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O GÉNERO COMBRETUM NA FLORA DA GUINÉ-BISSAU

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Academic year: 2021

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O GÉNERO COMBRETUM NA FLORA DA GUINÉ-BISSAU

LuísCatarino, Eurico Sampaio Martins & Maria Adélia Diniz

Centro de Botânica - Instituto de Investigação Científica Tropical Trav. Conde da Ribeira 9, 1300-142 Lisboa

Catarino, L., Martins, E. S. & Diniz, M. A. (2000). O género Combretum na flora da Guiné-Bissau. Portugaliae Acta Biol. 19: 397-408.

O género Combretum é constituido por cerca de 250 espécies de plantas lenhosas, largamente distribuídas pelas regiões tropicais da América, África e Ásia. Objecto de alguns estudos bem elaborados, a taxonomia do género Combretum apresenta ainda dificuldades, nomeadamente quanto à caracterização de algumas espécies. Com base nos espécimes existentes no Herbário LISC, fez-se uma revisão da taxonomia e distribuição das espécies deste género no território da Guiné-Bissau. Das cerca de 50 espécies e sub-espécies referidas para a África Ocidental, 16 foram encontrados na Guiné-Bissau. Para cada um destes grupos taxonómicos é apresentada uma breve descrição, bem como referência à ecologia, eventuais utilizações pelas populações locais, nomes vernáculos e distribuição geográfica na Guiné-Bissau e países vizinhos.

Palavras chave: Combretum, Guiné-Bissau, taxonomia. Catarino, L., Martins, E. S. & Diniz, M. A. (2000). The Combretum genus in the Guinea-Bissau flora. Portugaliae Acta Biol. 19: 397-408.

The genus Combretum comprises about 250 species of woody plants, largely distributed in the tropical regions of America, Africa and Asia. Subject of some well elaborated works, the taxonomy of this genus still shows some difficulties, namely concerning the characterisation of some species. Considering the specimens at the LISC herbarium, a revision of the taxonomy and distribution of the species of this genus in the Guinea-Bissau territory is presented. From about the 50 Combretum species and sub-species referred in West Africa, 16 were found in Guinea-Bissau. For each of these taxonomical groups a brief description, as well as reference to its ecology, use by local populations, vernacular names

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and geographical distribution in Guinea-Bissau and neighbouring countries is presented.

Key words: Combretum, Guinea-Bissau, taxonomy. INTRODUÇÃO

A Guiné-Bissau

Situada na África Ocidental entre 10º 55’ e 12º 40’ de latitude Norte e 13º 40’ e 16º 45’ de longitude Oeste, a Guiné-Bissau, com uma área de 36 1 25 Km2, compreende uma parte continental e uma parte insular no Oceano Atlântico, o Arquipélago dos Bijagós. O relevo é bastante atenuado, com numerosos braços de mar reentrantes e apenas no Leste do país, na região do Boé, a altitude se aproxima dos 300 m, estando a maior parte do território abaixo da cota de 40 m.

O clima é tropical seco, com temperatura média anual entre 25 e 27ºC e baixas amplitudes térmicas. Embora seja um território de pequenas dimensões, por estar situado numa região de transição climática, apresenta uma elevada variabilidade pluviométrica anual, que no Norte e no Leste não ultrapassa os 1400 a 1600 mm, enquanto no Sul pode atingir os 2500 mm.

Figura 1 - Mapa da Guiné-Bissau mostrando as quatro regiões consideradas (Norte, Sul, Leste e Arquipélago dos Bijagós).

A vegetação reflete as condições orográficas e esta variação da pluviosidade, com manchas de floresta densa seca e sub-húmida no Sul do país, enquanto que na região Leste, interior, predominam as savanas, em geral arborizadas, em

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mosaico com florestas abertas e na região Norte as florestas abertas e os palmares. Nas margens dos estuários e braços de mar e cobrindo grande parte das ilhas desenvolve-se o mangal ou ‘tarrafe’.

