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OUTORGA DE DIREITO DE USO DA ÁGUA NO RIO PARAÍBA DO SUL

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OUTORGA DE DIREITO DE USO DA ÁGUA NO RIO PARAÍBA DO SUL

Laís Lima Ambrosio1; Daniel Taboada Placido2; Rosa Maria Formiga-Johnsson3.

Resumo - A gestão das águas no Brasil é regulamentada pela Lei Federal nº 9.433/1997 que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH). Um dos maiores desafios para implementação da PNRH é compatibilizar a gestão por bacia hidrográfica com a dupla dominialidade das águas. A outorga de direto de uso das águas, neste contexto, assume especial importância para gestão de recursos hídricos, pois seu objetivo final é a distribuição das águas da bacia a longo prazo, garantido a sustentabilidade do recurso natural. Esta pesquisa tem por objetivo analisar as outorgas concedidas pela ANA no rio Paraíba do Sul, de domínio federal em seus aspectos técnicos quanto a quantidade e qualidade da água. A bacia do rio Paraíba do Sul e do rio Guandu estão inseridas na região Sudeste do país, com grande desenvolvimento industrial, são interligadas pelo Sistema hidráulico do Paraíba do Sul-Guandu. Contribuem para o abastecimento da população de duas grandes regiões metropolitanas, São Paulo e Rio de Janeiro. A partir do histórico e da análise das outorgas verifica- se a forte atuação do setor elétrico, da indústria e do setor de abastecimento público como principais usuários.

Palavras-chave – Outorga de direito de uso, rio Paraíba do Sul.

Abstract - Water management in Brazil is regulated by Federal Law 9.433 / 1997. The greatest challenges for management of water resources is to reconcile river basin área with dual water dominance. The granting of direct use of water, in this context, is of particular importance for the management of water resources, since its final objective is the distribution of the waters of the basin in the long term, guaranteeing the sustainability of the natural resource. This research aims to analyze the granted by ANA in the Paraíba do Sul river, federal domain in its technical aspects regarding the quantity and quality of water. The Paraíba do Sul river basin and the Guandu river basin are located in the Southeastern region of the country, with great industrial development, are interconnected by the Paraíba do Sul-Guandu water system. They contribute to supply the population of two large metropolitan areas, São Paulo and Rio de Janeiro. From the history and the analysis of the grants, the strong performance of the electric sector, industry and the public supply sector as main users is verified.

Keywords - Water Rights, Paraíba do Sul river.

INTRODUÇÃO

A bacia do rio Paraíba do Sul e do rio Guandu estão inseridas na região Sudeste do país, com grande desenvolvimento industrial. Contribuem para o abastecimento da população de duas grandes regiões metropolitanas, São Paulo e Rio de Janeiro. As duas bacias enfrentam sérios problemas em relação a qualidade da água devido ao lançamento de efluentes domésticos e industriais, grande parte

1 Autor Correspondente. Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ – Mestrado em Engenharia Ambiental. laislambrosio@gmail.com.

2 Instituto Militar de Engenharia – IME – Mestrado em Engenharia Cartográfica. Daniel.placidouff@gmail.com

3 Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ - professora adjunta do Departamento de Engenharia Sanitária e do Meio Ambiente.

formiga.uerj@gmail.com

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ainda não tratado, e também a reduzida cobertura vegetal da faixa marginal de proteção e outros problemas ambientais associados a ocupação e uso do solo.

A gestão das águas no Brasil é regulamentada pela Lei Federal nº 9.433/1997 que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), e a organiza institucionalmente, no Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH), no qual instituições federais e estaduais se articulam, com destaque para Agência Nacional de Águas (ANA), Conselhos Nacional (CNARH) e estaduais de águas e comitês de bacia e agências de bacia criados pela referida política, conferindo caráter participativo e descentralizado a gestão, à medida que articula órgãos de diversas esferas e cria fóruns de discussão e tomada de decisão locais. Nessa estrutura os órgãos responsáveis pela outorga de direito de uso da água, um dos instrumentos da referida política, depende do conceito de dominialidade dos recursos hídricos, no qual as águas de domínio da união são geridas pela ANA, e as águas de domínio estadual geridas por órgãos gestores estaduais.

