• Nenhum resultado encontrado

O PAPEL DOS PADRES EM PEQUENAS COMUNIDADES: O CASO DE PADRE LUIZ SPONCHIADO

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O PAPEL DOS PADRES EM PEQUENAS COMUNIDADES: O CASO DE PADRE LUIZ SPONCHIADO"

Copied!
11
0
0

Texto

(1)

1

O PAPEL DOS PADRES EM PEQUENAS COMUNIDADES: O CASO DE

PADRE LUIZ SPONCHIADO

JULIANA MARIA MANFIO Mestranda da Universidade Federal de Santa Maria-RS

jumanfio@hotmail.com

VITOR OTÁVIO FERNANDES BIASOLI Professor da Universidade federal de Santa Maria

vbiasoli@gmail.com

MAÍRA INÊS VENDRAME vrica@yahoo.com.br Professora voluntária da Universidade Federal de Santa Maria

Introdução:

O presente trabalho faz parte das atividades realizadas no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Santa Maria, no qual o tema de pesquisa é a trajetória de Padre Luiz Sponchiado na região da Quarta Colônia. Porém, para esse ensaio, o interesse é compreender o papel desempenhado pelos padres em pequenas comunidades, tendo como foco de estudo a trajetória e realizações do Padre Luiz Sponchiado.

A trajetória de padre Luiz Sponchiado na Quarta Colônia é o ponto de partida para compreender a atuação dos sacerdotes em pequenas comunidades de colonização italiana. Para isso, é indispensável à reconstituição do contexto em que se dá a inserção do religioso, sendo necessário montar a “superfície social” em que atua o sujeito, na sua pluralidade de campos (Bourdieu, 1996).

O sujeito estudado é o Padre Luiz Sponchiado, que nasceu em 22 de fevereiro de 1922 e faleceu em 16 de março de 2010. Era filho de descendentes de imigrantes italianos que chegaram a Colônia Silveira Martins1, atualmente conhecida como Quarta Colônia, localizada na região central do Rio Grande do Sul. Ainda da infância foi

1

A Colônia Silveira Martins é o quatro núcleo de colonização italiana no Rio Grande do Sul e recebeu imigrantes italianos que vinham sozinhos ou com famílias de italianos, a partir de 1878. Localiza-se no centro do Estado e atualmente compreende 7 municípios de uma região chamada Quarta Colônia: Silveira Martins, Ivorá, São João do Polêsine, Faxinal do Soturno, Dona Francisca, Nova Palma e Pinhal Grande.

(2)

2

despertado pelo desejo de ser sacerdote e, em 1934, ingressou no Seminário São José,

no município de Santa Maria. Em 1946 ordenou-se padre, iniciando sua trajetória no campo espiritual.

Com o retorno de Padre Luiz Sponchiado à Quarta Colônia2 em 1956, o sacerdote iniciou o desempenho de inúmeras atividades, não apenas de cunho espiritual, mas também de caráter político, econômico e cultural. Dessa forma, percebe-se que a atuação de padre Luiz Sponchiado está enraizada na imigração & colonização italianas, na região da antiga Colônia Silveira Martins. Nesse período de formação e consolidação das comunidades coloniais, os padres tinham prestígio e exerciam forte liderança política nas suas localidades de atuação religiosa. Eram os receptores das informações de grande parcela da população local e sabiam como fazer a articulação necessária com tais dados, isto é, como se organizarem em propostas e ações concretas.

Sendo assim, para uma melhor compreensão da proposta, o trabalho foi dividido em dois capítulos: 1) A atuação dos padres no período da colonização italiana na Quarta

Colônia – no qual será discutida a atuação dos sacerdotes da Colônia Silveira Martins,

na tentativa de compreender como agem os sacerdotes em pequenas comunidades de colonização italiana; 2) O papel de padre Luiz Sponchiado para a Quarta Colônia – que investiga as ações realizadas pelo Padre Luiz Sponchiado na comunidade de Nova Palma.

