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A CONSTRUÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DE ESPAÇOS PARA GESTÃO E DISCUSSÃO DAS AÇÕES AFIRMATIVAS NA UEFS

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A CONSTRUÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DE ESPAÇOS PARA GESTÃO E DISCUSSÃO DAS AÇÕES AFIRMATIVAS NA UEFS

INTRODUÇÃO

As pesquisas e estudos sobre as ações afirmativas no Brasil constituem um campo bastante explorado nos últimos anos. Dissertações, teses, artigos e livros publicados demonstram uma gama variada de abordagens, que perpassam, desde o histórico da luta para a implantação das ações afirmativas nas universidades e institutos, até as ações relativas a permanência estudantil, e ainda a construção e implementação da legislação específica sobre o ensino da cultura afro-brasileira e indígena, e a educação para as relações raciais.1

No que diz respeito às instituições de ensino superior, percebe-se um maior volume de trabalhos acerca das ações afirmativas nas instituições federais,2 ainda que as universidades estaduais tenham sido as pioneiras na adoção da reserva de vagas como medida de ação afirmativa para os grupos historicamente excluídos.3 Na Bahia a adoção de reservas de vagas socio raciais nas quatro Uebas se constituiu aos poucos, tendo a Uneb como pioneira do processo, e a Uefs, a segunda a implementar o sistema de cotas para o acesso ao ensino superior.

A IMPLANTAÇÃO DAS AÇÕES AFIRMATIVAS NA UEFS

A atuação do movimento negro foi imprescindível para que as universidades, assim como a Uefs deixassem a inercia quanto a adoção de políticas sociais a favor dos grupos historicamente excluídos. Como afirma Gomes:

O Movimento Negro brasileiro faz parte do processo de produção da pedagogia dos movimentos sociais. A principal tarefa desse movimento social é a luta contra

1 Dentre os trabalhos que apontam a diversidade de temáticas ver: SOUZA, Railda Neves. A perspectiva afrocentrada

do ensino de história no CEUP: após mais de uma década da Lei n. 10.639/03. Mestrado em História da África da Diáspora e dos Povos Indígenas. Cachoeira, 2016. SILVA, Paulo Vinicius B. da. et al. Políticas afirmativas. In: Paulo Vinicius B.; RÉGIS, Kátia; MIRANDA, Shirley A. de (Orgs.). Educação das relações étnico-raciais: o estado da arte.

Curitiba: NEAB-UFPR e ABPN, 2018. p. 561 – 621

2 Ver nesse sentido o levantamento das teses e dissertações da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações.

BDTD.

3 A Universidade Estadual da Bahia, UNEB e a Universidade Estadual do Rio de Janeiro, UERJ, a partir de processos distintos foram as universidades pioneiras na adoção das ações afirmativas.

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um fenômeno que o Brasil ainda insiste em dizer que não existe ou, se existe, dá- se de forma mais branda em nosso país do que em outros: o racismo (GOMES, 2019, p.144).

A luta por políticas de ações afirmativas na Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS, se intensifica no ano de 2002, quando o Núcleo de Estudantes Negros e Negras da Uefs – NENNUEFS,4 durante o III Congresso Estudantil Universitário coordenou uma mesa redonda intitulada: “O sistema de cotas para acesso ao ensino superior”, e logo depois, no mesmo ano, o referido grupo, participou de uma outra mesa redonda, junto a um professor da instituição, com o tema: “Política de Cotas na UEFS”. A partir daí, outras ações foram articuladas e em agosto de 2003, o Nennuefs encaminhou a gestão da Uefs um documento intitulado “Por Políticas de Ações Afirmativas: Cotas para Negros na Uefs”, solicitou aos Conselhos Superiores da Universidade a criação de um Grupo de Trabalho Institucional Pró-Cotas na Uefs e a inclusão, nos processos seletivos de um mecanismo que permitisse a identificação do perfil racial dos estudantes.

