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3º Encontro da Região Norte da Sociedade Brasileira de Sociologia: Amazônia e Sociologia: fronteiras do século XXI

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3º Encontro da Região Norte da Sociedade Brasileira de Sociologia:

Amazônia e Sociologia: fronteiras do século XXI

GT6: Democracia, Violência e Conflitos Sociais

Violência contra etnias indígenas de Roraima em luta pela terra – uma análise do julgamento da morte do índio Macuxi Aldo da Silva Mota

Paulo Sérgio Rodrigues da Silva, Fundação UNIVIRR, E-mail: psergio04@gmail.com

Manaus, 26, 27 e 28 de setembro de 2012

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Violência contra etnias indígenas de Roraima em luta pela terra – uma análise do julgamento da morte do índio macuxi Aldo da Silva Mota

Paulo Sérgio Rodrigues da Silva Resumo

A ocorrência de ações violentas contra índios em Roraima não exclusividade de um determinado período da história, como foram nos séculos XVII e XIX, mas acontece continuamente. Um dos fatos ocorridos e mais emblemáticos da atualidade foi o assassinato do índio Macuxi Aldo da Silva Mota, na região Raposa Serra do Sol, em 2003. Pelas circunstâncias que envolveram o crime em pleno período de luta pela homologação da área Raposa Serra do Sol. O julgamento dos acusados em 2012 decepcionou as comunidades indígenas, pois para surpresa de todos os envolvidos na morte de Aldo foram todos absorvidos pelo júri popular. No bojo das discussões estão em pauta os discursos anti- indigenista a massificação dos povos indígenas, o sentimento de intolerância da sociedade em relação aos grupos étnicos, como também a falta de democracia nas convivências interétnicas.

Antecedentes históricos da violência contra indígenas

O estudo mais profundamente a questão da violência étnica, neste caso os atos violentos contra os povos indígenas, temos total clareza que a mesma está relacionada a questão da terra. As terras indígenas no Brasil, como também em outros Estados Nacionais da América Latina, continuam sendo um dos elementos de disputa, objeto de madeireiros, projetos minerais, grandes projetos agropecuários, multinacionais e o já conhecido agronegócio o que na prática significa uma luta constante de diversas etnias contra o extermínio. As pesquisas apontam que o Brasil é um dos países mais violentos da América Latina, em relação a violência étnica. Verificamos que a situação de várias etnias em todo o país é de constante alerta, pois o que está em jogo são fortunas em terras, em minérios, em madeira gerando diversas formas de violência tanto material como cultural.

No Brasil, e especificamente no estado de Roraima não é diferente. Roraima é um dos estados mais jovens da federação com uma das maiores populações indígenas, são mais de 45 mil no interior, somente na terra indígena Raposa Serra do Sol temos 20mil e mais de 10 mil em Boa Vista a capital, onde vivem em bairros periféricos, sobrevivendo de subemprego com

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longas jornadas de trabalho. Alguns negão sua própria condição de índio como forma de se proteger e garantir sua sobrevivência.

Embora a terra indígena Raposa Serra do Sol tenha ganhado notoriedade nos últimos anos, tanto a nível nacional como internacional, ainda é uma região desconhecida dos brasileiros. Situada a nordeste do estado de Roraima, está encravada dentro dos municípios de Pacaraima, Normandia, Uiramutã . Vivem nesta área as etnias, Ingarico, Macuxi, Patamona, Wapixanas, Taurepangue. Compreende uma área de 1 milhão e 700 mil hectares. Esta localizada a 120 Km de Boa Vista, a capital de Roraima, com difícil acesso, pois inexistem estradas pavimentadas. Somente uma parte dela é coberta pela rede de telefonia fixa, como também pelas redes de televisão (VIEIRA, SILVA, RAMALHO, 2010).

A partir de relatos sobre violência indígena descritos em vários autores, tais como Santilli, Clementino, Todorov e Lacerda, selecionamos alguns casos que demonstram o predomínio, ainda hoje, do não-índio, ao impor suas ações violentas contra os povos indígenas, em detrimento de seus interesses particulares e até mesmo com a participação de agentes públicos.