TAXONOMIA

A família Combretaceae compreende 18 géneros de plantas lenhosas e está presente em todas as regiões tropicais, embora a maioria dos géneros tenha uma distribuição mais restrita e alguns ocorram exclusivamente em um continente. Segundo EXELL & STACE (1966), o facto de os pêlos compartimentados serem uma característica comum a todos os géneros de Combretaceae (à excepção de Strephonema) e ocorrendo na grande maioria das espécies, concorre para que se considere esta família como um grupo bastante natural.

O género Combretum Loefl., que engloba cerca de metade das espécies da família, é representado por árvores, arbustos, subarbustos e lianas, presentes em florestas e savanas da África, Ásia e América.

Não obstante os vários trabalhos versando o estudo do género, nomeadamente no continente africano, o seu conhecimento apresenta ainda dificuldades. Dos mais de 600 nomes específicos e subespecíficos publicados, calcula-se que haja apenas cerca de 250 espécies, das quais ocorrerão em África cerca de centena e meia. KEAY (1954) refere para a África Ocidental 57 espécies das quais 8 imperfeitamente conhecidas. Para o Senegal, país vizinho da Guiné-Bissau, BERHAUT (1974) refere 19 espécies de Combretum.

Os caracteres mais utilizados na diferenciação dos grupos taxonómicos são a forma e indumento dos receptáculos superior e inferior, forma e indumento das pétalas e das folhas, tipo de inflorescência e a forma, dimensões, cor e distribuição das escamas nos receptáculos, folhas e frutos. STACE (1965, 1980), demonstrou a particular importância da anatomia da epiderme das folhas na taxonomia da família e em particular deste género.

As espécies existentes na Guiné-Bissau possuem ritidoma dos ramos com frequência fendilhado longitudinalmente, flores geralmente tetrâmeras e frutos alados, com 4 asas, sendo maioritariamente anemocóricas.

Uma característica de quase todas as espécies do género é a elevada plasticidade fenotípica, fazendo com que em relação a muitos caracteres morfológicos haja elevada variabilidade intra-específica.

Se bem que haja maior constância nos caracteres de flores e frutos que nos caracteres vegetativos, em alguns casos torna-se difícil obter um conjunto de caracteres suficientemente consistentes para diferenciar os grupos taxonómicos infra-genéricos.

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ECOLOGIA

As espécies do género que ocorrem na Guiné-Bissau podem encontrar-se em vários tipos de formações vegetais, nomeadamente em savanas arbustivas e arborizadas, florestas abertas, palmares, florestas densas secas e sub-húmidas e florestas hidrófilas. Muitas espécies parecem estar adaptadas a uma ampla gama de factores ecológicos, nomeadamente tipos de solo, disponibilidade de água e de luz e ocorrência de fogos. Assim, em resposta à variação de condições ecológicas, alguns Combretum apresentam também elevada plasticidade fenotípica quanto ao hábito e ao porte, podendo ser encontrados como arbustos, em zonas de savana de solos secos e pobres, como pequenas árvores em locais de solo mais profundo ou como arbustos escandentes ou lianas em formações vegetais mais densas. Certas espécies encontram-se bem adaptadas à sobrevivência em locais ruderalizados ou perturbados pelo fogo e outros factores ecológicos.

MATERIAIS E MÉTODOS

Para o presente estudo foram observados todos os espécimes de Combretum colhidos no território da Guiné-Bissau existentes no Herbário do Centro de Botânica (LISC). Para o efeito procedeu-se à observação das características morfológicas com o auxílio de lupa binocular e, para a observação das características dos tricomas, nomeadamente das escamas, com o auxílio do microscópio óptico. A bibliografia mais utilizada para a identificação foi particularmente a referente ao território da Guiné-Bissau (MALATO-BELIZ, 1977), à África ocidental (BERHAUT, 1974; JONGKIND, 1999; KEAY, 1954; LIEBEN, 1983) ou ainda a de carácter monográfico (OKAFOR, 1967).

Os nomes vulgares das plantas nas línguas e dialetos das diferentes etnias da Guiné-Bissau foram obtidos quer das etiquetas de herbário quer de ESPÍRITO SANTO (1963).

A informação quanto à utilização das plantas foi obtida das etiquetas de herbário, de BURKILL (1985) e ABREU et al. (1999) e ainda por recolha dos autores no decorrer de trabalhos de campo na Guiné-Bissau.