A dominialidade das águas das bacias do rio Paraíba do Sul e Guandu retrata um dos maiores desafios da gestão integrada de recursos hídricos no Brasil, compatibilizar a bacia hidrográfica como unidade de gestão e o recorte territorial dos diferentes setores de gestão pública associados, em esferas federal e estadual e todas as implicações em relação à quantidade e qualidade da água. As águas do rio Paraíba do Sul e alguns de seus importantes afluentes, em especial os mineiros, são de domínio da União por atravessassem ou fazer a divisa de dois ou mais estados, contudo sua vazão afluente com características quali-quantitativas próprias depende de rios de domínio de três estados, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. As águas do rio Guandu são de domínio do estado do Rio de Janeiro, portanto estão sob gestão do Instituto Estadual do Ambiente (INEA).

Adicionalmente a essa complexidade territorial, há ainda a transposição de águas federais do rio Paraíba do Sul para o rio Guandu, através do Sistema Hidráulico Paraíba do Sul-Guandu, planejado e construído para geração de energia, responsável ainda pelo abastecimento de 85% da população da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

Essas duas bacias embora consideradas como críticas pelo balanço quali-quantitativo da Agência Nacional de Águas (ANA, 2014), e a despeito de todas as pressões da degradação ambiental e demanda, tem conseguido suprir as necessidades atuais e ainda possui reserva estratégica para necessidades futuras, que estima-se ser superada até 2030 (PERHI-RJ, 2014)

Contudo, em períodos de escassez hídrica, como as registradas em 2003 e 2014/15, acirram-se conflitos entre os usuários: (i) conflito federativo entre São Paulo e Rio de Janeiro; (ii) conflito fluminense entre transposição para o rio Guandu e vazão que segue a jusante para abastecimento do norte-fluminense; (iii) e conflito entre grandes usuários: geração de energia, indústria e irrigação.

A outorga de direto de uso das águas, neste contexto, assume especial importância para gestão de recursos hídricos, pois seu objetivo final é a distribuição das águas da bacia a longo prazo, garantido a sustentabilidade do recurso natural.

Esta pesquisa tem por objetivo analisar as outorgas concedidas pela ANA no rio Paraíba do Sul em seus aspectos técnicos quanto a quantidade e qualidade da água. As outorgas concedidas pelos órgãos gestores dos três estados que possuem território drenados por rios afluentes ao Paraíba do Sul serão consideradas como uma única retirada por trecho.

GESTÃO DAS BACIAS E ÓRGÃOS RESPONSÁVEIS PELA OUTORGA

No Código das Águas de 1934, já se tratava da dominialidade das águas, e também da necessidade de autorização para seu uso (ANA, 2011; SILVA). O Código das Águas se insere no

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contexto em que o Brasil começava a se organizar no modelo urbano-industrial e por isso aumentava a demanda por recursos naturais, entre eles a água para abastecimento urbano e industrial, e demanda energética, e a consequente necessidade de regulamentação.

A dominialidade das águas utilizada na gestão de recursos hídricos atualmente, foi regulamentada pela Constituição Federal de 1988, que estabelece como sendo de domínio da União as águas de lagos, e rios que atravessem mais de um Estado, ou que façam fronteira com outros países.

Os Estados e o Distrito Federal exercem domínio sobre as águas subterrâneas, e superficiais que banhem apenas um estado ou distrito federal, ressalvadas, nesse caso, as decorrentes de obras da União. A dominialidade das águas define a esfera de governo responsável pela emissão da outorga.

O histórico da regulação da outorga no Brasil leva ao entendimento da articulação e estratégias dos setores usuários de água na obtenção de seus interesses. Inicialmente a outorga de direito de uso da água estava sob controle da Diretoria de águas dentro do Ministério da Agricultura, o que demonstra a participação intensa desse setor, que ainda hoje constitui-se como o maior consumidor das águas da maioria das bacias hidrográficas do país.

A competência para autorização do uso da água, passou ainda, pelo Departamento Nacional de Pesquisa Mineral - DNPM, ainda hoje responsável pela concessão de lavra de águas minerais, que são entendidas como um recurso mineral e não hídrico.

Em 1965 cria-se o Departamento Nacional de Águas e Energia – DNAE, em 1968 teve sua denominação alterada para Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica – DNAEE, o que já denota o crescimento da importância do setor hidrelétrico no uso das águas no Brasil. Este setor hoje é o mais estruturado em temos técnicos entre os usuários. Esses dois setores usuários possuem papel decisivo como norteadores do planejamento de políticas públicas de recursos hídricos no Brasil.