Em 2004, após forte pressão do Nennuefs em parceria com o Movimento Negro de Feira de Santana representado por outras entidades, como a Frente Negra Feirense, Frenef e a Liga de Cultura Negra de Feira de Santana, o tema das ações afirmativas entrou na pauta do Conselho Superior Universitário – Consu/Uefs, que em reunião, decidiu criar uma Comissão com o objetivo de elaborar uma proposta para acesso e permanência de grupos historicamente excluídos do ensino superior. Ao final de 2005 a Comissão apresentou o levantamento do referido perfil racial e explicitou, à época, a baixa representatividade de negros nos cursos de bacharelado, principalmente os considerados de alto “prestígio social”. Ao concluir os trabalhos, a comissão entregou ao Consu uma proposta de política de ações afirmativas para a Uefs. Essa foi avaliada pelos conselheiros e aprovada em reunião extraordinária, realizada em 20 de julho de 2006 sendo designada Resolução Consu 034/2006.

Através da Resolução Consu 034/2006 a Uefs implantou cotas sociais e raciais mediante a reserva de vagas para grupos historicamente excluídos a partir do processo seletivo 2007.1, e estabeleceu o prazo de 10 anos para que esta fosse revisada. Foram reservadas 50% das vagas dos cursos de graduação para estudantes oriundos de escola pública, dentre estes, 80% para negros, e 20% para não-negros, além de duas vagas extras por curso destinadas a estudantes indígenas e quilombolas. Atentando para recomendações da comissão para propor a política de ação afirmativa para a Uefs quanto ao desenvolvimento de ações para assistência estudantil de modo a assegurar a permanência dos estudantes, a Resolução Consu 034/2006 estabeleceu também uma Comissão de Permanência composta por representantes dos grupos atendidos pela reserva de vagas, por representantes da comunidade civil e instâncias administrativas e acadêmicas, para elaborar, acompanhar e divulgar relatórios anuais dos resultados da política bem como encaminhar ações voltadas para garantir a permanência dos estudantes.

DAS AÇÕES DA COMISSÃO DE PERMANÊNCIA E DA UNDEC

A Comissão de Permanência se constituiu como o primeiro espaço para o acompanhamento das ações afirmativas na Uefs, ainda que a Pró- reitoria de Graduação realizasse a implementação delas através da coordenação de seleção e admissão e da divisão de assuntos acadêmicos, enquanto instâncias administrativas, responsáveis pelo Processo Seletivo e matrícula dos alunos. Em maio de 2007, a mencionada comissão se reuniu pela primeira vez, iniciando um

4 O Nennuefs foi criado em 1996. Sobre o Nennuefs Ver: DAMASCENO, K. T. Movimento negro, um breve panorama dos anos 2000. In: SANTIAGO, Ana Rita et al. (Org.). Descolonização do conhecimento no contexto afro-brasileiro.

Cruz das Almas, UFRB, 2017.

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trabalho de análise acerca das condições da assistência estudantil, visando encontrar alternativas para a garantia da permanência dos estudantes, de modo prioritário, para os ingressantes pelo sistema de reserva de vagas. Com o apoio da administração da Uefs, a referida comissão realizou reuniões com o Secretário de Educação e a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial – SEPROMI, nos anos de 2007 e 2008. Como fruto dessas reuniões, a Uefs conseguiu a liberação de subsídio pelo governo do estado para implantar o restaurante universitário, o que ocorreu no início do semestre 2007.1. Outras demandas também foram atendidas pela administração central, mediante a utilização dos recursos próprios da instituição, dentre elas: a ampliação do número de bolsas da assistência estudantil, isenção das taxas de inscrição no vestibular para os beneficiários da reserva de vagas e a reforma e ampliação da residência universitária. Em articulação com o governo do estado, foi garantido recursos para a reforma de uma casa existente no campus para a criação da residência indígena, destinada exclusivamente para os indígenas aprovados no vestibular e solicitado a criação de um curso pré-vestibular destinado aos estudantes das escolas públicas para o atendimento dos estudantes das comunidades indígenas e quilombolas.