Para a distribuição das plantas no país entendeu-se conveniente dividir o território da Guiné-Bissau em quatro regiões: Norte, Sul, Leste e Arquipélago dos Bijagós (Fig. 1). Estas regiões, a seguir indicadas respectivamente por N, S, L e B, têm por base a divisão administrativa do país. No entanto, dada a grande proximidade ao território continental e relativo afastamento das outras ilhas, julgou-se mais conveniente incluir a ilha de Bolama na região Sul não obstante esta se encontrar administrativamente ligada ao Arquipélago dos Bijagós e constituir parte integrante da Reserva da Biosfera de Bolama-Bijagós (INEP-CEATA & UICN, 1996; MARTINS, 1998).

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

O estudo de todos os espécimes de Combretum colhidos no território da Guiné-Bissau, do Herbário do Centro de Botânica (LISC), permitiu reconhecer 14 espécies, uma das quais, C. collinum , com 3 subespécies e outra, C. nigricans, com 2 variedades.

Combretum adenogonium Steud. ex A. Rich.

C. etessei Aubrév.; C. fragrans F. Hoffmann; C. ghasalense Engl. & Diels Arbusto ou árvore até 18 m de altura, de casca acinzentada, fendilhada e folhas subopostas a sub-4-nadas, até 18 x 8 cm, elípticas a lanceoladas, agudas, ligeiramente onduladas na margem, com 8-10 nervuras secundárias e nervuras terciárias bem evidentes na página inferior, glabras a pubescentes e com escamas inconspícuas. Inflorescências de racemos reunidos em panículas curtas, nos ramos lenhosos. Flores 4-meras com receptáculo superior cupuliforme, 2-3 mm longo, pubescente; pétalas amarelas, 1,5-3 mm longas, espatuladas; estames 3-6 mm longos. Fruto 4-alado com 25-35 x 20-30 mm, largamente elíptico, castanho-amarelado, subglabro a pubérulo.

Distribuição: Conhecida das regiões N, L e S. Em toda a África tropical, desde o Senegal ao Botswana. Em solos pobres e secos de savana arborizada e mato xerófilo.

Utilização: as folhas utilizam-se no combate à febre.

N. V.: bané (Fula); djambacatam (Fula e Mandinga); jambacatá (Crioulo). Combretum collinum Fresen.

Arbusto ou pequena árvore de casca avermelhada a amarelada ou acinzentada. Folhas alternas, subopostas ou subverticiladas, com pecíolo de 1-3 cm e limbo até 18 x 8 cm, ovado a elíptico, agudo a obtuso na base e no ápice, com escamas amareladas geralmente pouco densas e por vezes escondidas pelos pêlos na página inferior, quando secas frequentemente castanho-esverdeado na página superior e castanho-amarelado a castanho-escuro ou ferrugíneo na página inferior, com nervuras secundárias frequentemente rosadas na página superior. Flores em racemos axilares curtos, 4-meras, com receptáculo superior campanulado, 2,5-3,5 mm longo, glabro a tomentelo; pétalas amarelas, 1-2,5 mm longas, obtriangulares; estames 3,5-6 mm longos. Fruto 4-alado com 25-40 x 20-30 mm, largamente elíptico, lepídoto, castanho-acinzentado a castanho-escuro ou anegrado.

Esta espécie tem sido considerada por alguns autores, nomeadamente OKAFOR (1967), dividida em 11 subespécies, por vezes de problemática separação. Para a Guiné-Bissau consideramos 3 subespécies.

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subsp. binderianum (Kotschy) Okafor C. binderianum Kotschy

Folhas subglabras, esverdeadas na página superior, a inferior com escamas esbranquiçadas mais ou menos densas. Flores com 5-6 mm, com o receptáculo inferior subglabro e com escamas vermelhas. Fruto castanho-amarelado a purpúreo, com escamas avermelhadas.

Distribuição: Conhecida das regiões N e L. Na África ocidental, desde a Guiné-Bissau aos Camarões, estendendo-se até à Africa oriental. Em savana arborizada e floresta aberta seca.

Utilização: bebe-se o decocto da raiz em água fria, para combater a fraqueza do corpo.

