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Arborização de ruas e praças em Salvador, BA.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE BIOLOGIA

CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

Arborização de ruas e praças em Salvador, BA.

- À luz da Ecologia e Permacultura -

por

GABRIEL SALLES GÓES

Monografia apresentada ao Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia como exigência para

obtenção do grau de Bacharel em Ciências Biológicas, modalidade Ecologia: Recursos Ambientais.

Salvador, BA. 2009

(2)

Livros Grátis

http://www.livrosgratis.com.br

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Data da defesa: 20 de janeiro de 2010.

Banca examinadora:

Maria Zélia Alencar de Oliveira Orientadora

Pesquisadora FAPESB/EBDA.

Luciano Souza dos Santos Jardim Botânico de Salvador

Pedro Henrique Cardoso Instituto de Permacultura da Bahia

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RESUMO

Este trabalho teve por objetivo avaliar a comunidade arbórea de ruas e praças em Salvador, BA, à luz da Ecologia e Permacultura, com base em inventários quantitativos da arborização, registrados em relatórios técnicos e publicações científicas. Analisou-se a riqueza, diversidade, abundância de espécies exóticas, nativas não regionais e nativas regionais, freqüência de espécies que fornecem alimento à fauna e ocorrência de espécies tóxicas, alergênicas e invasoras. Foram amostrados 2.469 indivíduos, pertencentes a 61 gêneros e 27 famílias, com predomínio de Fabaceae. Verificou-se uma grande riqueza de espécies (R = 82), com dominância de amendoeiras (Terminalia catappa), sombreiros (Clitoria fairchildiana) e mongubas (Pachira aquatica), que juntas representam 28,4% da comunidade. Cabe ressaltar a predominância de indivíduos de espécies exóticas (53,3%) e os poucos representantes de espécies nativas do Domínio da Mata Atlântica baiana (17,1%). Houve um baixo percentual de espécies que ofereciam alimento à fauna (26,4%) e ocorreram sete espécies tóxicas e alergênicas, entre elas a espirradeira (Nerium oleander) e chapéu-de-Napoleão (Thevetia peruviana). Foram identificadas 11 espécies potencialmente invasoras, com maior abundância de: amendoeiras (T. catappa), casuarinas (Casuarina equisetifolia) e sabiás (Mimosa caesalpiniifolia). Alguns princípios e práticas da Permacultura podem ser adotados na arborização de ruas e praças, como: emprego de espécies nativas, promoção da sucessão natural e da diversidade, manutenção da fertilidade do solo, uso de recursos biológicos, produção local de alimentos, zoneamento, setorização, entre outros.

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AGRADECIMENTOS

Meus sinceros agradecimentos à Maria Zélia A. de Oliveira, pela ajuda e confiança; a Pedro H. Cardoso e Luciano S. dos Santos, pelas preciosas contribuições; e aos membros do Jardim Botânico de Salvador, Parque Joventino Silva, Instituto de Permacultura da Bahia, Superintendência do Meio Ambiente e Superintendência de Conservação e Obras Públicas da Prefeitura Municipal de Salvador-BA, por toda a ajuda e atenção.

À minha família, por todo o cuidado e aprendizado; aos meus amigos, pelos caminhos compartilhados; à Nicole Lellys, pelos sensatos conselhos e por todo o amor; à Hermínia Freitas, coordenadora do Colegiado de Graduação, por toda a atenção e paciência; a todos os professores que contribuíram na minha formação, em especial à Marsha Hanzi, pelas sábias palavras; e ao povo brasileiro, pela universidade pública, fruto do seu suor.

Minha gratidão ao Sol, por toda a luz, fonte da Vida; à Mãe-Terra, por todo o alimento e proteção; aos mares, pelo ar puro e águas bentas; aos rios Paraguaçu, Joanes e suas bacias, por suas sagradas águas; ao rio São Francisco e seus afluentes, pela sua força.

Meus profundos agradecimentos às aceroleiras de Tubarão, aos jambeiros do Retiro de São Bento e aos abacateiros do Vale do Capão, pelos saborosos frutos de amor; aos cajueiros do Marizá, pelo acolhimento e aprendizado; aos visgueiros da Fazenda Caraípe, pelos momentos de contemplação; ao baobá de Porto de Galinhas, companheiro de pôr-do-sol; às amendoeiras da minha rua, pela preciosa sombra; aos samaneiros de Ondina, pelos momentos de reflexão; aos ipês do Cachoeirão, por sua colorida nudez; às mangabeiras e cajueiros de Moreré, pelos momentos de conexão; e a todas as ervas santas, pela cura e clareza.

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DEDICATÓRIA

Dedico ao paraíso de nome Terra e aos filhotes dos filhotes que ainda irão nascer.

... Antigamente, quando a Criação era nova, a terra estava cheia de árvores gigantescas, cujos galhos pairavam acima das nuvens, e nelas moravam nossos Pais Antigos, os que caminhavam com os Anjos e viviam segundo a Lei Sagrada.

À sombra dos seus ramos todos os homens conviviam em paz, possuíam a sabedoria e o conhecimento, e era deles a revelação da Luz Infinita.

Através de suas florestas fluía o Rio Eterno, em cujo centro se erguia a Árvore da Vida, que não se escondia deles.

Eles comiam à mesa da Mãe Terrena, e dormiam nos braços do Pai Celestial, aliados para a eternidade com a Lei Sagrada.

Naquele tempo as árvores eram irmãs dos homens, e muito longa era a duração de sua vida na terra, tão longa quanto o Rio Eterno, que fluía sem cessar deste a Fonte Desconhecida.

Agora o deserto varre a terra com areia ardente, as árvores gigantescas, fizeram-se poeira e cinzas, e o vasto rio é uma lagoa lodosa. Pois a aliança sagrada com o Criador foi rompida pelos filhos dos homens, que foram banidos de seu lar nas árvores.

Agora o caminho para a Árvore da Vida esconde-se dos olhos dos homens, e a tristeza enche o céu vazio onde antes pairavam os galhos altaneiros.

Agora ao deserto ardente chegaram os Filhos da Luz, para trabalhar no Jardim da Irmandade.

A semente que plantam no solo árido transformar-se-á em grande floresta, e as árvores se multiplicarão e estenderão as asas virentes até que toda a terra se cubra outra vez.

A terra toda será um jardim e as árvores sobranceiras cobrirão a terra...

... Para cada filho plantarás uma árvore, para que o ventre da tua Mãe Terrena produza vida, como produz vida o ventre da mulher.

Aquele que destrói uma árvore corta os próprios membros...

... Tua majestade reúne todos aqueles que se desgarraram do verdadeiro lar, que é o Jardim da Irmandade.

Todos os homens voltarão a ser irmãos debaixo dos teus ramos desfraldados. Como o Pai Celestial tem amado todos os seus filhos, assim amaremos as árvores e cuidaremos delas, as árvores que crescem na nossa terra, assim as guardaremos e protegeremos, para que cresçam altas e fortes e encham de novo a terra com sua beleza. Pois as árvores são nossas irmãs, e, como irmãos, havemos de amar-nos e guardar-nos uns aos outros.

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ÍNDICE

AGRADECIMENTOS ... i

DEDICATÓRIA... ii

ÍNDICE DAS FIGURAS... iv

ÍNDICE DAS TABELAS ... v

INTRODUÇÃO ... 1

No começo ... 1

Salvador hoje... 6

A importância do verde urbano... 9

Problemas na arborização urbana... 13

Ecologia... 21 Permacultura ... 23 Agroecologia... 25 OBJETIVOS ... 27 Objetivo geral ... 27 Objetivos específicos... 27 METODOLOGIA ... 28 Área de estudo ... 28 Clima ... 28 Geomorfologia ... 29 Flora e fauna ... 31 Calçadas... 33 Métodos... 33 RESULTADOS... 35

Corredor da Avenida Centenário ... 35

Dique do Tororó... 40

Rua Miguel Calmon ... 44

Avenida Antônio Carlos Magalhães... 46

Avenida Juracy Magalhães Júnior... 52

Avenida Vasco da Gama ... 58

Universidade Federal da Bahia ... 64

Macroárea Lucaia/Costeira... 71 DISCUSSÃO ... 81 CONCLUSÕES ... 93 RECOMENDAÇÕES... 94 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 96 APÊNDICES ... 109 ANEXOS ... 113