Enquanto atuava em prol de seus objetivos, a Comissão de Permanência passou a ser denominada de Comissão de Ações Afirmativas – CAA, após passar por reformulação, e em 2009, entregou a comunidade universitária o Programa de Ações Afirmativas da Uefs: Políticas de Acesso, Permanência e Pós Permanência, documento com a análise dos resultados dos primeiros dois anos do sistema de cotas e que apresentava estratégias para consolidação da política de permanência. Com os dados apresentados em 2009 foi possível visualizar os cursos cujas cotas eram completamente preenchidas e outros nos quais elas não chegavam a ser utilizadas, assim, como a percepção, de que as vagas extras para indígenas e quilombolas precisavam ser melhor divulgadas. Concluiu-se também que a Uefs precisava desenvolver uma política de permanência sólida envolvendo todos os setores da instituição para real promoção da igualdade social e étnico racial. Ansiava-se por:

Uma política de permanência estudantil, com foco na sustentabilidade de um projeto de democratização da universidade através da política de ações afirmativas, muito mais do que um conjunto de ações de assistência ou atendimento a demandas materiais, significa uma proposta ampla e articulada, com vistas à promoção das múltiplas dimensões do estudante universitário e a constituição de um ambiente adequado, com as condições plenas de desenvolvimento acadêmico (CAA, 2009, p.25).

O setor responsável pela assistência estudantil na Uefs, desde os anos 80, era a Unidade de Organização e Desenvolvimento Comunitário – UNDEC, que atuava também para atender as demandas de assistência aos servidores docentes e técnicos. Entretanto, ante a implementação da política de cotas, a demanda pela criação de uma instância específica para ampliar e fortalecer as ações afirmativas, bem como, consolidar as ações e programas para a permanência estudantil na instituição, se tornou uma medida necessária e urgente. Era preciso revisar, ampliar e criar programas direcionados a assistência estudantil, considerando o perfil socioeconômico dos estudantes optantes da reserva de vagas, assim como, articular e efetivar a política de ações afirmativas da Uefs. Nesse contexto, em dezembro de 2013, através da Resolução Consad 065/2013, a Undec teve seu nome alterado para Pró-Reitoria de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis.

A PROPAAE E A CONSOLIDAÇÃO DAS AÇÕES AFIRMATIVAS: DO ESPAÇO E DA VISIBILIDADE

Instalada em 24 outubro de 2014, a Pró-Reitoria de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis– PROPAAE, substituiu a Undec, ocupando o seu espaço físico e mantendo as ações direcionadas para a assistência aos estudantes através das seleções para ingresso na residência

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universitária, seleções para a bolsa auxílio especial destinada aos residentes e a bolsa estágio acadêmico. Ambas implicando em contrapartida dos estudantes com carga horária destinada a atividades laborais. Neste sentido, um dos desafios postos, consistia na elaboração de um programa de assistência estudantil que não implicasse na contrapartida citada e, atendesse aos aspectos psicossociais e acadêmicos que envolve a vida do discente, de modo especial os estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica que ingressaram via sistema de reserva de vagas.

Considerada uma pró-reitoria com feições administrativas e acadêmicas, a Propaae obteve assento nos conselhos superiores da universidade: Consepe e Consu, sendo representada pelo seu pró-reitor (a). Ressaltando que a dinâmica das decisões sobre a vida universitária perpassam pelos debates e deliberações dos mencionados conselhos, considerando a autonomia das universidades conforme estabelecido no artigo 207 da Constituição Federal, ter espaço nesses, significou um passo importante para as ações afirmativas e a permanência estudantil, na medida em que as questões a elas pertinentes, se tornavam objeto de diálogo dos participantes dos conselhos, cuja composição, era e ainda é, marcada pela presença dos diretores de departamentos, coordenadores dos cursos de graduação e pós-graduação, representantes das entidades estudantis, dos docentes e técnicos, além dos pró-reitores e da reitoria.