N. V.: doque-debe (Fula).

subsp. geitonophyllum (Diels.) Okafor

C. geitonophyllum Diels.; C. lamprocarpum Diels.

Arbusto ou pequena árvore até 8 m de altura, com tronco castanho-amarelado. Folhas pubescentes a tomentosas na página inferior e com escamas esbranquiçadas mais ou menos densas. Receptáculo inferior sem escamas vermelhas. Fruto tomentelo sem escamas vermelhas.

Distribuição: Conhecida das regiões N, S, e L. Dispersa pela África Ocidental, do Senegal à Nigéria. Em savana, floresta aberta e matos xerófilos.

Utilização: para combater as dores de dentes, bochecha-se com a infusão das raízes.

N. V.: bierrequêtê (Beafada), djambacatá-fêmea (Crioulo); hiremoussôlo, madifô (Mandinga).

subsp. hypopilinum (Diels) Okafor C. hypopilinum Diels

Arbusto ou pequena árvore, até 6 m de altura. Folhas castanhas quando secas, tomentelas inferiormente mesmo na maturação, com escamas pouco visíveis. Fruto tomentelo, castanho, sem escamas vermelhas.

Distribuição: Na Guiné-Bissau conhecida apenas da região L (Boé). Dispersa pela África ocidental, desde o Sul do Senegal à República Centro-africana e para sul aos Camarões. Em solos secos e pobres das savanas arborizadas.

Combretum conchipetalum Engl. & Diels

Combretum cuspidatum sensu Keay, non Planch. ex Benth.; C. afzelii Engl. & Diels

Liana robusta, atingindo 10 m ou mais de altura. Folhas opostas com pecíolo até 1,5 cm e limbo até 27 x 10 cm, obovado, obtuso a subagudo no ápice, brilhante

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na página superior, glabro, com nervuras secundárias proeminentes, nunca com domácias. Inflorescências paniculadas geralmente terminais. Flores 4-meras, o receptáculo inferior com 1-2 mm e o superior 2 mm longo, campanulado; pétalas brancas, espatuladas. Fruto maduro até 4 x 2 cm, ovóide, com asas espessas, triangulares em secção transversal, adaptado à dispersão pela água.

Distribuição: Na Guiné-Bissau conhecida apenas da região N. Na África ocidental, desde a Guiné-Bissau ao Gabão e Zaire. Em galerias florestais com solos frescos, nas margens das linhas de água.

Combretum glutinosum Perr. ex DC.

Arbusto ou árvore até 12 m de altura, com córtice acinzentado, alaranjado em corte. Folhas subopostas a subternadas, com pecíolo até 1 cm e limbo até 18 x 8 cm, ovado a obovado, subagudo a arredondado no ápice, arredondado na base, espesso, subcoriáceo, glabro e glutinoso superiormente, pelo menos quando jovem, pubescente nas nervuras e vénulas e tomentoso nas malhas do retículo; retículo denso, muito proeminente. Flores em racemos axilares, 4-meras, com receptáculo inferior 1,5-2 mm longo, tomentoso, o superior 1,5 x 2,5 mm, largamente campanulado; pétalas amareladas, obovadas, geralmente cilioladas no ápice. Fruto até 4 cm de comprimento, elíptico, glutinoso, amarelo.

Distribuição: Conhecida das regiões N e L. Disperso pela África ocidental e central, desde o Senegal ao Sudão e para sul até aos Camarões. Em savanas arborizadas e florestas abertas.

N. V.: djambacatam (Futa-fula). Combretum grandiflorum G. Don

Arbusto escandente ou liana robusta atingindo 15-18 m de altura ou mais com ramos geralmente aculeados. Folhas com pecíolo articulado, a porção basal persistente e frequentemente tornando-se recurvo-cónica e espinhosa e limbo até 15 x 9 cm, oblongo-elíptico, agudo no ápice, arredondado a obtuso na base, papiráceo. Flores em racemos espiciformes, 4-meras, com o receptáculo superior até 22 mm longo, infundibuliforme, glabro ou pubérulo; pétalas vermelhas até 15 mm longas, espatuladas. Fruto cerca de 30 x 30 mm, largamente elipsóide, chanfrado no ápice, creme, glabro.

