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COBERTURA VEGETAL NO BAIRRO CENTRO DE CURITIBA/PR

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Artigo publicado na Revista GEOUERJ número especial Rio de Janeiro, 2003 (CD ROM)

COBERTURA VEGETAL NO BAIRRO CENTRO DE CURITIBA/PR João Carlos Nucci

Laiane Ady Westphalen Alexandre T. Buccheri Filho

Diogo Labiak Neves Felipe A. H. D. Oliveira

Rudolf Kroker

Introdução

As cidades são lugares que apresentam alterações significativas nos recursos naturais como o solo, a água, o ar e os organismos. Segundo MONTEIRO (1987) "(...) as pressões exercidas pela concentração da população e de atividades geradas pela urbanização e industrialização, concorrem para acentuar as modificações do meio ambiente, com o comprometimento da qualidade de vida".

Ar fresco, água potável, certa quantidade de alimento por dia, espaço para dormir e estar, pessoas para interagir, etc. são necessidades humanas que não mudam ao longo da vida (ANDREWS, 1976) porém, ar, água, espaço, energia (alimento e calor), abrigo e disposição de resíduos, são consideradas como "as novas raridades e em torno das quais se desenvolve uma intensa luta" (LEFEBVRE, 1969), são necessidades biológicas do ecossistema urbano que influenciam na qualidade do ambiente e deveriam funcionar como fatores limitantes à urbanização.

Essas questões devem ser consideradas no planejamento urbano, que deveria englobar todos os aspectos sociais, econômicos e naturais. Entretanto, o que vem acontecendo é que, no momento de se fazer a síntese final, nem todos os aspectos estudados são considerados na tomada de decisões. "Na sociedade burguesa, preocupações econômicas constituem o tema principal da investigação social; todas as outras considerações humanas são secundárias" (LEFEBVRE, 1969), como também as existenciais. MARCUS e DETWYLER (1972) afirmam que "(...) tradicionalmente, os fatores econômicos têm decidido o uso da terra sem levar em consideração os fatores ecológicos". ROCHA (1991) coloca que "Na realidade, o comportamento humano é regido não só por parâmetros éticos e sociais, mas também por fatores ambientais. Ora, em um ambiente urbano que constitui o verdadeiro habitat e 'nicho' do ser humano, obviamente,

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ele deve (ou deveria ser) o ponto central de referência quando da tomada de qualquer decisão pela autoridade constituída, ou no nível da própria cidadania".

SACHS (1986) afirma que as cidades latino-americanas foram apanhadas em uma armadilha, pois seus custos de manutenção são altos, por serem elas mais consumidoras do que produtoras (...) os ciclos da matéria deveriam ser fechados fazendo com que os resíduos de dada produção fossem transformados em insumos de outra.

Essas considerações apontam para um aumento da produtividade biológica dentro das cidades, ou seja, para um aumento de todas as formas possíveis de vegetação em áreas urbanas. Mas, caminhando exatamente para o lado oposto, encontra-se, entre outros exemplos, o município de São Paulo que da comparação das imagens de satélite de 1986 com as de 1999 constatou-se que houve uma perda de vegetação em torno de 30% segundo o agrônomo Luís Roberto Jacintho da Prefeitura do Município de São Paulo em entrevista à revista Pesquisa FAPESP de dezembro de 2000 (p. 45).

O “verde urbano” que, diferentemente da terra, ar e água, não é uma necessidade óbvia na cena urbana, é um atributo muito importante, porém negligenciado, no planejamento do desenvolvimento das cidades. Todavia, a necessidade que o homem tem de vegetação extrapola um valor meramente sentimental ou estético (MONTEIRO, 1976), desempenhando um importante papel nas áreas urbanizadas no que se refere à qualidade ambiental (LOMBARDO, 1990).

Proposição de terminologia para o verde urbano

Uma das dificuldades de se considerar o “verde urbano” no planejamento é a existência de uma enorme confusão na conceituação de termos utilizados por várias prefeituras do país que consideram, por exemplo, como áreas verdes, locais onde não existe sequer uma única árvore (LIMA et. al,1994), fazendo com que a comparação de índices entre cidades seja um equívoco, pois o índice desacompanhado da definição dos termos, da escala espacial e do método de coleta dos dados, não estabelece parâmetros de comparação (NUCCI, 2001).