Estabelecida a Pró-reitoria de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis, aos poucos, foi se organizando a sua estrutura administrativa, definindo atribuições para os setores e suas possibilidades de articulação. A aprovação do regimento interno da Propaae pelo Consu, em maio de 2018, através da Resolução Consu 025/2018 foi um importante passo para o conhecimento da comunidade universitária sobre atribuições e limites de cada setor, bem como o organograma da pró-reitoria. Com três finalidades específicas definidas como: 1 - propor, planejar e acompanhar as políticas de ações afirmativas; 2 – Planejar, implementar, coordenar e consolidar programas de assistência estudantil que visem ampliar condições para a permanência; 3 – Planejar, implementar, coordenar e consolidar ações de apoio aos estudantes e as entidades estudantis da Uefs,5 a Propaae delimitou seus objetivos e seu campo de atuação. Composta por sete setores administrativos: o Gabinete da Pró-Reitoria de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis, a Coordenação Geral, a Secretaria, a Coordenação de Políticas Afirmativas – CPAFIR, a Coordenação de Assuntos Estudantis – CODAE, o Núcleo de Apoio Psicossocial e Pedagógico – NAPP e o Núcleo de Alimentação no Campus – NAC, a Propaae buscou articular as ações dos setores de acordo os seus objetivos, em consonância com as demandas estudantis, e estabelecendo parcerias com outros setores da universidade e da comunidade externa.

Destaca-se entre as articulações realizadas, o diálogo e parceria com a Comissão de Ações Afirmativas, a CAA, esta teve um papel fundamental desde o início da implementação das ações afirmativas, como citado anteriormente, e continuou a cooperar com a Propaae no acompanhamento das ações voltadas para a assistência estudantil e na definição das diretrizes gerais para a consolidação das ações afirmativas na Uefs.

Entretanto, foi preciso criar um espaço administrativo para o desenvolvimento dos trabalhos necessários ao atendimento das demandas relativas as políticas afirmativas bem como possibilitar a ampliação da visibilidade destas. Com esse propósito, foi criada na Pró-reitoria, a Coordenação de Políticas Afirmativas – CPAFIR, tendo, dentre as suas atribuições, conforme o regimento: propor, orientar, avaliar, acompanhar e divulgar as políticas e programas de ações afirmativas; articular parcerias com os setores da universidade e instituições externas em prol do fortalecimento da política afirmativa e assistência estudantil da Uefs; incentivar e apoiar núcleos de discussão na Uefs sobre as temáticas de gênero, assistência estudantil, raça e etnia, diversidade

5 UEFS. Conselho Superior (CONSU). Resolução Consu 025/2018.

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sexual, inclusão de pessoas com deficiência e educação; proceder o encaminhamento das demandas relativas às políticas afirmativas; e cooperar com a execução das políticas de assistência estudantil.

Em consonância com as suas atribuições, a Cpafir atuou na promoção e apoio a variados eventos com o objetivo de dar visibilidade a política em voga, contribuindo para a discussão sobre a diversidade, o racismo e a intolerância religiosa, através de mesas redondas, ciclos de debates e seminários realizados em parceria com professores, servidores e estudantes dos núcleos e cursos da Uefs. Dentre os eventos realizados destacamos os que foram organizados em parceria com a Comissão de Ações Afirmativas – CAA: o Seminário sobre o Programa de Permanência Estudantil da Uefs, em 2016, o Seminário dos 10 Anos de Ações Afirmativas, em 2017 e a Apresentação do Relatório da Política de Ações Afirmativas da Uefs, em 2018. O primeiro teve por objetivo avaliar a política de permanência e assistência estudantil implementada pela Uefs e conhecer as experiências de outras instituições brasileiras, como a Ufscar, a Ufmg, a Ufrb e a Uneb. O último permitiu avaliar o impacto da política na universidade, verificando as taxas de evasão e conclusão, sobretudo as taxas de ingresso de negros, indígenas e quilombolas na universidade.6

