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Análise dos planos de mitigação e adaptação às mudanças climáticas das principais capitais brasileiras regionais

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Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo ISBN - 978-65-86753-40-0

EIXO TEMÁTICO:

( ) Infraestrutura Verde na Cidade Contemporânea ( ) Planejamento da Paisagem Urbana

( ) Preservação do Patrimônio Histórico e Paisagístico ( ) Sistemas de Espaços Livres

( X ) Urbanismo Ecológico e a Resiliência Urbana

Análise dos planos de mitigação e adaptação às mudanças climáticas das principais capitais brasileiras regionais

Analysis of climate change mitigation and adaptation plans in the main regional Brazilian capitals

Análisis de planes de mitigación y adaptación al cambio climático en las principales capitales regionales brasileñas

Angela Maria de Arruda

Doutoranda PPGEU/UFSCar, Brasil angelaarruda@estudante.ufscar.br

Vanize Menegaldo

Mestranda PPGEU/UFSCar, Brasil vanize@estudante.ufscar.br

Érico Masiero

Professor Doutor, PPGEU/UFSCar, Brasil.

erico@ufscar.br

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293 RESUMO

O presente trabalho realiza uma análise de planos de mitigação e adaptação climática das capitais brasileiras mais populosas de cada região, com o intuito de verificar a existência dos planos, seu nível governamental traçando paralelos entre as cidades pesquisadas. Em uma primeira etapa, os critérios de triagem foram: diversidade climática, população aproximadamente acima de 2 milhões de habitantes, existência de planos de gestão e adaptação climática, nível de administração pública, fase de implantação e existência de estudos acadêmicos sobre o assunto. Para a análise comparativa posterior, apenas as cidades com planos municipais foram levadas em consideração. As capitais São Paulo/SP, Salvador/BA, Curitiba/PR apresentaram planos de gestão sólidos e direcionados ao enfrentamento das consequências das mudanças climáticas, propondo ações efetivas e delimitadas para atingir as metas até 2050.

PALAVRAS-CHAVE: Mitigação. Adaptação. Mudanças Climáticas. Conforto Climático.

ABSTRACT

The present article analyzes the mitigation and climate adaptation plans of the most populous Brazilian capitals in each region, in order to verify the existence of the plans, their governmental level, drawing parallels between the cities surveyed.

In a first stage, the screening criteria were: climatic diversity, population approximately above 2 million inhabitants, existence of management and climate adaptation plans, level of public administration, implementation phase and existence of academic studies on the subject. For the subsequent comparative analysis, only cities with municipal plans were taken into account. The capitals São Paulo/SP, Salvador/BA, Curitiba/PR presented solid management plans aimed at facing the consequences of climate change, proposing effective and limited actions to achieve the goals by 2050.

KEYWORDS: Mitigation. Adaptation. Climate changes. Climate comfort.

ABSTRACTO

El presente trabajo analiza los planes de mitigación y adaptación climática de las capitales brasileñas más pobladas de cada región, con el fin de verificar la existencia de los planes, su nivel gubernamental, trazando paralelismos entre las ciudades encuestadas. En una primera etapa, los criterios de selección fueron: diversidad climática, población aproximadamente superior a 2 millones de habitantes, existencia de planes de gestión y adaptación climática, nivel de gestión pública, fase de implementación y existencia de estudios académicos sobre el tema. Para el posterior análisis comparativo, solo se tuvieron en cuenta las ciudades con planes municipales. Las capitales São Paulo / SP, Salvador / BA, Curitiba / PR presentaron sólidos planes de gestión orientados a enfrentar las consecuencias del cambio climático, proponiendo acciones efectivas y limitadas para alcanzar las metas al 2050.

PALABRAS CLAVE: Mitigación. Adaptación. Cambios climáticos. Confort climático.