1.A atuação dos padres no período da colonização italiana na Quarta Colônia

A Colônia Silveira Martins foi criada em 1877 e os primeiros imigrantes italianos chegaram em 1878. Foram estabelecidos primeiramente em um barracão3, onde permaneceram até serem destinados aos lotes de terras demarcados. Junto com o lote, receberam alimentos, semestres, ferramentas e tábuas para a construção de uma casa (Marchiori, 2000).

2

Denominação recente dada para a antiga Colônia Silveira Martins, que foi construída recentemente, através de ações culturais de Padre Luiz Sponchiado.

3

O barracão era uma estalagem precária, onde os imigrantes eram acomodados quando chegavam às colônias.

(3)

3

Ao se estabelecerem nos lotes, os italianos se depararam com a mata que deveriam

ser derrubada, com animais desconhecidos e estradas muito precárias, que dificultavam a saída dos lotes até a sede da colônia Silveira Martins. Segundo Marin (1999, p.87):

Os imigrantes, ao chegarem no Brasil, estavam perdidos no meio da floresta, isolados da sociedade gaúcha e desamparados pelos poderes público e espiritual. Na luta pela sobrevivência, apreenderam a confiar em si próprios e na organização coletiva.

Quando ao desamparo do Poder Público, Constantino (2011) entende que o imigrante usufruiu de um projeto de colonização, no qual foi proporcionado condições de desenvolvimento ao longo do tempo. A terra foi financiada por preço acessível em longo prazo, criou-se a possibilidade do imigrante do sexo masculino trabalhar para o governo na abertura de estradas, na construção da estrada de ferro e de receber salário pelo serviço – o que ajudava no sustento da família, enquanto o lote não produzia. Porém, no campo espiritual, os imigrantes sentiam-se desamparados, pois viviam de forma precária, com pouca alimentação, ausência de médicos e a proliferação de doenças. Segundo Véscio (2001 p.54-55): “em meio a este quadro desesperador, os imigrantes católicos sofriam a ausência de um sacerdote que viesse dar conforto e ministrar os sacramentos”.

Nesse sentido, percebendo a necessidade do amparo espiritual, um grupo de imigrantes italianos na Colônia Silveira Martins (do núcleo Vale Vêneto) contratou um agenciador para que buscasse padres na Itália que atendesse os colonos. O agenciador conseguiu trazer dois padres italianos – Antônio Sório4 e Vitorre Arnoffi5 –, ambos com os mesmos sonhos dos imigrantes que se estabeleceram aqui: conseguir lotes de terra, com perspectiva de prosperarem. Segundo Vendrame (2013, p. 61):

Construir um patrimônio material, principalmente por meio da posse da terra, mais do que estar no horizonte de expectativas, era uma das intenções dos padres Arnoffi e Sório que migraram para trabalhar entre os conterrâneos. Dessa forma, os imigrantes de Silveira Martins e Vale Vêneto passaram a estar amparados por dois sacerdotes. Porém, o restante da Colônia recebia visitas escassas, devido às dificuldades com as condições climáticas do tempo e as estradas. Contudo,

4

Assumiu a Igreja do Núcleo Vale Vêneto. Somente com a morte de Arnoffi, foi direcionado para a sede da colônia, Silveira Martins.

5

(4)

4

mesmo com a escassa presença dos sacerdotes, “a religiosidade desempenhou um papel

importante na organização e reconstrução grupal da nova pátria” (MARIN, 1999, p.75). Assim, é a partir da religiosidade e da inserção dos primeiros padres que as pequenas comunidades de colonização italiana passaram a se organizar. Os padres – com seu prestígio e por serem consideradas criaturas divinas pela população local – passaram a dar assistência espiritual, conforto, incentivo e, muitas vezes, patrocinar a criação de instituições para promover o desenvolvimento local.

Entre os imigrantes e os descendentes, o padre era a autoridade superior e tinha o controle sobre os bens e sobre seus fiéis. Dessa maneira, o sacerdote criou feições divinas, tinham poderes superiores, no qual todos deveriam obedecer de forma disciplinada. Ao mesmo tempo em que abençoava e tinha o poder da salvação, tinha o poder de amaldiçoar e de condenar (Marin, 1999).