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ÍNDICE DAS FIGURAS

Figura 1 – Abertura da Avenida Garibaldi, construída entre 1968 – 1972. 3

Figura 2 – Abertura da Avenida Bonocô, inaugurada em 1970. 4

Figura 3 – Abertura da Avenida Luís Viana Filho (Paralela), inaugurada em 1974. 4

Figura 4 – Renda per capita no município de Salvador, BA, em 2000. 6

Figura 5 – Aspecto da arborização de Maringá, PR, exemplo às cidades brasileiras. 12

Figura 6 - Mapa mostrando o contraste topográfico entre as partes oeste e leste da Falha

do Iguatemi. 30

Figura 7 – Abundância relativa entre as espécies da comunidade arbórea do Corredor da

Centenário. 37

Figura 8 – Estrutura da comunidade arbórea do Dique do Tororó. 42

Figura 9 – Abundância relativa entre espécies da Rua Miguel Calmon. 45

Figura 10 – Abundância relativa entre espécies da comunidade arbórea da Av. ACM. 49

Figura 11 – Abundância relativa entre espécies da comunidade arbórea da Av. Juracy

Magalhães Jr. 55

Figura 12 – Abundância relativa entre espécies da comunidade arbórea da Av. Vasco da

Gama (Pi = abundância relativa), conforme Tabela 27. 61

Figura 13 – Abundância relativa entre espécies da comunidade arbórea da UFBA. 68

Figura 14 – Abundância relativa entre espécies da comunidade arbórea da Macroárea

Lucaia/Costeira. 75

Figura 15 – Freqüência de indivíduos da Macroárea Lucaia/Costeira, por família botânica. 77

Figura 16 – Localização do município de Salvador e sua Região Metropolitana (RMS) 115

Figura 17 – Localização das áreas inventariadas. 116

Figura 18 – Cobertura vegetal e Áreas de Conservação e Valor Urbano Ambiental em

(9)

ÍNDICE DAS TABELAS

Tabela 1 – Indicadores de pobreza e desenvolvimento humano, para Salvador, no ano

2000. 7

Tabela 2 - Porcentagem da Renda Domiciliar Apropriada por Faixas da População, em

Salvador, no ano 2000. 7

Tabela 3 - Indicação do porte das árvores baseado na largura das ruas e calçadas. 14

Tabela 4 - Afastamentos mínimos necessários entre as árvores e outros elementos do meio

urbano. 15

Tabela 5 - Áreas de Conservação e de Valor Urbano Ambiental em Salvador. 32

Tabela 6 - Espécies encontradas no Corredor da Centenário. 35

Tabela 7 – Percentual da soma das espécies mais abundantes no Corredor da Centenário. 38

Tabela 8 – Origem das espécies e abundância de indivíduos de cada categoria no Corredor

da Centenário. 38

Tabela 9 – Abundância de espécies fornecedoras de alimento no Corredor da Centenário. 39

Tabela 10 - Espécies encontradas no Dique do Tororó. 40

Tabela 11 – Percentual da soma das espécies mais abundantes no Dique do Tororó. 43

Tabela 12 – Origem das espécies e abundância de indivíduos de cada categoria no Dique

do Tororó. 43

Tabela 13 – Abundância de espécies fornecedoras de alimento no Dique do Tororó. 44

Tabela 14 - Espécies encontradas na Rua Miguel Calmon. 45

Tabela 15 – Origem das espécies e abundância de indivíduos de cada categoria na R.

Miguel Calmon. 46

Tabela 16 – Abundância de espécies fornecedoras de alimento na R. Miguel Calmon. 46

Tabela 17 - Espécies arbóreas encontradas na Av. ACM. 47

Tabela 18 – Percentual da soma das espécies mais abundantes na Avenida ACM. 50

Tabela 19 – Origem das espécies e abundância de indivíduos de cada categoria na Av.

ACM. 50

Tabela 20 – Abundância de espécies fornecedoras de alimento na Av. ACM. 51

Tabela 21 – Arbustos e palmeiras encontrados na Av. Acm. 51

Tabela 22 - Espécies arbóreas encontradas na Av. Juracy Magalhães Jr. 52

Tabela 23 – Percentual da soma das espécies mais abundantes na Av. Juracy Magalhães

Jr. 56

Tabela 24 – Origem das espécies e abundância de indivíduos de cada categoria na Av.

Juracy Magalhães Jr. 56

Tabela 25 – Abundância de espécies fornecedoras de alimento na Av. Juracy Magalhães Jr. 57

Tabela 26 – Arbustos e palmeiras encontrados na Av. Juracy Magalhães Jr. 57

Tabela 27 - Espécies arbóreas encontradas na Av. Vasco da Gama. 58

Tabela 28 – Percentual da soma das espécies mais abundantes na Av. Vasco da Gama. 62

Tabela 29 – Origem das espécies e abundância de indivíduos de cada categoria na Av.

(10)

Tabela 30 – Abundância de espécies fornecedoras de alimento na Av. Vasco da Gama. 63

Tabela 31 – Arbustos e palmeiras encontrados na Av. Vasco da Gama. 63

Tabela 32 – Espécies arbóreas encontradas na UFBA. 65

Tabela 33 – Percentual da soma das espécies mais abundantes na UFBA. 69

Tabela 34 – Origem das espécies e abundância de indivíduos de cada categoria na UFBA. 69

Tabela 35 – Abundância de espécies fornecedoras de alimento na UFBA. 70

Tabela 36 – Arbustos, palmeiras e outras espécies não arbóreas encontradas na UFBA. 70

Tabela 37 – Espécies arbóreas encontradas na Macroárea Lucaia/Costeira. 72

Tabela 38 – Percentual da soma das espécies mais abundantes na Macroárea

Lucaia/Costeira. 76

Tabela 39 – Famílias botânicas encontradas na Macroárea Lucaia/Costeira. 76

Tabela 40 – Origem das espécies e abundância de indivíduos de cada categoria na

Macroárea Lucaia/Costeira. 78

Tabela 41 – Abundância de espécies fornecedoras de alimento na Macroárea

Lucaia/Costeira. 78

Tabela 42 – Comparação da riqueza entre as áreas e outros estudos no Brasil 81

Tabela 43 – Comparação da diversidade entre as áreas de Salvador. 84

Tabela 44 – Percentual da soma das espécies mais abundantes na Macroárea

Lucaia/Costeira. 84

Tabela 45 - Origem e informações ecológicas das espécies encontradas. 109

Tabela 46 – Artigos destacados da Lei nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006, da

Constituição Federal brasileira. 113

Tabela 47 - Lista das espécies vegetais exóticas invasoras em ambientes terrestres

(11)

INTRODUÇÃO

No começo

Antes da chegada dos portugueses, diversos grupos de origem Tupi viviam em amplos territórios espalhados pela Bahia, especialmente, no litoral (Oliveira et al., 2009). No território que se estendia da costa de Sergipe até o baixo-sul da Bahia viviam os Tupinambá (Tavares, 2001).

Eram caçadores-coletores e mantinham pequenas lavouras de mandioca, aipim, inhame, batata-doce, abóbora, mamão, banana e algumas variedades de milho, feijão e pimenta (Tavares, 2001). Muitos relatos ressaltam a abundância e variedade de espécies vegetais por eles consumidas, sendo sua principal fonte de nutrientes. A proteína animal era obtida, principalmente, da pesca. Bebidas fermentadas eram produzidas a partir da mandioca, milho e de frutas como o caju e a mangaba (Fernandes, 2003).

Conseguiam conciliar seus interesses com a manutenção da biodiversidade. A floresta encontrada pelos portugueses, chamada pelos índios de caá-etê, já era resultado do manejo tupinambá (Fernandes, 2003).

Segundo Oliveira et al. (2009), são numerosas as informações etno-históricas e arqueológicas sobre os tupis na região de Salvador. Muitos documentos fazem referência a aldeias indígenas, do Rio Vermelho à ilha de Itaparica, desde as primeiras instalações portuguesas.

A chegada dos portugueses se deu no dia 1º de Novembro de 1501, quando Americo Vespucci encontrou o acidente geográfico que batizou de Baía de Todos os Santos, em homenagem ao dia da descoberta. Somente 30 anos depois, em 13 de março de 1531, desembarca no local a armada de Pero Lopes e Martim Afonso de Sousa. (Tavares, 2001).

Em 1549 Tomé de Sousa começou a construir a cidade, primeira do Brasil, pois antes só havia pequenas vilas. Estabelecido o local da administração, foram concedidas terras para o plantio de algodão e cana-de-açúcar (Tavares, 2001).