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1 INTRODUÇÃO

De acordo com a FUNASA (2019) a urbanização gera incremento da geração de resíduos líquidos e sólidos desfavoráveis à saúde humana e ao meio ambiente, principalmente causando altas taxas de impermeabilização, formação de ilhas de calor urbano e alterações climáticas, com isso aumenta cada vez mais a preocupação de pesquisadores quanto a questões climáticas, do meio ambiente e de saneamento. O autor Carvalho et. al. (2020), por exemplo, acredita que as cidades vêm recentemente sendo reconhecidas também como agentes responsáveis pelas respostas climáticas ao meio ambiente.

Além disso, o IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change, 2019) traz por meio de suas avaliações e grupos de pesquisa cada vez mais a importância da linha de pesquisa relacionada às mudanças e adaptações climáticas, considerando esse fator e confirmando o papel essencial das cidades nessas questões. Para tanto, é de extrema importância analisar a implantação de estratégias de mitigação e adaptação climática. Para isso é importante a colaboração entre entes federados, pois as esferas nacional e regional podem colaborar com os locais e mobilizar setores sociais e políticos para desenvolver soluções de acordo com seus interesses locais (DABROWSKI, 2017).

Os eventos climáticos extremos nas cidades, sejam inundações, falta de água potável, contaminação do solo, deslizamentos, ondas de calor entre outros, geram consequências que expõe as desigualdades sociais refletidas em construções precárias em bairros longínquos desprovidos de infraestrutura, conforto e planejamento. O impacto de tais eventos pode ser percebido principalmente sobre a população marginalizada com as mortes recorrentes em períodos de chuva intensa ou refletido em doenças contagiosas e/ou crônicas que diminuem a qualidade de vida podendo levar à morte (TRAVASSOS et al, 2020).

Os impactos das mudanças climáticas no ambiente urbano dependem da resiliência e da adaptabilidade dos sistemas de abastecimento de água, saneamento, energia, mobilidade e transporte. Vale ressaltar, que em países subdesenvolvidos, especialmente do Sul Global, tais sistemas são ineficientes e insuficientes para grande parte da população e qualquer mudança é capaz de trazer graves consequências à população (CANIL, LAMPIS e SANTOS, 2020).

Entender como as cidades estão se adaptando às mudanças climáticas, conhecer os planos de governo municipais e ações integradas são instrumentos importantes para se inteirar do papel de cada cidadão na diminuição dos impactos desses eventos na vida de cada indivíduo. Além disso, é necessário haver um intercâmbio de conhecimento e estudo da aplicabilidade de ações de sucesso ao redor do mundo ao contexto ao qual está inserido, visto que ainda há muito para ser analisado sobre o assunto.

Segundo a International Council for Local Environmental Initiatives (ICLEI) (2020), quatro capitais brasileiras concluíram seus planos de Ação Climática: Curitiba, São Paulo, Salvador e Rio de Janeiro, ou seja, se comprometeram a reduzir a emissão de gases do efeito estufa (GEE) e manter o aquecimento global dentro do estabelecido pelo Acordo de Paris.

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295

Vale ressaltar que tais planos também abrangem as regiões em geral incentivando e fortalecendo o desenvolvimento de ações em cidades próximas.

2 OBJETIVO

O estudo pretende avaliar os planos de mitigação e adaptação encontrados nas principais capitais das regiões brasileiras, do ponto de vista comparativo do nível de comprometimento das autoridades locais na implementação das propostas. São consideradas no estudo as prioridades de cada cidade de acordo com sua realidade local, permitindo retratar os potenciais e as fraquezas de cada plano municipal de combate às mudanças climáticas sob diversas situações climáticas no Brasil.

Portanto procura-se identificar e analisar as similaridades de planos de mitigação e adaptação às mudanças climáticas nas capitais brasileiras mais populosas de cada região, a saber Manaus, Salvador, Brasília, Curitiba e São Paulo.

Espera-se que o comparativo entre os planos de mitigação das capitais selecionadas em cada região possa refletir os avanços e os desafios de tais cidades frente às ações efetivas de adaptação e mitigação.