Em 1886, devido a problemas com os sacerdotes Arnoffi e Sório, os colonos conseguiram a vinda de novos religiosos, os Palotinos – congregação religiosa fundada em 1835 pelo Padre Vicente Palotti. Esses religiosos estavam integrados ao projeto da romanização – a orientação política e espiritual assumida pelo Vaticano com o Concílio Vaticano I (1879-70). Segundo Marin (1999, p.75):

Imbuídos do ideal ultramontano, [os Palotinos] desenvolveram um projeto disciplinar intencional que deveria envolver toda a tessitura social, normatizando e regulando as relações individuais, seja na família, na escola, nas associações devocionais, na imprensa, na agricultura, no trabalho, no lazer, na política, nas relações sociais e até na intimidade.

Com o projeto de romanização, os padres aumentaram seu poder de controle sobre a comunidade. E dessa forma a população local passou a vigiar-se mais: os comportamentos que feriam a conduta moral – e que aconteciam com certa frequência – eram julgados pelos imigrantes e seus descendentes na própria localidade. Segundo Marin (1999, p.84): “[...] todos se conheciam, se observavam e se controlavam até mesmo nos momentos mais íntimos e inesperados do cotidiano”.

O severo controle religioso e moral, no entanto, não impediu que indivíduos da sociedade local tivessem conduta inadequada, conforme os códigos da comunidade, e ocorressem questões ligadas à honra familiar e a práticas de justiça entre os italianos e

(5)

5

descendentes6. Até sacerdotes – especialmente seculares, que não participavam no

movimento ultramontano – tinham condutas que eram questionadas e condenadas por alguns membros da comunidade e pelos religiosos romanizados.

Dessa maneira, os conflitos existentes entre os sacerdotes e as pessoas da comunidade merecem destaque. O padre exercia liderança política, assim como comerciantes e autoridade municipais, e isso gerava disputa pelo poder local. Vendrame (2013) apresentou conflitos existentes entre o Padre Sório e lideranças locais. Constata, a partir da análise de inúmeros casos, que nem todos os indivíduos da comunidade estavam em profundo acordo com o que o padre pregava.

Na região da Quarta Colônia, percebeu-se a grande atuação dos padres na maioria das pequenas comunidades. Os sacerdotes eram vistos como figuras divinas devido a sua posição (segundo a Igreja) de intermediários entre os homens e Deus. Por essa razão, eram vistos até como pessoas “mais próximas a Deus” que o restante da comunidade. Porém, além da “divindade” advinda do fato de ser padre, os religiosos encontraram outros meios de alcançar um maior prestígio entre a população. Além do papel religioso e espiritual, os padres exerciam forte liderança política nas regiões coloniais e articulavam as demandas econômicas e sociais dos colonos – em especial, a defesa do modelo de sociedade camponesa, com ênfase na pequena propriedade rural e na coesão familiar. Isso, porém, não significava que não provocassem rejeição e conflitos internos na comunidade.

É a partir desse quadro – dessa tradição a respeito do lugar do padre nas pequenas comunidades originárias da imigração italiana – que podemos compreender a trajetória e atuação de padre Luiz Sponchiado na Quarta Colônia.

2. O papel de padre Luiz Sponchiado para a Quarta Colônia

[O padre]Representa muito. O padre sempre foi um chefe – desde a colonização italiana7.

6

Ver mais em VENDRAME, Maíra Ines. Ares de vingança: redes sociais, honra familiar e práticas de justiça entre imigrantes italianos no sul do Brasil (1878-1910). (Tese de Doutorado). PUC-RS, 2013.

7

Entrevista de Padre Luiz Sponchiado. In: Jornal Integração Regional, 24 de março à 1º de abril de 2005.

(6)

6

A trajetória de um indivíduo é um meio de compreender um contexto histórico.

Entender as articulações, os jogos de relações do indivíduo com o grupo, e como as ações de um indivíduo interferem no espaço (Bourdieu, 1996). Será a partir da trajetória de Padre Luiz Sponchiado que iremos investigar como suas ações e atuações transformaram a Quarta Colônia, bem como identificar as articulações e as relações sociais que interferiram no tempo e espaço nos quais o padre atuava.