Segundo Cardim (1978) apud Ribeiro (2009, p. 39), a população de Salvador, em 1583, era composta de oito mil índios cristianizados, três a quatro mil escravos africanos e três mil portugueses.

(12)

Nos dois primeiros séculos da história da Bahia a vida social foi quase exclusivamente rural. A cidade do Salvador era sede dos governos-gerais e vice-reinados, centro administrativo, religioso, militar e comercial, porto de embarque de açúcar, fumo, algodão, entre outros, mas a maioria dos proprietários vivia nos sobrados e casas de suas terras, mudando-se para a cidade a partir da segunda metade do século XVII (Tavares, 2001).

No período de 1750 a 1800 houve, na cidade de Salvador, a expansão da lavoura açucareira e de culturas como o tabaco e mandioca, correlacionada ao aumento do tráfico de escravos (Ribeiro, 2009).

Mais de cem anos depois, na primeira metade do século XX, o estado da Bahia ainda tinha sua economia baseada no setor primário, agrário exportador, sustentado, neste momento, na cultura do cacau e do fumo. O estado apresentava um processo de industrialização tardio em relação ao Sudeste, o que não agradava às elites da época (Mendes, 2006).

Com isso, a partir da década de 50, investiu-se na mudança para um modelo industrial de desenvolvimento. Em 1954 foi implantada a Refinaria Landulfo Alves, em São Francisco do Conde (Região Metropolitana de Salvador - RMS). A infra-estrutura advinda com a Petrobrás facilitou a criação do Centro Industrial de Aratu e do Complexo Petroquímico de Camaçari, ambos na RMS (Mendes, 2006).

Como retrata Peixoto (1968), a cidade foi crescendo, a partir do seu núcleo inicial, por cima dos espigões, ao passo que os fundos dos vales eram ocupados pelas hortas, que abasteciam parte da população. Os bairros se desenvolveram de forma isolada, em virtude dos vales e desníveis.

Milton Santos apud Peixoto (1968, p. 11) comenta que com o crescimento da cidade, o Centro desenvolveu-se comercialmente, o que intensificou a circulação nas direções periféricas.

Como forma de escoar o trânsito, que já apresentava engarrafamentos diários nas ruas do Centro, o sistema de transportes foi ocupando os vales (Peixoto, 1968). Foram construídas grandes avenidas, para fluxo mais intenso de veículos, denominadas parkways, ou avenidas de vale, com destaque para as avenidas: Centenário (1949), Castelo Branco (1967), Costa e Silva (1968), Bonocô (1970), Anita Garibaldi (1977), Luis Viana Filho (1974), entre outras (Vasconcelos, 2002, apud Mendes, 2006, p. 146). As figuras 1, 2 e 3 mostram a abertura das Avenidas Garibaldi, Bonocô e Luís Viana Filho, respectivamente.

(13)

Figura 1 – Abertura da Avenida Garibaldi, construída entre 1968 – 1972.

Fonte: RCGR Informática (2002) apud Mendes (2006, p. 147).

Neste período, por meio do Decreto 2.181/68, da Reforma Urbana do Município, a prefeitura pôs à venda seus terrenos, que representavam grande parte da cidade. Áreas remanescentes de mata se tornaram vazios urbanos especulativos, à espera da valorização com o advento de infra-estrutura (Simões, 2002).

(14)

Figura 2 – Abertura da Av. Bonocô, inaugurada em 1970. Fonte: RCGR Informática (2002) apud Mendes (2006, p. 147).

Figura 3 – Abertura da Av. Luís Viana Filho (Paralela), inaugurada em 1974. Fonte: RCGR Informática (2002) apud Mendes (2006, p. 159).

(15)

Fernandes, Santos e Santo (2004) em estudo sobre a formação do bairro do Cabula, ressaltam que até os anos 40, este local era uma importante área verde de Salvador, mas com a expansão horizontal da cidade cresceu também a degradação ambiental na região e os espaços verdes foram substituídos por áreas densamente construídas.

Com a valorização dos terrenos nos vales, em virtude das obras públicas, a população mais abastada foi colonizando-os, expulsando os antigos moradores e as hortas. Estes passaram a habitar as encostas, cujos terrenos eram mais baratos ou invadidos (Peixoto, 1968).

O modelo de desenvolvimento industrial, dominante até a década de 80, gerou uma explosão demográfica na cidade, decorrente do grande fluxo migratório. Iniciou-se na periferia a formação de uma crescente massa de mão-de-obra empobrecida (Souza, 1986). A falta de perspectiva nas cidades do interior fez da capital uma alternativa para os excluídos, o que acarretou num intenso processo de favelização e de precarização das relações de trabalho (Mendes, 2006).

Nos anos 90, com a elevada taxa de desemprego e falta de moradia, reduziu-se a migração. Em virtude, também, da tendência nacional de redução da natalidade o crescimento populacional diminuiu (Mendes, 2006).

Neste período surge um novo modelo de desenvolvimento, baseado no setor terciário (serviços), com ênfase no turismo. Salvador se torna uma alternativa interessante para grandes grupos estrangeiros (Mendes, 2006).

Segundo Mendes (2006), essa mudança de paradigma não trouxe benefícios à população, o que resultou em altos índices de desemprego, baixa escolaridade e manutenção da exclusão social. Este autor descreve o Carnaval como um grande exemplo deste processo, onde:

“A perspectiva da exclusão pelo consumo se potencializa, à medida que os pobres da cidade têm que se contentar com um dos cerca de 220 mil empregos temporários gerados direta ou indiretamente ao evento, como vendedor ambulante, cordeiros, seguranças, recepcionista, costureira ou camareira, ao tempo que já não mais são donos do que já foi sua principal festa”.

(16)

Salvador hoje

Após as expansões em torno do núcleo inicial, a cidade cresceu ao longo de toda a orla atlântica e no “Miolo”, espaço entre a BR-324 e a Avenida Paralela. Há, em Salvador, uma segregação espacial, entre as camadas mais abastadas da população que ocupam, principalmente, a orla atlântica e a entrada da Baía de Todos os Santos, espaços melhor servidos de infra-estrutura, e o restante da população, que habita o “Miolo”, a parte mais interna da Baía e encostas e fundos de vale, muitas vezes insalubres, espalhados desordenadamente (CONDER, 2006). A Figura 4 mostra essa segregação espacial, com base na Renda per Capita.

Figura 4 – Renda per capita no município de Salvador, BA, em 2000. (Fonte: CONDER, 2006).

Soares (2006) define como territórios populares os espaços onde há pouca presença do Estado e condições de vida ruins. Exemplos destes, em Salvador, ocorrem

(17)

no Subúrbio Ferroviário, no Miolo Urbano e em meio aos bairros de classe média, a exemplo de “ilhas” como o Calabar e o Nordeste de Amaralina.

Porto e Carvalho (2001) comentam que enquanto as famílias mais ricas se concentram na estreita faixa litorânea até Camaçari, em condomínios fechados, isolados, protegidos e agora verticalizados, na enorme mancha de pobreza, a segregação social e econômica traz desemprego, subemprego, informalidade e a busca de negócios nos próprios bairros.

A taxa de analfabetismo, no ano 2000, entre pessoas com mais de 25 anos era de 7,76%. Neste mesmo ano, a taxa de desemprego, entre os maiores de 15 anos, foi de 24,47% (CONDER, 2006). É grande a desigualdade social e a pobreza. Na Tabela 1 constam alguns índices.

Tabela 1 – Indicadores de pobreza para Salvador, no ano 2000

(CONDER, 2006). Indicadores Valores % pobres 30,700 % crianças pobres 43,420 % indigentes 13,350 % crianças indigentes 20,780

A Tabela 2 mostra a porcentagem da renda domiciliar apropriada por faixas da população, em 2000.

Tabela 2 - Porcentagem da Renda Domiciliar Apropriada por Faixas da

População, em Salvador, no ano 2000 (CONDER, 2006).

Faixas da População Porcentagem da Renda

Pelos 20% mais pobres 1,58%

Pelos 40% mais pobres 6,12%

Pelos 60% mais pobres 14,17%

Pelos 80% mais pobres 29,98%

Pelos 20% mais ricos 70,02%

Pelos 10% mais ricos 53,59%

Fernandes (2004) ressalta o papel do Estado em impulsionar este crescimento urbano, com exclusão social, quando constrói grandes conjuntos habitacionais em lugares distantes e quase sem infraestrutura. Em entrevista com habitantes do Miolo de Salvador, esta autora identificou como principais queixas o sistema de transporte público e a violência.