Com o objetivo de colaborar com os estudos para a padronização de conceitos, CAVALHEIRO et al. (1999), fornecem algumas sugestões, que poderiam ser consideradas como uma possível resposta para o problema levantado:

- Primeiramente deve-se entender que a legislação brasileira estabelece que o município está dividido em zona urbana, de expansão urbana e zona rural. A zona urbana, cujo

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perímetro é declarado por lei municipal, embora não explicitamente colocada na legislação, estaria constituída por três sistemas:

. Sistema de espaços com construções (habitação, indústria, comércio, hospitais, escolas, etc);

. Sistema de espaços livres de construção (praças, parques, águas superficiais, etc.) e

. Sistema de espaços de integração urbana (rede rodo-ferroviária).

- O espaço livre de construção é definido como espaço urbano ao ar livre, destinado a todo tipo de utilização que se relacione com caminhadas, descanso, passeios, práticas de esportes e, em geral, a recreação e entretenimento em horas de ócio; os locais de passeios a pé devem oferecer segurança e comodidade com separação total da calçada em relação aos veículos; os caminhos devem ser agradáveis, variados e pitorescos; os locais onde as pessoas se locomovem por meios motorizados não devem ser considerados como espaços livres. Os espaços livres podem ser privados, potencialmente coletivos ou públicos e podem desempenhar, principalmente, funções estética, de lazer e ecológico-ambiental, entre outras.

- As áreas verdes são um tipo especial de espaços livres onde o elemento fundamental de composição é a vegetação. Elas devem satisfazer três objetivos principais: ecológico-ambiental, estético e de lazer. Vegetação e solo permeável (sem laje) devem ocupar, pelo menos, 70% da área; devem servir à população, propiciando um uso e condições para recreação. Canteiros, pequenos jardins de ornamentação, rotatórias e arborização não podem ser considerados áreas verdes, mas sim "verde de acompanhamento viário", que com as calçadas (sem separação total em relação aos veículos) pertencem à categoria de espaços construídos ou espaços de integração urbana.

- Cobertura vegetal é a projeção do verde em cartas planimétricas e pode ser identificada por meio de fotografias aéreas, sem auxilio de esteroscopia. A escala da foto deve acompanhar os índices de cobertura vegetal; deve ser considerada a localização e a configuração das manchas (em mapas). Considera-se toda a cobertura vegetal existente nos três sistemas (espaços construídos, espaços livres e espaços de integração) e as encontradas nas Unidades de Conservação (que na sua maioria restringem o acesso ao público), inclusive na zona rural.

Essa conceituação de termos para o “verde urbano”, sugerida por CAVALHEIRO

et al. (1999), já foi aplicada em algumas áreas do município de Guarulhos/SP (NUCCI et al., 2000; NUCCI e ITO, 2002) e do município de São Paulo (NUCCI, 2001),

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mostrando-se de fácil entendimento e de grande utilidade para o planejamento e avaliação da qualidade dos espaços urbanos.

Cobertura vegetal em áreas urbanas

A quantificação e a configuração espacial da cobertura vegetal podem ser utilizadas como instrumentos e parâmetros de avaliação da qualidade ambiental em áreas urbanas (NUCCI e CAVALHEIRO, 1999; NUCCI, 2001). DIAS (2002) aponta para a importância de indicadores que ajudem a evidenciar aos habitantes o grau de saúde de sua sociedade e os êxitos ou fracassos das políticas governamentais adotadas. Coloca a importância do levantamento regular dos indicadores, como modelos que simplificam um tema complexo a uns quantos números (índices) que possam ser facilmente tomados e entendidos por quem elabora políticas e pelo público em geral. Isso permitiria, por exemplo, estabelecer comparações entre cidades e entre bairros do próprio município.

A cobertura vegetal como indicador já é considerada pelo Programa de Indicadores Ambientais para Blumenau, desenvolvido pela Faema (Fundação Municipal do Meio Ambiente), lançado em 1997. Ela faz parte da composição de Índices de Sustentabilidade de Blumenau/SC, configurados em um Sustentômetro que é uma expressão gráfica que permite visualizar facilmente a condição ambiental local (DIAS, 2002).

Sobre a quantificação, OKE (1973 apud LOMBARDO, 1985) estima que um índice de cobertura vegetal na faixa de 30% seja o recomendável para proporcionar um adequado balanço térmico em áreas urbanas, sendo que áreas com índice de arborização inferior a 5% determinam características semelhantes às de um deserto.