A atuação de Padre Luiz Sponchiado como sacerdote na região da Quarta Colônia começou no ano de 1956, quando tornou-se pároco de Nova Palma8. A região estava dividida politica e administrativamente entre três municípios: Júlio de Castilhos, Santa Maria e Cachoeira do Sul.

A chegada do sacerdote ao local foi fundamental para despertar entre a população o ideal emancipatório. Padre Sponchiado tinha experiência dos trâmites legais para realizar o processo de emancipação, pois havia participado da emancipação do município de Frederico Westhepalen.

Para despertar o espírito emancipatório entre a população, o sacerdote começou a realizar reuniões e encontros com lideranças locais. O projeto era a emancipação de todo o núcleo colonial em um único município: a Quarta Colônia. Para que tal processo acontecesse de fato, era necessária a construção de uma consciência coletiva entre a comunidade. De acordo com Bolzan (2011, p.150), “a condição de italiano e católico era o principal argumento para a união entre os habitantes do lugar”.

Porém, a primeira tentativa de Padre Luiz Sponchiado de buscar a emancipação de toda a Quarta Colônia esbarrou na disputa pela sede do novo município. Assim, Faxinal do Soturno e Dona Francisca uniram-se para buscar a emancipação local, elevando Faxinal do Soturno à condição de município em 1959.

Com a emancipação de Faxinal do Soturno, restava ao Padre Luiz Sponchiado a criação de um novo projeto. A segunda tentativa de emancipação da Quarta Colônia de Padre Luiz Sponchiado compreenderia aos municípios de Nova Palma, Ivorá e parte de Pinhal Grande9. Nesse novo projeto, a oposição veio do pároco de Ivorá, que acreditava

8

Ainda não havia sido elevada a condição de município e pertencia ao município de Júlio de Castilhos.

9

(7)

7

ser a proposta de emancipação desvantajosa. Com isso, a segunda tentativa de

emancipar a Quarta Colônia também fracassou.

A terceira e última tentativa foi para buscar a emancipação de Nova Palma. Para não acontecer erros e imprevistos, o sacerdote foi à Porto Alegre e acompanhou todo o processo emancipatório na Assembleia Legislativa. Em julho de 1960, Nova Palma foi elevada a condição de município.

Percebemos a intenção de Padre Luiz Sponchiado na construção de uma consciência coletiva entre a população – a identificação local com uma identidade italiana católica – para alcançar o ideal emancipatório, tornando a Quarta Colônia um único município. Constata-se na figura de Padre Luiz Sponchiado um líder político. Uma liderança construída através da iniciativa de emancipação da região. Porém, percebemos que o sacerdote recém havia chegado ao local e sua aceitação veio de forma rápida. Isso se deve, segundo Merlotti (1979), pelo fato dos imigrantes e descendentes de italianos entenderem a figura do sacerdote como central no sistema econômico, social, político, cultural e religioso. Padre Luiz soube inserir-se nessa tradição cultural e colocar-se no lugar do padre que é líder da sua comunidade. Um líder não apenas no campo religioso. Uma prova dessa capacidade de ultrapassar a atuação religiosa, foi a preocupação do Padre Luiz em relação à comercialização dos produtos agrícolas do novo município que, em grande parte, dependia (e ainda depende) da agricultura. Padre Luiz Sponchiado incentivou os agricultores de Nova Palma a unirem-se para fundar a Cooperativa Agrícola Mista de Nova Palma – CAMNPAL, em 1962. Segundo Manfio (2011, p.72):

O surgimento de uma cooperativa em um município gera dinâmicas que são capazes de criar novos investimentos e novas empresas que orbitam em volta da cooperativa, com o propósito de prestação de serviços ao sistema cooperativista. Além disso, neste espaço, moderniza-se a infra-estrutura, promovendo o desenvolvimento local ou regional, dependendo da escala de abrangência da mesma.

Com a criação da Cooperativa foi possível melhorar as condições de comercialização10 da produção agrícola da região. A Cooperativa possibilitou ainda a geração de empregos tanto no meio rural e urbano, e ajudou a promover o crescimento

10

Vale salientar que a Quarta Colônia ficava distante dos centros de comercialização e, o mais próximo era Santa Maria.