(18)

O transporte coletivo de Salvador é desigual e excludente (Coelho e Serpa, 2001), assim como o acesso a serviços básicos de saúde e educação (Fernandes, 2004).

Este descaso, com parte da população, vai de encontro ao Art. 6º da Constituição Federal de 1988:

“Art. 6º. São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição."

O Art. 225º, dessa mesma constituição, prevê outro direito essencial:

“Art. 225º. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

Contudo, Serpa (2006) mostra que os projetos mais recentes de criação/requalificação de parques públicos coincidem exatamente com as áreas mais “nobres” da cidade, a exemplo do Parque da Cidade e de Pituaçu. Estas intervenções promovem a valorização dos terrenos nestes bairros e o “embelezamento”, como estratégia de marketing urbano.

Estes projetos excluíram as áreas periféricas da cidade, levando suas praças e parques ao abandono, como é o caso do Parque São Bartolomeu, remanescente de Mata Atlântica onde nasce o Rio do Cobre, localizado no Subúrbio Ferroviário (Serpa, 2006). Este parque está dentro da segunda maior floresta urbana do país, antes conhecida como Floresta do Urubu, área importante do ponto de vista histórico, cultural e religioso (Serpa, 1998).

Serpa (2006) ressalta que apesar do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental de Salvador abordar os parques públicos do ponto de vista ambiental (ecológico), prevalece a ótica do lazer, com estratégias que, ao invés do desenvolvimento sustentável, visam a valorização do solo urbano e o aumento do consumo e lazer para um público de maior poder aquisitivo.

(19)

Para Simões (2002), em toda a história de Salvador, a percepção ambiental foi incipiente e o impacto negativo que se vê sobre o território é de ordem política e técnica.

Serpa (2006) considera que “a questão da acessibilidade e da distribuição espacial dos espaços públicos de natureza deve ser o cerne de uma discussão acadêmica profunda”. Segundo ele o índice de áreas verdes por habitante diz muito pouco, pois um habitante do Curuzu, bairro localizado na região administrativa com menor área verde da cidade, deve, com razão, se perguntar onde estão seus “metros quadrados” de verde.

A importância do verde urbano

Existe muita confusão na conceituação de termos para o verde urbano (Buccheri Filho e Nucci, 2006). As áreas verdes podem ser definidas como espaços livres com, no mínimo, 70% de área permeável e cobertura vegetal. Canteiros, rotatórias e arborização de ruas não estão inclusos no sistema de áreas verdes, pois são considerados “verde de acompanhamento viário”, como parte dos espaços de integração urbana (Buccheri Filho e Nucci, 2006).

Para Pivetta e Silva Filho (2002), a arborização de ruas e avenidas é um componente muito importante, porém, pouco reconhecido. É necessária sua inclusão no plano de desenvolvimento e expansão das cidades.

As árvores nas ruas e praças melhoram o microclima e o conforto térmico, através da redução da incidência direta da radiação solar e consequente redução da temperatura (Spangenberg et al., 2008; Herrmann, 2008; Barbosa, 2005; Shashua-Bar e Hoffman, 2004; Gómez et al., 2004; Gomes e Amorim, 2003; Dimoudi e Nikolopoulou, 2003; Papadakis; Tsamis; Kyritsis, 2001; Shashua-Bar e Hoffman, 2000; Taha, 1997). Para cumprir esta função, árvores com copas mais densas funcionam melhor, assim como grupos de árvores em comparação a indivíduos isolados ou em linha (Spangenberg et al., 2008).

A presença de sombreamento nas ruas, devido às árvores, afeta o padrão de deslocamento do ar e a ventilação (Shashua-Bar e Hoffman, 2003). A evapotranspiração incrementa a umidade atmosférica (Herrmann, 2008; Gomes e Amorim, 2003). Picot (2004) argumenta que a vegetação é uma ferramenta realmente válida para o controle do microclima em ambientes externos.

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A menor temperatura das construções contribui para redução dos gastos com refrigeração e ventilação (Spangenberg et al., 2008; Velasco, 2007; Shashua-Bar e Hoffman, 2004; Jensen; Boulton; Harper, 2003; Simpson, 2002; Papadakis; Tsamis; Kyritsis, 2001). Nos EUA, Akbari, Pomerantz e Taha (2001) estimaram em aproximadamente 20% a redução nacional no consumo de energia para refrigeração caso fossem implantadas, em larga-escala, medidas mitigadoras de ilhas-de-calor, como plantio de árvores e o incremento do albedo de telhados e pavimentos.

Isto, conseqüentemente, reduz a emissão de carbono e outros poluentes (Donovan e Butry, 2009; Papadakis; Tsamis; Kyritsis, 2001; Akbari; Pomerantz; Taha, 2001). O resfriamento do ar pelas árvores diminui a produção fotoquímica de ozônio, além de adsorver poluentes e material particulado (Haney et al., 1997).

As árvores também contribuem diretamente para o sequestro do carbono atmosférico (Laera, 2006). Segundo Nowak et al. (2002), a redução da concentração atmosférica de dióxido de carbono, pela floresta urbana, pode ser maximizada, principalmente, com a escolha de espécies de vida-longa, crescimento rápido, que exijam baixa manutenção e com um manejo que aumente a sobrevivência e longevidade das árvores, com reduzido uso de combustíveis fósseis.

As árvores controlam e previnem o desencadeamento de processos do meio físico, como a erosão, e impactos ocasionados por processos antrópicos (De Angelis Neto et al., 2006). Nas ruas, os indivíduos arbóreos interceptam a água da chuva, amenizando o escoamento que causa alagamentos (Silva, 2008).

A vegetação ao longo das estradas traz maior conforto visual e redução de elementos que possam distrair os motoristas (Wolf, 2003). A sombra das árvores contribui para a melhor perfomance do pavimento das ruas, reduzindo os custos de manutenção (McPherson e Muchnick, 2005).

Vale enfatizar que as áreas verdes interferem nos preços do mercado imobiliário, valorizando terrenos (Baumgarten, 2006; Wolf, 2009). Laera (2006) pondera que árvores de rua incrementam preços de imóveis.

Segundo Wolf (2009) os bens colhidos em áreas verdes podem substituir bens comercializados. A redução das enchentes e da poluição atmosférica poupa os custos de implantação de sistemas para tal. A presença de calçadas sombreadas e áreas verdes estimula as pessoas a levarem uma vida menos sedentária, o que reduz a incidência de problemas de saúde físicos e mentais.

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As árvores atendem a necessidades alimentares e não alimentares humanas (Carsan; Wesonga; Wambugu, 2009). Pivetta e Silva Filho (2002) argumentam que a questão de frutos para consumo humano é assunto polêmico, alguns acreditam estimular a depredação e outros contestam que se deve lutar pela concientização da população. Conforme a Prefeitura de São Paulo (2005) o uso de árvores com frutos comestíveis pelo homem tem que ser objeto de projeto específico e monitoramento, assim como o uso de novas espécies.

Além de todos estes benefícios proporcionados pelas árvores urbanas, Pivetta e Silva Filho (2002) citam a redução da poluição sonora, o melhor efeito estético e maior bem-estar psicológico, os quais contribuem para a melhoria da qualidade de vida e para o restabelecimento da relação com o meio natural.

Os “corredores verdes” nas cidades, a exemplo de Maringá-PR (Figura 5) contribuem para a conservação da biodiversidade (Bryant, 2003; Savard; Clergeau; Mennechez, 2000). Plantas raras podem ser cultivadas para manutenção de um banco genético (Savard; Clergeau; Mennechez, 2000). Rocha e Barbedo (2008) destacam a importância da conservação ex situ do Pau-Brasil, espécie em perigo de extinção. Em estudo destes autores, foram mapeados 67 indivíduos em Recife - PE, 35 em São Paulo - SP e 123 no Rio de Janeiro - RJ.

As árvores nas vias garantem abrigo e diversificação de fontes de alimentação para a fauna (Brun; Link; Brun, 2007; Silva et al., 2005; Savard; Clergeau; Mennechez, 2000). O uso de essências nativas, além de garantir a manutenção da avifauna, habituada aos seus frutos, possibilita o resgate de espécies próximas à extinção (Lorenzi, 2002).