Distribuição: Ocorre nas regiões N, S, L e B (Ilha de Bubaque). Na África ocidental, desde a Gâmbia ao Gana. Em florestas abertas, florestas densas secas e sub-húmidas, galerias florestais e palmares.

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Combretum lecardii Engl.& Diels

Arbusto escandente ou pequena árvore até 10 m de altura. Folhas até 12 x 5 cm, oblongo-elípticas, emarginadas e mucronadas no ápice, arredondadas na base, pubescentes na página inferior e fortemente reticuladas. Flores em espigas contraídas dispostas em panícula, geralmente desenvolvendo-se antes das folhas; receptáculo superior 5-8 mm longo, visivelmente engrossado e subesférico na parte basal, subcilíndrico superiormente; pétalas vermelhas, c. 2 mm longas, obovadas, glabras. Fruto cerca de 35 x 35 mm, largamente elipsóide, com asas membranáceas, truncado no ápice, castanho claro, pubérulo.

Distribuição: Na Guiné-Bissau ocorre nas regiões N e L. Na África ocidental é conhecida do Senegal à Serra Leoa. Em savanas e florestas abertas, frequentemente em solos lateríticos e degradados.

Utilização: a infusão das folhas é usada como remédio para o catarro.

N. V.: contcham-tchalon (Fula); cundundindló (Mandinga); piroriem (Balanta). Combretum micranthum G. Don

Arbusto por vezes escandente ou pequena árvore até 7 m de altura. Folhas com pecíolos densamente cobertos de escamas vermelhas e limbo até 6 cm de comprimento, agudo a subagudo no ápice, acunheado na base, castanho-avermelhadoquando secas. Flores 4-meras, em espigas até 3 cm, solitárias, axilares, congestas, com o pedúnculo, ráquis e receptáculo densamente cobertos de escamas vermelhas; receptáculo superior até 1,5 mm longo; pétalas brancas. Fruto até 1,5 cm longo, castanho-avermelhado.

Distribuição: Frequente em todas as regiões do país. Ocorre por toda a África Ocidental, do Senegal à Nigéria. Espécie particularmente de savanas, podendo ocorrer em outros habitats, nomeadamente em florestas abertas e palmares. Utilização: a infusão das folhas é usada para o tratamento de cólicas, diarreias, hemorragias, náuseas e tosse e como antipirético. A decocção da raiz é usada para aliviar as dores de dentes. A infusão do fruto é utilizada como sucedâneo de café.

N. V.: ambate (Tanda); n’babass (Nalu); barcolomô (Mandinga); buchicabu (Felupe); buco, café, café-bravo (Crioulo); buéco (Pepel), buko (Sosso); butique (Felupe senegalês/Djola); cancalibá (Fula, Futa-fula, Mandinga); canquelibá, quenquelebá, tade (Fula); p’sangla (Balanta); upatucoma (Bijagó).

Combretum molle R. Br. ex G. Don

Arbusto ou pequena árvore até 8 m de altura, com ritidoma cinzento, fendilhado. Folhas opostas, com pecíolo até 4 mm e limbo até 17 x 8 cm, ovado ou elíptico, acuminado no ápice, arredondado a acunheado na base, glabro a pubescente e lepídoto na página superior, glabro a tomentoso sobre as nervuras e vénulas e densamente lepídoto nas malhas do retículo na página inferior. Flores em

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racemos axilares longos, agrupados em panículas folhosas, 4-meras; receptáculo superior até 3 x 3,5 mm, hemisférico-campanulado, lepídoto, pubescente a tomentoso; pétalas creme, c. 1 mm longas, obcordiformes, profundamente fendidas no ápice, ciliadas. Frutos até 25 x 20 mm, castanho-amarelados com as asas mais claras que o núcleo.

Distribuição: Conhecida apenas na região L, nas margens do rio Corubal. Ocorre em grande parte da África tropical e austral e ainda do Iémen. Em savanas e florestas abertas.