(8)

8

econômico da região. Atualmente, a Cooperativa possui unidades bem como parcerias

em diversas cidades da Quarta Colônia.

O incentivo do padre Luiz Sponchiado na construção da Cooperativa está ligada a busca do bem-estar da comunidade colonial italiana através do trabalho. O trabalho que provém do desenvolvimento das terras, financiadas pelo governo do Estado. Segundo Merlotti (1979), o sacerdote, através de seu prestígio, transformou a comunidade em que atuava, passando a dar assistência em todos os aspectos.

Enquanto desenvolvia os trabalhos religiosos e cuidava das demandas econômicas e sociais da comunidade, padre Luiz Sponchiado também dedicou-se à pesquisa sobre a história de sua família, que eram imigrantes e descendentes de imigrantes italianos, colonos na região da Quarta Colônia. Contudo, seu interesse quanto à história da imigração & colonização o levou a pesquisar a história de outras famílias de imigrantes e descendentes de italianos que se estabeleceram na região, através da busca de informações em acervos, paróquias e em casas de moradores da região.

Os estudos sobre a imigração & colonização na Quarta Colônia ocuparam parte importante da vida de Padre Luiz Sponchiado e deram origem a um acervo denominado Centro de Pesquisas Genealógicas (CPG). O sacerdote recolheu uma diversidade de documentação a respeito da trajetória das famílias locais – fotografias, recortes de jornais, atestados de casamento, nascimento e óbito, documentos cíveis, entre outros.

(9)

9

Figura 1: Padre Luiz Sponchiado

Fonte: Centro de Pesquisas Genealógicas

O CPG foi inaugurado em 1984, em virtude das comemorações do centenário da colonização italiana em Nova Palma, para tornar-se o marco da data. Através do acervo, o sacerdote encontrou subsídios para construir uma identidade, com matriz italiana e católica – ligada a imigração & colonização da região e religiosidade católica no local. De acordo com Weber (2006), os sujeitos e os grupos sociais têm a necessidade de estabelecer suas próprias identidades da forma mais adequada. Muitas das formulações são elaboradas por líderes que tem a consciência da necessidade – vinculada dentro das comunidades e de pressões de integração da sociedade envolvida.

O prestígio e a liderança política de padre Luiz Sponchiado foram construídos a partir da sua posição de sacerdote, elemento de união entre Deus e a comunidade. Instalado nesse “lugar” importante para uma comunidade religiosa – que tem na Igreja e na religiosidade elementos centrais de sua dinâmica sócio-cultural – Padre Luiz passou a desempenar atividades em outras áreas. Articulou as demandas de emancipação político-administrativas, as preocupações econômicas e, principalmente, o fortalecimento da identidade da população com a matriz imigratória e católica.

Suas ações e atuações foram desenvolvidas com a contestação de alguns, mas, principalmente, com a aprovação da maioria população local. O sacerdote era visto como um chefe na comunidade, porque além da autoridade religiosa (oficiar os sacramentos da Igreja), assumia o comando e a direção de atividades variadas na comunidade. Entre outras coisas, inseria-se na vida cotidiana dos paroquianos e influenciava suas vidas. Padre Luiz fazia-se presente tanto no cenário coletivo da comunidade como na vida privada das famílias.

Considerações finais:

Constata-se que, ao estudar um individuo, é possível entender as relações estabelecidas entre o sujeito e a sociedade na qual está inserido, assim como perceber como suas ações interferem no meio social. Nesse sentido, com a investigação da trajetória de Padre Luiz Sponchiado na Quarta Colônia, foi possível compreender como

(10)

10

os padres atuavam em pequenas comunidades, bem como entender a consciência que os

sacerdotes tinham quanto seu papel na sociedade.

Os imigrantes e descendentes de italianos viam no sacerdote uma figura divina, próxima a Deus. Dessa forma, através dessa imagem que padres tinham para a sociedade, percebe-se como os religiosos estabeleciam e articulavam as relações com os indivíduos e com os grupos sociais e, assim, construíam o seu prestígio social. Mantinham atividades de cunho econômico, social e cultural na comunidade e exerciam liderança politica. Com prestígio diante da comunidade, os padres lideraram iniciativas de construção de instituições importantes e assim, foram aos poucos transformando o espaço onde atuavam.