A cobertura arbórea nativa nas cidades serve de ponto de parada para aves migratórias (Pennington; Hansel; Blair, 2008). Mendonça e dos Anjos (2006) ao estudarem o comportamento alimentar de beija-flores e passeriformes em flores de Erythrina speciosa Andrews (Fabaceae) em área urbana, verificaram que esta espécie é um importante recurso durante o inverno. Em outro estudo destes autores, foram encontradas 10 espécies de beija-flores em área urbana do sul do País, uma riqueza moderada (Mendonça e dos Anjos, 2005).

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Figura 5 – Aspecto da arborização de Maringá, PR, exemplo às cidades brasileiras.

(Fonte: Junior e Lima, 2007).

Apesar de tantos benefícios, a arborização viária é negligenciada pelo poder público. A legislação federal não contempla a arborização de ruas (Brun et al., 2008) e, quando presentes, as leis são em alguns casos descumpridas (Costa e Ferreira, 2009; Silva et al., 2008; Silva et al., 2002).

Em Salvador as poucas Leis e Decretos que tratam de árvores urbanas são:

1. Lei nº 5.493 de 19 de Janeiro de 1999, que dispõe sobre a conservação, preservação, poda, agressão, erradicação e a reposição de árvores no Município e dá outras providências.

2. Lei nº 4.456 de 09 de Dezembro de 1991, que obriga o plantio de árvores frutíferas nas avenidas de vale, bem como nas avenidas que disponham de áreas marginais favoráveis para tal.

3. Decreto nº 4.756 de 13 de Março de 1975, que delimita áreas incorporadas ao Sistema de Áreas Verdes do Município, entre elas o conjunto de árvores do Vale do Canela, Vale das Dorotéias, Convento de São Francisco, Monte Serrat entre outros;

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4. Decreto nº 5.674 de 19 de Junho de 1979, que declara imune de corte e de preservação permanente seis árvores situadas na Praça 2 de Julho.

5. Decreto nº 6.634 de 04 de Agosto de 1982, que declara tombado o conjunto de edificações, árvores e paisagem do Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho.

6. Decreto nº 7.374 de 28 de Agosto de 1985, que reclassifica, como área arborizada, a área não edificável nº 30, discriminada e delimitada conforme os Decretos nº 4.524/73 e 4.756/75 e integrante do Sistema de Áreas Verdes do Município.

7. Decreto nº 8.731 de 20 de Setembro de 1990, declara imune de corte e de preservação permanente duas árvores situadas na atual Escola de Belas Artes-UFBA.

Não existe um Plano Diretor de Arborização para a capital baiana e escassos são os estudos de suas árvores. Oliveira et al. (2007) investigaram algumas espécies vegetais nativas, com potencial paisagístico, para arborização de áreas verdes de Salvador. Outro estudo foi realizado por Oliveira (2007) em relação às pragas e fungos patogênicos associados à vegetação da cidade.

Carvalho, Roque e Guedes (2007) realizaram um levantamento da arborização de espaços livres dos campi da Universidade Federal da Bahia, em Salvador. Maliarenko e Brito (1996) estudaram uma proposta de intervenção para o trecho Pituba – Costa Azul, da Orla de Salvador, utilizando-se de espécies nativas de restinga.

Problemas na arborização urbana

Salvador não é uma exceção, outras cidades brasileiras também não possuem um Plano Diretor de Arborização (Almeida, 2009; Costa e Ferreira, 2009; Caznok, 2008; Colleto et al., 2008; Sampaio e De Angelis, 2008; Roppa et al., 2007; Bortoleto, 2004; Monico, 2001). É notório que algumas cidades não possuem inventário, ou apresentem carência de trabalhos científicos sobre a arborização (Monico, 2001).

Nos casos em que não foi possível o planejamento, é importante analisar a arborização já existente por meio de inventários quali-quantitativos que permitem

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conhecer as condições da arborização e de plantio. Estes inventários podem ser totais ou parciais, aleatórios ou sistemáticos, a depender do porte e das características próprias da cidade. O inventário é o passo inicial para o replanejamento da arborização por meio de um Plano Diretor (Pivetta e Silva Filho, 2002).

A falta de planejamento e manutenção é um problema recorrente e muito grave (Lira Filho et al., 2009; Moura e Santos, 2009; Teixeira; Santos; Balest, 2009; Almeida, 2009; Rodolfo Júnior et al., 2008; Sampaio e De Angelis, 2008; Silva Filho et al., 2008; Roppa et al., 2007; Bortoleto; Silva Filho; Lima, 2006; Monico, 2001). Conforme Pivetta e Silva Filho (2002), “A arborização bem planejada é muito importante independentemente do porte da cidade, pois, é muito mais fácil implantar quando se tem um planejamento, caso contrário, passa a ter um caráter de remediação, à medida que tenta se encaixar dentro das condições já existentes e solucionar problemas de toda ordem”.

Monico (2001) encontrou, além da desarticulação entre os setores da prefeitura responsáveis pela arborização urbana, falta de comprometimento e afeto dos técnicos com as árvores, que são tratadas como “postes”, enxergando a questão apenas tecnicamente, sem fundamentação filosófica.

Plantios voluntários são realizados pela população, contudo ocorrem sem respeitar critérios técnicos (Teixeira; Santos; Balest, 2009; Colleto et al., 2008; Pires et al., 2007; Bortoleto, 2004; Meneses et al., 2003). Cabe destacar que, na maioria das vezes, estes optam por árvores frutíferas (Almeida; Zem; Biondi, 2008; Rocha; Leles; Oliveira Neto, 2004).

Conforme Pivetta e Silva Filho (2002), não se deve arborizar ruas estreitas (<7m de largura) e é importante considerar para escolha do porte das árvores, a largura das calçadas e o recuo das edificações (Tabela 3). Canteiros centrais obedecem aos mesmos critérios, sendo que, no caso destes apresentarem largura menor que 1,5 m recomenda-se a utilização de arbustos e palmeiras.

Tabela 3 - Indicação do porte das árvores baseado na largura das ruas e calçadas (Miranda apud

Pivetta e Silva Filho, 2002).

Largura da rua Largura da calçada Recuo das edificações (4 m) Porte de árvore

Rua estreita < 3 m sem recuo -

(< 7 m) com recuo pequeno

Rua larga < 3 m sem recuo pequeno

(> 7 m) com recuo médio

> 3 m sem recuo médio

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A distância recomendada entre as árvores e outros elementos urbanos encontra-se abaixo (Tabela 4).

Tabela 4 - Afastamentos mínimos necessários entre as árvores e outros elementos do

meio urbano (Pivetta e Silva Filho, 2002).

Elementos Distância (m)

Caixas-de-inspeção e bocas-de-lobo 2,0

Cruzamentos sinalizados por semáforos ou que possam vir a ser 10,0

Encanamentos de água e esgoto e fiação subterrânea 1,0 – 2,0

Entrada de veículos 2,0

Esquinas 5,0 – 7,0

Hidrantes 3,0

Meio-fio 0,5

Pontos de ônibus 1,0 – 1,5

Portas e portões de entrada 0,5 – 1,0

Postes de iluminação pública e transformadores 4,0

A distância entre árvores varia conforme o porte. Pivetta e Silva Filho (2002) indicam o seguinte espaçamento:

 Porte Pequeno, 5 – 6 m.  Porte Médio, 7 – 10 m.  Porte Grande, 10 – 15 m.

Os canteiros devem ter no mínimo um metro quadrado (Pivetta e Silva Filho, 2002). O Manual Técnico de Arborização Urbana (Prefeitura de São Paulo, 2005), recomenda, para árvores de copa pequena, uma área permeável de 2 m² e para árvores de copa grande, uma área de 3 m². O espaço livre para o trânsito de pedestres tem que ser de, no mínimo, 1,20 m.

A ausência destes conhecimentos técnicos para a implantação da arborização e a falta de planejamento traz muitos problemas. Espécies de grande porte são plantadas em locais inadequados, como em canteiros pequenos (Volpe-Filik, 2009; Araújo et al., 2009; Minhoto; Monteiro; Fisch, 2009; Silva et al., 2008; Cadorin et al., 2008; Roppa et al., 2007; Aguirre Júnior; Volpe-Filik; Lima, 2007; Faria; Monteiro; Fisch, 2007; Volpe-Filik; Silva; Lima, 2007; Bortoleto; Silva Filho; Lima, 2006; Tudini, 2006; Silva et al., 2002), ou em locais de conflito com a infra-estrutura urbana, como redes elétricas (Almeida, 2009; Marek, 2008; Rodolfo Júnior et al., 2008; Cadorin et al., 2008; Melo. Lira Filho; Rodolfo Júnior, 2007; Silva et al., 2002).

