “U”. Interligadas, a circulação social e a de serviço seguiram mesmo desenho, pelo meio da edificação, acom
a fachada leste, chegava à zona de serviço e encontrava o se
neiro. Na semana seguinte, Joaquim trouxe os sobrinhos para morarem com
o os filhos e sobrinhos homens. As meninas permaneceram morando no casa
cloacal e de águas servidas, talve
laterra, o sistema com operação por t
s áreas sociais e íntimas da família.
grande intervenção na residência. Fernando contratou Carlo
panhando as áreas descobertas internas. No acesso principal, em primeiro, apresentava um grande ambiente de distribuição às duas salas, uma que deu lugar a um santuário e outra, a grande sala da esquina, primeiramente, conhecida como sala dourada. Essas salas receberam papel de parede e forros de madeira e gesso ricamente trabalhados.
Em seguida, acompanhando a fachada norte, um longo e largo corredor central, envolvia as duas áreas, levava aos dormitórios e a sala de jantar. No terceiro lance, a circulação central seguia
gundo acesso. O enorme corredor, os quartos, os quartos de banho e a sala de jantar receberam escaiolas.
Quanto ao arquiteto e construtores do palacete, nada souberam informar os descendentes, nem foram encontradas plantas no arquivo da Secretaria Municipal de Urbanismo de Pelotas.
Em 1896, uma semana após a morte de seu esposo, ministro Fernando Osório, a irmã de Joaquim, Ernestina Assumpção Osório faleceu no início de dezembro, no Rio de Ja
ele. Como a casa ficava pequena para os seus nove filhos e mais os cinco sobrinhos, a casa térrea, pela rua Félix da Cunha - que havia sido herdada por ele através do inventário de sua mãe - foi transformada em uma ‘república’. Lá ficaram morand
rão.
Em 1915, provavelmente, a propriedade sofreu a primeira grande reforma. Nas duas casas foram colocadas canalizações de esgoto
z pela fase de modernização da infra-estrutura que passava a cidade deste 1913.
O acesso ao terceiro pavimento dava-se através de uma escada em caracol a partir da grande área de iluminação e ventilação da casa. A circulação a esse último compartimento foi ao longo do tempo sendo alterada.
A data de 1928-31 foi atribuída para a instalação um sistema de aquecimento do tipo calefação por água quente. Importado da Ing
ermossifão, composto por uma caldeira (marca Britania) abastecida com lenha, tubulação de ferro (marca Mannesmann) e radiadores. Na casa assobradada, pelo porão, a rede de distribuição, sem isolamento, aquecia e desumidificava o ambiente; no pavimento principal, com exceção das zonas de serviço, quatorze radiadores esquentavam a
Após a morte de sua primeira esposa, Fernando, resolveu trazer a sogra para morar na casa com o objetivo de ajudar na educação das duas pequenas filhas. Este fato contribuiu para outra
s Casaretto Scotto para reformular a vivenda de forma a adaptá-la para as duas famílias.
A casa foi dividida, ficando para atual rua Lobo da Costa – para Margarida e outra – frente para a rua Felix da Cunha até a esquina com a Lobo da C
pode-se atribuir valores histórico-culturais. Valor histórico, por ter a
dos anos e mostrar, através da sua própria estrutura, essa intervenções. Finalmente, com maior
importância, por ter sid de Assumpção. Já os
alores artísticos, são apontados pela qualidade e variedade das escaiolas na restauração, pelos requintados ornamentos, pela riqueza dos stuques dos tetos e, também, pelas pinturas das tábuas do assoalho - que hoje
e confirmar a importância desta morada, que
arquitetônicos. São Paulo: Martins Fontes,
a de. Pelotas: casarões contam a sua história. São Lourenço do Sul: , Márcia da Nova Cruz. Estudo dos sistemas de aquecimento
rafia (Especialização em Especialização em Preservação do
el, v., 1999.
uma parte – frente osta - para Fernando.
Anos depois Fernando casou-se com Diva Braga Kraft, irmã por parte de pai de sua primeira esposa. Desse casamento nasceram Joaquim e Irene.
Com a morte de Margarida a casa foi aberta, se tornando uma novamente. A escada em caracol foi retirada e demoliu-se a parede que dividia a casa.
