Revista Húmus vol. 10, num. 30, 2020
DANO AMBIENTAL: externalidade negativa decorrente da relação entre meio ambiente e sociedade de risco
Rafael Clementino Veríssimo Ferreira
1Deilton Ribeiro Brasil
2RESUMO: Temas como desenvolvimento sustentável, aquecimento global e as externalidades negativas estão cada vez mais inseridos nos debates acerca do futuro da espécie humana na Terra. O objetivo do trabalho é demonstrar que o desenvolvimento sustentável é a chave para o alcance da equidade intergeracional. A pesquisa é predominantemente bibliográfica e documental. E foi realizada com um estudo filosófico e sociológico da relação entre meio ambiente e sociedade de risco, objetivando buscar formas de efetivar o direito ao futuro. Os resultados alcançados foram no sentido de que as externalidades negativas estão cada vez mais latentes em um mundo tecnológico e globalizado. Proteger o meio ambiente através de uma mudança de postura e pensamento coletivo é uma das mais legítimas formas de fortalecer a democracia e a participação popular na tomada de decisões de modo a concretizar o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado que propicie uma sadia qualidade de vida.
Palavras-chave: Dano ambiental; externalidade negativa; desenvolvimento sustentável.
ABSTRACT: Themes such as sustainable development, global warming and negative externalities are increasingly inserted in debates about the future of the human species on Earth. The objective of the work is to demonstrate that sustainable development is the key to achieving intergenerational equity. The research is predominantly bibliographic and documentary. And it was carried out with a philosophical and sociological study of the relationship between the environment and the risk society, aiming to seek ways to effect the right to the future. The results achieved were in the sense that negative externalities are increasingly latent in a technological and globalized world. Protecting the environment through a change of posture and collective thinking is one of the most legitimate ways to strengthen democracy and popular participation in decision- making in order to realize the fundamental right to the ecologically balanced environment that fosters a healthy quality of life.
Keywords: Environmental damage; negative externality; sustainable development.
INTRODUÇÃO
A relação entre meio ambiente e sociedade na busca pelo desenvolvimento sustentável passou a ser matéria de estudo aprofundado no ramo do direito a partir da segunda metade do século XX. E foi nesse ínterim que os países começaram a se mobilizar na busca da convergência entre a economia e a ecologia, visando assim, garantir a sobrevivência da espécie humana na Terra, a longo prazo. É no contexto da sociedade de risco que se perfaz necessário pensar nas externalidades decorrentes da relação entre a
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Mestrando do PPGD - Mestrado e Doutorado em Proteção dos Direitos Fundamentais da Universidade de Itaúna-MG. Bacharel em Direito pela Universidade de Itaúna (UIT). E-mail: rafaelcvff@gmail.com
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Pós-doutor em Direito pela Università degli Studi di Messina, Italia. Doutor em Direito pela UGF/RJ.
Professor da graduação e do PPGD - Mestrado e Doutorado em Proteção dos Direitos Fundamentais da Universidade de Itaúna (UIT) e das Faculdades Santo Agostinho (FASASETE-AFYA). E-mail:
deilton.ribeiro@terra.com.br
Revista Húmus vol. 10, num. 30, 2020 espécie humana e o meio ambiente. O desenfreado crescimento populacional recente, combinado com a necessidade cada vez maior de consumo dos recursos naturais do planeta, vem se tornando uma equação perigosa. Assim, torna-se imprescindível fazer um estudo crítico acerca da efetivação do direito ao meio ambiente como um direito fundamental (intergeracional) de terceira dimensão - sendo este, direito de caráter difuso – e irrenunciável. Contudo, o foco do estudo deve ser redirecionado, com o intuito de oportunizar, para as gerações, atuais e futuras, o direito ao futuro.
A efetivação do direito ao futuro carece da disseminação do desenvolvimento sustentável, que busca garantir consumo consciente e menos danoso ao meio ambiente.