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Recomenda-se que a rede de energia elétrica aérea seja implantada nas calçadas norte e oeste, e sob esta, árvores de pequeno porte. As árvores de médio porte ficariam nas calçadas leste e sul. No caso de árvores com porte inadequado, sob fiação, a melhor convivência destas pode ser obtida por meio de soluções de engenharia como redes protegidas, isoladas e compactas (Pivetta e Silva Filho, 2002).

O conflito supracitado é o responsável pela necessidade de podas. Mas em muitas cidades não existe um programa que defina critérios e técnicas, orientando como proceder esta prática, o que explica a ausência de manutenção e a ocorrência de podas mal-executadas, drásticas e sem necessidade (Volpe-Filik, 2009; Araújo et al., 2009; Minhoto; Monteiro; Fisch, 2009; Hasse; Shinosaka; Silva, 2008; Cadorin et al., 2008; Faria; Monteiro; Fisch, 2007; Teixeira e Santos, 2007; Volpe-Filik; Silva; Lima, 2007; Bortoleto; Silva Filho; Lima, 2006; Sampaio, 2006; Menegheti, 2003; Andrade, 2002;). Algumas espécies, como palmeiras, não devem ser plantadas sob fiação, pois não aceitam podas (Pivetta e Silva Filho, 2002).

Segundo Lorenzi et al. (2003), as árvores devem crescer livremente, na sua forma original, e as podas só devem ser executadas para eliminar infestações por ervas-de-passarinho ou conter o crescimento em direções indesejadas. Sugere-se retirar no máximo 70% da copa e tentar manter o seu formato original (Pivetta e Silva Filho, 2002).

Pivetta e Silva Filho (2002) destacam os quatro tipos de poda básicos na arborização urbana:

 Poda de formação, onde os ramos laterais abaixo de 1,8 m são retirados para não prejudicar o trânsito de pedestres e veículos.

 Poda de limpeza, onde se eliminam ramos velhos, doentes, infestados, danificados ou em excesso.

 Poda de contenção, para adequação da árvore (copa) ao espaço físico, após plantio inadequado.

 Poda emergencial, para retirar partes da planta que ameaçam a segurança da população, de edificações e redes aéreas.

A baixa sanidade de árvores urbanas é comum, principalmente em virtude de podas executadas incorretamente, que contribuem para a entrada de patógenos e ocorrência de pragas (Rodolfo Júnior et al., 2008; Sampaio e De Angelis, 2008).

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morte de plantas (Oliveira, 2007), infestações de ácaros, cochonilhas, coleobrocas, psilídeos, pulgões, cupins, tripes (Sampaio e De Angelis, 2008; Duarte et al., 2008; Oliveira, 2007; Sampaio, 2006; Bortoleto; Silva Filho; Lima, 2006; Tudini, 2006; Amaral, 2002;) e de plantas parasitas como ervas-de-passarinho (Andrade, 2002).

Duarte et al. (2008) encontraram, com maior frequência, cupins em árvores mais fragilizadas, aquelas mais velhas, com injúrias mecânicas, problemas fitossanitários graves ou mais freqüentes na comunidade.

As condições no meio urbano, como compactação do solo e poluição do ar, são muito adversas para as árvores (Amaral, 2002). Os processos de movimentação de terra para urbanização resultam em solos com baixa fertilidade, compactados e muitas vezes com resíduos de construção no subsolo (Pivetta e Silva Filho, 2002).

A compactação do solo é necessária para a pavimentação e fundação dos prédios, mas esta prejudica o desenvolvimento das plantas. Aliado a isto, o pavimento das ruas e calçadas impede a penetração de água e ar (Pivetta e Silva Filho, 2002).

A nutrição e o rendimento vegetal dependem do desenvolvimento radicular, intimamente associado à bioestrutura grumosa do solo, à fácil disponibilidade de água, ar e nutrientes e à ausência de compostos tóxicos (Primavesi, 2002).

Primavesi (2002) ressalta a importância da matéria orgânica no solo para a sanidade vegetal. Em suas palavras, quando adequadamente manejada esta ajuda a “diversificar a vida do solo, produzir substâncias fungistáticas como fenóis e permitir a produção de antibióticos por bactérias”. Pivetta e Silva Filho (2002) não recomendam o controle químico de pragas e doenças no ambiente urbano.

Outro problema relacionado à arborização viária é a escolha das espécies. Pivetta e Silva Filho (2002) elencam as seguintes condições para que uma árvore possa ser utilizada na arborização urbana, sem trazer inconvenientes:

a. resistência a pragas e doenças;

b. velocidade de desenvolvimento média para rápida; c. não produzir frutos grandes;

d. ter lenho resistente; e. ser livres de espinhos;

f. não conter princípios tóxicos ou alergênicos; g. apresentar bom efeito estético;

h. flores, de preferência, de tamanho pequeno, sem odores fortes. i. ser nativa ou, se exótica, deve ser adaptada;

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j. ter folhagem de renovação e tamanho favoráveis. k. ter copa com forma e tamanho adequados.

l. ter sistema radicular profundo.

Os organismos, de determinada espécie, são especializados em intervalos estreitos de condições ambientais e suas adaptações morfológicas e fisiológicas estão associadas aos mecanismos pelos quais estes interagem com o meio físico. A distribuição geográfica de plantas é globalmente determinada pelo clima e localmente associada aos solos e topografia (Ricklefs, 2003).

No entanto, o homem introduz espécies em áreas fora de sua distribuição original, para os mais diversos fins: ornamental, alimento, madeira, princípios medicinais, entre outros. Estas se desenvolvem melhor quando cultivadas em condições próximas as da região de origem (Lorenzi et al., 2003).

Lorenzi et al. (2003) define como árvores exóticas, “aquelas oriundas de outros países ou continentes que não pertencem à flora do País, não sendo, portanto nativas ou indígenas”.

A vegetação nativa de nosso país sofreu milhares de anos de seleção natural, sendo, assim, resistentes e adaptadas ao meio (Lorenzi, 2002). No entanto, as espécies exóticas representam cerca de 80% das espécies usadas na arborização urbana (Lorenzi et al., 2003) e são as mais abundantes em muitas cidades (Almeida, 2009; Lira Filho et al., 2009; Oliveira et al., 2009; Silva et al., 2008; Caznok, 2008; Silva et al., 2008; Cadorin et al., 2008; Biondi e Leal, 2008; Blum; Borgo; Sampaio, 2008; Colleto et al., 2008; Silva et al., 2007; Silva et al., 2007; Bortoleto et al., 2007; Silva; Meunier; Freitas, 2007; Teixeira e Santos, 2007; Bortoleto, 2004; Dantas e Sousa, 2004; Andrade, 2002).

Em muitos casos são raras as espécies nativas do bioma local (Pires et al., 2007; Silva; Meunier; Freitas, 2007; Harder, 2002). Isernhagen, Bourlegat e Carboni (2009) comentam a importância de se especificar em qual formação fitogeográfica a espécie é nativa, pois o Brasil é muito rico em dinstintas formações como o Cerrado, a Caatinga e a Floresta Amazônica.

Faltam estudos sobre a utilização de espécies nativas (Isernhagen; Bourlegat; Carboni, 2009; Tomasini e Sattler, 2006; Machado et al., 2006; Lorenzi, 2002;). Apesar do Brasil possuir a flora arbórea mais diversificada do mundo, espécies de grande valor estão sendo perdidas, junto com a fauna dependente destas (Lorenzi, 2002).

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Alvey (2006) ressalta a necessidade de se promover a diversidade em áreas urbanas, tendo em vista o potencial destas em sustentar uma importante biodiversidade. O emprego de árvores exóticas na arborização de ruas e praças do Brasil foi responsável pela quase extinção de muitas espécies de aves que não se adaptaram aos frutos exóticos (Lorenzi, 2002).

A enorme diversidade de plantas nativas, com frutificação espalhada ao longo do ano, garante alimento de forma contínua e equilibrada à fauna (Lorenzi, 2002). Em Recife, Silva et al. (2005) encontraram uma frequência muito baixa de árvores que ofereciam frutos a ornitofauna.