Para SUKOPP et al. (1979) as áreas centrais das cidades podem ser consideradas como um “deserto de epífitas”, batizado por DOUGLAS (1983) como “deserto florístico”.

A cidade ideal de SUKOPP e WERNER (1991), para mostrar condições ideais para a conservação da natureza e da paisagem, poderia edificar ou pavimentar, aproximadamente, somente dois terços da superfície do centro, ou seja, que 33% da área central da cidade deveriam ser permeáveis e não edificados e deveria apresentar ampla conexão entre a vegetação da zona rural e a das zonas centrais, com uma redução dos gradientes entre esses dois tipos de uso.

Resultados de levantamentos, realizados com base em fotografias aéreas em escalas que variam entre 1:10.000 (NUCCI, 2001) e 1:6.000 (NUCCI e ITO, 2002), apontam, para áreas com alto grau de urbanização, com uma quantidade insuficiente de cobertura vegetal (de 4 a 7%), mal distribuída e desconexa.

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Também, com utilização de fotografia aérea 1:8.000, e quantificação com papel vegetal milimetrado e extrapolação de dados, RUSZCZYK (1986) constatou que em Porto Alegre (RS) a zona de edifícios altos, ou de alta intensidade de urbanização, e as áreas industriais e comerciais apresentaram em geral, valores abaixo de 20% de cobertura vegetal, sendo que o valor mínimo de 7% ocorreu nas imediações da Estação Rodoviária. Afirma, ainda, que nas áreas centrais da cidade a cobertura vegetal esteve abaixo de 15%, afirmando ser uma situação encontrada em desertos.

Segundo HARDT (1994) o município de Curitiba apresenta 60% de sua área ocupados por superfícies permeáveis com cobertura vegetal, arbórea ou não, em áreas privadas e públicas. O desconto no IPTU, fornecido aos munícipes para que se preservem áreas com vegetação em suas propriedades, seria um dos fatores que poderia explicar essa grande quantidade de vegetação em áreas particulares. Por exemplo: terrenos com mais de 70% de cobertura vegetal são isentos da cobrança de IPTU e aqueles com 20 a 29% de cobertura vegetal apresentam um desconto de 30% no imposto. Também, há descontos para árvores isoladas de acordo com o tamanho da copa e o diâmetro do tronco.

Como apenas a indicação da quantidade de superfícies recobertas por vegetação não é capaz de demonstrar como essa vegetação está distribuída no município, exige-se que a quantificação da cobertura vegetal deva vir acompanhada de sua configuração espacial, o que permitiria, inclusive, avaliar as formas e o grau de conectividade das manchas de vegetação.

Sobre a distribuição espacial da cobertura vegetal, DOUGLAS (1983) coloca que em áreas urbanas, a contínua fragmentação dos hábitats naturais, os distúrbios e aumento do isolamento dos indivíduos “hábitats de ilhas”, tem causado uma geral redução na riqueza de espécies: espécies mais sensíveis são expulsas pelas agressivas que conseguem sobreviver em condições mais perturbadas.

Uma proposta de classificação das diferentes formas geométricas da cobertura vegetal, é encontrada em JIM (1989) que mostra um estudo realizado em Hong Kong, em que faz uma classificação dos tipos de configurações das manchas de cobertura vegetal, que ele chama de Tree-canopy cover (Fig. 1), estudadas por meio de fotografias aéreas na escala de 1:8.000 (ano 1986) e verificação de campo com cartas nas escalas 1:2.500 e 1:5.000, reduzindo, posteriormente, os resultados para a escala 1:20.000.

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Objetivos

Preocupando-se com a conceituação e com os métodos e técnicas para a classificação, a quantificação e a distribuição da cobertura vegetal como indicadores da qualidade ambiental em áreas urbanizadas, este trabalho teve como objetivos:

- a espacialização e a quantificação da cobertura vegetal do bairro Centro no município de Curitiba, tendo como base a terminologia para o verde urbano proposta por CAVALHEIRO et al. (1999),

- a classificação da distribuição da cobertura vegetal de acordo com as categorias apontadas por JIM (1989), e

- a comparação dos resultados com os índices encontrados na revisão bibliográfica.