3 METODOLOGIA

A seleção das capitais analisadas baseou-se em sua referência regional, assim sendo foram cinco analisadas, uma em cada região (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste) apresentadas na figura 1, a seguir.

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Figura 1 – Principais capitais analisadas em mapa.

Fonte: InfoEscola e Google Earth (2021), adaptado pelos autores.

Após a seleção das capitais, a metodologia foi baseada em três etapas principais:

pesquisa, elaboração de dados e análise comparativa. Primeiramente, foi desenvolvida uma pesquisa sobre dados municipais no IBGE, em páginas oficiais dos governos municipais e estaduais, além de artigos científicos sobre os planos diretores e planos de mitigação e adaptação às mudanças climáticas nas capitais brasileiras selecionadas. Com a pesquisa, foi elaborado um quadro comparativo relacionando a existência, ano de implementação, as principais vulnerabilidades e as principais ações governamentais. Por fim, foi elaborada uma comparação a nível nacional sobre a atual situação de implementação para relatar o grau de comprometimento de cada plano com as ações de combate às MC.

Para elaboração do quadro 2, referente aos indicadores, foi realizada a leitura dos planos de cada capital, destacando-se as metas previstas para os principais indicadores e as medidas efetivas para o cumprimento destas nos próximos anos visando o atendimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, Acordo de Paris e Agenda 2030.

4 CAPITAIS SELECIONADAS

Como forma de triagem, foram sintetizadas as características relevantes de cada capital no Quadro 1 apresentado a seguir. Passada a triagem, foram resumidos os principais tópicos considerados nos planos de mitigação existentes com relação às mudanças climáticas, suas consequências e apresentou-se os indicadores descritos nos planos de mitigação das

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297

cidades (Quadro 2). No caso de Manaus, foram apontados os tópicos abordados na lei municipal.

Quadro 1 – Caracterização inicial das capitais selecionadas para análise.

Cidades Clima

População

(hab.) Planos de gestão

Fase de

implantação Existência de estudos/Leis

Manaus/AM

tropical úmido de

monção (Am)

2.255.903

Política Municipal de Combate ao Aquecimento Global e às

Mudanças Climáticas*

Estudos

iniciais Lei Municipal 254, de 07/12/2010

Salvador/BA

Tropical úmido a subúmido

(Aw)

2.675.656

Plano de Mitigação e Adaptação às Mudanças

do Clima em Salvador (PMAMC 2020-2049)

Em curso

Amplo e completo caderno temático:

Painel Salvador de Mudança do Clima;

Programa de Planejamento de Ação Climática C 40

Brasília/DF Tropical

(Aw) 3.094.325

Plano de Mitigação para redução da emissão de

gases de efeito estufa das principais fontes emissoras no território

do Distrito Federal

Em curso Lei 4797/2012 restrita à GEE

São Paulo/SP

Subtropica l úmido

(Cfa)

12.396.372

Plano de Ação Climática do Município de São

Paulo 2020-2050

Em curso NC*

Curitiba/PR

Subtropica l úmido

(Cfb)

1.963.726

Plano Municipal de Mitigação e Adaptação às Mudanças Climáticas de Curitiba (PlanClima)

Em curso NC

*Não consta Fonte: Adaptado pelos autores.

Quadro 2 – Indicadores.

Cidades

Manaus Salvador Brasília São Paulo Curitiba

Indicadores

Temperatura Aumento da

temperatura Ondas de calor

Aumento da temperatura, diminuição da umidade relativa

do ar e de precipitações

Aumento da temperatura média e

ondas de calor

Aumento da temperatura média (1,2ºC em relação a

60 anos)

Secas meteorológicas

Uso racional de água

Preocupação com abastecimento de água, abastecimento

de alimentos

NC

Preocupação com abastecimento de água, abastecimento

de alimentos

Preocupação com abastecimento de água/ estiagem Nível do Mar NA* Aumento de nível do

mar/ erosão costeira NA NA NA

(7)

298 Precipitações/

Enchentes NC

Inundações e deslizamento de

encostas

Diminuição no volume e incidência de precipitações

Concentração do volume de chuvas em

menos dias

Temporais fortes e intensos/enchentes

Saúde NC Doenças transmitidas

por vetores NC

Doenças epidemiológicas/card

iorespiratórias

NC

Emissão de gases e efeito

estufa

NC Poluição do ar Poluição do ar Poluição do ar Poluição do ar

* Não se aplica

Fonte: Adaptado pelos autores.