Desde o começo da nossa colonização, espécies exóticas foram trazidas para arborização, mas as árvores nativas também se destacaram na história, como o próprio nome do Brasil e o de cidades como Juazeiro (BA), Quixabeira (PE) e Cajueiro (AL) (Lorenzi, 2002). Contudo, muitas cidades não têm identidade arbórea (Silva, 2008).

Também, são utilizadas muitas espécies invasoras (Blum; Borgo; Sampaio, 2008; Oliveira et al., 2009; Silva et al., 2008; Biondi e Leal, 2008; Silva et al., 2007; Biondi e Pedrosa-Macedo, 2008). Segundo Ziller (2001), o processo de contaminação biológica de ecossistemas por plantas exóticas afeta o funcionamento natural destes, prejudica as plantas nativas e representa hoje a segunda maior ameaça à biodiversidade, perdendo apenas para a destruição de habitats.

Outro erro comum é o uso de espécies tóxicas, que oferecem risco à população. Um exemplo é a espirradeira (Nerium oleander), cujas partes são todas tóxicas (Biondi e Leal, 2008; Cavalcanti et al., 2003; Corrêa, 2006). De acordo com o SINITOX (2009), 60% das intoxicações por plantas no país ocorrem com crianças pequenas e 80% dos casos são acidentais.

Espécies não-recomendadas para arborização de ruas, pelos mais diversos motivos, também são comumente usadas, a exemplo da amendoeira (Terminalia catappa), sombreiro (Clitoria fairchildiana), cássia-siamesa (Senna siamea), figueira-benjamina (Ficus figueira-benjamina) e flamboyant (Delonix regia), por destruírem calçadas (Araújo et al., 2009; Rocha; Leles; Oliveira Neto, 2004; Lorenzi et al., 2003; Menegheti, 2003), o limoeiro (Citrus limon), por apresentar espinhos (Corrêa, 2006), o eucalipto (Eucalyptus globulus) e o salgueiro (Salix babylonica), por apresentarem riscos aos encanamentos, em virtude de suas raízes muito hidrófilas (Corrêa, 2006).

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Segundo Lesser (2001) muitos fatores contribuem para o enraizamento na superfície, responsável pelos danos às calçadas, estes são: tendência natural da espécie; irrigação superficial; canteiros pequenos; e excessiva compactação do solo.

Por esses motivos, é muito importante a orientação sobre espécies ideais (Moura e Santos, 2009). Contudo, além do uso de espécies inadequadas, em muitos casos ocorre baixa diversidade ou dominância de poucas espécies (Almeida, 2009; Araújo et al., 2009; Sampaio e De Angelis, 2008; Cadorin et al., 2008; Rodolfo Júnior et al., 2008; Silva et al., 2008; Rossatto; Tsuboy; Frei, 2008; Colleto et al., 2008; Melo; Lira Filho; Rodolfo Júnior, 2007; Lima Neto et al., 2007; Sampaio, 2006; Tudini, 2006; Menegheti, 2003; Andrade, 2002; Amaral, 2002).

Pivetta e Silva Filho (2002) citam a importância da diversificação de espécies para reduzir a monotonia da malha urbana e evitar problemas de pragas e doenças. Estes recomendam que a frequência de uma espécie não ultrapasse 10 ou 15% da população total. Lorenzi (2002) ressalta que plantios homogêneos são sistemas instáveis e vulneráveis e sua manutenção é muito mais complicada que a de bosques heterogêneos de árvores nativas.

Em virtude da baixa diversidade animais generalistas são beneficiados, com prejuízo para espécies de hábitos específicos (Brun; Link; Brun, 2007; Mendonça e dos Anjos, 2005).

De acordo com o USDA Forest Service (2004), árvores de grande porte trazem muito mais benefícios que árvores de pequeno porte, pois proporcionam maior sombreamento, maior redução da poluição atmosférica e maior controle das águas pluviais.

Apesar do uso de árvores ser mais vantajoso em termos financeiros, estéticos, climáticos, funcionais e de segurança pública que o de arbustos (Junior e Lima, 2007), um problema recorrente é a priorização de espécies arbustivas (Bortoleto et al., 2007; Aguirre Júnior; Volpe-Filik; Lima, 2007; Bortoleto, 2004).

Arbustos em passeios podem prejudicar o trânsito de pedestres, assim como árvores com a primeira inserção de galhos abaixo da altura ideal (Almeida, 2009; Silva et al., 2008; Silva et al., 2008). Além destes, as espécies utilizadas como forração são, em alguns casos, também inadequadas (Bobrowski; Biondi; Baggenstoss, 2009).

Todos esses problemas contribuem para uma manifestação negativa dos habitantes em relação à arborização viária (Silva et al., 2007; Silva, 2005). Lorenzo et al. (2000) encontraram, em Louisiana (EUA), a disposição de pagar pela proteção e

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preservação da floresta urbana positivamente associada com a percepção dos benefícios e negativamente associada com os transtornos. Mais de 80% dos entrevistados estavam dispostos a pagar por este serviço. Mas, no Brasil, são raros os projetos de educação ambiental que discutem este tema (Monico, 2001; Meneses et al., 2003).

Fraser e Kenney (2000) ressaltam a importância de se considerar a diversidade cultural da população no planejamento. As diferentes percepções da vegetação geram uma maior complexidade à adoção de estratégias para a floresta urbana.

Ecologia

A maior parte dos problemas vistos acima pode ser associada à inobservância de processos e princípios básicos da Ecologia.

Segundo Ricklefs (2003), Ecologia é a ciência que estuda como os organismos interagem entre si e com o meio físico, o prefixo “eco”, derivado do grego oikos, significa “casa”. Para Odum (1988), Ecologia é o estudo do “lugar onde se vive”, incluindo todos os organismos presentes e os processos que o tornam habitável.

Alguns conceitos-chave para se discutir ecologia são: população, comunidade e ecossistema. Estes são diferentes níveis bióticos de organização e à medida que seus componentes interagem para produzir sistemas maiores, emergem propriedades que não existiam em níveis inferiores, ou seja, o todo é mais que a soma das partes (Odum, 1988).

Segundo Ricklefs (2003), uma população é constituída de organismos de uma mesma espécie que vivem numa determinada área. Odum (1988) define como “qualquer grupo de organismos da mesma espécie que ocupa um espaço determinado e é parte funcional de uma comunidade biótica

As populações, diferente dos organismos, são potencialmente imortais. Seu comportamento é dinâmico, devido aos nascimentos, mortes e movimentos de indivíduos, processos estes influenciados pela interação entre os próprios organismos e com o ambiente (Ricklefs, 2003). Odum (1988) refere-se a quatro atributos básicos de uma população: densidade, natalidade, mortalidade e distribuição etária.

Todas as populações que vivem em uma determinada área compõem a comunidade. Esta é, portanto, um nível biótico maior que a população. (Odum, 1988).

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Ricklefs (2003) chama de comunidade ecológica as “populações de diferentes tipos que vivem no mesmo lugar”, as quais interagem de muitas formas.

A estrutura de uma comunidade pode ser medida através do número de espécies (riqueza) e pelos índices de diversidade, que pesam a contribuição de cada espécie por meio da abundância relativa, ou seja, sua proporção do número total de indivíduos na comunidade. Dois índices bastante usados são o de Simpson e o de Shannon-Wiener (Ricklefs, 2003). Para Silva Filho e Bortoleto (2005) estes indicadores são úteis nas decisões de manejo da arborização urbana.

O conjunto de organismos e seus ambientes físico-químicos formam o ecossistema (Ricklefs, 2003). Para Odum (1988), este é “a unidade funcional básica na Ecologia, pois inclui tanto os organismos quanto o ambiente abiótico”.

É um sistema aberto, com entradas e saídas, cuja interação de três componentes básicos garante sua funcionalidade: a comunidade, o fluxo de energia e a ciclagem de materiais (Odum, 1988).

De acordo com Savard, Clergeau e Mennechez (2000), princípios usados para o manejo e incremento da biodiversidade podem ser aplicados em ecossistemas urbanos. Mas, é essencial a incorporação do componente sociológico.

Os ambientes humanos também são sistemas ecológicos, mas o homem consome energia e recursos e produz rejeitos além das suas necessidades biológicas. Os impactos principais disto são a interrupção de processos ecológicos, com conseqüente exterminação de espécies, e a deterioração dos próprios ambientes humanos, pela forte pressão sobre os sistemas ecológicos que os sustentam (Ricklefs, 2003).