O Seminário dos 10 Anos de Ações Afirmativas na Uefs gerou grande expectativa por ser considerado fundamental para a discussão sobre a avaliação e a proposição da nova resolução do sistema de reserva de vagas. Durante o Seminário, através das falas dos diferentes componentes da comunidade universitária foi constatada a efetividade das ações afirmativas quanto a maior presença dos estudantes negros e também o reconhecimento da presença dos estudantes quilombolas e indígenas. Através das mesas e debates também foi sinalizado a necessidade de ampliação do sistema de reserva de vagas para atender a outros grupos historicamente excluídos, a exemplo das pessoas trans, travestis e transgênero; pessoas com deficiências e indicado ainda a necessidade de estender o sistema na pós graduação. A implantação da comissão de verificação como medida efetiva de combate às fraudes, também foi objeto das discussões. Seguindo a perspectiva defendida por Vaz,

[...]as comissões de verificação têm se estabelecido, nos últimos anos, como mecanismo de concretização do direito à (dever de) proteção contra a falsidade de autodeclarações raciais. Sem elas tais ações afirmativas são esvaziadas e perdem seus fundamentos, por não serem capazes de alcançar o resultado a que se destinam, qual seja: o efetivo incremento da representatividade negra nos espaços de poder (VAZ, 2018, p.35).

Na Uefs, as discussões sobre as comissões de verificação ganharam maior fôlego após o Seminário dos 10 Anos das Ações Afirmativas, havendo além de uma mesa realizada durante a programação do novembro negro de 2018, a oferta de um curso sobre a comissão de verificação, a partir de fevereiro de 2019, para a sensibilização da comunidade universitária e da sociedade civil sobre a questão. Importante registar também a movimentação estudantil de cobrança junto a Propaae e a reitoria para a implantação da comissão de verificação, utilizando de canais, como denúncias, junto a ouvidoria da instituição e do estado, acerca de fraudes no sistema de reserva de vagas. Em resposta, desde 2017, a Cpafir atuou junto as instâncias superiores comunicando as denúncias recebidas e solicitando as providências cabíveis. Neste sentido foram instituídas cinco comissões de sindicância. As fraudes confirmadas implicaram em desligamento dos estudantes envolvidos, dentre estes, um recorreu à justiça e obteve parecer favorável a colação de grau. A Uefs recorreu e ainda aguarda posição da justiça sobre o recurso.

Com uma nova resolução para reserva de vagas aprovada em 2019, a Resolução Consu 10/2019 e a Resolução Consu 05/2020, ambas a vigorar a partir do segundo semestre letivo de

6 Para acessar Relatório da Política de Ações Afirmativas da Uefs, ver:

http://www.propaae.uefs.br/arquivos/File/relat_acoes_afirmativas_uefs_2018.pdf

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2020.2, foi estabelecida a Comissão Institucional de Verificação da Uefs. A Instrução Normativa nº01/2020, da Câmara de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis dispôs sobre sua composição e os procedimentos pertinentes a verificação e validação das autodeclarações. Em 24 de abril de 2020 através do Edital 01/2020, a Propaae, abriu inscrições para compor a Comissão de Verificação, e o primeiro curso de formação dos habilitados, conforme exigências do referido edital, encontra-se em desenvolvimento. De tal modo, a Uefs, segue os passos de outras instituições do país na defesa das ações afirmativas, buscando a articulação com as diferentes instâncias e setores da instituição e da sociedade civil, esta, representada pelos sujeitos integrantes dos diferentes movimentos sociais. Como assevera Nunes:

É da gestão pública a responsabilidade pela ocupação das vagas pelos sujeitos de direito. O processo de gestão de ações afirmativas implica numa reorganização da lógica administrativa sob o ponto de vista da institucionalidade das políticas que requerem não apenas uma execução formal de serviços nas etapas de acesso e permanência do/a ingressante, como também no acompanhamento do/a egresso/a” (NUNES, 2018, p.19).