No período entre 1979 e 1997 a outorga para o setor elétrico era emitida pelo DNAEE enquanto para o setor agrícola pelo Ministério da Agricultura. Esse cenário só foi revertido após a criação do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e da subordinada Secretaria de Recursos Hídricos (SRH). Com a Política de Recursos Hídricos e posterior criação da ANA, algumas atribuições da SRH foram repassadas para a ANA, inclusive a emissão de outorgas. Este breve histórico denota como a política de recursos hídricos no Brasil era caracterizada por ser setorial e fragmentada.

A gestão de recursos hídricos de caráter participativo e descentralizado de acordo com o proposto na Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), Lei Federal nº 9.433/1997, define a água como bem de uso comum, dotada de valor econômico, seus usos prioritários são o consumo humano e a dessedentação de animais em situações de escassez, sua distribuição deve proporcionar os usos múltiplos e a bacia hidrográfica é a unidade territorial de gestão de recursos hídricos. Estes são princípios importantes na sustentação dos objetivos, entre eles o atendimento aos usos múltiplos atuais e futuros em quantidade e qualidade adequados e a prevenção contra eventos hidrológicos extremos.

A bacia do Rio Paraíba do Sul drena uma área de aproximadamente 61.300 km² nos territórios dos estados de São Paulo, onde tem sua nascente, faz a divisa entre os estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro, neste último tem sua foz. Abrange 183 municípios, dos quais 56 estão em território fluminense (AGEVAP, 2010).

A bacia do rio Guandu está situada inteiramente no estado do Rio de Janeiro e deságua na Baía de Sepetiba, abastece usuários de sua bacia, mas também situados fora dela, que pertencem a RMRJ.

No estado do Rio de Janeiro, as duas bacias contribuem para o abastecimento de 75% da população,

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12,3 milhões de pessoas, distribuídos em 17 municípios que dependem total ou parcialmente da captação do rio Paraíba do Sul, e outros 9 municípios da RMRJ atendidos totalmente ou parcialmente pela ETA Guandu, já com águas captadas no rio Guandu, provenientes da transposição.

As duas bacias, Paraíba do Sul e Guandu, são interligadas pelo Sistema Hidráulico do Paraíba do Sul-Guandu, composto por estruturas hidráulicas que incluem reservatórios, túneis, estações elevatórias, que viabilizam a transposição de dois terços da vazão das águas do rio Paraíba do Sul e toda a vazão o rio Piraí para o rio Guandu (ANA, 2014). O volume de água acumulado no reservatório equivalente, composto pelos barramentos de Paraibuna, Santa Branca, Jaguari e Funil, garantem a vazão mínima afluente a barragem de Santa Cecília, onde a estação elevatória de mesmo nome, no município de Piraí, já em território fluminense, transpõe as águas para o rio Guandu, e parte da vazão segue a jusante da barragem no leito do rio Paraíba do Sul. Hoje, o conjunto de reservatórios que compõem este complexo sistema é aproveitado por usos múltiplos. As águas transpostas para o rio Guandu, antes de alcança-lo, tem seu potencial hidrelétrico aproveitado ao vencer o desnível de aproximadamente 300 metros, por um conjunto de usinas hidroelétricas: Nilo Peçanha, Fontes Nova, Pereira Passos e a PCH Paracambi, passando por várias estruturas como estações elevatórias e túneis (ANA, 2011).

O Sistema Hidráulico Paraíba do Sul-Guandu foi planejado e construído pelo setor elétrico, e seus reservatórios atendem a diversos usos múltiplos, por isso as regras de sua operação são dadas em conjunto pela Agencia Nacional de Águas (ANA) e pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Após a última e mais severa crise hídrica registrada na bacia, nos anos 2014/15, um acordo via homologação do Supremo Tribunal Federal, resultou na Resolução conjunta entre a ANA e Órgãos gestores Estaduais, com participação da ONS, para definição das regras operativas. Esta Resolução Conjunta ANA/DAEE/IGAM/INEA N° 1.382/2015 entrou em vigor em 1º de dezembro de 2016, quando o volume dos reservatórios já apresentava a recuperação desejada para o período.

Essas regras operativas constituem um importante marco regulatório na macroalocação de água entre trechos do sistema, onde há uma vazão regularizada que deve atender: a transposição para o rio Guandu e a jusante da barragem de Santa Cecília, seguindo no leito do rio Paraíba do Sul.