4. CONCLUSÕES
Com a pesquisa pode-se perceber que a casa, tantas vezes alterada, mostrou a história da família, adaptou-se as suas necessidades e aos seus gostos ao passar dos anos. A vida desta família é cheia de reviravoltas, que refletiu à casa as alterações que se passavam no nível familiar. No desvendar desta história apareceram visitantes ilustres, assim como a importância dos moradores que ali habitavam.
A esta morada
brigado o palco da vida desta família e, em seu interior, diversos momentos desta história. Também por sofrer transformações ao longo
s
o a casa do senador Joaquim Augusto v
encontradas e
foram substituídos.
Através da pesquisa, pode-s
constitui e representa parte da história da cidade de Pelotas.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bibliografia
CHEVALIER, Ceres. José Isella. Arquitetura em pelotas na segunda metade do século XX. Pelotas: Mundial, 2002.
CORONA, Eduardo & LEMOS, Carlos A. C. Dicionário da arquitetura brasileira. São Paulo: Edart, 1972.
KOCH, Wilfried. Dicionário dos estilos 2004.
LEON, Zêni
Hofstätter, 3v, 1997. MARQUES
existentes em prédios de valor histórico e cultural, construídos na cidade de Pelotas/RS. Monog
Patrimônio Arquitetônico e Urbano) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal do Pelotas. 2005.
NASCIMENTO, Heloísa Assumpção. Nossa cidade era assim. Pelotas: Ed. UFP 3
estor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. São Paulo: to Rodrigues. Modernidade urbana e dominação da natureza: saneamento de Pelotas nas primeiras décadas do século XX. In: História em
uto de Ciências Humanas. UFPel, v. 7, p. 65-92, dez. 2001
ândida Clara de Assumpção. Pelotas, Nº 187, Maço 6 Estante 33. 1895. 2º
rime
lar, Pelotas, 19 out 1960, p. 6.
al em 20 de setembro de
pela equipe de abalho, 17 ago 2005. 1 arquivo WAV (16’30”).
ta oral. Pelotas: gravação digital pela equipe de trabalho,
la equipe de trabalho, 23 ago 2005. 2 arquivos WAV (56’23”).
GERTUM, Maria Leocádia de Assumpção. Entrevista oral. Pelotas: gravação digital pela equipe de trabalho, 5 set 2005. 1 arquivo WAV (84’).
RIBEIRO, Irene Assumpção. Entrevista oral. Pelotas: gravação digital pela equipe de trabalho, 5 out 2005. 3 arquivos WAV (86’58”).
ASSUMPÇÃO NETO, Joaquim Augusto de. Entrevista oral. Pelotas: gravação digital pela equipe de trabalho, 20 out 2005. 1 arquivo WAV (42’16”).
4. Fontes iconográficas
Pelotas. Acervo particular Joaquim Augusto de Assumpção Neto. Planta do prédio
do Dr. Joaquim Augusto Assumpção. Esc: 1/100. Autor ilegível. Pelotas, 1915.
OSÓRIO, Fernando. A cidade de Pelotas. 3. ed. rev. Pelotas: Armazém Literário, 2v., 1997.
REIS FILHO, N Perspectiva, 1970. SOARES, Paulo Rober o
Revista. Pelotas, Instit Fontes
1. Fontes Manuscritas
Porto Alegre, Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul Processos de inventário Maria Francisca Mendonça de Assumpção. Pelotas, Nº 283, Maço 5. 2º Cartório, 1933
C
Cartório Cível e C 2. Fontes impressas
Biblioteca Pública Pelotense. Museu CONGRESSO eucarístico começa amanhã: extensa programação. Diário Popu
DR JOAQUIM Augusto d’Assumpção. Cabrion, número 93, Pelotas, 14 nov 1880, p. 2.
D. MARIA Francisca Mendonça de Assumpção. Diário Liberal. 27 nov 1933, p. 1. Volume 632. Relatório apresentado ao Conselho Municip
1922 pelo intendente dr. Pedro Luís Osório. Pelotas: Diário Popular, 1922. p. 80. 3. Fontes orais
VIANA, Irene Assumpção. Entrevista oral. Pelotas: gravação digital tr
ARAÚJO, Dinah. Entrevis
19 ago 2005. 1 arquivo WAV (68’).