Através do estudo da trajetória de Padre Luiz Sponchiado compreende-se como suas ações transformaram o espaço da Quarta Colônia e do município de Nova Palma. Dessa maneira, pode-se entender a relevância sócio-política dos sacerdotes nas pequenas comunidades originadas da imigração & colonização italianas, sua interação com o meio e com os indivíduos, e também como construíam seu prestígio perante a comunidade.

Referências Bibliográficas:

BOLZAN, Moacir. Quarta Colônia: da fragmentação à integração. Tese (Doutorado em História) – Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 2011.

BOURDIEU, Pierre. Ilusão Biográfica. In: FERREIRA, Marieta de Moraes ; AMADO, Janaína. (org). Usos e abusos da História oral. Ed. Da fundação Getúlio Vargas: São Paulo, 1996. (183- 191p.).

CONSTANTINO, Núncia Santoro de. Estudos de imigração italiana: tendências historiográficas no Brasil meridional. Anais do XXVI Simpósio Nacional de Historia – ANPUH, São Paulo, julho de 2011.

MANFIO, Vanessa. O papel da Camnpal na (re) estruturação do espaço urbano de Nova Palma-RS (Dissertação de mestrado) Universidade Federal de Santa Maria, 2011. MARCHIORI, José Newton Cardoso. Gênese da Colônia Jaguari. Porto Alegre: Arquivo Histórico de Rio Grande do Sul, 2000.

(11)

11

MARIN, Jérri Roberto. “Combatendo nos exércitos de Deus: as associações

devocionais e o projeto de romanização da Igreja Católica”, In: MARIN, Jérri Roberto (org). Quarta Colônia: Novos Olhares. Porto Alegre: EST, 1999.

MERLOTTI, Vania. O mito do padre entre os descendentes de italianos. 2ed. Porto Alegre: EST/ Caxias do Sul: UCS, 1979.

VENDRAME, Maíra Ines. Ares de vingança: redes sociais, honra familiar e práticas de justiça entre imigrantes italianos no sul do Brasil (1878-1910). (Tese de Doutorado). PUC-RS, 2013.

VÉSCIO, Luiz E. O Crime do Padre Sório: Maçonaria e Igreja Católica no Rio Grande do Sul (1893-1925). Porto Alegre: Editora da UFRGS; Santa Maria: Editora UFSM, 2001.

WEBER, Regina. Imigração e identidade étnica: temáticas historiográficas e conceituações. In: Dimensões. Vitória: Dep. História/ UFES, 2006. V.18, p.236-250.

Referências

Documentos relacionados

Nessa situação temos claramente a relação de tecnovívio apresentado por Dubatti (2012) operando, visto que nessa experiência ambos os atores tra- çam um diálogo que não se dá

(grifos nossos). b) Em observância ao princípio da impessoalidade, a Administração não pode atuar com vistas a prejudicar ou beneficiar pessoas determinadas, vez que é

No total, treze pontos para coleta de água superficial foram escolhidos como representativos da área de estudo, sendo seis deles dentro do campus da Unicamp em APP’s

Indices (1) to verify the agreement between soil depth values where penetration resistance is equal to 1.5 MPa, based on the proposed penetrometer (Hatô) and the

Peixes mortos em decomposi- ção liberam na água aminas biogênicas, dentre muitas a histamina, que podem provocar reações adversas (como o choque anafilático) ou deprimir

TRATA-SE DE UM POLIESTIRENO TERMORRÍGIDO, ISTO É, APRESEN- TA GRANDE RESISTÊNCIA, ALIADO A ADITIVOS ESPECIAIS OBTÉM UM ACABAMENTO DE ALTO BRILHO MUITO SUPERIOR A LACA E A

2016) e de dois números especiais da revista Critical Policy Studies sobre Sistemas Deliberativos (com S.. Simone Maria Rocha é professora associada do Departamento de

Uma vez que a bacia possui uma elevada capacidade de armazenamento subterrâneo, a água que não foi para a atmosfera pode manter um fluxo de base mais