Paulo Santilli (2001), em sua obra Pemongon Patá: Território Macuxi, Rotas de Conflitos, analisando o período do final do século XX ao início do século XXI e os embates conflituosos na área Raposa Serra do Sol, analisa o roteiro histórico das principais crises envolvendo o grupo étnico Macuxi.

Nas descrições de Santilli (2001) ficam caracterizados os motivos de acirramento entre brancos e índios, em que os atos violentos estão vinculados diretamente à disputa pela terra.

De um lado, o fazendeiro que se aproxima, faz amizade e conquista a simpatia do índio para ganhar sua confiança, no intuito de apoderar-se da terra, de outro, o índio que, por sua vez, aceita a relação de compadrio, com o fim de ganhar a “proteção” e o alimento.

A partir dos interesses estabelecidos nessa relação, instala-se a matriz que causará discórdias, confusões, conflitos, mortes, torturas, dentre outras questões. Para destacar a gênese desses enfretamentos, Santilli conta que:

Residente na área empossada desde meados dos anos 50, Aldo Rodrigues estabeleceu relações de compadrio com os habitantes da aldeia Macuxi mais próxima, no caso, com um dos homens mais velhos da aldeia Ouro, Agrícola Pacheco; estas relações lhe permitiram um convívio pacífico com os índios vizinhos. Os índios mais idosos, moradores nas aldeias situadas

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nos campos do vale do Rio Uraricoera, mantêm, entretanto, presente, na memória oral, um tempo anterior a esse, marcado pela violência dos primeiros colonos civis ao instalarem suas posses naquela área, tanto queimando aldeias, expulsando os habitantes, quanto conduzindo-os a trabalhos forçados; chamam-no de ‘tempo de ditadura’. Também é bastante forte na memória oral Macuxi a postura clientelista por vezes adotada pelos posseiros, como Aldo Rodrigues, buscando obter o consentimento e o trabalho dos índios por meio de relações de compadrio, do préstimo de artigos industrializados e, sobretudo, da oferta de carne e leite (SANTILLI, 2001, p. 60).

É interessante observar que alguns fazendeiros ocupantes das terras indígenas não admitem o clima tenso estabelecido, atribuindo o conflito à Igreja Católica, por instigar e insuflar os indígenas à rebeldia (CENTRO DE INFORMAÇÕES DA DIOCESE DE RORAIMA – CIDR, 2001).

Os velhos fazendeiros, na verdade, nem reconhecem que existe problema.

Negam o conflito e acusam a Igreja de fomentar os conflitos e revoltas. Para esses, a solução é simples: continuar a viver ‘harmoniosamente’ nas terras, como sempre. Por isso tendem, na maioria das vezes, em boa consciência, a negar o conflito. Ou melhor, não reconhecem como tal os acontecimentos (matar uma rês, por parte dos índios, ou o gado que invade as roças, por exemplo) reduzindo isso a casos individuais de brigas que podem acontecer com qualquer um, índio ou não (CIDR, 1990, p. 35).

As ações violentas infligidas aos fazendeiros também tiveram como pano de fundo o não reconhecimento da organização indígena, visto como uma ameaça a sua presença nas terras que, por direito natural, não lhes pertencem.

A partir do momento que as comunidades indígenas dos lavrados1despertaram para a criação de gado foi necessário construir cercas, currais e barracos. Essa atitude configurou verdadeira ameaça aos fazendeiros:

Os fazendeiros começaram a não gostar disso. Perceberam que se este processo continuasse nas malocas, os rebanhos das comunidades iriam aumentar de maneira tal que não poderiam mais defender a tese de que os índios não precisam de terra porque não têm criação”. (CIDR, 1990, p. 47).

Convém destacar que as comunidades indígenas dos lavrados foram as precursoras na luta pelos seus direitos e destaque na organização de suas reivindicações. Contudo, não se

1 Como são denominadas as regiões de savanas situadas na porção nordeste de Roraima.

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pode olvidar a mobilização de outras etnias fora dessa região, como, por exemplo, os índios que estão na cidade de Boa Vista, os Yekuana, os Yanomami, os Ingarikó, dentre outros.