Quadro 3 –Principais medidas e metas mitigatórias.

Cidades

Manaus Salvador Brasília São Paulo Curitiba

Indicadores

Temperatura

Obrigatoriedad e de utilização

de equipamentos eficientes para refrigeração de

ar

Aumentar a arborização da cidade;

Criação de novos parques, unidades de conservação e espaços

verdes.

Mapeamento das Ilhas de calor urbanas através de sensores e plataforma alertando pessoas sobre

medidas preventivas às ameaças;

Incentivar a adoção de telhados verdes

NC

Uso de energia renovável e aumento

de áreas verdes e permeáveis; plantio de

espécies nativas da Mata Atlântica

Aumento de áreas verdes e preservadas

Secas meteorológic

as

Reutilização de água e aproveitament

o de águas pluviais em construções

Revitalização das bacias de retenção e margens dos rios e recuperação

das nascentes

NC

Ampliar áreas verdes;

dar seguimento ao Programa Córrego Limpo; Criar Plano de Contingência de Seca

Aumentar capacidade de reservação dea captação de água

para consumo;

ampliar áreas verdes; reduzir perdas de água no

sistema de abastecimento hídrico da cidade

Nível do Mar NA

Erosão costeira:

estruturas de contenção Mapeamento de áreas

de risco

NA NA NA

(8)

299 Precipitações

/ Enchentes NC

Revisar e atualizar planos de drenagem;

Solução verde: i) estabilização de encostas, (ii) combate a enchentes, (iii) controle

climático e (iv) potencialização de

valores culturais

NC

Aumentar a área permeável dos equipamentos e espaços públicos novos

e existentes;

Incrementar o uso de soluções baseadas na natureza para obras de

infraestrutura de drenagem

Ampliação de sistemas de macro

e microdrenagem

Saúde NC

Monitoramento da poluição atmosférica através de estações/

promover a arborização de áreas com muita poluição para diminuir problemas respiratórios

NC

Melhorar a resposta dos serviços de saúde a

situações de eventos extremos; atualização do Plano Municipal de

Contingência de Arboviroses; Programa

VigiAr (poluição do ar)

Monitoramento de doenças e vetores com relação direta com a mudança do

clima

Emissão de gases e efeito

estufa

NC

Reduzir em 15% as emissões de GEE até 2024 em relação a 2018 e Carbono zero até 2049 Criação de um banco e formas de compensação

de carbono;

Selo Carnaval Sustentável: baixo

impacto de GEE

Redução de 20%

as emissões de GEE de 2013 a 2025 é de 37,4%

até 2030

Carbono zero em 2050

Redução de 42,9%

em 2030 das emissões de GEE

Energia/

resíduos/

transporte

NC

Energia: 20% dos edifícios residenciais e

30% dos edifícios comerciais com sistemas

de geração distribuída;

Resíduos: reciclar 80% da fração reciclável de sólidos domésticos e tratar 36% dos resíduos

orgânicos.

Transporte: aumentar em 15% as viagens de bicicleta; 100% da frota

de transporte pública movida a veículos mais

limpos e eficientes

Energia: redução da emissão de GEE através de utilização de

energia fotovoltaica, uso

de biocombustível,

transporte não motorizado;

combate a incêndios e desmatamento;

tratamento de resíduos.