Procedimento

Este estudo de classificação, mapeamento e quantificação da cobertura vegetal tem como base geral o ordenamento da paisagem com ênfase nos aspectos ecológicos ou, mais especificamente, a conservação da natureza e o ordenamento do verde urbano procurando um ambiente saudável e viável a longo prazo para o uso humano. Dentro desta linha, procura-se uma regulamentação dos usos do solo e dos recursos ambientais, salvaguardando a capacidade dos ecossistemas e o potencial recreativo da paisagem, retirando-se o máximo proveito do que a vegetação pode fornecer para a melhoria da qualidade ambiental.

Com base em foto-interpetação a olho nu, ou seja, sem auxilio de esteroscopia, de fotografias aéreas, coloridas, na escala 1:8.000 (PMC, 2000), os limites da área de estudo (bairro Centro de Curitiba) e de toda cobertura vegetal foram desenhados com uma caneta (marcador permanente para retroprojeção, traço fino – 0,5 mm, cor preta) em uma folha de acetato (transparência para retroprojetor).

Foram identificadas todos as áreas ocupadas por quaisquer tipos de vegetação (gramados, ruderais, copas de árvores, etc) sejam elas públicas ou privadas, desde que visíveis na escala da fotografia aérea (1:8.000).

A área de estudo e a área ocupada pela cobertura vegetal foram calculadas com o auxílio de papel vegetal milimetrado. Todos os cálculos foram feitos, primeiramente, com base nas áreas delimitadas nas fotografias aéreas já que estas apresentam distorções.

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Para se trabalhar com resultados mais próximos da realidade, a área total da cobertura vegetal foi transformada em porcentagem e este valor foi utilizado para o cálculo da área total da cobertura vegetal considerando-se a área do bairro Centro.

Localização da área de estudo.

O município de Curitiba, capital do Estado do Paraná, com uma área de 432 km2, 1,6 milhões de habitantes (Censo 2000), altitude média de 908 m (s.n.m) e coordenadas 25º25’48’’ Sul e 49º16’15’’ Oeste, compõe, com outros 24 municípios, a Região Metropolitana de Curitiba com uma população total de 2,42 milhões de habitantes (Fig. 2).

O bairro Centro do município de Curitiba apresenta-se bem adensado pelas construções de gabaritos diferenciados e uma mistura de usos, características comuns aos centros das grandes cidades brasileiras. Com uma área de 3.293.790 m2 e uma população

de 32.623hab (Censo 2000), o bairro Centro está delimitado pelas ruas Conselheiro Araújo, Ubaldino do Amaral, avenida Sete de Setembro, ruas Desembargador Motta, Professor Fernando Moreira, alameda Augusto Stellfeld, travessa Nestor de Castro, rua Barão do Cerro Azul, praça Dezenove de Dezembro, avenida João Gualberto, ruas Padre Antonia, Gal. Carneiro (Fig. 2).

Resultados e Discussão

A quantificação da cobertura vegetal do bairro Centro no município de Curitiba, levando-se em consideração que os estudos foram realizados segundo o procedimento acima descrito e tendo como base a terminologia para o verde urbano proposta por CAVALHEIRO et al. (1999), apontou para o valor de 12,56%, ou seja, dos 3.293.790 m2

da área do Centro, 413.700 m2 são cobertos por vegetação.

Dividindo-se o valor da área de cobertura vegetal (413.700 m2) pelo número de

habitantes do Centro (32.623hab), encontra-se o índice de 12,70 m2 de cobertura vegetal

por habitante.

É importante observar que, segundo a terminologia proposta por CAVALHEIRO et

al. (1999) o índice de 12,70 m2 de cobertura vegetal por habitante não deve ser confundido

com o índice de áreas verdes, já que no cálculo deste não se deve considerar as copas de árvores, canteiros, pequenos jardins de ornamentação, rotatórias pois são áreas que não podem propiciar um uso e condições para recreação.

A título de comparação, o quadro 1 apresenta alguns índices encontrados na literatura, bem como, os encontrados neste trabalho. Cuidado deve ser tomado na

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comparação de índices que não foram obtidos por meio de métodos e técnicas semelhantes. Os três primeiros, Distrito de Santa Cecília (município de São Paulo/SP), Jardim Tranqüilidade (município de Guarulhos/SP) e Centro de Curitiba, podem ser comparados sem grandes problemas, levando-se em consideração as características das fotografias aéreas.

Quadro 1 – Valores de cobertura vegetal para várias localidades.