As lideranças indígenas perceberam o potencial de suas comunidades. Na visão dos fazendeiros, essa inovação passava a ser uma ameaça e, portanto, um incômodo ao lidar com um grupo que começava a ter uma organização representativa; que começava a cortar as relações perniciosas e que se assumia a luta da terra como uma questão de se fazer justiça.

Professores indígenas da Região das Serras – área que compõe a Terra Indígena Raposa Serra do Sol, localizada a nordeste de Roraima, narram a trajetória da violência junto às comunidades Macuxi, por meio de um texto elaborado coletivamente:

Nossa terra foi invadida por fazendeiros, garimpeiros, marreteiros e outros.

Nossos antepassados foram cruelmente escravizados e prostituídos por esses invasores, passando a depender dos brancos. A invasão provocou desunião, ameaças de morte, brigas, doenças, racismo, preconceitos, bebedeiras e festas de bagunça promovidas por não-indígenas. A maioria dos nossos parentes trabalhava para os não indígenas no garimpo, na empreitada como vaqueiro, e tinha muitas dívidas com os fazendeiros. Só lhe restava pobreza, fome, miséria. Nossos parentes eram proibidos de tirar palha, madeira, pescar, caçar, construir retiros e curral. Os não indígenas provocaram a destruição dos nossos lugares mais ricos em caça e pesca. Chegaram às corruptelas, o município e o quartel dentro da aldeia indígena Uiramutã. A presença desses invasores provocou muita violência física, moral e cultural e nos deixou desnorteados, sem saída para a caminhada da vida (CLEMENTINO, 2004, p. 25).

A Terra Indígena Raposa Serra do Sol está localizada a extremo norte de Roraima e está ocupada, tradicionalmente, por povos Macuxi, Taurepang, Ingarikó e Patamona.

A chegada dos fazendeiros às terras indígenas, com raras exceções, foi marcada pela subestimação ao indígena. Numa atitude de mostrar “superioridade” os fazendeiros ao se instalarem nas terras das comunidades indígenas: “[...] começaram a praticar atos de violência contra as comunidades, ameaçando, perseguido e impedindo-as de realizar seus trabalhos”

(CLEMENTINO, 2004, p. 27).

O testemunho dos indígenas Macuxi confirma a trajetória conflituosa na relação com aqueles que se estabeleceram em suas terras a fim de ludibriá-los. Os relatos atestam a animosidade existente entre as partes envolvidas, isto é, fazendeiros e índios:

Há uma história do seu Jacir, ainda na década de 1970, que é inspiradora para a nossa luta pelos direitos humanos e contra a violência. Em uma das primeiras assembleias que reuniu os tuxauas de Raposa Serra do Sol, seu

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Jacir e lideranças de sua região levaram um feixe de varas longas com quase dois metros cada uma. Seu Jacir falou sobre a história da invasão da terra indígena e contava sobre a estratégia dos fazendeiros de quebrar um tuxaua por vez. Alguns eram mortos, outros, enganados e iam para o lado dos fazendeiros. Para dar um exemplo do que estava falando, Seu Jacir pegou uma vara e quebrou. Depois, pegou duas varas e, quebrou; depois, partiu três varas, então, ele pegou o feixe todo de varas e mesmo fazendo força, não conseguiu quebrar. Ele explicou que cada vara era como um tuxaua, como uma comunidade e, se estivessem todos unidos, ninguém poderia quebrar o grupo. As varas usadas ficaram expostas por mais de trinta anos na missão Surumu e foram queimadas em 2005, depois de atentados de arrozeiros. As ideias que embasaram essa luta nunca foram destruídas, assim como não serão destruídas pela violência as ideias do fim dos locais de isolamento e das instituições opressoras, do direito à diversidade, do direito de expressão dos movimentos sociais sem que isso seja visto como crime. (VERONA, 2011, p.16).

Os mesmos interesses presentes nos conflitos envolvendo os grupos indígenas em Roraima, outrora, também permearam as invasões das terras ocupadas naturalmente pelos ameríndios. Todorov (2003), ao relatar as crueldades dos europeus na América, enfatiza que a compreensão da realidade dos povos ameríndios pelos colonizadores foi determinante para a destruição das populações nativas. Segundo o autor, os motivos pelos quais levaram os espanhóis a cometerem as atrocidades foram o desejo de enriquecer e a cobiça pelos tesouros escondidos nas terras dos índios.

