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POLÍTICAS SOCIAIS E PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO EM SAÚDE

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POLÍTICAS SOCIAIS E PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO EM SAÚDE

Problemas relacionados ao processo de trabalho em saúde, dizem respeito não só a organização da atenção à saúde pública e privada, mas também a relação profissional de saúde-usuário, a produção de humanização como prática numa sociedade fortemente desumanizada, a luta dos trabalhadores por melhores condições de vida e trabalho (que resultou em direitos sociais e políticas de proteção social, atualizando conhecimentos e práticas específicas). Dizem respeito também, a necessidade dos trabalhadores da saúde de compreender os processos políticos como fazedores de atos de saúde, se apresentando como negociadores do modelo de atenção à saúde, a relatividade e diversidade na humanização com problemáticas, além da tensão entre o individual e o coletivo no processo de mudança social, as variações no alcance das funções de gestão no desempenho das ações do componente da educação e do trabalho e ao trabalho na atualidade, que sob o império do fetiche da mercadoria, se transformam em atividade forçada, imposta, exterior. (MENDES, 1996; GASTALDO, 2005; FLEURY, 2003; MERHY et al, 2007; PIERANTONI et al, 2008; ANTUNES, 2005).

É certo que os trabalhadores, de forma geral, têm suas possibilidades constrangidas pelo modo de produção capitalista, especialmente os do setor privado. Também é verdade que o trabalho em saúde tem suas especificidades, e quais são elas? O ato de cuidar é inseparável do seu consumo por usuários dos serviços de saúde. De que forma os profissionais de saúde veem o mundo? A desestruturação com o trabalho são fontes de sofrimento?

A partir de concepções e princípios assumidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e suas determinações, contradições e possibilidades sobre o processo de trabalho na Estratégia Saúde da Família (ESF), busca-se esboçar uma breve reflexão sobre a precarização do trabalho, a partir das políticas sociais para melhor compreender o processo de trabalho dos profissionais de saúde no âmbito do SUS.

A implantação do ESF é um marco na incorporação na política de saúde brasileira atual. Em 2004, por meio da Portaria nº 198, o Ministério da Saúde institui a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde como estratégia do SUS para a formação e o desenvolvimento de trabalhadores para o setor visando alcançar a integralidade da atenção à saúde (BRASIL, 2004).

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As atividades na ESF são fortemente tensiógenas, devido ao número limitado de profissionais nas unidades, ao ambiente precário de trabalho, à exposição à violência social – em decorrência das unidades da ESF encontrarem-se muitas vezes em áreas de risco –, ao apoio insatisfatório da rede de serviços de saúde pública, que não garante o atendimento em serviços de maior complexidade demandados pela população e identificados pelos profissionais em seu cotidiano de trabalho junto a comunidades carentes, ao desgaste psicoemocional nas tarefas realizadas e, principalmente, ao trabalho com vínculo precário.

Mesmo após a implantação de novos modelos assistenciais contingenciam questões conhecidas e não resolvidas na área de recursos humanos em saúde. Conforme descreveu Pierantoni (2001), as intervenções realizadas na área da saúde foram capazes de modificar, de forma irreversível, organizações estatais e reorganizar pactos federativos e sociais, mas não alcançaram, de forma similar, os responsáveis pela execução dessas políticas – os recursos humanos. Segundo a mesma autora, só recentemente os debates introduzidos pelas concepções de modelos gerenciais inovadores, que consubstanciam as reformas setoriais propostas, realocaram a dimensão dos recursos humanos entre as questões centrais para a gestão do sistema de saúde.

