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Revista Latino-americana de Estudos do Trabalho, Ano 17, nº 27, 2012, -7. Editorial

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Academic year: 2021

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Editorial

Um dos destaques deste número 27 da RELET é a divulgação de resultados da pesquisa feita por Jorge Walter e Diego Szlechter no Sex-to Congresso da ALAST, realizado na Cidade do México em abril de 2010. No texto, “La profesionalización de los estudios del trabajo en América Latina. Resultados de una encuesta”, os autores apresentam um interessante quadro sobre o dinamismo da comunidade de estudiosos do trabalho e de suas associações na América Latina dos últimos 30 anos. A ALAST, com mais de 20 anos de existência, é referência inconteste no continente, por sua capacidade de circulação por vários países, por manter a RELET ao longo desse período, e por favorecer uma “profissio-nalização” dos estudos do trabalho. O texto examina ainda a formação desses cientistas sociais, sua inserção em instituições, as fontes de finan-ciamento dos seus projetos e a participação em redes locais e interna-cionais e através dos livros, artigos, textos de divulgação etc., com isso iluminando o desenvolvimento da disciplina e seus pontos de ruptura e continuidade.

Temos ainda a satisfação de apresentar, na Seção Memória des-te número, uma entrevista com a socióloga argentina Marta Novick. O relato de sua trajetória intelectual e profissional permite identificar, nos anos 1970, um movimento latino-americano pelos temas da sociologia do trabalho e a influência das mobilizações populares e de um sindi-calismo recuperado. “Na Argentina, na época, não se pesquisava sobre o campo da Sociologia do Trabalho, o objeto de estudo não era nem o

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trabalho nem o emprego, nem seus contextos e circunstâncias. Era uma sociologia do movimento operário ou da ação sindical”. A preocupação constante com a participação dos trabalhadores nas empresas e a ação sindical imprimiu uma marca nos estudos desse período na Argentina e em outros países do continente. “Era também um momento de ‘espe-rança’ na América Latina”, afirma Marta Novick. Para ela, a influência da sociologia europeia continuava forte, mas iniciava-se um esforço de reconhecer nos temas latino-americanos uma singularidade própria. A época da ditadura militar na Argentina (1976-1983) não impediu a pes-quisa junto a trabalhadores e sindicatos, apesar da desconfiança gover-namental, e deu origem a pesquisas sistemáticas sobre processo e con-dições de trabalho. Atuando há alguns anos no Ministério do Trabalho argentino, Marta Novick reconhece a importância do tema do emprego e do que acontece no interior das fábricas. Na sua interpretação, “os traba-lhadores continuam tendo escassa autonomia, longas jornadas, trabalhos repetitivos, mas o olhar está depositado centralmente no emprego e nas formas que adota”. Sugere então a possibilidade de escrever uma “histó-ria do trabalho na Argentina com um olhar mais sociológico”. E termina com um desafio para a Sociologia do Trabalho na América Latina: “vol-tar a escu“vol-tar nossas sociedades e os desafios do trabalho com uma nova significação”, rompendo com velhos paradigmas e desenvolvendo novos conceitos que incluam dimensões da economia e da política.

A RELET 27 traz também um conjunto de artigos sobre ques-tões sindicais no Brasil e na Argentina, que formam seu núcleo temático principal. Os dois textos que abordam o sindicalismo no Brasil o fazem com objetivos diversos. Ruy Braga, em “Por uma sociologia da inquie-tação operária”, trabalha com diferentes interpretações sobre o chama-do “advento chama-do lulismo”, ou seja, as consequências chama-do períochama-do Lula na Presidência da República, no sentido da “adesão das classes subalternas brasileiras ao atual regime de acumulação pós-fordista financeirizado”. Discute a noção de “satisfação” da “fração mais pobre e precarizada das massas trabalhadoras no país” e desenvolve a noção sociológica de “precariado” – ou proletariado precarizado. Para o autor, “o precariado é formado por este amálgama de trabalhadores, excluídos os trabalhadores profissionais e a população pauperizada”. Braga resume as contribuições sociológicas sobre trabalho no Brasil e avalia que é possível “acom-panhar a formação da angústia do precariado brasileiro. Uma sensação que, especialmente, após 1968, amadureceu, arremessando na segunda metade da década de 1970 a insatisfação operária para o centro da cena

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política nacional”. O trabalho, pois, tem pretensões analíticas de longo curso, buscando na produção sociológica passada os elementos da cons-trução de um esquema interpretativo sobre o presente.

Andréa Barbosa Gouveia e Marcos Ferraz, em “Estrutura sindical e cenário político: o sindicalismo docente no Mato Grosso do Sul e no Paraná”, discutem o sindicalismo docente público e sua especificida-de no contexto especificida-de uma estrutura sindical brasileira marcada por forte regulamentação. O fato de esse tipo de sindicato atuar em uma realida-de menos restritiva (já que não está sujeito aos controles da legislação sindical) permitiu a construção de organizações estruturalmente dife-rentes. Os autores defendem que “analisar o sindicalismo é decifrar e compreender a ação de atores específicos, com necessidades materiais presentes, inseridos em perspectivas de futuro concretas, envolvidos em conflitos políticos reais e no interior de marcos institucional e cultural delimitados”. Logo, o texto também tem pretensões analíticas mais am-plas, mesmo se não tão ambiciosas quanto o de Ruy Braga.