Apresenta-se ecologicamente mais saudável evitar o acontecimento do dano, do que repará- lo. O artigo abordará de forma filosófica e sociológica, primeiramente o conceito de sociedade de risco, e mais à frente, será feito um estudo sobre as externalidades na perspectiva do desenvolvimento sustentável, com o propósito de se consumar um estudo aprofundado sobre o direito ao futuro, na perspectiva da equidade intergeracional O tema problema que conduzirá o estudo gira em torno da possibilidade de alcançar uma externalidade positiva na relação entre sociedade e meio ambiente. Contudo, serão propostas outras hipóteses, como os riscos que uma relação desequilibrada entre meio ambiente e sociedade trazem para a permanência da espécie humana no planeta terra e o dano ambiental futuro na sociedade de risco. O estudo das externalidades negativas e como elas afetam a vida das pessoas na sociedade de risco, perfaz-se necessário (BECK, 2009).
Além de formas de precificar a inércia e a caracterização do dano ambiental futuro, o estudo tem como função garantir um meio ambiente ecologicamente equilibrado para as gerações atuais e futuras (CARVALHO, 2013).
O método utilizado para a realização do trabalho foi o indutivo com a abordagem de
categorias consideradas fundamentais para o desenvolvimento do tema, valendo-se de
análise dos conceitos e teorias relativas às externalidades decorrentes da relação entre meio
ambiente e sociedade e como a volatilidade da sociedade de risco pode contribuir
diretamente para a ocorrência do dano ambiental futuro. O procedimento técnico utilizado
na pesquisa para coleta de dados foi essencialmente a pesquisa bibliográfica.. O
levantamento bibliográfico forneceu as bases teóricas e doutrinárias a partir de livros e
textos de autores de referência, tanto nacionais como estrangeiros. Enquanto o
enquadramento bibliográfico utiliza-se da fundamentação dos autores sobre um assunto, o
documental articula materiais que não receberam ainda um devido tratamento analítico. A
Revista Húmus vol. 10, num. 30, 2020 fonte primeira da pesquisa é a bibliográfica que instruiu a análise da legislação constitucional e a infraconstitucional, bem como a doutrina que informa os conceitos de ordem dogmática.
OS CONTORNOS JURÍDICOS DO DANO AMBIENTAL NA SOCIEDADE DE RISCO
O dano ambiental pode ser conceituado como “toda interferência 3 antrópica infligida ao patrimônio ambiental” que de alguma forma possa “desencadear, imediata ou potencialmente, perturbações desfavoráveis (in pejus) ao equilíbrio ecológico, à sadia qualidade de vida, ou quaisquer outros valores coletivos ou de pessoas” (MILARÉ, 2016, p.
83). O conceito dando ambiental, ainda se divide em subespécies, quer seja, dano ambiental individual, coletivo ou difuso. Portanto o dano, nem sempre vai recair exclusivamente sobre o meio ambiente. Em alguns casos pode afetar o de forma direta ou indireta os interesses ou saúde propriamente de número determinado ou determinável de indivíduos (MILARÉ, 2016, p. 109). Os danos ambientais individuais são aqueles que têm sua configuração no momento em que causa alguma degradação ao meio ambiente e que em decorrência dessa, acabam por lesar um determinado indivíduo em sua saúde ou mesmo em caráter patrimonial. A configuração do dano se dá com os “prejuízos que, atingindo o meio ambiente de forma imediata, repercutem de forma mediata na esfera individual de particulares”
(CARVALHO, 2013, p. 104).
A esfera individual compreende-se no patrimônio, bem-estar ou saúde, quer seja da pessoa física ou jurídica que vier a ser diretamente afetada. O conceito também se aplica aos bens diretamente relacionados a Administração Pública ou ao Poder Público (CARVALHO, 2013, p. 104).. O dano ambiental coletivo ou difuso está relacionado às lesões causadas ao meio ambiente propriamente dito, não se fazendo necessária comprovação de que os seres humanos foram diretamente lesados. A ausência da comprovação, parte do pressuposto que a lesão ao meio ambiente, propriamente dito, já desencadeia externalidades que causam lesões diretas ou indiretas à qualidade da vida humana (CARVALHO, 2013, p. 104). O desastre nuclear de Chernobyl, que ocorreu em 25 e 26 de abril de 1986 na Ucrânia, é claro exemplo de dano ambiental difuso. E foi provavelmente a pior tragédia ambiental da história da humanidade. O desastre daquela noite causou a morte imediata de 28 pessoas, deixando
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