Em quase um século, a busca por ouro em terras indígenas se tornou constante: “Na década de 1990, a presença dos garimpeiros foi intensificada após terem sido expulsos da área Yanomami. Essa invasão trouxe graves problemas, que modificaram a vida da comunidade, tais como: bebidas alcoólicas, prostituições [...]” (CLEMENTINO, 2004, p 27).

Dos vários registros existentes nada é comparado à intensificação das atividades quanto ao período de 1980. Uma quantidade de garimpeiros invadiu as terras dos Yanomami provocando desconforto aos povos existentes tradicionais nessas áreas, conflitos armados com mortes, quase sempre de indígenas e danos ao meio ambiente com o assoreamento de alguns rios, desmatamentos das matas virgens, pistas clandestinas e a contaminação das fontes aquáticas com o mercúrio.

Essa leva de mais de 50 mil garimpeiros em terras Yanomami provocou a indignação de muitas organizações nacionais e internacionais. A pressão desses grupos foi determinante para que o governo brasileiro tomasse medidas que garantissem a retirada dos garimpeiros.

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A Comissão da Ação pela Cidadania2 esteve em Roraima para avaliar a situação do garimpo na terra Yanomami, posteriormente, elaborou um denso diagnóstico sobre as péssimas condições de saúde dos indígenas e os estragos ambientais acarretados pelo garimpo nas regiões de Surucucus e de Paapiú (Comissão Pró-Yanomami-CCPY/CEDI-Centro Ecumênico de Documentação Indígena/Conselho Indígenista Missionário – CIMI). Vejamos algum dos relatos:

A área foi tomada de assalto por centenas de garimpeiros que estão dizimando os Yanomami da região (cerca de mil). Os garimpeiros atraíram dezenas de tendas comerciais ao local e um grande movimento de aviões e helicópteros. Permanecem na região, sem controle de qualquer espécie, uma vez que não há destacamento policial nem qualquer autoridade ali presente.

Estão destruindo física, moral e culturalmente os habitantes da maloca que se encontra ao lado do campo de pouso. (CCPY/CEDI/CIMI, 1989, p.31)

A determinação dos povos indígenas em lutar para garantir a homologação das terras provocou o acirramento conflituoso com os não-índios. A partir dos anos de 1970 os índios começaram a mobilizar-se nas assembléias anuais para exigir que suas terras da área Raposa Serra do Sol fossem demarcadas, isso gerou ao um intenso processo de violência praticado contra os índios por posseiros, fazendeiros e produtores de arroz ameaçados de deixar as áreas indígenas, onde habitavam. Durante essa luta foram assassinadas 21 lideranças indígenas, 54 ameaças de morte, 51 tentativas de homicídios, 80 casas destruídas, 71 prisões ilegais, 05 roças queimadas e 05 cárceres privados.

Um dos casos mais emblemático pelas circunstâncias ocorrido em Roraima foi o assassinato do índio Aldo da Silva Mota. No dia 02 de janeiro de 2003, conforme relato do Coordenador do CIR o senhor Jacir José de Souza no requerimento encaminhado ao Superintendente da Policia Federal de Roraima, o indígena ALDO DA SILVA MOTA, casado, 52 anos, morador da comunidade Lage, região das Serras, vaqueiro no Retiro Fé em Deus, pertencente ao indígena Inácio Brito, atendendo a um recado recebido dos vaqueiros da Fazenda Retiro, “pertencente” ao ex-vereador de Uiramutã o senhor Francisco das Chagas Oliveira, de que um garrote do rebanho a qual tomava conta havia se desgarrado e encontrava-se na Fazenda Retiro dirigiu-se sozinho a fazenda a fim de resgatar o garrote.

Nesse mesmo dia, segundo consta no Aditamento da Denúncia do Ministério Público Federal, Ação Penal n° 2003.42.00.001839-9, nas dependências da “Fazendo Retiro” os denunciados

2 A Ação pela Cidadania foi formada pela Ordem dos Advogados do Brasil, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Centrais Sindicais, Central Única dos Trabalhadores, Comissão Teotônio Vilela, Comissão de Justiça e Paz, Núcleo contra a Violência da USP e membros do Congresso Nacional.