No artigo “Los trabajadores subcontratados y sus nuevos desa-fíos sindicales: imágenes y memoria colectiva del sindicato argentino UETTEL (Unión de empleados y técnicos de las telecomunicaciones)”, Emanuel Ynoub identifica um contexto de maior dinamismo na nego-ciação coletiva e nos conflitos trabalhistas a partir de 2003 na Argen-tina, apontando o surgimento de novos atores, além dos trabalhadores e sindicatos de setores tradicionais. Seu estudo enfoca a ação coletiva de trabalhadores subcontratados, o surgimento de um sindicato de tra-balhadores terceirizados e a construção da memória coletiva. O artigo recupera, através de imagens e fotografias, “uma identidade telefônica e uma resignificação da visão sobre o trabalho subcontratado”.

Em “Sindicalismo empresarial: problemas, conceptualización y economía política del sindicato”, os autores Pablo Ghigliani, Juan Gri-gera e Alejandro Schneider fazem uma revisão crítica do modo como as ciências sociais argentinas vêm tratando o “sindicalismo empresarial” (quando uma importante fração do sindicalismo optou por participar dos negócios econômicos abertos pelas reformas do mercado) e ao final pro-põem uma nova abordagem para o tema. Identificam duas correntes de interpretação relevantes. De um lado, o sindicalismo empresarial como um “produto derivado das negociações e concessões que permitiram ao governo evitar o enfrentamento com as centrais sindicais”; e, de outro, como business unionism norte-americano. Argumentam que as

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explica-ções existentes são insuficientes por falta de ênfase na dimensão sócio-histórica e ausência da perspectiva que considera a economia política do sindicato. Temos aqui, portanto, mais um esforço analítico de pretensões mais amplas que, esperamos (como, aliás, no caso dos artigos sobre o sindicalismo brasileiro), pode estimular a realização de novas pesquisas.

Ainda neste número, o texto “Perfil del capacitando en Chile: variables que inciden en el acceso”, de Nicolás Didier Pino e Cristian Pérez González, discute a importância do tema da capacitação para o senvolvimento econômico e a qualidade do trabalho, colocando em de-bate o efeito de variáveis demográficas, sociais e trabalhistas no acesso ao processo de capacitação. Utilizando dados de 2009 da “Encuesta de Caracterización Socioeconómica (CASEN)” e do informe técnico for-mulado pelo “Servicio Nacional de Capacitación y Empleo (SENCE)”, os autores demonstram que categoria ocupacional e níveis de educação formal são as características de maior relevância nesse processo e a par-tir daí discorrem sobre as implicações desses resultados para as políticas públicas.

O texto de Veronika Sieglin, “El impacto del acoso laboral en los observadores. Estudios de caso en instituciones académicas en México”, aborda tema bastante atual do que se chama assédio moral no trabalho (acoso laboral) a partir de uma investigação que avalia o impacto do as-sédio sobre quatro pesquisadoras de educação superior no México, que observam as agressões sem serem diretamente afetadas por elas. Duas pesquisadores intervêm no conflito e duas outras se abstêm. O texto ana-lisa então os dois grupos quanto à relação com a vítima, suas atitudes e ações diante do assédio, suas expectativas quanto ao comportamento da organização e o impacto do seu papel de observadoras em sua própria saúde psicofísica. Ao final, revelam que as organizações de trabalho, ce-nário do assédio, não castigaram os que assediaram, não protegeram as vítimas e puniram os observadores que tentaram impedir as agressões.

Maria Rosa Lombardi, em “Arquitetura militante: relações de gê-nero em um empreendimento de trabalho associado”, estuda uma experi-ência de trabalho associado entre arquitetos que se dedicam à assessoria técnica para habitação popular, em construções por mutirão. Trata-se de estudo de caso, que recupera vinte anos de história de uma ONG, com ênfase em dois aspectos: a organização do trabalho e a divisão sexual do trabalho técnico entre arquitetos e arquitetas (tanto no escritório quanto nas obras), tornando possível identificar embates de gênero, de gerações

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e de saberes, presentes tanto junto aos trabalhadores da construção civil, como junto às lideranças dos movimentos.

Valmir Luiz Stropasolas, em “Trabalho infantil no campo: do problema social ao objeto sociológico”, reflete sobre a importância de aprofundar sociologicamente o conceito de trabalho infantil. O texto su-gere que as “concepções teóricas clássicas na sociologia e os métodos e técnicas convencionais de investigação não instrumentalizam suficien-temente os pesquisadores para abordar os espaços específicos do mundo das crianças, suas visões de mundo e expectativas”. A partir dessa cons-tatação, discute as diversas interpretações em torno do sentido do traba-lho infantil, com suas especificidades nos contextos rurais, a partir da análise das práticas e relações sociais em que se inscreve o trabalho das crianças nos processos produtivos rurais. Dentre outras coisas, chama atenção para a diferença entre a lógica camponesa e a inserção das crian-ças no trabalho agrícola familiar (na forma da “ajuda”), por um lado, e o trabalho infantil em empresas agrícolas (tipicamente, exploração ilegal do trabalho), por outro.

Por fim, apresentamos a resenha de Claire Auzias sobre o livro de sociologia La part de l’étranger.e: travail et racisme, de Hélène Yvonne Meynaud, que analisa a discriminação racista e a discriminação sexista no trabalho na França e na Europa contra os estrangeiros no mun-do mun-do trabalho. Boa leitura.

Referências

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