Nesse sentido, ressaltamos o papel do Napp e da Codae, setores da Pro-reitoria de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis, que em diálogo e articulação com os colegiados de curso e a Pró-reitoria de Graduação, acolhem as demandas dos estudantes, através da escuta qualificada, e encaminham providências juntos aos setores necessários, desde aqueles responsáveis pelo suporte psicológico, acadêmico até o setor de infraestrutura da universidade. Ademais apresentamos a seguir um espaço criado institucionalmente, para além da CAA e da PROPAAE, a Câmara de Política Afirmativas e Assuntos Estudantis do Consepe.

A CÂMARA DE POLÍTICAS AFIRMATIVAS E ASSUNTOS ESTUDANTIS DA UEFS:

DO PORQUÊ E DAS AÇÕES

Considerados como “Colegiados maiores da estrutura organizacional da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), os Conselhos Superiores têm como competência formular as políticas institucionais e definir as diretrizes gerais das áreas acadêmica e administrativa” (PDI, 2019, p.34). Tendo em sua estrutura organizacional três Conselhos Superiores: o Conselho Universitário (CONSU), o Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (CONSEPE) e o Conselho de Administração (CONSAD), preservando a autonomia específica a cada um, no conjunto das atribuições, “avaliam e decidem sobre os diversos assuntos referentes ao funcionamento da UEFS, bem como concedem apoio diuturno aos reitores, estimulando-os na complexa tarefa de gerir a Instituição.” (PDI, 2019, p.34).

Para a análise empreendida neste texto importa-nos destacar o Consepe, por ser deste, a Câmara de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis. Através da Resolução Consepe 086/2017 foi realizada a alteração do Regimento deste Conselho implicando em sua composição com quatro câmaras: a) graduação, b) pesquisa e pós graduação, c) extensão e d) políticas afirmativas e assuntos estudantis. As atribuições da Câmara também foram definidas na resolução citada, entretanto, os seus componentes foram estabelecidos na Resolução Consepe 087/2017.

As razões para a implantação da supracitada Câmara perpassaram por várias questões, dentre elas: a) o reconhecimento do Consepe enquanto espaço democrático e legítimo para a deliberação das questões relativas às políticas afirmativas, os assuntos estudantis, e de modo especial a assistência estudantil, visto que a ausência, deficiência, ou a excelência dessas ações repercutem diretamente na permanência e na evasão estudantil; b) a necessidade das políticas afirmativas e os assuntos estudantis ultrapassarem os limites do gabinete da reitoria e da pró-reitoria alcançando através da Câmara específica um debate mais amplo e participativo; c) o fato da Uefs vivenciar os dez anos de estabelecimento das cotas e necessitar ampliar o debate nos espaços

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institucionais sobre a experiência vivenciada. Ainda que a Propaae em parceria com a CAA e a Prograd coordenasse as discussões, se considerou necessário avaliar e propor alterações a resolução em vigor e, a Câmara, foi identificada como um fórum privilegiado para a discussão de normas e resoluções.