Combretum mucronatum Schumach. & Thonn. ex Schumach. Combretum smeathmannii G. Don

Arbusto de ramos patentes ou escandente ou liana atingindo por vezes 20 m de comprimento, sem escamas. Folhas opostas, com pecíolo até 8 mm de comprimento, pubescente, e limbo até 16 x 8 cm, elíptico a obovado, obtuso e bruscamente acuminado no ápice, arredondado a subcordado na base, glabro na página superior, pubescente na inferior, com as nervuras secundárias arqueadas e fazendo com a mediana ângulos inferiores a 45º e as terciárias paralelas entre si. Flores 4-meras, em grandes panículas folhosas pubescentes a tomentosas com pêlos castanho-dourados; receptáculo inferior com c. 3 mm longo, com pêlos curtos anegrados, o superior largamente cupuliforme, c. 2 mm longo; pétalas brancas, c. 2,5 mm longas, espatulado-obtriangulares. Frutos c. 15 mm longos, muito largamente elípticos, mucronados pela base persistente do estilete, com asas papiráceas, nacaradas.

Distribuição: Ocorre nas regiões N, S, L e B. Na África tropical desde a Gâmbia aos Camarões e para leste até ao Uganda. Em florestas secundárias secas ou sub-húmidas e galerias florestais.

N. V.: iári-sap-baté (Futa-fula).

Combretum nigricans Lepr. ex Guill. & Perr.

Arbustos ou pequenas árvores até 10 (15) m de altura, com ramos glabros a curtamente pubescentes. Folhas opostas, com pecíolo 5-10 mm longo e limbo até 12,0 x 5,5 cm, sempre mais de duas vezes mais longo que largo, ovado-elíptico, agudo no ápice, acunheado na base, glabro, brilhante e cinzento-azulado na página superior quando seco, glabro a densamente pubérulo na inferior sobre as nervuras; domácias axilares pubescentes geralmente presentes. Flores 4-meras em racemos axilares com 5-7 cm; receptáculo superior largamente cupuliforme, lepídoto; pétalas c. 1,5 mm longas, obovadas, densamente ciliadas. Frutos 20-30 x 15-20 mm, elipsóides, amarelados a acastanhados.

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var. elliotii (Engl. & Diels) Aubrév.

Ramos e página inferior das folhas glabros.

Distribuição: Conhecida das regiões N, S, L e B. Ocorre do Senegal ao Sudão e para sul até aos Camarões. Em savanas arborizadas e florestas secundárias mistas.

N. V.: tchelogom (Tanda); betne, bunro (Beafada), buíde, uíde (Fula); djambacatam-ô (Mandinga); pau-de-pilão (Crioulo).

var. nigricans

Ramos e página inferior das folhas densamente pubérulos.

Distribuição: Ocorre na região L. Conhecida também do Senegal e da Gâmbia. Em savanas arborizadas e florestas abertas.

Utilização: A infusão das folhas é utilizada para tratamento da tosse. N.V.: cancalibá (Mandinga).

Combretum nioroense Aubrév. ex Keay

Arbusto erecto ou frequentemente escandente, desprovido de escamas vermelhas mas com escamas brancas. Folhas até 6 cm longas, ovadas, agudas no ápice, arredondadas a acunheadas na base, de cor verde no seco. Flores em espigas densas c. 3 cm longas, com escamas brancas como o pedúnculo e ráquis; receptáculo superior até 1 mm longo, muito estreitamente cupuliforme; pétalas brancas, glabras. Fruto c. 2 cm longo, castanho-claro.

Distribuição: Ocorre na região S. Conhecido também do Mali e Senegal. Em savanas arborizadas em solos lateríticos e pedregosos.

Combretum paniculatum Vent.

Arbusto escandente ou liana, até 10 m de altura, desprovido de escamas. Folhas alternas ou subopostas com pecíolo até 3 cm, articulado, a parte inferior persistente e espinhosa, e limbo até 30 x 14 cm, ovado a obovado, arredondado a acuminado no ápice, arredondado a subcordado na base, glabro ou subglabro, com 4-6 pares de nervuras secundárias. Flores 4-meras, em panículas amplas, com o receptáculo superior cilindro-campanulado, 4-7 mm longo, pubérulo; pétalas vermelhas, com 3 mm de comprimento, ovadas, glabras. Frutos com 2-3 cm de comprimento, largamente elipsóides, amarelado-rosados, glabros, com asas muito finas.