Energia: regulamentar a adoção de critérios de

eficiência energética nas edificações;

geração de energia renovável 13% das edificações residenciais

e 24% das comerciais até 2050;

Resíduos: expandir a coleta seletiva de resíduos secos, até 2030 diminuir 50% a destinação de resíduos

recicláveis para o aterro sanitário;

implantação de ecoparques Transporte: até 2030,

70% das viagens no Município serão feitas em transporte coletivo ou em modos coletivos

e 78% em 2050.

Energia: 40% de edificações com

módulos fotovoltaicos,

100% das edificações renovadas com

padrões de eficiência energética;

Resíduos: 10% de resíduos e rejeitos

em aterro sanitário;

Transporte: 85%

transporte coletivo e mobilidade ativa

Fonte: Adaptado pelos autores.

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300

5 ANÁLISE COMPARATIVA

Considerando os critérios e as informações anteriormente apresentadas de cada Município, foi possível constatar que apenas Manaus não possui plano de mitigação e adaptação climática em âmbito municipal.

Com base nas análises dos Planos de Mitigação e Adaptação Climáticas Municipais, obteve-se o Quadro 3 que apresenta de maneira didática as principais semelhanças e diferenças entre os planos estudados.

Passemos a discutir as similaridades encontradas nas cidades que possuem o plano de ação contra as mudanças climáticas: para a elaboração dos planos segue-se uma estrutura pré-definida para cada cidade, que abrange uma avaliação inicial onde são identificadas as políticas e planos da cidade condizentes com a agenda climática; mitigação, onde ocorre o levantamento da a emissão de GEE; adaptação, fase composta pela elaboração e validação de índices de riscos climáticos; e finalmente a consolidação do relatório do plano de ação (ICLEI, 2020).

A capital federal aprovou a lei 4797/2012 com enfoque na redução da emissão de GEE e os meios para que essa meta seja atingida: dentre as principais diretrizes se destacam a utilização de energias renováveis, prevenção de queimadas, formulação e integração de normas de planejamento urbano e uso do solo, apoio à pesquisa e promoção de tecnologias para combate às mudanças climáticas e plantio de árvores (SMADF, 2021). Percebe-se que tais medidas ainda são limitadas e requerem estudos mais amplos a respeito da mitigação das causas das mudanças climáticas, não somente a emissão de GEE.

O compromisso com a redução dos GEE é uma constante nas cidades estudadas, sendo que algumas apresentam planos robustos de enfrentamento (destacando-se São Paulo, Curitiba, Salvador e Brasília) com diretrizes audaciosas e delimitadas ao contrário da cidade de Manaus que não possui um planejamento estratégico para enfrentamento das mudanças climáticas.

A capital do Amazonas é vista como um caso preocupante por possuir o terceiro pior índice de desenvolvimento urbano municipal (IDHM) quando comparada às regiões metropolitanas, tornando sua população vulnerável e se afastando das metas de desenvolvimento sustentável da ONU (SANTANA FILHO et al., 2021). As condições de vida e saúde dos moradores de Manaus são afetadas por vários contextos sendo que o impacto das mudanças climáticas tais como aumento do calor, má qualidade do ar e eventos climáticos extremos (enchentes, por exemplo) reduz expressivamente a qualidade de vida, alimentação e saúde dos moradores.

Na maior e mais populosa capital brasileira, São Paulo, assumiu a vanguarda ao instituir a lei municipal de mudanças climáticas em 2009, reafirmando seu compromisso com o plano de ação PlanClimaSP (2019) que se apresenta como um dos mais completos dentre os estudados.

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301

Tal plano descreve os principais problemas enfrentados pela cidade e apresenta medidas de mitigação a serem adotadas: a ameaça de inundação é bem distribuída pela cidade, em torno dos rios Tietê, Pinheiros, Tamanduateí e Aricanduva; o regime de chuvas tem impacto direto no abastecimento de água potável para a população, e a crise hídrica desde o final do século XX tem intensificado a ameaça de seca meteorológica na ordem de 34% entre 2010 e 2030; advento de ondas de calor cada vez mais expressivas, aumento de 2,3ºC na temperatura média entre 1933 e 2017, decorrentes do aumento da poluição e diminuição de área verde; as áreas de risco em relação à deslizamento de encostas aumentou 22,1% a partir de 2010 e os casos de situação de alto risco e risco muito alto aumentaram em 8,6%, gerando preocupação principalmente com a população que reside nessas áreas.