Cobertura Vegetal

Área estudada Foto aérea Fonte

% m2 / hab. Distrito de Santa Cecília (1) 1:10.000 preto e branco / 1989 NUCCI (2001) 7 2,96 Jd. Tranqüilidade (2) 1:6.000 – colorida 2000 NUCCI e ITO (2002) 4 2,52 Centro de Curitiba (3) 1:8.000 – colorida 2000 NUCCI et al (2003) 12,56 12,70 Município de Curitiba --- HARDT (1994) 60 --- Porto Alegre Área central 1:8.000 RUSZCZYK (1986) de 7 a 15 ---

Cidade de Maringá --- HENKE-OLIVEIRA

et al. (1994)

--- 20,6

Organização: NUCCI, J.C. et al. (2003) Obs.:

(1) O Distrito de Santa Cecília está localizado na área central do município de São Paulo/SP.

(2) O Jardim Tranqüilidade é um bairro próximo ao Centro do município de Guarulhos/SP. (3) Resultados deste trabalho.

Constata-se, com base no quadro 1, que os valores de cobertura vegetal encontrados para o Centro de Curitiba estão acima dos encontrados nos bairros de Santa Cecília e do Jd. Tranqüilidade, equiparando-se aos encontrados nas áreas centrais de Porto Alegre.

Todavia, nenhum deles atinge os valores sugeridos pela literatura, ou seja, 30% (OKE, 1973 apud LOMBARDO, 1985) e 33% (SUKOPP e WERNER, 1991).

Observou-se, também, que o índice de 12,56% de cobertura vegetal para o bairro Centro de Curitiba, está acima do valor de 5% apontado por OKE (1973 apud LOMBARDO, 1985) como determinante de características semelhantes às de um deserto.

Entretanto, como já salientado, o índice não deve ser apresentado de forma isolada, mas sim acompanhado da distribuição espacial da cobertura vegetal, procedimento que poderá indicar a presença de desertos florísticos se a cobertura vegetal estiver concentrada em certos pontos do bairro.

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A figura 3 mostra a distribuição espacial da cobertura vegetal do Centro de Curitiba.

A classificação da cobertura vegetal do Centro de Curitiba (Fig. 3) com base nas categorias sugeridas por JIM (1989), apresentadas na figura 1, indica que há uma predominância do tipo Isolated com a variante Dispersed, sendo que, na parte nordeste (Parque Passeio Público) e leste (limites com o bairro Alto da XV) predomina o tipo

Isolated com as variantes Clustered e Clumped.

Pode-se dizer, portanto, que as partes nordeste e leste do bairro Centro apresentam uma maior quantidade e conectividade na cobertura vegetal e que a parte mais central pode ser considerada um deserto florístico, sustentando cobertura vegetal apenas em algumas praças isoladas.

Considerações Finais

O bairro Centro no município de Curitiba apresentou 12,56% de sua área cobertos com vegetação, perfazendo um índice de 12,70 m2 de cobertura vegetal por habitante.

Esses valores estão acima dos já encontrados em pesquisas semelhantes realizadas em outros centros urbanos mas são inferiores aos sugeridos pela literatura. A cobertura vegetal não apresenta conectividade suficiente sendo predominante o tipo Isolated com a variante

Dispersed com pequena ocupação do tipo Isolated com as variantes Clustered e Clumped

nas partes nordeste e leste do bairro.

O método de levantamento e análise da cobertura vegetal apresentado, mostrou-se ser de fácil aplicação e entendimento da população em geral sendo, portanto, indicado como um modelo simples que permite evidenciar aspectos da qualidade ambiental das áreas urbanas, bem como estabelecer comparações entre municípios e entre bairros do próprio município.

Os fatores ecológicos e os custos ambientais da manutenção dos grandes centros consumidores não deveriam ser ignorados no planejamento urbano.

A consideração dos fatores ecológicos nas áreas urbanizadas passa, também, pela resolução de problemas relacionados com a conceituação, classificação, quantificação e distribuição espacial do verde urbano.

Atualmente, a comparação de índices de verde entre cidades é um equívoco, exceto quando acompanhado da definição dos termos, da escala espacial e do método de coleta dos dados.

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Referências

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LEFEBVRE, H. O direito à cidade. São Paulo: Nacional, 1969

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Fig. 2 – Mapa de localização da área de estudo.

0 100 200 metros

Fonte: fotos aéreas coloridas, escala 1:8.000, PMC – 2000.

Org.: Laiane Ady Westphalen, 2003.

N

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