Distribuição: Ocorre nas regiões N, S e B. Conhecido de toda a África tropical, desde o Senegal até Moçambique. Em savanas arborizadas, florestas abertas secundárias e florestas hidrófilas.

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Combretum racemosum P. Beauv.

Arbusto escandente ou liana robusta com até 12-15 de altura, desprovida de escamas. Folhas subopostas a subternadas com pecíolo até 10 mm de comprimento, articulado, a porção basal persistente e por vezes espinescente, e limbo até 15 x 6 cm, ovado a obovado, arredondado e curtamente acuminado e apiculado no ápice, arredondado a subcordado na base, esparsamente pubescente a glabro nas duas páginas. Flores 4-meras em racemos contraídos agrupados em panículas densas, com grandes brácteas avermelhadas ou esbranquiçadas persistentes; receptáculo inferior coberto de pêlos longos amarelados e pêlos curtos glandulares, aclavados, brancos, o superior c. 5 mm longo, estreitamente campanulado, glabro, excepto na base; pétalas vermelhas, c. 3 mm longas, estreitamente obovadas, densamente cobertas externamente de pêlos amarelados. Frutos 20-25 x 20-25 mm, largamente elipsóides, de cor creme com asas membranosas de reflexos argênteos.

Distribuição: Conhecido das regiões N, S e L. Disperso pela África tropical, desde o Senegal ao Uganda e para sul até Angola. Em florestas densas sub-húmidas, florestas secundárias húmidas e palmares em solos profundos e frescos. N. V.: cototura (Mandinga).

Combretum tomentosum G. Don

Arbusto escandente ou liana atingindo 20 m de altura, com indumento denso de pêlos castanhos ou amarelados. Folhas opostas ou subopostas, com pecíolo 2-7 mm longo e limbo até 8 x 5 cm, elíptico a largamente obovado, arredondado, truncado ou emarginado no ápice, curtamente acuminado ou apiculado, arredondado a subcordado na base, com pêlos longos acinzentados, mais ou menos densos na página superior, fulvo-pubescente a tomentoso na página inferior. Flores 4-meras em racemos longos, tomentosos; receptáculo superior 1,5 mm longo e 3,5 mm largo, muito largamente campanulado, tomentoso externamente e internamente; pétalas cremes ou brancas, 1,5-2,0 mm longas, obovadas, com alguns pêlos longos castanhos externamente. Frutos c. 25 x 25 mm, largamente elipsóides, castanhos, densamente pubescentes.

Distribuição: Conhecida das regiões N, S, L e B. Ocorre também na África ocidental desde o Senegal à Serra Leoa. Em savanas arborizadas, florestas abertas, florestas densas, galerias florestais e palmares.

N. V.: canquelibá-déo (Fula), iári-sáfi (Futa-fula), ulô (Pepel).

As 16 espécies e sub-espécies deste género encontradas na Guiné-Bissau constituem um número relativamente elevado para um território de pequenas dimensões se comparado, por exemplo, com as 19 espécies consideradas para o vizinho Senegal, de muito maior superfície. A situação da Guiné-Bissau numa zona de transição fitogeográfica, mantendo afinidades físicas e biológicas com

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as regiões fitogeográficas adjacentes poderá explicar a relativa abundância de taxa deste género no país.

Da análise da distribuição dos exemplares colhidos deste género na Guiné-Bissau, verifica-se existência de um grupo de entidades taxonómicas aparentemente muito frequentes no território: C. micranthum, C. collinum subsp. geitonophyllum, C. nigricans var. elliotii, C. grandiflorum e C. tomentosum.

Por outro lado, C. collinum subsp. hypopilinum, C. conchipetalum, C. molle, C. nioroense e C. nigricans var. nigricans parecem ser raras ou pouco frequentes. No entanto, a quantidade relativamente pequena de exemplares deste género, e em especial de algumas espécies, colhidos até agora na Guiné-Bissau, não permite fazer uma correcta interpretação ecológica ou fitogeográfica da sua distribuição, julgando-se necessária a continuação das prospecções botânicas. BIBLIOGRAFIA

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Referências

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