Embora aprovada em 2017, a efetiva implantação da Câmara somente ocorreu um ano depois. Em agosto de 2018 após a sua instalação, a primeira discussão realizada na Câmara foi sobre as minutas de resoluções para os programas da assistência estudantil. Ao longo de oito reuniões foram discutidas várias questões sobre as minutas propostas e deliberadas alterações, de modo a atender as demandas estudantis e a capacidade de implementação de uma assistência estudantil qualificada e articulada a política de ações afirmativas desenvolvida pela universidade. A discussão sobre a minuta da resolução de reserva de vagas proposta pela CAA, em substituição a Resolução Consu 34/2006, também foi objeto de análise da Câmara, após três reuniões, foram aprovadas alterações e a proposição foi encaminhada ao Consu. Na sequência foram iniciados os debates sobre a Comissão Institucional de Verificação, havendo a aprovação da oferta do curso para sensibilização da comunidade universitária e a organização da Instrução Normativa nº 01/2020.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A narrativa apresentada sobre a construção e consolidação de espaços para a gestão e discussão das ações afirmativas na Uefs, demonstra como o processo de implantação e acompanhamento da política de reserva de vagas traz consigo a reestruturação da universidade para atender a dinâmica dos sujeitos partícipes da política. Muito ainda se teria a abordar, não apenas sobre as instâncias de gestão, mas sobre os espaços de discussões e pesquisas a exemplo do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros - Neabi, oNúcleo de Estudos de Desigualdades em Saúde - Nudes e o Laboratório de Estudos Conexões Atlânticas Diáspora Africana, Culturas Afro-brasileira e Indígena - Lecádia, dentre outros. Entretanto, nos limites permitidos para esta escrita, esperamos que a nossa contribuição, através do relato apresentado, possa estimular a criação de espaços institucionais específicos para a defesa das ações afirmativas e o combate ao racismo institucional que por muitas vezes e de formas diversas permeiam as universidades.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, N. L. F. de. et. al. Relatório da Política de Ações Afirmativas da Uefs o Sistema de Reserva de

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http://www.propaae.uefs.br/arquivos/File/relat_acoes_afirmativas_uefs_2018.pdf. Acesso em 08 de nov. 2020.

CAA. Programa de Ações Afirmativas da UEFS: Políticas de Acesso, Permanência e Pós Permanência. Feira de Santana, UEFS. 2009.

DAMASCENO, K. T. Movimento negro, um breve panorama dos anos 2000. In: SANTIAGO, Ana Rita et al. (Org.). Descolonização do conhecimento no contexto afro-brasileiro. Cruz das Almas, UFRB, 2017. pp-181-194.

GOMES, N. L. O Movimento negro brasileiro indaga e desafia as políticas educacionais. In: Revista da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros – ABPN, Uberlândia, v. 11, p.141-162, abr. 2019.

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MIRANDA, Shirley A. de (Orgs.). Educação das relações étnico-raciais: o estado da arte. Curitiba: NEAB-

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https://www.membros.abpn.org.br/download/download?ID_DOWNLOAD=58 Acesso em 05 nov. 2020.

NUNES, Georgina Helena Lima, Autodeclarações e Comissões: Responsabilidade Procedimental Dos/As Gestores/As De Ações Afirmativas. In: DIAS Gleidson Renato Martins e JUNIOR Paulo Roberto Faber Tavares, (org.) Heteroidentificação e cotas raciais: dúvidas, metodologias e procedimentos/. – Canoas: IFRS campus Canoas, 2018. pp. 11-30.

SILVA, Paulo Vinicius B. da et al. Políticas afirmativas. In: Paulo Vinicius B.; RÉGIS, Kátia;

VAZ, Lívia Maria Santana e Sant'Anna. “As Comissões de Verificação e o Direito à (Dever de) Proteção Contra a Falsidade de Autodeclarações Raciais” In: DIAS Gleidson Renato Martins e SOUZA, Railda Neves. A perspectiva afrocentrada do ensino de história no CEUP: após mais de uma década da Lei n. 10.639/03. Mestrado em História da África da Diáspora e dos Povos Indígenas Cachoeira,

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http://www.uefs.br/modules/documentos/index.php?curent_dir=1781.

Informações do(a)(s) autor(a)(es)

Ana Maria Carvalho dos Santos/ UEFS/anaclio66@gmail.com/http://lattes.cnpq.br/6598884337671858 Carina Silva de Carvalho Oliveira/UEFS/ carinauefs@gmail.com/ http://lattes.cnpq.br/2301011875204547 Cintia Souza Machado Ferreira/UEFS/ cintia@uefs.br / http://lattes.cnpq.br/8536261890761358

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