As cidades, principalmente as industrializadas, são ecossistemas incompletos que dependem de amplas áreas externas para obter energia, água, alimentos e outros materiais. Estas apresentam um metabolismo bastante intenso por unidade de área, o que exige um grande influxo de energia e materiais e resulta em ambientes de saída carregados de resíduos tóxicos (Odum, 1988).

Ricklefs (2003) ressalta o impacto da população humana na Terra. Segundo ele, cada indivíduo usa tanta energia e tantos recursos que a maior parte da superfície terrestre e dos oceanos está sobre controle direto da humanidade.

Odum (1988) defende que o reconhecimento da base ecológica do conflito entre a meta humana e a tendência de desenvolvimento de sistemas naturais é o primeiro passo para a construção de políticas racionais de gerenciamento ambiental.

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Permacultura

O termo “Permacultura” foi originalmente proposto por Bill Mollison e David Holmgreen na década de 70 (Morrow, 1993). É definido por Mollison e Slay (1998) como “um sistema de design para a criação de ambientes humanos sustentáveis”.

Segundo Morrow (1993), este integra a Ecologia na criação de comunidades humanas, projetando assim, ambientes que possam prover as necessidades básicas, bem como as infra-estruturas que as apóiam.

Para Mollison e Slay (1998) estes sistemas ecologicamente corretos e economicamente viáveis, são capazes de suprir suas necessidades, sem exploração e poluição, garantindo, portanto, a sustentabilidade a longo prazo.

O cerne da Permacultura é o design, ou conexão entre os elementos. Baseia-se na observação de sistemas naturais, na sabedoria dos sistemas produtivos tradicionais e no conhecimento científico e tecnológico moderno, para criação de um sistema de apoio à vida por meio das qualidades inerentes dos organismos e das características naturais dos terrenos e construções, ou seja, trabalhando com a natureza e não contra esta (Mollison e Slay, 1998).

O design permacultural sustenta-se numa ética de cuidado com a Terra, ou seja, cuidado com todas as coisas vivas e não-vivas. Reconhece o valor de tudo que é vivo, mesmo que não haja valor comercial. Esta ética básica implica no cuidado com as pessoas e no cuidado com a distribuição do excedente de tempo, dinheiro e materiais para alcançar esses fins (Mollison e Slay, 1998).

Dentro desta ética, os projetos permaculturais, em qualquer clima, condição cultural e escala, podem adotar leis e princípios básicos, em conjunto com práticas e técnicas locais (Mollison e Slay, 1998). Estes autores destacam os seguintes princípios:

 cada elemento é posicionado em relação a outro de forma que se auxiliem mutuamente (Localização relativa);

 cada elemento executa muitas funções;

 cada função importante é apoiada por muitos elementos;

 planejamento eficiente do uso de energia para a casa e os assentamentos (zonas e setores);

 preponderância do uso de recursos biológicos sobre o uso de combustíveis fósseis;

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 reciclagem local de energias (humanas e combustíveis);

 utilização e aceleração da sucessão natural de plantas visando o estabelecimento de sítios e solos favoráveis;

 policultura e diversidade de espécies, objetivando um sistema produtivo e interativo;

 utilização de bordas e padrões naturais para um melhor efeito.

Para Morrow (1993), o planejamento de ecossistemas produtivos e que exijam o mínimo de manutenção deve levar em conta processos como: fluxos de energia, reciclagem de matéria, teias alimentares, sucessão ecológica, empilhamento de espécies no espaço e fatores limitantes do clima e do solo.

Na região metropolitana de Porto Alegre, o Centro Experimental de Tecnologias Habitacionais Sustentáveis (CETHS), traz uma proposta de assentamento urbano para populações de baixa renda, que leva em conta princípios da Permacultura (Tomasini e Sattler, 2006).

No CETHS, além das estratégias como captação de águas pluviais, tratamento e reciclagem de resíduos, uso de materiais de construção e fontes de energia alternativa, o projeto busca a integração do paisagismo à produção local de alimentos, agregando, assim, mais funções à vegetação. É proposto o uso de espécies de importância para o ecossistema local ou que produzam bens para o homem e que sirvam de instrumento de educação ambiental (Tomasini e Sattler, 2006). Para Mollison e Slay (1998) tornou-se símbolo de status as fachadas não produtivas, com gramados e arbustos sem função.

A produção de alimentos, em virtude da necessidade de espaço, tem sido excluída dos centros urbanos, para a zona rural distante. As cidades se tornaram incapazes de suportarem suas necessidades de alimento e energia, pois consomem além do que podem produzir (Mollison e Slay, 1998).

Em pesquisa com a população do CETHS, constatou-se a convergência entre a busca da sustentabilidade e o uso de espécies nativas na arborização urbana, que além de incrementar a biodiversidade pode representar importante fonte de recursos (Tomasini e Sattler, 2006).

Segundo Drescher, Jacob e Amend (2009), a produção de alimentos para as populações urbanas pode se dar na própria cidade, através de atividades como horticultura, criação de animais, coleta, silvicultura, entre outras.

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Árvores podem ser plantadas em pomares públicos para a produção de frutas, castanhas, sementes ou óleo. Mas deve-se adotar uma visão de longo-prazo, com o planejamento da futura retirada de seus produtos e das próprias árvores (Morrow, 1993).

Nas palavras de Mougeot (2009) “a característica principal da agricultura urbana, que a distingue decisivamente da agricultura rural, é sua integração no sistema econômico e ecológico urbano” ou ecossistema urbano.

Altieri (2004) traz o conceito de “agroecossistema” e ressalta que a produção sustentável deste depende do equilíbrio entre plantas, solo, luz solar, água e todos os organismos vivos coexistentes. A Agroecologia estuda os agroecossistemas, numa visão multidimensional.

Agroecologia

Segundo Altieri (2004), “a agroecologia fornece uma estrutura metodológica de trabalho para a compreensão mais profunda tanto da natureza dos agroecossistemas como dos princípios segundo os quais eles funcionam. Trata-se de uma nova abordagem que integra os princípios agronômicos, ecológicos e socioeconômicos à compreensão e avaliação do efeito das tecnologias sobre os sistemas agrícolas e a sociedade como um todo”.

Caporal, Costabeber e Paulus (2006) abordam a Agroecologia como “uma ciência que pretende contribuir para o manejo e desenho de agroecossistemas sustentáveis, em perspectiva de análise multidimensional (econômica, social, ambiental, cultural, política e ética). Entendida a partir de seu enfoque teórico e metodológico próprio e com a contribuição de diversas disciplinas científicas, a ciência Agroecológica passa a constituir uma matriz disciplinar integradora de saberes, conhecimentos e experiências de distintos atores sociais, dando suporte à emergência de um novo paradigma de desenvolvimento rural”.

Segundo Petersen (2009), a agroecologia é “um enfoque científico que fornece as diretrizes conceituais e metodológicas para a orientação de processos voltados à refundação da agricultura na Natureza por meio da construção de analogias estruturais e funcionais entre os ecossistemas naturais e os agroecossistemas”.

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Mas a sustentabilidade só é possível com a preservação da diversidade cultural que mantém as agriculturas locais. Dentro de uma organização social que proteja os recursos naturais e zele pela harmonia entre sociedade, agroecossistemas e ambiente. A participação da comunidade deve ser a força geradora do desenvolvimento (Altieri, 2004).

Portanto, considerando-se a importância da Ecologia e da Permacultura na construção de uma sociedade sustentável e os benefícios proporcionados por uma arborização urbana planejada e eficiente.

Em respeito aos artigos 6º e 225º da Constituição Federal brasileira (citados na página oito); e em respeito à Lei nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006, também desta Constituição, que dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica, com destaque para os artigos 6º e 7º (na Tabela 46 dos Anexos).

Justifica-se a realização deste trabalho que tem por finalidade o estudo da arborização de Salvador, fundamentado em bases ecológicas e permaculturais.

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OBJETIVOS

Objetivo geral

Analisar a comunidade arbórea de ruas e praças em Salvador-BA, à luz da Ecologia e Permacultura, com base em inventários quantitativos da arborização.

Objetivos específicos

i. Analisar a riqueza e diversidade da comunidade arbórea.

ii. Analisar a abundância de espécies exóticas, nativas não regionais e nativas regionais.

iii. Analisar a freqüência de espécies que forneçam alimento à fauna (incluso o homem).

Referências

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