OUTORGA PRATICADA NAS BACIAS DOS RIOS PARAÍBA DO SUL E GUANDU

A outorga está entre os principais instrumentos da PNRH, seus objetivos são assegurar o controle quali-quantitativo dos usos da água e garantir o direito de acesso. Sua efetivação se dá por meio de um processo administrativo, no qual o órgão outorgante concede o direito de uso da água mediante solicitação do usuário, sob condições especificadas no ato administrativo.

Para concessão da outorga (Figura 1), o órgão gestor responsável, ao receber o pedido analisa se a documentação solicitada está completa, e então abre o processo administrativo, no qual se faz a avaliação técnica, jurídica e do empreendimento, que pode então ser deferido ou indeferido (ANA, 2013). Condição para o pedido de outorga à ANA ou ao Inea é a declaração do uso no Cadastro Nacional de Usuários de Recursos Hídricos (CNARH). O CNARH desenvolvido pela ANA, é parte Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos (SNIRH), é utilizado também como banco de dados para outorga. O estado do Rio de Janeiro adota o CNARH desde 2006.

Figura 1- etapas do processo de outorga.

CNARH Solicitação Análise

documental

Análise Técnica, jurídica e do empreendimento

Deferimento com regras Indeferimento

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Existem 3 tipos de outorga em corpos hídricos da união, estados e DF: a outorga de direito de uso; a preventiva, ou reserva de água que assegura o volume de água que poderá ser outorgado, durante estudos e planejamento de empreendimentos; e a Declaração da Reserva de Disponibilidade Hídrica (DRDH), aplicada ao setor elétrico. A outorga de direito de uso se subdivide em: nova outorga de direito de uso; alteração; renovação; ou ainda a transferência de outorga.

A outorga, articula-se aos demais instrumentos da PNRH, a saber: Planos de bacia, enquadramento de corpos hídricos por classes de uso, cobrança e sistemas de informações sobre recursos hídricos. Nos Planos de bacia, o qual deve ser aprovado pelo comitê, devem constar as diretrizes para a outorga: prioridades de uso, metas de racionalização e a criação de áreas sujeitas a restrição de uso. Essa definições condicionam as análises das outorgas. Para a outorga de diluição de efluentes observa-se que o efluente lançado não pode piorar as condições de classe determinadas no enquadramento dos corpos hídricos. Os usos da água sujeitos a cobrança são aqueles que devem ser outorgados. O usuário é cobrado pelo volume de água que está autorizado a utilizar para captação ou diluição. O Sistemas de informações de recursos hídricos devem conter as informações relevantes para a análise dos pedidos de outorga, assim como sobre a demanda comprometida já autorizada e também da oferta hídrica (ANA, 2011). A bacia do Paraíba do Sul destaca-se no cenário nacional por ter implantado todos esses instrumentos, embora ainda haja desafios e o estágio de implantação não sejam os mesmos em rios da União e Estados (BRAGA et al., 2008).

Os usos que dependem de outorga, de acordo com a PNRH são: derivação ou captação de águas superficiais ou subterrâneas para consumo final seja abastecimento público ou processo produtivo;

diluição de efluentes tratados ou não; aproveitamento de potencial hidroelétrico; ou qualquer outro uso que altere o regime, a quantidade ou a qualidade da água de um corpo hídrico. Os uso que independem de outorga continuam obrigados a declaração no CNARH.

Como critérios técnicos de outorga, além de fatores hidrológicos de cada bacia, há que se considerar também o desenvolvimento social e econômico da região a qual a bacia está inserida (OCDE, 2015). Os critérios federais de outorga para as águas do rio Paraíba do Sul adotados pela ANA, e do Guandu adotados pelo INEA (AGEVAP, 2010; ANA, 2013) são:

Tabela 1 – Critérios de outorga.

Critério Rio Paraíba do Sul - ANA Rio Guandu - INEA Vazão Máxima

outorgável

Q95, associada a regras operativas. Máximo outorgável para usuários individualmente o correspondente a 20% da Q95;

50% da Q7,10.

Usos

insignificantes 1,0 l/s (Resolução ANA nº 542/2004.)

Superficial: até 0,4 l/s, ou 34.560 l/dia;

Subterrânea: menor que 5.000 l/dia; para produtor rural mantem-se 0,4 l/s.

PCH até 1 MW.

Lançamento de efluentes

Utiliza o conceito de vazão de diluição para os parâmetros: DBO, temperatura e fósforo, este apenas para reservatórios.

Eficiência de remoção de DBO de 85%, condicionado ao licenciamento ambiental.