As mudanças no clima evidenciadas por alterações no regime de precipitações, calor, inundações e tempestades, dependem de fatores de intermediação tais como condições ambientais, infraestrutura social e capacidade e adaptação da saúde pública e causam impactos sobre a saúde tais como subnutrição, afogamento, doenças cardíacas e malária (PMSP, 2019).

Como medida mitigatória ressalta-se as áreas verdes por sua importância para a biodiversidade, aumento da permeabilidade do solo, reduzindo alagamentos e enchentes e manutenção de temperaturas mais amenas (PMSP, 2019).

Travassos et al. (2020) analisaram o impacto de eventos climáticos sobre a vulnerabilidade das populações que moram em áreas de risco, especialmente em São Paulo.

Foi relatado que a maioria dos eventos ambientais extremos no Brasil está associada à chuva tais como inundações inesperadas, deslizamento de encostas ou secas prolongadas (PIVETTA, 2016).

Em Salvador foram realizados estudos com previsão até 2100, com os principais bairros que serão afetados pelas inundações e deslizamentos e que merecem atenção especial, entre as propostas de mitigação encontram-se a implementação da solução verde, com plantio de árvores e manutenção da vegetação pré-existente e proibição de construção em áreas com declividade acima de 30%, principalmente nas periferias das cidades (PMAMC, 2020).

O plano da capital baiana foi o que apresentou maior participação popular e segundo ICLEI (2020) foi o mais participativo do mundo, com mais de 60 reuniões e mais de 1500 pessoas ouvidas durante a elaboração de diretrizes, objetivos e ações para a mitigação e adaptação.

As cidades litorâneas e turísticas, como o caso Salvador/BR procuram associar tais medidas a um turismo “verde” e limpo, visto que dependem das suas praias para atrair um contingente significativo e alavancar a arrecadação, além disso a proposta do PMAMC é criar selos relacionados ao plano para qualificar instituições que se esforçam para alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU integrando a população, empresas e governo; criar programas de educação ambiental e climática e publicar editais de inovação para a sustentabilidade com foco na mitigação e adaptação.

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A prefeitura de Curitiba também realizou uma consulta pública, em 2020, por meio de um questionário para identificar e compreender o entendimento da população acerca de temas relacionados às mudanças climáticas, a exemplo de Salvador. Porém tal iniciativa contou com uma participação mais modesta se comparada à capital baiana, cerca de 600 respondentes que participaram com sugestões para elaboração do plano (ICLEI, 2020).

Há um consenso por parte dos planos que as consequências e impactos das mudanças climáticas são sentidas com maior intensidade por populações mais pobres e não são capazes de mobilizar esforços para o cumprimento dos direitos humanos e civis e/ou interesse no campo da pesquisa (TORRES et al., 2020). Os pesquisadores do Projeto Amazônia Legal Urbana (2021) compartilham de tal afirmação, visto que em Manaus a segregação socioespacial “empurra” a maioria da população, em especial negros e indígenas, para locais com ocupações insalubres, má qualidade da água e do ar e insegurança alimentar expondo tal população aos riscos de eventos climáticos extremos.

Muitas ações preveem atuar em mecanismos de monitoramento e alerta às condições extremas do clima, como ondas de calor ou tempestades, avisando com antecedência moradores e equipes treinadas capazes de atender com prontidão e eficiência aos afetados em possíveis inundações, deslizamentos, por exemplo.

Independente do país, as construções de alto risco são aquelas realizadas em subúrbios pela população de baixa renda e refletem o descaso das políticas públicas e práticas de governo desiguais e ineficientes que não priorizam o bem estar dessa parcela da população e consequentemente, eventos como chuvas fortes representam risco de morte (TRAVASSOS et al, 2020).