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Elisel Samuel Martin e Robson Belo Gomes, vaqueiros até então, agindo conjuntamente assassinaram “à queima roupa” com disparos de arma de fogo o índio Aldo da Silva Mota.

Após o homicídio os dois vaqueiros enterraram em uma cova rasa o corpo do índio.

determinando que fossem mortos os índios que tentassem invadir a fazenda. Assim sendo, os co-denunciados, agora inocentados pelo júri popular, Elisel Samuel Martin e Robson Belo Gomes receberam armas e ordens de Chico Tripa, também inocentado, para matar qualquer índio que invadisse a fazenda. Aldo não contou com a sorte e no dia 2 de janeiro de 2003 ao ingressar na fazenda para resgatar o garrote pertencente a sua comunidade indígena, os capatazes do senhor Chico Tripa cumpriram fielmente a sua determinação e mataram o índio Macuxi. Acrescenta o Ministério Público que o denunciado Chico Tripa mantinha uma visão distorcida e ódio em relação aos indígenas tinha uma relação de ódio em relação, especificamente os ligados ao CIR, os mais organizados. Aldo da Silva Mota e toda a sua comunidade eram integrantes ao CIR, portanto os indígenas eram discriminados e odiados pelo denunciado Chico Tripa (MINISTÉRIO PÚBLICO, 2003).

No dia 9 de janeiro de 2003, num clima bastante tenso nas comunidades indígenas próximas ao retiro Fé em Deus, ao qual Aldo era vaqueiro, os indígenas HISTARLEY DE SOUZA e JOSÉ SILVA DE SOUZA ingressaram nos limites da FAZENDA RETIRO e enfim, conseguem encontrar a vala onde estava enterrado o corpo de Aldo da Silva Mota.

Avisada a comunidade, que se encontrava reunida, uma comissão vai até o local e confirma a presença de um corpo enterrado na vala com o joelho de fora. A partir daí a Policia Federal foi acionada e o corpo foi removido para o Instituto de Medicina Legal, em Boa Vista, onde foi realizado o laudo cadavérico, que supostamente apontaram como causa da morte “causa natural”. Um dos maiores erros, não se sabe se proposital ou não, cometidos pelo Instituto de Medicina Legal, pois num segundo laudo feito pelo Instituto Medico Legal, em Brasília, apontou de modo inequívoco a execução de Aldo por arma de fogo “à queima roupa”.(SILVA, 2007).

Segundo informações contidas no Laudo Cadavérico N° 1295/2003 do Instituto de Medicina Legal do Distrito Federal - Laboratório de Antropologia Forense, assinado pelos os peritos criminais: Jorge Jardim Zacca e Carlos Nalvo Machado Júnior, foram encontrados vários vestígios próximo ao local onde o corpo de Aldo da Silva Mota como a presença de sulcos produzidos pela espora que o índio usava manchas de sangue em diversos pontos da fazenda, fibras de tecidos desprendidos da roupa usada por Aldo, sinais indicativos que a vítima fora executado em local diverso e arrastado por aproximadamente 300 metros até uma erosão onde foi enterrado.

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Passados 9 anos da morte de Aldo da Silva os acusados foram julgados e absorvidos.

Esse fato revela as situações conflituosas em Roraima entre índios e não-índios. Pensando em contexto de Amazônia as impunidades têm funcionado como incentivo para que latifundiários, grileiros, fazendeiros, empresários do agronegócio a espalhem terror contra indígenas, trabalhadores rurais, ribeirinhos, indígenas na Amazônia. Para o Conselho Indigenista Missionário as agressões violentas em Roraima contra indígenas foram “apoiados pela classe empresarial, políticos e militares do Estado, além de sofrerem ostensiva perseguição por parte dos meios de comunicação” (CIMI, 2012, p. 01)

Para Paloshi (2012) a morte de Aldo Mota aconteceu em um contexto da luta pelos direitos territoriais dos povos indígenas, especificamente a luta pela homologação da área o da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Em Roraima o reconhecimento dos direitos dos índios encontra resistência e oposição de boa parte da classe econômica e política do Estado.