(Portaria SERLA nº 567, de 07/05/2007) Vazão ambiental Define caso a caso. 25 m³/s estabelecido pelo comitê Guandu.

A tabela 1 mostra as diferenças de critérios de outorga entre a ANA e INEA. Se estendermos a comparação aos demais órgãos gestores estaduais dentro da bacia do rio Paraíba do Sul, quais sejam:

Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM), em Minas Gerais e Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), em São Paulo, as disparidades são ainda maiores. O duplo domínio desta bacia

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compartilhada entre três estados gera então maiores dificuldades para a ANA, que tem a atribuição de estabelecer critérios quali-quantitativos em um rio que recebe afluentes com critérios muito diferentes.

A análise das outorgas se restringirá as emitidas pela ANA, no período entre 2002 e 2017, as quais as informações são disponibilizadas online no portal do Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos (SNIRH). Embora sejam conhecidas os critérios do INEA para emissão de outorgas no rio Guandu, e as captações, as informações não são disponibilizadas em um cadastro.

O rio Paraíba do Sul está dividido em trechos demarcados por estruturas hidráulicas e afluentes (figura 2). As vazões de captação e consumo por trecho são apresentadas na tabela 1 (ANA, 2015).

Figura 2 - Trechos do Rio Paraíba do Sul - Modificado de ANA, 2015.

Tabela 1- Captação e consumo por trecho (Vazão em m³/s) do rio Paraíba do Sul.

Captação e Consumo (Vazão em m³/s) por trecho do Rio Paraíba do Sul

Trecho 1 Trecho 2 Trecho 3 Trecho 4 Trecho 5 Trecho 6 Transpo sição Trecho 7 Trecho 8 Trecho 9 Trecho 10 Trecho 11 Trecho 12 TOTAL

2014

Captação 0,38 0,19 4,40 0,39 0,47 13,10 119,00 20,22 3,59 0,45 10,88 10,10 37,47 220,64 Consumo 0,13 0,05 0,90 0,14 0,11 6,52 119,00 4,20 1,21 0,19 6,71 4,65 19,06 162,87

2040

Captação 0,45 0,22 5,19 0,47 0,55 15,44 119,00 31,91 5,42 0,71 21,86 16,38 62,43 280,03 Consumo 0,16 0,06 1,06 0,16 0,13 7,68 119,00 6,62 2,26 0,34 15,05 8,43 32,39 193,34

Para a transposição entre Paraíba do Sul e Guandu considerou-se as regras operativas estabelecidas pela Resolução ANA nº 211/2003. É notável a diferença entre captação e consumo, que reflete as grandes perdas dos sistemas de captação do utilizados na bacia.

Segundo estudo do Instituto Trata Brasil, que compara dados de 2009 a 2013, o índice de perda de distribuição de empresas operadoras no Rio de Janeiro por vazamentos, roubos, ligações clandestinas, falta ou problema nas medições em percentual de água é de mais de 30%. O dado é reforçado por estudo da ANA (2015), onde o Estado do Rio de Janeiro aparece com um índice de perdas de 31,8%.

A tabela 2, mostra as outorgas emitidas pela ANA por finalidades de uso, em número de empreendimentos, por estado. Os números caracterizam o predomínio da indústria no trecho fluminense. Minas Gerais não destaca-se em nenhum uso atualmente, o que reduz a possibilidade de conflito interestadual.

Tabela 2 – Distribuição do número de outorgas por finalidade de uso

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Distribuição das outorgas por finalidade de uso

Indústria Outro Minerão Esgotament o sanitário Abastecime nto público Aquicultura Criação de animais Irrigão Termoelétri ca Total

MG 8 28 8 2 0 0 0 0 0 46

SP 187 34 21 153 31 0 3 53 7 489

RJ 226 69 62 109 121 4 2 45 13 651

Total 421 131 91 264 152 4 5 98 20 1186

Entre os tipos de interferência o percentual de volume anual captado no trecho do Rio de Janeiro representa 68%, enquanto São Paulo corresponde a 31,7%. Já em relação a vazão de lançamento a relação se inverte, São Paulo registrou 55,5% e Rio de Janeiro 43,4%. Reforça a baixa utilização deste manancial no trecho mineiro (Figura 3). Entre os usos não consuntivos São Paulo possui 10 outorgas e Rio de Janeiro apenas 2.

Figura 3 – Distribuição percentual das vazões captadas e lançadas por trechos do rio Paraíba do Sul.