Assim, embora hoje possamos observar sinais de reorientação do modelo assistencial, representados pelas experiências do SUS em alguns municípios e da ESF – os quais procuram romper com a lógica produtivista dos serviços e implantar práticas fundadas num conceito mais abrangente de saúde – constatamos, no atual sistema, déficits qualitativos e quantitativos no que diz respeito às garantias trabalhistas devidas ao profissional de saúde, à promoção de um ambiente de trabalho saudável e seguro e a processos adequados de educação permanente em serviço. Um considerável avanço no que tange ao acesso do cidadão às ações de atenção à saúde e à participação da comunidade em sua gestão, por meio das instâncias de controle social, pôde ser percebido nestes últimos anos. Porém, é sabido que, para que o direito pleno à saúde seja alcançado, é necessário ainda que o SUS alcance a melhoria da qualidade e da equidade em suas ações, incluindo as ações em Saúde do Trabalhador (BRASIL, 2004).

A dinâmica do trabalho na ESF é responsável pela construção de uma dada identidade social dos profissionais. Os profissionais de saúde que atuam na ESF estão precarizados em suas modalidades de contratação, própria de ajustes do modelo neoliberal, o que se encontra em contradição com o discurso de construção do SUS. Neste sentido,

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compreender o mundo do trabalho hoje é pré-condição para a leitura articulada de Trabalho e Saúde.

Para Antunes (2004), o reordenamento das relações de trabalho a que se assiste nas últimas décadas é decorrente de uma reestruturação da base técnica do setor produtivo e de uma reorganização das relações econômicas internacionais – associadas ao processo de globalização.

A sociedade comporta-se de forma que afetam a saúde; o Estado desenvolve tecnologias e forma recurso humano; e o mercado participa da oferta de serviços e da formação de recursos humanos, sendo que a política de saúde se encontra na interface entre Estado, sociedade e mercado (FLEURY, 2008).

Ao se falar em Política Pública, torna-se necessário falar em pacto social, interesses, poderes, do Estado em ação, de seus processos envolvendo recursos, atores, arenas, ideias e, sobretudo negociação. Neste contexto a Análise Política de Saúde busca elementos no que se refere ao papel do Estado na proteção social na saúde, como discutido por Viana et al (2008). Contudo a Análise de Políticas Públicas não está orientada tão simplesmente para a solução de problemas concretos e imediatos, sendo necessário lançar um olhar sobre os mecanismos de construção da ação pública, o que contribui para renovar questões de ciência política. O estudo de Políticas Públicas é multidisciplinar, envolve considerações de diferentes ciências, para analisar diferentes aspectos e dimensões de uma determinada política. A principal contribuição da Análise de Políticas Pública no campo do estudo tem sido possibilitar maior transparência acerca do padrão político e decisório.

Os estudos de Análise Política começaram a ser cada vez mais associados aos estudos de avaliação, na perspectiva da avaliação de processos, resultados e impactos. A partir daí novos temas começaram a ter centralidade na agenda de pesquisa: inovação tecnológica, complexo produtivo da saúde, abarcando a indústria, os serviços e as instituições de pesquisa e desenvolvimento e a inserção da saúde no processo de desenvolvimento – os elos.

Os trabalhadores da saúde, de forma geral, têm suas possibilidades de melhorias ou regulação da força de trabalho constrangida pelo modo de produção capitalista, especialmente os do setor privado. Assim algumas indagações permeiam o trabalho no âmbito da ESF, tais como: quais os recursos disponíveis a valorização do trabalhador? Como os profissionais de saúde lidam com o processo de trabalho? Nas atividades institucionais de qualificação quais ações têm sido valorizadas? Quais são as motivações

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levam a permanecerem atuando na ESF? Como se comportam as Políticas Sociais em relação aos direitos trabalhistas desses profissionais? Qual o papel do ensino no processo de mudança na política de valorização do trabalho em Saúde?

Em síntese, para compreendermos o processo de trabalho no SUS, torna-se fundamental, analisar em profundidade a realidade social brasileira sob diferentes aspectos entrelaçados, identificando forças sociais em disputa por diferentes projetos de sociedade e de saúde. As contradições e dificuldades que permeiam o processo de trabalho em saúde na contemporaneidade podem ser compreendidas como parte de um contexto maior em que se insere o mundo do trabalho hoje.