Para finalizar a análise do julgamento de Aldo observa-se o predomina em Roraima uma profunda visão anti-indigenista criada na sociedade por uma campanha ostensiva contra o direito dos povos à terra, além do preconceito acentuado (SOUZA, 2012)

Considerações finais

A partir das breves considerações feitas no artigo pode-se chegar algumas conclusões em torno da violação dos direitos indígenas em Roraima, especificamente o ato criminoso praticado contra o Aldo da Silva Mota. A primeira é que grande parte das transgressões que ocorreram estiveram diretamente associada à disputa pela terra como espaço de interesse dos não indígenas com finalidades da expansão das fazendas de criação de gados, exploração ilegal de minérios, madeiras e outros recursos naturais. A segunda conclusão que se pode chegar é o poder público local exerceu uma “política” de linha dura para com os povos indígenas a partir de suas organizações reivindicatórias pelos direitos. A terceira consideração que se pode chegar é que os próprios povos são protagonistas na luta pelo respeito aos seus direitos.

Em documento divulgado publicamente para à população de Boa Vista, antes do julgamento do indígena Aldo, os povos indígenas, que lutam contra as impunidades dos agressores afirmam: “Muitas lideranças perderam seus familiares e inúmeras famílias sofrem as consequências da marca de violência de seus familiares que carregam consigo até os dias atuais. Eles

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viram corpos de suas lideranças sobre uma lona preta, com marcas de balas. Até os dias atuais os assassinos estão impunes”. (Folha Web, 2012)

O julgamento dos acusados pelo assassinato de Aldo da Silva Mota, ocorrido neste ano de 2012, reacende a necessidade de uma ampla mobilização junta à sociedade e aos poderes públicos, ainda hoje, para desperta a população a ver com outros olhares não preconceituosos os povos indígenas, como sujeitos históricos, que merecem respeito pela suas lutas, pelas suas tradições culturais.

As ações violentas cometidas contras os povos indígenas de Roraima no século XX marcaram profundamente a história demonstrando o descaso social em relação a esses povos.

A lógica dos mais “fortes” parece prevalecer em relação aos direitos indígenas. No entanto, os povos indígenas encontraram o caminho da mobilização e do protesto. Eles, os indígenas, não deixam que os interesses dos não índios, se imponham e prevalecem.

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Referências bibliográficas

CIMI. Índios finalizam manifestação. Disponível em:

http://www.folhabv.com.br/noticia.php?id=129444. Acessado em: 15 maio 2012

CLEMENTINO, Alcelino. et al. Os Filhos de Macunaimî – Vida, História, Luta – ou vai ou racha. A luta continua. São Paulo: Loyola, 2004.

LACERDA, Rosane F. Situação de Direitos Humanos dos Povos Indígenas no Brasil no

ano 2000. Disponível em:

http://www.dhnet.org.br/dados/relatorios/dh/br/jglobal/jglobal2000/situacaodh.html.

Acessado em: 01 de maio de 2012.

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. Ação Penal n° 2003.42.00.001839-9.

PALOSHI, Dom Roque. Nos caminhos da impunidade. Disponível em:

http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&conteudo_id=6306&action=read. Acessado em: 18 julho 2012.

SANTILLI, Paulo. Pemongon Patá: território macuxi, rotas de conflitos. São Paulo:

editora UNESP, 2001.

SILVA, P.S.R. A violência contra os povos indígenas no foco do Jornal Folha de Boa Vista-RR - período de 1996 a 2005. 2007, 109 f.,Monografia - Universidade Federal de Roraima, Departamento de História, Boa Vista, 2007.

SOUZA, Jessé. Reflexo de um discurso. Folha de Boa Vista. Disponível em:

http://www.folhabv.com.br/Editorias.php?id=3. Acesso em: 23 maio 2012.

TODOROV, Tzvetan. A conquista da América: a questão do outro. Tradução: Beatriz Perrone-Moisés. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

VIEIRA, J.G.; SILVA, P.S.R.da; RAMALHO, C.R. Roraima: a luta pela homologação da Raposa Serra do Sol e a violência gerada contra os índios entre 1970 e 2009. Revista Universidade e Sociedade, Ano XX, nº 46, junho de 2010. Brasília: Sindicato Nacional dos Trabalhadores das Instituições de Ensino Superior.

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