Ao comparar a distribuição percentual do volume anual outorgado por finalidade de uso entre os estados, verifica-se a maior demanda da indústria fluminense com 43,3%, correspondente 2.516.103 m³ anuais.

Tabela 3 – Percentual de vazão outorgada por finalidade e estado no rio Paraíba do Sul.

Indústria Outro Minerão Esgotamento sanitário Abasteciment o público Aquicultura Criação de animais Irrigão Termoelétrica Total

MG 0,0% 0,9% 0,1% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 1,0%

SP 13,2% 0,4% 0,4% 7,5% 12,0% 0,0% 0,0% 3,6% 0,5% 37,6%

RJ 43,3% 1,0% 0,5% 3,7% 10,4% 0,1% 0,0% 1,6% 0,9% 61,4%

Enquanto a indústria paulista só utiliza 13,2%, do volume total. Outro uso importante é o abastecimento público, onde o volume outorgado é de 10,4% e 12% (Tabela 3) respectivamente. A menor demanda do Rio de Janeiro ocorre devido a exclusão do volume transposto à bacia do Guandu, ainda assim o Rio de Janeiro possui o maior volume anual outorgado entre as unidades da federação.

0,4%

31,7%

68,0%

% de volume captado

MG SP RJ

1,1%

55,5%

43,4%

% de volume Lançado

MG SP RJ

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cobrança pelo uso dos recursos hídricos, que fortalece as instituições gestoras locais e promove investimentos na bacia, será mais efetiva quando a outorga de direito de uso da água e o cadastro de usuários atingir grande parte dos usuários. Pelo exposto, a Outorga pode ser vista como o principal instrumento de gestão das águas.

A partir do histórico e da análise das outorgas verifica-se a forte atuação do setor elétrico, da indústria e do setor de abastecimento público do médio Paraíba do Sul fluminense, da RMRJ via transposição, e o do vale do paraíba paulista como principais usuários.

A outorga funciona muito bem em momentos de abundância, contudo quando há escassez de recursos hídricos, é necessário rever seus termos, esta ação inclusive está prevista em lei. Neste caso há um rearranjo na alocação das quantidades de água destinadas a cada uso múltiplo e usuários. Os Marcos regulatórios tem importe papel neste sentido, a exemplo da Resolução Conjunta ANA/DAEE/IGAM/INEA N° 1.382/2015.

AGRADECIMENTOS

Os autores deste artigo agradecem à Associação Pró-Gestão das Águas da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (AGEVAP) e ao Comitê Guandu-RJ pelo apoio a esta pesquisa.

REFERÊNCIAS

AGEVAP (2010). Relatório técnico sobre outorga com subsídios para ações de melhoria da gestão na bacia do rio paraíba do sul.

ANA (2015). Nota Técnica nº 56/2015/SPR. Atualização da base de demandas de recursos hídricos no Brasil. Brasília - DF.

____(2014). Encarte especial sobre a crise hídrica: conjuntura dos recursos hídricos no Brasil:

informe 2014. Brasília - DF.

____(2013). Manual de procedimentos técnicos e administrativos de outorga de direito de uso de recursos hídricos da agência nacional de águas. Brasília - DF.

____(2011). Cadernos de capacitação em recursos hídricos (vol. 6): outorga de direito de uso de recursos hídricos. Brasília - DF.

BRAGA, B. P. F.; FLECHA, R.; PENA, D. S.; KELMAN, J. (2008). Pacto federativo e gestão das águas. Estudos Avançados 22 (63), 2008. pp. 17-42.

INSTITUTO ESTADUAL DO AMBIENTE - INEA (2014). Plano Estadual de Recursos Hídricos do Estado do Rio de Janeiro (PERHI). Rio de Janeiro: COPPETEC.

INSTITUTO TRATA BRASIL (2015). Perdas de Água: Desafios ao Avanço do Saneamento Básico e à Escassez Hídrica. Disponível em: http://www.tratabrasil.org.br/datafiles/estudos/perdas- de-agua/Relatorio-Perdas-2013.pdf.

OCDE (2015). Governança dos recursos hídricos no Brasil. OECD Publishing, Paris.

SILVA, L. M. C.; MONTEIRO, R. A. (2004). Outorga de Direito de Uso de Recursos Hídricos:

uma das possíveis abordagens. Gestão de Águas Doces/Carlos José Saldanha Machado (Organizador). Capítulo V. Rio de Janeiro: Interciência. p. 135-178.

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