Referências

ANTUNES, R. O caracol e sua concha: ensaios sobre a nova morfologia do trabalho. São Paulo: Boitempo, 2005.

ANTUNES, R. A dialética do trabalho. São Paulo: Expressão Popular, 2004.

BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde. Princípios e Diretrizes. Brasília: MS, 2004.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 198/GM, 13 de fevereiro de 2004. Política Nacional de Educação Permanente em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.

BRASIL. Ministério da Saúde. Programas e Projetos – Saúde da Família. Brasília/DF. Ministério da Saúde, 1998.

BRASIL. Ministério da Saúde. Norma Operacional Básica – SUS, nº1/96. Diário Oficial da União. Brasília/DF, 1996.

FLEURY, S.; OUVERNEY, A. M. Política de saúde: uma política social. In: GIOVANELLA, L et al. (Orgs.) Políticas e sistemas de saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, Cebes, 2008.

FLEURY, S. Políticas sociais e democratização do poder local. In: VERGARA, S. C.; CORRÊA, V. L. A. (Orgs.). Propostas para uma gestão pública municipal efetiva. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2003.

GASTALDO, D. Humanização como processo conflitivo e contextual. Interface (Botucatu), Botucatu, v. 9, n. 17, p. 395-7, mar./ago. 2005.

MENDES, E. V. Uma ajuda para a saúde. SP: Hucitec, 1996.

MERHY, E. E. Saúde e Cartografia do trabalho vivo. SP: Hucitec, 2002.

MERHY, E. E. A perda da dimensão cuidadora na produção de saúde: uma discussão do modelo assistencial e da intervenção no seu modo de trabalhar a assistência. In: Campos, C.

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R. et al. (Orgs.). Sistema Único de Saúde em Belo Horizonte: reescrevendo o público. São Paulo: Xamã, p. 103-20, 1998.

MERHY, E. E. Um dos grandes desafios para os gestores do SUS: apostar em novos modos de fabricar os modelos de atenção. In: MERHY, E. E. et al. O trabalho em saúde: olhando e experienciando o SUS no cotidiano. 4ª ed. São Paulo: HUCITEC, 2007.

PIERANTONI, C. R. As reformas do estado, da saúde e recursos humanos: limites e possibilidades. Ciênc. saúde colet., Rio de Janeiro, v.6, n. 2, p. 341-60, 2001.

PIERANTONI, C. R. et al. Gestão do trabalho e da educação em saúde: recursos humanos em duas décadas do SUS, Physis, Rio de Janeiro, v. 18, n. 4, p. 685-704, 2008.

VIANA, A. L. D.; BAPTISTA, T. W. F. Análise de Políticas de Saúde. In: GIOVANELLA, L. et al. (orgs.) Políticas e sistemas de saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, Cebes, 2008.

Autores: Marilei de Melo Tavares e Souza Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e Biociências - PPGENFBIO/UNIRIO - Turma: 2014. Professora do Curso de Enfermagem da Universidade Severino Sombra (USS). Professora do Curso de Pedagogia da Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – FFP/UERJ. Email: marileimts@hotmail.com.

Joanir Pereira Passos Doutora em Enfermagem pela Universidade de São Paulo. Professor Associado da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Professora Orientadora nos Programas de Pós Graduação em Enfermagem – PPGENF e em Enfermagem e Biociências – PPGENFBIO/UNIRIO. Email: joppassos@hotmail.com.

Como citar este post (Vancouver adaptado): SOUZA E TAVARES, M.M.; PASSOS, J.P. POLÍTICAS SOCIAIS E PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO EM SAÚDE. [internet]. Rio de Janeiro (br); 2014 [Acesso em: dia mês (abreviado) ano]. Disponível em: http://www... (completar com os dados do site).

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