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme analisado anteriormente, a etapa de implementação dos planos ou medidas encontra-se em fases diferentes variando entre planos já consolidados e planos que ainda se encontram em fase inicial de consulta pública. Entretanto, no geral, os problemas identificados e mais recorrentes incluem: o aumento do nível do mar e consequente ameaça à população costeira, altos índices de gases geradores do efeito estufa, inundações, projetos de drenagem ineficientes, poluição da água dos rios que circundam ou permeiam as cidades, principalmente com águas residuárias e sem tratamento de esgoto, desmatamento de regiões que deveriam ser de preservação permanente.

Dentre as cinco capitais estudadas e consideradas representativas de cada região do Brasil, apenas Manaus não possui um plano de ação frente às mudanças climáticas. Todavia, percebe-se que há um esforço coletivo para adequar as cidades aos desafios propostos pelos fóruns mundiais como redução de emissão de gases, com a adoção de combustíveis não fósseis, geração de energia limpa, técnicas naturais para diminuição do impacto das inundações como a construção de sumidouros e pântanos, visando reter sedimentos, plantio

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de árvores e espécies vegetais resistentes à altas temperaturas e que auxiliam na retenção da água pluvial e regulação da temperatura, diminuindo o impacto das ilhas de calor urbanas.

Propostas inovadoras com uso de novas tecnologias, ampla participação da sociedade civil e envolvimento da iniciativa privada parecem ser elementos cruciais para o sucesso na implementação de tais planos e alcance das metas propostas pelos governos municipais.

7 REFERÊNCIAS

CANIL, K.; LAMPIS, A.; SANTOS, K. L. Vulnerabilidade e a construção social do risco: uma contribuição para o planejamento na macrometrópole paulista. Cadernos Metrópole, v. 22, n. 48, p. 397-416, maio 2020.

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DABROWSKI, M. Boundary spanning for governance of climate change adaptation in cities: Insights from a Dutch urban region. Environment and Planning C: Politics and Space, v. 36, n. 5, p.837-855, set. 2017.

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https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/pa/belem.html com acesso em 11/12/2020.

ICLEI Quatro capitais brasileiras concluem seus Planos de Ação Climática. Disponível em:

https://americadosul.iclei.org/quatro-capitais-brasileiras-concluem-seus-planos-de-acao- climatica/

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SHUKLA, P. R. et al. (ed.). Climate change and land: an IPCC special report on climate change, desertification, land degradation, sustainable land management, food security, and greenhouse gas fluxes in terrestrial ecosystems. Cambridge: Cambridge University Press, 2019.

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Prefeitura Municipal de Brasília. Plano de Mitigação para redução da Emissão de Gases do Efeito Estufa das Principais Fontes Emissoras no Território do Distrito Federal, 2021.

Prefeitura Municipal de Curitiba. Plano de Mitigação e Adaptação às Mudanças Climáticas (PlanCLima), 2020.

Prefeitura Municipal de Manaus. Lei nº 254 de 01/12/2010. Disponível em:

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Prefeitura Municipal de Salvador. Painel Salvador de Mudança do Clima: Cadernos temáticos. 2012.

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TRAVASSOS, L., TORRES, P. H. C., DI GIULIO, G., JACOBI, P. R., DIAS DE FREITAS, E., SIQUEIRA, I. C., &

AMBRIZZI, T. Why do extreme events still kill in the São Paulo Macro Metropolis Region? Chronicle of a death foretold in the global south. International Journal of Urban Sustainable Development, p. 1-16, 27 maio 2020.

TORRES, P. H. C.; JACOBI, P. R.; LEONEL, A. L. Nem leigos nem peritos: o semeador e as mudanças climáticas no Brasil. Política & Sociedade, v. 19, n. 44, p. 17-38, 30 abr. 2020.

Referências

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